Um jardim
PARA D. JOテグ VI
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Índice
9 50
Brasileiros Sabores do Brasil
Do Projeto à Realidade Reserva Granja Julieta
76 A Evenmag é uma publicação trimestral da J3P Propaganda, em parceria com a Even Construtora, que tem como objetivo principal levar aos clientes entretenimento, novidades e informação. Sua distribuição é gratuita, direcionada aos clientes Even. A Evenmag não necessariamente concorda com os conceitos e opiniões emitidos nas reportagens ou com qualquer conteúdo publicitário e comercial, que são de responsabilidade exclusiva dos anunciantes. SAC EVEN: Rua James Joule, 92 - São Paulo - SP Tel.: (11) 3466-3836 | e-mail: sac@even.com.br
Fernando Prado Designer da luz Entrevista
32 44 56 62
24
Vitrine
94 Jeito Even de morar 106 Obra em Foco 112 Guia Even
Novos Rumos Projeto Social Novos Negócios
Bairro em Foco Mooca, O amor à tradição
36
10
Cultura Fundação Maria Luisa e Oscar Americano
Blog em Revista Sugestões para Presente
64
63
Meio Ambiente Um jardim para D. João VI
84
Nossa História Petrópolis quase um museu, Imperial
EXPEDIENTE PROJETO GRÁFICO: J3P Propaganda - Tel.: 11 - 2182-9500 / DIRETOR DE PRODUÇÃO: Leandro Pereira e Giuliano Pereira / DIRETOR DE CRIAÇÃO: Fábio Pereira DIRETOR DE ARTE: Cesar Rodrigues / DIRETOR DE CONTA: Giuliano Pereira, Alice Bergamin / EDITORA: Vera Severo / JORNALISTA RESPONSÁVEL: Lígia Prestes MTB 48470 CONSELHO EDITORIAL: Paulo Otávio G. De Moura e Fanny Terepins / COLABORADORES EVEN: Adriane Ouriques, Flávio Moura, Maria Cristina Keating, Nádia da Silva Oliveira, Rita Apoena e William Rahhal / COLABORADORES: Cris Hammes, Denise Fernandes, Flávio Moura e Maria Cristina Keating / FOTÓGRAFO: Paulo Brenta / CAPA: JARDIM BOTÂNICO DO RIO DE JANEIRO / FOTO CAPA: Pulsar Imagens / REVISÃO: Helder Lange Tiso, Ana Luisa N. Faleiros / COMERCIALIZAÇÃO: J3P Propaganda - Tel.: 11 - 2182-9500 e Publishing Comunicação - Tel.: 11 - 5055-3118
LUMINÁRIA ECLIPSE
carta ao leitor
U
Um bairro que é quase uma cidade dentro
sem dúvida, a criação do Jardim Botânico
da outra. Mais que um bairro, um estado
do Rio de Janeiro, que nasceu em uma
de espírito foi o que nos contagiou ao
chácara destinada a abrigar uma fábrica
viajar pela Mooca. Ainda que tivéssemos
de pólvora. Não fosse seu interesse pelas
percorrido seus quase oito quilômetros
plantas que aqui chegavam trazidas pelos
quadrados, muito ainda ficou faltando para
viajantes, muito do que temos hoje em
contar. Como também ficará faltando falar
nossas mesas – e até acreditamos serem
sobre vários apartamentos de moradores
produtos brasileiros, como a manga e
do Condomínio Horizons, que responderam
a pimenta por exemplo – não estaria
ao nosso convite e gentilmente abriram
hoje tão bem aclimatado e difundido.
suas portas para mostrar como vivem.
Caminhando em outra direção, Ana Luiza
Para esta edição, escolhemos três com a
Trajano viajou durante 6 meses pelo Brasil
planta idêntica, onde existe coincidência
em busca da verdadeira comida brasileira,
na divisão do espaço da área social mas às
feita com muito afeto e produtos
vezes muita diferença na hora de decorar.
nacionais, que agora apresenta em seu
Muito mais que decoração, ficou evidente
espaço cultural gastronômico. Muita
a felicidade dos moradores em seus novos
história ela tem para nos contar, assim
lares e o orgulho em mostrá-los.
como as pessoas que hoje encontraram um
Contagiados pelas comemorações dos
novo rumo na profissão de contadores de
duzentos anos da chegada do Príncipe
histórias, encantando crianças e adultos
Regente D. João VI com a Família
com mil e uma histórias em eventos,
Imperial ao Brasil, fomos até Petrópolis,
escolas, livrarias, bibliotecas e hospitais.
uma cidade carioca que se desenvolveu
A luz, natural ou artificial, é um dos
graças ao interesse que despertou em
elementos mais importantes em nossas
D. Pedro II, neto de D. João VI, e nosso
vidas e influi em nossa saúde e até em
último imperador. Nela, o antigo palácio
nosso humor. Iluminando todas nossas
da família, hoje Museu Imperial, guarda
matérias, Fernando Prado, um premiado
um pouco da história familiar e, neste
artista da luz, conta sobre sua trajetória
mês de março, homenageia o evento
como designer e a importância do desenho
com uma exposição. Algumas das peças
de uma luminária, cujos efeitos podem
pertencentes à Família Imperial foram
mudar as características de um ambiente
parar em mãos particulares e, algumas
com o simples toque do dedo em um
delas, encontram-se em exposição na
interruptor.
