O Jardim de Catalinda Leda Flora
Ilustração: André Cerino 1
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O Jardim de Catalinda Leda Flora
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Ficha tĂŠcnica
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Folha de rosto ou Dedicat贸ria
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Os primeiros tempos Era inverno em Brasilax mas nem fazia frio. O céu muito azul tinha expulsado as nuvens e a cidade, linda com os ipês rosas oridos, viu a menina nascer no nzinho de uma tarde. Quando a enfermeira a entregou toda enroladinha em panos brancos nos braços da mãe, dona Clarista começou a rir e falou: - Que menina mais bonitinha! Ao lado das duas, o pai, doutor Nuno, abriu bem os olhos e observou: - Muito bonitinha mesmo, ela me encantou. Dona Clarista disparou a falar: - Agora que a vi, acho que posso escolher o nome dela. Um nome que se pareça com ela, que tenha a carinha dela. Muita gente escolhe o nome dos lhos quando eles ainda estão crescendo na barriga da mãe. Eu, não, só agora é que vou decidir. Está um pouquinho difícil escolher, mas vai sair, vai sair! De repente, quase gritou: - Ah, já sei! Ela vai se chamar... ela vai se chamar Catalinda! E Catalinda entrou na vida e no mundo.
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Foi crescendo, crescendo e aprendendo um monte de coisas. Catalinda era esperta, sorridente e sortuda para ganhar presentes. Aos dois anos, formou uma coleção de brinquedos: bonecas, bichinhos e bichões, fogão, geladeira, móveis, vassoura, rodo, bolas, fantoches, carrinhos. Alguns até falavam e cantavam, como um cachorro com jeito de levado e cara engraçada. Ela apertava uma pata, ele contava um caso; apertava outra, o danado entoava uma canção. Outros brinquedos piscavam luzes coloridas. Quando os amigos visitavam Catalinda, brincavam na maior farra. Ganhou tantos livros que montou uma biblioteca na sala de fazer criança feliz, como gostava de chamar o espaço das brincadeiras. Resultado: uma estante toda branquinha foi colocada ali. Como adorava música, tinha discos e instrumentos musicais, como reco-reco, pandeiro, chocalho, auta, tambor. Sem esquecer dos lápis coloridos, papel para desenhar, massa para modelagem, tintas de todas as cores e quadro negro. Tinha até espelho, mesa, banquinhos, cadeira de balanço. Bolinha de sabão também.
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Catalinda gostava de outras coisas além dos brinquedos, como o céu, o sol, a lua. Admirava a beleza deles. Aos três anos já sabia que a chuva e a tempestade faziam parte do mundo, como raios e trovões. Que havia dias claros e cinzentos. Descobriu o calor e o frio, o dia e a noite, o seco e o molhado, o doce e o salgado. Descobriu até que as pessoas sentiam alegria e tristeza, que adoecer era muito chato. Numa manhã, ao perceber a própria sombra no chão, um presente dado pelo sol, riu muito, pulou, vibrou. Correu na rua e a sombra correu junto com ela. Parou, mexeu o braço direito e viu a sombra repetir seu gesto. Percebeu que a sombra era dela mesma e chamou os amigos para mostrar a novidade. Dias depois, acabou sabendo que lâmpadas acesas na sua casa também podiam ser usadas para brincar de sombra na parede. E se sentiu importante quando disse: - Mamãe, essa sombra vem da luz. Brincava no parque da superquadra onde morava. Levava uma sacola de brinquedos, mas às vezes se esquecia deles porque havia no chão coisas interessantes como terra, areia, pedrinhas, folhas e ores secas. Misturava tudo e fazia sopa de mentira. Fingia que comia junto com outras crianças. Ah, Catalinda também adorava apreciar formigas andando apressadas, quase correndo.
