Domínio FEI 19: Parceria voltada à saúde

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Editorial

Conhecimento e qualidade de vida Rivana Basso Fabbri Marino Vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias Centro Universitário da FEI

Todos sabem que, graças ao avanço no conhecimento tecnológico e de gestão, uma série de possibilidades foi criada para o mundo corporativo. No entanto, este avanço não teria valor algum se não servisse, também, para melhorar a qualidade de vida de todas as pessoas. Felizmente, o desenvolvimento direcionado às boas consequências, com um olhar mais humano e menos voltado apenas ao aumento da competitividade, tem norteado os interesses de inúmeros cientistas ao redor do planeta, incluindo o Brasil. Além de melhorar a vida das pessoas com equipamentos que permitem a comunicação online, facilitam a vida doméstica e são úteis ao dia a dia, a tecnologia tem importante interface com a área da saúde. Graças à tecnologia de ponta desenvolvida nas últimas décadas é possível oferecer exames menos invasivos, diagnósticos mais precisos e tratamentos mais efetivos para todo tipo de enfermidade. O gerenciamento da saúde por meio da tecnologia também está entre as preocupações dos pesquisadores do Centro Universitário da FEI. Tradicionalmente voltada à formação tecnológica, a Instituição mantém como característica a união do tecnológico com o humano, o que fica explícito em muitos dos projetos de pesquisa que envolvem docentes e alunos, da graduação ao doutorado. Alguns resultados recentes são apresentados nas reportagens das editorias de Pesquisa & Tecnologia e Gestão & Inovação desta edição. Um dos exemplos é a parceria do Departamento de Engenharia de Produção da FEI com o Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/FMUSP), que envolve pelo menos uma dezena de pesquisadores – professores e estudantes – e já tem resultados efetivos. Outro trabalho está sendo desenvolvido pelo Departamento de Ciência da Computação para o Centro de Pesquisas em Pescoço e Cabeça do Complexo Hospitalar Heliópolis, em São Paulo. Ambos visam colaborar para a melhora da eficiência e eficácia dos serviços de saúde dessas importantes instituições. A preocupação com questões ambientais e sociais também permeia os núcleos de pesquisa da Instituição, seja com o estudo da organização social dos principais atores do processo de reciclagem de materiais, os catadores, ou com o estudo da governança do relacionamento entre empresas geradoras de impacto econômico e social e comunidades do entorno. O Brasil tem muitos desafios nas áreas de infraestrutura, de mobilidade e de saúde, entretanto, há um imenso potencial humano a ser desenvolvido para ajudar o País a enfrentar suas demandas e tornar-se cada vez melhor. Por meio da tecnologia e de formas de gestão com um olhar mais social saberemos encontrar um caminho seguro para o crescimento econômico, sem prejuízo da qualidade de vida. E a FEI está disposta a colaborar na busca desse novo modelo de desenvolvimento, que priorize o bem-estar de toda a sociedade.

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Espaço do Leitor

Revista Domínio FEI Publicação do Centro Universitário da FEI

expediente

“Achei bastante oportuna a matéria publicada na edição nº 18 da Domínio FEI, referente aos estudos sobre a integridade estrutural dos materiais para a indústria do óleo e gás, liderados pelo professor doutor Gustavo Henrique Bolognesi Donato. Parabéns a todos!”

Marcelo Pieri Pereira Engenharia de Produção Mecânica Turma 1994 “A revista Domínio FEI tem sido um canal de comunicação muito importante para mim, pois reúne informações interessantes e me mantém atualizada sobre o mundo da Engenharia e a atuação da FEI nessa área tão importante para a sociedade. É uma das grandes universidades de Engenharia que fez parte da minha história, contribuindo em tudo para a minha formação intelectual e profissional, e que me fez chegar hoje aonde eu cheguei!”

Viviane Barbosa Portas Engenharia Química “Primeiramente, gostaria de parabenizá-los pela qualidade e conteúdo da revista. Está cada vez melhor! Sou graduado no curso de Engenharia Mecânica/Produção. Diferentemente de meus co­legas que seguiram na área técnica, eu abracei a carreira de consultor de empresas e sou hoje

um dos sócios de uma empresa internacional de consultoria. Escrevo porque, na realidade, cerca de 80% de nosso quadro de profissionais é feito de engenheiros. Nosso treinamento em resolver problemas, buscar soluções criativas e a habilidade matemática são competências fundamentais e valorizadas por empresas de consultoria. Por isso, gostaria de sugerir uma matéria na (nossa) revista sobre esta carreira, de modo a abrir os olhos de nossos engenheiros e administradores para esta oportunidade.”

Christian Orglmeister Engenharia Mecânica de Produção Turma 1997 “No meu tempo de FEI fui diretor do Chaminé, um jornal editado por nós e rodado no Brasil Urgente, no qual também colaborava com o Frei Carlos Josafá (dominicano e da AP). No jornal tinha a colaboração do Nitrili, colega de dois anos antes, e que depois se dedicou ao jornalismo, infelizmente falecido precocemente! Logo, tenho uma ligação sentimental com a revista. É lógico que hoje ela tem uma qualidade gráfica e de conteúdo muito profissional, o que muito nos honra como ex-feianos!”

Carlos P. Martins Engenharia Elétrica Turma 1963

Fale com a redação A equipe da revista Domínio FEI quer saber a sua opinião sobre a publicação, assim como receber sugestões e comentários. Escreva para Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3972, Bairro Assunção S.B.Campo - SP - CEP 09850-901, mande e-mail para redacao@fei.edu.br ou envie fax para o número (11) 4353-2901. Em virtude do espaço, não é possível publicar todas as cartas e e-mails recebidos. No entanto, nossa equipe agradece a atenção de todos os leitores que escreveram para a redação. As matérias publicadas nesta edição poderão ser reproduzidas, total ou parcialmente, desde que citada a fonte. Solicitamos que as reproduções de matérias sejam comunicadas à redação pelo e-mail redacao@fei.edu.br.

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Centro Universitário da FEI Campus São Bernardo do Campo Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3972 – Bairro Assunção São Bernardo do Campo – SP – Brasil CEP 09850-901 ­– Tel: 55 11 4353-2901 Telefax: 55 11 4109-5994 Campus São Paulo Rua Tamandaré, 688 – Liberdade São Paulo – SP – Brasil – CEP 01525-000 Telefax: 55 11 3274-5200 Presidente Pe. Theodoro Paulo Severino Peters, S.J. Reitor Prof. Dr. Fábio do Prado Vice-reitor de Ensino e Pesquisa Prof. Dr. Marcelo Pavanello Vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias Profª. Drª. Rivana Basso Fabbri Marino Conselho Editorial desta edição Professores doutores Alexandre Massote, Edmilson Alves de Moraes, Fábio Gerab, Flávio Tonidandel e Agenor de Toledo Fleury Coordenação geral Andressa Fonseca Comunicação e Marketing da FEI Produção editorial e projeto gráfico Companhia de Imprensa Divisão Publicações Edição e coordenação de redação Adenilde Bringel (Mtb 16.649) Reportagem Adenilde Bringel, Vanessa Azevedo, Elessandra Asevedo, Fabrício F. Bomfim (FEI) Fotos Arquivo FEI, Cadú Coppini, Victor Jardim e Ilton Barbosa Programação visual Felipe Borges Tiragem: 17.500 mil exemplares

Centro Universitário da FEI Instituição associada à ABRUC

www.fei.edu.br


sumário

22 ENTREVISTA O presidente da BIC do Brasil, Fernando Moller, conta nesta entrevista exclusiva como chegou, aos 43 anos, ao cargo mais alto da carreira

john teate photography/istockphoto.com

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matéria de Capa

Parceria da Engenharia de Produção com o InCor envolve professores e alunos da gradução ao mestrado

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DEstaques

Companhia de Jesus festeja bicentenário de restauração Três cursos recebem acreditação do Sistema ARCU-SUL Pós-graduanda ganha prêmio na área de gestão de serviços Administração forma o primeiro doutor da história da FEI Parceria permite intercâmbio de alunos entre Brasil e França Professor de Engenharia Mecânica desenvolve bicicletas Aluno vence concurso na área de franquias por estudo inédito Centro Universitário recebe regionais de competição de robótica Engenharia Têxtil organiza e apresenta trabalhos no Contexmod Portas Abertas e competições da SAE estão entre os destaques

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DESTAQUE JOVEM

Aos 30 anos, o ex-aluno de Engenharia de Materiais Pietro Federico Netto está à frente da italiana Raccortubi no Brasil

PESQUISA & TECNOLOGIA

Pesquisador de Ciência da Computação trabalha na conclusão de projeto para o Complexo Hospitalar Heliópolis

GESTÃO & INOVAÇÃO

Docente publica livro que aborda a importância e os desafios dos catadores na cadeia de reciclagem brasileira Estudo de doutorado em Administração apresenta inovações sobre LSO de empresa de mineração da Votorantim

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PÓS-GRADUAÇÃO

Gestão e Tecnologia em Projeto de Produto prepara para concepção, desenvolvimento e comercialização

40 Mestrado Seções 41 Agenda 42 Artigo abril a junho DE 2014 | Domínio fei

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destaques

Companhia de Jesus celebra 200 Evento do bicentenário reuniu intelectuais, estudantes, jesuítas e colaboradores das obras da Ordem

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ano era 1773. Um decreto do então Papa Clemente XIV, incitado pelo rei espanhol Carlos III, suprimiu a Companhia de Jesus da Igreja Católica colocando fim a uma obra missionária de 200 anos, iniciada por Santo Inácio de Loyola com o objetivo de romper fronteiras, evangelizar, educar e levar conforto espiritual à humanidade. Porém, mesmo após a supressão, a Companhia se manteve viva graças a imperadores russos que não reconheceram a Bula papal e abrigaram os jesuítas em suas terras. Em 1814, 41 anos depois, a Companhia de Jesus foi restaurada por ordem do Papa Pio VII. Com isso, os jesuítas retomaram as atividades missionárias para as quais foram designados desde a sua fundação. Os 200 anos de retorno da Companhia de Jesus à Igreja Católica foi celebrado durante o Simpósio Nacional Bicentenário da Restauração da Companhia de Jesus, realizado em São Paulo entre os dias 8 e 10 de maio. Com o tema ‘Dois períodos

de uma mesma história, num mesmo Espírito’, o evento reuniu importantes intelectuais que têm a Companhia como foco de suas pesquisas; estudantes das áreas de Ciências Humanas, sobretudo História, Antropologia e Letras; jesuítas e colaboradores das obras da Ordem Religiosa; e representantes do Centro Universitário da FEI. As palestras e debates abordaram questões como a problemática da restauração, rupturas históricas, a permanência do Espírito Inaciano na Companhia restaurada e o papel que a Ordem tem na sociedade atual. Os desafios contemporâneos da Companhia foram o tema da conferência de abertura, ministrada pelo vice-reitor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), Padre Francisco Ivern, S.J., que pontuou a importância da

continuidade da missão da Companhia de Jesus, que é ‘O serviço da Fé e a promoção da Justiça’, além de outras problemáticas como sustentabilidade e globalização. “Hoje, o nosso compromisso não é apenas com Deus, mas com o mundo que Ele criou, incluindo o amor ao meio ambiente e o combate às injustiças políticas, sociais e econômicas”, lembrou. O Padre Afonso Carlos Palácio Larrauri, S.J., Provincial da Companhia de Jesus no Brasil, enviou uma mensagem na qual abordava a importância do simpósio e como a restauração tornou-se inspiração para um recomeço em um mundo pós-­ moderno repleto de desafios. O documento foi lido pelo Padre Pedro Rubens, S.J., presidente da Federação Internacional das Universidades Católicas (FIUC) e reitor da Universidade Católica de Pernambuco, que

Reorganização da Ordem Religiosa Passados 41 anos da supressão, os jesuítas começam a retornar às suas missões pelo mundo, inclusive no Brasil, onde tiveram um papel fundamental na história da educação e na cultura indígena. Esses pontos foram abordados pelo professor doutor da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Edgard Leite Ferreira Neto. O professor de História do Cristianismo na Faculdade de São Bento e no Museu de Arte Sacra, ambos em São Paulo, Padre Danilo Mondoni, S.J., dividiu a reorganização da Companhia de Jesus em três eixos: missão, exercícios espirituais e educação. O religioso destacou a contribuição da Companhia de Jesus no campo da es-

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piritualidade e da educação, com importante presença nos colégios de ensino fundamental e médio, e com desdobramentos para o ensino superior. “Os jesuítas criaram uma pedagogia adequada que poderia contribuir para o desenvolvimento integral, espiritual, intelectual e pessoal dos indivíduos, valores que permanecem em nossos colégios”, ressalta. A Pedagogia Jesuíta foi destaque de uma das mesas temáticas do evento. O Padre Luiz Fernando Klein, S.J., assessor pedagógico do Movimento de Educação Popular e Promoção Social Fé e Alegria, acrescentou que um dos motivos que fez o Papa Pio VII


anos de restauração Perseguições Poucas instituições da Igreja foram alvos de tantas críticas e perseguições como a Companhia de Jesus, que contabilizou 52 expulsões ao longo da sua história. O próprio Santo Inácio foi preso diversas vezes por causa da sua espiritualidade. O comportamento dos jesuítas nas perseguições e como agiam os articuladores da supressão foram relatadas pelo professor doutor da Universidade de Lisboa, José Eduardo de Lisboa, na palestra ‘Pombal e as Cortes Bourbônicas’. O docente mostrou como o Marquês de Pombal tinha verdadeira obsessão contra os jesuítas, dedicando praticamente toda sua vida política para persegui-los. Os motivos que levaram à perseguição e expulsão dos jesuítas também foram lembrados pelo Padre Bartolomeu Meliá, Fotos: Victor Pisani

ressaltou a expectativa que a Companhia vive em relação à união das Províncias e de uma refundação dentro de um mesmo espírito, mas sem perder a pluralidade. O arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, que também esteve no simpósio, ressaltou a importância do evento para a Companhia de Jesus e para a Igreja Católica, principalmente pelo fato de o Padre José de Anchieta, um jesuíta, ter sido reconhecido como santo. “Estamos em um momento muito interessante com a canonização de São José de Anchieta. São momentos nos quais, providencialmente, parece que Deus está colocando os jesuítas de novo em evidência, para que eles deem ao mundo e à Igreja a sua contribuição segundo o carisma de Santo Inácio de Loyola e seus companheiros. Por isso, vejo com bons olhos e alegria esse evento”, afirmou. Segundo o organizador do Simpósio e diretor do Pateo do Collegio, Padre Carlos Alberto Contieri, S.J., o encontro contribuiu para a busca da compreensão mais ampla da história da Ordem Religiosa, pois é imprescindível compreender e acreditar que os acontecimentos têm um sentido. “Que esse momento se prolongue e aprofunde o que começamos a construir no simpósio em termos de conhecimento da Companhia de Jesus e de relacionamentos com os jesuítas em nosso extenso País”, reforça o religioso.

restaurar a Companhia de Jesus foi a importância da educação jesuíta. O religioso destacou alguns traços da Pedagogia Jesuíta, entre as quais está uma educação pluralista para a formação das pessoas, mas pontuou problemas e desafios, como a continuidade de uma educação de qualidade e atenta ao clamor de um mundo contemporâneo. “A sociedade e a pedagogia têm o desafio de se reinventar, reorganizar. A Pedagogia Jesuíta tem uma contribuição a oferecer à humanidade, mas precisa buscar inspiração em sua fonte e restaurar-se”, acredita. Para o professor doutor de História da Universidade Estadual de

S.J., jesuíta espanhol dedicado à cultura indígena e fluente na língua Guarany. O religioso ressaltou o fato de que a dedicação dos jesuítas, ao se envolverem com as culturas locais, tornou-se um facilitador na comunicação e na influência que exerceram. O trabalho cooperativo, a alta produção agrícola, uma distribuição qualitativa excelente, economia da reciprocidade e comércio interior foram quesitos que começaram a provocar suspeitas em relação às intenções da Companhia de Jesus. “Na Europa, surgiu a suspeita de que no Paraguai, por exemplo, estava se criando um reino jesuíta com língua própria, dinheiro próprio e até um exército. Dentre os que suspeitavam estava o Marquês de Pombal, que criou uma verdadeira oficina de produção ideológica contra os jesuítas”, acrescentou. Da esq.: O presidente da FEI, Padre Theodoro Peters, S.J., o professor doutor Edgard Leite Ferreira Neto, da UERJ, o arcebispo Dom Odilo Scherer e o diretor do Pateo do Collegio, Padre Carlos Alberto Contieri

Campinas (Unicamp) Leandro Karnal, a Pedagogia Jesuíta faz parte de um grupo de fatores que torna a Companhia de Jesus uma das poucas instituições importantes para a história, principalmente pela sua identidade e memória. O docente mostrou os contrastes e a dialética dos acontecimentos históricos e como a Ordem conseguiu preservar, em sua memória, a identidade que a caracterizou desde a fundação. “A Companhia de Jesus é um dos grandes produtores de memória. No Brasil, mais que qualquer outro lugar no mundo, os jesuítas foram os que maior influência tiveram no campo da educação e da comunicação”, assegura.