Fundação Oscar Americano em São Paulo,
À luz da chegada do outono, nós
um oásis na cidade paulistana para visitar
esperamos que a leitura da Evenmag
e também tomar um chá divino.
dê prazer aos leitores e o desejo de
Dentre as muitas medidas importantes que
conhecer um pouco mais sobre nossos
D. João VI tomou no País, uma delas foi,
sabores e origens. Vera Severo
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A equipe da Evenmag quer ouvir você. Mande suas sugestões, críticas e comentários para nós através do e-mail: evenmag@even.com.br
mooca Lançamento
Foto da varanda gourmet do apartamento decorado
Croqui de localização sem escala Shopping Metrô Tatuapé
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Visite decorado por Fernanda Marques
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MOOCA, o amor à tradição Por Lígia Prestes e Vera Severo Fotos Paulo Brenta
Um bairro com características muito próprias, a Mooca expõe sua história na cultura italiana latente, nos galpões industriais que ainda permanecem e nos conjuntos das pequenas casas residenciais.
bairro em foco
N 10
Não é difícil chegar ao bairro da Mooca, a 5 minutos da Praça da
tranqüilo. No entanto, a história que construiu o mapa do bairro
Sé, e não sentir que alguns traços de sua fisionomia estão bem
não escapa aos conflitos humanos, sociais e políticos.
presos ao passado, muito bem expressos pelas vilas de casas
De acordo com o historiador Eugênio Luciano Jr., a primeira
geminadas, igrejas e importantes indústrias com muita história,
citação encontrada sobre o bairro data de 1556, quando a
frutos de muito trabalho, que recendem à imigração italiana
Governança de Santo André da Borda do Campo comunicou a
e contribuem para o clima interiorano dominante. É quase
toda a população que esta era obrigada a ajudar a construir
uma cidade de interior dentro de uma cidade grande, com uma
a ponte do rio Tamanduateí, ligação entre a Zona Leste e a
população dedicada à eternizá-la. O modo cantado de falar, uma
Freguesia Eclesiástica da Sé. A região era habitada pelos índios
herança italiana, é o sotaque oficial do bairro que ocupa quase
da tribo Guaianases, que deixaram de presente ao bairro o nome
8 quilômetros quadrados e que se divide em Mooca Alta e Mooca
que, segundo alguns historiadores, pode ter duas versões. A
Baixa. Apesar de serem uma só, possuem diferenças acentuadas
primeira – Moo-ka – quer dizer “ares amenos, secos, sadios”.
pelo padrão urbanístico. Em ruas muitas vezes estreitas,
A segunda – Moo-oca– significa “fazer casa”, uma expressão
ainda com garra conserva galpões de tijolos aparentes e vilas
usada pelos índios para se referirem aos habitantes brancos
operárias. Além disso, é um bairro de localização privilegiada,
que erguiam suas casas de barro. Esta última definição tem
atendido por trem, metrô e uma infinidade de linhas de ônibus.
mais credibilidade, pois a região nunca foi seca e sim, durante
Mais ainda, imóveis a custos acessíveis tem atraído “gente de
muitos anos, sujeita a inundações dos rios. Como exemplo de seu
fora”. Hoje, a simpatia incondicional pelo bairro não é mais só
encanto, ainda hoje é muito comum acharmos ruas com nomes
de quem lá nasceu e vive. Há centenas de paulistanos ávidos por
indígenas; Javari, Cassandoca, Tabajaras, Itaqueri, Araribóia,
um lugar na Mooca, graças a sua infra-estrutura e ao seu clima
Guaimbé, Caa-Açu, entre outros.
