Domínio FEI 17: A energia do átomo

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Editorial

Ciclo virtuoso

Professor doutor Marcelo Antonio Pavanello Vice-reitor de Ensino e Pesquisa Centro Universitário da FEI

Todos os que estão envolvidos com pesquisas científicas conhecem de perto as dificuldades para se chegar a resultados concretos, o que demanda volume de recursos, equipamentos especializados, pessoal disponível e anos de trabalho. É consenso mundial de que só é possível fazer pesquisas de alto nível por meio de parcerias, que envolvam diferentes atores – da Iniciação Científica ao pós-doutorado – e, na maioria das vezes, diferentes instituições. Além de possibilitarem pesquisas de alto nível, com impacto na sociedade pela geração de conhecimento e inovação, as parcerias também têm uma importante conotação econômica, pois permitem o compartilhamento de equipamentos e de infraestrutura, maximizando os investimentos realizados. Além da questão econômica, outro aspecto fundamental nas parcerias em pesquisa é a possibilidade de compartilhar e complementar conhecimentos para atingir resultados que, isoladamente, seriam menos possíveis ou, na melhor das hipóteses, muito mais demorados. Essa é uma das propostas do Simpósio de Pesquisa do Grande ABC, que envolve sete instituições de ensino superior da região – entre elas o Centro Universitário da FEI. A iniciativa, que partiu dos pró-reitores de Pesquisa, visa inicialmente compartilhar conhecimentos sobre os diferentes temas pesquisados nas universidades para, em um futuro próximo, congregar cientistas das diferentes instituições, o que vai permitir capilarizar conhecimentos gerados. Dependendo do tipo de pesquisa desenvolvido é necessário envolver, além da academia, o setor industrial. Esse trabalho conjunto entre universidades e empresas é muito forte em países desenvolvidos, como Alemanha e Estados Unidos, por exemplo, onde está claramente manifestado que não se desenvolve conhecimento sem a universidade, que é virtuosa nesse aspecto. No Brasil, entretanto, ainda estamos iniciando este processo de forma mais efetiva. Por isso, teremos de nos mover assertivamente para congregar esses dois atores, até que se tornem verdadeiros parceiros. No Centro Universitário da FEI já temos exemplos concretos de parcerias com empresas em áreas como aeroespacial, eletroeletrônica, têxtil e de alimentos, para citar algumas, pois nossa Instituição mantém grande proximidade com o setor produtivo desde a sua origem. Atualmente, trabalhamos para ampliar o conjunto de empresas parceiras. A boa receptividade do setor industrial à possibilidade de novas parcerias com a FEI demonstra a compreensão de que cada ator tem um papel importante a cumprir nesta tarefa fundamental de gerar inovação e desenvolvimento. Um dos desafios para essa parceria com o setor produtivo é o tempo de obtenção dos resultados (ou tempo de resposta) que, na universidade, pode ser superior ao requerido pela indústria. No entanto, com a mútua compreensão de qual é a sua função nesta cadeia, essa dificuldade pode ser facilmente superada, para que ocorra um ciclo virtuoso de parceria. Cabe ressaltar, também, que toda pesquisa precisa de um tempo de maturação, que não pode ser artificialmente acelerado. Esse intervalo deve ser respeitado para que a pesquisa adquira maturidade suficiente para se transformar em um produto ou serviço com benefícios sociais. “Quanto mais sabe, mais sabe que não sabe”. A frase resume bem o espírito que se espera de um profissional, seja ele pesquisador ou não, pois a busca de conhecimento não tem horizontes. Nos últimos 50 anos houve grandes avanços em todos os campos do saber humano, especialmente em tecnologia, mas temos de estar conscientes de que o conhecimento é infinito. Somente com a busca constante pelo conhecimento poderemos encontrar respostas para gerar inovações e desenvolvimento e, assim, continuar colaborando para o bem-estar geral da humanidade.

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Espaço do Leitor

Revista Domínio FEI Publicação do Centro Universitário da FEI

expediente Centro Universitário da FEI Campus São Bernardo do Campo Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3972 – Bairro Assunção São Bernardo do Campo – SP – Brasil CEP 09850-901 ­– Tel: 55 11 4353-2901 Telefax: 55 11 4109-5994

“A FEI foi fundamental em minha vida profissional, e sempre tive preferências nas oportunidades de emprego das quais participei ao longo da carreira. O fato de ser graduado nesta Instituição sempre foi um diferencial positivo nos processos seletivos, como garantia inicial de competência.”

Téo de Holanda Diniz – Engenharia Mecânica Industrial – Turma 1974 “Lendo o último número da DOMÍNIO FEI - nº 16 - que meu filho ‘feiano’ recebe regurlamente, em especial a matéria sobre o lançamento do mestrado em Engenharia Química, lembrei-me dos velhos idos de 1946, quando engatinhava a Escola, meio timidamente, com seus poucos alunos da primeira turma de Química. Foram eles e os da segunda turma que acompanhei, verdadeiros pioneiros, com os quais (alguns sobreviventes) mantive contatos até quando possível, dados os rumos que tomamos pela vida afora. Fui o primeiro secretário da FEI desde sua criação, em 1946, quando da primeira turma de alunos da Engenharia Química (eram 23 ou 26), em salas de aulas e laboratórios ainda precários na rua São Joaquim, na Liberdade, em São Paulo.

Cumprimento a vocês da Redação, responsáveis pelo êxito da publicação, já no Ano IV, revista bem feita, agradável de ler e veículo importante para a divulgação das atividades da Escola, notadamente no campo das pesquisas e outras inovações. De certa forma, sinto-me ligado à FEI por invisíveis laços de estima e até de orgulho pelo seu sucesso no mundo do ensino superior e na cidade em que fui prefeito.”

Antonio Tito Costa Ex-prefeito de São Bernardo do Campo (1977-1982) e vice-prefeito (1993-1996). “A revista é muito bem feita, tem padrão e conteúdo muito bons. Aprecio principalmente as entrevistas de antigos feianos que ocupam cargos ou funções importantes na nossa sociedade. Aprecio também as informações sobre as atividades da Instituição em seus diversos departamentos, pois nos mantêm informados sobre a nossa querida FEI.”

Giuseppe Simone Engenharia Mecânica Plena Turma 1972

Fale com a redação A equipe da revista Domínio FEI quer saber a sua opinião sobre a publicação, assim como receber sugestões e comentários. Escreva para Av. Humberto de Alencar Castelo Branco, 3972, Bairro Assunção S.B.Campo - SP - CEP 09850-901, mande e-mail para redacao@fei.edu.br ou envie fax para o número (11) 4353-2901. Em virtude do espaço, não é possível publicar todas as cartas e e-mails recebidos. Mas a coordenação da revista Domínio FEI agradece a atenção de todos os leitores que escreveram para a redação. As matérias publicadas nesta edição poderão ser reproduzidas, total ou parcialmente, desde que citada a fonte. Solicitamos que as reproduções de matérias sejam comunicadas à redação pelo e-mail redacao@fei.edu.br.

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Campus São Paulo Rua Tamandaré, 688 – Liberdade São Paulo – SP – Brasil – CEP 01525-000 Telefax: 55 11 3274-5200 Presidente Pe. Theodoro Paulo Severino Peters, S.J. Reitor Prof. Dr. Fábio do Prado Vice-reitor de Ensino e Pesquisa Prof. Dr. Marcelo Pavanello Vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias Profª. Drª. Rivana Basso Fabbri Marino Conselho Editorial desta edição Professores doutores Roberto Baginski, Ricardo Belchior Tôrres e Carlos Eduardo Thomaz Coordenação geral Andressa Fonseca Comunicação e Marketing da FEI Produção editorial e projeto gráfico Companhia de Imprensa Divisão Publicações Edição e coordenação de redação Adenilde Bringel (Mtb 16.649) Reportagem Adenilde Bringel, Vanessa Azevedo, Elessandra Asevedo, Fabrício F. Bomfim (FEI) Fotos Arquivo FEI, Jésus Perlop, Cadú Coppini e Ilton Barbosa Programação visual Felipe Borges

Tiragem: 17.500 mil exemplares

Centro Universitário da FEI Instituição associada à ABRUC

www.fei.edu.br


sumário

20 ENTREVISTA Engenheiro de produção têxtil, Eduardo Camargo assume a presidência da CCR ViaOeste e Rodoanel Oeste aos 39 anos de idade

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DEstaques

Docentes da FEI assumem edição de revista de Administração Palestra aborda negócios sociais no campus São Paulo SICFEI reúne 102 trabalhos de estudantes pesquisadores Alunos mostram talento para robótica em competição Dois encontros reúnem ex-alunos da FEI de 1963 e 1976 Departamento de Engenharia Química discute pré-sal Concurso Travessia envolveu 235 estudantes de vários níveis Professor Roberto Bortolussi é premiado pela SAE BRASIL Simpósio de Pesquisa do Grande ABC está na terceira edição

Evgeny Terentev/istockphoto.com

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matéria de Capa

Pesquisas realizadas no Centro Universitário investigam a radiação ionizante nos níveis de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado

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DESTAQUE JOVEM Formado em 2011, engenheiro eletricista é gerente para o canal OPTO Semicondutores da multinacional Osram

PESQUISA & TECNOLOGIA

Estudo de docente de Engenharia Elétrica ganha destaque em periódico internacional e investiga sinais cerebrais

GESTÃO & INOVAÇÃO

Pesquisa de professor de Administração avalia de que forma a propaganda impacta as opções do consumidor

ARQUIVO A história do movimento estudantil no Brasil também teve importante participação de ex-alunos da FEI

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PÓS-GRADUAÇÃO

Especialização em Refrigeração e Ar Condicionado prepara profissionais para um mercado em franca ascensão no Brasil

40 Mestrado Seções 41 Agenda 42 Artigo outubro a dezembro DE 2013 | Domínio fei

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destaques

Professores do Centro Universitário da FEI assumem edição de revista de Administração na área socioambiental om a sustentabilidade como uma das linhas de pesquisa de seus programas de mestrado e doutorado, o curso de Administração do Centro Universitário da FEI dá mais um importante passo na consolidação de discussões sobre o tema dentro da Instituição. Durante o segundo semestre deste ano, a FEI assumiu a editoração da Revista de Gestão Social e Ambiental (RGSA), publicação que integra os conhecimentos acadêmicos da Administração a áreas relacionadas à gestão ambiental. A RGSA é uma publicação online quadrimestral que aborda assuntos relacionados a práticas sustentáveis, incluindo cadeia de suprimentos sustentável, ecoeficiência, produção mais limpa, marketing verde, ecodesign, contabilidade ambiental e responsabilidade socioambiental. À frente da edição científica da revista

está o professor doutor Jacques Demajorovic, do Departamento de Administração da FEI, escolhido pelo conselho editorial da publicação durante o Encontro Internacional sobre Gestão Empresarial e Meio Ambiente (Engema) de 2012 para desempenhar a função pelos próximos dois anos. Além disso, a coeditoria está a cargo da professora doutora Maria Tereza Saraiva de Souza, do mesmo departamento. “Trata-se de uma das poucas revistas acadêmicas no Brasil na área de administração dedicadas exclusivamente ao tema”, destaca o novo editor-chefe. Segundo o docente, a RGSA fortalece o Programa de Pós-Graduação na FEI, pois ter uma revista científica indexada na Instituição é um dos critérios importantes na pontuação dos cursos. “Especificamente no campo da sustentabilidade, a revista também contribui para dar maior visibilidade a esta área na FEI”, diz. O público alvo da revista é composto de pesquisadores de programas de pós-­graduação stricto sensu, gestores da área socioambiental dos setores público,

O professor Jacques Demajorovic: editor

A professora Maria Tereza Saraiva de Souza

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Ricardo Infante Alvarez/istockphoto.com

Gestão de conteúdo

privado e de organizações não governamentais. Por edição do periódico são publicados entre 8 e 12 artigos científicos, com até 17 páginas cada um. A professora Maria Tereza Saraiva de Souza, que já foi editora da publicação, reforça que os artigos veiculados na revista passam por seleção por meio de desk-review e por uma dupla de avaliadores de blind review, além de revisões normativas e ortográficas. Entre os critérios de avaliação dos textos estão revisão de literatura em periódicos nacionais e estrangeiros, uso de procedimentos metodológicos rigorosos, qualidade na discussão de resultados e contribuição crítica para o resultado socioambiental. Além de participar dos processos descritos acima, os professores Jacques Demajorovic e Maria Tereza Saraiva também têm como responsabilidade a representação da revista em fóruns e encontros de editores. “As despesas referentes ao processo de editoração e publicação também são custeadas pela FEI”, completa o professor. A Revista de Gestão Ambiental e Social é classificada como B2 no Qualis/ Capes e está indexada em importantes bases internacionais, como Latinindex, EBSCO, ProQuest e Scopus. Os interessados podem acessar a publicação pelo site www.revistargsa.org.


Lucro que transforma vidas

Auditório do campus São Paulo ficou lotado

Palestra para estudantes de Administração, no campus São Paulo, aborda negócios sociais

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ovem integrante de um dos clãs de empreendedores mais poderosos do País, Antonio Ermirio de Moraes Neto é um dos cinco sócios da Vox Capital, a primeira empresa a praticar 'investimento de impacto' no Brasil, segmento que pode sinalizar o nascimento de um quarto setor econômico em nível global. Criada em 2009, a Vox Capital é gestora de um fundo de investimentos de R$ 80 milhões e possui um portfólio composto de 10 empresas. A meta de cada uma delas é causar impacto social em 1 milhão de pessoas de baixa renda (classes C, D e E) em cinco anos. O executivo apresentou a palestra 'Negócios Sociais: Alternativas para Transformar o Brasil', para uma atenta plateia de estudantes de Administração do Centro Universitário da FEI – campus São Paulo, e também de novos administradores, em parceria com a Empresa Júnior de Administração da FEI-SP e da Junior Chamber International (JCI) Brasil/Japão, organização mundial sem fins lucrativos que reúne mais de 200 mil membros voluntários pelo mundo. “É possível ganhar dinheiro e, ao mesmo tempo, causar profundas transformações na vida da população de baixa renda”, assegura. Antonio Ermirio de Moraes Neto conta que sua empresa funciona como um empreendedor atrás do empreendedor, orientando o gestor em reuniões mensais com estratégias de

Antonio Ermirio de Moraes Neto (ao centro): investimento de impacto

governança, de expansão e até na contratação de pessoas chave para a equipe. A Vox Capital analisou 900 iniciativas nos últimos anos e escolheu apenas 10. “Buscamos ótimos empreendedores que criaram negócios com fins lucrativos, mas que tenham impacto social no produto, ou seja, no core business da operação”, explica. O empresário ressalta, entretanto, que a proposta não é de responsabilidade social, filantropia ou investimento social. Um dos três critérios analisados para escolha da empresa investida é quanto o negócio está focado nas classes C, D e E e, quanto mais próximo estiver da E, melhor. A Vox Capital também analisa o critério quantitativo (meta de impactar 1 milhão de pessoas) e qualitativo, que avalia o tamanho e a perenidade da mudança sistêmica que o produto ou serviço pode causar. “Ficar esperando o dinheiro aparecer para colocar em prática a sua ideia não é desculpa. Como vou investir em um negócio que nem o seu idealizador acreditou?”, questiona. Ao ser indagado sobre a mensagem que deixaria aos novos administradores, Antonio Ermirio Neto recorreu ao filósofo grego Aristóteles (384 a.C – 322 a.C). “Onde sua grande paixão (aquilo que te faz acordar todo dia) se une com sua grande competência (aquilo em que você acredita que pode ser o melhor do mundo) e encontra a necessidade do mundo, ali está o seu propósito, a sua voz interior. Comecem amanhã mesmo a buscar o seu propósito”, orienta. O professor doutor Edson Sadao Iizuka, docente do curso de Administração da FEI – campus São Paulo, acrescenta que os negócios sociais, tema central do evento, estão em sintonia com o direcionamento estratégico da Instituição, pois são iniciativas que desenvolvem simultaneamente o emprendedorismo, a sustentabilidade e a inovação. outubro a dezembro DE 2013 | Domínio fei

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destaques

Pesquisadores se reúnem para Estudantes mostram projetos no terceiro Simpósio de Iniciação Científica, Didática e de Ações Sociais

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mplantadas no Brasil em 1988, por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnoló­ gico (CNPq), as pesquisas de Iniciação Científica têm por objetivo introduzir os estudantes às práticas científicas e formar profissionais para atuar na área acadêmica. Atualmente, além do CNPq, outras fundações de amparo aos estudos científicos, assim como as universidades, fomentam pesquisas desenvolvidas por estudantes ainda na graduação. No Centro­Universitário da FEI, além das 120 bolsas disponibilizadas anualmente pela Instituição, e 23 conquistadas junto ao CNPq como cota institucional, os jovens pesquisadores recebem muitos estímulos para desenvolver os seus projetos, apresentados anualmente no Simpósio de Iniciação Científica, Didá­tica e de Ações Sociais e de Extensão da FEI (SICFEI). Na terceira edição, realizada em 17 de outubro, o SICFEI reuniu projetos de 102 estudantes dos cursos de Administração, Ciência da Computação e Engenharia. O coordenador do SICFEI e do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PBIC) do Centro Universitário,­ professor doutor Gustavo Henrique Bo­ log­nesi Donato, do Departamento de Enge­nharia Mecânica, afirma que neste ano houve aumento de 15% no total de trabalhos inscritos e apresentados, em relação a 2012. “A atividade tem como propósitos a introdução dos estudantes de iniciação à prática de apresentação de projetos e a disseminação da cultura cien-