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Entre os melhores cursos do MER Engenharia Mecânica e Engenharia Têxtil da FEI recebem certificação do Sistema ARCU-SUL

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s cursos de Engenharia Têx­ til­ e Engenharia Mecâ­n ica do Centro Universitário da FEI conquistaram o selo do Sistema de Acredi­ta­ção Regio­nal­de Cursos Superiores dos Estados do MERCOSUL e Estados Associados (Siste­ma­ARCU­ SUL), em março deste ano. O Sistema ARCU-SUL tem por objeti­vo estabelecer parâmetros­regio­nais de qualidade para cursos de ensino superior, a fim de garantir a melhoria contínua na formação univer­sitária por meio da promoção do desenvolvimento educacional, econô­ mico, social, político e cultural dos países

que integram o Mercado Comum do Sul (MERCOSUL). Implementado em 2008, o projeto prevê a outorga de uma declaração de qualida­de para a formação oferecida pelas instituições de ensino superior, com a acreditação como recurso para reconhecimento e credenciamento das mesmas. Por meio desta certificação de qualidade é garantida a possibilidade de estudantes das nações participantes do MERCOSUL cursarem o nível superior em faculdades conceituadas pelo selo em outros países, sem a necessidade de validação do diploma em seus países de origem, além do exercício da profissão na região sob as mesmas condições. Em 2009, o Sistema ARCU-SUL ini­ ciou­­o primeiro ciclo para a acreditação dos cursos de Engenharia ministrados por universidades brasileiras. De adesão voluntária, a proposta permitiu a participação de instituições com, ao mínimo, 10 anos de existência, que desenvol-

Laboratórios instalados no campus São Bernardo do Campo contribuíram para as avaliações

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vem atividades de ensino, pesquisa e extensão,­e participam do Sistema Nacional de Avaliação de Educação Superior (Sinaes), com conceito igual ou superior a 4. Atendendo a esses critérios e a outros rigorosos requisitos de seleção, os cursos de Engenharia Mecânica e Têxtil da FEI foram os primeiros da Instituição a receber a certificação, válida entre Argentina, Brasil, Bolívia, Chile, Uruguai e Paraguai. Para o professor doutor Roberto Bortolussi, chefe do Departamento de Engenharia Mecânica, a acredita­ção­é um importante reconhecimento não apenas para a FEI, mas também para os estudantes. “Esse recurso permite ao nosso aluno exercer a profissão em outros países, com a inter­nacionalização do curso”, reforça. A acreditação obtida pela graduação é válida para as ênfases em Mecânica Automobilística e Mecânica Plena e garante aos profissionais a possibilidade de atuar em outros países


COSUL em casos de mudança ou transferência, inclusive em cargos de liderança. O Sistema ARCU-SUL propõe a avalia­ç ão permanente dos cursos de ensino superior. A avaliação é feita por meio de rigorosos processos de seleção, estabelecidos e aprovados pelo Setor Educacional do MERCOSUL. A certificação­é concedida após análise de relatório de auto-­avaliação preenchido pelas instituições participantes e entregue­à Comissão Nacional de Avaliação de Educação Superior (Conaes), que considera, entre outros, a proposta e a infraestrutura fornecidas pelas instituições para a formação de profissionais. Visitas de avaliadores brasileiros e de outros países do Sistema ARCU-SUL às faculdades também fazem parte do processo para concessão da acreditação, bem como reuniões com representantes de reitorias, alunos e profissionais graduados pelas instituições.

Pioneirismo na área têxtil Em meados dos anos de 1960, o Centro Universitário da FEI criou o primeiro curso de graduação em Engenharia Têxtil do Brasil, principalmente para atender à demanda das indústrias têxteis e de confecção do Estado de São Paulo, que necessitavam de mão de obra especializada nos processos produtivos. Para ser acreditado pelo Sistema ARCU-SUL, o curso passou por auditoria do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (ENADE/INEP), em agosto de 2013. “Em 2008, o curso teve bom desempenho no exame e conquistou nota 5, uma das exigências da acreditação”, explica a coordenadora do curso de Engenharia Têxtil da FEI, professora doutora Camilla Borelli. Além do conceito no ENADE e envio de um relatório prévio de auto-avaliação, a auditoria incluiu visitas técnicas do INEP ao campus da FEI, em São Bernardo do Campo, reuniões com representantes da Reitoria, entrevistas com alunos, ex-alunos, professores e funcionários. Todos esses detalhes foram destacados e conferidos pela comissão avaliadora do instituto, formada por um técnico e professores de Engenharia do Brasil, da Argentina e do Paraguai. “O INEP queria se certificar de que os alunos têm respaldo necessário para se tornarem profissionais aptos ao mercado”, destaca a docente. A fim de verificar se os dados apresentados pela FEI se confirmavam também no mercado de trabalho, a análise da comissão técnica se estendeu à opinião de empresários do setor têxtil de São Paulo. Segundo a docente, a FEI prima por continuar investindo no curso e acompanha a evolução da área têxtil, ainda carente de mão de obra especializada. E a acreditação certamente facilitará o intercâmbio de alunos e ampliará as possibilidades de atuação destes profissionais, agora também no MERCOSUL.

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Excelência acadêmica Professora do Programa de Pósgraduação em Administração vence prêmio Emerald/EFMD 2013

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om o projeto ‘Operations management perspectives on expert services’, a pesquisadora Juliana Bonomi Santos, professora do programa de pós-graduação em Administração do Centro Universitário da FEI, venceu o Prêmio Emerald/EFMD 2013, reconhecimento concedido às melhores teses de doutorado do mundo. A docente ganhou a premiação na categoria Operations and production management, uma das 12 divisões do concurso. Altamente reconhecida no meio acadêmico, a premiação é organizada pela editora internacional Emerald Group Publishing, em parceria com a European Foundation for Management Development (EFMD), e visa distinguir a excelência de trabalhos de doutorado concluídos em até três anos antes da data de inscrição no concurso. A tese da professora da FEI foi desenvolvida na Lancaster University Management School (LUMS), na Inglaterra, e conferiu à docente o título de PhD em Management Science. “A seleção no concurso demonstra a qualidade efetiva do meu estudo e, além do reconhecimento internacional pela pesquisa, também há um importante ganho profissional”, afirma. O projeto investiga a influência da expertise dos profissionais nos processos produtivos de serviços intensivos em conhecimento. O conceito de expertise foi ‘importado’ da Psicologia e envolve os conhecimentos técnicos dos profissionais, tais como o conhecimento sobre a indústria, a tecnologia e os clientes, e a capacidade que esses indivíduos têm de resolver problemas e tomar decisões assertivas. A pesquisadora trabalhou com três empresas de segmentos distintos – software customizados, desenvolvimento de sistemas audiovisuais e engenharia de sistemas e controles prediais. Para desenvolver o projeto, a professora realizou diversas visitas às empresas envolvidas por quase dois anos para a coleta de documentos, workshops e entrevistas com profissionais. As empresas foram avaliadas de acordo com três frentes. A primeira investiga o processo produtivo em profundidade, que inclui a criação de

Juliana Bonomi Santos: tese de doutorado sobre expertise em serviço

uma solução customizada para o cliente e o processo de entrega dessa solução. “Buscou-se com isso entender a variabilidade dos processos produtivos e a forma como a especialização dos profissionais contribui para acomodar ou reduzir tal variabilidade”, explica a docente. A segunda vertente explora o relacionamento do prestador de serviço com seus clientes. O objetivo foi entender como os clientes adicionam variabilidade ao processo produtivo e como os profissionais usam sua expertise para guiar os clientes e melhorar a qualidade do serviço prestado. O último recorte aborda o desenvolvimento de novos serviços­ in­tensivos em conhecimento. Nesta etapa foram estudadas situa­ ções de entrada das empresas em novos mercados ou adoção de novas tecnologias de base. A professora ressalta que, em tais situações, as empresas operam com baixos níveis de expertise e a avaliação desse cenário permitiu identificar os desafios de se trabalhar em mercados intensivos em conhecimento com baixa es­ pecialização. “A principal contribuição do trabalho é mostrar como o uso da expertise impacta o processo produtivo das empresas.­A tese mostra que profissionais com altos níveis de expertise modelam processos produtivos devido à sua capacidade de guiar clientes, trabalhar com mudanças e reutilizar seus conheci­men­tos.­­Com isso, conseguem atingir uma redução considerável da va­riabilidade do processo e elevar níveis de eficiência e eficácia”, acres­centa.

Divulgação A pesquisa foi concluída em junho de 2013 e um artigo referente ao terceiro recorte da investigação foi publicado no periódico International Journal of Operations and Production Management, editado pela Emerald, em julho do mesmo ano. Em sua nona edição, o prêmio Emerald/EFMD contemplou os autores dos trabalhos selecionados com a quantia de 1,5 mil euros, além de oferecer a oportunidade de publicar um artigo relacionado à tese no periódico científico.

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Tese de doutorado em Administração compara o desenvolvimento de pesquisas e os recursos entre Brasil e França

Foto: Ruskpp/istockphoto.com

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projeto ‘Proposição de mode­ lo­conceitual para utilização de incentivos que estimulem pes­q uisas nos cursos de mestrado e doutorado em Administração’ propiciou ao administrador Paulo Roberto Vidigal, no início deste ano, o primeiro título de doutor do Programa de Pós-graduação Stricto Sensu em Administração do Centro Universitário da FEI. A pesquisa investiga as formas de financiamento para estudos de mestrado e doutorado existentes no Brasil e na França, e estabelece um comparativo entre a gestão dos recursos nos dois países. Para realizar o projeto, o pesquisador trabalhou com informações do Conser­ va­torie National des Arts et Métiers (CNAM), mantido pelo governo francês e dedicado à educação e pesquisa para o fomento da ciência e da indústria, além da Université de Pau et des Pays de l’Adour, também na França, e da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (EBAPE/ FGV), no Rio de Janeiro. Durante a execução, Paulo Roberto Vidigal visitou as três instituições e realizou entrevistas com professores orientadores e alunos de mestrado e doutorado desses centros de ensino. “A França forma três vezes mais

doutores do que o Brasil, tendo somente um terço da população. Há um intenso investimento para isso, além da aproximação entre empresas e universidades”, acentua. No país europeu, durante os cursos de mestrado e doutorado os alunos são contratados por empresas, com divisão de custos entre o poder público e as companhias. A dificuldade enfrentada pela França se refere à evasão de seus pesquisadores após a conclusão dos cursos, uma vez que muitos são oriundos de outros países e levam para as suas nações os conhecimentos adquiridos. Paulo Roberto Vidigal destaca, entretanto, que a oferta de financiamentos para programas de pós-graduação está aumentando no Brasil, principalmente após a implantação de programas como o Ciência sem Fronteiras, que objetiva a promoção, consolidação, expansão e internacionalização da ciência, tecnologia, inovação e competitividade por meio de intercâmbio e da mobilidade internacional. O programa, no entanto, ainda não permite a realização de cursos na área de gestão em outros países. “A Administração necessita de muito desenvolvimento, por ser uma ciência nova, mas de importância no presente e para o futuro”, salienta. Para o especialista, é fundamental que tanto a sociedade quanto as empresas recebam o retorno dos investimentos feitos em pesquisas, e a mobilização de recursos para aproximar os pesquisadores das empresas, a fim de reter talentos, é um expediente útil. O aprendizado com boas práticas é outro recurso para promover melhorias no modelo existente no Brasil, bem como a aplicação da verba empregada para tal finalidade.

Arquivo pessoal

Primeiro doutor formado na FEI

Paulo Roberto Vidigal é autor do estudo

Tradição Primeira instituição de ensino superior na América Latina a oferecer curso de graduação em Administração, a Escola Superior de Administração e Negócios (ESAN) foi fundada em 1941 pelo Padre Roberto Saboia de Medeiros. Em 2011, o Centro Universitário da FEI, que incorporou a ESAN em 2002, implantou seu primeiro curso de doutorado no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Administração. As linhas de pesquisa em Sustentabilidade, Capacidades Organizacionais e Estratégias de Mercado e Competitividade têm como foco a gestão da inovação. “Sinto muito orgulho por essa conquista e por ser uma referência no curso de Administração”, afirma Paulo Roberto Vidigal, que há 21 anos leciona em cursos de nível superior e é especialista em Empreendedorismo e Planos de Negócios. A tese recebeu orientação da professora doutora Isabella Francisca Freitas Gouveia de Vasconcelos, e bolsa da FEI para sua execução.

