Domínio FEI 29 - Cidades Inteligentes

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Publicação do Centro Universitário FEI | Ano IX • no 29

CIDADES INTELIGENTES

Serviços interconectados, eficiência administrativa e sustentabilidade. Saiba como identificar o que torna uma cidade inteligente, um conceito que vai além do uso da tecnologia. Pesquisas avançadas na área de Engenharia Elétrica avaliam um novo modo de diagnosticar o mal de Alzheimer e asma

Centro Universitário FEI cria parcerias para proporcionar o contato de alunos e professores com universidades estrangeiras

Weber Porto, presidente da Evonik para a América do Sul e Central, relata sua trajetória na indústria química, iniciada fei 1 como estudantedomínio da FEI



EDITORIAL

INOVAÇÃO POR TODOS OS LADOS Prof. Dr. Marcelo Pavanello, vice-reitor de Ensino e Pesquisa

“A inovação não precisa necessariamente estar relacionada à tecnologia.”

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novação é a palavra de ordem na Tecnologia e Gestão. Ela está presente quando novas tecnologias são desenvolvidas e colocadas em prática para solucionar nossos problemas. O que pouco se comenta, porém, é que a inovação não precisa necessariamente estar relacionada à tecnologia: ela pode, por exemplo, se referir a formas diferentes de se encarar uma questão e chegar a uma solução. É um pouco do que estamos abordando na matéria de capa desta edição da revista Domínio FEI: Cidades Inteligentes. O assunto nos traz à mente um cenário futurista, parecido com os filmes de ficção científica. Mas não precisamos ir tão longe. A inteligência de uma cidade pode estar na forma como ela gerencia seu trânsito ou na comunicação entre o sistema de saúde com outros serviços do município. É essa visão que o executivo de TI e consultor empresarial Marcos Cesar Weiss propõe em sua tese de doutorado. Como avaliar o potencial de um município para que se torne uma cidade inteligente? Ele propõe uma metodologia baseada na Teoria das Redes Complexas – uma forma bastante inovadora para abordar o assunto. E, claro, a tecnologia está presente. Professores do Centro Universitário FEI compartilham projetos de pesquisa que serão cada vez mais fun-

damentais para melhorar a eficiência das cidades – do consumo consciente de energia nos edifícios ao uso de tecidos sensíveis ao toque para controlar aparelhos domésticos. Mas o futuro não será só de cidades mirabolantes e eficiência administrativa. A longevidade cada vez maior da população chama a atenção para questões comuns à população idosa, como o mal de Alzheimer. A doença, cuja cura ainda é desconhecida, tem um diagnóstico complexo, sobretudo em seus estágios iniciais. Uma pesquisa avançada na área de processamento de sinais se propôs a aplicar conceitos da Engenharia Elétrica no exame das áreas do cérebro que são mais afetadas pela doença – uma forma inovadora de aplicar conceitos em uma área aparentemente distante da Engenharia. Esse é mais um dos assuntos que abordamos na edição. Essas iniciativas – e outras mencionadas nas demais matérias da revista – evidenciam o quanto a FEI está engajada em formar profissionais capacitados e com perfil adequado a um novo cenário da sociedade, sintonizados com o futuro. Oferecemos aos alunos a oportunidade de aplicar suas habilidades nos laboratórios em aulas práticas, o que favorece o desenvolvimento técnico e contribui para o raciocínio científico. A inovação, afinal, está em todos os lugares de nossa vida cotidiana.

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Curiosidades Shutterstock

NO ESPAÇO.

Ônibus espacial Discovery, da Nasa, que levou um experimento da FEI para o espaço em 1998.

edição 29

EXPEDIENTE REVISTA DOMÍNIO FEI Uma publicação do Centro Universitário FEI Campus São Bernardo do Campo Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3.972, Bairro Assunção, São Bernardo do Campo, SP CEP 09850-901 – Tel.: 11 4353-2900 Campus São Paulo Rua Tamandaré, 688, Liberdade, São Paulo. CEP 01525-000 Telefax: 11 3274-5200

A trajetória de 76 anos da FEI é marcada por dedicação, trabalho e responsabilidade. Este espaço tem como objetivo compartilhar algumas curiosidades da FEI durante todas essas décadas de história.

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O Centro Universitário FEI foi a primeira instituição de ensino brasileira a testar a tecnologia nacional além da estratosfera. O estudo foi feito pelo Departamento de Engenharia Química (Grupo de Biotecnologia) e o experimento foi levado pelo ônibus espacial Discovery (da Nasa) em 1998, para avaliar o efeito da microgravidade na hidrólise do óleo de oliva, utilizando a enzima lipase. Experimentos em biotecnologia da FEI já foram enviados ao espaço por mais seis vezes. No início de sua história, as cerimônias de colação de grau das primeiras turmas de formandos da FEI contavam com personalidades ilustres como os ex-presidentes João Goulart e Juscelino Kubitschek; o então vice-governador do Estado de São Paulo, Lucas Nogueira Garcez, entre outros políticos.

O FEI X-3, um dos primeiros veículos projetado e construído pela FEI em 1970, por ser um projeto tão arrojado e moderno para época, chamou a atenção do então presidente do Brasil, Emílio Garrastazu Médici, que passou a conhecer melhor o que a FEI fazia e abriu as portas para financiamento do Governo Federal para novos projetos da FEI, como TALAV – um projeto de trem aerodeslizante de alta velocidade com capacidade para até 30 pessoas.

Fale com a redação

A equipe da revista Domínio FEI quer saber a sua opinião sobre a publicação, assim como receber sugestões e comentários. Envie sua mensagem via e-mail para redacao@fei.edu.br. As matérias publicadas nesta edição poderão ser reproduzidas, total ou parcialmente, desde que citada a fonte. Solicitamos que as reproduções de matérias sejam comunicadas antecipadamente à redação pelo e-mail redacao@fei.edu.br

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Presidente Pe. Theodoro Paulo Severino Peters, S.J. Reitor Prof. Dr. Fábio do Prado Vice-reitor de Ensino e Pesquisa Prof. Dr. Marcelo Pavanello Vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias Profa. Dra. Rivana Basso Fabbri Marino Conselho editorial desta edição Professores Doutores Rivana Marino, Adriana Catelli de Souza, Dario H Alliprandini, Flavio Tonidandel, Renato Giacomini e Roberto Baginski. Coordenação geral Andressa Fonseca Comunicação e Marketing da FEI Produção editorial e design CDI Comunicação Corporativa Edição e coordenação da redação Lena Miessva (MTb 13.965) Reportagem Dado Carvalho e Ana Clara Barbosa Revisão Lena Miessva e Monica Giacomini Fotos Arquivo FEI, acervo pessoal das fontes e Shutterstock Tiragem 2,5 mil exemplares e versão online no endereço: fei.edu.br/revistas Impressão Editora e Gráfica Stampato

Instituição associada à ABRUC www.fei.edu.br


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SUMÁRIO

20 ENTREVISTA

Divulgação

Para o presidente regional da Evonik América do Sul e Central, Weber Porto, a inovação é uma questão de sobrevivência para a indústria química.

06 DEstaques

• FEI desenvolve plataforma de inovação • FEI Portas Abertas recebe mais de 4 mil visitantes • Alunos do ensino médio fazem iniciação científica júnior na FEI • Inovação no setor têxtil é tema do Contexmod, realizado na FEI • Projeto experimental explora o conceito de Indústria 4.0 • Pesquisas da FEI são contempladas com projeto da FAPESP e IBM • Reitor da FEI é nomeado vice-presidente da AUSJAL • FEI firma parcerias com instituições de ensino internacionais

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GESTão & tecnologia

As cidades inteligentes fazem uso da tecnologia para otimizar a administração pública. Saiba como pesquisas realizadas na FEI podem contribuir com essa nova realidade

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PÓS-GRADUAÇÃO

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EMPREENDEDORISMO

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DEstaque jovem

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RECONHECIMENTO

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INOVAÇÃO

• Em parceria com a Universidade de Alicante, na Espanha, aluna da FEI conquista dupla titulação em doutorado

• Alunos desenvolvem modelos de negócio inovadores

• Engenheiro formado em 2010, Gustavo Beteli conta como é trabalhar na equipe Aston Martin Racing

• Formando recebe menção honrosa por seu TCC com foco na área socioambiental

• Pesquisas avançadas na área de Engenharia Elétrica propõe novas formas de diagnosticar o mal de Alzheimer e asma

40 responsabilidade social

• Alunos e professores da FEI expandem projeto de cursinho para estudantes de comunidades carentes

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ARTIGO • Professor Ricardo Destro, da Ciência da Computação, avalia a segurança em nossa vida digital

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Destaques

FEI DESENVOLVE PROGRAMA DE INOVAÇÃO E ACELERA A PREPARAÇÃO DE JOVENS PARA AS TENDÊNCIAS DO FUTURO Professores se preparam para a nova cultura de inovação desenvolvida e implantada na FEI

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Congresso de Inovação e Megatendências 2050, realizado em 2016, com mais de dois mil participantes, entre eles, renomados líderes dos ambientes acadêmico, político e empresarial, marcou o lançamento de um importante projeto que tem como finalidade proporcionar uma verdadeira transformação organizacional e cultural da Instituição – no sentido de atingir níveis mais elevados de qualidade em sua missão de educar, gerar e difundir conhecimento por meio do fomento à criatividade, geração de ideias e protagonismo dos alunos: a Plataforma de Inovação FEI. Os passos seguintes desse projeto foram dados no início deste ano e recentemente, entre os dias 1o e 4 de agosto, com o aperfeiçoamento de gestores e de todo corpo docente do Centro Universitário na “Cultura de Inovação e o Processo Criativo”, ministrado no campus de São Bernardo do Campo. O treinamento, segundo o reitor do Centro Universitário FEI, Prof. Dr. Fábio do Prado, tem como objetivo aperfeiçoar os docentes para a criação de visões de futuro e para práticas pedagógicas inovadoras com foco nas soluções de problemas mal estruturados, atrelados a grandes temas complexos das próximas décadas, que exigem uma

À FRENTE. O objetivo é

aperfeiçoar os docentes em relação à criação de visões de futuro e às práticas pedagógicas para inovação

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abordagem criativa, articulada e integrada às demandas da sociedade, de indústrias e de serviços de alta intensidade tecnológica. “Essa capacitação teve início em janeiro deste ano, com 42 docentes e colaboradores, estrategicamente selecionados por sua função e formação, de onde extraímos os tutores que foram responsáveis pela replicação do treinamento para todos os demais docentes e colaboradores da Instituição nessa segunda etapa que acabou de ser concluída”, explicou o reitor. “O nosso objetivo com esse treinamento é ajudar na conceituação, formulação e execução desse maravilhoso projeto, que fará uma enorme diferença na educação, pois iremos formar na FEI profissionais para serem os solucionadores dos grandes temas do futuro”, ressaltou Ingo Plöger, idealizador do treinamento e um dos conselheiros da FEI. O Projeto de Inovação FEI, entre os seus objetivos, irá explorar questões sobre as megatendências do futuro, seus cenários, e as soluções que indivíduos e sociedades esperam apresentar para o enfrentamento delas. “Tecnologias, processos e gestão andam de mãos dadas em espaços cada vez mais articulados, multidisciplinares e universais. A pesquisa e o desenvolvimento

buscam orientação de aplicação, e as soluções requerem cada vez mais transformações criativas. É nesse contexto que a FEI se lança a uma proposta de inovação, que integrará os elementos didático-metodológicos de seus currículos, com a pesquisa científica e tecnológica, práticas em seus laboratórios, projetos de cooperação com instituições e empresas, ancorada numa visão de futuro e condizente com as tendências mundiais”, explica o reitor, Prof. Fábio do Prado. Gustavo Donato, professor do Departamento de Engenharia Mecânica, foi convidado a assumir, juntamente com a reitoria da FEI, a coordenação da nova Plataforma de Inovação da Instituição. Segundo o professor Gustavo, “a institucionalização da Plataforma de Inovação FEI como projeto estruturante para o futuro demonstra como a Instituição está atenta às grandes problemáticas das próximas décadas e tem se posicionado proativamente no sentido de se reinventar continuamente, desenvolver profissionais diferenciados e disponibilizar soluções disruptivas que farão frente a essa emergente e desafiadora realidade”. O professor destaca, ainda, a importância do envolvimento do corpo docente, do corpo técnico-administrativo e dos discentes no desenvolvimento dessa cultura inovadora, bem como de sua curricularização e operação. O professor Flávio Tonidandel, coordenador do curso de Ciência da Computação e um dos tutores do treinamento, apoia a nova visão da FEI, de uma Instituição focada na inovação, e acredita que, mesmo que seja difícil no início, a proposta de criar essa cultura de inovação no Centro Universitário será atingida rapidamente. “Tenho certeza de que em alguns anos iremos colher os frutos desse nosso esforço atual. Minha expectativa é muito grande, e estou muito entusiasmado. Tudo o que aprendemos e sentimos no curso fortalece nosso engajamento ao projeto da FEI e nos motiva a criar novas ideias”, comentou.


Destaques

FEI Portas Abertas recebe mais de 4 mil visitantes Em sua 9ª edição, o evento se tornou uma oportunidade para estudantes do ensino fundamental e médio vivenciarem o dia a dia de uma universidade

INTERATIVIDADE.

Os visitantes participaram de mais de cem atividades, entre workshops, experiências em laboratórios, oficinas e diversos exercícios interativos

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fim do ensino médio é um período muito turbulento na vida de um adolescente. E a escolha da carreira é uma das definições mais importantes nessa fase. No meio desse turbilhão, conhecer a rotina de uma universidade e que tipos de atividades são desenvolvidas nos laboratórios, por exemplo, pode ajudar o jovem a optar pelo melhor caminho. Para ajudar nessa questão, anualmente o Centro Universitário FEI recebe diversos alunos dos ensinos fundamental e médio no FEI Portas Abertas, evento que tem como objetivo promover um dia de vivência universitária no qual os estudantes conferem de perto o dia a dia e a infraestrutura da universidade. A nona edição do evento, realizada em maio, teve recorde de inscritos. Cerca de 4.500 pessoas, entre estudantes, professores, familiares e ex-alunos, participaram de mais de cem atividades, como workshops, experiências em laboratórios, oficinas e diversos exercícios interativos, relacionados aos cursos de engenharia, administração e ciência da computação, tudo com o objetivo de despertar nos estudantes o encanto pela ciência, tecnologia, inovação e gestão. Os visitantes são guiados por monitores – que são estudantes e professores da própria FEI – e

podem andar por todo o campus para ver de perto a estrutura que a universidade possui. O evento não se restringe a questões relacionadas à carreira. Os estudantes podem tirar dúvidas sobre vestibulares, bolsas (de estudos ou de iniciação científica) e conhecer os programas com instituições de ensino parceiras da FEI em diversos países. O encontro também inclui palestras exclusivas para o corpo docente das escolas, quando é apresentada a importância da orientação e, principalmente, da visão de futuro.

INTERATIVIDADE

Os visitantes tiveram a oportunidade de conhecer diversos projetos que são desenvolvidos por alunos da FEI para competições nacionais e internacionais, como o FEI Baja, um veículo off-road; o Formula FEI, um carro com características físicas de um F1; e o AeroDesign, que desenvolve o aluno no ramo aeronáutico – projetos que são ótimas oportunidades de aplicar na prática os conhecimentos adquiridos em sala de aula, visando incrementar sua preparação para o mercado de trabalho. Foram realizadas, ainda, demonstrações de como é operado e programado um robô manipulador industrial – igual aos usados na maioria das

indústrias automotivas, eletroeletrônicas e metalmecânicas – e a robô Judith, que executa tarefas domésticas e ajuda pessoas com dificuldades de locomoção. As atividades sempre são acompanhadas por professores e alunos, que buscam transmitir um conteúdo técnico com uma linguagem de fácil compreensão ao público visitante. Uma das principais novidades dessa edição foi o FEI Escape – um projeto de realidade virtual produzido pelo Departamento de Ciência da Computação junto com alunos da graduação e pós-graduação. No jogo, realizado em uma sala temática simulando a cena de um crime, os estudantes tiveram o desafio de decifrar códigos, achar itens escondidos e resolver enigmas para conseguir encontrar a saída. Para isso, fizeram uso de fórmulas matemáticas, QR codes e até óculos de realidade virtual para encontrar pistas.

TROCA DE EXPERIÊNCIAS

A ação deixa os alunos da FEI orgulhosos, pois eles podem ajudar com informações sobre os cursos que escolheram ou mesmo como apoio nas atividades desenvolvidas. Foi o caso de Victor Aquino, que participou como monitor. “Poder fazer parte da organização do evento que ajudou a escolher minha carreira traz uma sensação ótima. Gostei muito de poder apresentar a FEI aos visitantes. Dá muito orgulho e satisfação dizer que essa é a minha faculdade”, celebra. A trajetória de Aquino serve de inspiração: ele veio ao Portas Abertas com sua escola em 2013, quando estava no segundo ano do ensino médio, e, na época, já sabia que queria cursar engenharia, mas ainda não tinha decidido com qual ênfase e em qual instituição. “Foi uma experiência incrível, pois eu nunca tinha entrado em uma faculdade antes. Fiquei encantado com os laboratórios da mecânica, pois todos aqueles equipamentos trazem realmente a sensação de estar em uma indústria, que é o lugar onde muitos engenheiros gostariam de trabalhar”, explica o aluno, que está cursando o 7º ciclo de Engenharia de Produção.

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Destaques

Alunos do ensino médio fazem iniciação científica júnior na FEI Em uma parceria do Centro Universitário com a ETEC Lauro Gomes, os estudantes desenvolvem projetos para conhecer mais sobre engenharia e ciência da computação

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lunos do ensino médio técnico da Escola Técnica Estadual (ETEC) Lauro Gomes, de São Bernardo do Campo, estão conferindo de perto a rotina universitária e a metodologia de pesquisa. Isso porque o Centro Universitário FEI oferece agora o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica no Ensino Médio (PIBIC-EM), também conhecido como “Iniciação Científica Júnior”. O programa concede bolsas a alunos do ensino médio para que desenvolvam projetos de pesquisa que serão orientados por professores da FEI. A ideia é introduzir os estudantes na metodologia aplicada a projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação desenvolvidos no ambiente universitário. A iniciativa é destinada a alunos com bom rendimento acadêmico que buscam desenvolver suas competências em áreas relacionadas à Engenharia e Ciência da Computação por intermédio da execução de projetos de pesquisa orientados por docentes do ensino superior. O objetivo é estimular o interesse dos alunos do ensino médio pelas áreas tecnológicas e de inovação, visando colaborar para, futuramente, suprir melhor a demanda nacional por profissionais egressos nessas áreas do conhecimento. Nessa primeira edição, iniciada em abril e com vigência de oito meses, são dez alunos participantes. Eles visitam a FEI uma vez por semana e desenvolvem, junto com um professor orientador, um projeto de pesquisa em uma das diversas áreas de atuação do Centro Universitário.