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Grupo de alunos participantes do SICFEI

tífica. O incentivo ao desenvolvimento de pesquisas complementa as vertentes técnica e humana que a FEI se preocupa em oferecer aos seus alunos, buscando a formação integral dos indivíduos”, destaca. A professora doutora Maria Cláudia Ferrari de Castro, docente do curso de Engenharia Elétrica e coordenadora do Programa de Iniciação Didática (ProBID), destaca que os conhecimentos obtidos por meio das pesquisas científicas, didáticas e de ação social são passíveis de serem utilizados em muitos segmentos. “Esse tipo de projeto permite o aprimoramento orga­nizacional, desenvolvimento de relatórios, descrição de processos e resultados”, sa­lienta. Segundo a professora doutora Carla Andrea Soares de Araújo, coordenadora do Programa de Ações Sociais e de Extensão (ProBase) e chefe do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas da FEI, a vivência humanística é outro importante ganho possibilitado pelo desenvolvimento de trabalhos, assim como a valorização profissional e participação em projetos científicos, didáticos e sociais é muito enriquecedora para o currículo e para o desenvolvimento pessoal. Como já realizado em anos anteriores,

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além da participação de professores da FEI na comissão avaliadora foram convidados profissionais de outras instituições para analisar os projetos desenvolvidos pelos alunos. “Convidamos avaliadores externos para apresentar à sociedade a importância que a pesquisa tem dentro da FEI e obter uma avaliação isenta sobre a qualidade do nosso trabalho”, destaca o professor Gustavo Henrique Donato. Esta terceira edição do SICFEI também apresentou diversas novidades para os jovens pesquisadores. Pela primeira vez, o simpósio recebeu patrocínio e foi financiado pela Companhia Brasileira de Metalurgia e Mineração (CBMM), o que sinaliza a rele­vância dos programas desenvolvidos. Também a partir deste ano, todos os trabalhos aprovados passaram a ter um cadastro no International Standard Serial Number (ISSN), codificação internacional que identifica publicações científicas, o que torna a produção científica em nível de iniciação formalmente documentada e disponível no www.fei.edu.br/sicfei/. As pesquisas apresentadas nas edições anteriores do simpósio também estão disponíveis neste endereço eletrônico.


apresentar resultados de estudos PRÁTICAS DE Leitura A estudante do 5º ciclo de Administração, Janaína Sayuri Maruyama (foto) desenvolveu o projeto ‘Dinamização dos espaços de formação de leitores da FEI’. A pesquisa contempla, por meio do blog ‘Palavras Conectadas’, a oferta de textos de diferentes gêneros literários para a comunidade acadêmica da Instituição. A pesquisa foi desenvolvida sob orientação da professora mestre Gisele Larizatti Agazzi, do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas, com o objetivo de aprimorar os espaços de aprendizagem e aproximar o olhar dos alunos para a literatura. Como resultados de seus estudos, Janaína Maruyama identificou a preferência dos leitores pela coluna ‘Personalidades’ e o predomínio de estudantes de Administração entre o público do portal. “Os desafios envolvidos na pesquisa foram o planejamento de pautas para atualização do blog, definição de periodicidade das seções e pesquisas para a redação de textos”, comenta a jovem pesquisadora. Um estudo preliminar foi premiado no 2º SICFEI. Na ocasião, o projeto foi liderado por Juliana Zocatelli, colega de classe de Janaína Maruyama.

Referências bibliográficas A proposta de pesquisa de Bianca Minami Rodrigues (foto), do 4º ciclo de Administração, foi avaliar a influência dos docentes da FEI nos hábitos de leitura dos estudantes. Para tanto, a aluna entrevistou, por meio de questionários, 52 professores dos cursos de Administração e Ciência da Computação. Os aspectos abordados pelas pesquisas foram os hábitos de leitura dos docentes e as percepções que os mesmos possuem sobre as práticas de leitura e hábitos dos estudantes. Entre os resultados, a jovem constatou que 75% dos professores entrevistados utilizam livros como material de apoio, enquanto 17,23% adotam apostilas. Do total de entrevistados, 57,69% afirmaram estimular a leitura de bibliografias complementares. O projeto foi desenvolvido com a orientação do professor doutor Raul César Gouveia Fernandes, do Departamento de Ciências Sociais e Jurídicas. “A seleção do meu projeto no SICFEI foi muito gratificante e comprova o valor da minha pesquisa”, avalia a aluna.

Análise de incertezas O estudante Guilherme Carlos Alves (foto), do 10º ciclo de Engenharia Mecânica, desenvolveu o projeto ‘Análise de incertezas em medições de desempenho de um trocador de calor cerâmico’. Com orientação do professor doutor Paulo Eduardo Batista de Mello, do Departamento de Engenharia Mecânica, o aluno avaliou as evidências de limitações tecnológicas envolvidas no processo de medição e a sua relevância nos resultados finais da medida. Para executar o projeto, o pesquisador construiu uma bancada experimental exclusiva para medir o desempenho de um trocador de calor cerâmico e realizar uma análise de incerteza sobre as suas quantidades, como os fatores de Colburn j e o de atrito f, e o número de Reynolds Re, além de grandezas físicas experimentais independentes. O pesquisador concluiu que a incerteza de um dos instrumentos contribuiu para uma incerteza de 9,4% no fator de atrito. “Gostei muito de vivenciar o ambiente acadêmico, foi muito enriquecedor”, destaca.

Propriedades de material cerâmico byryo/istockphoto.com

Aluno do 8º ciclo de Engenharia Mecânica, Lucas Bertolli Parra (foto) desenvolveu a pesquisa ‘Determinação experimental das propriedades mecânicas monotônicas da alumina (AL203) utilizando ensaios de flexão entre 21oC e 900oC. A pesquisa foi executada por meio da criação de um dispositivo inovador feito em superliga de níquel para ensaios mecânicos de flexão em temperaturas de até 900oC e também da confecção de corpos de provas feitos em cerâmica técnica. O dispositivo criado resistiu a todas as temperaturas testadas, preservando as características autocompensadoras e a integridade estrutural, o que viabilizou os ensaios e garantiu boa aderência às distribuições estatísticas desejadas. O trabalho foi orientado pelo professor Gustavo Donato. “A Iniciação Científica me permitiu a vivência de problemas reais da profissão. As perspectivas são diferentes do que é vivenciado em sala de aula, com a interação entre os laboratórios, os técnicos e os professores”, assegura o aluno.

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destaques

Jovens cientistas mostram talento Competição nacional reuniu cerca de 2 mil alunos em Fortaleza e teve a FEI como uma das organizadoras

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nualmente, o governo federal lança um edital destinado a prover recursos para competições científicas em diversas áreas do conhecimento, especialmente de Exatas, que envolvem estudantes de todos os níveis. A meta é estimular o interesse dos alunos por essas áreas e, ao longo do tempo, suprir as demandas por profissionais de tecnologia no Brasil. A Robotics Trends é um bom exemplo dessas competições. Realizada de 17 a 20 de outubro na Universidade de Fortaleza, no Ceará, a competição envolveu quase 2 mil estudantes de ensino fundamental, médio e superior de mais de 100 instituições de ensino do País. Promovido pela Sociedade Brasileira de Computação (SBC), o evento tem o Centro Universitário da FEI como uma das instituições organizadoras. A Robotics Trends bateu todos os recordes de participação, desde a infraestrutura das regionais e quantidade de participantes até os resultados alcançados pelas

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equipes, o que demonstra o interesse dos estudantes pelo tema. O principal objetivo foi apresentar os avanços nacionais na área, fomentar e desenvolver a robótica, essencial ao desenvolvimento científico e tecnológico do Brasil. A competição foi dividida em três módulos: III Mostra Nacional de Robótica (MNR), VII Olimpíada Brasileira de Robótica (OBR) e XI Competição Brasileira de Robótica (CBR), que inclui as categorias da RoboCup Brasil. “O evento é um grande estímulo para que os estudantes, principalmente do ensino médio, se interessem cada vez mais pelas áreas que envolvem a tecnologia”, destaca a professora do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI e presidente da CBR, Esther Luna Colombini. Muitos estudantes que participaram já tiveram a experiência de competir em etapas mundiais de eventos do gênero. Um deles é Antonio Manuel Ribas Gondim Santos, do 1º ano do ensino médio do Colégio Cândido Portinari, em Salvador. O estudante, que participa de projetos com robôs Lego há dois anos, se interessou pela robótica devido ao gosto por disciplinas como Física, Matemática e Geometria. No início deste ano, Antônio Santos e seus companheiros de equipe foram aos Estados Unidos participar do Robô Games – espécie de campeonato mundial de robótica – e venceram na

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categoria Robô Soccer, deixando para trás estudantes de escolas de diversos países, inclusive universitários. “Foi uma experiência incrível. Competir com equipes do mundo inteiro nos ajudou muito, porque conhecíamos apenas como eram as competições no Brasil”, conta o aluno, que também foi campeão em duas categorias no encontro de Fortaleza. Há quase dois anos, o aluno da 7ª série do Colégio Contato, em Maceió (Alagoas), Eduardo Seabra Melro, resolveu montar uma equipe com outros colegas de classe para participar das competições da OBR. O jovem, que quer cursar Engenharia de Automação e Controle, explica que o envolvimento com a tecnologia tem ajudado em diversas disciplinas no curso regular. “Desde que comecei a fazer parte dos projetos de robótica as minhas notas têm melhorado muito, principalmente em matérias como Matemática e Física”, afirma. Para o professor Fabio Ferreira, do Colégio Anchieta, de Salvador (Bahia), iniciativas como a Robotics Trends são importantes, porque permitem que jovens envolvidos com esse universo da tecnologia deixem de ser meros espectadores e ouvintes para se tornarem protagonistas da produção do conhecimento. O docente acrescenta que esse envolvimento com projetos de Iniciação Científica proporciona uma reflexão sobre aquilo que os estudantes estão fazendo,


na área de robótica Da esq.: O estudante Eduardo Seabra Melro (ao centro) com sua equipe; Antonio Manuel Ribas Gondim Santos; e as alunas Iyadirê Guerra Zidanes Lepê, Helena Maia dos Anjos, Maria Carolina do Couto Soares e Clarissa Cézar Menezes Gusmão

pois terão de buscar a solução para os problemas que surgem, além de testar e validar os projetos, aprendizados que jamais vão esquecer. Robótica solidária Quatro alunas do Colégio Apoio, de Recife (Pernambuco), utilizaram o conhecimento da robótica para desenvolver um projeto que trará um pouco de alegria

a crianças que vivem em hospitais para tratamento do câncer. O Robô da Alegria, das estudantes da 8ª série Clarissa Cézar Menezes Gusmão, Helena Maia dos Anjos, Iyadirê Guerra Zidanes Lepê e Maria Carolina do Couto Soares, foi baseado nos Doutores da Alegria – voluntários que se vestem de palhaço para alegrar crianças em hospitais – e tem como objetivo interagir com os pequenos pacientes con-

tando histórias e cantando canções, que ficam gravadas no robô. “Desenvolvemos um robô totalmente colorido justamente para que chame a atenção da criançada, pois pesquisamos e descobrimos que as crianças gostam de cores. O que desejamos é que esse robô proporcione momentos de bem-estar, tanto para as crianças como para os acompanhantes”, explica a aluna Iyadirê Guerra Zidanes Lepê.

Equipe do Centro Universitário brilha no futebol de robôs Alunos do Centro Universitário da FEI conquistaram o tetracampeonato nacional no Futebol de Robôs – categoria Small Size. Formada por seis estudantes de Engenharia Elétrica e Ciência da Computação, a equipe da FEI conquistou o primeiro lugar ao derrotar por 3 X 1 o time da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Segundo o capitão da equipe FEI, Vitor Hugo Meneses Beck, o diferencial dos robôs é que são mais modernos e mais robustos e, com isso, ficam cada vez mais competitivos. O capitão lembra que há grande expectativa para o campeonato mundial, que será realizado pela primeira vez no Brasil em 2014, em João Pessoa (Paraíba). “Estamos trabalhando duro desde o Mundial deste ano para chegar bem na competição. É uma responsabilidade muito grande, afinal, é a nossa casa e precisamos dar o melhor. Por isso, precisamos da ajuda de mais alunos da FEI para compor a equipe, principalmente aqueles que conhecem bem programação”, ressalta. A Olimpíada Brasileira de Robótica é gerida por um conselho de professores de diversas instituições do País, e um deles é o professor doutor Flávio Tonidandel, da FEI. O docente foi escolhido neste ano, juntamente com a FEI, para ser o responsável nacional da OBR devido ao excelente resultado obtido na organização da etapa regional da competição, em 2013, e do Joint Conference, em 2010, evento

Time da FEI conquistou o tetracampeonato

internacional que reuniu mais de 1,1 mil estudantes no campus São Bernardo do Campo. Para o coordenador, a expectativa agora é em relação ao mundial que será realizado no Brasil. “O RoboCup é um evento grandioso, o maior de robótica móvel inteligente do mundo, e deverá motivar ainda mais nossos estudantes a seguirem carreira nas áreas de tecnologia e robótica nos próximos anos. A FEI, como organizadora desses eventos, também faz o seu papel como Instituição que trabalha intensamente com extensão e diretamente na formação dos jovens”, enfatiza o docente.

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destaques

Meio século de formação Engenheiros mecânicos e químicos celebram 50 anos de graduação

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ano de 1963 foi marcado por transformações políticas e culturais. Foi neste ano que chegaram ao Brasil os primeiros imigrantes coreanos; nasceu a personagem Mônica, do cartunista Maurício­de Sousa; a gaúcha Ieda Maria Vargas venceu o concurso de Miss Universo e, nas rádios, a canção Please Please Me, do primeiro álbum dos The Beatles, alcançou o primeiro lugar nas paradas britânicas e lançou a banda para o mundo. Em novembro daquele ano, uma turma de estudantes recebeu o diploma de Engenharia Química e Mecânica da Faculdade de Engenharia Industrial (FEI). Para comemorar os 50 anos de forma­ tura, parte da turma de 1963 se reuniu em um animado almoço, dia 12 de novembro. Na confraternização estavam 22 ex-alunos – dos 40 que se formaram –, 13 esposas e o paraninfo da turma, o professor Luiz Novaes Ferreira França. “Antigamente, as turmas eram pequenas e havia muito entrosamento entre os estudantes”, destaca

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o engenheiro mecânico Detlef Werner Schultze, organizador do encontro. Segundo o ex-aluno, os estudantes da FEI constituíam um retrato do que era o Brasil na época, com representantes de diferentes grupos políticos e religiosos, ascendências e nacionalidades. Presidente da Associação Atlética Acadêmica de Engenharia Industrial (AAAEI) em 1960 e 1961, Detlef Schultze­lembra a importância do esporte na Instituição, com relevantes resultados em competi­ ções de judô e beisebol, influenciados pela presença de estudantes de origem nipônica, além da chegada do handebol ao País na década de 1960 e de sua inserção em campeonatos universitários. Para o engenheiro mecânico Pedro Liguori, a oportunidade de reencontrar os amigos de faculdade 50 anos após a formatura é emocionante. Com carinho, o ex-aluno reforça a importância dos docentes para a sua formação técnica, humanística e ética. Única mulher da turma, a engenheira química Maria Helena Andrade Orth era protegida pelos colegas, que a tratavam com carinho e respeito. Além dela, apenas duas outras mulheres cursavam a FEI na época. “Havia muita proximidade entre os alunos, éramos como uma família”,

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diz. Durante o quarto ano da graduação, a então estudante começou a trabalhar como aluna assistente de Química Geral e, em 1962, tornou-se docente na FEI, onde ministrou aulas de Química Geral e Química Orgânica, além de laboratório, até 1972. Com bom humor, o engenheiro mecânico Nasser Chicani conta que passou no vestibular em 43º lugar, a última colo­ cação daquele processo. “A FEI sempre foi referência em ensino e representava boas oportunidades profissionais. Eu tinha de estudar lá”, enfatiza. Naquele ano, 50 vagas foram abertas para o vestibular da FEI. Tal situação fez com que Nasser Chicani e outros estudantes, como o engenheiro mecânico e ex-presidente do Centro Acadê­mico, Benedito Nicotero, se engajassem para a admissão de todos os estudantes aprovados no vestibular, especialmente os considerados ‘excedentes’. O professor Luiz Novaes Ferreira França, paraninfo da turma, formou-se engenheiro mecânico na FEI em 1951, deu aulas na Instituição. “A FEI representa um aspecto importante da minha vida profissional, gosto muito de lá”, afirma. Aos 86 anos de idade, o engenheiro ficou muito satisfeito em rever o grupo meio século após a colação de grau.