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Numa viagem com os pais, Catalinda conheceu a praia, as ondas, a espuma, as conchinhas e as cores do mar. Ficou espantada com tanta areia seca e molhada. Mais espantada ainda com o tamanho do mar, que parecia não acabar nunca. Olhou muito aquela paisagem, com ares de grande observadora, como fazia quando cava curiosa, e perguntou: - Papai, o mar é maior do que o mundo? Ele respondeu que havia muitos mares e, portanto, o mundo era a grande casa de todos eles. Reparou que o mar não parava, não sossegava um minuto, e se lembrou do coração, que batia o tempo todo. Logo, pensou que o mar e o coração combinavam um com o outro, como irmãos muito parecidos. Em outra viagem, quando já estava com cinco anos, acabou conhecendo uma coisa muito alta, muito grande, de pedra. Soube que tinha o nome de montanha. Gostou e disse três vezes bem baixinho para não esquecer: “Montanha, montanha, montanha”. Perto da montanha, viu pela primeira vez uma oresta, com tantas árvores e ores, que botou na cabeça que a cor preferida do mundo era o verde. Só podia ser o verde. Mas ela amava de verdade o amarelo. Assim, aos pouquinhos, a natureza foi entrando pelos olhos castanhos de Catalinda e escolheu o centro do peito para morar. Lá dentro já se espremiam cachorros, passarinhos, peixes e borboletas.
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Um grande mistério Catalinda foi perdendo os dentes de leite, como todas as crianças, e ganhando os novos, chamados denitivos. Quando o quinto dente para valer mostrou que ia nascer, dona Clarista, que adorava comemorar datas e novidades, deu um presente que até então Catalinda não tinha ganhado: um vaso de or, e a or era uma caliandra. Levou-a para seu quarto e resolveu cuidar dela muito bem: dava até água ltrada para caliandra. Aprendeu também um pouquinho sobre adubação. Quando acordava, costumava dizer antes de se levantar: “Bom dia, minha or”. Passou a reparar as ores da superquadra, suas cores variadas, sua delicadeza, e o perfume que mandavam para tudo e para todos . Ficou sem nenhuma dúvida: ores eram especiais e viviam para dar beleza e alegria ao mundo. Então, pediu margaridas e lírios ao pai, explicando que caliandra queria amigas, queria companhia. A ideia de fazer um pequeno jardim no quarto tomou conta da cabeça de Catalinda : “Vou fazer isso, vou ter amigos gente e amigas ores”.
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Um dia, sem mais nem menos, Catalinda ouviu um som: tac! Minutos depois, tac! tac! tac! O que seria aquilo que vinha da sala? Correu até lá e viu, como novidade, apenas um pé de rosa menina carregadinho. Achou que a mãe dela havia comprado. Poucos dias depois, chegou do colégio e se surpreendeu com uma orquídea. Quando apareceu uma peônia, aquela or que as noivas adoram, cou de orelha em pé, desconadíssima. De onde vinham? Ninguém em casa deu resposta: - Alguém que gosta de mim e sabe que eu adoro ores entrou aqui rapidinho para me fazer uma surpresa. Só pode ser isso, mas vou descobrir direitinho, Catalinda decidiu. Um mês se passou, as plantas cresceram e caram ainda mais bonitas, pois dona Clarista e Catalinda jamais esqueciam de regá-las. Mas depois... Bem, aconteceu uma coisa muito estranha: em apenas um dia, a casa dela foi inteiramente tomada por muitos e muitos pés de ores e o piso do apartamento cou coberto de terra. Só não apareceram nos banheiros, na cozinha e na área de serviço. Catalinda se assustou de verdade, nunca tinha ouvido falar numa coisa assim. Teriam entrado pela janela? Sabia que ores não voavam. E então? Aquilo era um mistério, um grande mistério.
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Ela teve a ideia de procurar os jardineiros da superquadra, Jaão e Jasé. Talvez soubessem de alguma coisa porque trabalhavam com plantas. Mas quando entraram no apartamento, quase desmaiaram e praticamente saíram correndo, avisando que aquilo não era normal. Não sabiam de nada, nadinha. Nem olharam para trás, nem chamaram o elevador, foram embora pela escada mesmo, pulando degraus. Catalinda continuou pensando e se lembrou de um vizinho que trabalhava no Jardim Botânico de Brasilax e conhecia muito bem a vida das árvores. Tocou a campainha do apartamento dele, chamou o senhor Mércio, explicou o que estava acontecendo. Gentil, ele foi ver de perto o tal jardim misterioso. Mas nem ele, que possuía um montão de livros, conseguiu explicar: - Catalinda, esse fenômeno é desconhecido pela ciência, não consta de nenhuma pesquisa, estudo ou anuário. Infelizmente, não posso ajudá-la. Ela agradeceu mas achou que o senhor Mércio não precisava dizer palavras difíceis. Anal, ela era uma criança, tinha apenas oito anos.
