Posicionar a empresa como uma conexão entre o dinheiro digital e físico

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Publicação do Centro Universitário FEI - Ano VII - nº 28 - Setembro a Dezembro 2016

Os grandes desafios do futuro: Megatendências 2050 – “Inovações e Internet das Coisas” Tema do Congresso de Inovação 2016 denota que as demandas da sociedade estão voltadas a um futuro de inovação

Elias Rogério da Silva responde pela presidência da filial brasileira da Diebold nixdorf, líder global em tecnologia, software e serviço

dois novos Projetos de Engenharia Mecânica são inovações importantes no setor

inauguração do Laboratório de Efeitos da Radiação Ionizante (LERI) coloca o país em novo patamar na indústria espacial


entrevista - Elias rogério da silva

MISSÃO: POSICIONAR A EMPRESA COMO UMA CONEXÃO ENTRE O DINHEIRO DIGITAL E FÍSICO FORMADO EM 1987 EM ENGENHARIA DE PRODUÇÃO MECÂNICA PELA FEI, ELIAS ROGÉRIO DA SILVA RESPONDE ATUALMENTE PELA PRESIDÊNCIA DA DIEBOLD NIXDORF NO PAÍS, RECONHECIDA NACIONALMENTE COMO LÍDER NO SEGMENTO DE AUTOATENDIMENTO E AUTOMAÇÃO BANCÁRIA

Elias Rogério da Silva, presidente da Diebold Nixdorf no Brasil

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om uma carreira de mais de 25 anos em liderança em várias empresas do segmento financeiro e de tecnologia, Elias Rogério da Silva, engenheiro de Produção Mecânica formado pela FEI, e com MBA pela Universidade Vanderbilt, em Nashville, Tennessee (EUA), assumiu, em 2015, a presidência da Diebold Nixdorf no Brasil, com a missão de comandar toda a operação comercial e de serviços da subsidiária dessa marca líder global no fornecimento de soluções de autoatendimento, sistemas de segurança, serviços, software e produtos para automação bancária e comercial. Elias destaca que seu principal desafio hoje é ajudar a posicionar a companhia como uma conexão entre o dinheiro digital e o dinheiro físico. Trata-se de mais uma transformação na história de 157 anos da empresa, que iniciou sua trajetória produzindo cofres de aço e caixas fortes em Cincinatti, estado de Ohio (EUA), um dos principais polos industriais americanos. Conte-nos um pouco sobre sua trajetória profissional, que contempla passagens pelo Unibanco, como superintendente e depois como diretor; pela CPM, como diretor executivo de Unidade de Negócios; e pela NCR, na qual ficou até o ano passado. Sou da turma de 1983 da FEI, ou seja, me formei em Engenharia de Produção Mecânica em 1987. Assim, vivenciei profissionalmente todas as crises que nosso país passou nesses últimos 30 anos. Nesse período, dependendo de como estava o mercado, era a indústria ou as instituições financeiras que mais disponibilizavam oportunidades de emprego. A minha primeira experiência profissional foi na Arno, em 1986. Na época eles buscavam no mercado estudantes de engenharia e engenheiros formados que pudessem colaborar com os projetos de microtecnologia que a empresa estava investindo, como controle de processos, atendimento just in time, entre outras iniciativas na área. Fiquei ali por três anos até receber o convite para ir trabalhar na Credicard, novamente na área de tecnologia. Em seguida, tive uma rápida passagem de dois anos pela Metal Leve, quando então o Governo Collor decidiu abrir o mercado e colocar à prova a competitividade da indústria nacional. Lamentavelmente os impactos para a Metal Leve foram fortes e tive a amarga experiência de ser demitido. Mas, como sempre, preservei o meu networking e logo fui chamado pelo Unibanco, que estava desenvolvendo o Projeto 30 Horas. Esse, com certeza, foi um divisor de águas na minha carreira. Na ocasião, tinha menos de 30 anos e assumi o desafio de responder pela diretoria executiva do banco e liderar uma equipe de mais de mil colaboradores. Lá, além do desenvolvimento profis-

sional, também tive a oportunidade de aprimorar as minhas competências, sendo selecionado entre os 20 líderes promissores da empresa para cursar um MBA interno (Probanc). Mais tarde, o Unibanco me patrocinou um MBA Executivo, realizado por meio de uma parceria entre a Fundação Instituto de Administração (FIA) e a Universidade Vanderbilt (EUA). Após a conclusão desse complemento importante para minha formação, recebi um novo convite, desta vez da CPM Braxis Capgemini, maior integradora de tecnologia do Brasil, na qual fiquei por cerca de oito anos como diretor executivo. No final de 2004, tive a grata surpresa de poder vivenciar a minha primeira experiência profissional numa multinacional. Foi quando assumi a função de country manager da NCR Brasil, que é uma das principais fabricantes de ATMs bancários do país. Nesta companhia fiquei até 2014, época em que respondia pelos resultados no negócio de serviços financeiros, como vice-presidente da América Latina e Caribe.