Turma formada pela antiga Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) mantém tradição de reuniões sempre no mesmo restaurante

Encontro anual há 37 anos Ex-alunos, graduados em 1976, se reúnem desde a formatura

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á exatos 37 anos, os engenheiros mecânicos plenos formados pela antiga Faculdade de Enge­ nharia Industrial (FEI) mantém uma tradição: no fim de ano, o grupo se reúne para lembrar histórias, contar as novidades e confraternizar. O encontro é promovido ininterruptamente desde que a turma se graduou, em 1976, com pelo menos a metade dos 70 formandos. A última confraternização foi realizada em 22 de novembro no bar e restaurante Estalagem, em São Paulo, que há mais de 20 anos é o local escolhido pelo grupo para o evento. Identificados com crachás que contêm os nomes e números de matrícula na FEI – turma 24 mil –, os engenheiros afirmam que o interesse coletivo em manter contato é um dos fatores que possibilita a realização anual do encontro. Alguns ex-alunos, graduados em 1975, também participam, como o professor José Agostinho Baitello, atualmente docente do curso de Engenharia de Produção do Centro

Universitário da FEI. “O encontro é uma ótima oportunidade para estreitar os laços e é muito divertido”, afirma. Além de atualizaram os acontecimentos, os engenheiros aproveitam para recordar algumas histórias dos tempos de faculdade. O grupo acompanhou algumas transformações no ensino da Engenharia, dentre as quais a inserção da régua de cálculo em sala de aula, até então inexistente. “A prova de Dinâmica das Máquinas era feita em dois períodos. Um para os alunos que tinham a régua de cálculo e outro para os que não tinham”, recorda o engenheiro Rui Rodrigues. Segundo o ex-aluno Roberto Gremmelmaier, a ausência do instrumento permitiu o aprendizado das fórmulas e o desenvolvimento do raciocínio lógico para a resolução de problemas. Música e esportes também foram alguns aspectos que se destacaram entre os anos de 1972 e 1976, período em que o grupo estudou na FEI. Segundo os engenheiros Salim Lamha Neto, José Roberto Florido e Carlos Machado, alguns nomes importantes da música brasileira se apresentaram na Instituição, como Elis Regina, Gonzaguinha, Pepeu Gomes e Baby do Brasil, contratados pelo Centro Acadêmico. “O cantor João Bosco, antes de se tornar um

artista famoso, se apresentava próximo ao refeitório, em um jardim apelidado de Babilônia”, recorda Carlos Machado. A turma também possuía bons jogadores de futebol de salão, o que os levou a montar uma equipe para disputar os campeonatos internos da modalidade, até então dominados pelo time da Atlética. O ‘Sifunia’ tinha apenas um jogador de outra turma, o goleiro, que era aluno de Engenharia Química Têxtil e tinha experiência em defesas de handebol. “O time foi o primeiro a quebrar a hegemonia de oito anos da equipe da Atlética. Foi muito gratificante e fizemos um churrasco para comemorar”, acrescenta o engenheiro José Carlos Jodar Lopes. A turma também esteve envolvida na organização do torneio Inter República, que reunia os estudantes vindos de outras cidades para estudar na FEI. “Futebol de salão, vôlei, basquete e handebol eram as modalidades disputadas na competição”, informa Salim Lamha Neto, que veio do Rio de Janeiro para estudar na Instituição e participou da organização do evento esportivo. O engenheiro lembra, ainda, que uma das regras da competição era que os times fossem formados por moradores da mesma república.

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Desafios e oportunida I ChEFEI apresentou as perspectivas profissionais e tecnológicas para a extração de petróleo em águas profundas

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iariamente, os campos da pro­ víncia do pré-sal, localizados nas bacias de Santos e Campos, no litoral dos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, respectivamente, produzem volumes superiores a 300 mil barris de petróleo. Segundo a Petrobras, desde que o Brasil começou a extrair o óleo de origem fóssil em águas profundas, em 2008, mais de 100 milhões de barris já foram extraídos. Atualmente, o País ocupa a 13ª colocação no ranking mundial de nações produtoras de petróleo, com mais de 2 milhões de barris produzidos diariamente e participação de 2,7% no mercado global. No que se refere às reservas de petróleo em regiões de pré-sal, o cenário não

Professor Ronaldo Gonçalves dos Santos

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poderia ser mais animador. Segundo a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), a exploração do campo de Libra, a 170 quilômetros do litoral do Rio de Janeiro, pode alçar o País à lista dos 10 maiores produtores mundiais, dobrando as reservas nacionais de petróleo. Com 1.500 km², a área é considerada pelo governo brasileiro a maior do planeta e possui potencial para a produção de 1,4 milhão de barris por dia, com reservas que podem chegar ao equivalente a 12 bilhões de barris. A ANP estima que, entre 2013 e 2016, R$ 400 bilhões sejam investidos no setor de petróleo e gás no Brasil. A exploração das reservas do pré-sal exigirá vultosos investimentos financeiros e demandará grandes desenvolvimentos científicos e tecnológicos e formação de recursos humanos capacitados para o setor. Complexo, o assunto foi o tema do I Workshop de Engenharia Química da FEI (ChEFEI), realizado entre os dias 21 e 23 de outubro no campus São Bernardo do Campo. Com o tema ‘Exploração e produção no pré-sal: desafios para a Engenharia Química’, o encontro reuniu estudantes de graduação e pós-graduação, pesquisadores brasileiros e estrangeiros e profissionais com experiência de mercado com o propósito de discutir os diferentes desafios da exploração do combustível fóssil em águas profundas. O professor doutor Ronaldo Gonçalves dos Santos, organizador do encontro e docente do Departamento de Engenharia Química da FEI, ressalta que o objetivo do workshop foi propor debates avançados sobre o assunto. “Trata-se de um evento ousado, que repercute em um ambiente científico de pesquisas de ponta”, comenta,

ao enfatizar que esta também é uma das linhas de pesquisa do Programa de Mestrado em Engenharia Química do Centro Universitário da FEI, que terá início em março de 2014. O pesquisador ressalta, ainda, que é importante incentivar a troca de informações sobre o tema para enriquecer o conhecimento dos profissionais que poderão atuar na área. Parceria Durante o evento, o diretor-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Química (ABEQ), Edson Bouer, deu posse ao professor doutor Ricardo Belchior Tôrres, coordenador do curso e chefe do Departamento de Engenharia Química da FEI, como ‘Professor ABEQ’, título que assegura ao docente o exercício de suas funções por dois anos. Neste período, o professor será o responsável pelo desenvolvimento de programas de interesse comum entre o Departamento de Engenharia Química da FEI e a ABEQ, disseminando informações e eventos organizados pela Associação aos professores e alunos da Instituição. “É um privi­légio representar a FEI e levar para a ABEQ as nossas ideias e discussões sobre os mais importantes temas relacionados com o desenvolvimento da Engenharia Química no Brasil”, comemora o docente, ao lembrar que é a primeira vez que a FEI mantém vínculo tão próximo com a entidade.


des do pré-sal Da esq.: Edson Bouer, da ABEQ, e Oswaldo Kawakami, da Petrobras: investimentos e tecnologia

Debates abordaram diferentes temas Com seis palestras diárias, o ChEFEI abordou vários aspectos da exploração do pré-sal, entre os quais as diretrizes da indústria do petróleo, com foco em políticas de desenvolvimento e formação de recursos humanos. O diretor-presidente da ABEQ, Edson Bouer, explicou que somente em exploração e produção, os investimentos são os maiores realizados globalmente e estão na ordem dos US$ 700 bilhões. “O combustível fóssil se manterá como a principal fonte de energia para o crescimento econômico nos próximos anos e o poder da indústria petrolífera continuará nas mãos dos países que controlam as reservas”, afirmou, na palestra ‘Desafios tecnológicos do pré-sal para a Engenharia Química’. O engenheiro também demonstrou preocupação com a formação de mão de obra para atender às demandas da indústria do petróleo nos próximos anos, uma vez que, na extensa cadeia de exploração e produção do óleo, há um déficit de profissionais qualificados. Elias Ramos de Souza, superintendente de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico da ANP e professor dos cursos de graduação do Instituto Federal da Bahia (IFBA) e do Programa de Pós-graduação da Universidade Federal da Bahia (UFBA), lembrou que a legislação para a exploração de bacias, como leilões e contratos de concessão ou partilha, além das normas de conteúdo local, exigem o uso de tecnologia nacional em parte dos equipamentos utilizados na exploração de petróleo e gás. “Com o uso de alta tecnologia local, o Brasil pode ser tornar um exportador de instrumentos. Estima-se que, até 2022, o total acumulado investido em pesquisa e desenvolvimento seja de aproximadamente

R$ 29 bilhões”, salientou, durante a palestra ‘O setor de óleo e gás no Brasil’. Segundo Oswaldo Kawakami, gerente geral da unidade de operação de exploração e produção da Petrobras na bacia de Santos, os novos equipamentos disponíveis já permitem a redução de tempo e de custos para a perfuração de poços. “Atualmente, em 90 dias é possível fazer a perfuração ao custo de R$ 80 milhões”, enfatizou, ao comparar com a primeira perfuração realizada pela Petrobras para a extração em águas profundas, que teve a duração de um ano com gastos de R$ 240 milhões. O professor Ronaldo Gonçalves dos Santos, da FEI, acrescenta que há muitos detalhes que devem ser compreendidos desde a extração do óleo em águas profundas até a chegada às refinarias, uma vez que o óleo é resultado de compostos muito complexos. A investigação deve ser iniciada pela origem do combustível fóssil. ”O advento do pré-sal abre um grande leque de possibilidades para o engenheiro químico, devido aos sólidos conteúdos de termodinâmica química e fenômenos de transporte inseridos em sua formação. Esses conhecimentos são altamente requeridos para a previsão de propriedades de misturas complexas, como o petróleo, e de seu escoamento pelos poros do reservatório”, ressalta. Durante a palestra ‘Propriedades interfaciais e equilíbrio de fases aplicadas na produção de petróleo’, o professor apresentou alguns aspectos que serão abordados na linha de pesquisa em petróleo, gás e biocombustíveis implantada no Programa de Mestrado em Engenharia Química da FEI.

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Travessia desafia estudantes Na quinta edição, concurso de construção de pontes com palitos de sorvete reuniu 225 participantes

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atemática, Física, Geometria, conhecimentos sobre estruturas e planejamento são algumas das competências trabalhadas pelos estudantes que participam do Concurso Travessia, competição realizada pelo Centro Universitário da FEI que objetiva a construção de pontes apenas com palitos de sorvete. A quinta edição, realizada dias 13 e 14 de novembro, reuniu 180 alunos de ensino médio, organizados em 45 equipes, e 45 estudantes de ensino superior, divididos em 13 grupos na categoria ABC e cinco times na categoria PRO. No total, 60 instituições de ensino de 12 municípios participaram da competição. No Concurso Travessia, as equipes são desafiadas a construir uma ponte com tabuleiro celular utilizando palitos de sorvete e cola, e aquela que desenvolver o projeto mais eficiente do ponto de vista estrutural vence a competição. Neste ano, foi permitido também o uso de barbante, de maneira estendida, e de clipe de papel, mas somente na fase de construção. Outra novidade

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trazida por esta edição é a utilização de células de carga, dispositivo eletrônico que indica, de maneira simultânea aos testes, as cargas que estão atuando nos apoios das estruturas. O projeto da ponte deve ser inspirado em um protótipo já existente e a construção tem de ser feita no primeiro dia, em um período de quatro horas. No segundo dia do concurso é realizada a apresentação dos projetos e a submissão dos mesmos a diferentes cargas para a passagem de um trem. Para cada nova passagem do veículo sobre a superfície da ponte, mais carga é adicionada até que ocorra a iminência de instabilidade da estrutura ou deformação vertical da mesma. Os testes são finalizados quando ocorre a ruptura da ponte ou quando a mesma toca qualquer parte do equipamento, além dos pontos de apoio, sendo válida a última carga medida antes desse comportamento. Além do coeficiente de eficiência estrutural, outros critérios compõem as notas dos grupos, como criatividade, estética e cooperatividade. O professor doutor Kurt André Pereira Amann, organizador do concurso e chefe do Departamento de Engenharia Civil do Centro Universitário, afirma que a competição promove o desenvolvimento de habilidades nos participantes, agrega conhecimentos e incentiva o trabalho em equipe e a cooperação. “O Travessia permite a vivência em projetos de Engenharia, com o planejamento, a execução e a verificação de desempenho da ponte”, observa. Por ser

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multidisciplinar, o concurso estimula um rico processo de pesquisa em sistemas de estrutura e métodos de construção, além de planejamento, item essencial para o sucesso no desenvolvimento do protótipo. Pela quarta vez, o Colégio Viva Vida, localizado em São Bernardo do Campo, levou duas equipes à competição. Segundo Artur Fernando de Vito, docente de Física da escola, o concurso permite a aplicação de conteúdos aprendidos pelos estudantes durante o primeiro ano do ensino médio, como os princípios de tração, além do contato dos mesmos com o Centro Universitário, aproximando-os de carreiras tecnológicas. “O trabalho em equipe é essencial neste concurso”, observa. Premiação A equipe de ensino médio campeã foi a ‘Primeirão’, do Colégio Amorim Ermelino Matarazo, contemplada com uma lousa interativa para a escola e um Ipod Nano de 16G para cada integrante do grupo e para o professor orientador, além de medalhas e certificados. Na categoria ABC, disputada por alunos dos ciclos básicos dos cursos de Administração, Engenharia e Ciência da Computação, a equipe vencedora foi a ‘RLX tem P3’. Na modalidade PRO, destinada para alunos do 3º ao 10º ciclos dos cursos de graduação da FEI, o vencedor foi o time ‘BACON’. A premiação também consiste em Ipod Nano 16G para cada participante do grupo, acompanhado de medalha e certificado.


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Parceria de longa data Ruy Hizatugu

Chefe do Departamento de Engenharia Mecânica da FEI é homenageado no SAE BRASIL 2013

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o Brasil desde 1991, a Sociedade de Engenheiros da Mobilidade (SAE BRASIL) é uma associação sem fins lucrativos que congrega engenheiros, técnicos, executivos e estudantes que tenham interesse em disseminar técnicas e conhecimentos relativos à tecnologia da mobilidade terrestre, marítima e aeroespacial. Anualmente, a entidade homenageia, durante seu Congresso e Exposição Internacionais de Tecnologia da Mobilidade, 10 personalidades do setor automotivo, de 10 diferentes áreas, por relevante contribuição para a área no País. Neste ano, o homenageado com o Prêmio SAE BRASIL 2013 na área de Educação foi o chefe do Departamento de Engenharia Mecânica do Centro Universitário da FEI, professor doutor Roberto Bortolussi. Desde que se instalou no Brasil, a SAE BRASIL trabalha em parceria com instituições de ensino superior, incentivando projetos científicos e acadêmicos. A entidade também realiza inúmeras competições que envolvem centenas de estudantes de vários cursos de Engenharia e instituições de ensino superior. O professor Roberto Bortolussi ressalta que a SAE é a grande motivadora do aprendizado com a realização das competições, pois os alunos conseguem colocar em prática seu aprendizado e têm de se esforçar para fazer o melhor. “A FEI sempre objetivou a colocação da teoria junto com a prática, e as competições da SAE nos permitem fazer isso”, afirma.

O professor doutor Roberto Bortolussi (ao centro) com representantes da SAE BRASIL

Segundo o docente, os alunos que participam das competições se destacam no mercado de trabalho e levam uma boa bagagem para a carreira, pois, nas disputas, o conteúdo ensinado em sala de aula é colocado em prática no aspecto técnico e humano. “Esta homenagem foi reflexo do trabalho dos estudantes. O empenho que eles têm nos projetos e na escola faz com que construam uma carreira profissional brilhante. Eu dou a direção, mas o empenho é deles. Por isso, dedico muito mais este prêmio para meus alunos”, enfatiza o professor, que também é o coordenador dos projetos Baja FEI e Fórmula FEI, que participam das competições da SAE BRASIL desde a primeira edição, em 1995. Em 2012, o vencedor do Prêmio SAE BRASIL de Educação foi o professor Ricardo de Andrade Bock, também do Departamento de Engenharia Mecânica da FEI.

Fórmula FEI segue para disputa mundial Depois de vencer a etapa nacional do Fórmula SAE Brasil-Petrobras, em outubro, a equipe Fórmula FEI ganha o direito de representar o Brasil na final mundial do Fórmula SAE, em Michigan, nos Estados Unidos, de 14 a 17 de maio de 2014. O protótipo RS8, desenvolvido pelos alunos de Engenharia Mecânica da Instituição, tem como pontos fortes a manobrabilidade e baixa massa (peso). Entre os destaques do carro estão, ainda, a utilização do pacote aerodinâmico, que permite maior força de contato pneu/solo, e o controle de tração inteligente, que faz a leitura das velocidades nas quatro rodas e coordena o torque disponibilizado pelo motor, garantindo excelente desempenho em aceleração longitudinal.