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As ores cresceram até o teto. Cobriram as janelas e tudo foi cando escuro, mesmo durante o dia. Viver ali estava difícil. Nem dava para varrer o chão. Já imaginou terra no piso, ao lado da cama? E lama também, pois o jardim era regado diariamente. Os pais de Catalinda mostravam preocupação. Então, doutor Nuno resolveu contratar detetives para acabar com o mistério e dar um m ao problema. Foram selecionados dois. Eles chegaram de bonés e óculos escuros e tinham a mania de se esconder atrás dos carros estacionados. Também andavam com as mãos para trás, observando tudo o que acontecia ao redor. Eles descobririam quem enchia de plantas o apartamento. Sairiam vencedores da missão. Dez dias depois, um trabalhando de dia e o outro à noite, uma enorme decepção: o relatório deles dizia que ninguém havia entrado no bloco levando terra e ores. Ninguém! Nem pelas janelas, nem pelos elevadores, nem pelas escadas. E nenhum avião pequeno tinha voado ali pertinho despertando suspeitas. Dona Clarista estava quase arrancando os cabelos por causa da bagunça no apartamento.
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No meio da confusão, um pouco de curtição As ores continuaram crescendo e perfumando o apartamento. Um dia, um passarinho entrou lá e Catalinda não sabia como se chamava. Mas ele começou a cantar bem-te-vi! bem-te-vi! Ela caiu na gargalhada e falou: “Esse pequenininho me disse quem é, me disse o nome dele, adivinhou o que eu queria saber! Que legal!” Borboletas animadas também entravam e saíam e, quando estava na escola, Catalinda cava só pensando em voltar para aproveitar ainda mais as delícias do jardim. A história se espalhou pela superquadra. Numa manhã de domingo, um grupo de dez meninos bateu na porta. Quando Catalinda abriu, eles gritaram em coro: Somos guardas orestais e vamos cuidar de tudo aqui dentro. Temos muita experiência! E correram, gritaram, colheram ores e zeram uma enorme confusão. Catalinda reagiu: Vocês são uns bobos, isso aqui não é oresta nenhuma, é o meu jardim! Naquele dia ela cou zangada de verdade porque eles pisaram em muitas plantas. Quando apareciam meninas, era bem diferente: mais calmas, delicadas, nunca machucavam suas ores. Só que falavam muito e ao mesmo tempo e queriam saber de tudo. Catalinda não podia explicar. Quem consegue explicar um mistério?
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Os problemas chegavam mas Catalinda não pensava neles, só no jardim que não parava de crescer. Um dia se deu conta de que nem sabia que ores eram aquelas. Queria saber, precisava saber, pois tinha o plano de colocar, numa placa que caria presa em cada uma, o nome certinho de todas as amigas. Ela ia virar uma especialista em nomes de ores. Mas como fazer? Pensou, pensou e matou a charada: descobriu na internet um site chamado “que or é essa?” Depois, foi fotografando uma a uma com seu smartphone. O passo seguinte: colocar as fotos perto do computador, abrir o site e encontrar os nomes através das fotograas. Deu um trabalhão mas valeu a pena. Identicou todas. Ciganinha, sempre-viva, bromélia, pali-palã, brinco de princesa, lanterna chinesa, rosa, amarílis, angélica, antúrio, chuva de prata, crista de galo, boca de leão, copo de leite, cravo, jasmim, manacá, or do norte, delm, esporinha, ave do paraíso, or de cenoura, gardênia, tulipa, gérbera, dama da noite, girassol, gloriosa, gravata, helicônia, jacinto, lisianto, narciso, hortênsia, tubete, mosquitinho.