E como foi a sua saída da NCR para assu“Para se ter uma mir o cargo de presidente da Diebold Nixideia, hoje de cada dorf no Brasil? dólar que faturamos, Desde o início da minha trajetória profissional tinha em mente vivenciar a experiência de 60% são relativos ao trabalhar em indústrias diferentes. E esse foi desenvolvimento de um norte durante todos esses anos. Além dissoftwares e serviços so, tenho por hábito fazer a cada três, quatro anos um balanço pessoal e profissional. Seme 40% de produtos. Em pre após esses assessments, promovo algumas mudanças, se julgar necessário. 2015, por exemplo, caso, depois de dez anos trabalhanessas duas vertentes do Neste na NCR, entendi que era o momento de principais representaram sair e tinha uma grande vontade de voltar 56% do faturamento meus esforços para o mercado nacional. E acabei sendo sondado por uma empresa de global da companhia.” headhunter para ir para a Diebold Nixdorf, que estava passando por mudanças e sucessão na sua linha de frente no país. Resolvi aceitar esse novo desafio e, desde o ano passado, tenho o privilégio de responder pela presidência da Diebold Nixdorf no Brasil, assumindo todas as operações da empresa no país e comandando mais de três mil colaboradores. Quais estão sendo os seus principais desafios nessa multinacional? Atualmente, o cenário mundial vive uma crise sem precedentes na nossa história. Então, você ser o gestor de um negócio nessa situação por si só já é um desafio grande. Soma-se a isso o fato do mercado atual ser altamente sofisticado, sem espaço para amadores, além de obrigar a empresa a sair da sua zona de conforto e atacar novos mercados e fontes de receitas. Nessa empreitada, as ofertas de softwares e serviços passam a ter mais peso, o que já reflete no nosso modus operandi e nos

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entrevista - Elias rogério da silva

nossos resultados. Para se ter uma ideia, hoje de cada dólar que faturamos, 60% são relativos ao desenvolvimento de softwares e serviços e 40% de produtos. Em 2015, por exemplo, essas duas vertentes principais representaram 56% do faturamento global da companhia. De uma forma geral, estamos mais atentos às tecnologias disruptivas que surgem a todo momento. É o caso de softwares de segurança para transações através de celular, que oferecemos com a GAS Tecnologia, ou serviços de consultoria para transformação de agências bancárias, algo que deve acontecer muito rapidamente para adequar esse importante canal de atendimento às exigências das novas gerações de clientes. Enfim, essas são algumas provocações mercadológicas que estão nos movimentando, sem contar as dificuldades que temos no mercado nacional, como a desvalorização da moeda, custos logísticos que encarecem os produtos e a retração dos negócios com o governo devido à crise político-econômica que o país está atravessando.

“Em qualquer das frentes que atuamos, buscamos desenvolver soluções criativas, com eficiência econômica para que nossos clientes tenham o menor TCO (Custo Total de Propriedade) e o melhor custo benefício. “ 28

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Além dessas transformações, a Diebold recentemente comprou a rival alemã Wincor-Nixdorf, por € 1,7 bilhão. Fale um pouco sobre essa estratégia e seus impactos. A aquisição da Wincor foi formalizada no último mês de agosto, quando a nossa companhia foi rebatizada para Diebold Nixdorf. Com isso, a empresa chegou a um milhão de equipamentos instalados, ultrapassando a americana NCR e assumindo a liderança global do setor. A partir dessa base instalada, o plano é dar escala à diversificação. A cobertura geográfica, o portfólio e as carteiras de clientes complementares reforçam essa visão. Enquanto a Diebold possuía maior presença na região nas Américas – antes da compra, 60% de sua produção estava nessa região – a Wincor concentrava boa parte de sua atuação na Europa. A aquisição traz clientes estratégicos de software para a Diebold, como o Santander, o Bradesco e o Sicredi. Outro ganho é a abertura de um novo campo: a oferta de softwares para o varejo. É que a Wincor tinha em sua carteira local grandes redes, como o Carrefour. Nessa área, o portfólio inclui, por exemplo, sistemas que integram as lojas físicas e os canais móveis e digitais dos lojistas. Atenta a esse potencial, prevemos ter na Diebold Nixdorf entre 15% e 20% da receita local originada no varejo, em cinco anos. Precisamos reduzir a dependência dos bancos, setor que hoje está restrito a quatro grandes clientes. Aliás, falando especificamente sobre o mercado financeiro, os ATMs, criados como uma alternativa dos bancos para reduzir o movimento nas agências, ganharam a concorrência das transações pela internet e smartphones. Somado à violência, que inibe a instalação de novos caixas ou a reposição dos danificados, isso tem feito o uso dessas máquinas cair de forma acentuada. Como a Diebold Nixdorf vem enfrentando essa questão?