HISTÓRICO

Em março deste ano, alunos da ETEC realizaram uma visita ao campus da FEI, em São Bernardo do Campo, a fim de conhecer o programa. Na ocasião, os professores da FEI apresentaram suas propostas de projetos aos alunos da ETEC. A procura pelo programa foi tão grande, que a

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FORMAÇÃO. Os estudantes têm a oportunidade de, já no ensino médio, vivenciarem o ambiente universitário

FEI, além das cinco bolsas oferecidas pelo CNPq, abriu mais cinco vagas para estudantes voluntários (sem bolsa). A professora do Departamento de Engenharia Elétrica Michelly de Souza, responsável pelo programa, conta que a ETEC Lauro Gomes foi escolhida pela questão da proximidade e por fazer parte da história da FEI — uma vez que a Instituição já utilizou seus laboratórios. Adicionalmente, a ETEC oferece cursos técnicos em áreas que se alinham com os cursos oferecidos pela FEI – tanto que muitos alunos do ensino médio, ao se formarem, buscam uma graduação na FEI. “O programa serve como estímulo para despertar talentos no ensino médio para as áreas tecnológicas em que a FEI atua, nas quais há carência de profissionais no país, além de oferecer aos alunos a oportunidade de vivenciar o ambiente universitário”, afirma a Profa. Michelly.

NOVOS HORIZONTES

O professor Rodrigo Doria, do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI, está orientando dois projetos de alunos da ETEC na área de nanoeletrônica. Para ele, a parte interessante é que, com o programa, os jovens estão começando a ter contato com aquilo em que vão se formar futuramente no ensino superior. “Os estudantes entram muito empolgados”, comenta. “Trabalhando em cima da empolgação deles, conseguimos dar uma perspectiva maior de tecnologia e trazê-los para dentro da área de pesquisa.” Já a professora Isabella Pacífico, da Engenharia Química, ressalta a importância do desenvolvimento da metodologia durante o programa. “É uma ótima oportunidade para se trabalhar e aprimorar as dificuldades dos alunos. Alguns, por exemplo, têm mais facilidade para trabalhar no laboratório, mas encontram dificuldade para fazer uma revisão bibliográfica, e vice-versa. Isso contribui muito para a formação”, explica.


Destaques

Inovação no setor têxtil é tema de evento A quinta edição da Contexmod reuniu pesquisadores e especialistas das áreas de tecnologia têxtil e moda para discutir os desafios e novidades do setor

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indústria têxtil é bastante representativa na economia brasileira. Só em 2016, o faturamento da cadeia têxtil e de confecção no Brasil foi de 37 bilhões de dólares, com uma estimativa de produção de 5,4 bilhões de peças (incluindo vestuário e acessórios para cama, mesa e banho). Trata-se de uma imensa cadeia produtiva que envolve quase 10 milhões de profissionais, direta e indiretamente, o que torna o setor o segundo maior empregador da indústria de transformação, perdendo apenas para a área de alimentos e bebidas. As informações são da Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Por ser um setor bastante complexo, que demanda inúmeras pautas a serem discutidas, pesquisadores e especialistas da área têxtil se reuniram no mês de abril, durante a quinta edição do Congresso Científico Têxtil e Moda (Contexmod), no campus São Paulo do Centro Universitário FEI. O evento é uma iniciativa da Associação Brasileira de Tecnologia Têxtil, Confecção e Moda (ABTT), em parceria com o Centro Universitário FEI e a Universidade de São Paulo (USP). Além de ser um novo espaço de discussão e difusão científica numa área do conhecimento que está se consolidando nas universidades brasileiras, o evento busca integrar a indústria têxtil à de moda – duas áreas codependentes, mas com peculiaridades muito próprias de suas atividades. A programação do evento foi realizada seguindo quatro pilares: Tecnologia Têxtil (com os tecidos funcionais, novas tecnologias para produtos e processos e o desenvolvimento dos chamados “wearables” – itens com alta tecnologia

aplicada, que fazem a conexão entre o vestuário e dispositivos); Gestão da Cadeia Têxtil (economia colaborativa e a competição gerada a partir da entrada de concorrentes asiáticos); Sustentabilidade (gestão de resíduos sólidos e reaproveitamento da água, que são questões críticas na produção de tecidos); e Moda (design, cultura, tecnologia de confecção, design de superfície, processos criativos e história). “Os setores têxtil, de confecção e moda são codependentes e fazem parte de uma importante cadeia de valor, portanto o compartilhamento de pesquisas e a troca de experiências agregam entre

si mutuamente, gerando oportunidades para inovar e vencer os desafios”, comenta a professora do Departamento de Engenharia Têxtil da FEI, Camilla Borelli, uma das idealizadoras do evento. Vale lembrar que o vestuário é uma entre diversas aplicações de produtos têxteis, como uniformes profissionais, têxteis automotivos, geotêxteis e itens médicos. Além do programa científico-acadêmico que ofereceu a oportunidade para os pesquisadores apresentarem trabalhos de pesquisa científica relacionados à tecnologia, moda e gestão, o Contexmod contou com palestras de grandes empresas e personalidades do setor têxtil.

GIRO NA ECONOMIA. Só em 2016, o faturamento da cadeia têxtil e de confecção no Brasil foi de 37 bilhões de dólares,

com uma estimativa de produção de 5,4 bilhões de peças (incluindo vestuário e acessórios para cama, mesa e banho)

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EM CONJUNTO. A célula é

um desafio proposto pela Abimaq em parceria com o Senai, com profissionais de diversas empresas, além da colaboração da FEI e do Instituto Mauá de Tecnologia

Projeto experimental explora o conceito de Indústria 4.0 Professores, alunos e profissionais de diversas empresas e instituições de ensino desenvolveram o demonstrador de manufatura avançada, uma estação que converge diferentes tecnologias e trabalha de forma autônoma

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om o avanço da tecnologia dos computadores e com a enorme quantidade de informações e estratégias de produção, a indústria começa a utilizar a inovação tecnológica como aliada para aumentar a

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eficiência, reduzir custos e, com isso, se tornar ainda mais competitiva. É neste cenário que a manufatura avançada ganha cada vez mais relevância. O assunto traz consigo uma verdadeira mudança de paradigmas que representa

a interação, autônoma e inteligente, entre sistemas de fabricação automáticos complexos – tanto que muitos adotam o termo “Indústria 4.0”, em referência ao que passou a ser chamado de “quarta revolução industrial” (confira o quadro na página 13).


Para demonstrar o conceito na prática, o Centro Universitário FEI esteve presente na segunda edição do Demonstrador da Linha-Conceito de Manufatura Avançada, que ocorreu na ExpoMafe 2017 (Feira Internacional de Máquinas-ferramenta e Automação Industrial), em maio. Trata-se de um desafio proposto pela Abimaq (Associação Brasileira de Máquinas e Equipamentos) em parceria com o Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial), que envolveu mais de cem pessoas de diversas empresas, além da colaboração do Centro Universitário FEI e do Instituto Mauá de Tecnologia. A iniciativa procurou mostrar como é possível reunir diferentes tecnologias para colocar em prática no Brasil o conceito de manufatura avançada, tão em evidência em indústrias do mundo todo. O projeto apresentado no evento foi uma célula de manufatura que produz um porta-celular personalizado, acoplado a um dispositivo que amplifica mecanicamente o som do aparelho. A célula é composta por módulos que executam suas operações de forma totalmente autônoma, porém sincronizados com o restante das operações – ou seja: cada módulo recebe e envia informações para

A célula é composta por módulos que executam suas operações de forma totalmente autônoma, porém sincronizados com o restante das operações. Todo o ambiente é gerenciado via MES (Manufacturing Execution System) os demais o tempo inteiro (confira o infográfico nas páginas 12 e 13). Todo o ambiente de produção é gerenciado via MES (Manufacturing Execution System). A FEI esteve representada pelos professores Fábio Lima e Alexandre Augusto Massote, da Engenharia de Produção, e Rodrigo Filev Maia, da Ciência da Computação; além de três alunos dos cursos de Ciência da Computação, Engenharia de Automação e Controle e Engenharia Mecânica (sendo dois deles participantes do programa de iniciação científica). A FEI desenvolveu o projeto da rede de comunicação entre todos os equipamentos da célula de manufatura, gerenciou a implementação, programou equipamentos juntamente com outros parceiros e desenvolveu a arquitetura de segurança da informação para que a célula de ma-

nufatura fosse capaz de trocar dados com serviços bigdata na internet sem sofrer ataques ou falhas de segurança.

APLICAÇÃO PRÁTICA

A combinação de recursos de automação industrial com os avanços dos sistemas de computação e informação permite que os equipamentos de uma linha de produção troquem informações entre si ao longo do processo e tomem decisões sem a intervenção humana. Os sistemas automáticos podem, por exemplo, controlar sozinhos questões como as quantidades de produção e compras. No demonstrador, a única intervenção humana é na requisição e retirada da peça. O requisitante dá um comando inicial e aproveita para escanear seu aparelho celular, para que a célula saiba o tamanho exato

POR DENTRO DA MANUFATURA AVANÇADA

Alguns pontos são fundamentais para que um sistema de produção se encaixe no conceito. Confira os que estão presentes no demonstrador Customização do produto. Isso ocorre em três momentos: no tamanho do produto (feito a partir das medidas do celular do requisitante), na escolha da cor (com três possibilidades) e na definição de um texto impresso. Comunicação entre as máquinas. Em um sistema conhecido como “machine to machine” (ou “M2M”), os equipamentos trocam informações entre si para tomar decisões automaticamente ao longo do processo. Robótica avançada. O demonstrador faz uso de um robô colaborativo. Diferente de um robô de manufatura comum, o novo tipo não precisa ser enclausurado na linha

de produção por não oferecer risco de acidentes. Para isso, sua estrutura é repleta de sensores, que percebem a proximidade de pessoas, e sua geometria é arredondada, a fim de eliminar o risco de esmagamentos nas articulações. Nem todas as etapas da produção, porém, admitem o uso de um robô colaborativo. Digitalização. Todo o processo de produção é feito de maneira autônoma, sem a intervenção de pessoas. Além disso, a fim de identificar oportunidades de melhoria, o sistema permite fazer simulações sem que o conjunto esteja efetivamente operando.

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Destaques do dispositivo que será fabricado, e escolher a cor e o texto que será impresso. Desse ponto em diante, todo o processo é autônomo e, sete minutos depois, o porta-celular está pronto para ser retirado (a fabricação poderia ser mais rápida, mas optou-se por um ciclo mais lento para que o público pudesse acompanhar em detalhes). “A manufatura avançada envolve conceitos diversos e complexos. Entendemos que ninguém vai dominar todas essas tecnologias ao mesmo tempo, se-

jam empresas ou instituições de ensino. Sendo assim, a colaboração é importante para que os sistemas se consolidem. Também envolvemos alunos em um

A colaboração é importante para que os sistemas se consolidem. Além disso, alunos foram envolvidos em projeto prático de tema atual, importante para sua formação

LINHA DE PRODUÇÃO No demonstrador de manufatura avançada, cada módulo trabalha de forma independente, mas recebe e envia informações entre os demais. Veja como cada um deles opera MÓDULO DE USINAGEM É composto por dois centros de usinagem, um robô, um magazine de 30 posições com três possibilidades de cores e uma célula de transferência. A gestão dos recursos físicos fica a cargo do próprio módulo.

MÓDULO DE ENTRADA Aqui, o cliente tem acesso ao customizador de produto por meio de um totem, que fornece um preview de como ficará o item. Feita a solicitação, é criada uma demanda de fabricação para a linha. Nesse módulo, também é feito o escaneamento do celular, a fim de extrair as dimensões necessárias para a criação de um suporte específico para o cliente.

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projeto prático de tema atual, o que foi muito importante para a formação deles nesse ambiente”, afirma o professor Fábio Lima.

MÓDULO DE SOLDAGEM É composto por magazine de chapas metálicas e célula automatizada de soldagem. Todos os módulos têm painéis de controle com PCs industriais, que gerenciam localmente as condições de segurança e passos para a operação. Esses módulos podem ser adicionados conforme necessidade técnica da linha produtiva.


A QUARTA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL O termo “Indústria 4.0” foi criado pelo governo alemão para se referir à interação autônoma e inteligente entre sistemas de fabricação automáticos complexos. Trata-se, portanto, da “quarta revolução industrial”. A primeira ocorreu com a mecanização da produção usando água e energia a vapor. Já a segunda fez uso da energia elétrica para estabelecer a produção em massa. A terceira, por sua vez, trouxe a revolução digital e o uso de tecnologia da informação. A Indústria 4.0 tem ligações essenciais com a Internet das Coisas (IoT, na sigla em inglês), pois para se atingir os requisitos preconizados por esta nova revolução industrial, as linhas de produção deverão ter mecanismos de automação com maior quantidade de sensores, capacidade de tomada de

MÓDULO DE GRAVAÇÃO É composto por dois robôs e dois métodos de gravação. A gestão da linha consegue escolher qual o tipo de gravação para o produto, realizá-la em ambos os processos ou ainda remover o produto a qualquer momento.

decisões, segurança e uma nova organização em termos de engenharia de sistemas que estão no centro das discussões sobre Internet das Coisas. O Laboratório de Manufatura Digital do Centro Universitário FEI foi criado para avançar as pesquisas na área. Para isso, o espaço possui uma infraestrutura de ponta, com softwares de alta tecnologia considerados referência para os sistemas de manufaturas industriais. No ambiente, estudantes e professores poderão vivenciar a operação de uma plataforma que, em breve, será tendência em linhas de produção de diversos segmentos e que, atualmente, já é utilizada em empresas automobilísticas e na indústria aeroespacial. Além disso, a infraestrutura possui células robotizadas que permitem a simulação de processos industriais automatizados ou voltados para ergonomia.

MÓDULO DE MONTAGEM Composto por sistema manipulador pneumático, que integra as duas partes do produto por meio de uma montagem mecânica. Antes de realizar a tarefa, é realizada uma verificação das partes via identificação RFID (Radio Frequency Identification, um método de identificação automática por meio de sinais de rádio).

COCKPIT DO DEMONSTRADOR Nesse módulo, estão embarcados os softwares que interagem para o controle e reporte do trabalho na linha, como ERP, PLM, MES CAD/CAM, softwares de gerenciamento de manutenção, data analytics, comissionamento virtual e supervisório da automação.

MÓDULO DE ENTREGA É composto por robô colaborativo, buffer de entrega e totem de saída. O produto aguarda em estoque até que o cliente o retire da linha. O robô colaborativo permite a interação com o visitante, garantindo critérios de segurança na operação.

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Destaques

PESQUISAS DA FEI SÃO CONTEMPLADAS COM PROJETO DA FAPESP E IBM Manuseio de objetos flexíveis e processamento da voz para identificar a faixa etária de um indivíduo são objetivos dos projetos firmados nas parcerias

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Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e a IBM anunciaram uma parceria para apoiar projetos de pesquisadores de instituições de ensino superior ou de institutos de pesquisa do Estado de São Paulo relacionados à inovação na área de computação cognitiva. A iniciativa tem como foco principal fomentar o desenvolvimento de trabalhos de sistemas computacionais capazes de processar e integrar diferentes tipos de dados, aprender em grande escala e tirar conclusões lógicas a fim de interagir com seres humanos de forma natural. O Centro Universitário FEI, por meio das propostas apresentadas pelos professores do Departamento de Engenharia Elétrica, Paulo Eduardo Santos e Ivandro Sanches, é uma das instituições beneficiadas pela parceria. O professor Paulo Eduardo Santos, por exemplo, desenvolverá um trabalho relacionado à área de raciocínio espacial qualitativo, que é uma forma de fazer um robô compreender informações sobre seu ambiente tridimensional a partir de imagens bidimensionais. Segundo o professor, a proposta é unificar duas áreas da inteligência artificial: o raciocínio espacial qualitativo e o raciocínio de ações – a formalização lógica de sistemas de planejamento automático. Parece complexo, mas a aplicação prática é bem clara: “As descobertas dessa pesquisa podem ajudar as máquinas a lidarem melhor com objetos

flexíveis. Hoje, robôs e sistemas automáticos interagem bem apenas com objetos rígidos, cuja mecânica é bastante previsível. No que se refere, porém, a objetos flexíveis (como tecidos, coisas macias ou mesmo tecidos orgânicos, como pele), a relação é mais complexa, e o robô precisa ter muito mais capacidade de percepção daquilo que está manipulando, cujo formato, consistência e posição tendem a mudar constantemente”, explica Paulo Eduardo. A ideia do sistema é torná-lo capaz de tomar mais decisões, por exemplo, quanto à forma de manuseio e pressão aplicada. Em outro cenário, que ele seja um sistema que saiba lidar com objetos flexíveis em cirurgia robótica automática, a qual é responsável por manipular diferentes órgãos. “O mundo é cheio de objetos flexíveis. Para interagir com o mundo real, é preciso conhecê-lo melhor. Entortar uma barra de ferro é uma coisa; entortar uma corda é outra. Ser capaz de raciocinar sobre a diferença dessas características é fundamental”, explica o professor Paulo. “Um robô manipulador que vai trabalhar em uma residência, por exemplo, deve saber lidar com roupas e tecidos estofados. É diferente de agir apenas com as paredes.”

VOZ

Já o projeto do professor Ivandro Sanches visa analisar a voz e identificar características da fala capazes de determinar a faixa etária de

A iniciativa visa desenvolver trabalhos de sistemas computacionais capazes de processar e integrar diferentes tipos de dados, aprender em grande escala e tirar conclusões lógicas 14

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uma pessoa. Afinal, a voz é gerada por um processo mecânico no corpo, que envolve a vibração das pregas vocais e a reverberação no peito e no crânio. Sendo tão dependente do corpo, ela também sofre variações conforme a pessoa envelhece. “Assim como temos a identificação pela impressão digital, a voz nos identifica”, comenta Ivandro. Existe, porém, uma limitação já esperada: como nossa voz muda lentamente com o tempo, a intenção não é determinar com extrema precisão qual é a idade do indivíduo, mas, sim, quatro grandes grupos de faixas etárias (crianças, jovens, adultos, senhores). Esse sistema de identificação pode ser útil como ferramenta de segurança em transações telefônicas, senhas para aplicativos ou até mesmo sistemas de inteligência artificial que interajam com humanos para empregar formas de tratamento adequadas à idade de cada um. Sob o aspecto de segurança, por exemplo, será possível detectar automaticamente se uma criança estiver usando uma aplicação telefônica imprópria para a sua idade. Serão analisados dados de sinal de voz de um conjunto considerável de pessoas, a fim de determinar os padrões comuns a cada grupo etário, além de conhecimentos acumulados em reconhecimento automático de fala e biometria vocal. Assim, um sinal de voz desconhecido será testado contra cada uma das “impressões etárias” já construídas, e será atribuída a faixa etária correspondente ao modelo que resultar mais provável. Para o professor Ivandro, além de evidenciar a importância da pesquisa para o Centro Universitário FEI, o apoio dessa iniciativa da FAPESP e da IBM é relevante para a formação dos profissionais. “O projeto já beneficia dois alunos de iniciação científica e outros dois de mestrado”, enumera.