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Achou engraçado o nome de três ores: monsenhor pom-pom, monsenhor macarrão e maria-sem-vergonha. “Mas também tem gente com nome estranho”, Catalinda falou baixinho, lembrando que alguém tinha contado a ela que conhecera uma menina chamada Maria dos Remédios. Uma or chamou a atenção de Catalinda porque tinha uma espécie de boca que abria e fechava. Era bem diferente, com nome grande e esquisito: selenipedium. Ela procurou saber alguma coisa além do nome e descobriu que se tratava de uma or carnívora, uma or que comia insetos. Catalinda arrepiou e começou a acreditar que um pedaço dela era um bicho. Ou melhor, um bichinho. Em minutos passou a admirá-la também, pois se acostumou com a ideia. Acabou gostando muito de selenipedium. Depois soube que não era a única, havia outras ores comilonas.
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Numa tarde ensolarada, Catalinda conversava com um jasmim, elogiando seu cheirinho gostoso, quando muitas abelhas entraram pelas janelas abertas para colher o néctar das ores e levar para a casa delas, a colmeia. Ela se abaixou, fechou os olhos, cruzou as mãos sobre a cabeça e torceu para que fossem embora. Pensou numa coisa terrível: “E se as abelhas acharem que minhas mãos são orzinhas e me derem um monte de ferroadas? Ah, vai doer muito!” O tempo parecia não passar enquanto Catalinda se encolhia cada vez mais perto do jasmim. Lembrou que numa aula a professora tinha contado que as abelhas estavam diminuindo muito em virtude do uso dos celulares e dos agrotóxicos na agricultura, e também pelas mudanças climáticas. A turma da escola se surpreendeu quando soube que eram responsáveis por 75 por cento da polinização de ores, frutas e verduras, isto é, pelo transporte do pólen de uma planta para outra, o que gera sementes e, portanto, novas árvores. Sem as abelhas, ensinou a professora, o mundo caria com muito menos comida e ores. Por isso, eram indispensáveis e precisavam se multiplicar em vez de diminuir. Mesmo sabendo do trabalho e da importância das abelhas, queria apenas car livre delas naquele momento. De repente, Catalinda só ouvia o silêncio. Esperou um pouquinho. Depois, abriu bem devagar o olho direito; em seguida, o esquerdo. Respirou aliviada: elas haviam acabado seu trabalho e partido. Já podia gostar das abelhas novamente. De longe era muito fácil.
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Catalinda encontra a solução Bem, depois que escapou das ferroadas, Catalinda se convenceu de que aquele jardim tinha lá seus perigos e deixava a vida familiar muito complicada. Doutor Nuno e dona Clarista conversaram com ela e os três decidiram pensar numa solução. Alguns dias se passaram e nenhum deles conseguiu um plano perfeito. O grande problema: o jardim precisava continuar vivendo, mas fora dali. Como resolver? Até que Catalinda teve uma ideia brilhante. Então, saiu correndo de casa, com a maior pressa do mundo, e foi parar, depois de mais de uma hora, na casa do tio Méssimo. As primas Cacília e Laisa estavam lá e se preocuparam ao vê-la toda suada, tão cansada. Cacília quis saber: - O que houve, Catalinda? Você não está muito bem, algum problema? - Senta um pouquinho e respira fundo. Você quer um copo d'água? Laisa perguntou. Catalinda conseguiu dizer: - Primas, preciso urgentemente do meu tio. Só ele poderá resolver o maior problema do mundo, o maior problema da minha vida.
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Tio Méssimo não demorou a chegar do trabalho e Catalinda contou tudo, tudinho. Ele se mostrou compreensivo e quis saber como poderia ajudá-la: - Como você tem uma fazenda bem grandona, pensei que meu jardim poderia se mudar para lá, mas com todo cuidado para nenhuma or se machucar. É que eu gosto muito delas, tio, e poderia ir lá muitas vezes para visitá-las. Tio Méssimo concordou e disse que o jardim certamente caria ainda mais vigoroso recebendo sol, vento, chuva. E a fazenda ganharia em beleza e perfume. Disse também que receberia em suas terras o jardim de Catalinda como um presente emprestado, pois ela continuaria sendo a dona dele. Cacília e Laisa gritaram: -Oba! Oba! Teremos um jardim! E lá mesmo combinaram que três caminhões e vinte homens fariam o trabalho. Levariam muitas pás e vários carrinhos de mão, aqueles com uma roda só, empurrados por ajudantes de pedreiro e muito usados na construção de prédios. Uma semana depois o jardim se mudou para Lisiênia, no estado de Gaius. A operação foi perfeita.