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Pesquisadores estão unidos no Grande ABC

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mportante instrumento para a integração das universidades instaladas na região, o Simpósio de Pesquisa do Grande ABC é uma oportunidade única para os pesquisadores vinculados às instituições de ensino apresentarem seus estudos. A terceira edição do encontro, realizada em novembro, foi marcada pela intensa interação entre alunos, professores, pós-graduandos, mestres e doutores, que reuniram 342 trabalhos das áreas de Biomédicas e Saúde, Administração e Ciências Sociais, Engenharia, Ciência da Computação e Educação. O movimento, idealizado pelos vice-reitores de Pesquisa de sete instituições de ensino superior do Grande ABC – Centro Universitário da FEI, Centro Universitário Fundação Santo André (FSA), Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia, Faculdade de Medicina do ABC (FMABC), Universidade Metodista de São Paulo (UMESP), Universidade Municipal de São Caetano do Sul (USCS) e Universidade Federal do ABC (UFABC) – tem como objetivo divulgar e fomentar parcerias em pesquisa. O professor doutor Carlos Eduardo Thomaz, do Departamento de Engenharia Elétrica da FEI, que conduziu alguns alunos palestrantes da área, aponta um visível aprimoramento na apresentação dos trabalhos inscritos nesta edição. “Tivemos sessões específicas de apresentações orais de trabalhos. Isso é um exercício bastante interessante, principalmente para nossos discentes ingressantes no ambiente acadêmico”, observa. O docente lembra que faz parte da formação do pesquisador

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expor oralmente, e de forma didática e crítica, os resultados da pesquisa, a metodologia utilizada e as conclusões, tudo em um tempo pré-estabelecido. Para muitos jovens pesquisadores, especialmente de Iniciação Científica, o Simpósio é a primeira oportunidade de apresentarem seus estudos para um público mais especializado. “Havia palestrantes de vários níveis acadêmicos e isso é ótimo. Esse tipo de apresentação, inclusive em outras línguas, fará parte do dia a dia do pesquisador”, acentua o professor. As apresentações com pôsteres ou painéis também configuram uma prática enriquecedora para os alunos, pois propiciam diálogo e conversas proveitosas sobre um mesmo tema de interesse entre participantes de diferentes níveis de graduação. O professor doutor Edmilson de Moraes, coordenador do Programa de Mestrado em Administração da FEI e integrante do Comitê de Avaliação da área no Simpósio, acrescenta que a troca de informações sobre as pesquisas em desenvolvimento entre pesquisadores dessas diversas áreas tem potencial para gerar pesquisas relevantes, que façam pontes entre áreas distintas do conhecimento. “O Simpósio é importante para possibilitar os contatos e abrir perspectivas de parcerias para pesquisas e publicações futuras”, avalia. Ampliação A cada ano, o Simpósio contribui para que se fomente um ambiente no qual mais parcerias em pesquisas possam ser efetivadas. Para manter o caráter regional do encontro, todas as pesquisas apresentadas devem ter, obrigatoriamente, ao menos um coautor local. “É importante estimular colaborações científicas e tecnológicas entre as sete instituições, mas, no futuro, o Simpósio poderá se tornar estadual e até nacional”, prevê o professor Carlos Eduardo Thomaz.

Fotos: Eduardo Damini/Metodista

Cresce interação entre instituições de ensino superior da região, que se reúnem em simpósio anual


destaque jovem

Tecnologia em iluminação Engenheiro eletricista é gerente para o canal OPTO Semicondutores

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Plano Nacional de Eficácia Energética do Ministério de Minas e Energia prevê a proi­ bição da fabricação e da importação de lâmpadas incandescentes entre 61W e 100W no Brasil após o mês de dezembro deste ano. A iniciativa tem como objetivo reduzir o consumo de energia no País em 10% até 2030. O plano também prevê que, até 2017, seja planejada a suspensão da produção, importação e comerciali­ zação de iluminação incandescente em território nacional, considerada uma das vilãs do consumo energético. A intenção é substituir integralmente essas lâmpa­ das por opções mais sustentáveis, como as lâmpadas de LED, que são 80% mais econômicas. Para o engenheiro eletricista Marlon Gaspar, graduado pelo Centro Universitá­ rio da FEI em 2011, a medida é sinônimo de trabalho. O profissional, que é gerente nacional para o canal OPTO Semicondu­ tores – Divisão de Diodos LED da Osram, multinacional alemã fabricante de lâmpa­ das e artigos para iluminação, é o respon­ sável pela avaliação e pelo planejamento

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de estratégias de vendas em setores em que são utilizados diodos de LED para a industrialização de produtos no País, como os segmentos automotivo e de ilu­ minação. “Um dos desafios envolvidos em meu trabalho é a apresentação das tecno­ logias em LED aos clientes e ao mercado, uma vez que ainda estão acostumados às soluções antigas”, destaca. Há seis meses, o engenheiro eletricista trabalha como interface da empre­sa junto aos públicos de interesse, administran­ do a cartela de clientes em projetos e deman­das. Para desempenhar a função, a formação técnica adquirida ao longo da graduação é fundamental. “A confiança transmitida pela empresa é determinante para a realização da venda e, por isso, é muito importante conhecer os produ­ tos, como funcionam e quais são as suas tecnologias, além de compreender quais são os objetivos dos clientes. A FEI, sem dúvida, é a grande responsável pelos co­ nhecimentos técnicos que utilizo em meu trabalho”, observa. Marlon Gaspar ingressou na Osram há dois anos e meio como engenheiro de vendas, cuja função era prestar suporte técnico e fazer prospecção e vendas de diodos de LED. “Quero contribuir para a educação das empresas para o uso de tecnologias de LED”, enfatiza, sobre as suas perspectivas profissionais, que

compreendem, ainda, a ascensão a cargos de maiores responsabi­lidades na orga­ nização. As experiências profissionais anteriores do engenheiro são relaciona­ das à área de eletrônica, ênfase de sua formação acadêmica. Antes de integrar o quadro de profissionais da Osram, Marlon Gaspar foi estagiário em Engenharia e técnico em eletrônica na SMS Tecnolo­ gia, no Departamento de Engenharia de Desenvolvimento. No entanto, a carreira do engenheiro começou quando ainda tinha 16 anos de idade e trabalhava com máquinas de automação. Até chegar à empresa alemã, outras três vivências profissionais o prepararam para o mercado de trabalho, com a reali­ zação de atividades de vendas técnicas e a calibração eletrônica de sensores de termo­ metria. Para o engenheiro, estar aberto a diferentes possibilidades é uma forma de conhecer oportunidades que estão além do que é planejado, e adotar comportamentos humildes ao buscar projetos e se relacionar com as pessoas também é um princípio valioso para uma carreira bem-sucedida. “É importante traçar metas e comprometer-­ se a seguir em frente. As adversidades e os aprendizados humanísticos e sociais vivenciados durante a minha passagem pelo Centro Universitário me prepararam para ser persistente e buscar meus objeti­ vos”, acentua.

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Entrevista – eduardo camargo

Um especialista em co A os 39 anos de idade, o engenheiro de produção têxtil Eduardo Camargo já chegou ao topo da carreira. Formado em julho de 1997 pelo Centro Universitário da FEI, o engenheiro assumiu, em setembro, a presidência da CCR ViaOeste, concessionária de rodovias da região Oeste do Estado de São Paulo, e do Rodoanel Oeste, que vai do início da rodovia dos Bandeirantes até a rodovia Régis Bittencourt. A rápida ascensão na carreira se justifica pela competência técnica e também porque o profissional acreditou e se especializou em um segmento que ganhou força na última década no Brasil e ainda tem muito para crescer. O senhor é um presidente muito jo­ vem. Como chegou a esse estágio na carreira em tão pouco tempo?

Já estou no Grupo CCR há 13 anos e praticamente fiz carreira aqui. Tive dois empregos anteriores, mas me formei profissionalmente na companhia. Comecei a trabalhar no Centro Corporativo da CCR bem no início das operações da empresa, que tinha só um ano de vida e era uma aposta, pois a concessão de rodovias era um negócio novo no Brasil. Entrei na holding e trabalhei inicialmente na área financeira. A CCR foi a primeira empresa a lançar ações no novo mercado da Bovespa e tive participação ativa no processo de abertura de capital. Como estavam as concessões naquela época no Brasil?

A companhia tinha cinco concessões de rodovias em 2000 e, desde então, vem crescendo muito. Houve uma época em que os negócios andavam um pouco devagar no Brasil e resolvemos olhar o mercado no exterior, que estava bastante promissor. Fui indicado para estudar o mercado norte-americano de concessões

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“Eu optei pela FEI pela qualidade e pelo currículo. É uma das faculdades top na área de Engenharia e não me arrependo. e, em seguida, administrar um escritório que a CCR tinha acabado de abrir naquele país. Lá, ganhamos uma concessão no Estado de Denver, em parceria com um grupo português que também era acionista da CCR. Tentamos outros projetos, mas não aconteceram porque os bancos não tinham linhas de financiamento e também era um negócio novo nos Estados Unidos. Quando voltei ao Brasil já vim para a ViaOeste e assumi uma posição de

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relações institucionais. Cuidei de todas as relações com as prefeituras, câmaras e organizações não governamentais e surgiu a oportunidade para que eu assumisse uma diretoria. Fiquei três anos como diretor de Operações, função que incluía dividir um pouco a responsabilidade da operação das rodovias com o presidente e cuidar de metas de curto e médio prazo. Recentemente, quando o então presidente assumiu outra posição no Grupo, eu assumi a presidência.


ncessões A formação em Engenharia de Produ­ ção lhe deu toda essa bagagem para fazer uma carreira tão rápida?

Acho que a Engenharia, de maneira geral, favorece isso sim, porque ajuda bastante a abrirmos a nossa cabeça, estarmos preparados para ter um raciocínio rápido, um pensamento estratégico. Creio que isso é próprio do curso de Engenharia e, se me perguntassem se eu faria, hoje, o mesmo curso, eu diria que sim. Acho que fiz a escolha certa. Por que a opção pelo curso na FEI?

Eu optei pela FEI pela qualidade e pelo currículo. É uma das faculdades top na área de Engenharia e não me arrependo. Na verdade, fiz dois anos de têxtil para depois mudar para a produção e não me arrependo. Fiz grandes amigos na FEI e muitos estão muito bem profissionalmente. Escolhi Engenharia pelo gosto pela área de Exatas. Quando temos 17 anos não sabemos direito se é a escolha certa, mas era o que eu gostava e acabei enveredando por esse caminho. Como está o setor de concessões no Brasil e quais são as principais dificuldades desse mercado?

Na área de concessão de rodovias existem programas federais e estaduais. Na primeira fase do programa federal foram licitadas, em 1995, a Ponte Rio Niterói, no Rio de Janeiro, e a Rodovia Presidente Dutra, que liga São Paulo ao Rio, ambas do Grupo CCR. Esse era o início do programa e foi um aprendizado para todos os envolvidos. Em 1996 e 1997, o Estado de São Paulo também criou um programa bem ambicioso de concessão de rodovias, com vários lotes, e foram concedidas a Castelo Branco, Bandeirantes, Anhanguera, Imigrantes e Anchieta, todas na primeira fase. Existiram também concessões no Estado do Paraná, das quais participamos. Cada

uma tinha um modelo diferente, mas eram estradas ou rodovias com maior viabilidade financeira, porque são as que têm maior fluxo. Em 2007, o governo federal lançou um segundo programa de concessões e surgiram as rodovias Fernão Dias e Régis Bittencourt, entre outras. O governo passou a licitar as concessões no modelo de menor tarifa e o mercado já estava mais maduro, o que explica um pouco o porquê de os preços praticados nos pedágios nessas rodovias serem menores. Nas primeiras concessões estava embutida uma incerteza de como os negócios fluiriam. Era um momento diferente do País e os investidores entendiam que aquele negócio tinha muito mais risco. Depois,­veio a segunda fase do programa estadual de concessões, quando­ o Rodoanel foi licitado. O governo do Estado fez toda a obra e depois concedeu para a iniciativa privada. Agora vem outra fase do progra­ma­federal de concessões que, inclusive, o Grupo estu­da. São lotes muito grandes em termos de extensão de rodovias, com mais de mil quilômetros cada um, que exigirão investimentos de até R$ 5 bilhões para recuperação das rodovias e, na maioria dos casos, para duplicar trechos. Alguns estudiosos acham que, se tudo isso efetiva­mente acontecer, a falta de engenheiros que vemos hoje ficará ainda mais visível. Aliás, não só de engenheiros, mas de empresas capazes de executar esses investimentos, essa grande quantidade de duplicação e de extensão de rodovias, e isso nos preocupa. Para que uma concessionária tenha interesse em determinada rodovia precisa ter fluxo de veículos que justifique esse investimento?

É um tripé, uma combinação entre o fluxo de veículos versus a tarifa proposta versus o tamanho do investimento necessário. Se isso tudo não para de pé, se a concessionária não gera uma receita

suficiente para pagar esse investimento e retornar para o acionista, o negócio acaba não tendo interesse no mercado. Foi isso o que aconteceu em um dos últimos leilões do governo federal. O projeto não estava bem dimensionado. Como é possível ter boas rodovias com tarifas de pedágio mais baixas?

É uma balança que precisa estar bem equilibrada, do contrário, não se consegue viabilizar a concessão. Existem as rodovias que conseguem ser autossustentáveis só com a receita de pedágio e as rodovias que não geram tanta receita, mas podem ser viabilizadas por meio do modelo de Parceria Público-Privada (PPP) e, nesse caso, o governo precisa colocar um pouco de dinheiro. É um negócio subsidiado, e o governo do Estado de São Paulo já fala em fazer um programa de PPP muito amplo. As rodovias em concessão no Brasil são mais seguras?

Sim, na CCR temos uma área de inteligência para aprimorar o trabalho e um processo de melhoria contínua. As rodovias são monitoradas a partir de um Centro de Controle Operacional (CCO) onde ficam nossos controladores, responsáveis por toda a inteligência na disponibilização dos recursos. Além disso, compartilhamos nosso CCO com a Polícia Militar Rodoviária, que controla ocorrências, como assalto, fechamento de faixa ou mesmo acidente grave que nos obrigue a fechar o tráfego na rodovia para receber o helicóptero Águia, o que é comum. As rodovias estão muito seguras devido ao fato de não terem buracos, serem bem sinalizadas e duplicadas, mas também porque temos 80% do trecho coberto por câmeras, no caso da ViaOeste, e 100% no Rodoanel Oeste. Os outros 20% têm pouco movimento e poucas ocorrências, além de serem cobertos pelos veículos de inspeção. A Polícia Rodoviária nos au-

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Entrevista – eduardo camargo xilia muito nas questões de acidentes de trânsito. Temos um Comitê de Segurança Viária do qual participam a concessionária e a Polícia Militar Rodoviária, e avaliamos todos os acidentes de maior gravidade em questões de Engenharia e de segurança para ver o que podemos fazer para evitar novos acidentes. Investimos também em um programa de educação que envolve crianças das escolas de todos os municípios onde a CCR atua. Já atendemos mais de 1,5 milhão de crianças. As concessionárias investiram cerca de R$ 16 milhões em 15 anos e fatura­ ram mais de R$ 38 bilhões, segundo da­ dos do setor. A concessão de rodovias é um bom negócio?

Sem dúvida. Vou abordar os três stakeholders deste negócio. O primeiro é o governo. Se o contrato está bem desenha­ do, as concessionárias têm de cumprir todas as obrigações e aquela rodovia estará em boas condições. Toda vez que houver uma necessidade de fazer uma ampliação, por questão de capacidade, será feita, pois isso também deve estar previsto em contrato. A concessão desonera o governo, que deixa de investir em rodovias e investe em áreas como saúde, educação, segurança. A empresa privada também gera empregos. Somente o Grupo CCR tem mais de 10 mil colaboradores diretos, além de gerar empregos indiretos cada vez que contrata uma empresa terceirizada. Nossa estimati­ va é de que os indiretos sejam o dobro dos diretos, portanto, estamos gerando um total de 30 mil empregos. Além disso, no nosso negócio quase 35% é imposto, seja municipal, estadual ou federal. Portanto, o governo tem essa vantagem também. Por exemplo, da nossa receita bruta de pedágio, 5% é ISS (Imposto Sobre Serviços), que vai direto para os municípios por onde a rodovia passa, proporcional à quilometragem. Hoje, qualquer prefeito quer uma rodovia que passe na porta do município, primeiro pelo desenvolvimento que isso leva à cidade e, segundo, pela arrecadação de ISS. Em alguns municípios no trecho da CCR, o ISS que a rodovia paga é maior

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“Tem uma série de serviços que o programa de concessões oferece...” que o fundo de participação que a cidade recebe do governo federal. Também procuramos gerar empregos nas comunidades locais. No aspecto dos acionistas, a partir do momento que apresentam um plano de negócios e entregam esse plano aos executivos que trabalham na empresa, vão querer receber o que foi projetado. Nosso objetivo é buscar melhorias de eficiência e de processo, pensar em novas estratégias, estudar novas tecnologias e impor metas anuais para que possamos atender às expectativas dos acionistas. Os usuários costumam reclamar do valor dos pedágios...