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Intercâmbio permite formação

Alexander/istockphoto.com

Parceria com instituição de ensino da França beneficia estudantes de Engenharia de Produção

Novos horizontes para jovens brasileiros e franceses Dos cinco alunos franceses que chegaram para o intercâmbio na FEI, apenas um tinha a intenção de ficar dois anos no Brasil e adquirir a dupla diplomação, mas, em pouco tempo, outros também pensam em estender a permanência no País. O professor João Chang Junior afirma que todos estão muito envolvidos com os trabalhos desenvolvidos na FEI. Três intercambistas fazem parte dos projetos de Engenharia de Produção que envolvem o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HC/FMUSP) – leia mais nas pági-

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m acordo selado entre o Centro Universitário da FEI e o Institut Catholique D’Arts et Métiers (ICAM), da França, possibilita a realização de intercâmbios de alunos das duas instituições, por um período de seis meses a dois anos (no caso da dupla diplomação) que facilita o exercício da profissão tanto na Europa como no Brasil. Os intercâmbios são frutos do Programa Brafitec (Brasil France Ingénieur Technologie), iniciativa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) em parceria com a Conférence des Directeurs des Écoles Françaises d’Ingénieurs (CDEFI) para seleção de acordos universitários na área da Engenharia. A FEI também mantém parcerias para dupla diplomação com o New York Institute of Technology (NYIT), dos Estados Unidos, para os cursos de graduação em Engenharia Elétrica, Mecânica e de Produção, Administração e Ciência da Computação. A parceria da FEI com o ICAM, localizado em Lille, foi aprovada em setembro de 2012 e teve início no ano passado. Graças ao programa, sete alunos de Engenharia de Produção do Centro Universitário desembarcaram em solo francês, em julho de 2013, para dar continuidade aos estudos. Os estudantes ficarão até dois anos na instituição francesa e, em fevereiro deste ano, cinco alunos franceses passaram a frequentar as

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nas 26 a 31 –, um atua na área de robótica com o professor doutor Paulo Eduardo Santos, de Engenharia Elétrica, e outro participa de um projeto de Iniciação Científica da Engenharia Civil, com o professor doutor Kurt André Pereira Amann. O aluno francês Benoit Syméon Louis Joncquez reforça que os programas de intercâmbio são uma grande oportunidade para quem gosta de viajar, descobrir novas culturas, aprender um novo idioma e conhecer pessoas. Segundo o jovem, no aspecto acadêmico as aulas de Engenharia de Produção são bastante interessantes,


Fotos: arquivo pessoal

globalizada

Da esq.: Alunos da FEI com o professor João Chang Junior (ao centro) e estudantes franceses com o coordenador do curso, Alexandre Massote

aulas no campus São Bernardo do Campo da FEI. “Tanto este convênio como o Programa Ciência sem Fronteiras são patrocinados pelo governo federal por meio das agências CAPES e Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)”, explica o professor doutor João Chang Junior, do Departamento de Engenharia de Produção, coordenador do programa na FEI. No entanto, o Brafitec permite a conquista do duplo diploma, enquanto o Ciência sem Fronteiras propicia somente um período de estudos no exterior, com a possibilidade de dispensa de algumas matérias, dependendo do conteúdo cursado pelo aluno na instituição de acolhimento. Para participar do programa Brafitec, o aluno precisa ter integralizado no mínimo 40% do currículo previsto para o curso de Engenharia de Produção no momento do início do programa no exterior, no máximo 60% para dupla diplomação ou 90% para intercâmbio de até um ano. Além disso, deve ter obtido nota igual

ou superior a 600 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) realizado a partir de 2009, ter nível básico na língua francesa e, principalmente – fator primordial – manter perfil de excelência acadêmica. Em julho deste ano, um novo grupo de alunos deixará o Brasil rumo ao ICAM. O professor doutor João Chang Junior conta que os alunos da FEI no ICAM estão sendo elogiados pelo rápido aprendizado da língua francesa, ao ponto de ser possível o acompanhamento do intercambista nos cursos da instituição. A diretora da Academia Internacional da Université Lille Nord de France – PRES, Florence Bouvet, forneceu uma planilha com as notas e o desempenho de todos os intercambistas, ressaltando que a maior nota foi de uma aluna da FEI, Marília Buchhorn Cintra Damião (72,5 pontos de um total de 100). “Empresas como Renault, Peugeot, Citroën e L’Oréal estão interessadas nos alunos da FEI para estágios”, comemora o docente.

embora a FEI seja diferente na maneira de estudar. “Estávamos acostumados, no ICAM, com aulas de manhã e trabalho prático à tarde, e essa oportunidade na FEI nos permite adquirir um conhecimento mais específico sobre a Engenharia de Produção. Além disso, o intercâmbio possibilita aprender a língua portuguesa e saber mais sobre o Brasil. Por que não, um dia, viver e trabalhar aqui algum tempo ou em uma empresa instalada no País? Há sempre vantagens a partir desse tipo de experiência”, acredita. O estudante da FEI no ICAM, Rodrigo Del Monaco De Ma-

ria, está aproveitando ao máximo a oportunidade de conhecer didáticas diferentes, culturas empresariais mais globais e novos métodos e tecnologias que ainda não chegaram ao Brasil. “Vivo um amadurecimento de grande importância. A distância da família e dos amigos faz com que eu desenvolva o autoconhecimento e enxergue o mundo de outra maneira. Para a carreira, acredito ganhar conhecimento técnico diferenciado e grande capacidade de adaptação às mudanças de ambiente, muito presentes no universo empresarial”, enumera.

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Tradição e modernidade em duas Professor do Departamento de Engenharia Mecânica desenvolve bicicletas inovadoras

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sboços encontrados em 1966 indicam que Leonardo da Vinci pode ser um dos criadores da bicicleta. Segundo dados da International Cycling Fund, o protótipo atribuído ao italiano é da década de 1490 e um dos mais antigos projetos sobre o qual se têm notícias. O modelo apresenta duas importantes características: os sistemas de tração e de direção com guidão. Com um primitivo sistema de transmissão com pedais, coroa e pinhão ligados por meio de uma cinta de couro perfurada,

Peças são réplicas de modelos criados por Conde Mede de Sivrac e Leonardo da Vinci (ao lado)

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a bicicleta de Leonardo da Vinci é um dos modelos recriados pelo professor Ricardo Bock, do Departamento de Engenharia Mecânica. As bicicletas foram expostas na Semana Cultural da Velocidade (Velocult), entre os dias 9 e 29 de março no Conjunto Nacional, em São Paulo, e serão apresentadas em outros eventos, como o Salão 2 Rodas, a Feira de Motos Antigas do Pateo do Collégio e em exposições de projetos inovadores. Com tradição e experiência na criação e exposição de veículos com quatro rodas, o Centro Universitário da FEI expandiu sua excelência para o desenvolvimento de modelos com duas rodas com a confecção de quatro protótipos de bicicletas, sendo duas réplicas de projetos antigos e dois modelos futuristas. “O interesse em desenvolver projetos de duas rodas surgiu há mais de um

ano, pela possibilidade de participar de eventos do segmento”, explica o professor Ricardo Bock. Além da bicicleta de Leonardo da Vinci, o docente recriou o modelo proposto pelo francês Conde Mede de Sivrac, em 1790, ambos considerados arrojados para os períodos em que foram executados. Construída em madeira, a bicicleta de Leonardo da Vinci apresenta mais recursos do que o modelo do Conde Mede de Sivrac, criado 300 anos mais tarde. “O projeto de autoria do francês também é feito em madeira e se assemelha mais às bicicletas comuns, entretanto, é mais rudimentar que o de Leonardo da Vinci, pois não possui pedais nem dispositivo para a mudança de direção”, explica o docente. O modelo é conhecido como Celerífero e tem como inspiração o cavalo. Os dois projetos foram desenvolvidos e executados pelo professor da FEI, que consultou especialistas em bicicletas para realizá-los, uma vez que sua área de atuação é a de veículos de quatro rodas. Além disso, o docente recebeu apoio do Departamento de Engenharia de Materiais. Já as bicicletas com design futurista foram construídas com diferentes materiais. O modelo FB1 foi concebido em alumínio, cromo-mobilidênio e fibra de vidro. O FB2


rodas foi feito de uma mistura de alumínio, fibra de carbono e fibra de vidro. A tecnologia empregada para confecção dos modelos é nacional e, dentre os recursos utilizados, destaca-se a tinta usada para a pintura das bicicletas, de alto valor comercial. A bicicleta FB1, de cor verde, por exemplo, recebeu 18 camadas de tinta para adquirir o efeito desejado. “O principal objetivo de uma iniciativa como essa é envolver os alunos na criação de projetos, para que se tornem engenheiros completos ao final do curso”, salienta o professor Ricardo Bock. Para executar o projeto das duas bicicletas, o professor recebeu o apoio dos estudantes Felipe Ramos Caiado (formado em 2013) e Haroldo Vinícius Ferrari, que cursa o 9º ciclo de Engenha­ ria Mecânica. O aluno interessou-se em participar do projeto por causa do desenvolvimento acadêmico proporcionado pela iniciativa, além da utilização

Uniforme tecnológico ajuda a melhorar o desempenho dos atletas nas provas

de software de criação e da construção de peças usinadas e laminadas. “Gostei de ter acompanhado a parte de criação, com o desenvolvimento do sistema de transmissão”, afirma o jovem. Complemento Um uniforme para ciclistas foi confeccionado pelo Departamento de En­­genharia Têxtil da FEI e emprega tecnologias que promovem a melhora do desempenho dos atletas. A peça possui poucas costu-

ras, a fim de reduzir a resistência do ar e promover ganhos de velocidade. Nas áreas do corpo de maior transpiração que têm contato com o tecido foi utilizada poliamida, caracterizada pelo bom transporte de umidade e que também recebeu pequenos orifícios a laser. Na região em que se concentra o atrito do corpo do ciclista foi utilizado forro em formato ergonômico em tecido de elasticidade e efeito bactericida, além de duas camadas de espuma com diferentes densidades, para melhor absorção de impacto.

Protótipos de modelos futuristas foram concebidos com tecnologia nacional

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Franquias brasileiras investem no Dissertação de mestrado em Administração estudou processo de internacionalização de franchising

Photomorphic Pte Ltd/istockphoto.com

A

s redes de franquias brasileiras estão entre as que cada vez mais buscam mercados internacionais e exportam produtos e conceitos. Prova disso é que, entre os anos de 2000 e 2012, o crescimento das marcas franquiadas que se internacionalizaram foi de 486%. Para analisar as motivações, o processo de preparação para atuar no exterior e os ganhos gerados para as redes foi desenvolvido o estudo ‘Internacionalização das Redes de Franquias Brasileiras: O Processo de Internacionalização Conduzida’, realizado pelo ex-aluno Helder de Souza Aguiar, do Programa de Pós-­ Graduação em Administração do Centro Universitário da FEI. Pela inovação, a pesquisa recebeu o Prêmio ABF Santander­ Destaque do Franchising, da Associação Brasileira de Franchising, como Melhor Trabalho Acadêmico de 2013.

O trabalho, orientado pela professora doutora Flávia Consoni, recebeu apoio dos professores doutores Roberto Bernardes e Edmilson Alves de Moraes, docente e coordenador do Programa de Pós-­Gra­duação em Administração da FEI, respectivamente. O projeto partiu de um estudo multicasos de caráter qualitativo no qual, no ano de 2012, foram entrevistados executivos de 21 redes de franquias brasileiras com operações no exterior. O levantamento buscou contemplar as etapas da internacionalização no primeiro país em que as empresas se instalaram e os principais motivos que levaram à busca por este local. Posteriormente, esses dados foram somados à análise de documentos relativos ao tema. Segundo o autor do trabalho, a Asso­ ciação Brasileira de Franchising disponibilizou uma lista com as 88 franquias com negócios no exterior – hoje, esse número já passa de 110 – e foram escolhidas 21 redes de diferentes áreas, como escolas de idiomas, restaurantes e empresas de serviços. “Observamos que um agente externo às empresas geralmente desencadeia o processo, o que acaba mudando a estratégia das franqueadoras”, explica. De todas as empresas estudadas, 17 se internacionalizaram

por terem sido procuradas, ou seja, foram ‘conduzidas’ por estrangeiros que têm contato com os produtos e ficam interessados em levá-­los para outros países, ou por brasileiros que acreditam que se trata de algo com condições de dar certo fora do País. Inovação Na literatura, só existiam estudos que falavam da internacionalização de franquias de maneira contida. A pesquisa da FEI foi mais consistente e chegou à conclusão de que a falta de preparação e o pouco (ou nenhum) conhecimento em negócios internacionais acabaram levando as redes a repensarem a postura nesse novo mercado. “Internacionalizar-­ se não é visto como uma estratégia para as empresas brasileiras de franquias, pelo fato de o mercado doméstico ainda não estar totalmente desenvolvido ou de as empresas não enxergarem na internacionalização uma oportunidade para a expansão dos negócios”, argumenta Helder de Souza Aguiar. A pesquisa também mostrou que houve um alto grau de adaptação dos produtos após as unidades estarem abertas no exterior com o objetivo de atrair e agradar os novos consumidores, aumentando o portfólio de itens ofereci-

Reconhecimento Anualmente é realizado o Prêmio ABF Santander Destaque do Franchising, que confere reconhecimento aos profissionais e redes que mais se destacaram ou contribuíram para o desenvolvimento do sistema de franchising brasileiro. A dissertação de mestrado da FEI foi a vencedora da categoria Trabalho Acadêmico, mas a ABF também concedeu

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Arquivo pessoal

exterior

Helder de Souza Aguiar foi premiado

dos. Além disso, o pesquisador observou um ganho de aprendizagem e de novas competências durante este processo, que ajudaram e mudaram a estratégia de 71,5% das empresas consultadas. Essas marcas afirmam que a primeira experiência, sendo positiva ou não, ajudou na decisão de busca e instalação da franquia no segundo país. “Esse estudo mostra, ainda, a importância da participação de empresários de franquia em feiras e rodadas de negócios no ex­terior, para levar a ideia para outros ter­ritórios e conseguir um parceiro local”, complementa o autor do estudo.

prêmios para as categorias de Franqueador do Ano, Franqueado, Jornalismo (jornal, revista e mídia digital) e Personalidade do Franchising (setor público e privado). A premiação foi realizada dia 25 de abril, em São Paulo, e o ex-aluno Helder de Souza Aguiar recebeu um troféu e um cheque no valor de R$ 5 mil.

Robótica é tema de competição Nas últimas décadas, os robôs saíram definitivamente dos filmes de ficção científica e ganharam espaço na sociedade. E, para fomentar o interesse cada vez mais precoce pela robótica no Brasil – fundamental para que o País acompanhe tecnologicamente o resto do mundo –,­estudantes têm sido estimulados a participar de competições científicas, como a Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR). Por ser uma referência nacional na área, o Centro Universitário da FEI coordena a Olimpíada, que é dividida em duas modalidades para adequar-­ se aos alunos que nunca tiveram contato com a robótica e àqueles que já têm aulas sobre o tema no ensino básico. Entre os meses de maio e junho serão realizadas regionais em 27 estados para selecionar os melhores estudantes para a competição nacional, que ocorrerá em outubro. Em 31 de maio, a FEI abrigou a regional Grande São Paulo da OBR, com prova prática que envolveu aproximadamente 300 estudantes. Em agosto, a FEI abrigará a final estadual, que classificará equipes para a final nacional, que ocorrerá junto à Competição Brasileira de Robótica (CBR) em São Carlos, interior de São Paulo. O professor doutor Flávio Tonidandel, chefe do Departamento de Ciência da Computação da FEI e coordenador geral da Olimpíada Brasileira de Robótica 2014, afirma que a OBR é uma competição saudável que fomenta o interesse pela robótica entre estudantes no Brasil inteiro. “É necessário que alunos do ensino fundamental, médio e técnico sejam apresentados ao tema, pois o País precisa investir agora em robótica para que possa liderar os avanços tecnológicos

Robô humanoide da FEI

no futuro”, argumenta. Os melhores colocados nas categorias Junior e Sênior da Competição Brasileira de Robótica 2014 ganharão o direito de participar da RoboCup 2015, que será realizada na Tailândia. RoboCup Pela primeira vez no Brasil, o evento mundial de robótica autônoma será realizado em João Pessoa, na Paraíba, em julho. A FEI é uma das duas únicas instituições brasileiras organizadoras do evento, juntamente com a Universidade Estadual Paulista (Unesp). A expectativa dos organizadores é levar cerca de 4 mil participantes, de mais de 40 países, à competição de robôs autônomos, que também deverá atrair a atenção de 50 a 60 mil visitantes. A FEI vai participar da RoboCup com a tradicional equipe na categoria Small Size, quatro vezes campeã em nível nacional e bicampeã latino-americana. A FEI também se classificou para competir, pela primeira vez, na categoria de robôs humanoides na RoboCup 2014. Esta é a primeira vez que uma equipe brasileira se qualifica para competir na categoria. abril a junho DE 2014 | Domínio fei

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destaques

Portas Abertas com mais interati

Pela primeira vez, o evento foi realizado também no campus São Paulo da FEI

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ais de 2,6 mil visitantes, entre estudantes e professores de escolas públicas e privadas do Grande ABC, da região metropolitana e do interior de São Paulo, estiveram no campus São Bernardo do Campo do Centro Universitário da FEI para a 6ª edição do FEI Portas Abertas. O evento, realizado dia 17 de maio, tem como obje­tivo proporcionar a oportuni­da­de de os alunos do ensino médio vivenciarem o universo acadêmico por meio de projetos, experiências científicas e pesquisas desenvolvidas na Instituição. Mais de 70 atividades interativas foram desenvolvidas, envolvendo

os cursos de Administração, Ciência da Computação e Engenharia. Uma das novidades desta edição fo­ram as atividades promovidas pelo Departamento de Ciência da Computa­ção que, entre outras, mostrou a funciona­lidade de um hacking de rede sem fio e e-mail phishing, abordou a Internet das Coisas, apresentou os movimentos corporais no Kinect, a interação humano­-robô e o futebol de robôs. No curso de Administração, uma exposição de planos de negócios, palestras sobre coaching e planejamento de carreira fizeram parte das atividades, como plantões de dúvidas sobre a área. Na Engenharia, os visitantes participaram de uma demonstração de software,­ conheceram robôs industriais da área de produção, entenderam como funciona o reconhecimento automático de fala e os experimentos de controle automático. Além disso, conheceram os laboratórios Campus São Paulo