Destaques

Reitor do Centro Universitário FEI é nomeado vice-presidente da AUSJAL O Prof. Dr. Fábio do Prado foi eleito segundo vice-presidente como representante do Brasil na Associação, que reúne instituições de ensino jesuítas da América Latina

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reitor do Centro Universitário FEI, Prof. Dr. Fábio do Prado, foi eleito segundo vice-presidente da Associação das Universidades Confiadas à Companhia de Jesus na América Latina (AUSJAL), uma rede integrada por mais de 30 instituições de ensino superior jesuítas, cuja missão é desenvolver projetos comuns a fim de buscar uma maior contribuição em suas sociedades. O Prof. Prado será o representante das universidades brasileiras. O pronunciamento ocorreu na XX Assembleia Geral da Associação, realizada de 15 a 17 de maio, na Universidade Católica de Pernambuco. No encontro, os reitores das universidades que fazem parte da Associação discutiram as premissas para a elaboração do plano 2018-2023 e também elegeram os novos membros do Conselho de Administração da AUSJAL para o período de 2017 a 2019. “A participação do Centro Universitário FEI na AUSJAL proporciona sinergia de experiências e o enriquecimento do projeto institucional a partir de uma visão amplificada de diferentes atores no âmbito da América Latina”, comenta o professor. “Com isso, a FEI passa a ter uma interlocução diferenciada com os demais membros associados, uma voz mais efetiva na elaboração de políticas comuns e, consequentemente, expande sua influência e visibilidade internacionalmente.”

PROJETOS

Diversas iniciativas já foram colocadas em prática a partir da interação entre as instituições que fazem parte da AUSJAL. Uma delas é o aperfeiçoamento da mobilidade entre os estudantes, para que eles vivenciem experiências em outros países

e fortaleçam a rede. Também foi criada uma plataforma na qual é possível conferir os cursos e vagas disponíveis, tanto para graduação como para pós-graduação stricto sensu, com as linhas de pesquisa desenvolvidas. A parceria entre as universidades também rendeu um repositório comum com a produção intelectual dos alunos das instituições, com dissertações de mestrado e teses de doutorado. Além disso, foi possível unir as universidades na negociação de custos de assinaturas de bibliotecas digitais.

SOBRE O REITOR

Fábio do Prado é Bacharel e licenciado em Física pela Universidade Presbiteriana Mackenzie e mestre em Ciências pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica – ITA. Também é doutor em Geofísica Espacial pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, onde atuou no grupo de pesquisa básica em plasmas no Laboratório Associado de Plasma. Desde 1990, o professor Fábio pertence ao corpo docente do Centro Universitário FEI. Em 1998, passou a atuar em regime de dedicação integral da Instituição, tendo exercido a Vice-reitoria de Ensino e Pesquisa no período de janeiro de 2002 a junho de 2010 e, desde junho de 2010, assumiu a função de Reitor da universidade. Especializou-se em liderança acadêmica para instituições de educação superior católicas por meio do programa para gestores Leading Catholic Universities in the 21st Century, orientado pela Leadership Foundation for Higher Education de Londres, e organizado pela Federação Internacional de Universidades Católicas – IFCU.

CONJUNTO. Para o reitor, a participação da FEI na AUSJAL proporciona sinergia de experiências entre as instituições

Atualmente, é vice-presidente do Con­ selho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) e coordenador suplente do Fórum das Instituições de Educação Superior Confiadas à Companhia de Jesus no Brasil (FORIES). Além do reitor da FEI, os demais integrantes do novo conselho são: Ernesto Cavassa, S.J., reitor da Universidad Antonio Ruiz de Montoya, no Perú (presidente); Fernando Ponce León, S.J., reitor da Pontificia Universidad Católica del Ecuador (primeiro vice-presidente); e Guillermo Prieto Salinas, S.J., reitor da Universidad Iberoamericana Torreón, no México (terceiro vice-presidente).

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Destaques

DESENVOLVIMENTO MULTICULTURAL

O Centro Universitário FEI tem parcerias com instituições de ensino internacionais para intercâmbio de estudantes e desenvolvimento conjunto de pesquisas

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aproximação com instituições de ensino estrangeiras traz benefícios para todos os envolvidos, e, por isso, o Centro Universitário FEI já tem algumas parcerias desse tipo. Elas enriquecem a formação dos alunos, promovem a troca de informações entre os professores, permitem o desenvolvimento de pesquisas conjuntas e ajudam a levar o conhecimento a um patamar elevado. Os contatos costumam surgir a partir de interesses individuais de pesquisas dos professores. O professor Jacques Demajorovic, do Centro Universitário FEI, por exemplo, desenvolve trabalhos em conjunto com o professor Antonio Aledo, da Universidade de Alicante, na Espanha. Assim, as instituições firmaram um convênio marco, por meio do qual sinalizam a intenção de cooperar com pesquisas, visitas de professores para a participar de seminários, intercâmbios de alunos etc. “A cooperação começa individualmente, pessoa a pessoa, e se propaga para o grupo de pesquisadores e parceiros da Instituição, tanto docentes como alunos”, explica o professor Marcelo Pavanello, vice-reitor de Ensino e Pesquisa do Centro Universitário FEI. Foi dessa forma que surgiram parcerias com a Universidade Católica de Córdoba na Argentina; o Centro de Pesquisa e Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional (Cinvestav, na sigla em espanhol), do México; a Universidade de Corunha e a Universidade Autônoma de Barcelona, na Espanha; a Universidade Católica de Louvain, na Bélgica; e o Imperial College, na Inglaterra. O professor Paulo Santos é outro exemplo. Ele tem uma colaboração com o professor Pedro Calabar, da Universidade de Corunha. Eles já publicaram juntos mais de dez trabalhos relacionados a sistemas de raciocínio espacial, planejamento e raciocínio de ações. O convênio entre as instituições rendeu uma visita do professor Calabar à FEI, em um projeto viabilizado pela Fapesp. O professor Santos tam-

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CONVIDADO ESPECIAL. Prof. Antonio Cerdeira (à esq.) e Profa. Magali Estrada (à dir.), do Cinvestav, em sua visita à FEI.

A parceria entre as instituições vem rendendo trabalhos ligados ao desenvolvimento e teste de componentes eletrônicos

bém esteve na Espanha, por meio do Santander Universidades, um projeto do banco Santander de incentivo acadêmico. “Ciência se faz com discussão, interação e críticas, que se desenvolvem ao longo de anos, entre vários pesquisadores”, comenta o professor Santos. “Já fiz reuniões via Skype com o professor Cabalar e com outros coautores na Inglaterra, Alemanha, Irã e Austrália de madrugada, aos sábados, durante o almoço ou aos domingos. Nós vivemos pelo e para o desenvolvimento científico. Isso nos motiva e contagia positivamente nossos alunos, que, mais que profissionais competentes, se tornam pensadores livres, que não se restringem às obrigações mínimas, mas encaram os desafios e produzem soluções com a liberdade e seriedade de qualquer pesquisador em quaisquer dos melhores laboratórios de pesquisa do mundo. Essa é a verdadeira contribuição de colaboração científica internacional.” Em relação à Universidade Católica de Louvain, alguns professores e duas alunas aproveitaram o relacionamento entre as instituições para

cursar parte de seu doutorado na Bélgica, por meio da colaboração com o professor Denis Flandre. Além disso, os pesquisadores da FEI se utilizam da infraestrutura da parceira para colocar em prática o estudo de componentes eletrônicos de última geração. “O grupo de pesquisa coordenado pelo Prof. Denis Flandre tem uma experiência muito grande em projetos de circuitos integrados, além de acesso a componentes de última geração. Como no Brasil ainda não temos a fabricação de alguns tipos de componentes, esse contato é muito benéfico”, conta a professora Michelly de Souza. O professor Pavanello explica que a existência de um acordo formal entre as instituições é uma forma de legitimar e estimular as parcerias individuais entre os profissionais, uma vez que institucionaliza a intenção do Centro Universitário naquela cooperação. Além disso, esses acordos facilitam a concessão de aportes de recursos públicos em pesquisas por meio das agências de fomento, como Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado


de São Paulo (Fapesp) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), além de entidades semelhantes nos países das entidades parceiras. “Com a parceria institucionalizada, é mais fácil pleitear esses recursos”, explica Pavanello. A FEI tem um conceito de internacionalização muito desenvolvido, alinhado a grandes universidades dos EUA e da Europa. “Unimos pessoas para o desenvolvimento de projetos que individualmente não seriam possíveis”, comenta Pavanello. A exposição internacional se tornou condição essencial para gerar qualidade em pesquisa e ensino no Brasil. Hoje, o Programa de Mestrado Acadêmico e Doutorado em Administração da FEI tem metade de seus professores com formação no exterior, entre doutorado completo e pós-doutorado.

DESENVOLVIMENTO CONJUNTO

Alguns exemplos mais detalhados de colaboração são com o Cinvestav e com o Laboratório de Eletrônica de Tecnologias da Informação do Comissariado de Energia Atômica e Energias Alternativas (CEA Leti, na sigla em francês), um importante centro de pesquisas na França. Em conjunto, as instituições estão desenvolvendo um componente inovador para a indústria de eletrônicos. Trata-se de um tipo de transistor, de efeito de campo metal-óxido-semicondutor sem junções (“MOSFET junctionless”, na sigla em inglês). A proposta do componente é permitir a continuidade do processo de redução das dimensões dos transistores, mantendo ou melhorando suas características elétricas. Isso possibilita a criação de dispositivos eletrônicos cada vez menores e com maior capacidade de processamento. “Projetamos alguns dos componentes eletrônicos mais inovadores no Brasil, mas não temos uma sala de fabricação de micro e nanoeletrônica como existe na França”, explica o professor Pavanello. “Com a parceria com o CEA Leti, podemos ter acesso a componentes nanoeletrônicos diferenciados para testá-los e proporcionar conhecimento para a comunidade científica. É uma parceria muito vantajosa.” Já em conjunto com o Cinvestav, a FEI desenvolve modelos matemáticos de componentes eletrônicos de última geração. Um modelo matemático é uma espécie de simulador. Funciona assim: cria-se um software capaz de reproduzir virtualmente a função do componente. Dessa forma, é possível testar sua aplicação nas mesmas condições de um circuito real. Com isso, pode-se conhecer de antemão a viabilidade e o potencial de determinados projetos que utilizam o componente. Esse é um dos dispositivos mais promissores para a nanoeletrônica, por sua simplicidade e

Um acordo formal entre as instituições é uma forma de legitimar e estimular as parcerias individuais entre os profissionais. Além disso, facilita a concessão de aportes de recursos públicos em pesquisas por meio das agências de fomento, como CNPq, FAPESP e CAPES seus magníficos parâmetros elétricos. Geralmente, desde o momento em que se propõe um novo tipo de dispositivo para circuitos integrados até a sua introdução na indústria, existe um tempo para amadurecer a tecnologia e comparar os resultados. Devido aos altos custos da tecnologia nanométrica, um lapso de cinco a dez anos é normal. No caso dos transistores junctionless, espera-se que eles ampliem as possibilidades da nanoeletrônica e sejam introduzidos em breve.

VISITA ESPECIAL

Como parte do acordo de cooperação com o Cinvestav, a FEI recebeu, em maio, a visita de dois professores cubanos de grande renome no meio científico de todo o mundo: Antonio Cerdeira e Magali Estrada. Eles realizaram uma palestra no campus São Bernardo da FEI, na qual apresentaram alguns componentes eletrônicos de última geração e sua importância para o desenvolvimento de novos dispositivos. Além dos já mencionados transistores MOS, eles discutiram sobre os transistores de capas finas (TFT, na sigla em inglês). Esses transistores se encontram atualmente em pleno desenvolvimento e em etapa de produção. Eles são importantes, pois são utilizados para controlar os pixeis das telas planas fabricadas com LEDs orgânicos, os OLEDs. Entre suas vantagens, estão o fato de sua tecnologia de fabricação ser menos custosa que a dos MOS, além dos níveis de corrente suficientemente altos para manejar os OLEDs e a possibilidade de fabricação sobre substratos flexíveis. O desenvolvimento tecnológico dos transistores de capas finas é um trabalho que se realiza inicialmente nas universidades, por ser economica e tecnologicamente mais viável nesse meio. Depois de feitos todos os testes, o componente é levado para a indústria. Além do desenvolvimento do transistor propriamente dito, os pesquisadores trabalham na modelação do componente.

CONTATO COM O BRASIL

Esta não é a primeira vez que os professores Cerdeira e Magali vêm ao Brasil. Eles foram contemplados por um projeto do CNPq que já os trouxe ao País outras duas vezes – este é o último ano do projeto. “O Brasil conta com vários bons especialistas no campo da eletrônica e microeletrônica. Devido ao alto custo da microeletrônica convencional, o desafio é o mesmo que em todos os países em desenvolvimento: encontrar uma aplicação potencial que seja economicamente factível”, avalia Cerdeira. Ele conta que essa questão envolve os transistores do tipo TFT, muitos tipos de sensores semicondutores ou as células solares de nova geração, além dos trabalhos de caracterização e modelagem dos diferentes tipos de dispositivos semicondutores. “O País, porém, tem boas relações com centros de pesquisa e universidades nesses ramos, o que permitiu o bom desenvolvimento de especialistas e mantê-los para o futuro próximo”, pondera.

SOBRE OS PROFESSORES

Os professores Cerdeira e Magali são cubanos de origem, fizeram sua formação na União Soviética e, posteriormente, foram para o México. Vivenciaram de perto acontecimentos importantes do século passado, como a Revolução Cubana e a queda da União Soviética. Ambos têm muitos anos de experiência em docência e pesquisa no ramo da microeletrônica. Trabalharam de 1966 a 1979 na Faculdade de Física da Universidade de Havana, em Cuba, onde participaram do desenvolvimento da tecnologia de fabricação de transistores MOS e bipolares, assim como células solares. Posteriormente, até 1994, trabalharam no Instituto Central de Pesquisa Digital em Cuba, onde desenvolveram o procedimento e os meios para o desenho de circuitos integrados de uso específico (ASIC). Desde então, são professores-pesquisadores da Divisão de Eletrônica do Estado Sólido do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro de Pesquisa e de Estudos Avançados do Instituto Politécnico Nacional, com sede na Cidade do México.

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Acervo pessoal

pós-graduação

EXPERIÊNCIA INTERNACIONAL.

Ana Lúcia no dia da defesa de sua tese, junto com os professores Aledo (à esquerda) e Jacques (à direita).

Aluna da FEI conquista dupla titulação de doutorado

Ana Lúcia Frezzatti Santiago, a primeira discente do Centro Universitário FEI a conquistar simultaneamente uma titulação de doutorado em duas instituições, defendeu uma tese válida tanto na FEI como na Universidade de Alicante, na Espanha

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onhecer uma nova cultura, obter novos aprendizados, integrar uma rede de pesquisa internacional, obter colaborações para a pesquisa e ampliar o networking. Essas foram algumas das oportunidades proporcionadas pela dupla titulação de doutorado de Ana Lúcia Frezzatti Santiago. Ela foi a primeira aluna do Centro Universitário FEI a conquistar uma titulação válida tanto na FEI como na Universidade de Alicante, na Espanha. Isso foi possível graças ao convênio firmado entre as duas instituições, no qual as duas partes manifestam seu compromisso de cooperar em determinadas áreas, com a realização de atividades como o intercâmbio de docentes, estudantes, publicações,

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elaboração conjunta de pesquisas, entre outras. O convênio tem possibilitado a alunos de graduação e pós-graduação, assim como no caso de Ana Lucia, ter a experiência de estudar e pesquisar em uma instituição estrangeira de ensino reconhecida no cenário europeu. Além disso, o convênio tem possibilitado o intercâmbio de professores com a realização de cursos e palestras regulares nas duas instituições. Como parte do convênio, Ana Lúcia viajou para a Espanha em 2015 como bolsista da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) em um doutorado sanduíche. Lá, foi matriculada no Programa de Doutorado Empresa, Economia e Sociedade da Universidade de Alicante. A banca de defesa da tese foi realizada no

Brasil, no campus São Paulo, no Programa de Pós-graduação em Administração da FEI, com a participação do co-orientador, o professor Dr. Antonio Aledo, do Departamento de Sociologia da Universidade de Alicante, e reconhecimento da defesa pela Universidade de Alicante. A pesquisa teve orientação do professor Dr. Jacques Demajorovic, do Departamento de Administração da FEI.

LICENÇA SOCIAL PARA OPERAR

O tema da pesquisa de Ana Lúcia foi a Licença Social para Operar (LSO), em um estudo de caso da mineração brasileira: relacionamento da empresa com a comunidade local. Os impactos do setor de mineração costumam ter grandes proporções e, muitas vezes, transcendem jurisdições territoriais


e avançam para gerações futuras, como no caso do acidente da Samarco em 2015 no município de Mariana (MG), episódio qualificado como o maior acidente da história com barragens de rejeitos. Uma das respostas do setor de mineração tem sido incorporar novas práticas em seus processos de gestão que aumentem a sua eficiência e, ao mesmo tempo, reduzam alguns de seus impactos e riscos. Entretanto, ocorreram poucos avanços no relacionamento com comunidades do entorno; os avanços foram nas áreas de tecnologia e engenharia. É nesse contexto que a Licença Social para Operar (LSO) surge como um elemento graças aos aspectos formais de controle das empresas, estabelecidos na relação com o governo por meio da legislação, que incorporam maior legitimidade, concedida pela interação entre empresa, governo e sociedade. O conceito de LSO se refere a uma aceitação, uma legitimação da empresa pela comunidade local. A LSO não é um documento: é algo subjetivo, implícito e que envolve percepção dos cenários de relacionamento. Normalmente, a empresa percebe quando perdeu a sua licença social por meio de conflitos e problemas com a população local. Mas aquelas que geram grande impacto são as que mais necessitam desse gerenciamento. É o caso de hidrelétricas, mineradoras e companhias do setor de papel e celulose. “A LSO se refere ao intangível, à parte não tácita do contrato realizado entre a empresa e a sociedade ou grupo social. É ela que permite que uma operação de extração ou de processamento de minérios, por exemplo, inicie e continue suas atividades”, explica Ana Lúcia. Normalmente, as empresas apenas atuam de forma reativa, respondendo somente em momentos de conflitos e pressão de grupos da sociedade, causados pelos significativos impactos socioambientais gerados pela extração mineral, por exemplo, como uso excessivo de água, aumento do custo de vida, estresse da infraestrutura local e transformação física e social da localidade. “O objetivo da minha pesquisa foi organizar os conceitos de LSO e fatores de influência forjados para países desenvolvidos, como Canadá, Estados Unidos e Austrália, que estão sendo utilizados amplamente no Brasil, e aplicá-los em campo, imprimindo o rigor científico da pesquisa de doutorado”, conta Ana Lúcia.