Fazemos pesquisas anualmente em todas as concessionárias do nosso Grupo – temos utilizado inclusive o Datafolha – e o índice de satisfação dos nossos usuários está em torno de 80% a 90%. Acredito que seja uma das poucas prestações de serviços com um nível de satisfação tão alto. Mesmo quanto ao pedágio, não temos tanta reclamação. É lógico que, se perguntarmos para um usuário se ele acha que o pedágio é caro, tenho certeza de que a maioria dirá que sim, da mesma maneira que qualquer outra conta que temos de pagar. No entanto, acreditamos que a pergunta correta a se fazer é se a concessão vale a pena e, neste caso, o usuário também dirá que sim. O que pode ser feito para diminuir a tarifa da maioria dos pedágios?

Tem uma série de serviços que o pro­ grama de concessões oferece que praticamente existem só no Brasil, até por uma

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deficiência do próprio setor público. Por exemplo, o serviço médico e de guincho que as concessionárias mantêm nas rodovias são serviços caros. Mas, se perguntarmos aos usuários se abririam mão desses serviços por uma tarifa mais barata, a resposta seria não. Então, o que sobra são os impostos. O que o setor precisaria para diminuir custos seria de algum tipo de desoneração, mas ninguém fala disso. O sistema ponto a ponto que o gover­ no de São Paulo está testando, no qual o motorista paga pelo trecho que utilizar, parece mais justo...

É mesmo muito interessante, mas temos muitas questões para corrigir no Brasil antes de partir para este modelo em definitivo, embora seja uma tendência.­ O exemplo mais latente está na Nova Dutra, na qual apenas 9% dos usuários que circulam pela rodovia pagam pedágio efetivamente. É um modelo injusto, pois a Dutra tem muito mais que mil entradas e saídas. Por exemplo, quem mora em São Paulo e vai para o aeroporto de Cumbica usa a Dutra e não paga nada por isso. Porque as praças de pedágio, em geral, foram construídas nos lugares onde passam menos veículos. Existe uma injustiça, porque têm poucas pessoas pagando pedágio para todo mundo utilizar as rodovias. O modelo no Brasil é esse, de rodovia aberta. Temos apenas um modelo de rodovia fechada, que é o Rodoanel, onde todos os veículos pagam pedágio. Quando pudermos cobrar a tarifa por quilômetro rodado teremos uma tarifa muito menor e mais gente pagando. Outro problema é a falta de fiscalização, o que dificulta a cobrança no sistema ponto a ponto. Do total da frota de veículos de São Paulo, por exemplo, cerca de 40% está irregular e não paga nem IPVA, nem licenciamento, nem multa, nada! Se formos para um Estado que tem menos condição que São Paulo, imagino que o número seja muito pior. Hoje, temos uma barreira que impede que esse motorista passe pelo pedágio sem pagar, que é a cancela. A partir do momento que retirarmos essa barreira e colocarmos cobrança 100% eletrônica ou


mos. Todas as rodovias que chegam a São Paulo são gargalo, porque funcionam como grandes avenidas. Temos vários projetos para melhorar essa realidade, que estão em negociação com o governo do Estado de São Paulo, mas ainda não posso adiantar nenhum deles.

automática, como é que vamos cobrar desse usuário? O risco de perda é muito alto. O sistema brasileiro de concessões é considerado bom?

Sim, o Brasil é um modelo que deu certo. Aqui, as concessionárias pegaram algumas rodovias existentes e melhoraram a qualidade, em muitos casos duplicaram, estenderam trechos, agregaram muitos investimentos. Sem dúvida é um programa vencedor, com alto índice de satisfação dos usuários e dos governos. Os negócios da CCR estão centrados principalmente no Brasil?

Sim, mas já temos alguns ativos fora. Neste ano, adquirimos três aeroportos: no Equador; em Curaçao, no Caribe; e na Costa Rica, e também o aeroporto de Confins, em Minas Gerais. Além disso, temos investimentos em Metrô. A CCR ganhou a primeira Parceria Público-Privada do Estado de São Paulo com a linha 4 do Metrô, que é a linha amarela. O contrato é para operar o Metrô por 30 anos. Compramos toda tecnologia de trens, equipamos os sistemas e operamos. O sistema é moderno e não tem maquinista. A diferença de eficiência é enorme e se dá principalmente pela quantidade de pessoas trabalhando. Qual o perfil de engenheiro que inte­ ressa para a CCR?

Precisamos de engenheiros de várias modalidades, mas, especialmente, profissionais com muita vontade de trabalhar. Trabalhamos tanto com profissionais experientes quanto na formação de pes­ soas. Temos um programa de trainee muito reconhecido e vamos ao mercado em busca desses profissionais, que ficam seis meses passando por todas as áreas da empresa e, depois, são direcionados para uma área específica. Esses trainees vão ser os gestores, os diretores da CCR no futuro. A academia está formando profissio­ nais para atender a essa demanda?

Sim. Temos tido boas surpresas com os trainees. Fico muito impressio­nado em ver

O que o senhor faz para manter o corpo e a mente em ordem?

Tenho um convívio muito bom com meus filhos. Pelo menos uma vez por sema­na monto minha agenda para sair mais cedo, pegá-los na escola, passar um final de dia agradável com eles. Nos fins de semana dificilmente tenho algum compromisso de trabalho, então, consigo ter um tempo para eles e curtimos bastante. Cuido muito da minha saúde também. Gosto de correr e procuro fazer atividade esportiva pela manhã, porque o final do dia é um pouco menos previsível.

“Precisamos de engenheiros de várias modalidades...”

qual é a sua dica para os engenheiros que buscam sucesso profissional?

como são rápidos, muito mais ansiosos e têm muita vontade de crescer logo, e esse é um cuidado que temos de ter. Trabalhamos com engenheiros civis, para tocar os grandes projetos, mas também precisamos do engenheiro eletricista, eletrônico, de segurança do trabalho, entre outros, assim como de engenheiro ambiental para os cuidados que temos com o meio ambiente. Quais são os maiores desafios do seu cargo?

Tenho dois grandes desafios. O primeiro é cuidar e motivar as pessoas. Temos muitos profissionais com bastante tempo de casa e trabalhamos para motivá-los a sempre pensarem diferente. Procuro trabalhar para que tenhamos um clima muito favorável, porque isso é um ciclo virtuoso: quando temos um ambiente com pessoas motivadas conseguimos sempre melhorar os resultados. O outro desafio é que vivemos em um mundo cada vez mais urbano e temos de pensar em soluções para esse crescimento, pois é de projetos grandes e importantes de Engenharia que precisa-

Primeiro é fazer o que se gosta. Se não fizermos o que gostamos, não faremos com um padrão de qualidade e isso é muito transparente. Sempre gostei muito das atividades que desenvolvi. Encaro o negócio­ em que estou como algo apaixonan­te, temos um desafio todo dia, todo dia enca­ ramos algo novo e aprender algo todos os dias é muito motivador. Também é uma questão de dedicação e sempre me dediquei muito ao trabalho. Além disso, devemos saber como ser maduros, como ter a postura correta. Costumam dizer que pareço mais maduro do que deveria ser, pela minha idade, mas, para mim, isso é uma questão de educação que se aprende em casa. Muito mais do que a educação, aprendemos em casa a ter integridade. E essas são as características que procuro em um profissional para trabalhar comigo: integridade, honestidade, ética. O conheci­ mento é algo que se aprende também no dia a dia, afinal, não existe faculdade de concessão de rodovias. Mas podemos aprender todos os dias com a experiência de outras pessoas.

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Rumo ao espaço Estudos sobre dispositivos robustos à radiação ionizante objetivam uso em satélites e aeronaves

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radiação pode ser gerada por fontes naturais ou por dispositivos construídos pelo homem, podendo ser classificada em duas categorias: ionizante e não ionizante. A não ionizante é caracterizada pela baixa energia e está presente em ondas eletromagnéticas, como luz, calor e ondas de rádio. Já a radiação ionizante tem como propriedade a energia em quantidade suficiente para a interação com átomos neutros, com os quais interage nos meios em que se propaga. Neste caso, a energia é passível de arrancar elétrons dos átomos, processo em que o mesmo

deixa de ser neutro e passa a ter uma carga positiva. A radiação ionizante pode ser exemplificada pelas partículas alfa e beta e pelos raios gama, raios-X e também pelos nêutrons, não possui cor, cheiro, som e é indolor. Altamente penetrante, é utilizada nas áreas da saúde, indústria, agricultura, pesquisas de cronologia da Terra e geração­ de energia. Além disso, está presente no espaço, sendo conhecida como radiação ionizante cósmica ou galáctica. Em elevadas altitudes, pode ser prejudicial a atividades aéreas, como aviões, e também à órbita de satélites, uma vez que tem a capacidade de danificar os dispositivos eletrônicos existentes nos equipamentos e comprometer o seu funcionamento. Com o propósito de estudar dispositivos robustos à radiação ionizante, o Centro Universitário da FEI desenvolve pesquisas sobre o assunto nos níveis de Iniciação Científica, Mestrado e Doutorado, nos departamentos de Física e Engenharia Elétrica.

A Instituição explora essa linha de estudos há 12 anos, desde que o Brasil começou a sofrer embargos externos para a compra de itens eletrônicos e de componentes de uso espacial, provocando atrasos no desenvolvimento de projetos de interesse nacional. Os pesquisadores do Centro Universitário afirmam que a integração entre os dois campos do saber é essencial para o desenvolvimento de estudos sobre dispositivos robustecidos, uma vez que a Física detém os conhecimentos sobre radiação, enquanto a Engenharia Elétrica se incumbe dos dispositivos eletrônicos. Integração é também o termo que define os esforços de autoridades brasileiras, órgãos públicos, instituições de ensino e pesquisadores para que o País conquiste sua autonomia na criação e fabricação de transistores para uso espacial. Uma das iniciativas é o projeto Cir-

Doutorando avalia efeitos em

Da esq.: O professor doutor Salvador Gimenez orienta o aluno Luis Eduardo Seixas

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Com o tema ‘Desenvolvimento de um sistema de caracterização elétrica dos efeitos da radiação ionizante em dispositivos semicondutores e circuitos integrados’, orientado pelo professor doutor Salvador Gimenez com colaboração da professora doutora Marcilei Guazzelli, o pesquisador Luis Eduardo Seixas objetiva a criação de um sistema automatizado, reconfigurável e inédito para armazenamento de informações sobre circuitos integrados analógicos, digitais ou mistos, com o propósito de facilitar o acesso às alterações das características elétricas para avaliação da robustez de cada um deles. Para tanto, planeja a criação de um hardware flexível para a avaliação de medidas elétricas, conectado via barramento PCI estendido de um computador para leitura dos dados adquiridos em softwares com linguagens gráficas. “É um sistema versátil, que pode ser utilizado para análise de dispositivos eletrônicos, além de ser de fácil reconfiguração”, afirma o pesquisador, ao explicar que o sistema será compacto e poderá ser embarcado para medição em aeronaves.


nais, e também em testes com prótons e íons pesados utilizando os aceleradores de partículas do IF-USP. Além disso, a Instituição conta com a participação do professor doutor Salvador Gimenez para o desenvolvimento da Meta 3 do projeto, referente à chave de potência com limite de corrente. No amplo conceito proposto pelo CITAR, também está incluída a tese de doutorado desenvolvida na FEI pelo engenheiro eletricista Luis Eduardo Seixas, que trabalha com pesquisas na área no Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer, na Divisão de Concepção de Sistemas de Hardware, espaço que pertence ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (leia quadro).

enot-poloskun/istockphoto.com

cuitos Integrados Tolerantes à Radiação (CITAR), iniciativa do governo federal que reúne, entre outros, Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, Agência Espacial Brasileira (AEB), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo (FAPESP), Agência Brasileira da Inovação (FINEP), Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP), Centro de Tecnologia Renato Archer, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e Instituto de Estudos Avançados (IEAv), com a possível participação do Centro Universitário da FEI, em breve.

A iniciativa, que objetiva a consolidação de recursos e qualificação de mão de obra no Brasil para projetos na área, foi organizada em metas e prevê gastos da ordem de R$ 20 milhões de 2013 a 2015. Segundo a professora doutora Marcilei A. Guazzelli da Silveira, do Departamento de Física da FEI, o projeto recebe o maior investimento já feito pelo País em um programa espacial com esta fina­ lidade. A docente integra, juntamente com o professor doutor Roberto Baginski Santos, chefe do Departamento de Física, a equipe de qualificação do projeto na área de raios-X, com a administração do equipamento disponível no Centro Universitário para testes e formação de profissio-

dispositivos semicondutores e circuitos integrados O engenheiro realiza estudos das normas que dispõem sobre os ensaios para a caracterização de transistores, a fim de executar testes práticos. Na FEI, são feitos ensaios no equipamento de raios-X, fonte energética controlada e segura, que foi totalmente calibrada para poder ser aplicada nessa área de pesquisa. “Os dispositivos são submetidos a diferentes doses de radiação e também à variação de taxas de dose”, observa. A calibração do equipamento é feita pela professora Marcilei Guazzelli, que também é interface do Centro Universitário no Instituto de Física da Universidade de São Paulo para a realização de testes de radiação ionizante no acelerador de partículas, chamado Pelletron. Os dispositivos estudados pelo doutorando também serão submetidos a essa tecnologia e a fontes de Cobalto 60, recurso de energia natural e limitado que desempenha ação similar à dos raios-X, porém, em menor intensidade, conforme o que é estabelecido em normas de estudos internacionais. Em seu primeiro ano de doutorado, Luis Eduardo Seixas está

trabalhando na fase de testes da pesquisa. As avaliações são feitas em dispositivos comuns e também em dispositivos que possuem layouts diferenciados, tecnologia desenvolvida pelo professor doutor Salvador Gimenez em colaboração com pesquisadores belgas, em 2010, e já exploradas em outros estudos de pós-graduação orientados pelo docente. “Os novos desenhos potencializam o efeito do transistor, elevando o valor de corrente elétrica”, avalia. Os transistores desenvolvidos pelo professor doutor Salvador Gimenez possuem formatos de diamante, octogonal e peixe, diferente da formatação quadrada empregada na fabricação dos mesmos. Nessas novas configurações, já patenteadas pelo pesquisador, o dispositivo tem diminuição da área vulnerável à radiação ionizante, o que eleva a sua capacidade. Os resultados obtidos por meio dos testes serão comparados, a fim de determinar quais dispositivos apresentam mais robustez à radiação ionizante, para formar a base de dados da Plataforma de hardware/software.

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Simulação de dispositivos Estudante do segundo ano de doutorado em Engenharia Elétrica na FEI, Arianne Soares desenvolve pesquisa sobre os ‘Modelos analíticos de comportamento elétrico estático para FinFETs’, transistor que utiliza mais de um plano para a condução de corrente. O projeto é orientado pelo professor doutor Renato Giacomini, chefe do Departamento de Engenharia Elétrica da Instituição, que também supervisionou o trabalho de mestrado da engenheira eletricista, concluído em 2012, sobre ‘Modelo analítico de resistência parasitária para FinFETs de porta dupla’. A jovem graduou-se em 2009 e, na Instituição, foi estagiária para projetos desenvolvidos na área no Instituto de Pesquisas Industriais (IPEI). Arianne Soares, que possui bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), estuda a ação de diferentes efeitos em dispositivos de ordem nanométrica, tendência tecnológica na fabricação de transistores. A modelagem dos dispositivos tem como objetivo determinar o grau de confiabilidade dos mesmos e compreende, também, a análise de robustez à radiação ionizante, etapa do projeto em que a doutoranda recebe a colaboração da professora Marcilei Guazzelli. Para avaliar a robustez dos transistores, a estudante realiza testes de simulação computacional que reproduzem um dos principais danos causados em dispositivos submetidos ao ambiente espacial. “O recurso ainda é pouco explorado e, por isso, não é tão bem compreendido”,

O professor doutor Renato Giacomini com a aluna Arianne Soares

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enfatiza. A simulação consiste na descrição física dos transistores a fim de investigar quais os efeitos da radiação sobre eles. A engenheira relata que a tentativa de reprodução dos resultados da radiação é um recurso para tentar compreendê-la melhor, o que exige aprofundada investigação sobre a ferramenta de simulação. Recursos As tecnologias para a realização de testes de simulação são recursos disponíveis no Centro Universitário, que possui computadores com melhores capacidades de processamento e software para essa finalidade. “Nos computadores da FEI, com 24 núcleos, cada simulação leva em torno de 40 horas”, comenta o professor Renato Giacomini. Os resultados obtidos com as simulações serão analisados e, posteriormente, os dispositivos serão submetidos à radiação com objetivo de comparar as respostas obtidas com os dois tipos de testes. Para o uso do simulador é informado ao software o valor da energia que a partícula transfere ao material em que penetra. Com os resultados provenientes dessa investigação, Arianne Soares planeja avaliar o uso de dispositivos empilhados na área de eletrônica e, assim, propor as melhores associações dos transistores. A aluna afirma que existe interesse de pesquisadores e empresas da área, pois as configurações dos dispositivos podem influenciar o seu desempenho. Esta etapa do estudo de doutorado possui relação com o projeto desenvolvido por Robson Magalhães Assis em seu mestrado sobre ‘Estudos dos efeitos transitórios da radiação sobre a confiabilidade de transistores SOI’, finalizado em 2013. Com orientação do professor Renato Giacomini, o profissional formado pela FEI estudou a influência da radiação em dispositivos com tecnologia silíciosobre-­isolante (SOI). A engenheira realiza os testes de simulação da radiação ionizante sobre os dispositivos de ordem nanométrica em parceria com o estudante de doutorado em Engenharia Elétrica, André Luiz Perin, que analisa o efeito do campo magnético sobre os dispositivos. Também com orientação do professor Renato Giacomini, o engenheiro da computação investiga os efeitos da radiação ionizante sobre os mesmos dispositivos.