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de produção de peças, fundição, laminador de metais, comportamento de materiais, microscopia óptica e eletrônica, entre outras atividades. “É um evento totalmente diferente de tudo que já vi, pois aqui é possível conhecer a prática daquilo que estamos acostumados a ver somente no papel. É uma oportunidade excelente para quem deseja definir o que cursar na faculdade”, destaca o estudante do 3º ano do ensino médio do Colégio São Luís, Fernando Araújo Sanchetta. administração Neste ano, o FEI Portas Abertas também foi realizado no campus São Paulo, localizado no Bairro da Liberdade. No dia 24 de maio, mais de 340 visitantes conheceram a infraestrutura do campus e participaram de atividades relacionadas à área de Administração, como um jogo interativo de gestão – o Desafio CEO –,

Campus São Bernardo do Campo


vidade

atividades dinâmicas e plantões de dúvidas sobre a atuação de um administrador, entre outras. A FEI também realizou, simultaneamente, a 15ª Feira de Empreendedorismo com a apresentação de oito projetos de negócios inovadores desenvolvidos por alunos de Administração do campus São Paulo. O estudante do 3º ano do Centro­ Educacional Sobem, José Paulino Con­trin­­ Jr., ressalta que é muito importante que a FEI abra as portas do campus para que os estudantes do ensino médio conheçam os cursos e a infraestrutura, além de esclarecer as dúvidas sobre a carreira de Administração. “Achei muito interessante o conteúdo das palestras, principalmente aquela que abordou a inserção do jovem no mercado de traba­lho. Hoje, o que mais se vê são jovens perdidos e sem saber o que cursar na faculdade, e esse tipo de atividade contribui muito para nos ajudar a sanar essa indecisão”, afirma. O professor de História do Colégio­ Brida, em São Paulo, Lorival Jean Já­co­­mo, acrescenta que, no universo atual do ensino brasileiro, existe uma distância muito grande entre a escola e a univer­sidade, quando o ideal seria que as duas instituições fossem aliadas. “Os estudantes de ensino médio precisam conhecer mais de perto como é o ambiente universitário, para que cheguem mais preparados ao curso superior, e essa inciativa da FEI é fantástica neste sentido”, destaca.

Visita de empresários da FIESP Empreendedores do Programa Interação Universidade-Empresa, desenvolvido pelo Departamento de Micro, Média e Pequena Indústria da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (DEMPI-FIESP), participaram de uma visita às instalações do Centro Universitário da FEI em 21 de março. O grupo, composto de 25 participantes, foi recebido pelo professor doutor Vagner Barbeta, diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais (IPEI). “É importante apresentar a FEI e sua estrutura diferenciada. Com isso, abrem-se possibilidades de parcerias e projetos em conjunto”, ressalta o docente. A primeira atividade foi a palestra ‘Mecanismos de interação para apoiar a gestão e inovação às pequenas e médias empresas’, ministrada pelo diretor do IPEI e, depois, o grupo conheceu os laboratórios de ensaios têxteis, mecânicos e químicos, além do laboratório de materiais. Após o encontro, dois empresários demonstraram interesse em desenvolver projetos com o IPEI. Esta é a segunda vez que o Departamento de Micro, Média e Pequena Indústria da FIESP visita a FEI.

Contexmod reúne pesquisadores

Pelo segundo ano consecutivo, pesquisadores e profissionais da indústria têxtil se reuniram no Congresso Científico Têxtil e de Moda (Contexmod) para troca de conhecimentos e discussão sobre resultados de pesquisas, validações e transferência de tecnologias relacionadas à cadeia produtiva têxtil e de moda. Organizado pela Associação Brasileira de Técnicos Têxteis (ABTT), em parceria com o Centro Universitário da FEI, Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e Escola de Artes Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo (EACH/USP), o encontro foi realizado de 20 a 22 de maio, em São Paulo. Com foco em três áreas – tecnologia, gestão e moda – o Contexmod também colabora para divulgar o potencial da área no Brasil. “Para a FEI, é muito importante participar de eventos que tenham foco no desenvolvimento têxtil, uma vez que a Instituição foi precursora no curso de Engenharia Têxtil no Brasil”, ressalta a professora doutora Camilla Borelli, coordenadora do curso de Engenharia Têxtil da Instituição e integrante do Comitê Científico de Tecnologia do congresso. Responsável pela organização de mesa-redonda sobre tecnologia específica para a área têxtil, a docente destaca a importância dos debates que envolvem tecnologia para melhorar o desempenho dos têxteis. “Além dos tecidos tecnológicos, estudamos de que maneira alguns tratamentos químicos e a nanotecnologia poderiam possibilitar que os tecidos ganhassem novas funções, como não amassar ou ser impermeáveis”, explica. Nos últimos anos, a FEI consolidou sua linha de pesquisa direcionada à questão do conforto fisiológico e transporte de umidade, voltado principalmente para a área esportiva. abril a junho DE 2014 | Domínio fei

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Fórmula

Baja

Destaque internacional Baja FEI conquista tetracampeonato mundial e Fórmula FEI se consolida entre os 10 melhores do mundo

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arte do reconhecimento internacional que o Centro Universitário da FEI tem conquistado ao longo de sua história vem de projetos desenvolvidos por alunos da Instituição que, ano após ano, colecionam títulos e excelentes colocações em competições internacionais. Em maio, um time formado de 14 alunos de Engenharia da FEI conquistou o tetracampeonato mundial da competição internacional Baja SAE, realizada em Pittsburgh, nos Estados Unidos. Com domínio técnico, trabalho em equipe e muita dedicação como estratégias, a

equipe da FEI venceu a competição que reuniu mais de 100 equipes do mundo inteiro. O protótipo off-road MBF-28, chamado de Armadillo, obteve o primeiro lugar em Projeto, terceiro lugar nas categorias Apresentação de Vendas e Custos e Design, e o quarto lugar no enduro de quatro horas de duração. A conquista consagra a FEI como a Instituição de ensino brasileira com mais títulos internacionais e nacionais na categoria Baja SAE. A Instituição é heptacampeã brasileira (2001, 2002, 2005, 2007, 2009, 2010 e 2011) e tetracampeã mundial (2004, 2007, 2008 e 2014). “A força de vontade e a perseverança da equipe ao enfrentar os desafios da competição foram fundamentais para a conquista do título”, destaca o professor doutor Roberto Bortolussi, coordenador do curso de Engenharia Mecânica da FEI e responsável pelos alunos durante a competição.

Já o time Fórmula FEI foi considera­ do um dos 10 melhores do mundo no Fórmula SAE Michigan 2014, realizado nos Estados Unidos, de 14 a 17 de maio. O time ficou na frente de instituições internacionais com maior tradição em projetos do gênero, como Estados Unidos, México e Canadá. O carro construído pelos alunos de Engenharia da FEI obteve bons resultados, com destaque para as categorias Consumo de Combustível e Eficiência Energética, nas quais conquistou a terceira posição e o prêmio Continental, concedido ao melhor projeto de freio. “A equipe fez um excelente trabalho, mas tivemos problemas com a estabilidade do carro durante o enduro, o que nos impediu de ter uma colocação melhor”, conta o professor Roberto Bortolussi. A Instituição é a atual campeã nacional na categoria Combustão por ter vencido o Fórmula SAE Brasil-Petrobras pela sétima vez, em novembro de 2013.

Aula magna na Engenharia Com o objetivo de promover uma maior integração entre o corpo docente e os alunos, principalmente ingressantes, dos cursos de pós-­graduação stricto sensu em Engenharia Elétrica, Engenharia Mecânica e Engenharia Química, o Centro Universitário da FEI realizou, neste ano, aula magna com a presença do professor doutor Armando Zeferino Milioni, secretário adjunto de Desenvolvimento Tecnológico do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), que ministrou a palestra ‘Panorama Nacional de Educação Superior, Ciência, Tecnologia e Inovação’. A atividade ocorreu na noite de 20 de março, no campus São Bernardo do Campo. “Trata-se de um evento anual realizado desde 2005 no mês em que são abertos oficialmente os cursos de pós-graduação. Além de receber um palestrante com importância nacional e propiciar um debate sobre assuntos atuais e relevantes, esta é uma forma de receber bem os alunos e fazer com que tenham maior interação com seus pares”, explica o professor doutor Agenor de Toledo Fleury, coordenador do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da FEI.

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O professor doutor Armando Zeferino Milioni, do MCTI


destaque jovem

Juventude e maturidade

O

Raccortubi Group é uma holding italiana com 60 anos de história, que fatura 60 milhões de euros por ano e está entre os líderes mundiais na fabricação e comercialização de conexões em aço inoxidável e ligas especiais utilizadas em aplicações em que altas resistências à temperatura, corrosão e pressão são necessárias, como plataformas de petróleo, refinarias, usinas de etanol, papel e celulose, entre outros. Ao decidir ampliar os negócios para fora da Itália, a empresa selecionou três países para instalar filiais e um deles é o Brasil. Para implantar o negócio no País, que deverá começar a operar em meados deste

ano, a Raccortubi escolheu um engenheiro de Materiais de apenas 30 anos de idade, mas com grande vivência internacional. Formado pela FEI em 2008, Pietro Federico Netto alia a ousadia da juventude a uma larga experiência de trabalho, inclusive no mercado internacional. Sua carreira começou ainda durante a faculdade, quando fez o primeiro estágio na planta de Cubatão da antiga Cosipa – hoje Usiminas – no segundo ano do curso. “Foi a partir dessa experiência que me decidi pela área de Materiais”, conta. Depois de passar pela área produtiva, estagiou em Vendas e Marketing e percebeu que também poderia atuar nesses setores depois de formado. Ao sair da Cosipa seguiu para um novo estágio na Mangels Divisão Aços, na qual atuou com gerenciamento de projetos. Em agosto de 2008, antes da formatura, foi selecionado para um estágio na multinacional sueca Sandvik e, em dezembro, foi efetivado como engenheiro. Quando a empresa abriu um processo de trainee Arquivo pessoal

Engenheiro de Materiais formado pela FEI em 2008 implanta f ilial de empresa italiana no Brasil

internacional participou, foi selecionado e, a partir daí, sua carreira deu um grande salto. “Segui para a matriz, na Suécia, em um processo de ‘job rotation’, no qual os trainees ficam 14 meses percorrendo as plantas de maior sucesso da empresa”, ressalta o diretor geral da Raccortubi no Brasil. Com isso, o jovem engenheiro também trabalhou nas unidades da Suíça, Alemanha, Inglaterra e Austrália. O gestor da filial da Sandvik na Itália gostou do seu perfil e o convidou para trabalhar na planta como Business Developer Engineer, onde ficou como expatriado de maio de 2010 a dezembro de 2012. Com a ida desse gestor para a Raccortubi, o engenheiro acabou seguindo para novas oportunidades na indústria de metalurgia italiana. Agora, a saudade da família e do Brasil, e a vontade de enfrentar novos desafios na carreira, o levaram a aceitar a proposta para instalar a Raccortubi no País. “Fui convidado para ser o gestor da filial desde o start up até o estabelecimento da empresa aqui. Está sendo uma experiência nova e realmente desafiadora, pois, além de não conhecer o processo de implantação de empresas, estamos enfrentando a burocracia brasileira”, relata. Formação Apesar das dificuldades, o jovem está otimista com o mercado nacional e com a possibilidade de expandir os negócios, no futuro, para a América do Sul. Para Pietro Federico, a ascensão rápida na carreira deve-se, inicialmente, à sólida formação recebida no curso de Engenharia de Materiais da FEI, mas também foi influenciada pelo fato de ter estudado idiomas, nunca ter parado de se aprimorar, ter demonstrado vontade para sair da zona de conforto e ter tido a possibilidade da experiência internacional. “Como tenho maturidade profissional, muita vontade de aprender e conheço bem o Brasil, acredito que teremos sucesso aqui”, enfatiza. abril a junho DE 2014 | Domínio fei

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Entrevista – Fernando Moller

Capacidade para se rei

O

engenheiro Fernando Moller, graduado pela FEI em 1993, fez uma carreira de sucesso em uma das empresas mais tradicionais e conhecidas do País. A BIC, líder no segmento de canetas e isqueiros – mas que também produz barbeadores, colas e etiquetas – está no Brasil desde 1956 e tem por filosofia a simplicidade e acessibilidade de seus produtos. À frente da presidência da multinacional francesa desde julho de 2013, Fernando Moller afirma que sua maior missão é manter o sucesso da operação brasileira, considerada a segunda maior do Grupo no mundo.

Como foi a sua trajetória na BIC para chegar, aos 43 anos, à presidência da multinacional no Brasil?

Sou de Jundiaí e fui trabalhar em uma empresa local, onde fiquei por um ano, depois de me formar em Engenharia Mecâni­ca na FEI. Em 1995, fui contratado pela BIC para fazer uma transição, pois a empresa estava levando toda a parte fabril da Vila Leopoldina, na capital, para Cabreúva, interior de São Paulo, em um site novo. E a BIC precisava de um engenheiro novo, recém-formado, para fazer essa transição da fábrica. Fiquei um período na antiga planta, conhecendo o processo produtivo e tendo algumas responsabili­dades, mas muito mais voltado à mudança. No início da fábrica eu fazia de tudo: ajudava o pessoal a fazer instalação de máquinas, operava as empilhadei­ras, cuidava do faturamento, controlava estoques, enfim, administrativamente eu era o único na fábrica. E, depois, quando a nova planta foi ganhando massa, outros profissionais migraram para lá.­ Não era muita responsabilidade para um engenheiro recém-formado?

Fui contratado exatamente para isso. A BIC estava começando um processo de

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“ O que a FEI ensinou em matéria de organização para o trabalho, rigor técnico no trabalho e tantos outros princípios nos dá muita segurança no que nos propomos...” profissionalização e contratando novos engenheiros. Eu fui o primeiro, mas outros dois ou três foram contratados na mesma época. Um deles continua aqui e é um feiano, que é nosso diretor de Supply Chain, formado no mesmo ano que eu. Depois de dois anos, quando a fábrica já estava implantada, assumi a gerência da

produção. Fiquei na função até o final de 1998, quando assumi a responsabilidade por toda a produção de canetas na América do Sul e passei a gerente de Instrumentos de Escrita. Neste período fui para Manaus, onde fiquei dois anos. A fábrica de Manaus tinha sido definida como nosso polo indus­ trial para o Brasil e participei de todo o


inventar projeto e início dessa transição, mas não cheguei a concretizá-la, porque recebi uma proposta para voltar a São Paulo e trabalhar na área de Logística e Planejamento. Voltei no início de 2001 e fiquei nessa área de forecasting, que envolvia orçamento de fábrica, todo o planejamento de fábrica e de compras. Permaneci com essa responsabilidade até meados de 2004, quando me fizeram uma proposta para ir para a França, onde fui responsável pela área de desenvolvimentos industriais. Como foi sair do Brasil e assumir uma função estratégica em outro país?