Fテ。RICA DA ANTARCTICA
bairro em foco 12
Após a transposição do rio Tamanduateí, o crescimento
No começo, o bairro era ocupado por chácaras e residências
populacional da área aumentou e a região foi gradualmente
esparsas. Junto às pontes, animais bebiam água, lavadeiras
incorporada à cidade. Contudo, uma planta da cidade de 1810
cuidavam da roupa, homens pescavam e crianças brincavam. As
ainda não a identifica – aliás, a nenhum bairro, a não ser o
residências possuíam jardins com extensos gramados, plantações
centro paulistano e algumas referências a seus acessos. Entre
de chá e grandes pomares. A tranqüila paisagem e seus usos
essas vias, estava indicada a ponte sobre o rio Tamanduateí,
foram modificados com a chegada do período chamado de a
no final da que é hoje a rua Tabatingüera, e que seria a região
Grande Imigração (1870-90), quando europeus vieram para
da então Mooca. Trinta anos depois, os mapas já apontam o
trabalhar nas fazendas paulistas – era o café trabalhando a nova
“Caminho da Mooca”, mais ou menos onde hoje se localiza a rua
fisionomia de São Paulo. A instalação de duas ferrovias – em
Piratininga, um lugar então a salvo das inundações da várzea
1868, a São Paulo Railway (Estrada de Ferro Santos-Jundiaí,
do rio.
conhecida como “a Inglesa”, ligando São Paulo ao Porto de
de São Paulo. Situado no sopé das colinas da Mooca, foi um grande sucesso, freqüentado por uma população também de outros bairros. Era tal a afluência aos gramados do hipódromo que foi construída a linha de bonde Mooca-Centro, ainda movida por tração animal. Especialmente para atender os apostadores que vinham de Campinas, a São Paulo Railway estendeu seus trilhos até as proximidades do hipódromo, via que veio a ser conhecida como a Rua dos Trilhos, hoje já sem eles. As corridas eram freqüentadas pela alta sociedade paulista e ali o clube permaneceu até 1941, quando se transferiu para as margens do rio Pinheiros. Hoje, nesse mesmo terreno bem arborizado está o Clube da Cidade da Mooca, um amplo complexo público, que abriga a Subprefeitura, escolas, biblioteca, posto de saúde, posto da Guarda Civil, além de quadras de esporte, piscinas e muitas outras instalações esportivas. Nesse oásis, merece uma visita a Biblioteca Afonso Taunay, que abriga o Núcleo Museológico da Mooca com vários documentos e fotografias que contam um pouco da história do bairro, da qual são vaidosos os mooquenses. Em frente a esse complexo fica outro não menos importante, a Universidade São Judas Tadeu, uma referência para toda a cidade.
CLUBE DA CIDADE DA MOOCA
Santos), e a Estrada de Ferro do Norte em 1875 (o trecho paulista da estrada de Ferro Central do Brasil, que ligava São Paulo ao Rio de Janeiro) – e os terrenos baratos atraíram a instalação de muitas indústrias, bem como seus operários, que se acomodaram em vilas de casinhas simples e geminadas, características que ainda permanecem.
As mudanças chegam a cavalo Raphael de Aguiar Paes de Barros, rico proprietário de terras na região e grande admirador de cavalos, criou em 1876 o Clube Paulista de Corridas de Cavalo, semente do atual Jóquei Clube
ANTIGO MOINHOS GAMBÁ, HOJE MOINHO SANTO ANTÔNIO
“A Mooca mudou. Cresceu, já não há mais fábricas, não tem mais apito chamando para o trabalho. Mas tudo continua igual, sabe? Ainda tem vendedor na porta, tem caminhão que vende gás, tem moço que vende pão na carrocinha. Aqui, quem nasce operário morre operário, com gosto pra trabalhar”. ( Adélia Ramazzioti no livro Casa de Taipa)
bairro em foco
Um bairro industrial
14
Todo o desenvolvimento urbano da Mooca está intimamente ligado
Calçados Clark, erguida em 1904, um quadro com a figura de
à história econômica de São Paulo e às transformações que se
D. Pedro II anunciava: “A Família Imperial calça Clark”.
sucederam no final do século XIX, e que fizeram da capital paulista
A concentração de indústrias na região foi o fator que levou a
uma metrópole industrial bem equipada. Novos costumes chegaram
Mooca a ser o palco da primeira greve geral de trabalhadores do
à região com os italianos que vieram a São Paulo trabalhar nas
País, quando reivindicaram aumento de salário, regulamentação
lavouras de café e, em pouco tempo, estava formada a sociedade
do trabalho de crianças e mulheres, redução da jornada –
italiana da Mooca, uma influência nítida ainda hoje. É um dos
que muitas vezes estendia-se até por 12 horas – e garantias
poucos locais onde ainda se pode constatar vestígios concretos da
trabalhistas. Antes de ser atendido pelos patrões, esse movimento
lendária metrópole italianada retratada pelo escritor Juó Bananére
foi duramente reprimido pela polícia – com um saldo de muitos
e o sambista Adoniran Barbosa – que ali teria composto o Samba
feridos e um morto – e São Paulo nunca mais seria a mesma
do Arnesto, em homenagem a um real morador do bairro e não do
com a chegada de um novo personagem em sua história, o
Brás, como canta a música. Importantes fábricas para produção
proletariado. Outras marcas são as que resultaram da revolução de
de bens de consumo movimentaram o bairro, como o Cotonifício
1924, quando oficiais do Exército contrários ao governo do então
Crespi, a São Paulo Alpargatas, os Calçados Clark, os Grandes
Presidente da República, o mineiro Arthur Bernardes, deflagraram
Moinhos Gamba, os Biscoitos Duchen, a Companhia Antarctica
um movimento nacional que, em São Paulo, resultou na derrubada
de Bebidas, a Companhia União de Refinadores, e muitos mais.