Radiação em transistores Aluno do 10º ciclo de Engenharia Elétrica, Juliano Alves executou o estudo ‘Desenvolvimento de um sistema de coleta e armazenamento de dados para estudo dos efeitos da radiação ionizante em transistores MOSFET em funcionamento’. O projeto de Iniciação Científica foi desenvolvido entre os meses de abril de 2012 e agosto de 2013, com orientação do professor doutor Marco Antônio Assis de Melo, do Departamento de Engenharia Elétrica – que pesquisa o comportamento do ruído dos transistores irradiados utilizando técnicas de processamento digital de sinais (DSP) –, e colaboração da professora Marcilei Guazzelli. Atualmente, o engenheiro segue em estudos de simulação computacional com a participação do professor Renato Giacomini. Os dispositivos do tipo MOSFET (transistor de efeito de campo de metal óxido-­ semicondutor) são comuns em circui­tos integrados analógicos ou digitais. O princípio básico desse recurso foi proposto pelo físico austro-húngaro Julius Edgar Lilienfeld, em 1925. O metal, entretanto, não é mais utilizado na fórmula de fabricação dos chips, tendo sido substituído por comportas de polissilício, embora o nome ainda prevaleça o mesmo. “Trata-se de um dispositivo de baixo custo de uso comercial”, diz o aluno. Juliano Alves propôs a submissão do dispositivo à radiação ionizante para a leitura em tempo real das reações no sistema. Com bolsa do Centro Universitário da FEI, o estudante iniciou seu projeto com pesquisas de referências bibliográficas que permitissem compreender o funcionamento do kit de desenvolvimento LaunchPad MSP430 da Texas Instruments, hardware que possibilita o desenvolvimento de microcontroladores da família MSP 430 e é caracterizado pelo baixíssimo consumo de energia. A tecnologia foi utilizada para captar as informações dos dispositivos durante o processo de radiação.

O professor doutor Marco Antônio Assis de Melo orienta a pesquisa de Juliano Alves

Detalhamento do estudo No projeto, foi utilizado o MOSFET canal tipo P, a fim de estudar os seus pontos de operação no momento da radiação. “Para obter uma resposta satisfatória do que acontece com o transistor, é importante que ele esteja em uma região de operação linear, ou seja, que o seu comportamento possa ser facilmente estimado”, observa o professor Marco Antônio Assis de Melo. O número de alterações é proporcional à área do dispositivo. Depois de encontrado o ponto de operação do transistor, foi iniciado o desenvolvimento de um sistema de hardware, responsável pela amplificação do sinal captado no momento da radiação, e software, que possibilita observar em tempo real o comportamento dos sinais coletados, que são exclusivos para este tipo de aquisição. O dispositivo aberto, sem a capa de metal, foi submetido diretamente a feixes de radiação do tipo raios-X. Para fazer a leitura, as informações sobre o dispositivo durante a radiação foram coletadas, digitalizadas e enviadas para um computador para armazenamento pelo microcontrolador MSP 430, para posterior análise dos desvios de tensão limiar. Os estudos desenvolvidos pelo pesquisador contemplaram, também, os efeitos da dose total ionizante (TID) sobre os dispositivos MOSFET. “Ao ser submetido a doses acumuladas, o dispositivo pode ter elevações em sua tensão limiar, além de ser induzido para fora de seu estado atual”, observa. O estudante informa, ainda, que os efeitos no dispositivo dependem dos locais em que as cargas geradas pela radiação ionizante são armadilhadas. Em dispositivos MOSFET, os efeitos da radiação ionizante são a criação de pares elétron-buracos na camada de óxido, alterando os parâmetros dos transistores eletrônicos. A realização de testes no acelerador de partículas foi a última etapa prática do projeto de pesquisa. Com a colaboração da professora Marcilei Guazzelli foram realizados testes no acelerador Pelletron. Os resultados da exposição do dispositivo à ação dos íons pesados acelerados pelo equipamento ainda estão sendo avaliados, entretanto, o estudante adianta que alguns dispositivos estão mais susceptíveis à radiação ionizante em função de suas características.

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pesquisa & tecnologia

Estudos reúnem grupo composto Em parceria com os estudantes Felipe Cu­ nha, Felipe Leite e Karlheinz Cirne, do 6º ciclo de Engenharia Elétrica, a professora doutora Marcilei Guazzelli desenvolve estudos sobre dispositivos robustos à radiação ionizante. O grupo de pesquisa foi iniciado no primeiro semestre de 2012 e dedica-se a investigar o que ocorre no mecanismo do dispositivo após a exposição à radiação ionizante. O projeto desenvolvido pelos pesquisadores recebe o apoio do professor doutor Roberto Bagisnki Santos. Desde o início das atividades em grupo, os pesquisadores dedicam-se à leitura de bibliografias relacionadas ao desenvolvimento de dispositivos robustos à radiação ionizante. A princípio, as investigações contemplavam os mecanismos básicos de funcionamento dos transistores, com a análise teórica sobre os efeitos da radiação. Com o avanço nos conteúdos pesquisados e discutidos, o amplo tema foi segmentado em pesquisas formais de Iniciação Científica com o propósito de verificar os comportamentos dos dispositivos em relação às diferentes doses de radiação, taxas de dose e tipos de radiações ionizantes. “Trabalhamos em grupo, porque esse tema requer muitas in-

vestigações, dados e também análises”, explica a professora Marcilei Guazzeli, sobre a integração entre os projetos e as responsabilidades de cada um na pesquisa. O aluno Felipe Cunha participa do grupo desde 2012 e recebe bolsa da FEI para o desenvolvimento do projeto desde fevereiro deste ano. Sua responsabilidade no estudo é a avaliação de danos em dispositivos desencapados, sem a camada de epóxi, após submissão à dose total ionizante (TID). O dispositivo utilizado na pesquisa é o MOSFET CD 4007, que possui seis transistores, três do tipo N e três do tipo P. “Submetemos os dispositivos desligados a seis irradiações e retiramos os seus dados de dois em dois dias para avaliar os efeitos dos danos em função de uma recuperação em temperatura ambiente, até que o dispositivo adquira um estado estável de dano”, explica Felipe Cunha. Os testes de irradiação foram feitos no equipamento de raios-X. Por meio dessas informações será possível obter dados para a caracterização dos dispositivos

Da esq.: O aluno Felipe Cunha, os professores doutores Roberto Baginski e Marcilei Guazzelli, e os estudantes Karlheinz Cirne e Felipe Leite

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por alunos e docentes e estudar separadamente o acúmulo de carga nos transistores N e P. O estudante Felipe Leite, bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) desde outubro deste ano, informa que os dispositivos apresentam diferentes parâmetros em função de suas dimensões e aspectos físicos. Uma delas é a tensão limiar, tensão mínima necessária para ser aplicada no terminal do transistor para que entre em funcionamento. Com base nisso, o estudante avalia a variação de tensão em função da dose acumulada no dispositivo, o que permite a determinação de curvas em representações gráficas. “Quando o dispositivo não está sob efeito de dose acumulada apresenta um tipo de curva. Quando a dose é administrada, a curva apresenta variação”, define. Os efeitos nos transistores também são diferentes, visto que um dispositivo é portador de cargas positivas e o outro de cargas negativas, o que influencia no armadilhamento de cargas nas camadas de óxido e interfaces do dispositivo, modificando inclusive a mobilidade dos portadores.

Já o aluno Karlheinz Cirne foca suas pesquisas nos mecanismos para a recuperação dos dispositivos danificados por exposição à radiação ionizante, feita por meio de tratamento térmico. “Quando o dispositivo é irradiado, a tensão para seu funcionamento sofre um deslocamento. Por meio do tratamento térmico é possível realocar parcialmente esta tensão, e até modificar o comportamento característico do dispositivo, dependendo se é um dispositivo portador de carga positivo ou negativo”, ressalta. Algumas cargas ficam armazenadas no dispositivo após a irradiação e são referentes à dose acumulada. Com o tratamento térmico, o processo de acomodação das cargas e da resposta final do dispositivo ao dano é acelerado. A etapa de pesquisa do estudante compreende o estudo da acomodação de cargas nos transistores tipo P e N, com a submissão do transistor à temperatura de 100ºC, conforme normas do Departamento de Defesa Norte-Americano (DoD). O uso de padrões internacionais é decorrente da falta de normas brasileiras para testes na área. Com o tratamento térmico é possível agilizar a recuperação do dispositivo em função de suas características.

Reconhecimento da academia Anualmente, pesquisadores, instituições de ensino e órgãos públicos interessados em discutir os efeitos da radiação ionizante em dispositivos eletrônicos encontram-se no Workshop sobre os Efeitos da Radiação Ionizante em Componentes Eletrônicos e Fototônicos de Uso Aeroespacial (WERICE Espacial). Na quinta edição, realizada de 21 a 23 de outubro em São José dos Campos, São Paulo, docentes e estudantes pesquisadores do Centro Universitário da FEI participaram da organização, programação de palestras e exposição de trabalhos. Integrante da comissão organizadora do programa e revisora dos projetos submetidos ao workshop, a professora doutora Marcilei Guazzelli destaca a participação de representantes da Instituição. “Foi muito gratificante, pessoal e profissionalmente, participar do encontro, que envolve instituições com ênfase nessa linha de pesquisa”, comenta. Segundo a docente, o Centro Universitário da FEI é a única Instituição privada de nível superior no País a desenvolver projetos nesse campo de estudo em colaboração com o projeto CITAR, o que reforça a importância e a contribuição das investigações feitas na área por seus profissionais. Os projetos desenvolvidos pelos pesquisadores Luis Eduardo Seixas, Arianne Soares, André Luiz Perin, Juliano Alves Oliveira, Felipe Cunha, Felipe Leite e Karlheinz Cirne foram apresentados no workshop, em forma de banner. Além disso, houve apresentação de palestras dos professores Renato Giacomini e Salvador Gimenez, do Departamento de Engenharia Elétrica, e do professor doutor Vagner B. Barbeta, diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais (IPEI). As instituições envolvidas no projeto CITAR também participaram do workshop, devido ao interesse que têm na área.

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Estudo filtra sinais elé Pesquisa de docente da FEI é destaque em revista científica internacional

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om o avanço da tecnologia são criados equipamentos cada vez mais sensíveis e capazes de ajudar a compreender como o cérebro humano é capaz de perceber, pensar e se comportar, colaborando com o diagnóstico precoce de doenças neurodegenerativas. Uma das mais poderosas gravações cerebrais eletrofisiológicas conhecidas atualmente é a magnetoencefalografia (MEG). Técnica não invasiva para a medição in vivo de sinais elétricos das células cerebrais, a MEG se baseia na detecção de alterações muito pequenas (ou fracas) de campos magnéticos amostrados de forma extremamente rápida (1 milésimo de segundo ou melhor). Embora tenha um sinal de alta resolução temporal, os resultados podem ser facilmente contaminados por outras fontes de variação não relacionadas com a ativação voluntária do cérebro, incluindo o ruído externo ou mesmo pequenos ruídos

internos, como o olho em movimento, por exemplo. Filtrar esses valiosos sinais elétricos é o desafio dos pesquisadores que investigam a possibilidade de uso da MEG para uma melhor compreensão das atividades cerebrais humanas. Tecnologia ainda indisponível no Brasil, a MEG foi alvo de estudo do professor doutor Carlos Eduardo Thomaz, do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro Universitário da FEI, cujos resultados foram publicados em renomado periódico internacional. A pesquisa ‘A priori-driven multivariate statistical approach to reduce the dimensionality of MEG signals’ objetiva separar, entre todos os sinais captados pelo equipamento, o que é informação relevante relacionada à ativação cerebral sob investigação, por meio do processamento de sinais. “Para medir o campo magnético gerado nas correntes elétricas cerebrais, a MEG possui sensores muito sensíveis, chamados de Superconducting Quantum Interference Devices (SQUIDs). Além de captar os sinais alvos do estudo, esses sensores podem registrar correntes elétricas que não têm necessariamente relação com os experimentos de interesse”, explica. O docente analisou dois experi-

mentos, que duravam alguns minutos e tinham intervalos de descanso. Um deles foi o de hipercapnia, no qual os voluntários inalavam dióxido de carbono (CO2) e, no outro, os participantes ficavam tamborilando os dedos em uma superfície. Usando a ideia de rearranjar a matriz de dados em pares de classificação que correspondem à representação de tempo variável de fases estáveis, ou estímulo da tarefa específica, o método de extração de característica reduziu

Uma década de interesse pelo tema Nos últimos 10 anos, o professor Carlos Eduardo Thomaz tem desenvolvido projetos e pesquisas na área de reconhecimento de padrões em estatística e, quando a Universidade de Nottingham, da Inglaterra, abriu vagas para pesquisadores brasileiros visitantes, em 2012, o docente submeteu um projeto que envolvia processamento de sinais e análise estatística multivariada. Ao ser aceito, o docente trabalhou no Sir Peter Mansfield Magnetic Resonance Centre, que

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faz parte da Escola de Física e Astronomia da universidade inglesa, onde desenvolveu a pesquisa ‘A MEG multivariate data exploratory analysis based on prior knowledge’ com os pesquisadores Emma Hall, Peter Morris, Richard Bowtell e Matthew Brookes, por 12 semanas. Ao retornar ao Brasil, o docente deu continuidade ao estudo para responder questões pendentes que culminaram na publicação do artigo publicado na revista Electronics Letters.

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O professor enfatiza que esse trabalho só foi possível devido à participação dos pesquisadores do Sir Peter Mansfield Magnetic Resonance Centre, do pesquisador Gilson Giraldi, do Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). “Ainda há questões


cosmin4000/istockphoto.com

tricos no cérebro

significativamente o número de componentes principais do sinal. Assim, a MEG capturou os sinais cerebrais enviados durante todo o tempo de estudo e, para saber quais sinais estavam relacionados às tarefas submetidas (inalação de CO2 e bater de dedos), excluiu automaticamente aqueles que apareceram também durante o descanso dos voluntários, tais como possíveis pensamentos aleatórios e movimentos dos olhos. “Foi um filtro estatístico que separou

o que realmente interessa do que não está associado ao estímulo induzido”, enfatiza o professor Carlos Thomaz. O estudo abre grandes expectativas que favorecem novos estudos com menos exigências de recursos computacionais e análises mais precisas dos sinais para entender as atividades elétricas do cérebro. O docente informa que o equipamento pode ser útil para analisar com mais precisão degenerações cerebrais provocadas por doenças como Alzheimer e Parkinson.

que precisam e podem ser respondidas utilizando a tecnologia disponível na FEI, por isso, pretendo dar continuidade às pesquisas envolvendo alunos de graduação e pós-graduação, principalmente da Engenharia Elétrica. Acredito que poderemos colaborar para a sociedade, pois, analisando sinais deste tipo, haverá avanços que contribuirão para o entendimento do processo eficiente e robusto de reconhecimento de padrões e extração de informação discriminante realizado pelo nosso cérebro”, acentua.

Reconhecimento Os resultados alcançados pela pesquisa do professor da FEI foram reconhecidos pela Electronics Letters, revista quinzenal internacional da Institution of Engineering and Technology (IET) que contempla resultados científicos e tecnológicos com impacto esperado no curto e médio prazo. A entidade é especializada em publicações de todas as áreas de Engenharia Eletrônica, incluindo Óptica, Comunicação e Engenharia Biomédica, bem como circuitos eletrônicos e de processamento de sinais. Além da publicação do artigo sobre a pesquisa, o professor doutor Carlos Eduardo Thomaz foi convidado para participar da seção de entrevistas da revista, na qual falou sobre o trabalho que desenvolve na FEI, a pesquisa sobre a MEG e projetos futuros. “É uma publicação com ótima visibilidade, e levar o nome do Centro Universitário da FEI reforça a qualidade e demonstra que muitas pesquisas importantes estão sendo realizadas na Instituição”, acrescenta. A íntegra da entrevista do professor da FEI pode ser lida no endereço eletrônico http://digital-library.theiet.org/content/journals/10.1049/el.2013.2700.