Diversos fatores de influências para a concessão da LSO pela comunidade local utilizados nos países desenvolvidos não foram confirmados no contexto brasileiro e alguns foram parcialmente confirmados. Surgiram, porém, novos fatores, como o fator da vulnerabilidade social, a dependência econômica da mineração, e da necessidade de aprendizagem social por parte da comunidade – fatores que influenciaram tão fortemente na concessão da LSO no Brasil, tornando-a instável, segundo Ana Lúcia. Uma empresa pode, por exemplo, conquistar a Licença Social para Operar e, por desinformação da comunidade local ou desconfiança, perdê-la logo em seguida. Com isso, os custos da empresa aumentam, uma vez que conflitos precisam ser gerenciados a todo momento.

AFINIDADE

Ana Lúcia conta que o interesse pelo assunto surgiu porque ela trabalhou na área de relacionamento com comunidades e projetos de investimento social no instituto de uma grande empresa brasileira do setor de mineração. “Pude, assim, vivenciar a complexidade do tema e a demanda do setor mineral frente aos seus significativos impactos, compreender melhor e gerenciar o relacionamento com as comunidades do entorno onde a empresa atua, além de mitigar seus impactos socioambientais”, relembra Ana Lúcia. “Eu pretendo, em um futuro próximo, atuar como professora visitante, para períodos curtos com o objetivo de ampliar a minha pesquisa sobre LSO, em universidades de países como Chile, Peru, Colômbia e

Panamá, onde o título de doutora em uma universidade espanhola é valorizado e a mineração é representativa na economia do país. Com isso, consigo ampliar as minhas pesquisas”, planeja Ana.

PERSPECTIVAS

Para Ana, a possibilidade de atuar como docente e pesquisadora em outros países é uma das vantagens da sua dupla titulação. Além disso, durante a pesquisa, ela pôde contar com a colaboração de uma rede de professores das duas universidades, com visões diferentes. Este ano também, a Doutora apresentará um módulo do curso sobre Responsabilidade Social durante o Congresso de Avaliação do Impacto Social das Empresas na Universidade de Alicante, na Espanha. “A dupla titulação significou muito. Foi com o apoio da FEI e da CAPES que, pela primeira vez, consegui uma bolsa de estudos”, relembra Ana Lúcia. Ela conta, por exemplo, que levantou recursos para custear sua primeira faculdade vendendo lanches. “Foi um aprendizado valioso, que faço questão de ressaltar.” A jornada, no entanto, não é simples. Um dos desafios durante o processo é que o “Doutorado demanda uma forte dedicação, quase exclusiva”, conta. O processo, porém, valeu a pena: “Foi um pouco complexo organizar toda a documentação pessoal, seguir as regras exigidas pelo Ministério da Educação dos dois países, acompanhar o convênio entre as universidades, além da tensão para cumprir os prazos, mas fico muito feliz por abrir portas para que novos alunos da FEI conquistem essa dupla titulação”.

ONDE FICA ALICANTE?

O município espanhol tem 332 mil habitantes e fica a 380 km de Madri, na região central da costa mediterrânea (Costa Blanca).

Madri

Mar Mediterrâneo

Alicante

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ENTREVISTA

“Inovação é uma questão de sobrevivência da indústria química” Presidente regional da Evonik América do Sul e Central, Weber Porto fala sobre os desafios da indústria química e sua formação na FEI Divulgação

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o ano em que concluía sua graduação em Engenharia Química, em 1981, Weber Porto teve que enfrentar a mesma dificuldade que muitos jovens recém-formados enfrentam atualmente: a falta de uma oportunidade profissional em um País com sérios problemas socioeconômicos e políticos. A dificuldade, porém, não o desanimou: continuou dando aula de matemática em cursinhos e supletivos –para custear seus estudos –, até encontrar um anúncio no jornal que dizia: “Procura-se engenheiro químico recém-formado com possibilidade de morar no exterior”. Hoje, 34 anos após conquistar a vaga na empresa Degussa – rebatizada mais tarde como Evonik, uma das maiores indústrias químicas do mundo, com sede na Alemanha, Weber Porto é o presidente regional América do Sul e Central da companhia, posição que ocupa desde 2007. O executivo, que também coordena o comitê de sustentabilidade da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim) e já foi contemplado com o prêmio de Personalidade do Ano, da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo, conta em uma entrevista exclusiva à Domínio FEI os desafios de sua carreira e também do setor químico no Brasil. Domínio FEI: Coincidência ou não, mas no ano em que você se formou, o Brasil passava por um período crítico semelhante ao que estamos vivendo. Mas o que mudou de lá para cá?

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TRAJETÓRIA. Formado em Engenharia Química pela FEI, Weber Porto fez carreira de sucesso na Evonik


Weber porto: Eu acho que mudou apenas a forma. As crises são momentos em que as empresas, talvez por falta de previsibilidade, acabam reavaliando seus contratos, quadros de funcionários, custos. Então, como acontece hoje, praticamente ninguém contrata, a menos que exista uma necessidade enorme, novas posições. O que às vezes acontece é uma troca de posições por conta de alguém que não está apresentando uma boa performance. Mas novos empregos hoje são muito difíceis. O mesmo acontecia nos anos 1980. Essas situações são cíclicas, se repetem por motivos diferentes, mas no final as consequências são praticamente as mesmas, que é uma retração de mercado, uma insegurança dos investidores e uma contenção de despesas. Embora o período que estamos passando seja complicado, a Evonik inaugurou recentemente uma fábrica no Brasil, certo? Trouxemos três fábricas. O Brasil tem alguns mercados fortes. Uma das nossas fábricas, em Americana, é de ingredientes principalmente para indústria de cosméticos. O Brasil é o terceiro maior mercado de cosméticos do mundo, depois dos Estados Unidos e Japão. A população tem um costume diferente de cuidados pessoais, diferente da Europa, por causa do clima, principalmente. A outra indústria em que investimos é de aminoácidos. Montamos uma fábrica de biotecnologia no Paraná. E o Brasil é competitivo em biomassa e açúcares, seja cana-de -açúcar ou milho. O País é o maior exportador mundial de proteínas, e a Evonik é a maior produtora mundial de aminoácidos para ração animal.

A outra fábrica é de sílica, usada para fazer o pneu verde. A sílica é um agente reforçante para borracha. Quando você substitui uma parte do negro de fumo pela sílica com silanos, você ganha outras características: a resistência à rolagem do pneu é menor, então gasta menos combustível sem perder as outras características importantes. Ecologicamente é melhor, por isso se chama pneu verde. Todos os grandes produtores mundiais de pneu estão aqui; a indústria automobilística é grande no Brasil. Decidimos investir em mercados que consideramos que continuariam estáveis, independentemente do que poderia acontecer em relação à economia e política brasileiras. São decisões tomadas pensadas em longo prazo. Não são decisões oportunistas. Em sua opinião, quais os maiores desafios da indústria química? A sustentabilidade é vital para a indústria química. É um negócio. Sustentabilidade não é apenas idealismo – se fosse, não sobreviveria. Você diminui a emissão de gases pela economia de combustível. Nisso, a indústria química é vital: nós a consideramos a indústria das indústrias. Afinal, tudo o que você vê tem química. A indústria química do Brasil é a oitava maior do mundo e tem uma importância muito grande no PIB do País. Mas temos uma estrutura de matéria-prima complexa, por conta do monopólio da Petrobras, então é uma indústria não competitiva internacionalmente devido ao custo de matéria-prima. Para a indústria química crescer, ela poderia aproveitar toda essa tendência do pré-sal, com a qual teremos muita matéria-prima. Mas precisamos de uma política industrial que envolva a Petrobras e que tenha

O que faz a longevidade das empresas, na minha avaliação, está ligado exatamente à sua capacidade de inovar o tempo todo. Por isso, queremos ser uma das empresas mais inovadoras do mundo.

foco no desenvolvimento da indústria química – caso contrário, dificilmente ela crescerá no Brasil, tanto que é deficitária há muitos anos. Um dos objetivos da Evonik é se consolidar como um dos grupos industriais mais criativos do mundo. Nesse negócio, o que vocês chamam de criatividade? Estamos falando de inovação, trazer produtos novos, soluções novas. O que a Evonik quer é sempre ser líder no desenvolvimento de novos conceitos e ideias. Porque inovação é uma questão de sobrevivência da indústria química: se você não tiver um processo de inovação muito bem estabelecido, em pouco tempo, você deixa de ser competitivo, porque o mercado muda. O que faz a longevidade das empresas, na minha avaliação, está ligado exatamente à sua capacidade de inovar o tempo todo. Por isso, queremos ser uma das empresas mais inovadoras do mundo. E como a companhia vem cumprindo essa premissa? Somos muito exigentes conosco. Temos feito reavaliações dos produtos, daquilo que acreditamos ser importante ou não; temos feito aquisições de outras empresas, que têm produtos que podem trazer mais conhecimento, para que possamos cada vez mais fazer coisas diferentes e melhores. Estamos muito determinados nessa direção. O que você enxerga para a indústria química no futuro? Nós acreditamos que a indústria química vai ter um papel fundamental em todo esse processo de desenvolvimento futuro. Dentro de sustentabilidade, por exemplo, temos um crescimento populacional absurdo e a necessidade de produzir mais alimentos para diminuir a fome. Como se faz isso? Com maior produtividade no campo. Quem traz maior produtividade no campo ou mais proteína, como carnes e frango? A química tem uma responsabilidade enorme nisso.

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Divulgação

ENTREVISTA Depois refletimos sobre o que a indústria química pode oferecer na cadeia para viabilizar essa ideia. Por isso, consideramos a química como vital em todos esses processos. É difícil você enxergar uma cadeia onde não exista de alguma forma uma participação da indústria química, seja no que for. E para acompanhar todos esses desenvolvimentos, a inovação é vital. Nós sempre estamos pensando em curto prazo, que é fazer negócios, e também em médio, longo e longuíssimo prazo, tentando imaginar o que vai acontecer.

A FEI, sem sombra de dúvidas, prepara as pessoas para enfrentar os desafios de uma forma muito mais forte. Você aprende muito nas dificuldades, aprende a se reinventar, a se superar.

Existe um imaginário de que o brasileiro é muito criativo. Você acredita que esse traço da população se reflete na forma como se fazem negócios no País? Criatividade é um dos pontos. O brasileiro é muito criativo, consegue improvisar, e isso às vezes dá certo. Mas isso não pode ser alguma coisa que sempre acontece, porque precisamos de organização também. Criatividade sozinha não vira nada concreto; criatividade com organização é inovação. O brasileiro tem essa propriedade, que tem que ser aproveitada para a geração de ideias. É muito interessante analisar a experiência de trabalhar com brasileiros e com outros povos, como o alemão, que tem uma forma de atuação bem diferente. Trabalhar no Brasil é uma delícia, porque é muito fácil motivar as pessoas. Estão todos sempre muito abertos a novas ideias. As pessoas se empolgam. Enquanto o alemão é sempre muito resistente, quer examinar, ver com profundidade quais são as consequências dessa ideia, onde ela vai levar, o que vai trazer.

Se pensarmos na questão de energia ou prédios inteligentes, o que você tem nesses edifícios? Um polímero entre vidros que faz com que não se perca o frio gerado pelo ar-condicio-

Você já ganhou prêmio de Personalidade do Ano, da Câmara Brasil-Alemanha de São Paulo. Então além dos negócios, imagino que tenha algum tipo de relação com o País, certo?

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nado e nem deixe entrar muito calor. Isso também é um produto químico, que evita o desperdício de energia. Nós pensamos muito na cadeia de produção, e não no produto em si.


Acreditamos que a indústria química terá um papel fundamental em todo o processo de desenvolvimento futuro. Nós pensamos muito na cadeia de produção, e não no produto em si.

cada um fizer uma parte, no conjunto acabamos contribuindo bastante. Estou bem mais otimista nesse sentido. Às vezes, as iniciativas têm pouca visibilidade, mas a gente não procura visibilidade, a gente faz porque quer fazer e porque acha que tem que fazer.

Fui presidente da Câmara durante quatro anos. Eu me identifiquei muito com a cultura alemã – e a cultura industrial alemã é muito interessante, com grandes empresas. E São Paulo é a cidade onde existe a maior concentração de indústrias alemãs do mundo fora de lá, por conta de investimentos nos anos 1950 e 1960. É um ambiente em que eu me senti bem e comecei a me empolgar nesses trabalhos com a Câmara, para tentar trazer negócios aqui para o Brasil. Foi uma época muito boa para o País, com a vinda de muitas delegações econômicas. Eu presido também uma sociedade beneficente alemã chamada SBA (Sociedade Beneficente Alemã). Temos um residencial para idosos, uma creche e um centro profissionalizante. É muito gostoso você poder dedicar um pouco de tempo para essas pessoas que necessitam. Então, talvez, por esse contexto todo de ter atuado tão fortemente na Câmara e em instituições alemãs, decidiram me dar esse prêmio. Foi uma alegria enorme. Eu já tinha entregue esse prêmio quatro vezes para outras pessoas, porque é o presidente da Câmara que entrega. Então, para mim, era a quinta vez, mas de uma forma totalmente diferente, muito melhor, porque fui receber. Fiquei absolutamente honrado por isso!

Sua carreira como engenheiro foi construída inteiramente na Evonik? Minha carreira inteira foi nesta empresa, mas eu nunca trabalhei como engenheiro!

A Evonik tem parceria com um time de futebol, não? Como surgiu? Sim, com o Borussia, um time espetacular na Alemanha. É o time com maior torcida, muito envolvida e presente, com um estádio lotado no ano inteiro. Fica perto de onde é nossa matriz. Quando fizemos a troca de nome da empresa para Evonik, há dez anos, queríamos entrar na bolsa de valores da Alemanha. Precisamos, então, encontrar uma forma de expor o nome

da empresa de um jeito bem atraente ao mercado, e chegamos à conclusão de que poderia ser por meio desse time, que é tão conhecido no país. Foi excelente, porque o nome da Evonik ficou conhecido no mundo inteiro – não sei se todo mundo sabe o que a companhia faz, mas sabe que está ali na camiseta do Borussia, e isso já é importante para nós. A ideia foi criar uma imagem, e esse time é extremamente interessante, porque existe um fanatismo, um amor dos seus fãs que é inacreditável, inclusive eles têm um slogan que significa “o amor verdadeiro”, e isso combina com nossa filosofia, a paixão pelos negócios. Foi uma associação que deu muito certo e que a gente pretende continuar. Também trouxemos no ano passado a escolinha de crianças do Borussia aqui para o Brasil, para um programa social que é uma escolinha de futebol para crianças carentes. Trouxemos os treinadores do Borussia e fizemos um evento com cem crianças das comunidades, com um treinamento de um dia e meio. A responsabilidade social é um assunto que anda em evidência nas empresas. Como é possível fazer com que o tema não seja só um discurso? Não acho que seja só um discurso. Existem trabalhos muito bons de várias empresas nesta questão de inclusão social. Acho que todas as grandes companhias fazem isso de alguma forma – umas mais, outras menos. O problema é que as dificuldades também são grandes. É muito difícil resolver, por exemplo, o problema de educação no Brasil. Nós, como empresa, não temos como fazer isso; é uma questão de gerações, de governo. Mas nós temos feito o nosso papel. Se

Isso serviu como bagagem para o seu desenvolvimento? Absolutamente! Entrei na área de Marketing, que usava todo o conhecimento técnico para trazer novos produtos para o Brasil e analisar os mercados, desde a disponibilidade de matéria-prima até a capacidade de produção, um foco fora da indústria, mas sempre usando os conhecimentos para poder identificar oportunidades e trazer investimentos. Para finalizar, qual foi o papel da FEI em toda a sua história? Eu tenho uma imagem muito positiva da FEI. Todo mundo falava que era muito difícil concluir (risos). Era uma escola onde você tinha que se virar muito sozinho, ser independente, buscar as coisas. A grande vantagem disso é que você se prepara para o mundo real que vem depois da faculdade. A FEI, sem sombra de dúvidas, prepara as pessoas para enfrentar os desafios de uma forma muito mais forte. É isso que a gente já sentia na época. Você aprende muito nas dificuldades, aprende a se reinventar, a se superar. Eu trouxe um pouco disso para minha vida pós-universidade, e isso sempre me ajudou bastante. Temos vários colaboradores aqui que vêm da FEI – se dependesse de mim, só teria feianos (risos). Meu filho não fez engenharia, mas se tivesse feito, seguramente eu teria recomendado a FEI exatamente por esses aspectos. É uma escola de engenharia e uma escola de vida.

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EMPREENDEDORISMO

Alunos de Administração da FEI desenvolvem modelos

de negócio inovadores

As ideias foram apresentadas e avaliadas por especialistas em empreendedorismo em evento realizado no campus da FEI em São Paulo

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plicar os conhecimentos teóricos aprendidos em sala de aula é um grande desafio para alunos dos mais diversos cursos da graduação. Por isso, é de extrema importância que esses jovens tenham a oportunidade de realizar projetos práticos. E é isso que a Feira de Empreendedorismo proporciona para os estudantes do Centro Universitário FEI. O evento, realizado em maio no campus São Paulo da FEI, chegou à sua 21ª edição e permitiu que alunos de Administração do terceiro e do sexto semestres apresentassem 14 propostas de negócios inovadoras, sendo que nove delas incluíam ferramentas tecnológicas. No terceiro ciclo, uma das disciplinas é a de Sistemas de Informações Gerenciais, o que direciona os trabalhos a serem aplicativos. “Alguns levam esses projetos para o sexto ciclo, amadurecendo a proposta ou aproveitando o conhecimento que adquiriram, unindo-os a uma tendência de mercado de empresas digitais que elaboram novas ferramentas”, explica a professora Eryka Augusto, responsável pela disciplina na FEI. Além disso, os alunos do sexto ciclo precisam desenvolver um plano de negócios, tendo como desafio verificar a viabilidade de seus projetos no mercado. Os trabalhos apresentados variam desde sistemas que mostram estacionamentos mais baratos nos arredores até redes sociais utilizadas para marcar encontros para estudos. Todos foram desenvolvidos pelos próprios alunos, em parceria com a plataforma “Fábrica de Aplicativos”, que ajuda pessoas que nunca mexeram com programação a fazerem suas ferramentas. “Eles conseguem colocar a mão na massa e procurar soluções para todos os impasses que possam ocorrer durante o processo”, explica a professora.