do então presidente do Estado Carlos de Campos. O Governo
Todas localizavam-se na parte baixa do bairro, onde as terras
Federal reagiu e acabou massacrando a população da cidade.
eram mais baratas e próximas à linha do trem. Muitos desses
A Mooca, junto do Brás e Belenzinho, foi um dos bairros mais
estabelecimentos já fecharam suas portas, mas antes disso foram
atingidos por bombas, justamente porque os imigrantes aliaram-
todos muito bem sucedidos. Logo na entrada da Companhia de
se aos revoltosos.
Uma herança preciosa Muito do passado da Mooca é revelado pelas edificações que sobreviveram. Apesar de mal cuidadas, as fachadas das antigas fábricas, como da Cervejaria Antarctica, ou da vila operária projetada pelo arquiteto russo Gregori Warchavchik, na rua Barão de Jaguara, do Cotonifício Rodolfo Crespi – atualmente ocupado por um hipermercado que foi obrigado pelo Patrimônio Histórico a preservar sua fachada –, do Teatro Arthur Azevedo – de arquitetura inspirada na obra do arquiteto francês Le Corbusier –, são o orgulho dos moradores da região, que muito lutaram para que a maioria desses prédios históricos fosse tombada. O processo de preservação é contínuo e, ano passado, foi aprovado pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico (Conpresp) o tombamento de sete imóveis. Entre os galpões protegidos pela medida estão o antigo Moinhos Gamba, atual Moinho Eventos, projetado entre 1909 e 1938, e o conjunto de armazéns da antiga São Paulo Railway, construídos entre 1898 e 1900. Além do tombamento das edificações localizadas no perímetro formado pela Rua Borges de Figueiredo, Rua Monsenhor João Felipo, Avenida Presidente Wilson e Viaduto São Carlos, o Conselho também regulamentou futuras construções no
ANTIGO COTONIFÍCIO RODOLFO CRESPI, HOJE SUPERMERCADO EXTRA
entorno dos conjuntos tombados. A exemplo do ocorrido nas imediações do Parque da Independência, no Ipiranga, foram estabelecidas alturas máximas que variam de 25 a 30 metros para construções, de acordo com a localização. Há ainda rumores de que a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) pretende criar o museu da indústria no conjunto onde funcionava a Cervejaria Antarctica. Outras construções insólitas também merecem atenção, como a Igreja de São Rafael em estilo “gótico/Bauhaus”, fundada em 1935 pelos padres Barnabitas, ou perto dali, a rua dos Bancários, uma rua sem saída que termina em um “cul-de-sac” com uma interessante divisão de lotes ao redor de uma centenária figueira, modelo de vila que se repete nessa região. Muitas outras recordações estão preservadas no Memorial do Imigrante, onde estão guardados todos os registros dos imigrantes que desembarcaram no Brasil, de um pouco da vida que viviam e de como aqui chegaram. Instalado em um dos poucos edifícios centenários da cidade de São Paulo, o museu ocupa um imponente complexo – construído entre 1886 e 1888 – com finalidade de receber e encaminhar ao trabalho os imigrantes trazidos pelo governo. De 1882 a 1978, passaram por lá mais MEMORIAL DO IMIGRANTE
IGREJA SÃO RAFAEL
de 60 nacionalidades e etnias, todas devidamente registradas em livros e listagens. Eram atendidas cerca de 3 mil pessoas por vez e, em casos extremos, até 8 mil. Aberto aos visitantes, o Memorial do Imigrante é uma justa homenagem aos homens e mulheres que, com seus sonhos, vontade de vencer e muito trabalho, transformaram São Paulo e o Brasil. Toda essa memória é defendida com unhas e dentes pelos mooquenses, representados principalmente pela Associação AmoaMooca, que desde 2001 luta pela preservação da história, da cultura e das tradições do bairro. Entre seus diversos projetos,
bairro em foco
o Fala Bello recolhe depoimentos de antigos moradores para um
16
banco de dados com arquivo também para fotos e documentos. O bairro está mudando e a associação luta com coragem pela manutenção do espírito mooquense.