Primeiramente, gostaria de destacar que quando falamos de hardware o Brasil é o terceiro mercado mundial em número de ATMs e a Diebold Nixdorf responde por 51% do market share no segmento. Embora a violência afete o setor, o que mais tem nos desafiado é o impacto das transações online. Para se ter uma noção, do total de transações realizadas no ano passado no país, 19% foram feitas via ATMs; três anos antes, essa fatia era de 25%. Atentos a esse contexto, temos investido fortemente em inovação. Em qualquer das frentes que atuamos, buscamos desenvolver soluções criativas, com eficiência econômica para que nossos clientes tenham o menor TCO (Custo Total de Propriedade) e o melhor custo benefício. Também temos compensado a queda nesse segmento diversificando nossas áreas de atuação, como o desenvolvimento da plataforma de venda de terminais financeiros para lotéricas, por meio de uma parceria com a Caixa Econômica Federal, e a participação na licitação do Tribunal Superior Eleitoral para o fornecimento de 100 mil urnas eletrônicas, o que representa 20% do total utilizado nas últimas eleições. Por outro lado, a participação dos softwares nos gastos de tecnologia dos bancos subiu de 39%, em 2014, para 44%, em 2015. Então, tomamos a iniciativa de ampliar nossa participação nessa área, apostando, novamente, em um portfólio de inovações. O leque inclui um sistema que integra os ATMs a outros dispositivos. O cliente consegue pré-programar uma transação – um saque, por exemplo – pelo smartphone. E essa solução foi desenvolvida pelo meu time brasileiro da Diebold Nixdorf.

mo clima organizacional que se reflete em produtividade e saúde dos colaboradores. A empresa direciona ainda atenção para projetos voltados à qualificação profissional, com a implantação de alguns programas de desenvolvimento de funcionários, como cursos de idiomas “in house” e convênios com algumas instituições para cursos de extensão universitária. Na área técnica, existe um setor de treinamento que mantém os profissionais sempre atualizados. Hoje a Diebold Nixdorf tem operações em várias partes do mundo. Fale um pouco sobre quais são os focos atuais da organização. Trabalhando com foco nas áreas de serviços e softwares, atualmente a Diebold Nixdorf atua em mais de 130 países. No Brasil, estamos direcionados ao desenvolvimento de softwares de segurança para a plataforma móvel e utilização em outras verticais, como transações B2B e até varejo digital, além de exportar para países da América Latina e Estados Unidos. Além disso, há planos de investimento no Brasil no segmento de electronic security – setor onde a matriz dos EUA é líder, e de promover alianças e parcerias estratégicas com empresas da área de tecnologia, de maneira a complementar e expandir portfólios tanto da Diebold Nixdorf como da parceira em foco. Atuando nos mercados de automação bancária, comercial, eleitoral, desenvolvimento de softwares e criação de produtos especiais, nossa marca é sinônimo de excelência nesses segmentos no território nacional, onde temos uma fábrica em Manaus dedicada à produção de caixas eletrônicos e equipamentos da linha PC, além da fabricação de cofres para ATMs; e outra, em Santa Rita do Sapucaí, em Minas Gerais, onde fabricamos as urnas eletrônicas.

“...dos três mil funcionários do país, cerca de dois mil são responsáveis pela assistência técnica em todo o território nacional e 500 são dedicados à inovação, o que denota a sua relevância e o papel que a subsidiária exerce no mapa global da empresa.”

Como se dá o investimento em talentos na Diebold Nixdorf, que também é reconhecida por ter estruturado a maior rede de assistência técnica própria do país? Na Diebold Nixdorf temos três pilares básicos de sustentação: P&D (Pesquisa e Desenvolvimento), Merger & Acquisitions (Gerenciamento de Oportunidades) e Human Capital (Capital Humano). Especificamente no Brasil, dos três mil funcionários do país, cerca de dois mil são responsáveis pela assistência técnica em todo o território nacional e 500 são dedicados à inovação, o que denota a sua relevância e o papel que a subsidiária exerce no mapa global da empresa. Não somos apenas um escritório de vendas. Tenho total autonomia para definir os rumos da companhia no país. Outro ponto a destacar é que, desde 2008, trabalhamos com um programa de Lean Manufacturing, em consonância com as unidades fabris da corporação em outros países. Também por meio de um estilo moderno e informal de liderança, possuímos agilidade nas tomadas de decisões e transparência nas relações entre líderes e liderados, o que proporciona um óti-

Em sua opinião, quais são os caminhos para se desenvolver uma carreira de sucesso? Para mim, o grande segredo está em ter algumas características básicas como resiliência, paciência, perseverança, espírito de luta, empreendedorismo e vontade de fazer acontecer e fazer certo. Acredito, ainda, que podemos ter sucesso trabalhando de forma ética e profissional. Por fim, gostaria de destacar que carreira é algo extremamente importante para você delegar para alguém administrar. Para encerrar, como a sua formação acadêmica influenciou na construção de sua trajetória profissional? O fato de ter cursado a FEI, que está entre as melhores faculdades de engenharia do país, me abriu muitas portas. Posso dizer que sinto orgulho de ter cursado uma instituição de renome.

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