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ALÉM DA TEORIA. Na feira, os alunos aplicam seus conhecimentos na prática e procuram soluções para todos os impasses que possam ocorrer durante o processo

Neste semestre, pela primeira vez, o projeto vencedor – Ecompany – será disponibilizado na Play Store, a loja de aplicativos para smartphones de sistema Android. Feito pelos alunos Clazer Matheus, Giovanna de Almeida, José Victor Ludovico e Rebecca Patrocinio, o Ecompany tem como objetivo alertar e informar sobre as responsabilidades que as empresas químicas devem possuir com os resíduos restantes de suas fabricações. “Qualquer pessoa que baixar o aplicativo pode denunciar algum desvio, mandando foto, vídeo ou até mesmo descrevendo a situação e o local. Há um mapa que separa os resíduos cujos responsáveis não estão identificados e os que foram descartados irregularmente por empresas”, explica Giovanna. De acordo com a estudante, esse tipo de projeto contribui para a vida profissional e pessoal porque é

um grande desafio realizado em um curto período de tempo. “Foram necessários muito estudo, paciência, trabalho em equipe para que desse certo. São experiências que nos aperfeiçoam”, diz ela. Para o professor Luiz Sakuda, do Departamento de Administração da FEI e coordenador do evento, é de extrema importância que os modelos de negócios também sejam viáveis, assim, os alunos participantes conseguem desenvolver competências verdadeiramente necessárias para o mercado de trabalho. Dessa forma, eles têm oportunidade de trabalhar questões que estão ligadas a problemas reais da sociedade, de curto, médio ou até mesmo longo prazo, com foco em inovação, empreendedorismo e sustentabilidade, que são as linhas de pesquisa dos programas de mestrado e doutorado em Administração da FEI.


SINTONIA. Como o ecossistema empreendedor do Brasil se desenvolveu muito nos últimos vinte anos, é importante mostrar que a FEI está articulada com as relações de mercado

O WalkRun Women foi mais um desses projetos que buscaram solucionar problemas reais da sociedade. As alunas Luciana Ferreira, Kathleen Castro, Lorena Tavares e Rafaela Saboia criaram um aplicativo que conecta mulheres para praticarem corridas ou caminhadas. “Nós criamos um vínculo de partilha com outras mulheres que também praticam atividades físicas, sendo possível trocar experiências e dicas, combinar participações em corridas de rua e permitir que essa experiência sirva de incentivo para a prática de exercícios. Além disso, incluímos as WK’s, que são moedas geradas a partir de cada quilômetro caminhado ou corrido, que poderão ser trocadas por descontos em lojas parceiras, voltadas a esportes e alimentação saudável, ou descontos em corridas de rua”, explica Luciana. O professor Sakuda comenta também que, do ponto de vista pedagógico, a Feira é importante porque ela integra uma série de habilidades que os alunos adquirem no curso, como o trabalho em equipe. “Eles também aplicam conhecimentos de diversas disciplinas em um projeto unificado e ainda têm a oportunidade de expor suas ideias para um público heterogêneo”, explica. “É essencial que consigam adequar seu nível de linguagem para diferentes públicos e explicar uma mesma ideia para

pessoas diferentes. Apresentar a proposta para um aluno de ensino médio é uma coisa, para um investidor é outra.” De acordo com o aluno Brunno Vaz Zanini, integrante do grupo que fez o projeto Fast Park, uma das vantagens é que empresas avaliam o trabalho, e a experiência ajuda a dar uma visão mais profunda de como funciona o mundo dos negócios. Eles ainda tiveram a oportunidade de desenvolver a ferramenta, participando de workshops e com a orientação da professora Eryka. O trabalho de Brunno, Leonardo Henke, Gabriel Paulino Fernandes e Marcildes Barreto foi uma ferramenta de localização de estacionamentos, que mostra a disponibilidade de vagas, os preços e faz reservas. Além disso, eles mapeiam as áreas de risco, como locais com alto índice de roubos, furtos e alagamentos. Um dos avaliadores dos projetos da Feira neste ano foi Thiago Matsumoto, ex-aluno da FEI e investidor-anjo da Anjos do Brasil, uma entidade de fomento a novos empreendimentos. Ele conta que essas atividades conseguem fazer com que os alunos proponham novas ideias de maneira estratégica. “Não é apenas pensar no conceito. Eles precisam encontrar maneiras eficientes de colocar tudo em prática, por meio de planos de negócios”, explica. De acordo

com Matsumoto, essas experiências preparam o aluno para a vida após a graduação. “É muito bacana ver a universidade investindo cada vez mais no lado do empreendedorismo. Esse é um caminho para o futuro, sem dúvidas.” De acordo com o professor Sakuda, como o ecossistema empreendedor do Brasil se desenvolveu muito nos últimos vinte anos, é importante mostrar que a FEI está articulada com as relações de mercado, que é representado com avaliadores de grande experiência profissional. A cidade de São Paulo tem um destaque especial neste crescimento, já que é considerada um dos principais hubs de empreendedorismo do mundo. Apesar dessa evolução, nem todos os empreendedores têm sucesso quando vão colocar suas ideias em prática. O professor Luiz explica que isso acontece por diferentes motivos, já que cada segmento enfrenta um desafio distinto. Ainda segundo o professor, investir na formação é uma das formas de impedir que um negócio dê errado. “Ter esse conhecimento ajuda a compreender melhor a dinâmica empresarial e apoia o planejamento e a implementação – e, muitas vezes, saber que é melhor nem abrir o negócio, ou abortar o projeto antes que recursos sejam alocados desnecessariamente”, diz ele.

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Destaque jovem PROJETO DE VIDA.

Acervo pessoal

Trabalhar com automobilismo sempre foi um sonho de Gustavo Beteli

DO CAMPUS DA FEI PARA O MUNDO Ex-aluno de engenharia conta como é trabalhar na Aston Martin Racing, uma importante equipe britânica de automobilismo

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magine ter a chance de trabalhar em uma equipe de corrida da Aston Martin – umas das marcas mais valiosas de automóveis do mundo – com a responsabilidade de cuidar de toda parte de engenharia da equipe e ainda poder viajar para diversos lugares do mundo. Parece um sonho distante, mas Gustavo Beteli, ex-aluno da FEI, provou que é possível. Ao terminar sua graduação em Engenharia Mecânica, em 2010, Gustavo embarcou para a Inglaterra para fazer mestrado. Chegou ao país sem muito planejamento, apenas com o intuito de prosseguir os estudos e realizar a pós-graduação no exterior. Com a cara e a coragem,

se inscreveu em três universidades e começou a trabalhar em um bar dentro de um clube de tênis. As tentativas começaram a dar resultado. “Passei no curso de Engenharia de Motorsport na Cranfield University e comecei a trabalhar de graça para algumas equipes de corrida que tinham um nível relativamente baixo”, lembra. As coisas começaram a engrenar de vez quando Beteli fez sua tese sobre Protótipo de Le Mans (LMP2), que é um tipo de esporte protótipo – modalidade de carros de corrida desenvolvidos especialmente para competições na estrada ou montanha. “Conheci muitas pessoas e consegui


ATIVIDADES. Gustavo é o engenheiro de pista – ou seja, o responsável por tudo o que acontece no carro. Ele define desde a quantidade de combustível que será colocada até o mapa do motor e das molas, por exemplo

arrumar outros empregos. Tive a chance de trabalhar nas modalidades de Fórmula 3, GP3, LMP2 e GT3. No começo de 2016, recebi a proposta da Aston Martin Racing e aceitei”, explica o engenheiro. A Aston Martin Racing é uma equipe britânica de automobilismo que compete em corridas com carros esportivos. Trabalhar nesse setor sempre foi um sonho de Gustavo, mas sua intenção inicial era atuar em alguma montadora de carros no Brasil, já que o nível de corridas no País ainda é baixo. O que não era planejado e parecia tão distante virou sonho e, depois de tentar a sorte na Inglaterra, tudo aconteceu naturalmente.

Na equipe, Gustavo é o engenheiro de pista – ou seja, o responsável por tudo o que acontece no carro. Ele define desde a quantidade de combustível que será colocada até o mapa do motor e das molas, por exemplo. Mas lidar com os números e estatísticas não é grande desafio para o profissional. Segundo ele, a parte mais difícil é manter-se em sintonia com todas as pessoas que fazem parte do processo das corridas. “Eu diria que 25% do sucesso na profissão se resume à capacidade como engenheiro. Os outros 75% são definidos pelo jeito com que você lida com o restante do time. Todos os dez mecânicos, três pilotos, três engenheiros e as outras pes-

soas envolvidas precisam ter confiança no trabalho, para que todos estejam em um nível alto. Muitos engenheiros encontram dificuldade nessa parte,” explica. E é claro que seu trabalho nunca cai na rotina. O engenheiro costuma viajar durante 120 dias ao ano, para diferentes países. “A maioria das corridas é na Europa, mas acabo indo pra Austrália, Estados Unidos, Dubai e alguns outros. Viajar e conhecer o mundo é realmente excelente, mas o que eu mais gosto é de trabalhar na área que eu sempre quis.” Não se engane achando que a vida de Gustavo é só glamour. O trabalho vai muito além das duas horas de corrida nos finais de semana. “Nós ficamos uma semana em hotéis, aeroportos e pistas. Nos dias de corrida, trabalhamos de 12 a 15 horas para atingir o nível que precisamos”, conta. As corridas de 24 horas, como a Le Mans, também são um grande desafio, já que os funcionários precisam ficar acordados em torno de 40 horas, no controle de tudo o que acontece na prova. Ainda que existam os desafios estratégicos em seu dia a dia, Gustavo conta que não tem a intenção de pilotar. “Lógico que seria bom, mas os custos são muito altos e eu acho que sou melhor como engenheiro. Fico como piloto só no Playstation mesmo”, brinca. Depois dos eventos, existe também a rotina diária do escritório, que envolve toda a parte técnica e de planejamento. “Fazemos relatórios, análises de performance do carro e dos pilotos, realizamos simulações para as próximas corridas, desenvolvemos os carros, e ainda damos suporte aos clientes. O trabalho nunca cai na monotonia, porque cada dia é diferente”, diz. Durante todo esse processo, a importância da FEI ficou mais clara para Gustavo quando ele começou seu mestrado. “Achei que o curso aqui [na Inglaterra] seria extremamente difícil, já que era em outro idioma. Pensava também que teria um padrão mais alto do que o brasileiro, mas me enganei. A FEI tem um grau de dificuldade mais elevado do que as universidades inglesas! Eu percebi que tinha uma base de conhecimento maior do que muitos dos meus concorrentes”, afirma. Para os alunos que querem trilhar um caminho de sucesso, Gustavo aconselha: “Tenha um objetivo profissional, faça o possível para alcançá-lo e não se renda nos primeiros 20 ‘nãos’ que você receber.

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Destaques CAPA

ESPAÇOS EFICIENTES E TECNOLÓGICOS Como a tecnologia e métodos de administração mais eficientes podem tornar uma cidade inteligente? O Centro Universitário FEI tem contribuído com pesquisas para que, no futuro, as cidades se tornem melhores

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á algumas décadas, os anos 2000 eram vistos e aguardados por muitos como a era das pessoas com roupas prateadas, carros voadores ou até mesmo sistemas de teletransporte. Mas a virada do milênio chegou, e a primeira década do novo milênio passou sem que isso tudo tivesse se tornado realidade. Mas uma coisa é certa: moderno, agora, é ser cada vez mais eficiente e sustentável. O futuro é, na verdade, a era das cidades inteligentes – um conceito que vai além apenas de tecnologia. Uma tese desenvolvida no Centro Universitário FEI pelo executivo de TI e consultor empresarial Marcos Cesar Weiss, doutor em Administração pela Instituição, se dedicou ao

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tema e investigou os conceitos disponíveis na literatura voltada ao assunto, propondo ferramentas para levá-lo a um novo patamar. “As cidades inteligentes começam a partir de uma infraestrutura digital. Elas ganham inteligência à medida que vão explorando essa infraestrutura para implementar sistemas de informações e tecnologias próprios para a gestão da cidade, além de permitir que a sociedade também desenvolva soluções para tal”, explica Weiss. Soluções ecoeficientes, como utilização de energia limpa e reaproveitamento de água, são alguns dos aspectos que podem ter uma melhor gestão por meio da utilização de sistemas e tecnologias, mas não são necessa-

riamente itens que determinam uma cidade inteligente – embora esses assuntos possam ser muito beneficiados em um município com este perfil tecnológico. “Para o desempenho mais eficiente, é necessário utilizar diversas tecnologias habilitadoras, que vão desde os sistemas de informações integrados até tecnologias mais avançadas, como internet das coisas (IoT, na sigla em inglês), big data, computação em nuvem, inteligência artificial, entre outras”, enumera o professor. A instalação de sensores, por exemplo, é interessante para solucionar várias questões, especialmente em grandes cidades. Com eles, a iluminação de uma praça pública poderia


ser acompanhada em tempo real. No caso de queimar alguma lâmpada, tornando áreas mais escuras propensas a assaltos, câmeras de segurança seriam direcionadas para a região, ao mesmo tempo em que a prefeitura seria acionada para substituir as lâmpadas defeituosas. Para vagas de estacionamento, sensores seriam úteis para identificar quais áreas são mais procuradas em determinados horários. Com um aplicativo, isso permitiria ao usuário planejar seu itinerário antes mesmo de sair de casa. A coleta de lixo também seria mais eficiente se sensores avisassem quando é necessário recolher o material de lixeiras públicas.

MAIS DO QUE TECNOLOGIA

As possibilidades são infinitas, mas o uso da tecnologia é apenas um meio. O mais importante em uma cidade inteligente não é o aparato tecnológico, mas a forma como a administração pública local é estruturada para, como consequência, utilizar tudo isso, elevando o seu nível de serviço e transparência. É fato que conectividade e sensores instalados por todos os lugares podem proporcionar facilidades para uma série de atividades em uma cidade. Isso sozinho, porém, não torna uma cidade inteligente. Para o professor Roberto Bernardes, do programa de pós-graduação em Administração da FEI e orientador das teses de doutorado de Marcos Cesar Weiss (defendida em 2016) e de Márcio de La Cruz Lui (com tema semelhante, prevista para ser concluída em 2018), os estudos mostram que existe uma diferença entre uma cidade digital e uma cidade inteligente: é necessário que todas as ferramentas possam ir além da mera infraestrutura digital – que, sim, serve de base para outras iniciativas, mas não somente isso. “Na cidade inteligente, todos os processos de planejamento e de tomada de decisões são realizados de forma mais eficiente, com base no intensivo uso de dados e informações de diferentes origens e que são consolidados para permitir que sejam realizadas projeções e simulações em diferentes áreas da administração pública de forma mais assertiva”, comenta Bernardes. Outro aspecto a ser considerado nas cidades inteligentes é a intensa produção de conhecimento. Isso pressupõe um engajamento dos atores da cidade – poder público, empresas, academia e cidadãos – na produção desse conhecimento e na interação com o poder público. Afinal, os cidadãos não são

“As cidades inteligentes começam a partir de uma infraestrutura digital. E ganham inteligência à medida que vão explorando essa infraestrutura para implementar sistemas de informações e tecnologias próprios para a gestão da cidade”, diz Marcos Cesar Weiss

meros usuários passivos e detêm uma vivência prática, que pode ser muito útil para tornar os serviços mais eficientes e melhorar a qualidade de vida de todos. Além disso, uma cidade inteligente busca conexões – e não apenas entre dispositivos: ela é colaborativa, inovadora, empreendedora e globalizada. Existe incentivo para que o conhecimento gerado ali e as soluções desenvolvidas para as questões locais sejam levados para outras cidades e adotados como melhores práticas.

NOVA METODOLOGIA

Ao iniciar sua pesquisa, Marcos Cesar Weiss se deparou com uma profusão de conceitos para o que poderia ser chamado ou não de cidade inteligente. Um aspecto, porém, era comum a todos eles: a utilização de tecnologias de informação e comunicação (TICs) – e, mesmo assim, tratando essas tecnologias de forma genérica ou se baseando em tecnologias emergentes, como a internet das coisas e big data. A questão, então, focava em identificar quais tecnologias de informação e comunicação poderiam progressivamente habilitar a cidade inteligente e como elas deveriam se integrar. Com isso, Weiss identificou a necessidade de criar um modelo analítico capaz de avaliar a existência, aplicabilidade e integração de tecnologias para, a partir disso, definir uma espécie de rota para a cidade inteligente.