Operários e Atletas Se fosse seguir a tradição, as cores deveriam ser a preta e a branca, as mesmas do time Juventus de Turim, na Itália. Existem versões para as atuais cores branca e grená do time mooquense e todas elas têm como protagonista a família do Conde Crespi, que doou parte de sua propriedade para a construção do campo de futebol na rua Javari. Um time que RUA DOS BANCÁRIOS
PRAÇA VISCONDE DE SOUZA
ESTÁDIO ESP. CLUBE JUVENTUS
GRAFITE ADONIRAN BARBOSA
nasceu da amizade de um operário italiano, Vicente Romano, e
como o Xingu, a Portuguesa e a Portuguesinha da Mooca.
de um contabilista português, Manoel Vieira de Souza, ambos
Outros, ainda na ativa, como o Madrid, o Paulista e o Danúbio
funcionários do Cotonifício Crespi, que fundaram o time e logo
Azul são parte integrante da história e da cultura do bairro,
conseguiram adeptos no próprio trabalho. Com altos e baixos
bem como alguns campos que ainda existem, como o Parque da
– em tempos muito difíceis chegou a ser cogitada uma fusão
Mooca e o Democrático.
bairro em foco
com o Ponte Preta de Campinas – o clube nunca deixou de ser o
18
“Moleque Travesso”, apelido adquirido por causa da teimosia com
Demônios da Garoa
que enfrentava os considerados “papões” do futebol brasileiro,
Além de ter como morador ilustre o verdadeiro “Arnesto” do
contando inclusive com jogadores com passagem pela Seleção
samba de Adoniran Barbosa, a Mooca também é o lar de um
Brasileira, que até disputaram a Copa do Mundo. Na década
conjunto que nasceu imitando vocalistas famosos. Seriam até
de 60, o Juventus adquiriu uma área de 85 mil m2 na parte
hoje humildes trabalhadores se sua fama não tivesse se espalhado
mais alta do bairro – o Parque da Mooca – e, com o sucesso de
pelo bairro que os incentivou a participar do programa “A hora
vendas dos títulos, ali instalou sua área social, esportiva e de
da Bomba”, da Rádio Bandeirantes. O jeito irreverente e o
lazer, além de comprar o terreno de seu estádio, que até então
sotaque típico levaram o grupo ao sucesso e, com um disco de
pertencia à família Crespi, onde permanece até hoje. A parte do
78 rotações que tinha duas músicas do compositor Adoniram
bairro onde instalou-se o Clube Juventus, a Alta Mooca, é um
– “Saudosa Maloca” de um lado e “Samba do Arnesto” do
local urbanizado com terrenos maiores e ruas mais arborizadas,
outro – conseguiram ficar um ano e meio nos primeiros lugares
característica incomum que atraiu a construção de residências
das paradas de sucesso e firmar uma parceria que duraria 29
mais ricas e a conservação de praças maiores, como é o caso da
anos. Alguns anos depois, outro estrondoso sucesso eclodiu
Visconde de Souza Fontes, quase um pequeno parque.
com “Trem das Onze”, até hoje interpretação obrigatória, por
Times de várzea também fizeram história e são ainda lembrados
exigência do público, em todos os shows e apresentações. O
ELÍDIO BAR
RESTAURANTE DON CARLINI
conjunto ganhou várias vezes o título de Campeões do Carnaval
Com certeza, a maior atração da Mooca é a comida italiana e
e o reconhecimento artístico por parte do público. Depois de
ofertas nesse quesito não faltam. Na cantina Don Carlini, o
percorrer o país durante vários anos, o grupo, que hoje já está em
cardápio apresenta 60 pratos típicos e as massas artesanais,
sua terceira geração, figura desde 1994 no Guiness Book como o
que são confeccionadas lá mesmo, também abastecem o outro
conjunto brasileiro mais antigo em atividade.
restaurante em Perdizes, além de serem também vendidas no varejo. É um festival de cores, massas vermelhas feitas com
Um convite à gula
beterraba, verdes com espinafre, amarelas com pimentão ou
Como réplica de cidade do interior, a vida noturna da Mooca
negras com tinta de lula. O ambiente é muito acolhedor e tanto as
não está focada em grandes badalações. Mas os programas
receitas como a supervisão é feita pela família Carlini.
gastronômicos são bem recompensados. O chope bem tirado em
A pizza, já quase tão brasileira quanto italiana, está muito bem
uma máquina alemã, com 180 metros de serpentina, é um dos
representada em muitas pizzarias. A São Pedro, um dos endereços
responsáveis pelo sucesso do Elídio Bar, que exibe quase um
mais tradicionais, conquista pela massa fina e crocante. Existem
museu de futebol em suas paredes. São fotos, camisetas, chuteiras,
variações sobre um mesmo tema, como o da berinjela por exemplo,
reportagens e cartazes sobre várias equipes de futebol que ali
que pode ser encontrada em 4 tipos. A de rúcula é inigualável.