Foi muito interessante. Na França, minha responsabilidade era receber um protótipo e, depois de aprovado pelo grupo gestor, industrializá-lo, desde a concepção de maquinários e moldes até a fabricação do produto. Assim, passei a ter uma responsabilidade global na BIC, pois trabalhava com todos os sites produtivos da organização. Em conjunto com a direção, minha responsabilidade era escolher o site que iria fabricar o produto, quais eram os equipamentos necessários para a produção, o desenvolvimento dos equipamentos e dos moldes de injeção plástica. Neste período voltei um pouco para a área técnica e, quando fui para o desenvolvimento de produtos, uns três anos depois, já tinha outra visão, muito mais próxima de Marke­ting, e conhecia melhor as necessidades do mercado. Permaneci quase cinco anos na França e, em meados de 2008, recebi a proposta para voltar ao Brasil como diretor de Supply Chain. Retornei em 2009 e, em março de 2012, recebi a proposta para assumir a gerência geral do Cone Sul, com responsabilidades das operações de Argentina, Uruguai e um distribuidor no Paraguai. Fiquei por um ano e meio nessa função. Como nesse período ocorreram algumas mudanças no cargo de gerente geral na América Latina e

o Horácio Balseiro, que era o presidente no Brasil, recebeu uma proposta para assumir o mercado que envolve México, América Central e as Ilhas do Caribe, fui indicado para assumir o lugar dele. O senhor só trabalhou na BIC?

Estagiei na Autolatina – que reunia a Volkswagen e a Ford – na linha de montagem do Santana e do Versailles; depois em uma concessionária da Volkswagen; depois na Fortilit Tubos e Conexões, onde fiquei por um ano e meio antes de me formar. Depois de formado trabalhei na Astra, em Jundiaí, por um ano e alguns meses, e fui para a BIC, de onde não saí mais. A que o senhor atribui essa carreira de sucesso?

Acho que é um conjunto de fatores. Na verdade, a formação é importante, porque, além da visão técnica forte, a FEI passa conhecimentos de administração, operação,­processos, e isso é fundamental para a carreira. O que a FEI ensinou em matéria de organização para o trabalho, rigor técnico no trabalho e tantos outros princípios nos dá muita segurança no que nos propomos a desenvolver e já saímos da faculdade sabendo que temos um diferencial em relação ao mercado. O engenheiro formado na FEI se sente muito responsável por levar o nome da faculdade para o mercado, no início, mas, óbvio, ao longo da carreira, vão surgindo várias situações que nos obrigam a ter coragem de assumir riscos, e isso é importante também. Se levarmos essa autoconfiança para dentro da companhia onde trabalhamos, as pessoas vão confiar e acreditar que sabemos o que estamos fazendo. As atitudes são importantes e foi assim que sempre consegui meu desenvolvimento dentro da BIC. Além disso, obviamente, é importante trabalhar a liderança pelo exemplo e ter sempre a preocupação de formar sucessores, porque

só conseguimos ter mobilidade se a equipe crescer conosco. Sempre me preocupei em fazer com que as equipes com as quais trabalhei crescessem junto comigo. E acho que fui bem-sucedido neste ponto, pois sempre que saí de uma função tinha alguém que suportava a operação no meu lugar. Em poucas palavras é ter coragem, liderar pelo exemplo, ter respeito pelos valores da companhia, sempre ter muita transparência e ser uma pessoa acessível, com quem as pessoas possam falar sempre, do contrário, acabamos não ganhando a confiança de ninguém. Por que a escolha pela Engenharia?

Escolhi a Engenharia pela organização, pela forma de pensar do engenheiro, que é muito lógico, muito pragmático, o que sempre esteve muito presente na minha personalidade. Portanto, a Engenharia foi um complemento da minha personalidade. Eu não sabia se realmente ia seguir carreira na Engenharia Mecânica, como alguns de meus amigos seguiram, ou se ia para uma área mais administrativa, mas enxergava no merca­do uma necessidade desse profissional muito pragmático, voltado aos processos, organizado, que tivesse flexibilidade para trabalhar em diferentes áreas. Essa agilidade foi o que me fez seguir nessa carreira. A ascensão tão rápida era um dos seus objetivos desde o começo?

Não. No início, nunca imaginei que chegaria a um cargo de presidência. Mas fui criando confiança e enxergando que isso era possível. No começo eu pensava: “agora não dá, nem vou pensar nisso”. Depois de um tempo já dava para começar a pensar “realmente, dá para chegar lá”. A partir do momento que temos essa consciência conseguimos juntar esforços para chegar aonde queremos. Isso não quer dizer que seja glamoroso, ao contrário, é um negócio ABRIL A JUNHO DE 2014 | Domínio fei

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Entrevista – Fernando Moller pesadíssimo ter essa responsabilidade, mas, ao mesmo tempo, tenho confiança naquilo que faço e confiança na minha equipe, e essa confiança me faz acreditar nas coisas. Eu acredito muito nisso. Quais são seus principais desafios?

Primeiro, é potencializar nossas fortalezas. Temos fortalezas importantes, que são produtos fabricados localmente. A BIC investe muito na produção nacional e mais de 80% daquilo que vendemos no Brasil é fabricado aqui. Entendemos que hoje somos líderes das principais catego­rias porque nosso cliente e nosso consumidor sabem realmente o valor que uma caneta, um isqueiro e um barbeador têm. Queremos que nossos clientes e consumidores sejam cada vez mais bem informados. Potencializar os nossos negócios hoje, dentro do nosso mercado, é uma briga constante e um objetivo, e vamos sempre brigar por mais participação. Vamos sempre buscar fazer algo diferente, até porque somos líderes e temos de reinventar o que já fazemos. E estamos nos reinventado sempre. De que maneira é possível se reinventar neste mercado?

Temos muitos processos novos a implantar, várias ferramentas técnicas que nos ajudam a crescer sempre. Continuamos investindo em capacidade produtiva na fábrica de Manaus, e este é um processo contínuo. Temos lançamentos de 2013 que estamos conseguindo fazer com que se tornem sustentáveis ao longo deste ano. Um dos nossos objetivos é fazer com que esses lançamentos agreguem valor ao nosso mix de produtos, melhorando nossa distribuição. No Brasil, já temos uma distribuição importante, com quase 1 milhão de pontos de venda, e queremos que o nosso produto esteja pulverizado em todos eles. Esse é um dos objetivos da BIC e faz parte do nosso DNA. Queremos o nosso produto presente em qualquer lugar, a qualquer momento, para qualquer pessoa. Perseguimos isso a fundo. Fechamos bem em 2013, com crescimento, com mais da metade do ano gerenciado por mim; continuamos sendo

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“Honramos o passado e inventamos o futuro. Prezamos por isso” a segunda maior operação do Grupo no mundo; continuamos sendo uma empresa muito rentável para o Grupo, pois temos resultados sustentáveis; e meu objetivo é manter e melhorar os pontos de atenção e seguir crescendo nas principais categorias. Por que os negócios da BIC no Brasil são tão importantes?

Porque a empresa vem com uma tendência de crescimento ao longo dos últimos quatro, cinco anos. E essa tendência de crescimento trouxe para a BIC no Brasil uma importância muito grande para o Grupo, muita visibilidade. Obviamente que, nos últimos anos, aquele crescimento estrondoso que vimos em 2008 e 2009, quando crescemos dois dígitos, já não acontece mais. Mas a empresa continua crescendo, embora não em ritmo tão acelerado. Também existem regiões que precisam crescer mais ainda, como todo o Norte e Nordeste, e a BIC quer crescer ainda mais nessas regiões também. Esse protagonismo da unidade brasileira vem dos resultados que aconteceram no passado e dos resultados sustentáveis que temos conseguido manter nos últimos anos. Caneta, isqueiro e barbeador. Qual a relação entre os produtos que são os carros-chefes da BIC?

É o simples fato de os três serem descartáveis. São produtos de baixo custo, que entregam aquilo que o consumidor necessita. Nem mais, nem menos. É exatamente a necessidade do consumidor. Além

disso, são produtos de grande acessibilidade, de baixíssimo valor agregado. Nosso barbeador Sensitive, de uma lâmina, que é clássico, foi o primeiro barbeador descartável fabricado no mundo. A BIC tem esse pioneirismo no DNA, essa vontade de fazer as coisas muito simples, mas ser assertiva na primeira tentativa. Portanto, são produtos descartáveis, mas que entregam muito mais do que qualquer produto da concorrência aos consumidores. Essa premissa resume a nossa filosofia. Honramos o passado e inventamos o futuro. Prezamos por isso. Essa decisão de fazer as coisas simples, acessíveis para qualquer pessoa, em qualquer lugar, é a nossa missão, a nossa visão, a nossa filosofia. A BIC trabalha só com essas três linhas de produtos no mundo inteiro?

Não, temos algumas linhas adicionais que, na verdade, são consideradas secundárias, que são pilhas e colas instantâneas, produtos que comercializamos, mas não são fabricados pela BIC. Outra linha é a BIC Esporte, fabricada na França. Aqui no Brasil temos representantes que trabalham com essa linha, mas na Europa e nos Estados Unidos é muito forte. Como a BIC pretende acompanhar a era tecnológica com descartáveis?

No segmento de canetas sabemos que existe uma tendência muito forte dos tablets e nos adaptamos a isso. Por exemplo, lançamos em 2014 a caneta Stylus, que tem uma ponteira para tablet. Isso já está sendo vendido no mercado brasileiro. Apesar disso, sabemos que todo o aprendizado da criança está muito ligado à escrita. Então, não acreditamos que a tecnologia seja um potencial risco às canetas tradicionais, não a curtíssimo prazo. Quanto as canetas evoluíram?

Parece que a caneta é a mesma de sempre, mas evoluiu demais ao longo dos anos. Evoluiu na qualidade da ponta, da esfera e da própria tinta. Antigamente, tínhamos uma tinta específica para um país mais tropical, outra para uma região


mais temperada. Hoje, é uma tinta que se adapta a qualquer tipo de condição, de temperatura. A ponta propriamente dita, que é um pedacinho de latão com uma esfera de tungstênio, é de uma tecnologia fantástica. Antes, fabricávamos as pontas com tornos semiautomáticos; hoje são tornos completamente automáticos. O processo de fabricação evoluiu demais de uns 15 anos para cá. Qual é o consumo de caneta no Brasil?

A BIC tem perto de 40% do mercado global, cujo consumo é de 700 milhões de canetas por ano. Somente a BIC comercializa mais de 300 milhões anualmente e, no mundo, são 25 milhões de canetas comercializadas por dia. A marca investiu de forma histórica em Marketing em 2013. A concorrência está mais acirrada?

Claro que há uma concorrência no mercado de papelaria, mas nosso investimento em propaganda está muito mais relacionado à meta de manter um crescimento contínuo. Historicamente, a BIC é uma empresa que sempre investiu mais do que a concorrência em propaganda. O que houve de diferente em 2013 foi um investimento adicional no barbeador recarregável, o Flex4, que chamamos de sistema de barbear, pois oferecemos o barbeador e a recarga, que são os refis. Essa linha de produto entrou no mercado no ano passado e, como a concorrência é muito forte, fizemos um investimento pesado para entrar com força. Nosso investimento também é voltado para dar suporte aos distribuidores. Quais são suas melhores lembranças dos tempos de faculdade?

Primeiro, o sofrimento nos quatro primeiros semestres para passar em Física 3. Isso foi traumatizante. Eu peguei DPs, uma atrás da outra, até conseguir me livrar delas aos 45 minutos do segundo tempo. Essa é minha pior lembrança. Mas também tive uma experiência de vida muito legal, porque morava em república. Na última

“Respeite quem tem um tempo grande de casa e aprenda com eles...” república eu morava com oito colegas. Essa experiência de morar sozinho, ganhar meu próprio dinheiro no estágio, tirar um pouco do peso da família, foi muito importante e o maior ativo que eu poderia ter tido. E, obviamente, todas as noites em claro que passamos estudando. Aprendi realmente a estudar por causa da FEI. Tínhamos um grupo de estudo com pessoas legais que se ajudavam. Além disso, alguns professores realmente me marcaram. Eu levo com muito carinho minha passagem por lá. O que o senhor diria para um engenheiro que pretende chegar ao mesmo patamar que o seu na carreira?

Primeiro, que não pare de estudar. A faculdade é o início de uma carreira, de um processo de aprendizado importante, mas, continuar estudando e agregando cada vez mais ‘bloquinhos’ de conhecimento é fundamental. Ser uma pessoa com um direcionamento na carreira, que não saia atirando para todos os lados. Que tenha coragem, seja honesto e transparente com as pessoas com as quais vai trabalhar.

Que seja motivado e não tenha medo dos desafios, que arrisque, calculando os riscos. E que tenha um pouco de sorte também. Acredito que seguir crescendo intelectualmente, buscar sempre conhecer coisas novas, desenvolver línguas diferentes e também ter um pouco de paciência são características importantes. Honre o passado das empresas onde vai trabalhar. Respeite as pessoas que têm um tempo grande de casa, e aprenda com elas, só assim é possível chegar aonde se almeja. Eu passei 19 anos para chegar aonde cheguei, sempre por mérito, mostrando aquilo que poderia fazer e tentando fazer da melhor maneira possível. Esse é também o perfil do profissional que procuramos para a BIC. o que o senhor faz para relaxar?

Primeiro, adoro ficar com minhas duas filhas e com minha família. Isso realmente me proporciona muito bem-estar. Acordo todo dia às 4h30 e faço uma hora de acade­ mia quando não estou viajando. Nos fins de semana faço spinning ou corrida de rua, e jogo tênis. O esporte me ajuda a relaxar e, se não faço, para mim é um desastre. Morar no interior é outra vantagem importante. Trabalho no mínimo 12 horas por dia, mas sei a hora que consigo chegar em casa, porque levo 20 minutos no trajeto. O trabalho também é uma diversão?