“Meu objetivo era conceber um modelo capaz de avaliar a existência e o uso das tecnologias na gestão das cidades, mas percebi que poderia antes oferecer à comunidade um novo conceito para o que seria uma cidade inteligente”, explica Weiss. Para ele, o uso da tecnologia não pode descaracterizar a cidade de seu contexto cultural e histórico. “Me baseei em uma abordagem mais humanista para definir a cidade inteligente como aquela que realiza a implementação de tecnologias da informação e comunicação de forma a transformar positivamente os padrões de organização, aprendizagem, gerenciamento da infraestrutura e prestação de serviços públicos, promovendo práticas de gestão urbana mais eficientes em benefício dos atores sociais, resguardadas suas vocações históricas e características culturais”, conta. Com isso, o modelo também precisaria avaliar o potencial para a aplicação das ferramentas para melhorar as cidades. O modelo proposto, então, divide a gestão da cidade em seis domínios: administração e governança, gestão dos serviços públicos, gestão da infraestrutura pública, serviços eletrônicos à comunidade, plataforma de serviços, inovação e empreendedorismo. Cada um desses domínios se divide em mais seis dimensões (confira o quadro nas páginas 30 e 31). Para cada uma das 36 dimensões, foram definidos níveis de prontidão, que é o potencial para determinado serviço conversar com outros. O nível de prontidão varia entre

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CAPA inexistente (1), elementar (2), automatizado (3), integrado (4) e avançado (5), e cada nível de cada dimensão tem uma funcionalidade ou grupo de funcionalidades específicas para a dimensão avaliada. Para demonstrar e explicar o modelo, surgiu, então, a ideia de se utilizar a teoria das redes complexas. “Pense em uma rede social, como o Facebook. Nela, existe uma pessoa A, que conhece uma pessoa B, que, por sua vez, conhece uma pessoa C, que, por fim, conhece uma pessoa D. Em uma rede complexa, independente dos graus de separação, é como se a pessoa A também estivesse ligada à pessoa D”, define Weiss. No caso das cidades inteligentes, a teoria também pode ser aplicada. Em vez de pessoas, porém, o que forma a rede são as possibilidades de integração das tecnologias aplicadas às diferentes dimensões da gestão da cidade. “Com isso, eu crio uma rede modelo que garantiria um encadeamento entre as dimensões de sistema de informações da cidade”, acredita Weiss. Imagine um sistema de gestão de saúde com diversas funcionalidades, como cadastro de usuários, prontuário eletrônico, marcação de exames e consultas, endereços de farmácias, estoque de medicamentos, informações sobre limitação de mobilidade dos

usuários etc. Um sistema como esse poderia gerar facilmente estatísticas sobre atendimentos, utilização do sistema hospitalar e ocorrências de doenças, por exemplo. Esse sistema pode interagir com outros sistemas, como o de gestão da educação. A rede de ensino pode ter uma base de dados com o cadastro de alunos, professores, histórico escolar, material didático etc. Ambos os sistemas podem estar conectados. Assim, se vários estudantes de determinada escola aparecerem no pronto-socorro com sintomas de sarampo, por exemplo, os sistemas facilmente cruzariam os dados e alertariam a escola para que providências fossem tomadas a fim de evitar a proliferação da doença. “Se esse sistema de educação não tiver algum tipo de interação com a saúde, ele limita a inteligência da escola e vice-versa. Além disso, informações para gestão de risco e suporte à decisão podem chegar com maior rapidez e assertividade aos gestores”, comenta Weiss. Para confirmar a viabilidade do modelo, Weiss o aplicou a quatro cidades: Barueri, Santos, São Bernardo do Campo e Sorocaba, todas no Estado de São Paulo. Algumas descobertas foram bem interessantes. Barueri, por exemplo, tem um conjunto de iniciativas tecnológicas muito práticas,

conduzidas pela própria prefeitura. A cidade conta com um cartão inteligente, com o qual o morador interage com a prefeitura em uma série de demandas: pode marcar consultas médicas, localizar uma farmácia popular e saber sobre o andamento de protocolos de atendimento. De tão eficientes que alguns serviços públicos se tornaram, munícipes de cidades vizinhas passaram a procurar Barueri, o que aumentou a demanda local e tornou a cidade referência para esse tipo de tecnologia. Já Santos demonstrou elevado nível de aplicação de tecnologias para a gestão de risco, monitoramento da cidade por meio de sensores, informações geográficas, zeladoria e gestão da educação, além de ter certo preparo no que se refere ao fomento da inovação e do empreendedorismo, enquanto Sorocaba tem iniciativas interessantes em serviços eletrônicos, mobilidade urbana e saúde. “Meu objetivo não é substituir as definições ou modelos avaliativos que existem no mercado e na literatura acadêmica, mas, sim, complementar. A minha contribuição na criação desse modelo de análise é ajudar o poder público e a sociedade a avaliar e planejar com mais critério o uso da tecnologia da informação na cidade”, concluiu.

COMO AVALIAR UMA CIDADE INTELIGENTE

O método desenvolvido por Marcos Weiss busca conexões entre 36 dimensões divididas em seis domínios de um município.

SERVIÇOS ELETRÔNICOS À COMUNIDADE • Acesso à internet

• Transações tributárias e permissões • Informações e interações com cidadãos • Informações e interações com empresas • Informações e interações com turistas • Informações e interações com outras cidades

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ADMINISTRAÇÃO E GOVERNANÇA

• Conformidade e gestão de riscos • Planejamento e finanças públicas • Ativos e suprimentos • Recursos humanos • Compras públicas • Informações gerenciais

PLATAFORMA DE SERVIÇOS • Acesso público à internet de alta velocidade • Hospedagem e computação em nuvem • Centro de comando e controle • Sistemas de georreferenciamento • Sistemas de sensores • Análise de grandes volumes de dados


CRIAÇÃO EM CONJUNTO

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árcio de la Cruz Lui está no segundo semestre do doutorado em Administração e também tem se dedicado a estudar as cidades inteligentes. Seu foco é na cocriação de novos serviços: de que maneira isso pode contribuir para uma cidade ser considerada inteligente? Afinal, a população das áreas urbanas tende a aumentar ainda mais nos próximos anos: estima-se que, em 2020, cerca de 60% das pessoas em todo o mundo viverão em áreas urbanas. Por conta disso, é necessário que os serviços sejam cada vez mais eficientes. O projeto de Márcio ainda está em fase inicial e os benefícios das iniciativas colocadas em prática a partir de modelo de cocriação ainda não foram apontados. A questão abordada por Cruz Lui, porém, já vem sendo apontada por especialistas como uma tendência para o futuro de cidades inteligentes. Para que os serviços sejam cada vez mais eficientes, ele propõe uma junção de esforços entre o poder público, a iniciativa privada e a própria população. “O cidadão não é um consumidor, ele é um usuário do serviço público. A cocriação

é, portanto, um pilar importante numa cidade inteligente. Quanto mais o cidadão participa, mais eficiente a cidade se torna. Precisamos cocriar para que haja uma melhora na qualidade dos serviços entregues, e não há nada melhor do que perguntar ao cidadão o que ele quer para uma cidade inteligente”, afirma Lui. Uma empresa privada detém, por exemplo, meios e tecnologias para colocar iniciativas em prática. Depende, porém, de informações e autorizações que só a prefeitura é capaz de fornecer. O cidadão, por sua vez, detém a experiência para apontar de que maneira determinada solução seria mais bem aplicada à sua realidade.

GESTÃO DOS SERVIÇOS PÚBLICOS

GESTÃO DA INFRAESTRUTURA PÚBLICA

• Saúde • Educação • Segurança • Serviços e ações sociais • Mobilidade • Zeladoria pública

ALÉM DOS LIMITES DA CIDADE

Quando se fala em cidades inteligentes, os municípios rurais não podem ficar de fora. Afinal, é de lá que vem o alimento e boa parte da matéria-prima para quase todas as nossas atividades. Todas as iniciativas para o desenvolvimento inteligente, portanto, devem levar em conta a integração entre o campo e a cidade,

• Transporte e tráfego • Energia • Água e saneamento • Edifícios e espaços públicos • Resíduos e lixo • Meio ambiente

ainda mais se o êxodo de pessoas para as cidades for considerado. “A associação das novas tecnologias com uma nova forma de pensar e encarar o mundo abre uma nova perspectiva de desenvolvimento para a sociedade”, comenta o professor Fábio Lima, do Departamento de Engenharia de Produção “E isso também vale para a forma como as atividades são conduzidas no campo – afinal, a produção agropecuária interfere em todos os demais setores da sociedade.” No campo, os equipamentos como tratores, plantadeiras e colheitadeiras já evoluíram muito tecnologicamente e com o uso da conectividade, informações sobre produção, gasto de combustível e até necessidade de manutenção podem ser enviadas em tempo real para o escritório e acessadas via smartphones. Uma tecnologia estudada, segundo o professor Fábio, é a presença de veículos autônomos, ou mesmo o uso de drones para monitoramento e pulverização, o que pode aumentar ainda mais a produtividade e melhorar a integração entre o campo e a cidade.

INOVAÇÃO E EMPREENDEDORISMO

• Capacitação pela internet • Colaboração e rede social • Comunidades virtuais de pesquisa e desenvolvimento • Desenvolvimento de soluções para a cidade • Abertura de dados na internet • Internet das coisas

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CAPA MELHORES PRÁTICAS. Medellín

EDIMBURGO (ESCÓCIA)

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vem desenvolvendo a capacidade e estrutura organizacional das entidades que controlam a mobilidade, o meio ambiente e a segurança

INICIATIVA GLOBAL Alguns lugares no mundo já vêm adotando soluções de cidades inteligentes de maneira bem sucedida e servem de inspiração para outros locais MEDELLÍN (COLÔMBIA)

Medellín é uma cidade que deixou de ser conhecida por seus problemas de segurança para se tornar uma referência internacional em inovação tecnológica e social, transformação urbana, equidade e participação cidadã. A cidade tem implementado uma série de estratégias no caminho para se tornar uma cidade inteligente, que estão desenvolvendo a capacidade e estrutura organizacional das entidades que controlam a mobilidade, o meio ambiente e a segurança. É esperado que essas entidades possam ser integradas em um único centro de controle, que permitirá monitorar as operações da cidade. Todas as iniciativas compartilham uma característica: elas foram orientadas para o cidadão e criaram mecanismos para se comunicar e interagir com eles, a fim de promover a melhoria contínua dos serviços inteligentes. Medellín está implementando projetos para a criação de áreas de acesso gratuito à

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internet, centros de acesso da comunidade à tecnologia da informação e comunicação (TIC), a cocriação por meio do portal MyMedellín, dados abertos, transações on-line e outros serviços buscando a participação dos cidadãos, governo aberto, inovação social na resolução de problemas e sustentabilidade do projeto. Outra iniciativa é a criação do Sistema de Mobilidade Inteligente. Com o uso da tecnologia em um centro de operações e uma gama de serviços de monitoramento e controle, a cidade conseguiu reduzir os índices de acidentes, a melhoria da mobilidade e a diminuição do tempo de resposta a incidentes. Na área ambiental, a Rede de Monitoramento e Qualidade do Ar se conectou à rede de cuidados de emergência para a integração do serviço de forma articulada. Essas iniciativas usam modelos operacionais que integram parcerias público-privadas, acordos entre diferentes níveis e entidades governamentais, a participação da academia e de instituições de inovação, ciência e tecnologia.

O poder público disponibiliza serviços digitais que contemplam informações e canais de comunicação com os cidadãos, empresários, instituições educacionais e visitantes, abrangendo mobilidade urbana, zeladoria urbana (incluindo manutenção de vias), sistema de fornecimento de energia elétrica, coleta de lixo, serviços de saúde e atendimento à população, planejamento urbano, desenvolvimento, sustentabilidade, registro de alunos para o sistema educacional público, assistência social (incluindo programas de moradia e recolocação profissional), princípios de governança, relatórios de situação financeira do poder público, locais e horários de atendimento à população em agências de atendimento; sistema para automação de fluxo de trabalho interno etc.

SANTANDER (ESPANHA)

Desde 2010, mais de 12 mil sensores têm sido colocados ao redor do centro da cidade, onde medem tudo, desde a quantidade de lixo em contentores, o número de vagas de estacionamento disponíveis, até a quantidade de pessoas nas calçadas. Além disso, os sensores em veículos como carros de polícia e táxis medem os níveis de poluição do ar e as condições do trânsito. Os dados desses sensores fluem para sistemas que analisam as informações em tempo real e dão aos funcionários da cidade informações que lhes permitem ajustar a quantidade de energia utilizada, o número de coletores de lixo necessários em uma determinada semana e quanta água será utilizada para a manutenção dos jardins e parques. Um aplicativo em fase de implementação aproveitará dados dos sensores que medem o som de modo que, quando eles captarem a frequência de uma sirene de ambulância, o sistema de controle de trânsito entre em ação e crie uma faixa prioritária de luzes verdes para que a ambulância possa chegar ao hospital mais rápido. A cidade está abrindo seus dados para que os programadores possam criar aplicativos que ajudem os cidadãos a encontrar horários de ônibus ou descobrir quem está se apresentando nas salas de concertos, simplesmente apontando seus celulares em uma parada de ônibus ou para um prédio.


FUTURO NA PRÁTICA Pesquisas e projetos do Centro Universitário FEI desenvolvem conceitos que serão amplamente colocados em prática no contexto das cidades inteligentes

U

ma cidade inteligente faz uso de conceitos que podem ir além da tecnologia, mas ela não é dispensada em momento algum. Soluções para o dia a dia de cidades cada vez mais eficientes usam tecnologias de última geração. O Centro Universitário FEI tem contribuído para que essas cidades inteligentes tomem forma, por meio de pesquisas desenvolvidas nos diversos departamentos para elevar a tecnologia para outro patamar. Nesta matéria especial, apresentamos algumas dessas iniciativas.

TECIDOS CONECTADOS

Não é só uma cidade que pode ser inteligente. Casas também podem adotar o conceito – com uma adaptação na escala e na natureza das tarefas desenvolvidas. O conceito de casas inteligentes tem crescido bastante e inclui uma gama de dispositivos tecnológicos para garantir agilidade, conectividade, conforto, automação e qualidade dos produtos para o lar. E isso envolve até o tecido com que os itens são feitos. Com o avanço da tecnologia, foram criados os tecidos inteligentes, que desempenham funções que vão além de apenas vestir. É o caso de roupas com proteção contra raios ultravioleta (UV), tecidos com tecnologia antiamarrotamento ou até condutores. São os tecidos eletrônicos – ou e-textiles, dotados de componentes e fios condutores na sua estrutura. Os e-textiles oferecem diversas possibilidades. Um trabalho multidisciplinar que está sendo desenvolvido na FEI pela aluna Thais Puccinelli, do curso de Engenharia Têxtil (e seus orientandos Profª Camilla Borelli, do Departamento de Engenharia Têxtil, e Prof. Renato Giacomini, do Departamento de Engenharia Elétrica) tem como objetivo estudar as possibilidades de se utilizar um tecido tou-

ch, sensível ao toque, aliado a outros sensores eletrônicos, a fim de transformá-lo em um artigo para o lar. Além disso, a aluna quis analisar a eficiência de tecidos touch em capas de sofá ou almofadas, com o intuito de conectá-los a dispositivos eletrônicos. Os métodos de controle podem ser desde um painel elétrico, um aplicativo no celular ou até um tecido eletrônico. Uma capa de sofá inteligente, por exemplo, é um modo de acionar e controlar itens como televisão, ar-condicionado e lâmpadas. Para ser sensível ao toque, um tecido precisa ser equipado com fios condutores. Os componentes recebem um revestimento para evitar que deem choque e também permitir que o tecido seja lavado. Segundo a professora Camilla, uma aplicação prática que deve ser lançada em breve é o Projeto Jacquard, uma jaqueta feita a partir de uma parceria entre o Google e a marca de roupas Levi’s. Com tecido condutor, a peça se conecta a outros dispositivos via bluetooth e permite interações como trocar de música ou consultar o sistema de GPS do celular.

INTERNET DAS COISAS

A conexão de objetos à internet é uma das bases para o gerenciamento de cidades a partir da tecnologia. O conceito pode ser aplicado em larga escala, mas também pode ser restrito a uma residência, escola ou comércio, por exemplo. Imagine ter dentro de casa equipamentos que “conversam” entre si: geladeira que faz lista de compras, carro que anda sem motorista, lixeira que separa os resíduos, computador que atende a um comando de voz, termostato que controla a temperatura da casa, pulseira que registra os movimentos do usuário, mesa

A internet das coisas é considerada a mais promissora revolução tecnológica desde o advento da própria internet.

que reconhece o comportamento do dono e até fechadura inteligente que transforma o smartphone em chave para abrir a porta. Esses são apenas alguns exemplos do que é possível acontecer por meio da conexão dos objetos com a internet, conhecido como a Internet das Coisas (ou Internet of Things – IoT, em inglês). Considerada a mais promissora revolução tecnológica desde o advento da própria internet, a IoT começou a ser projetada em 1991 (o termo, porém, só foi criado em 1999). Estimativas indicam que, até 2030, ela deve movimentar cerca de 11,4 trilhões de dólares, com mais de 100 bilhões de dispositivos ativados no mundo. O Centro Universitário FEI também investe nesse setor e já desenvolve algumas linhas de pesquisa. Os projetos tiveram início em outubro de 2014, quando foi firmado um acordo de cooperação entre a Instituição e a Telefônica Vivo para criação de um espaço que permitisse estudos na área, a fim de garantir inovações e usabilidade para os ambientes digital e mobile. O laboratório atende os cursos de Ciência da Computação, Engenharia Elétrica e Engenharia Têxtil, com a oferta de recursos e bolsas de estudo para a realização de pesquisas. O profissional de Ciência da Computação Wesley Dal Col Von Doelinger, formado na FEI em 2013, desenvolveu um trabalho de mestrado que visa identificar perfis de atletas baseados em dados coletados durante os exercícios, como batimentos cardíacos, respiração, temperatura e velocidade. A pesquisa, que recebeu o apoio do Departamento de Engenharia Têxtil da FEI, usa o princípio da Internet das Coisas para coletar os dados por meio de um conjunto de sensores instalados nas roupas, que se comunicam com outros dispositivos para fazer o processamento e entender o significado das informações. Esses dados podem adicionar informações inteligentes que permitam aos treinadores, por exemplo, traçar o perfil do atleta para aplicar treinamentos específicos que visam um melhor desempenho, além de ajudar os próprios atletas a obter um feedback do treino.

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CAPA

INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

Alunos do Centro Universitário FEI desenvolveram alguns trabalhos baseados em IA com aplicação em saúde e meteorologia, por exemplo Sistemas inteligentes podem ter a capacidade de aprender e tomar decisões sozinhos. A Inteligência Artificial (IA) sempre foi alvo de muitas especulações e debates. Digna de grandes expectativas, essa área de pesquisa ligada à Ciência da Computação visa a criação de sistemas que aprendem a tomar decisões corretas e de forma automática. Novidades com recursos da IA estão cada vez mais presentes no dia a dia das pessoas. No Centro Universitário FEI, os últimos anos têm sido de importantes avanços em estudos de inteligência artificial. Aqui estão alguns trabalhos desenvolvidos com base na IA.

MONITORAMENTO ATMOSFÉRICO

Com objetivo de avaliar o comportamento de descargas atmosféricas na região de São Bernardo do Campo, seis estudantes dos cursos de Engenharia Elétrica, Mecânica e Ciência da Computação da FEI, juntamente com os professores Reinaldo Bianchi e Mario Kawano, do Departamento de Engenharia Elétrica, e Rosangela Gin, do Departamento de Física, desenvolveram sensores elétricos e óticos que ficam espalhados pelo campus da FEI para monitoramento de tempestades. Capazes de capturar e armazenar informações como tipo de relâmpago (duração, periculosidade, quando ocorreu e outras características), os sensores óticos identificam e classificam os fenômenos por meio do recurso de visão computacional de inteligência artificial. Conhecer os fenômenos nos permite saber quais tempestades podem provocar enchentes, qual o período de maior atividade e quais as áreas de maior risco, permitindo maior agilidade no auxílio aos órgãos de Defesa Civil.

PERSONALIZAÇÃO

Um sistema de automação residencial inteligente baseada em comportamentos desenvolvido pelo professor do Departamento de Ciência da Computação da FEI Flavio Tonidandel utiliza IA e identifica os habitantes por meio das combinações de roupas e acessórios, além de aprender os hábitos de cada morador para desempenhar automaticamente ações repetitivas.