convivem pacificamente, lado a lado. Outra atração são as 130
Outra pizzaria muito freqüentada é a do Ângelo que, em um
variedades de acepipes dispostos em um balcão, onde o cliente se
ambiente simples, oferece uma carta modesta de pizzas deliciosas
serve e paga por quilo. No Chalé Chopperia, não há a necessidade
que atraem moradores dos bairros vizinhos. Numa construção
de se preocupar com fila e demora na comida. A casa oferece
centenária, com um cenário que simula uma vila italiana, a Bendita
diariamente, no almoço e jantar, um bufê com frios, saladas, pratos
Maria serve pizzas de metro, quadradas e retangulares.
quentes e 15 tipos de carnes preparadas na churrasqueira. E nas
No cardápio, são quase 70 sabores que incluem também as doces,
quartas-feiras à noite, o correio elegante promove a paquera.
além de massas e risotos e um bufê de saladas durante o almoço.
PIZZARIA SÃO PEDRO
Contudo, talvez nenhum outro estabelecimento gastronômico seja tão famoso no bairro como a doceria – e inicialmente padaria – Di Cunto. Donato di Cunto desembarcou no Brasil muito antes da grande imigração italiana, e por engano: seu destino era Montevidéu, no Uruguai, mas vinha com a informação de que deveria descer na terceira parada após cruzar o Atlântico. O que ele não contava é que teria uma parada não prevista em Recife por causa do escorbuto a bordo. Depois de trabalhar como carpinteiro – seu chefe era o arquiteto Ramos de Azevedo – Donato conseguiu comprar um terreno de 850 metros quadrados. Abriu a padaria com o irmão, voltou para a Itália, casou-se e voltou para comprar o terreno onde está a Di Cunto atual, em 1896. Quatro anos depois, foi para a Itália buscar o resto da família, mas morreu pouco depois. Quem veio para o Brasil foram seus PIZZARIA SÃO PEDRO
filhos que aqui chegaram em 1932. Três anos depois reabriram a padaria do pai e tocaram o negócio, acrescentando novidades
bairro em foco
para a época. Em 1936 eles já faziam entrega em domicílio e três anos depois começaram a produzir o tão famoso panetone, ponto alto da casa e que faz com que seja a mais antiga fábrica de panetone do Brasil. Atualmente, além da padaria (que não é mais a grande parte da produção da Di Cunto), a casa oferece um serviço de bufê, seção de rotisserie, massas e pratos semiprontos e, claro, os doces e bolos que são as suas estrelas. São mais de mil itens preparados todas as semanas por seus 186 funcionários, muitos deles com mais de três décadas de casa. “Acho que isso
20
faz a diferença na Di Cunto. Tudo é feito com amor e de forma artesanal”, diz Marco Júnior, um dos herdeiros da doceria.
PIZZARIA DO ANGELO
Freqüentada apenas por moradores da região, a Pasticceria di Camargo – criada por um ex-funcionário da Di Cunto – oferece pratos quentes e massas caseiras prontas para gratinar. Lá também são encontradas delícias doces como a pequena e suave torta de amêndoas, recheada com mousse de chocolate, um acompanhamento imperdível para o chá. E como não só da Itália alimenta-se a Mooca, um médico apaixonado por paellas, atendendo a pedidos da família e amigos, abriu seu próprio espaço que leva seu nome: Paella do Neto. “Vou fazer na Mooca uma paella que não existe por aí, feita artesanalmente com fartura de camarões e frutos do mar e por um preço justo” – palavras do proprietário. Vale conferir. De outro ramo culinário, com uma clientela que extrapola os limites da Mooca, a Esfiha Juventus é tradicional no bairro desde 1966. Seu amplo salão vive lotado e não há entrega em domicílio, o DOCERIA DI CUNTO
que explica a fila dos pedidos para viagem que não rara toma a calçada. Do forno para a mesa, sem escalas, saem ótimas esfihas de carne, queijo, espinafre, calabresa e frango com catupiry. Podem ser abertas ou fechadas, basta pedir.