Ah, sem dúvida. Claro que, às vezes, é um sofrimento. Temos momentos na profissão com incertezas e instabilidade que nos incomodam. Eu, graças a Deus, tive uma oportunidade de ir um pouco adiante e passei muito tempo da minha carreira andando na horizontal. E isso também é outra coisa que muitos jovens não enxergam e, ao chegarem ao mercado de trabalho, acham que a carreira tem de estar sempre em ascendência. Ter uma carreira horizontal por um período ajuda a agregar conhecimento ao longo do tempo. Temos de estar abertos para esse momento horizontal também, pois pode surgir uma oportunidade e precisamos estar prontos para assumir este novo desafio. ABRIL A JUNHO DE 2014 | Domínio fei

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Engenharia colabora O

solucionfotografica/istockphoto.com

Acordo com InCor gera projetos que melhoram a organização e potencializam os recursos do hospital, especialmente no centro cirúrgico

avanço da tecnologia aplicada à Medicina permite cirurgias minimamente invasivas em áreas consideradas críticas, diagnósticos muito mais precisos e tratamentos que garantem maior índice de cura ou de sobrevida a pacientes. No entanto, mesmo os hospitais com equipamentos de última geração e equipe médica com expertise reconhecida internacionalmente podem ter problemas se os sistemas operacionais, gerenciais e organizacionais estiverem necessitando de uma visão mais sistêmica. Visando melhor eficiência do sistema e assistência aos pacientes, o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor/HC/ FMUSP) mantém um convênio de cooperação científica com o Centro Universitário da FEI para o desenvolvimento de pesquisa envolvendo aplicação de tecnologia à Medicina. Por meio de modelos matemáticos, o Departamento de Engenharia de Produção da FEI começa a otimizar o potencial dos recursos humanos e materiais do InCor. O Instituto, mantido pela USP e pela Fundação Zerbini, é um hospital público universitário de alta complexidade, especializado em Cardiologia, Pneumologia e cirurgias cardíaca e torácica. Além de ser um polo de atendimento – desde a prevenção até o tratamento –, o Instituto do Coração também se destaca como um grande centro de pesquisa e ensino. Em média, aproximadamente 80% do atendimento é dedicado a pacientes cujo tratamento é financiado pelo Sistema Único de Saúde (SUS). O Convênio de Cooperação Científica e Tecnológica entre a FEI e a Fundação Zerbini/ InCor, assinado em julho de 2012, permite o intercâmbio de conhecimento técnico-científico entre professores do Centro Universitário e médicos pesquisadores do hospital. Uma das atividades previstas no acordo é a ampliação das pesquisas na área de Engenharia de Produção, que tem viés nas Ciências Aplicadas. “O Centro Universitário da FEI considera a saúde um campo promissor, pois a maioria das pesquisas existentes na área de gestão hospitalar brasileira


com gestão hospitalar

Da esq.: Os professores doutores João Chang Junior, Alexandre Massote, Fábio Lima e Dário Alliprandini estão envolvidos no convênio

visa apenas o modo de gerir negócios, enquanto a proposta acordada entre as duas instituições­tem como objetivo a melhoria dos processos, potencializando os recursos existentes – humanos e materiais – por meio de modelos matemáticos”, informa o professor doutor João Chang Junior, do Departamento de Engenharia de Produção e coordenador do programa na FEI. Entre os benefícios gerados pela parceria estão a excelência na programação cirúrgica, melhor ocupação dos leitos e salas cirúrgicas, além da gestão desses processos para aprimorar os índices de qualidade, como o tempo de espera e o número de cirurgias, de atendimento e de mortalidade. O projeto tem diversos professores e pesquisadores de ambas instituições envolvidos, além de alunos de graduação, mestrado, doutorado e Iniciação Científica da FEI. “A proposta visa o desenvolvimento e a introdução de inovação em processo de gestão dinâmica do centro cirúrgico, apoiada em métodos de pesquisa operacional, estatísticos e econométricos, que serão monitorados e operacionalizados utilizando tecnologia da informação, de forma a facilitar o

processo de tomada de decisão gerencial”, explica o docente. Segundo o professor doutor Alexandre Massote, chefe do Departamento de Engenharia de Produção da FEI, os profissionais do InCor são altamente qualificados no aspecto da Medicina, mas os modelos de gestão e aumento da produtividade não são o foco desses profissionais e, por isso, muitos recursos talvez estejam sendo sub­ utilizados. Por isso, o convênio com a FEI possibilita desenvolver modelos para o uso adequado dos recursos disponíveis. Até o momento, uma série de projetos foram desenvolvidos para o hospital e nenhum gera a necessidade de investimento financeiro. “A FEI tem um grande compromisso social e a missão de formar engenheiros que transformem o mundo em um local melhor. Todo uso da Engenharia em prol da melhoria da qualidade de vida e que traga benefícios para a humanidade é bem-­ vindo”, enfatiza. Entre os trabalhos desenvolvidos está o modelo de gestão que otimiza o uso do centro cirúrgico para aumentar o número de cirurgias com o mesmo recurso existente. O professor Alexandre Massote acrescen-

ta que essas ações repercutem em salvar vidas e, para os alunos envolvidos, é uma experiência espetacular por participarem de um projeto que vai ser implementado e que possibilita, ainda, perceber que a Engenharia pode ser utilizada em vários locais e áreas. “São exemplos que mostram como os problemas hoje são cada vez mais multidisciplinares e necessitam de conhe­ cimento de diversas pessoas”, reforça. Outro benefício gerado pela parceria é a organização da grande massa de dados que o InCor possui e que pode servir de base para conclusões científicas e características da população, possibilitando a criação de novos procedimentos, técnicas e tratamentos. Um dos grandes desafios é tratar uma quantidade enorme de dados e tirar algum indicador que possa ser utilizado para otimizar os processos hospitalares. “Existe uma série de técnicas conhecidas para fazer esse tratamento de dados, mas vamos aplicar técnicas de inteligência computacional para ter melhores resultados com procedimentos já conhecidos”, explica o professor doutor Fábio Lima, também do Departamento de Engenharia de Produção da FEI. abril a junho DE 2014 | Domínio fei

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pesquisa & tecnologia

Projeto tem participação de estu A demanda pelos serviços de saúde no Brasil tem crescido significativamente nos últimos anos. De 2007 a 2011 houve um aumento de 87,2% no número de pacientes por dia nos hospitais brasileiros, sendo o ambulatório o setor mais frequentado pelos usuários dos hospitais. Além disso, a população idosa no Brasil cresce exponencialmente, aumentando a pressão da demanda por atendimento hospitalar, especialmente na rede pública e nos serviços especializados em Cardiologia, nos quais

80% do público atendido é proveniente do Sistema Único de Saúde (SUS), como é o caso do InCor. Partindo dessas demandas, o plano de ações para as melhorias no processo administrativo do InCor é extenso e está sob responsabilidade do professor doutor João Chang Junior e do doutor em Ciências, o médico Alfredo Manoel da Silva Fernandes, assessor da diretoria executiva do Instituto. O trabalho de conclusão de curso (TCC) ‘Agendamento de cirurgias eletivas: mode-

O intercambista Benoit Joncquez e o mestrando Talles Newton de Carvalho: foco no InCor

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lagem e simulação em um hospital público da cidade de São Paulo’, das ex-alunas Priscila Prevedello, Priscila Okumura e Ana Laura Sannomiya, está em fase de implantação. O projeto visa, por meio de um algoritmo desenvolvido pelas formandas, a programação das cirurgias para alocar o maior número de procedimentos em cada sala, respeitando todas as restrições do centro cirúrgico. Para isso, são utilizadas variáveis como disponibilidade de leitos e equipe médica, urgência do paciente e cancelamento de cirurgia, para priorizar os atendimentos. Além de colaborar com a principal necessidade do hospital, o estudo ganhou o prêmio InovaFEI como melhor trabalho de conclusão de curso da Engenharia de Produção, no fim de 2013. O projeto ‘Gestão Dinâmica dos Ambulatórios, UTIs, Pronto-socorro e Centro Cirúrgico de um Hospital Universitário’ busca a otimização e melhoria no planejamento e agendamento de pacientes eletivos para cirurgias cardíacas. Por meio de ferramentas administrativas, como tempo cirúrgico e chegada de pacientes emergenciais, e com as restrições em relação ao número de equipes, dentre as quais a quantidade de leitos para internação e quantidade de salas cirúrgicas, o estudo visa diminuir o tempo de espera no agendamento de cirurgias e o custo do hospital, com a possibilidade de economizar recursos e até gerar lucros, a serem reinvestidos em mais melhorias no próprio InCor. O autor da dissertação, Talles Newton de Carvalho, informa que, durante o processo, houve uma grande interação entre todos os envolvidos com foco em atender e melhorar os problemas encontrados na gestão do hospital. Além de ser um desafio, o trabalho possibilita que as ferramentas desenvolvidas possam ser aplicadas, futuramente, em um campo muito amplo da Engenharia de Produção. “Esperamos que os resultados gerem outros trabalhos,


dantes

O InCor em números (por ano) • 260 mil consultas médicas • 37 mil atendimentos multiprofissionais • 13 mil internações • 5 mil cirurgias • 2 milhões de exames de análises clínicas • 330 mil exames de diagnóstico de alta complexidade Para conhecer A Fundação Zerbini foi criada em 1978 pelo cirurgião cardíaco Euryclides de Jesus Zerbini e colaboradores, com a missão de dar apoio financeiro ao Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Com esse propósito, todos os recursos são usados integralmente para a manutenção e ampliação das atividades do InCor. As receitas são provenientes de doações e de serviços prestados pelo Instituto, tanto na assistência aos pacientes quanto no ensino, na pesquisa e no desenvolvimento em saúde, áreas que recebem apoio financeiro de agências de fomento e órgãos governamentais nacionais e internacionais.

Trabalho do aluno Rodrigo Campagnoli visa otimizar atendimento no centro cirúrgico

sempre buscando aperfeiçoar ainda mais o gerenciamento dos hospitais, que é muito gratificante”, afirma o aluno de mestrado. O trabalho de Iniciação Científica do estudante Rodrigo dos Santos Campagnoli também visa otimizar o centro cirúrgico por meio da criação de um modelo matemático que organize os horários das cirurgias, de maneira que funcione totalmente e realize o máximo de procedimentos possíveis. Quando o projeto for finalizado, o InCor poderá realizar mais cirurgias no mesmo período de tempo, diminuindo as filas e a espera de médicos e pacientes. “Então, com certeza, o projeto ajudará a salvar vidas e, além disso, levará maior conforto aos pacientes que aguardam sua vez para passar pelo procedimento cirúrgico”, reforça o aluno. O projeto tem a colaboração do intercambista francês Benoit Syméon Louis Joncquez, do Institut Catholique d’Arts et Métiers de Lille (ICAM). Todos esses projetos estão sob a orientação do professor doutor João Chang Junior, da FEI. abril a junho DE 2014 | Domínio fei

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pesquisa & tecnologia

Trabalhos visam satisfação no aten Um dos projetos a serem desenvolvidos é ‘Proposição de um Modelo para Identificação do Risco de Morte do Paciente Cardíaco Baseado em Modelos de Riscos Financeiros’, que consiste em desenvolver um modelo de medição do risco de morte – a exemplo dos modelos empregados para a mensuração de riscos financeiros – capaz de identificar a probabilidade de óbito de pacientes com doenças cardíacas, visando auxiliar nas decisões de tratamentos e priorização nas filas de espera. O desempenho do modelo proposto será comparado com o modelo vigente atualmente no InCor, o Euroscore II. No Brasil, as investigações sobre desfecho de pacientes com suspeita ou diagnóstico de doenças cardiovasculares atendidos em hospitais ou ambulatórios do SUS são menos frequentes para avaliar a sobrevida e as causas de óbito no longo prazo. Por isso, os trabalhos ‘Avaliação Prognóstica em Pacientes com Insuficiência Cardíaca com Emprego de Redes Neurais Artificiais’ e ‘Mortalidade no Longo Prazo de Pacientes Ambulatoriais do Sistema Único de Saúde com Suspeita Diagnóstica ou Diagnóstico de Doença Cardiovascular

Atendidos em Ambulatório de Serviço Médico Acadêmico com Alto Volume de Atendimentos’ objetivam exatamente analisar esse desfecho de óbito após consulta médica. Serão estudados dados de pacientes com idade superior a 18 anos, reunidos na base de dados de 271.833 consultas médicas realizadas na Unidade Clínica de Ambulatório Geral do InCor entre 2003 e 2012, para avaliar o número de pacientes que foram a óbito, as causas e o tempo decorrido entre o atendimento e a morte. Os dados dos atendimentos na Unidade Clínica de Ambulatório Geral serão cotejados com os dados das bases de dados da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (SEADE). Esse trabalho complexo será coordenado pelo médico e professor doutor Alfredo José Mansur, com a participação dos médicos Alfredo Manoel da Silva Fernandes, Magaly Marçula, Antônio Carlos Pereira Barretto, Marina Lúcia Bulla, Carmem Mohamad Rida Saleh e Rafael Amorim Belo Nunes, além do professor doutor Antônio Carlos Pedroso de Lima, do Instituto de Matemática e Estatística da USP, do engenheiro

Arnaldo Marçula Junior e dos professores doutores da FEI Fábio Lima e João Chang Junior. Com participação do professor doutor da FEI Cyro Albuquerque Neto, o projeto ‘Desenvolvimento de Indicador de Fragilidade do Paciente Cardíaco por Meio do Eletrocardiograma’ consiste em associar a variação da frequência cardíaca com os resultados de outros exames, para calcular um índice de fragilidade do paciente cardíaco a uma intervenção cirúrgica. Também será implantado o modelo de simulação proposto no TCC ‘Simulação dos Processos Ambulatoriais de um Hospital Público Especializado em Cardiologia’, de autoria de Felipe de Almeida Guardia, Vanessa Dias da Silva e Giovanni Augusto Maccheri, sob a orientação do professor João Chang Junior, que tem como principal objetivo analisar, com o auxílio de modelagem e simulação de dinâmica de sistemas, o funcionamento dos setores ambulatoriais, compreendendo como os componentes deste sistema estão relacionados. Para isso, foi empregado o programa Vensim 6.1. “O resultado dessas análises mostrou que variáveis, como

Grande demanda por eficiência em

Da esq.: Os médicos Alfredo Manoel da Silva Fernandes e Fabio Biscegli Jatene, do InCor

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O InCor é um dos três maiores centros de Cardiologia do mundo em volume de atendimento e em número de especialidades da área. Anualmente, são realizadas cerca de 260 mil consultas, 13 mil internações e 5 mil cirurgias, números que comprovam a necessidade de uma série de técnicas e projetos diferenciados para suprir as necessidades e diminuir os problemas enfrentados pelo hospital. Todas as segundas-feiras são realizadas reuniões entre diretores do InCor e os responsáveis pelo projeto na FEI para a discussão de problemas, propostas e solicitações. Conforme a expertise dos professores, diferentes trabalhos são sugeridos, por isso, atualmente existem 12 projetos em andamento. Embora o convênio tenha começado em 2012, em função da complexidade, apenas agora os responsáveis começam a colocar em prática projetos que visam a programação das cirurgias para maximizar o número de procedimentos, atendendo todas as restrições dos processos. “Estamos aplicando a maioria dos modelos existentes na Engenharia de Produção para simular e aperfeiçoar processos no InCor. Além de mostrar como a Engenharia pode melhorar a vida


dimento a disponibilidade de médico e o tempo médio de consulta, têm grande influência sobre a capacidade de atendimento, causando um aumento no período de espera pela primeira consulta, para a marcação de uma consulta de retorno ou para o agendamento de uma cirurgia eletiva”, afirma o professor João Chang Junior, que apresentou o trabalho no POMS 25th Annual Conference na cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, no dia 9 de maio. Com a participação da professora doutora Suzana Bierrenbach de Souza Santos, convidada a participar do projeto, será dado andamento ao trabalho sobre a taxa de ocupação do hospital e o ‘Bed Management’, com o objetivo de desenvolver uma metodologia para previsão de ocupação hospitalar a partir de informações de ocupação diária e de internações pelo serviço de emergência. De posse dessas informações é possível buscar a melhoria do fluxo de pacientes em um hospital e, consequentemente, o aprimoramento do atendimento. Essa previsão é baseada em métodos econométricos a partir de séries temporais históricas contidas nos bancos de dados do InCor. Na lista de ações estão

Da esq.: Os alunos Claire Machado Campos, Daniel Hansen e Michelle Loewenhein estão envolvidos com os projetos de melhoria no Instituto do Coração, da FMUSP

previstas, ainda, as pesquisas ‘Modelagem de um Sistema Dinâmico para o Agendamento de Cirurgias Cardíacas no Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP’, ‘Proposição de Melhorias nos Fluxos de Atendimento de Pacientes nos Ambulatórios do InCor com base nos Conceitos

de Lean Manufacturing’, com a participação da aluna francesa Claire Machado Campos, e ‘Despesas no Atendimento de Portadores de Cardiopatias Congênitas Submetidos à Intervenção Cirúrgica’, com os alunos de Engenharia de Produção Michelle Loewenhein e Daniel Hansen.

saúde das pessoas, os modelos criados podem ser adotados em outros hospitais”, afirma o professor doutor João Chang Junior. Para o professor doutor Fabio Biscegli Jatene, presidente do Conselho Diretor do InCor, a interação e o desenvolvimento interno de projetos inovadores vai ao encontro dos interesses da FEI, do InCor e da própria Faculdade de Medicina da USP, que realizam diferentes trabalhos visando novos conhecimentos, avanços e ideias. O médico enfatiza que a Medicina e a Engenharia são as áreas que mais trouxeram conhecimento nos últimos anos, entretanto, as necessidades são mutáveis e, quando algumas demandas são superadas, outras surgem para serem enfrentadas. “Enquanto a Medicina trabalha a parte biológica, a Engenharia nos ajudará a avançar em relação à eficiência, à eficácia e à produtividade. É um trabalho pioneiro, mas estamos dispostos a expandir e avançar, criar grupos, cursos ou inserir nos já existentes, bem como atrair pessoas que trabalham na área para colaborar com o projeto”, reforça, ao ressaltar que o objetivo

não é beneficiar apenas o InCor, mas criar projetos e métodos que possam ser disseminados para a comunidade médica. Segundo o médico Alfredo Manoel da Silva Fernandes, assessor da diretoria executiva do InCor, a oferta de parceiros e parcerias na instituição é grande, mas, quando surge a necessidade, nem sempre o compromisso é efetivo. Com a FEI, entretanto, os objetivos estão mais interligados, uma vez que os resultados serão interessantes para todos. “Inicialmente, se pretendia criar um modelo de sistema dinâmico que permitisse dar velocidade adequada e tornar mais eficaz nossos processos no ambulatório, internação, diagnósticos e processos cirúrgicos. Agora, com a demanda e as possibilidades oferecidas pela FEI, estamos utilizando os sistemas disponíveis na Engenharia para solucionar nossos problemas, e acredito que teremos matéria-prima suficiente para novos projetos. É uma parceria que já está dando frutos e com sinal de expansão para outras áreas”, assegura o representante do hospital.