DOENÇAS PSIQUIÁTRICAS

O projeto, coordenado pelos professores Carlos

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Eduardo Thomaz e Paulo Eduardo Santos, do Departamento de Engenharia Elétrica, visa a criação de modelos computacionais de análise de neuroimagem do cérebro humano para detecção de desordens cerebrais. O programa é submetido a modelos matemáticos de IA, que decidem se aquela imagem é de um cérebro com Alzheimer e por quê. O programa é desenvolvido com a ajuda de radiologistas e psiquiatras da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

RECONSTRUÇÃO DE FACES

O professor Carlos Eduardo Thomaz, do Departamento de Engenharia Elétrica, coordena um projeto que propõe a criação de um programa para modelagem e reconstrução de imagens de face de crianças e pessoas desaparecidas. Por meio de ferramentas de reconhecimento de padrões, o programa faz o envelhecimento automático da face do indivíduo, baseado nas características dos familiares, para informar, por exemplo, como a criança estaria cinco anos depois.

CONHECIMENTO ESPACIAL

Coordenado pelo professor do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI, Paulo Eduardo Santos, o projeto trabalha a aplicação de um sistema de raciocínio espacial em robôs a partir de dados de visão estéreo (com duas câmeras, o que permite ver em três dimensões). A partir da informação visual, os robôs conhecem os movimentos dos objetos e seu próprio movimento, começam a explorar outras informações, interpretam os dados e definem ações para mudar aquele ambiente.

MODELAGEM CRANIOFACIAL

Um software desenvolvido na FEI é capaz de analisar dados e modelar próteses craniofaciais personalizadas para pessoas com defeito na face. O software consegue fazer a distinção entre osso e prótese, e classifica partes do crânio humano com recursos da IA, como redes neurais. O projeto foi coordenado pelo professor Paulo Sérgio Rodrigues, do mestrado de Engenharia Elétrica e especialista em visão computacional.

DIAGNÓSTICO PRECISO

Desenvolvido para auxiliar radiologistas a realizarem um diagnóstico mais preciso, outro projeto

coordenado pelo professor Paulo propõe a criação de um software que, ao encontrar um tumor na imagem de ultrassom da mama, saiba automaticamente se há maior probabilidade de ser maligno ou benigno. O programa possui recursos de IA para tomar decisões a partir de um banco de dados com todas as características dos tumores. A realidade aumentada é mais uma tecnologia trabalhada na FEI, na qual o computador é capaz de reconhecer e codificar um símbolo, por meio de um marcador artificial. A novidade é que o sistema combina iluminação, textura e cor de modo a tornar a composição final mais realista.

SAÚDE INTELIGENTE

O gerenciamento inteligente com o uso da tecnologia também pode ser aplicado à área da saúde. Por meio de equipamentos e softwares, é possível ter acesso às informações dos pacientes e pesquisar sobre enfermidades e históricos, colaborando para o atendimento mais ágil e eficiente. Com este foco, o Centro Universitário da FEI, em parceria com a Volans Informática e com verba da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), desenvolveu um software para digitalizar e gerenciar os prontuários do Centro de Pesquisas em Pescoço e Cabeça do Complexo Hospitalar Heliópolis, em São Paulo. Por meio do projeto “Pesquisa Estatística Baseada no Acervo Digital de Prontuário Médico do Paciente em Telemedicina Centrada no Usuário (PEADPMPT)”, cerca de 20 mil prontuários de atendimentos realizados desde a década de 1970 foram digitalizados e, juntamente com os novos, passaram a ser gerenciados. A medida também facilita as pesquisas médicas e permite uma interface mais apropriada às ações dos médicos e profissionais envolvidos. O acervo digital permite uma pesquisa clínica e estatística mais apurada, além da segmentação de pacientes a partir de características comuns.

COOPERAÇÃO

Outra iniciativa do Centro Universitário FEI referente à saúde é um convênio de cooperação científica com o Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (InCor - HCFMUSP) para o desenvolvimento de pesquisas envolvendo aplicação de tecnologia à medicina. Por meio de modelos


AGENDAMENTO INTELIGENTE

O trabalho de conclusão de curso “Agendamento de cirurgias eletivas: modelagem e simulação em um hospital público da cidade de São Paulo”, das ex-alunas Priscila Prevedello, Priscila Okumura e Ana Laura Sannomiya, visa, por meio de um algoritmo, a programação das cirurgias para alocar o maior número de procedimentos em cada sala, respeitando todas as restrições do centro cirúrgico. Para isso, são utilizadas variáveis como disponibilidade de leitos e equipe médica, urgência do

EDIFÍCIO-MODELO

paciente e cancelamento de cirurgia, para priorizar os atendimentos. O projeto “Gestão Dinâmica dos Ambulatórios, UTIs, Pronto-socorro e Centro Cirúrgico de um Hospital Universitário” busca a otimização do planejamento e agendamento de pacientes eletivos para cirurgias cardíacas. Por meio de indicadores administrativos, o estudo visa diminuir o tempo de espera no agendamento de cirurgias e o custo do hospital. O trabalho de Iniciação Científica do estudante de Engenharia de Produção Rodrigo dos Santos Campagnoli também visa otimizar o centro cirúrgico por meio da criação de um modelo matemático que organiza os horários das cirurgias. Também foi desenvolvido o modelo de simulação proposto no TCC “Simulação dos Processos Ambulatoriais de um Hospital Público Especializado em Cardiologia”, de autoria de Felipe de Almeida Guardia, Vanessa Dias da Silva e Giovanni Augusto Maccheri, sob a orientação do professor João Chang Junior, do Departamento de Engenharia de Produção da FEI, que tem como principal objetivo analisar, com o auxílio de modelagem e simulação

O edifício The Crystal é um exemplo de como design e tecnologia se unem para criar um dos prédios mais modernos e sustentáveis do mundo. Ele é um microcosmo de como as cidades devem se tornar em um futuro próximo A gestão com o uso de tecnologias também pode tornar edifícios inteligentes. Afinal, um prédio tem diversas variáveis que podem torná-lo mais eficiente, além de diminuir gastos e emissões de poluentes. O professor Ricardo Kenzo, do Departamento de Engenharia Civil da FEI e também diretor de Negócios para Cidades da Siemens, compartilhou um exemplo de como isso pode ser feito. A Siemens resolveu fazer da sede de seu centro global de urbanismo sustentável, localizada em Londres, um gigantesco espaço-conceito nesse sentido. Projetado pelo premiado arquiteto inglês Wilkinson Eyre, o prédio tem o formato inspirado em um cristal – daí o poético nome The Crystal. Em uma área de mais de 6,9 mil m², o edifício é totalmente alimentado por eletricidade. Ali, não se faz uso de qualquer recurso fóssil, como petróleo ou gás. Em contrapartida, o foco é ex-

de dinâmica de sistemas, o funcionamento dos setores ambulatoriais, compreendendo como os seus componentes estão relacionados. O resultado dessas análises mostrou que variáveis como a disponibilidade de médico e o tempo médio de consulta têm grande influência sobre a capacidade de atendimento, causando um aumento no período de espera pela primeira consulta, para a marcação de uma consulta de retorno ou para o agendamento de uma cirurgia eletiva. De posse dessas informações é possível buscar a melhoria do fluxo de pacientes em um hospital e, consequentemente, o aprimoramento do atendimento.

IDENTIFICAÇÃO DE RISCOS

Com participação do professor doutor da FEI Cyro Albuquerque Neto, do Departamento de Engenharia Mecânica, o projeto “Desenvolvimento de Indicador de Fragilidade do Paciente Cardíaco por Meio do Eletrocardiograma” consiste em associar a variação da frequência cardíaca com os resultados de outros exames, para calcular um índice de fragilidade do paciente cardíaco a uma cirurgia.

Divulgação

matemáticos, o Departamento de Engenharia de Produção da FEI começa a otimizar o potencial dos recursos humanos e materiais do InCor. O convênio permite o intercâmbio de conhecimento entre professores do Centro Universitário e médicos pesquisadores do hospital. Entre os benefícios gerados pela parceria, estão a excelência na programação cirúrgica, melhor ocupação dos leitos e salas cirúrgicas, além da gestão de processos para aprimorar os índices de qualidade, como o tempo de espera e o número de cirurgias, atendimentos e taxa de mortalidade.

clusivo no uso de fontes de energia renováveis, quer no próprio edifício, quer na utilização de fontes externas como o parque eólico marítimo London Array (o prédio fica na região das docas a leste da capital britânica). Sob o The Crystal, há dois sistemas de tubulações com extensão superior a 17 quilômetros e chegam a 150 metros de profundidade. Equipados com bombas de calor, esses sistemas atendem a todas as necessidades de aquecimento e refrigeração. Um sistema de painéis fotovoltaicos localizado no topo do The Crystal (com mais de 1.600 m²) gera cerca de 20% da energia consumida em todo o complexo (numa base anual). Outros 19 m² de painéis ajudam a produzir água quente. O prédio consome 42,6% menos energia e emite 65% menos gás carbônico que um edifício de escritórios comum.

O design assegura iluminação e sombras naturais no interior. Além disso, há um sistema de ventilação natural com 150 aberturas de fachada controláveis. As águas da chuva e as residuais são coletadas e purificadas no próprio edifício, a fim de evitar desperdício. O consumo de água e energia pode ser acompanhado em tempo real. Para gerenciar tantas funcionalidades, o The Crystal conta com os seus processos de automação, segurança e prevenção de incêndios totalmente digitalizados, com base em soluções desenvolvidas pela própria Siemens. De tão inovador, o prédio se tornou uma espécie de vitrine das soluções da companhia, tanto que é possível agendar visitas para acompanhar de perto atributos que até recentemente eram vistos apenas em filmes de ficção científica.

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RECONHECIMENTO

Aluno da FEI recebe menção honrosa por pesquisa inédita na área socioambiental Mapeamento de empresas brasileiras que têm impacto social ou ambiental foi tema de TCC premiado de formando em Administração

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Acervo pessoal

E

ncontrar um equilíbrio entre lucro e objetivos sociais é algo que as empresas têm buscado. Por isso, negócios de impacto social – aqueles que oferecem soluções para problemas da população, normalmente de baixa renda – têm crescido nos últimos anos. Apesar dessa expansão, ainda não existia um banco de dados que apontasse todas as companhias desse setor no Brasil. Com isso em mente, Caio Sousa, formando em Administração pelo Centro Universitário FEI, fez um mapeamento com todas essas instituições no País. A ideia nasceu a partir da constatação de que não havia uma base de dados sobre negócios sociais sistematizada e, principalmente, acessível no País. O projeto, que começou como uma iniciação científica e evoluiu para um trabalho de conclusão de curso, ambos orientados pelo professor Edson Sadao, do Departamento de Administração da FEI, recebeu em 2017 a menção honrosa no Prêmio ICE 2016. O prêmio é uma iniciativa do Instituto de Cidadania Empresarial (ICE), que busca incentivar e reconhecer trabalhos acadêmicos sobre finanças sociais e negócios de impacto de todo o Brasil. O trabalho de Caio vai exatamente nesse sentido: além de fazer o mapeamento, ele elabora uma análise dessas organizações quanto aos seus modelos de negócio. De acordo com o orientador, professor Edson Sadao, a ideia de elaborar esse mapeamento surgiu depois da finalização de outro projeto do seu grupo de pesquisa de empreendedorismo e negócios sociais, feito pelo aluno de mestrado Marcello Romani Dias. Marcello foi responsável pela parte teórica, que apontou a falta de casos concretos, na literatura nacional e internacional, sobre o mapeamento dessas empresas de impacto social. Caio seguiu o projeto com a

DESTAQUE. Caio Sousa (à esq.) junto com seu

orientador, o professor Edson Sadao (à dir.)

parte empírica da pesquisa – ou seja, mapeou todos os negócios deste tipo no País. “Hoje, posso afirmar que temos a melhor base de dados do Brasil a respeito do assunto, e isso possibilitou, por exemplo, o desenvolvimento de uma tese de doutorado sobre a temática pelo professor de Administração da FEI, Seimor Walchhutter”, afirma Sadao. A tese de Seimor fez uso da base de dados levantada por Caio para realizar um estudo de caso de quatro empresas e suas práticas sociais, a fim de estabelecer um modelo teórico do que pode ser considerado um negócio social. “Até então, era possível observar as práticas das empresas referentes a questões sociais, mas não havia uma base teórica sobre o assunto”, diz Sadao. Agora, a ideia é dar continuidade aos trabalhos junto ao grupo de pesquisa. O próximo passo, segundo Sadao, é manter os trabalhos de Caio e de Marcello atualizados por outros alunos que fazem parte deste grupo de pesquisa. “Para essa parte mais prática, que envolve muitos dados, costumo indicar alunos

da graduação com trabalhos de conclusão de curso ou iniciação científica, para eles se inserirem no ambiente acadêmico”, diz Sadao. Por existir essa dificuldade no acesso às informações sobre as organizações brasileiras, criar uma base de dados permite que outras pesquisas sejam realizadas a respeito do assunto. O trabalho de Caio, portanto, foi feito de maneira exploratória, já que ele fez um processo de sondagem, em que aprimorou as ideias para conseguir construir sua análise. “No Brasil, já existem bons exemplos de empresas que geram impacto, e nós deveríamos estudá-los. Por isso, acredito que esse trabalho se adequa às necessidades de pesquisa e pode facilitar o processo”, afirma o aluno. Caio reforça que essa foi a primeira vez que esses dados foram compilados e abertos dessa maneira para outros pesquisadores acessarem. Segundo ele, depois da finalização do projeto, outras empresas do segmento já foram abertas – atualizar essas informações, então, seria um trabalho constante. “O objetivo é criar um ambiente compartilhável, para que outros alunos consigam estender o projeto. Acredito que receber o prêmio deu a visibilidade necessária para isso, porque consegui apresentar a ideia para outras pessoas”, explica. Como o aluno iniciou o mestrado em agosto, mantendo-se na área de empreendedorismo, mas focando na parte de ensino e aprendizagem em Administração, ele não dará continuidade ao projeto por enquanto. No total, foram mapeadas 200 empresas, e uma das conclusões de Caio é que a grande maioria (184 delas) busca retorno financeiro de seus investidores. Esse resultado indica que é possível conciliar o lucro com o impacto social e ambiental positivos. E que é possível construir negócios que vão na direção de uma sociedade mais justa, humana e sustentável.


INOVAÇÃO

novos aliados contra o mal de Alzheimer e a asma Pesquisas inéditas na área de processamento de sinais propõem novos bioindicadores para diagnosticar as doenças mais cedo e de maneira mais precisa

A

população está cada vez mais longeva. Na Europa do fim do século 18, a expectativa de vida era de 38 anos de idade. No Brasil, na virada do século 19 para o século 20, a média era de cerca de 30 anos. Em 2015, passou para 75,5 anos. Viver mais é ótimo. Porém, com a população mais velha, a questão da saúde se torna ainda mais importante. Isso porque a longevidade pode gerar enfermidades como demências, sendo a principal delas a doença de Alzheimer (DA). No mundo, há mais de 900 milhões de pessoas com mais de 60 anos. Estima-se que 47 milhões tenham algum tipo de demência – esse número pode chegar a 132 milhões em 2050. A doença de Alzheimer é o tipo mais frequente de demência que atinge a população idosa. Ela não tem cura e é caracterizada pela degeneração progressiva das células nervosas. Além disso, depois dos 65 anos, o risco dobra a cada cinco anos, segundo a Associação Brasileira do Alzheimer. No Brasil, estima-se que o problema atinja cerca de 1,2 milhão de pessoas. A DA pode causar uma série de problemas. Como a doença proporciona a degeneração das células nervosas, o paciente pode ter perda de memória, dificuldade para se comunicar e até perda na autonomia, o que faz com que ele não seja capaz de cuidar de si próprio. Parte dos sintomas iniciais acabam sendo interpretados como naturais do

NOVO BIOINDICADOR. Esta é a representação gráfica da distribuição das densidades superficiais de carga com a

aplicação das wavelets de Meier, para ajudar no diagnóstico do mal de Alzheimer.

envelhecimento, o que pode gerar um adiamento na procura para o atendimento médico e posterior tratamento. Além disso, não há um exame específico que indique a doença. O diagnóstico completamente certeiro só é possível analisando microscopicamente o tecido cerebral – feito apenas durante a necropsia, ou seja, depois do falecimento do paciente. Por conta disso, o diagnóstico da DA é clínico: o médico avalia uma série de hipóteses, históri-

co do paciente e exames complementares para eliminar outras possibilidades antes do seu veredito. Um possível diagnóstico mais precoce ajudaria no tratamento da doença. É o que propõe a dissertação de mestrado do aluno de Engenharia Elétrica Fernandho de Oliveira Freitas, orientada pelo professor Aldo Artur Belardi, do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI. O projeto propõe o desenvolvimento de um novo

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INOVAÇÃO A banca avaliadora da dissertação contou com a participação de José Roberto Cardoso, professor do Departamento de Engenharia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (Poli-USP) e especialista em eletromagnetismo. Para ele, a proposta apresentada é bastante promissora. “É um trabalho que está começando, no qual os autores propuseram metodologia que pode, se confirmada, vir a dar indicações sobre o estado de tecidos cerebrais”, afirma. “O caminho está aberto. Cabe agora investir na continuidade das pesqui-

sas e esperar que os pesquisadores estejam no caminho certo.” Cardoso comenta ainda que a aplicação desses conceitos de engenharia elétrica na área de medicina é inovadora e criativa. “O orientador e o orientado demonstraram competência nesta primeira etapa”, avalia. “A engenharia elétrica é a que mais contribui para avanços da medicina diagnóstica. Esperamos que este estudo iniciado pelos pesquisadores da FEI possa ser mais uma contribuição importante da engenharia elétrica para a medicina.”

ESPIROMETRIA

Com o uso das wavelets, resultados de exames de pulmão ganham parâmetros mais claros para o diagnóstico de uma série de doenças Shutterstock

biomarcador para ajudar a diagnosticar a doença de Alzheimer. Se comprovada a eficácia, será uma forma inédita e inovadora para a identificação da doença. “A ideia é identificar a distribuição das densidades superficiais de cargas elétricas (DDSC) nas regiões do hipocampo, que é um dos principais pontos do cérebro ligados à memória. Ele é uma das primeiras regiões cerebrais que passam por transformações quando a pessoa começa a sofrer de transtorno cognitivo leve – um estágio intermediário entre ter cognição normal e ser um paciente de DA. A ideia era que as DDSC pudessem contribuir como um novo biomarcador para o diagnóstico da DA”, explica Fernandho. Para isso, a ferramenta utiliza conjuntamente alguns conceitos: equações da eletrostática, método dos momentos e wavelets de Haar, tendo como fontes de informação as imagens de ressonância magnética estrutural (RM). “As DDSC foram consideradas um possível novo biomarcador devido à influência de cada carga elétrica em relação às demais. Elas são dependentes da forma do hipocampo, apresentando variações nas regiões de expansão e retração, bem como nas regiões sem variações morfológicas”, aponta o professor Aldo.