O churro da madrugada Plena madrugada de uma sexta-feira. A rua Dona Ana Néri, e a maior parte da cidade, dorme profundamente. De repente, no número 282, uma porta de ferro se abre e rompe o silêncio. Seu Toninho, de 74 anos, junto da nora Débora Sato e da neta Vanessa Sato Garcia estão a postos para iniciar uma jornada de trabalho. Sim, o expediente deles começa às 2h30 da manhã. A churraria do Toninho, como é conhecida pelos baladeiros, é DOCERIA DI CUNTO
sucesso há 47 anos. Filho de pais espanhóis da região da Andaluzia, seu Antônio é daquelas pessoas agradáveis, com as quais é fácil passar o dia ou a madrugada inteira batendo papo e ouvindo histórias deliciosas acerca dos famosos churros. “A minha vida é isso aqui. Sempre digo que não tenho fregueses, tenho uma grande família”, comenta. A casa funciona somente aos sábados, domingos e feriados, das 2h30 às 11h30 da manhã. Nos horários de pico - às 4h - a fila começa a embalar e ele é obrigado a distribuir senhas para não virar bagunça. A espera pode chegar a uma hora. O churro não tem recheio e o segredo da receita é guardado a sete chaves, seu Toninho não revela para ninguém. A casa com apenas um balcão na frente vende por dia mais de 10 quilos de churros.
DOCERIA DI CUNTO
Serviço: ESFIHA JUVENTUS
Chalé Chopperia Praça Visconde de Sousa Fontes, 56 Parque da Mooca Di Cunto Rua Borges de Figueiredo, 61/103 Tel.: (11) 2081-7100 Don Carlini Rua Dona Ana Néri, 265 Tel.: (11) 3207-7621 e (11) 3208-2024
ESFIHA JUVENTUS
Esfiha Juventus Rua Visconde de Laguna, 152 Tel.: (11) 6096-7414
A festa de San Gennaro
Paella do Neto
A maioria dos imigrantes italianos que vieram para a Mooca
Tels.: (11) 2076-8839 ou 9639-9839
era napolitana e devota de San Gennaro, um santo que ao ser
Rua Itamaracá, 127 Pasticceria Di Camargo Rua Barão de Penedo, 197
decapitado teve o sangue armazenado em uma ampola de vidro
Tel.: (11) 6605-3342/6605-5233
e que, diz a lenda, coagula todo ano em três datas, uma delas a
Pizzaria do Angelo
de seu aniversário, dia 19 de setembro, comemorado em todas
Rua Sapucaia, 527
as comunidades italianas pelo mundo. Por isso mesmo, nada mais natural do que erigir uma igreja em sua homenagem e buscar dinheiro para sustentá-la. Se já se acha boa pizza e pasta
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praticamente em qualquer esquina da Mooca durante o ano todo, é em setembro que essa facilidade se intensifica. Hoje, sempre próximo do dia 19 de setembro, as ruas Lins e San Gennaro são
bairro em foco
fechadas e lá se instalam barracas que vendem o que as “nonnas”
22
preparam: toneladas do que há de melhor da culinária napolitana.
Memorial do Imigrante Rua Visconde de Parnaíba, 1316 www.memorialdoimigrante.sp.gov.br
Saiba mais sobre a Mooca:
No cardápio, polpettas, espaguete, rigatoni, fettuccine e lasanha,
Livros:
regados ao molho bolonhesa. Há ainda as sfogliatelle e as
de Dimas A. Künsch (org.) – Ed. Salesiana
Casa de Taipa, o bairro paulistano da Mooca em livro-reportagem,
zepolle. Sem esquecer a fogazza e a pizza – muita pizza!
Dez Roteiros Historicos a pé em São Paulo de Cytrynowicz,
E por alguns dias a Mooca é mais italiana do que nunca. Essa
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comilança toda – que já vai para a sua 35ª edição – recebe,
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aproximadamente, 100 mil pessoas que passam pelo evento,
Sites:
uma das maiores festas de paróquia do Brasil. Todo o dinheiro
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arrecadado é destinado a instituições de caridade. De simples
www.dcomercio.com.br/especiais/mooca450anos
reunião da comunidade, a Festa de San Gennaro ganhou status de evento turístico e até entrou para o calendário da Embratur. •
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FOTO PAULO BRENTA
DESIGNER
DA LUZ
Por Lígia Prestes
Através do desenho, Fernando Prado direciona
entrevista
as emoções geradas pelos efeitos da luz.
24
FERNANDO PRADO
FOTO PAULO BRENTA
A
Apenas três meses para desenhar e o jovem Fernando Prado já estava com um prêmio no colo. Sua primeira peça premiada, a Giro, foi o pontapé para uma carreira de reconhecimentos que está no seu ápice. Hoje é um dos designers mais premiados do Brasil e sua foto e de seus produtos figuram nos livros de prêmios de design mais famosos de todo o mundo. Conquistou sucessivos primeiros lugares no Prêmio Design Museu da Casa Brasileira, IF Gold Design Award (Hanover, Alemanha), Design Plus Award (Frankfurt, Alemanha), Red Dot Design Award (Essen, Alemanha) e Good Design Award. Hoje é o mestre da loja de soluções em iluminação, a Lumini. Sua visão de design bem sintonizada com as necessidades e as particularidades do sistema produtivo industrial faz de Fernando uma referência que extrapola o design das luminárias.