Professores e pesquisadores do Sir Peter Mansfield Magnetic Resonance Centre

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gestão & inovação

Como a propaganda O endopack/istockphoto.com

Docente da FEI pesquisou por três anos a persuasão nas estratégias de marketing

faturamento publicitário no Brasil cresceu 2,4% de janeiro a junho deste ano, em comparação ao mesmo período de 2012, alcançando R$ 14,63 bilhões, segundo dados do Projeto Inter-Meios, coordenado pela editora Meio & Mensagem. Apesar de os números serem muito expressivos, a cifra foi considerada a terceira pior variação semestral de receita publicitária em uma década, causada pela falta de visibilidade que ronda a economia brasileira. Este contexto chama atenção para uma questão relevante entre os profissionais da área de Marketing: o que fazer para que a propaganda seja suficientemente persuasiva e alcance o consumidor-­ alvo de forma a fazê-lo comprar o produto ou o serviço? Uma questão crítica para se formular uma propaganda persuasiva é escolher quais características do produto ou serviço devem ser enfatizadas e como essa informação deve ser comunicada ao público-alvo. Segundo a teoria de nível de interpretação (construal level theory), os consumidores têm uma visão mais abstrata de eventos e objetos psicologicamente distantes, mas a interpretação mental torna-se mais concreta quando o evento está psicologicamente próximo. Isso significa que os eventos próximos são mentalmente interpretados de maneira detalhada e contextualizada, enquanto os distantes são representados em termos de características abstratas e descontextualizadas. Na pesquisa ‘The Effect of Construal Level and Type of Message on Persuasion’, o professor do Programa de Pós-graduação em Administração do Centro Universitário da FEI, José Mauro Hernan-

Estudo foi premiado A pesquisa do professor da FEI venceu o prêmio do Encontro Nacional da Associação de Pós-graduação e Pesquisa em Administração (ENANPAD 2013). Realizado anualmente em se­

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atinge o consumidor? dez, sugere que a propaganda deve levar em consideração o nível de representação mental do público-alvo. O estudo demonstra que a mensagem da propaganda torna-se mais persuasiva quando está de acordo com a representação mental do público-alvo. “A maneira como os indivíduos pensam sobre determinado objeto, evento ou até mesmo pessoas é chamada de ‘nível de representação mental’ e pode ser concreta ou abstrata”, detalha. Inspirada na perspectiva da teoria de nível de interpretação, a pesquisa do docente levanta e comprova a hipótese de que, quando o nível de representação mental do consumidor é abstrato, é necessário enfatizar os benefícios dos produtos ou serviços nas campanhas publicitárias. Entretanto, quando o nível de representação do consumidor é concreto, o mais indicado é explorar os atributos dos produtos. “Nesta pesquisa concluímos que, quando há um matching entre a representação mental do consumidor e a mensagem da propaganda, esta se torna mais persuasiva”, afirma o professor, que trabalha com o estudo há três anos. COMPROVAÇÕES Neste período, foram realizados três experimentos para testar as hipóteses desenvolvidas na pesquisa, com o envolvimento de mais de 530 voluntários que passaram por testes e avaliações relacionados a produtos e à representação mental. O primeiro estudo examinou o impacto da distância temporal sobre a avaliação geral de um notebook. No segundo experimento foi manipulado o nível de interpretação dos consumidores por meio da indução de um estado mental abstrato ou concreto, antes de ser solicitado aos participantes que avaliassem dois produtos diferentes. Já no terceiro, os objetivos envolviam replicar os resultados encontrados nos estudos 1 e 2 usando um serviço ao invés de um produto de consumo. Segundo o professor, nenhuma pesquisa anterior havia examinado o efeito do nível de interpretação sobre o poder de persuasão

O professor José Mauro Hernandez realizou três experimentos para testar as hipóteses

das propagandas que apresentam atributos ou benefícios. “Por esse motivo, o trabalho tem importantes contribuições gerenciais para aqueles que estão envolvidos na elaboração de mensagens publicitárias”, argumenta. Além disso, os consumidores podem se beneficiar deste estudo aumentando a compreensão sobre as ferramentas e estratégias que os anunciantes e profissionais de marketing utilizam para persuadi-los a comprar determinados produtos ou serviços e, com base nesse conhecimento, tomar decisões de compra mais assertivas e conscientes. “A sociedade em geral também pode utilizar estudos como este para desenvolver e implementar políticas públicas que condicionam a adoção de técnicas de persuasão éticas. Nosso estudo fornece sementes para várias oportunidades de pesquisa”, acrescenta o docente. Entre as opções está a possibilidade de supor que exaltar benefícios é mais eficaz quando se sugere a compra de um presente para um amigo distante, mas os atributos são mais eficientes quando se está pensando sobre a compra de um produto para si mesmo.

em encontro nacional de Administração tembro, o ENANPAD é considerado o maior evento da comunidade científica e acadêmica de Administração no País. A última edição foi realizada entre os dias 7 e 11, no Rio de Janeiro. Organizado em 11

divisões acadêmicas, o prêmio recebeu a inscrição de aproximadamente 400 trabalhos, sendo que 98 foram selecionados para participar do congresso e ser avaliados por professores e pesquisadores da

área. A pesquisa do docente da FEI venceu o prêmio de melhor trabalho da área de Marketing. Os estudos premiados deverão ser publicados em um dos periódicos da associação organizadora.

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arquivo

A união faz a força Estudantes que fizeram parte de centros e diretórios acadêmicos também ajudaram a escrever a história do Brasil

O

movimento estudantil or­­ ga­­nizado no Brasil surgiu em 1901, com a criação da Fe­ deração dos Estudantes Brasileiros. No entanto, a entidade não teve vida longa e os estudantes voltaram a ter uma representação efetiva apenas em

1930, durante a chamada ‘Era Vargas’, quando o ambiente nacional ficou mais politizado. Esse movimento deu origem à União Nacional dos Estudantes (UNE), criada em agosto de 1937 e, em segui­ da, aos centros acadêmicos e diretórios acadêmicos, espaços representativos dos estudantes de cursos de nível superior. As instituições que deram origem ao Centro Universitário da FEI – Escola Superior de Administração e Negócios (ESAN) e Faculdade de Engenharia Industrial (FEI) – também tiveram, ao longo dos anos, estudantes envolvidos em importantes representações. O Centro Acadêmico da FEI (CAFEI), criado na década de 1950, reuniu jovens

Flávio Aragão dos Santos e Antonio Marsiglia Netto foram representantes do Centro Acadêmico

que participaram da luta estudantil pela democracia durante a ditadura militar no Brasil, principalmente nos chamados ‘anos de chumbo’ – de 1968, com a edição do Ato Institucional nº 5 (AI-5), até o final do governo Emílio Garrastazu Médici, em março de 1974. Um desses estudantes era Antonio Marsiglia Netto, que entrou na FEI em 1957 para cursar Engenharia Industrial Modalidade Mecânica. Nesta época, o campus ficava na rua São Joa­ quim, no bairro da Liberdade, e o CAFEI não possuía uma sede. Eleito presidente para a gestão 1959-1962, o então estu­ dante e sua diretoria construíram um es­ paço exclusivo para o Centro Acadêmico. “Um colega de turma de origem húngara, que trabalhava com o pai na construção civil, se propôs a fazer o espaço para a criação da sede. Com uma estru­ tura muito boa, o local recebeu também um grande espelho para que ali fossem dadas as ‘FEIstinhas’, confraternização para estudantes da Instituição e de outras faculdades, como a Pontifícia Universida­ de Católica (PUC), nos fins de semana”, relembra. Mas o trabalho do CAFEI du­ rante a presidência de Antonio Marsiglia foi muito além do auxílio aos estudantes e das confraternizações. Os integrantes do Centro Acadêmico tiveram um papel

Trabalho em prol dos alunos Com a precariedade das instalações e a distância entre o novo campus e o centro de São Bernardo do Campo, o transporte dos alunos era amplamente apoiado pelo Centro Acadêmico, responsável pelas linhas que levavam os estudantes dos sete municípios que compõem o Grande ABC até a FEI. “Como os alunos permaneciam muito tempo na faculdade, pois a agenda de aulas tinha grandes intervalos, também houve a necessidade da construção de um restaurante, que servia cerca de 4 mil refeições por dia e ficava sob a responsabilidade do CASM”, afirma Saulo Roberto Garlippe, ex-aluno de Engenharia Operacional de Refrigeração e Ar Condicionado e diretor do DA responsável pelo restaurante entre 1971 e 1972.

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Com a verba arrecadada no restaurante, por meio da venda de apostilas e da renda proveniente de eventos culturais realizados, o Centro Acadêmico conseguia manter um espaço de convivência, um parque gráfico com três mimeógrafos, usados para confeccionar as apostilas usadas em sala de aula e o jornal do CA, e uma biblioteca com livros técnicos e atividades sociais e culturais importantes, como as FEIrarte realizadas em 1968 e 1969. “Cuidávamos dos problemas da FEI, como transporte e material didático, e trabalhávamos por melhorias no ensino, além de outras reivindicações específicas dos alunos. Ajudamos a construir uma melhor infraestrutura no campus e nossa atuação ia desde


importante na movimentação política e realizaram um trabalho junto à Prefeitura de São Bernardo do Campo para pleitear o terreno onde hoje está o campus. O ex-aluno conta que, embora a so­ licitação da doação tenha sido recebida com entusiasmo pelo então prefeito Lauro Gomes, pois era interessante para o município ter uma Faculdade de En­ genharia, o político acreditou que seria positiva uma manifestação pública para envolver a população nessa reivindicação. Assim, foi organizada uma passeata com os estudantes, que saíram da sede da Prefeitura, o que colaborou para a con­ solidação da doação do terreno onde foi construído o campus na cidade, no Bairro Assunção, inaugurado em 1963. Foi du­ rante essa época que, para homenagear o fundador da FEI – o padre jesuíta Roberto Sabóia de Medeiros –, o CAFEI passou a

se chamar Centro Acadêmico Sabóia de Medeiros (CASM). Neste período nasceu também o jornal ‘O Fumaça’, meio de divulgação das ações e atividades da faculdade, que era distri­ buído para os estudantes. “Unidos, tive­ mos a condição de fazer essa mudança”, sinaliza Antonio Marsiglia. O engenheiro informa que foi uma época muito rica, porque alunos, professores e funcionários tinham interesse em fazer da FEI uma escola de Engenharia de primeiro nível, que formasse bons profissionais não só para beneficiar os próprios alunos, mas também para o aperfeiçoamento do en­ sino e para o desenvolvimento do País. Mudanças A última turma de Engenharia do prédio localizado na rua São Joaquim se formou em 1967 mas, mesmo com a

descarregar novas cadeiras para as salas de aula até ir atrás de patrocínio para colocar piso no prédio. Foi uma fase heroica de grande contribuição do Centro Acadêmico”, enfatiza Renzo Bernacchi, presidente do centrinho de Química e vice-presidente do CASM em 1970. O ex-­aluno, que não se formou devido à situação da época, acrescenta que as primeiras diretorias do Centro Acadêmico deixaram a Instituição em melhores condições e ajudaram até mesmo a montar os laboratórios de Química, Mecânica e Elétrica. A sociedade também era foco do CASM, que nos anos de 1967 e 1968 realizou uma festa de fim de ano para os moradores, principalmente crianças, das comunidades carentes do entorno

transferência para São Bernardo do Cam­ po, o CASM continuou trabalhando em busca de melhorias para o novo campus, que era isolado, tinha ruas sem asfaltos, prédios inacabados e carência de mate­ rial para as aulas. Além disso, os alunos tinham de estar sempre preparados para enfrentar o frio ou o calor intensos por falta de proteção térmica e, muitas vezes, a neblina cobria completamente o local. “Nesta fase de transição, algumas turmas tinham aulas em São Paulo e outras em São Bernardo. E, como não existiam os laboratórios, o pessoal de Engenharia Mecânica tinha aulas de torno mecânico e fresa no Serviço Social da Indústria (SESI) do Brás”, comenta o ex-aluno Flávio Ara­ gão dos Santos, que cursou Engenharia Industrial Mecânica de 1965 até 1969 e foi diretor da área de Assistência Social do CASM entre 1967 e 1969.

da FEI. Para que os estudantes tivessem um local de estudos e elaboração de projetos em equipe, em 1967 o Centro Acadêmico criou a Fundação Casa do Feiano, localizada na rua Jurubatuba e presidida por Flávio Aragão dos Santos. Aos sábados, o espaço era reservado para as ‘FEIstinhas’ dos alunos e da juventude da cidade. Algumas atividades esportivas também eram realizadas pelo CASM, como campeonatos de xadrez e bilhar, além da participação no campeonato anual MAPOFEI, reunindo a Faculdade Mauá (hoje Centro Universitário do Instituto Mauá de Tecnologia), a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (POLI-USP) e a FEI, que era forte no handebol, vôlei e futebol.

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arquivo

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Saulo Roberto Garlippe, Hércules Fidale, Renzo Bernacchi e Amaury Monteiro Junior foram estudantes nas décadas de 1960 e 1970

Forte participação política As histórias dos diretórios acadêmicos se intercalam com o caminho político per­ corrido pelo País. Na década de 1960, os estudantes tinham uma formação técnica importante, mas também uma participa­ ção intensa nas atividades sociais e políti­ cas, e a FEI era uma das mais respeitadas instituições envolvidas nos movimentos estudantis graças à qualidade dos mem­ bros que a representavam. “No período da ditadura militar, na vigência da Lei 4.464, de 9 de novembro de 1964, chamada ‘Lei Suplicy’, que proibia as atividades políti­ cas nas organizações estudantis e definia nova regulamentação para as mesmas, as entidades estudantis passaram por um processo de desestruturação, já que algu­ mas universidades deixaram de reconhecer os centros acadêmicos como entidade legítima e representativa dos estudantes. Com isso, todo e qualquer movimento rei­ vindicatório era considerado crime contra a segurança nacional e punido segundo as leis da ditadura militar”, lamenta Amaury Monteiro Junior, ex-aluno de Engenharia Mecânica entre 1970 e 1972.

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Mesmo assim, os centros acadêmicos de diferentes universidades, sob a organi­ zação da União Estadual dos Estudantes (UEE) e da União Nacional dos Estudantes (UNE), promoviam atividades reivindican­ do a volta da democracia. Nesse período, o campus São Bernardo do Campo da FEI abrigou o XIX Congresso da UEE, realizado em 7 de setembro de 1966 e que acabou sendo invadido pelos agentes do Departa­ mento de Ordem Política e Social (DOPS). Os policiais prenderam cerca de 300 estu­ dantes por uma semana, entre eles Wilson Lazzarini, aluno de Engenharia Química entre 1965 e 1969, que terminou fichado pela polícia política. “Embora eu não tenha sofrido tortura física, fiquei psicologica­ mente abalado por não saber o que acon­ teceria. O evento comprovou que existiam pessoas do governo infiltradas entre os estudantes participantes, pois era difícil chegar à FEI e eu fui o responsável por fazer o mapa distribuído aos estudantes que vinham de fora. E foi justamente esse mapa que estava nas mãos dos policiais”, relembra o engenheiro.

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Em 1968 nasceram na FEI os chama­ dos ‘Centrinhos’, organizações focadas e direcionadas aos cursos/especialidades oferecidos pela Instituição. Além das rein­ vindicações por melhorias, os ‘Centrinhos’ organizavam eventos e seminários com temas técnicos. A ditadura militar, que reprovava qualquer movimento estudan­ til, editou em 26 de fevereiro de 1969 o Decreto-lei nº 477 que definia diversas infrações relacionadas a professores, alunos, funcionários ou empregados de estabelecimentos de ensino público ou particular. Esse decreto serviu de base para a cassação de inúmeras pessoas e impedia os alunos politizados de se ma­ tricularem no ensino superior se fossem presos ou indiciados por participação no movimento estudantil, que tinha atingido seu auge de organização em 1968. No iní­ cio de 1970, a FEI foi invadida por agentes do Departamento Estadual de Ordem Política e Social de São Paulo (DEOPS) e pela Polícia Militar, que entraram na sede do CASM e, além de destruir documentos, levaram mimeógrafos e todas as apostilas


Wilson Lazzarini foi preso pelo DOPS

sobre bombas hidráulicas que faziam parte do curso, achando que se tratava de manuais para a construção de bombas que poderiam ser usadas como armas. Com a desestruturação causada pela invasão e a falta de reconhecimento legal, o Centro Acadêmico Sabóia de Medeiros encerrou suas atividades após esse episó­ dio. A repressão por parte dos militares aos estudantes era tamanha que um sim­ ples documento dos Centrinhos e do DA, que assumiram o papel reivindicatório dos estudantes após a invasão e o fechamen­ to do CASM e discutiam o aumento das mensalidades na FEI, desencadeou a con­ vocação do presidente do DA ao DEOPS para prestar esclarecimentos. O Diretório Acadêmico tinha sido fundado em 1969 para ocupar um espaço de representação que se afunilava para o CASM e Hercules Fidale foi eleito o primeiro presidente. “A década de 1960, no Brasil, foi de ex­ plosão cultural, com o fortalecimento da Música Popular Brasileira, dos festivais de música, do Teatro Oficina, do Teatro de Arena e da emancipação da mulher. Era um mar de linhas de pensamentos. E os estudantes eram criativos e queriam ser transformadores, o que favoreceu o fortalecimento dos centros acadêmicos”,

Felipe Ferro Ieda é o atual presidente do DA

acentua o engenheiro, que estudou na FEI entre 1968 e 1972. Novos tempos Atualmente, o DA tem o papel de fazer política estudantil para fortalecer cada vez mais o ensino, a infraestrutura e o crescimento da FEI. Ainda hoje, os novos representantes reconhecem a importância das entidades CASM e DA na época da ditadura militar. Em 2001, o nome do DA

foi alterado temporariamente e simbolica­ mente – sem alteração no estatuto – para Diretório Acadêmico Engenheiro Sergio Motta, em homenagem ao dirigente da UNE que estudou na FEI e batalhou pela redemocratização do País. A homenagem foi reconhecida pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso, amigo do engenheiro Sergio Motta, que era ministro de seu governo. Entre 2004 e 2006, o DA ganhou novamente representação na União Estadual dos Estudantes e uma cadeira como representante das faculdades do ABC paulista. Segundo Felipe Ferro Ieda, aluno do 10º ciclo de Engenharia Mecâ­ nica Automobilística e atual presidente do DA dos cursos de Engenharia, todas as ações visam benfeitorias para o desen­ volvimento dos alunos, como o sebo com livros didáticos que são vendidos a preço simbólico. O DA também se preocupa em estimular nos alunos a colaboração com a sociedade, por isso, organiza a doação de sangue, uma vez por ano. “Precisamos mostrar os princípios do trabalho do DA para que os alunos entendam e façam uso deste espaço de forma que colabore para a formação profissional. Temos uma rela­ ção de respeito com a Reitoria e, juntos, podemos realizar importantes parcerias”, reforça o estudante.