RESULTADOS

O novo método se mostrou sensível ao identificar todos os detalhes estruturais do hipocampo em todas as regiões analisadas. “As DDSC podem indicar as regiões estáveis, de expansão ou retração do hipocampo. Por conta disso, concluímos que o biomarcador tem potencial para ser usado com sucesso no diagnóstico da doença de Alzheimer”, comenta Fernandho. O próximo passo é a ampliação dos estudos com as DDSC em populações maiores, com dados demográficos mais vastos e combinação com outros biomarcadores, a fim de identificar padrões discriminantes e preditivos da DA através das DDSC.

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O diagnóstico. Na maioria das vezes, é realizado de forma visual em que o espirômetro fornece um gráfico com curvas que representam o fluxo respiratório em função do tempo.

O

utra dissertação relacionada ao processamento de sinais foi a do engenheiro eletricista Rodrigo Galuzzi. Ele desenvolveu um projeto de mestrado referente à espirometria, um exame da área de pneumologia, especialidade médica dedicada aos pulmões e vias aéreas. A

dissertação propõe uma metodologia na análise dos dados do exame baseada na aplicação da wavelet de Meyer (confira o quadro na página 39). “A metodologia permite uma ferramenta adicional na detecção de patologias do sistema respiratório”, comenta Rodrigo. “A proposta é tornar


A wavelet (ou “onduleta”) é uma função matemática capaz de decompor uma série de dados ou mesmo outra função. Trata-se de uma ferramenta poderosa de processamento de sinais, muito aplicada na compreensão de dados a fim de eliminar ruídos e aprimorar a sua interpretação. Os dados contemplados numa wavelet são, originalmente, descritos no domínio do tempo, mas podem ter outras variáveis independentes, como o espaço, de forma que é possível analisar essa outra função em diferentes escalas de frequência e de tempo. Vários estudiosos se dedicaram ao estudo de wavelets, com direcionamentos diversos para aplicações específicas. Nas pesquisas apresentadas, foram utilizadas as wavelets de Meyer (para o diagnóstico da doença de Alzheimer) e as de Harr (para o exame de espirometria).

o diagnóstico mais preciso, uma vez que o procedimento realizado atualmente pode ser subjetivo em algumas situações, já que se baseia na análise visual de um gráfico. Com a aplicação da wavelet, cria-se um parâmetro mais claro para se identificar possíveis patologias.” A ideia para desenvolver o projeto veio de uma necessidade prática. Rodrigo trabalhou na área médica por dez anos, com assistência técnica e instalação de equipamentos como o espirômetro. Em seu dia a dia, percebeu que muitos resultados de exames geravam dúvidas no médico. “Existem orientações sobre como o médico deve fazer o diagnóstico, mas não havia um estudo científico com em-

basamento”, observa. Além disso, a espirometria é um exame que depende muito da colaboração do paciente (ele precisa soprar corretamente, sob o risco de haver ruído no dado obtido, por exemplo), diferente de um exame de sangue, no qual o laboratório faz todas as análises a partir das amostras coletadas. A metodologia apresentada no projeto de mestrado permite um novo biomarcador para oferecer o diagnóstico – na medicina, chama-se de “biomarcador” qualquer informação que possa ser usada como um indicador de doença ou algum estado fisiológico de um organismo.

Acervo pessoal

WAVELET

COMO O EXAME É FEITO

A espirometria é um exame que ajuda a diagnosticar problemas como asma, doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), bronquite, bronquiectasia, enfisema, fibrose cística, sarcoidose ou fibrose pulmonar. Para isso, um aparelho (o espirômetro) mede a velocidade e a quantidade de ar que um indivíduo é capaz de colocar para dentro e para fora dos pulmões. Alguns indicadores que o equipamento registra são capacidade vital, capacidade vital forçada, volume expiratório forçado, fluxo expiratório forçado e ventilação voluntária máxima. O diagnóstico, na maioria das vezes, é realizado de forma visual: o espirômetro fornece um gráfico com curvas que representam o fluxo respiratório em função do tempo. Os valores obtidos ajudam o médico a classificar o paciente entre normal, obstrutivo (como o nome sugere, com uma dificuldade que obstrui as vias aéreas) ou restritivo (com um problema extrapulmonar – na pleura, por exemplo –, que restringe a expansão do pulmão).

LEVANTAMENTO DE DADOS

Com a ajuda de um médico da região, Rodrigo e o professor Aldo utilizaram amostras de 60 exames de espirometria, sendo 20 de indivíduos considerados normais, 20 de obstrutivos e 20 de restritivos. Cada um desses 20 se dividia ainda entre

NA PRÁTICA. O engenheiro Rodrigo Galuzzi, autor da dissertação sobre o exame de espirometria

dez indivíduos do sexo masculino e dez do sexo feminino. Ao comparar os gráficos dos pacientes, não era possível distinguir os valores numéricos, o que impedia a classificação de pacientes com problemas respiratórios. Após a aplicação das wavelets de Meyer, porém, foi possível observar uma diferença numérica significativa nos resultados dos pacientes normais, obstrutivos e restritivos. Em uma das situações, surgiu uma questão interessante: no diagnóstico visual, um paciente havia sido diagnosticado como restritivo. Com o exame feito a partir da metodologia proposta, porém, seu resultado foi dado como normal. “Em uma situação como essa, o novo parecer não invalida o anterior, mas abre caminho para uma investigação mais detalhada do quadro do paciente”, avalia Rodrigo. O exame de espirometria continua sendo aplicado da mesma maneira. Com o projeto, o que muda é a forma de analisar os resultados. O próximo passo é levar essa pesquisa para o nível de doutorado, a fim de ampliar os estudos e viabilizar a aplicação do modelo no mercado.

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Responsabilidade social

SALA DE AULA.

13 alunos da graduação da FEI são orientados por seis professores e dão aulas para 58 jovens da rede pública

Alunos e professores da FEI expandem projeto de cursinho social Proposta começou com aulas de reforço nas férias e hoje viabiliza a revisão de conteúdos do vestibular para alunos da rede pública

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m julho de 2013, durante o período de férias, a professora do Departamento de Ciências Sociais da FEI, Giselle Agazzi, aproveitou seu tempo para colocar em prática um projeto de voluntariado: começou a dar aulas gratuitas de reforço escolar no Lar Pequeno Leão, uma entidade filantrópica que acolhe crianças e jovens afastados das suas famílias e que fica nas proximidades do campus do Centro Universitário FEI, em São Bernardo do Campo. O objetivo de Giselle era claro: dar um apoio para jovens que tinham uma defasagem muito alta de ensino. A primeira tentativa deu certo e, no ano seguinte, ela convidou os professores Raúl Fernandes e Diego Klautau, ambos do mesmo Departamento da FEI para auxiliarem no projeto. Assim teve início o “Reforço Escolar” da FEI. Com o tempo, a proposta começou a ser mais estruturada. As aulas passaram a ser realizadas todos os sábados de manhã – com isso, os professores conseguiam dar uma continuidade para o conteúdo apresentado. Nesse período,

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Giselle teve que sair do projeto, mas Raúl deu seguimento à iniciativa. A ideia era colocar alunos da FEI para monitorar essas aulas, com orientação dos professores. Por causa da adesão baixa dos encontros aos sábados, as reuniões passaram a ser feitas durante a semana. Além disso, por sugestão do Prof. Diego Klautau, as aulas passaram a ser oferecidas para alunos da rede pública que cursavam o terceiro ano do ensino médio. “Era uma hora de matemática e uma de português. Tínhamos em torno de 30 alunos e ficamos assim por um ano”, explica Raúl. Dayana Rosa Mazini, aluna de Administração da FEI, é uma das monitoras e está no projeto desde 2015. “Já dei aula de português e de história. Hoje, fico na parte de estruturação e dou voluntariamente aulas de espanhol, pois a matéria ainda não faz parte da grade oficial”, explica. A jovem já tinha interesse em seguir a área acadêmica e conta que a possibilidade de dar aulas aumentou ainda mais essa vontade. Com os anos, o projeto expandiu e conseguiu

se consolidar. Hoje, 13 alunos da graduação da FEI são orientados por seis professores e dão aulas para 58 jovens da rede pública de ensino. São lecionadas as matérias de português, matemática, física, química, história e inglês, em aulas de 1h40 de duração, no próprio campus da FEI. “Estamos começando a oferecer conteúdo de geografia e de espanhol, mas ainda não oficialmente – os alunos fazem por conta própria. Das matérias básicas de uma escola, só falta biologia”, diz Raúl. Atualmente, os jovens vão para a FEI quatro vezes por semana e têm duas aulas de matérias diferentes por dia. André Oliveira Bocchi, aluno da E.E. Profª Clarice de Magalhães Castro, é um dos participantes do cursinho. “Quero prestar vestibular para medicina, foi um dos motivos que me fez querer fazer parte, porque preciso aprender o máximo possível para passar. Acredito que com as aulas eu estarei mais preparado”, conta ele. De acordo com o estudante, as aulas são bem dinâmicas, e os alunos têm uma boa relação com seus professores. “São todos ótimos, tenho


muita afinidade com vários. As aulas têm me ajudado bastante com algumas matérias que tenho dificuldade”, afirma. O processo que seleciona quais jovens entram no cursinho também mudou. “Um dos problemas que a gente tinha era começar as aulas com 30 alunos e terminar com 15, por exemplo. Então, este ano, a gente resolveu divulgar em dez escolas da região e fazer uma seleção, para evitar este tipo de problema”, conta o professor. Os interessados preencheram uma ficha de inscrição, onde eles diziam por que queriam fazer parte do cursinho, endereço, horários de disponibilidade de participação, entre outras informações. “Foram mais de cem inscritos, então nós eliminamos os candidatos que não poderiam ir às aulas nos horários determinados e pedimos uma redação como critério para escolher os finalistas”, explica Fernandes. Em cada aula, são apresentados e revistos alguns conceitos básicos das disciplinas, com o objetivo de auxiliar os estudantes que desejam prestar vestibular em qualquer instituição, não apenas na FEI. “Os monitores são selecionados e orientados por nós, professores. No começo do ano, montamos uma programação com as matérias que serão ministradas e fazemos reuniões periódicas para vermos o encaminhamento de tudo”, relata Fernandes. Por ser um projeto acadêmico, os alunos precisam fazer dois relatórios ao ano e cumprir o número determinado de horas. Com isso, eles ganham horas complementares e uma bolsa-auxílio da FEI. De acordo com Raúl, além de possibilitar que esses alunos ingressem em uma universidade, o cursinho também ajuda a inseri-los neste contexto acadêmico, já que muitos não têm contato nenhum com esse universo. “Uma grande parte chega lá sem ter ideia do que é vestibular. Nós notamos que, nos anos anteriores, vários não conseguiram se inscrever no ProUni, porque não sabiam que, para conseguir a bolsa, precisavam do Enem, por exemplo”, conta Raúl. De acordo com a monitora Dayana, o fato de muitos dos monitores serem bolsistas da Instituição colabora para quebrar a visão que alguns desses jovens têm da FEI. “Muitas vezes, eles pensam que a FEI é só para quem tem dinheiro. Nós mostramos que existem outras possibilidades e que eles podem ingressar na universidade com programas de assistência”, diz. Foi o que aconteceu com Larissa Moreno de Olveira, da E.E.Dr. João Firmino Correia de Araújo. “Eu tenho notado um maior desempenho na escola desde que iniciei as aulas no cur-

PREPARAÇÃO. Alunos revisam conceitos básicos das disciplinas para prestarem vestibular em qualquer instituição

sinho e hoje consigo me ver passando no Centro Universitário com uma bolsa, antes não me achava capaz”, conta ela. A estudante também conseguiu decidir para qual curso prestará vestibular com as aulas. “Eu já tinha decidido fazer pedagogia e depois iniciar o curso de administração, mas vi que essa preferência por pedagogia tinha a ver com um bloqueio com exatas, que o cursinho me ajudou a quebrar. Vou prestar para a FEI porque estou certa de que é a melhor escolha para mim”, afirma. Para a aluna, essas aulas ainda vão além porque conseguem mostrar que todos eles são capazes de passar em qualquer prova. “O cursinho também nos ensina a conviver em grupo e aceitar a liderança ou ser a liderança, perdemos a síndrome do ‘patinho feio’ e nos tornamos confiantes para investir no nosso futuro”, finaliza. Mas é claro que o aprendizado vai além. Empolgados, os monitores propõem atividades diferentes daquelas do dia a dia. “No ano passado, eles levaram todos para um teatro. Neste semestre, foram a uma empresa que faz jogos. Nossos alunos entraram em contato, conseguiram isenção da taxa de entrada e pegamos um ônibus mais barato”, lembra o professor Raúl. A próxima atividade proposta pelos orientadores é uma semana das profissões, em que profissionais de diferentes áreas darão palestras sobre o que eles fazem. Os alunos também utilizam os laboratórios da Instituição, com aulas de informática e química. De acordo com Dayana, esse é um dos pontos altos do projeto. “Desde o início, os professores deram liberdade para as novas ideias e para melhorarmos o relacionamento com nossos alunos. Esse é um grande diferencial que nos faz evoluir muito”, afirma. Os resultados das aulas já começaram a surgir. Neste ano, duas alunas que fizeram as aulas passaram no vestibular e atualmente cursam

Administração na Instituição. “Mais pessoas passaram na prova, mas algumas não conseguiram o ProUni”, explica o professor. Para este ano, a expectativa é que em torno de 30 alunos prestem o vestibular da FEI. Giovanna Celestino dos Santos, da Escola Estadual Senador Robert Kennedy, já viu um dos frutos do cursinho. A aluna vai começar um curso técnico no SENAI e conta que já tinha prestado a prova algumas vezes, mas passou somente agora. “Eu fiquei mais preparada com as aulas”, diz ela. Ela quer fazer engenharia, e a FEI é uma das suas opções. “Com o cursinho pude ter certeza que é a profissão que eu quero. O contato com alunos e profissionais da área contribuiu para eu ter certeza da minha escolha. Eu cresci como pessoa, porque tive a oportunidade de frequentar a faculdade e participar dos eventos que acontecem ao longo do ano. Isso é sensacional, você explora um novo mundo, a mente cresce”, diz a garota. A ideia, que começou como algo espontâneo sem maiores pretensões, tem ganhado cada vez mais apoio da universidade. Com autorização da Vice-Reitoria de Extensão e Atividades Comunitárias, o projeto passou a se apresentar publicamente com o nome de “Cursinho FEI”, e a expectativa é que continue crescendo. “Às vezes, eu tenho que segurar um pouco, porque todos têm muitas ideias, mas não podemos perder a qualidade. Vamos aos poucos, sem perder a essência”, finaliza o professor Raúl. Site: http://cursinhofei.wixsite.com/ cursinhofei Facebook: www.facebook.com/ cursinhoFEI/ email: feicursinho@gmail.com

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ARTIGO

É possível estar seguro em nossa vida digital?

A Professor Dr. Ricardo Destro, professor do Departamento de Ciência da Computação do Centro Universitário FEI

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inda que involuntariamente, todas as pessoas hoje possuem seus dados armazenados em computadores ao redor do planeta. Involuntariamente, pois ainda que as pessoas não estejam presentes nas tão populares redes sociais, é inevitável ter sua identidade armazenada em alguma loja virtual, nos bancos ou nos sistemas governamentais! Muitas pessoas se perguntam: é possível estar seguro nesse mundo virtual, onde nossas informações pessoais estão ao alcance de alguns cliques? Assim como no passado, quando as pessoas não estavam conectadas o tempo todo, é possível estar seguro, desde que sejam tomados cuidados básicos. Usar a data do aniversário como senha do cartão de crédito ou não manter seu sistema operacional atualizado é equivalente a deixar a porta e janelas de casa abertas nos anos 1980. Assim como aceitar todos os convites para amizade em redes sociais, independente de conhecer ou não a origem deles, seria como aceitar balas ou carona de desconhecidos. Apesar de toda a divulgação das ameaças virtuais, muitos ainda acreditam que elas ocorrerão apenas com o computador do vizinho. Se antigamente todas estas ameaças eram conhecidas apenas como “vírus de computador”, hoje em dia vários nomes tentam classificá-las: malware, trojan, worm, spyware, phishing etc. Mas por que hoje estamos tão vulneráveis a esses tipos de ataque? Em primeiro lugar, porque o acesso a informação é muito mais simples e constante. Estamos o tempo inteiro online, seja nos nossos computadores ou nos tablets e celulares. Isso significa que, além de poder acompanhar tudo o que está acontecendo via sites de notícias, redes sociais e aplicativos de mensagens, também nos tornamos alvos permanentes para aqueles que fazem da captura de informações um meio para obter vantagens

nem sempre lícitas. Muitas vezes, as informações nem precisam ser capturadas em um ataque sofisticado – basta que sejam coletadas nas redes sociais! Ameaças conhecidas como ransomware são as mais recentes e capazes de sequestrar os dados do computador de um usuário, que precisa pagar o resgate (ransom, em inglês) para que tenha acesso novamente às suas próprias informações. Indivíduos e empresas têm sido vítimas dos ataques de ransomware, e estima-se que tenham gasto milhões de dólares para recuperar seus dados. Obviamente, rotinas de backup efetivas e periódicas simplesmente eliminariam essa ameaça (e poupariam um bom dinheiro!). Como evitar tudo isso? Além dos backups e de manter os computadores pessoais sempre atualizados, cuidar das informações pessoais, controlando as pessoas que devem ter acesso a elas, pesquisar sobre a origem e veracidade de ofertas excepcionais (como músicas, filmes e seriados gratuitos) e não acreditar no completo anonimato da vida online são conselhos óbvios, mas que na prática têm se mostrado realmente difíceis de serem seguidos pelos usuários, que ficam expostos a uma série de ameaças que eles sequer poderiam imaginar na sua jornada exclusivamente analógica! Algoritmos de criptografia cada vez mais modernos permitem a troca de mensagens com segurança, e tecnologias como o blockchain vêm moldando um novo ambiente transacional para empresas e pessoas, trazendo mais segurança e estabilidade ao ambiente virtual. Além disso, há todo um conjunto de profissionais e empresas voltados não apenas a desenvolver estas novas tecnologias mas também para entender a complexidade da migração para a vida digital – afinal, nenhuma inovação será suficiente para garantir a nossa segurança digital se portas e janelas não estiverem trancadas!




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