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Prontuários

Sistema é baseado na interação humano-computador O projeto começou graças à abertura de um edital da FINEP, em 2010, para que grupos de pesquisa desenvolvessem software voltados à Telemedicina e Telessaúde. A Volans Informática apresentou interesse em desenvolver pesquisa na área de Telemedicina e procurou a FEI por conhecer a expertise da Instituição na área de Interação Humano-Computador. Como o edital também previa a participação de um hospital foi selada a parceria com o Centro de Pesquisas em Pescoço e Cabeça do Complexo Hospitalar Heliópolis, que atende aproximadamente 600 pacientes por mês e é aberto às pesquisas científicas. Com os parceiros definidos, o primeiro passo do projeto foi entender porque os médicos não aceitavam os software exis-

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tentes para, então, desenvolver um que fosse ao encontro da demanda dos usuários. Com a investigação, os pesquisadores entenderam que a recusa no uso estava relacionada à interface dos software, que eram comerciais ou industriais e não com foco nas necessidades do cenário médico. Com o tema e os resultados, o projeto foi submetido ao edital da FINEP e aprovado, nascendo assim a ‘Pesquisa Estatística Baseada no Acervo Digital de Prontuário Médico do Paciente em Telemedicina Centrada no Usuário (PEAD-PMPT)’. Depois da aprovação, a pesquisa foi direcionada ao perfil dos médicos e o sistema foi modelado para atender à demanda desses usuários. O professor Plinio Thomaz Aquino Júnior


mais precisos Software desenvolvido pela FEI contribui para melhorar atendimento em hospital público

A

tecnologia está cada vez mais presente na vida das pessoas para facilitar e ajudar nas tarefas do dia a dia e, na Medicina, não é diferente. Por meio de equipamentos e diferentes software é possível ter acesso às informações dos pacientes e pesquisar sobre enfermidades e históricos, colaborando para o atendimento mais ágil e eficiente por parte da equipe médica. Com este foco, o Centro Universitário da FEI, em parceria com a Volans Informática e com verba da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), desenvolveu um software para digitalizar e gerenciar os prontuários científicos do Centro de Pesquisas em Pescoço e Cabeça do Complexo Hospitalar Heliópolis, em São Paulo. Por meio do projeto ‘Pesquisa Estatística Baseada no Acervo Digital de Prontuário Médico do Paciente em Telemedicina Centrada no Usuário (PEAD-­ PMPT)’, que teve início em julho de 2011, cerca de 20 mil prontuários de atendimentos realizados desde a década de 1970 serão digitalizados e, juntamente com os novos, serão gerenciados, o que permitirá mais segurança, qualidade e agilidade no atendimento. A medida também facilitará as pesquisas

ressalta que a Interação Humano-Computador (IHC) ajuda os projetistas de software a garantir que as necessidades e preferências do usuário sejam consideradas no design da interface. “Passamos a desenvolver um software baseado nas regras da IHC. Considerar os critérios e aspectos dessa interação no projeto de desenvolvimento de software ajuda a garantir a qualidade de uso. Hoje, esta qualidade é muito relevante, pois não é admissível que as pessoas se adaptem ao software; o sistema é que deve estar adaptado às necessidades do usuário", explica o docente. Para este trabalho é utilizado o Laboratório de Engenharia de Usabilidade (LEU), montado em 2003 na FEI.

médicas e permitirá uma interface mais apropriada às ações dos médicos e profissionais envolvidos. Com a conclusão do projeto, prevista para o fim deste ano, todos os prontuários antigos serão digitalizados e, como os novos já estão inseridos no programa, o papel poderá ser utilizado em raras ocasiões. Para médicos e pesquisadores, o acervo digital do prontuário permitirá uma pesquisa clínica e estatística mais apurada e, também, a segmentação de pacientes a partir de características comuns. O sistema tem 15 terabytes de espaço de armazenamento e oito servidores, além de um backup que traz maior segurança aos dados. Os testes finais do PEAD-PMPT incluem a usabilidade do sistema, para avaliar dificuldades, eficiência e taxas de erro e, então, obter um selo de qualidade de uso. Visibilidade Um dos resultados do projeto desenvolvido para o Complexo Hospitalar Heliópolis foi apresentado no 16th International Conference on Human-Computer Interaction, que ocorreu de 22 a 27 de junho em Creta, na Grécia. O professor doutor Plinio Thomaz Aquino Júnior, do Departamento de Ciência da Computação e coordenador geral do projeto de pesquisa, fez a apresentação do uso de uma técnica chamada ‘personas’, utilizada para documentar o perfil de uso do software junto com o perfil psicológico dos médicos envolvidos. Este método é fruto do trabalho ‘Psychological Personas for Universal User Modeling in Human-­Computer Interaction’, de autoria do aluno de mestrado da FEI, Caio Felix de Araújo, juntamente com o docente.

O professor doutor Plinio Thomaz Aquino Júnior é responsável pela pesquisa

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gestão & inovação

Licença social para ope Tese mostra importância da gestão da governança junto a comunidades do entorno das indústrias mineradoras

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Arquivo pessoal

m atividades produtivas com grande potencial de gerar impactos econômicos e socioambientais, as práticas baseadas nas leis já não são suficientes para legitimar a ação das empresas. Atualmente, também é necessário ter uma licença social para operar (LSO), emitida pelo governo, sociedade em geral e até mesmo pela mídia. Entretanto, as comunidades locais é que passam a ser o principal árbitro desse processo, devido à proximidade com as indústrias, sensibilidade aos efeitos dos processos produtivos e capacidade de afetar os resultados. O debate sobre licença social para operar tem ganhado destaque por parte de acadêmicos e gestores, principalmente nas atividades produtivas com grande potencial de gerar impactos econômicos e socioambientais. No ramo de mineração, estudos mostram que as comunidades locais surgem como principais atores nos arranjos de governança em virtude de sua proximidade com as áreas extrativas. Baseada nesta premissa, a pesquisa de doutorado em Administração ‘Licença social para operar no setor de mineração’, da aluna Ana Lúcia Frezzatti Santiago, apresenta um estudo de caso de projeto social desenvolvido pela Votorantim Metais, uma das maiores empresas de mineração do Brasil. O estudo visa compreender o processo de LSO baseado em teorias de sustentabilidade e governança e, também, a partir de pesquisas com mineradoras no norte do Canadá.

A aluna Ana Lúcia Frezzatti Santiago apresentou estudo na Universidade de Alicante

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Para o trabalho, a aluna realizou um estudo de caso do projeto social Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (PAIS), desenvolvido pela Votorantim Metais. O projeto envolve as comunidades do entorno em duas unidades de negócios localizadas em pequenos municípios agrícolas do Estado de Minas Gerais. O PAIS envolveu, inicialmente, 50 famílias da zona rural com objetivo de promover a agricultura sustentável sem uso de agrotóxicos para pequenos produtores, gerando renda e alimentação saudável por meio de um sistema integrado, alternativa de trabalho, segurança alimentar, uso racional da água e recuperação do solo. Após a busca por pesquisas similares no setor de mineração e conceituando a LSO, a doutoranda analisou a estratégia adotada pela mineradora e a interação com a comunidade local. Os procedimentos metodológicos incluíram análise documental, visitas às unidades de negócios e entrevistas com as comunidades integrantes do projeto. “A pesquisa encontra-se em fase inicial, na qual se busca os conceitos e estudos similares para avaliar a legitimação da empresa pela comunidade. A questão social está cada vez mais reconhecida como fundamental para o sucesso do negócio, no entanto, continua a ser o aspecto menos compreendido do conceito de sustentabilidade triple bottom line, que envolve os capitais econômico, ambiental e social. Verificamos que a estratégia adotada pela empresa contribuiu para o fortalecimento do relacionamento com as comunidades do entorno. Estudos similares apontam a comunidade local como sendo o principal público de relacionamento da empresa”, explica a aluna. A orientação estratégica do Instituto Votorantim potencializou a atuação social e o fortalecimento da relação das unidades de negócios com a população local. A participação dos funcionários da mineradora também auxiliou no relacionamento empresa-­ comunidade. “Do ponto de vista social, a tecnologia contribui para diminuir a dependência econômica e a pobreza. Na medida em que esses benefícios sociais e econômicos se concretizam, a licença social da empresa é fortalecida. Isso contribui para aumentar o capital social da empresa, o que, em um nível elevado, promove uma percepção de copropriedade pela comunidade”, pontua Rafael Gioielli, gerente geral de Planejamento e Desenvolvimento do Instituto Votorantim.


Reconhecimento internacional Os resultados preliminares do estudo de Ana Lúcia Frezzatti Santiago foram apresentados em congresso realizado na Universidade de Alicante, na Espanha, em abril deste ano. Com o tema ‘Avaliação de Impacto Socioambiental das Empresas’, o evento científico reúne pesquisadores e professores que trabalham com avaliação de impacto social e a apresentação de diferentes trabalhos. O encontro possibilitou à doutoranda e ao seu orientador – o professor doutor Jacques Demajorovic, do Programa de Pós-graduação em Administração do Centro Universitário da FEI –, a troca de informações com outros pesquisadores que trabalham com a temática, visando futuras parcerias e a ampliação dos contatos internacionais. Como a FEI já possui uma parceria com a Universidade de Alicante, que tem expertise no tema da pesquisa, a intenção da aluna é cursar, em 2015, parte de seu doutorado naquela instituição, contando com o apoio e a co-orientação do professor doutor Antonio Aledo Tur, do Departamento de Sociologia I da Universidade de Alicante. A ideia é que a aluna possa também defender sua tese para conquistar a dupla titulação. Para o professor doutor Jacques Demajorovic, a parceria com a universidade espanhola colabora para a internacionalização da FEI e para o fortalecimento das parcerias e publicações conjuntas com outras instituições. “Acredito que a pesquisa possa contribuir com o avanço da Ciência e do conhecimento acadêmico. Com a possibilidade de defender o trabalho nas duas universidades, vamos trabalhar para que outros alunos também possam conquistar a dupla titulação”, enfatiza o orientador.​ Em maio, foi organizado no campus São Paulo da FEI apresentação e debate sobre ‘Licença social para operar’ e outros temas tratados no congresso Avaliação do Impacto Socioambiental das Empresas.

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gestão & inovação

Fundamentais para a Livro de docente aborda a importância dos catadores autônomos de resíduos no Brasil

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penas uma pequena parcela do lixo produzido no Brasil é seletivamente coletado, sendo a maior parte da reciclagem feita por catadores autônomos que têm uma atividade insalubre, baixa remuneração e nenhuma qualificação profissional, além de ser um grupo marginalizado pela sociedade. No entanto, essas pessoas são fundamentais para a cadeia produtiva da reciclagem em termos econômicos, ambientais e sociais. A cadeia de reciclagem no País pode ser comparada a uma pirâmide: na base está o catador independente, nos degraus acima, as cooperativas, os sucateiros, o reciclador que transforma os resíduos em matéria-prima e, por fim, as empresas que compram o material. A importância dos catadores autôno-

mos e dos catadores organizados para o funcionamento da cadeia de reciclagem brasileira é o ponto de discussão do livro ‘Cadeia de reciclagem: um olhar para os catadores’, de autoria do professor doutor Jacques Demajorovic, do Programa de Pós-­ graduação em Administração do Centro Universitário da FEI, e ilustrado com uma série de imagens feitas pela fotógrafa Márcia Lima. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que 1 milhão de indivíduos compõem o universo de catadores no Brasil, mas, deste total, só 10% são cooperados, de acordo com o Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis. Os demais ficam à mercê dos intermediários, que pagam o valor que julgam melhor pelo material coletado. “Os catadores são os que coletam a maior parte dos resíduos que entram na cadeia de reciclagem, mas os que recebem a menor parcela do valor gerado nessa cadeia”, revela o docente da FEI. No livro, o autor defende o trabalho nas cooperativas, que ajudam a transformar o catador

O professor Jacques Demajorovic é o autor

independente, que não tem como negociar, em um cooperado com melhores condições de trabalho, maior quantidade coletada de resíduos e a possibilidade de vender diretamente para um intermediário ou para as empresas recicladoras, ganhando mais pelo produto comercializado. O docente afirma que, além de gerar renda, as cooperativas contribuem para a inclusão social dessa parcela da população.


reciclagem Embora a reciclagem no Brasil seja retratada de forma eficiente – o País é recordista na coleta e reciclagem das latinhas de alumínio, com 98% de material reaproveitado –, essa realidade só é possível devido ao quadro de pobreza que permite que um grande contingente de trabalhadores faça o trabalho de coleta por um preço muito baixo. “Em países desenvolvidos, ao contrário do Brasil, é necessário contar com empresas privadas para a coleta de todos os resíduos recicláveis, pois não existem catadores que façam este trabalho em volume significativo”, enfatiza. Para o professor Jacques Demajorovic, o sucesso da reciclagem das latinhas de alumínio também é reflexo do valor que têm no mercado, por ser um material com alto valor agregado e que, para ser produzido, tem custo elevado de energia e geração de resíduos. No livro, o docente cita exemplos que comprovam como as cooperativas são importantes para dar melhores condições de trabalho aos catadores, bem como o papel dessas organizações em termos econômicos, ambientais e sociais.

Responsabilidade compartilhada A Cooperativa Vira Lata foi inserida no fluxo de logística reversa de três grandes empresas. Em uma delas, a cooperativa é o elo entre a seguradora Porto Seguro, uma grande geradora de sucatas em suas oficinas, e a Gerdau, a maior indústria de siderurgia do País. Neste trabalho, os coletores retiram o material doado pela seguradora, separam e vendem para a siderúrgica. “Desta forma, os catadores conseguem um valor alto pelo produto, a seguradora não corre o risco de ter as peças destinadas ao mercado paralelo, além da certeza de que seus resíduos têm um destino ambientalmente correto, e a Gerdau recebe um material de qualidade”, enumera o docente. Outra experiência de sucesso é o acordo fechado com a Diageo, maior empresa de bebidas alcoólicas do mundo, para a logística reversa das garrafas vazias. A Cooperativa Vira Lata retira os frascos nos locais indicados pela empresa, tritura em sua sede e vende a matéria-prima para a empresa recicladora que faz as novas garrafas da Diageo. Com isso, ocorre a chamada logística reversa em circuito fechado. “Além de contribuir ambientalmente, esse trabalho garante que as garrafas vazias não sejam utilizadas no mercado de bebidas falsificadas”, acrescenta o professor da FEI. Essa iniciativa mostrou que, mesmo materiais antes deixados em segundo plano – como o vidro, que é pesado e tem baixo valor econômico –, quando trabalhado em grande quantidade pode ter um preço de venda elevado. Hoje, quase 20% da receita anual da Cooperativa Vira Lata está ligada às duas experiências, sendo 12% das sucatas e 8% do vidro. “Os casos demonstram o papel efetivo dos catadores e porque são importantes na cadeia produtiva da reciclagem. É um trabalho de responsabilidade compartilhada no qual a empresa, a cooperativa, o poder público e os cidadãos podem intervir para viabilizar um sistema mais justo, que gere mais inclusão social, melhor beneficio econômico, ambiental e social”, enfatiza o professor Jacques Demajorovic. Fotos: Márcia Lima


Pós-graduação

Salto na carreira Centro Universitário oferece especialização em Gestão e Tecnologia em Projeto de Produto

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concepção, o desenvolvimen­to e a comercialização de produtos, em suas mais diversificadas for­ mas, vêm experimentando notáveis altera­ ções nas últimas décadas. O surgimento de novas técnicas de análise computacional, o rearranjo logístico e a necessidade de adap­ tação às constantes e imprevisíveis mu­ danças do mercado geram a necessidade de as empresas contratarem profissionais cada vez mais capacitados e atualizados. Essas são algumas das competências ensi­ nadas no curso de pós-­graduação Gestão e Tecnologia em Projeto de Produto do Centro Universitário da FEI. Criada em 2006, a especialização tem por objetivo formar profissionais que possam atuar no desenvolvimento de produtos e, para isso, utilizem ferramentas computacionais e métodos de gestão de projetos em diversas áreas da indústria.