Fortalecimento Desde maio, o Centro Universitário da FEI também abriga o Diretório Central dos Estudantes (DCE), que tem o objetivo de congregar as diversas representações estudantis na busca de colaboração com os órgãos gestores do Centro Universitário para a melhoria dos serviços prestados, sob diferentes aspectos. “Cabe ao DCE centralizar as necessidades e demandas do conjunto dos alunos da Instituição. Além disso, de acordo com o estatuto, fazemos parte do Conselho de Ensino Pesquisa e Extensão (CEPEx) e teremos uma reunião ordinária mensal com a Reitoria”, enfatiza Eduardo Kohn, aluno do 4º ciclo de Engenharia Elétrica e presidente do DCE.

Eduardo Kohn preside o DCE

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pós-graduação

Mercado em franca as Especialização prepara profissionais para o desenvolvimento de sistemas de climatização

A

s áreas de ar condicionado, aque­cimento, refrigeração e ven­ tilação estão em alta na econo­ mia nacional. Segundo a Associação Bra­ sileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventila­ção e Aquecimento (ABRAVA), em 2011 o setor apresentou crescimento de 14% e, para 2013, a estimativa de expan­ são é de 8%, com faturamento previsto de US$ 15 bilhões. A indústria deve receber US$ 9 bilhões desse valor, impulsionada pela refrigeração em transportes e conser­

vação de alimentos e bebidas, enquanto o setor de serviços estima movimentar US$ 2,5 bilhões e o de comércio US$ 2,4 bilhões. O aumento na fabricação de sis­ temas de climatização resultará, ainda, no desenvolvimento de oportunidades pro­ fissionais em diferentes etapas de criação e manutenção de projetos. Atualmente, a região Sudeste concentra 61% do setor. Segundo o professor mestre Hugo La­ greca Filho, coordenador do curso de pós-­ graduação em Refrigeração e Ar Condicio­ nado e docente do Departamento de Enge­ nharia Mecânica do Centro Universitário da FEI, há muitos desafios envolvidos no crescimento do segmento. “No Brasil, está se iniciando a utilização de equipamentos de ar condicionado. A procura ainda está limitada aos grandes centros urbanos e

O coordenador do curso Hugo Lagreca Filho

tende a crescer nas outras regiões”, obser­ va. O especialista aponta que o mercado de climatização carece de profissionais para

Valorização profissional e busca por conhecimentos Engenheiro mecânico graduado pela FEI em 2005, Leonard Cabezas trabalha com refrigeração e ar condicionado desde 2007. Com o objetivo de especializar-se na área, aprimorar conhecimentos e incrementar o currículo, em 2011 o engenheiro retornou à Instituição para cursar a pós-­ graduação em Refrigeração e Ar Condicio-

Leonard Cabezas concluiu a pós em 2012

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nado. “Além da carga de 480 horas, o curso possui um ótimo corpo docente e boa estrutura de laboratórios”, destaca. Segundo o engenheiro, a pós-graduação, concluída em 2012, ofereceu uma visão abrangente sobre sistemas de refrigeração, expandindo suas possibilidades profissionais e ampliando o conteúdo adquirido na graduação.

Wanderley Galhardo está cursando

Atualmente, o engenheiro mecânico trabalha na UOL DIVEO, divisão de tecnologia da informação e outsourcing do Grupo UOL, e sob sua responsabilidade está a refrigeração dos quatro data centers da empresa, que precisam ser mantidos nos mais rigorosos controles de temperatura e umidade relativa para o bom funcionamento dos servidores. Na companhia, o profissional trabalha com o desenvolvimento de novos ambientes a serem climatizados e a manutenção dos sistemas de refrigeração já existentes, indispensáveis devido à grande carga térmica gerada nesses ambientes e à grande quantidade de servidores de alta densidade. “Há muita demanda por profissionais na área”, observa. Com 37 anos de experiência no segmento de ar condicionado, o tecnólogo em Mecânica graduado em 1976, Wanderley Galhardo, decidiu cursar a pós-graduação para aprimorar seus conhecimentos. Atualmente no terceiro semestre do curso, o


acompanhar a expansão e para qualificar a mão de obra técnica. A preparação para o desenvolvimento de sistemas de climatização eficientes em diferentes setores é uma das competên­ cias valorizadas na área. Os profissionais especializados em ar condicionado, aque­ cimento, refrigeração e ventilação podem trabalhar, por exemplo, nos segmentos hospitalar e de edificações. “É possível atuar em organizações que fabricam equi­ pamentos de refrigeração, em companhias que realizam instalações, em empresas que desenvolvem projetos e também em consultorias”, detalha o docente. Com o propósito de preparar os alunos para as diferentes demandas do setor, a pós-graduação em Refrigeração e Ar

Condicionado oferecida pela Instituição proporciona conteúdos avançados sobre o assunto, tendo como base princípios da Termodinâmica, Mecânica dos Fluidos e Transferência de Calor, requeridos para o desenvolvimento de projetos de refrigera­ ção e climatização. “O referencial teórico é um dos diferenciais proporcionados pelo curso. Este ponto em comum entre Engenharia Mecânica e Energia é consi­ derado difícil, pois exige conhecimentos anteriores com profundidade”, salienta. A especialização é estruturada em três módulos. O primeiro aborda Refrigeração e possui enfoques nos setores comerciais e industriais. Para tanto, são administrados­

profissional destaca as disciplinas teóricas da especialização como diferenciais. “Gosto muito das matérias teóricas, como Fundamentos de Ar Condicionado (Psicrometria). Também aprendi muito sobre conservação de alimentos e acústica, competências que são muito valorizadas pelo mercado”, informa. Proprietário da Ph Mollier Tecnologia em Ar Condicionado, empresa que desenvolve projetos, instalação e manutenção de equipamentos, o tecnólogo afirma sempre ser possível adquirir novos conhecimentos apesar da grande experiência na área. Aos 60 anos de idade, Wanderley Galhardo valoriza também a convivência com profissionais mais jovens durante o curso, o que proporciona outras perspectivas de atuação no setor.

conteúdos sobre Fundamentos de Equipa­ mentos e Sistemas, Conservação de Ali­ mentos e Produtos Perecíveis, Aplicações Comerciais e Industriais da Refrigeração, Projetos e Manutenção de Equipamentos­e Sistemas de Refrigeração. A etapa seguinte é dedicada ao Ar Condicionado. Com uma abordagem ampla, os conteúdos con­ templam Fundamentos, Equipamentos, Projetos de Sistemas de Ar Condicionado, Acústica, Manutenção de Equipamentos, Conservação e Recuperação de Energia. O terceiro módulo contém elementos de Ven­ tilação, com Fundamentos, Distribuição de Ar, Projeto de Sistemas de Ventilação Geral e Local, Exaustora e Ventiladores.

Maksud/istockphoto.com

censão no Brasil

O CURSO Objetivos – Atender à grande necessidade de profissionais especializados nas áreas de refrigeração, ar condicionado, ventilação e aquecimento. Público-alvo – Engenheiros ou tecnólogos que atuam ou tenham interesse em atuar nas áreas de refrigeração, condicionamento de ar, ventilação e aquecimento. Pré-requisitos – Graduação em Engenharia ou Tecnologia Mecânica. Análise de currículo. Informações - Campus São Paulo – (11) 3274-5200 - Envio de currículos para análise – iecatsp@fei.edu.br.

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mestrado

Produção eficiente

R

ecentemente, a Associação Na­ cio­nal dos Fabricantes de Veícu­ los­ Automotores (ANFAVEA) divulgou uma pesquisa mostrando que o Brasil está em quinto lugar no mundo entre os países com maior nível de vendas de automóveis, atrás apenas de Estados Unidos, China, Japão e Alemanha e, cons­ tantemente, o mercado brasileiro registra aumentos anuais acima dos 10% nas ven­ das, incluindo as exportações. O cenário é favorável e propicia oportunidades para que as montadoras de veículos invistam no Brasil, e isso, de fato, tem ocorrido e pode ser percebido por meio de investimentos de bilhões de dólares a partir de 2010, incluindo a instalação de novas fábricas no País. Fatores como a expansão da pro­ dução de veículos, a crescente aplicação da tecnologia e o menor tempo de ciclo no projeto de um veículo contribuem para a competitividade e o sucesso dessas empresas. Porém, especialistas apontam esses mesmos fatores como contribuintes do crescente número de recalls de veículos. Ao analisar este cenário, o engenhei­ ro mecânico Fábio Guedes desenvolveu um estudo, para a tese de mestrado em Engenharia Mecânica que realizou na FEI, que tinha como objetivo avaliar o Processo de Desenvolvimento de Novos Produtos (PDNP), identificando o nível de estruturação e correlacionando-o com os indicadores de desempenho de quantidade de falhas e quantidade de atrasos ocorri­ dos ao longo deste processo. O engenheiro estudou seis multinacionais de grande porte, localizadas dentro do Estado de São

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hfng/istockphoto.com

Pesquisa aponta as causas de falhas em processos da indústria

Paulo, todas fornecedoras de produtos au­ tomotivos para uma montadora de origem norte-americana e sediadas no Brasil há mais de oito décadas. “Diversos especialistas apontam o PDNP como um processo de extrema importância para que uma empresa atinja seus objetivos de vendas e lucratividade. Em uma organização, o rápido desenvol­ vimento de novos produtos e um eficiente posicionamento destes no mercado são importantes para o sucesso corporativo em longo prazo”, justifica Fábio Guedes. Além disso, o desenvolvimento de pro­ dutos de qualidade também é um fator importante para a competitividade, por isso, o engenheiro resolveu realizar esse estudo para que fosse possível identificar formas de minimizar o tempo de ciclo de um determinado produto e, ao mesmo tempo, maximizar o atendimento às ne­ cessidades do cliente. Entre os resultados obtidos no estudo, o engenheiro descobriu indícios da existên­ cia de correlação entre o nível de aderência ao PDNP, que requer planejamento e exe­ cução efetivos ao longo de toda a cadeia e, se gerenciado corretamente, pode propor­ cionar uma vantagem competitiva susten­

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tável; e o desempenho de indicado­res de quantidade de falhas e atrasos ocorridos no processo, ao longo de um determinado projeto de desenvolvimento de produtos automotivos. “As informações coletadas e os resulta­ dos obtidos mostraram que, apesar de exis­ tir um padrão de referência para o PDNP da montadora para com seus fornecedores, cada um deles tem suas particularidades, dando mais foco em alguns quesitos do que em outros”, reforça o engenheiro. O mestrando também percebeu diferenças significativas entre os fornecedores em relação ao PDNP, por meio dos indicado­ res de desempenho individuais coletados dentro da montadora. Mestre em Engenharia Mecânica, Fá­ bio Guedes agora pretende aprofundar o estudo junto com o orientador do trabalho, o professor doutor Wilson Hilsdorf, do Departamento de Engenharia de Produção da FEI, para a submissão da pesquisa em forma de paper, direcionada a uma revista acadêmica do segmento de Engenharia de Produção. “Já publiquei quatro papers des­ tinados a seminários e congressos, como o SAE Brasil e o Simpósio Internacional de Engenharia Automotiva (SIMEA), or­ ganizado pela Associação de Engenharia Automotiva (AEA), e essas publicações são importantes, pois dão cada vez mais credibilidade ao estudo”, acrescenta.


AGENDA

Prepare-se para 2014 27

a

29 de janeiro

Semana da Qualidade no Ensino, Pesquisa e Extensão Campus São Bernardo do Campo

Evento que marca o início do semestre letivo, a Semana tem como objetivo reunir professores e líderes da Instituição para discutir temas relacionados à missão acadêmica, humanística, religiosa e social da FEI.

17 de maio

FEI Portas Abertas

14

a 18 de outubro

Campus São Bernardo do Campo

20

a 24 de outubro

Campus São Paulo

Semana da Administração, Ciência da Computação e Engenharia Com o objetivo de ampliar a gama de temas abordados e de propiciar maior integração e troca de experiências entre os alunos, a Semana da Administração, Ciência da Computação e Engenharia é um evento completo. Reunindo diferentes informações e experiências nas áreas de gestão e tecnologia por meio de palestras, minicursos, exposições e visitas, entre outras atividades, durante a Semana os alunos poderão complementar a formação acadêmica com a aquisição de novos conhecimentos, ampliação de visão técnica e atualização quanto ao mercado de trabalho.

Campus São Bernardo do Campo

O FEI Portas Abertas proporciona aos alunos do ensino fundamental e médio a oportunidade de conhecerem a FEI, participando de atividades em alguns dos mais de 87 laboratórios do campus São Bernardo do Campo nas áreas de Administração, Ciência da Computação e Engenharia. A programação terá visitas interativas aos laboratórios, exposição de projetos e plantões de dúvidas. A entrada é gratuita e aberta a professores e acompanhantes. Saiba mais no site www.fei.edu.br/portasabertas.

16 de outubro

SICFEI Campus São Bernardo do Campo

O Simpósio de Iniciação Científica, Didática e de Ações Sociais e de Extensão da FEI visa introduzir o aluno de graduação na prática da apresentação de seus projetos de pesquisa. No evento serão apresentadas todas as pesquisas desenvolvidas pelos alunos que fazem parte do programa de iniciação da FEI. Saiba mais no site www.fei.edu.br/sicfei.

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Professor doutor Vagner Barbetta Diretor do Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais (IPEI)

Parcerias: perspectivas e resultados para a FEI

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busca de parcerias com empresas tem sido uma tônica recente nas atividades desenvol­ vidas pelo Instituto de Pesquisas e Estudos Industriais (IPEI), em conformidade com o modelo da hélice tripla de Etzkowitz. Este conceito, elaborado pelo eminente professor da Universidade Stanford em meados da década de 1990, busca descrever como as universidades, empresas e o governo devem interagir para formar a base de sistemas eficientes de inovação de um país. Nesta perspectiva, e consonante com a pro­ posta de consolidação dos grupos de pesquisa da FEI, a interação com o sistema produtivo adquire um caráter de vital importância. Dados sobre os Estados Unidos publicados no estudo ‘Science and Engineering Indicators 2012’ mostram que, até a metade da década de 1970, a maioria dos recursos de pesquisa daquele país provinha do governo, enquanto que em 2009 cerca de 60% dos recursos de pesquisa já eram provenientes das empresas. No Brasil, a interação empresa-universidade é um assunto mais recente, mas que vem ganhando força nos últimos anos. No caso específico da FEI, alguns exemplos exitosos podem ser apresentados, como as parcerias recentes com Embraer, Scania e SMS Eletrônica. A parceria com a Embraer começou há cerca de três anos e possui dois projetos em andamento. Além do pro­ fessor doutor Roberto Bortolussi, pesquisador principal do Departamento de Engenharia Mecânica, mestrandos também puderam participar das pesquisas, que deverão resultar em tecnologias que poderão ser incorporadas na

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próxima geração de aviões da empresa. A parceria com a Scania iniciou-se através de um projeto envolvendo um mestrando orientado pelo professor doutor Ricar­ do Belchior Tôrres, do Departamento de Engenharia Química. Com os excelentes resultados deste trabalho, a Scania firmou um novo termo de cooperação em 2012 e, em discussões recentes, já sinalizou o interesse em realizar dois novos projetos. Além do financiamento das pesquisas, a parceria tem resultado em outros benefícios. Recentemente, foram doados pela Scania três motores de caminhão, com todo o ferramental para o seu desmonte e manutenção, que irão beneficiar nossos alunos de graduação. Além disso, a montadora doou um chassi completo de caminhão, com diversos sistemas tecnológicos inovadores e que poderá ser utilizado como plataforma de testes e de aprendizagem. Finalmente, destacamos a parceria com a SMS Eletrônica, que resultou na criação de um laboratório de pesquisa em eletrônica de potência. Por meio do convênio, três docentes realizam pesquisas na área, coordenados pelo professor doutor Devair Arrabaça. O grupo conta, ainda, com um engenheiro, três estagiá­ rios e oito alunos de Iniciação Científica, três deles com bolsa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP). Embora ainda sejam resultados modestos, são significativos, pois beneficiam os cursos de graduação e fomentam pesquisas na FEI, permitindo que possamos cumprir nossa missão e exercer nosso papel social de forma plena.

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