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Era uma vez o fim do mistério Catalinda olhou o chão do apartamento. Tinha se esquecido de que era branco. Estava tudo bonito, limpinho. Mas, é claro, sentia saudade de suas amigas lindas e coloridas, do seu cheirinho. Então, visitava as ores da superquadra. Havia um banquinho de onde podia ver muitas delas. Sentavase ali e cava olhando e lembrando do jardim que morava agora longe dali. Um belo dia ouviu de novo tac! tac! tac! Olhou para o lado e selenipedium – aquela or que come insetos, você se lembra? – apareceu ao seu lado dentro de um vaso de barro. - Oi, Catalinda, tudo bem? Perguntou sorrindo. -Seleni... Não conseguiu completar o nome da or mas continuou falando: - Que surpresa! Que bom ver você aqui! Veio comer os pernilongos da minha casa? Seu nome é muito comprido, esqueci um pedacinho dele, posso chamar você de selê? - Claro, Catalinda, eu adoro apelidos. De repente, a menina que amava as ores percebeu que selê falava, sorria e pulava no banco. Que até podia conversar com ela! Era extraordinário! E muito difícil de acreditar! Três vezes abriu e fechou com força os olhos. Deu três tapinhas na testa. Não, não estava sonhando.
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Catalinda imaginou que selê sentia saudade e queria apenas bater um papo. Mas a or carnívora parou de rir, cou muito séria e disse muito rme: -Catalinda, você precisa saber de muitas coisas, presta atenção no que vou revelar. A menina se confundiu toda porque selê falava igualzinho a gente grande. Não, ela não podia ser uma criança or, não podia. O que será que tinha a dizer? - Quando uma menina ama de verdade as ores, elas acabam sabendo e se mudam para a casa dela, como aconteceu com você, Catalinda. Mas só quando o quarto ou o quinto dente denitivo aparece na boca, e mesmo assim é muito raro. Você foi escolhida. Como as ores chegam invisíveis e levando muita terra, ninguém descobre nada, impossível descobrir. Mas não moram para sempre com a menina, cam no máximo um ano, explicou selê. Catalinda abriu ainda mais os olhos. A or prosseguiu: - Esse é um dos maiores segredos da natureza, guardado a sete chaves, como é segredo também que eu falo, gosto de rir e posso voar e andar aos pulos dentro de um vaso. As crianças, os jovens e os adultos que estão agora nesta superquadra não me veem e nem me ouvem. Só você, entendeu? Catalinda balançou a cabeça. O coração batia forte, estava tão impressionada que cou muda naquele momento. Selê disse nalmente: - Agora você é dona de um segredo, sua responsabilidade aumentou muito, mas vai me prometer não contá-lo para ninguém! Ninguém! Adeus, Catalinda, as ores também gostam muito de você. Gostarão para sempre! Selê desapareceu do banco num passe de mágica.
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Com o maior esforço, Catalinda fechou a boca, não contou o segredo para ninguém. Não decepcionaria selenipedium de jeito nenhum. Mas pensava: seria a única menina do mundo que sabia da outra vida das ores? A única que conhecia aquele mistério da natureza? A vontade de mudar de ideia, de revelar o segredo, de conversar sobre aquele mistério foi crescendo na cabeça dela sem parar, dia após dia. Um mês e pouco depois, não aguentou mais: contou para o pai e a mãe. Para os primos Matias, Cristana, Pethania, Deniel, Nicente, Rufael, Geonardo, para os amigos Gugu e Elaísa. Descobriu que guardar segredo era muito difícil. Mais que difícil, impossível! - “Ufa! Precisava contar tudo, só pensava nisso, estava com a cabeça estourando”, disse aliviada para tia Yura, que cou assombrada com o relato da sobrinha. Todas as pessoas para quem Catalinda fez a revelação contaram para outras, essas outras passaram adiante a informação, que se espalhou como se soprada por um vento forte em todas as direções. Catalinda acabou descobrindo que o mundo era cheio de gente faladeira, tão cheio que a história acabou parando neste livro e agora qualquer pessoa pode conhecer. E selenipedium? Sumiu de verdade, nunca mais apareceu.
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