Professor William Maluf: programa é atual

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Uma vez que o curso não exige dedi­ cação em tempo integral e as aulas são ministradas no período noturno, o públi­ co-alvo é composto por engenheiros, ad­ ministradores, técnicos e designers que já estejam inseridos no mercado de trabalho e queiram aprimorar suas habilidades para dar um salto de qualidade na carreira. Com o conhecimento adquirido podem gerar resultados imediatos onde trabalham e, consequentemente, serem reconhecidos pela sua capacitação. O professor doutor William Maluf, coordenador do curso, afirma que a especialização aborda uma área estratégica para qualquer profissional que pretende se manter bem posicionado no mercado de trabalho. “Embora o Brasil não incentive a En­ genharia de base, existem iniciativas que geram demandas de mercado, como o Pro­ grama de Incentivo à Inovação Tecnológica e Adensamento da Cadeia Produtiva de Veículos Automotores (Inovar-Auto), ado­ tado pelo governo federal com o objetivo de estimular o investimento na indústria automobilística nacional”, acrescenta. As estimativas indicam que, até 2015, esse programa demandará mais de R$ 50 bilhões em investimentos, somente na indústria automobilística e sua cadeia de fornecimento direta e indireta. Segundo o docente, é um mercado extremamente importante e com grande demanda para os próximos anos. Isso sem contar a área aeronáutica, de eletrodomésticos, de fabri­ cação de equipamentos em geral, indústria farmacêutica, química e tantas outras. Atualizado Ao longo dos anos, o curso passou por atualizações e, hoje, o principal desafio é elevar cada vez mais a qualidade, tornan­ do-o referência. “Já realizei um mapeamen­ to para identificar o perfil dos alunos e a ementa das disciplinas, e pretendo manter

o curso sempre alinhado com as últimas técnicas e padrões de qualidade. Estaremos sempre atentos para eventuais adaptações às necessidade do mercado, pois desejo tornar o curso o mais moderno do País”, planeja o coordenador. Com duração de três semestres, atualmente a especiali­ zação mantém duas turmas com 15 alunos cada. As 16 disciplinas são divididas em módulos inter­ ligados e com­ preendem desde a metodologia de ge­ renciamento de projetos até questões como logística e aquisição de insumos de produção, gestão da qualidade, engenharia experimental, se­ leção de materiais e modelagem por meio de ferramentas computacionais. Técnicas de otimização de produtos, análises de risco e investimento, simula­ ções de produção e manufatura, design, Computer-Aided Engineering (CAE – Projeto Assistido por Computador) e Computer-­Aided Design (CAD – Desenho Assistido por Computador) são outros temas que compõem o conteúdo do curso. Por ser fundamental promover uma inter­ ferência colaborativa entre o meio acadê­ mico e industrial, permitindo um avanço acelerado para o aluno e a empresa em que atua, o corpo docente é formado por professores com sólida titulação e vasta ex­ periência no mercado. “Temos 13 docentes e mais de 75% deles atuam no mercado e têm título de mestre ou doutor”, ressalta o professor. Embora seja ministrado no campus São Bernardo do Campo, caso haja demanda é possível ter turmas, também, no campus São Paulo. Além disso, empresas interessadas em qualificar seus emprega­ dos­ podem fechar o chamado curso in-company, destinado exclusivamente aos colaboradores.


José Eduardo Romeiro concluiu o curso em 2012

macro e permitindo aprofundamento em cada etapa. “Devido às minhas atividades profissionais, voltadas ao desenvolvimento, eu procurava uma especialização que me permitisse desenvolver as proficiências de gestão de projetos, mas que focasse também o lado técnico e prático. Dentre as instituições que pesquisei, a FEI era a única que apresentava um curso que englobava essas características”, reforça o engenheiro, ao afirmar que a especialização transmite embasamento técnico para que os alunos consigam gerir qualquer tipo de projeto.

O curso Objetivos – Preencher a lacuna de programas formais de orientação sobre o desenvolvimento de projetos e das práticas operacionais correspondentes.

Pré-requisitos – Graduação em Administração de Empresas, Economia, Tecnologia, Engenharia Mecânica, Elétrica e Telecomunicações ou áreas afins, além da análise de currículo.

Público-alvo – Engenheiros, arquitetos e outros profissionais que tenham interesse em aprofundar seus conhecimentos na área de projetos.

Informações – Campus São Bernardo do Campo – (11) 4353-2909 Envio de currículos para análise – iecat@fei.edu.br

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Foto: amriphoto/istockphoto.com

Para adquirir e ampliar os conhecimentos sobre o desenvolvimento do produto como um todo, desde a elaboração do escopo até a manufatura e, assim, executar o trabalho de forma mais fácil, simples e respeitando todas as etapas, a engenheira mecânica Milena Gerbelli, que atua em uma montadora automobilística, optou por fazer a especialização na FEI. Cursando o último semestre, a aluna afirma que um dos pontos positivos do curso é o corpo docente. “O curso já está colaborando com a minha carreira, pois consigo compreender melhor quais são as áreas envolvidas no desenvolvimento de um produto e quais as funções de cada uma delas – inclusive a minha –, descaracterizando aquela imagem de que apenas a Engenharia desenvolve produtos. Além disso, penso em ocupar um cargo mais voltado à gestão, em médio prazo, e as competências do curso também me ajudarão nesse sentido”, explica. Com a especialização concluída em dezembro de 2012, o engenheiro sênior na Dunlop Pneus, José Eduardo Romeiro, lembra que, para trabalhar com projetos, é preciso ter um bom gerenciamento de atividades, prazos e relacionamentos, entre outros pontos, e o curso conseguiu trabalhar todas as esferas necessárias para um bom conhecimento das etapas de projetos, tornando mais fácil a visão

Arquivo pessoal

Aprofundamento

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mestrado

Dissertação estuda problemas que podem interferir no desempenho do País na exploração de petróleo

Divulgação

Gargalos do pré-sal O

Brasil é reconhecidamente o maior produtor

lionvision/istockphoto.com

mundial de hidrocarbonetos em águas profundas (laminas d’água superiores a 700 metros), o que coloca o País em um grau de tecnologia bastante elevado, especialmente porque a exploração em águas profundas está migrando para outras bacias, como as do Leste e Oeste do Continente Africano e do Golfo do México. Portanto, o Brasil poderia ou deveria ser um ‘exportador’ de tecnologia. Entretanto, como se beneficiar se não entender quais os gargalos que possam interferir no desempenho em um cenário mundial tão competitivo? Essa é uma das perguntas que a dissertação de mestrado em Administração ‘O potencial das reservas em hidrocarbonetos do pré-sal e os gargalos não tecnológicos da indústria nacional’, de Farley Granger de Almeida Vilaça, tentou responder. Com foco nas oportunidades para o reposicionamento da indústria nacional a partir do potencial das reservas do pré-­sal e a contraposição quanto aos gargalos não tecnológicos que ameaçam a competitividade da cadeia produtiva nacional, a pesquisa avalia a estruturação da problemática para determinar como o capital humano, a capacitação empresarial e as deficiências estruturais são percebidos pela indústria, pelo governo e pelas instituições de ensino e pesquisa. Além disso, analisa de que maneira esses ‘atores’ se relacionam para superar gargalos ou obstruções de caráter não tecnológico que impactam a competitividade da cadeia produtiva do setor offshore de óleo e gás natural. A dissertação também aborda um

Farley Granger de Almeida Vilaça: autor do trabalho

cenário de mudança, não somente pelo aspecto de inovação tecnológica que viabilize a exploração de óleo e gás em águas ultraprofundas, mas, principalmente, pela demanda por um reposicionamento que possibilite uma rápida alavancagem na curva de aprendizado organizacional para o setor da indústria. “Trabalho no setor de exploração, produção e distribuição de óleo e gás natural desde 1997. O Brasil levou 60 anos, desde a criação da Petrobras, para atingir o patamar de produção de 2 milhões de barris de óleo por dia. O pré-sal lança o desafio de adicionarmos outros 2 milhões de barris até 2020, ou seja, em menos de 10 anos. O entendimento das deficiências que afetam a indústria nacional de bens e serviços tem sido pauta de vários outros estudos, mas meu foco foi analisar e entender como os gargalos não tecnológicos afetam o desempenho nacional”, explica Farley Vilaça, que é gerente de Novos Negócios do Centro de Pesquisas Global da General Electric no Brasil. A pesquisa revelou que 89% do total de referências extraídas pelo método de análise de conteúdo, em relação às causas relacionadas ao objetivo de aumento de competitividade da indústria nacional, tem forte conotação com o papel regulamentador do governo e é encarado como processo de alto ou médio grau de dificuldade no tocante à sua resolução, visto que se defronta com a questão de consenso entre múltiplos interesses. “Isso significa dizer que, enquanto a sociedade brasileira não se debruçar sobre o papel regulamentador do Estado, estaremos à margem da ineficiência burocrática e poderemos perder a oportunidade de passar de simples produtores de matéria-prima para geradores e exportadores de alta tecnologia”, complementa.


Agenda 2014 21 a 25 de julho

19 a 25 de julho

Enemet

RoboCup 2014 Centro de Convenções Poeta Ronaldo Cunha Lima João Pessoa – PB

Campus São Bernardo do Campo O Centro Universitário da FEI será sede da 14ª edição do Encontro Nacional de Estudantes de Engenharia Metalúrgica, de Materiais e Minas (ENEMET), considerado o maior evento dedicado a alunos de graduação da área. O objetivo é apresentar e discutir temas relevantes para a formação de engenheiros. No evento serão apresentados, também, projetos de Iniciação Científica desenvolvidos pelos estudantes da FEI. Saiba mais sobre o evento no www.abmbrasil.com.br/enemet/2014.

26 a 28 de agosto Recruta FEI Campus São Bernardo do Campo O evento, orga­ nizado pela em­ presa Júnior FEI, tem como objeti­vo possibilitar o con­ tato direto entre alu­nos e empresas, que divulgarão seus programas de está­ gio, trainee­ e de­ mais informações. Além da exposição, as empresas podem realizar palestras e workshops sobre temas pertinentes à proposta do evento. Outras infor­ mações na página www.jrfei.com/recruta ou pelo e-mail recrutafei2014@jrfei.com.

O Centro Universitário da FEI será umas das instituições orga­ nizadoras da maior competição internacional de robótica, que será realizada pela primeira vez no Brasil. São esperados mais de 2,5 mil participantes de todo o mundo na competição, que tem como objetivo promover pesquisas nas áreas de robótica e inteligência artificial por meio da proposição de plataformas estimulantes fundamentadas em problemas do mundo real que sejam capazes de atrair o grande público. Saiba mais sobre o evento no site www.robocup2014.org.

29 a 30 de setembro Concurso Travessia Campus São Bernardo do Campo O Concurso Travessia tem como objetivo agregar conhe­ cimento, desenvolver e estimular novas habilidades nos estudantes, estimular o raciocínio, o trabalho em equipe e a cooperação, entre muitos outros princípios e práticas essen­ ciais para a formação como estudante, futuro profissional e indivíduo. Os participantes são divididos em três categorias: EMC – para estudantes de qualquer ano do ensino médio; ABC – para estudantes de qualquer ciclo de Administração e Ciência da Computação, e dos ciclos básicos de qualquer modalidade de Engenharia; e PRO – para estudantes do 3° ao 12° ciclos de qualquer modalidade de Engenharia do curso diurno ou noturno. Os participantes deverão construir um protótipo miniatura de estrutura representativa de uma ponte, usando palitos de sorvete comuns e cola. Informações pelo site www.fei.edu.br/concursotravessia/2014.

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artigo

Por que o etanol não é estratégico no Brasil?

O Ricardo Bock é professor de Engenharia Mecânica do Centro Universitário da FEI

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desenvolvimento do automóvel começou de forma efetiva há 130 anos, em vários países simultaneamente. Os carros a vapor tiveram algum sucesso, considerando o fácil acesso à água e ao carvão. O gás era utilizado em iluminação urbana, no entanto, poucos países eram produtores, bem como os derivados do petróleo, que também foram utilizados como fonte de energia para iluminação na antiguidade. Já o álcool apresentava um bom rendimento energético e podia ser obtido de diversas fontes orgânicas, novamente presente em inúmeros locais. Veículos a vapor, gasolina, álcool e elétricos coexistiram desde o início da indústria automobilística até o final dos anos de 1920. Entretanto, a gasolina foi consagrada como o principal combustível para motores a explosão devido a fatores como relação de peso e quantidade de calor liberada durante a queima. Em 1922, o então presidente do Brasil, Arthur Bernardes, iniciou um programa que previa o desenvolvimento de uma alternativa genuinamente brasileira, já que considerava a importação de gasolina e derivados do petróleo um gasto alto demais para a economia nacional. O cenário indicava mudanças nos anos de 1970 com a primeira crise mundial do petróleo, deixando a impressão de que o ‘ouro negro’ era finito – e que o fim estaria próximo. Entretanto, na verdade o que ocorreu foi um realinhamento internacional de preços, realizado pelos países produtores. Essa situação afetou diretamente o Brasil, provocando insuficiências no abastecimen-

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to, além de reajustes contínuos nos preços praticados naquele período. Cinquenta anos depois do sonho de Arthur Bernardes surgiu o Proálcool, que contemplava do plantio da cana de açúcar à fabricação de usinas, bem como toda a estruturação da cadeia produtiva e distribuição. Rapidamente, a Engenharia brasileira apresentou soluções em tempo recorde, transformando o Brasil em uma referência mundial neste tema. A agonia dos anos 1970 passou, os preços da gasolina voltaram a ter estabilidade e, aos poucos, o álcool deixou de ser o foco, pelo mesmo motivo, uma vez que os usineiros tinham outras opções, como produção de açúcar e até de energia elétrica. Vale ressaltar que o álcool gera 30% a menos de calor se comparado à gasolina, fato que explica a diferença de preço nas bombas de combustível, cerca de 30%, atrelada também à potência e ao consumo. Um motor é projetado em função do combustível, portanto, o aproveitamento ótimo de calor depende dos fluxos, formato de câmara de combustão, taxa de compressão, tamanho de válvulas e tantos outros itens, incluindo a durabilidade dos componentes, desde o bocal do tanque de combustível até a saída do escapamento. Os fatos mencionados evidenciam os motivos pelos quais os atuais motores flex não obtêm os mesmos números de consumo do passado – tanto para gasolina quanto álcool. Portanto, o futuro do álcool não depende da Engenharia, mas, sim, de decisões políticas consistentes para os usineiros e, consequentemente, para os consumidores.



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