Como foi sua trajetória? Eu me formei na FAAP em 1995 no curso de Desenho Industrial. Na verdade eu nem queria fazer essa faculdade porque o que eu gostava mesmo era oceanografia, mas como meu pai era arquiteto e eu sempre gostei de desenhar e de fazer trabalhos manuais, resolvi prestar o vestibular e me apaixonei pelo curso. Depois que saí da FAAP arrumei um estágio aqui na Lumini mesmo, onde fiquei por menos de um ano. Na época, o estágio para mim era muito chato, porque eu ficava no meio da produção – um mês em
FERNANDO PRADO
DIVULGAÇÃO
cada setor – carregando chapa, contando parafuso, etc. Mas hoje eu vejo o quanto aquele estágio foi fundamental para a minha formação. Quando faço palestra para os estudantes, eu digo para aproveitarem mesmo quando parece que tudo é chato, pois isso vai ser muito importante no futuro. Depois que eu saí da Lumini fui trabalhar com arquitetura. Na verdade com projetos de iluminação voltados para arquitetura, o que me deu um bom conhecimento sobre a luz e seus efeitos. Isso foi ótimo porque, juntando os dois conhecimentos, eu percebi que você não desenha apenas a forma do objeto mas também o efeito da luz, e foi isso que me fascinou. O que me chama atenção na iluminação, em relação a outras áreas, é que você consegue mexer com a emoção das pessoas com o efeito da luz. As minhas peças têm todo um cuidado a mais com a parte técnica do efeito, até quando ela é lúdica, para que esse efeito faça parte do desenho da peça. Em 2002, eu resolvi que queria voltar a desenhar, que era o que eu gostava de fazer, saí do escritório de arquitetura e fui procurar outras coisas. Como já tinha alguns contatos com o pessoal da
BOSSA
26
BOSSINHA
entrevista
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO
Lumini, comecei a desenhar peças como freelancer. Foi então que criei a Luna (uma das peças mais premiadas) e a Giro, que é um projetor mais técnico. E deu certo. O pessoal gostou das peças e um ano depois me convidaram para ser gerente de produto. Hoje, na Lumini, eu tenho uma dupla função: de designer e gerente de produto. Essa junção de tarefas me faz ser um profissional mais completo, pois eu conheço toda a parte gerencial de uma fábrica e também atuo na criação. De lá para cá, eu tenho desenhado exclusivamente para a Lumini, muito trabalho a fazer e pouco tempo!
Você acompanha todo o processo? Sim. Eu desenho a peça – não uso computador, faço na mão – depois passo para uma equipe que desenha no computador, faço os primeiros testes, etc. Eu acompanho esse processo de ponta a ponta, não só até o produto ir para a rua, mas muitas vezes até depois que ele saiu.
E seus prêmios? Pois é, são realmente muito gratificantes, principalmente os lá JOY
de fora. Tem um prêmio aqui que eu acho muito importante que
DIVULGAÇÃO
é do Museu da Casa Brasileira que já ganhei quatro vezes. E eu o considero o mais importante do Brasil – é um prêmio que eu sempre quis ganhar quando era mais jovem. O primeiro prêmio foi com a Giro, que ganhei quando havia apenas três meses que tinha voltado a desenhar e foi uma grande surpresa. Eu tenho cinco anos de profissão e vinte prêmios: no Brasil uns sete ou oito, uns dez na Alemanha e alguns nos Estados Unidos. O meu primeiro prêmio na Alemanha foi especial porque a gente concorre com empresas tops de iluminação, em geral como Apple, BMW, etc. Os prêmios, lá, são organizados da seguinte forma: você merece ou não ganhar. Se o júri acha que você merece, eles te dão um selo do prêmio e depois escolhem um único ganhador para quem eles dão uma espécie de Oscar. E nós já ganhamos vários desses prêmios, na frente de diversas empresas importantes. É gratificante, pois nós ganhamos com um investimento muito pequeno em maquinário, se comparado a eles. Aí é que entra a criatividade do design brasileiro, conseguimos driblar a falta de infra-estrutura com essas novas formas das peças. Acredito que o grande tributo do design brasileiro seja mesmo a criatividade, que é fruto da nossa própria cultura e da forma como levamos a vida. Isso também se deve a nossa criatividade para resolver problemas, vivemos isso no dia-a-dia, situação pela qual os alemães, por exemplo, não passam. LUNA
DIVULGAÇÃO WISH
WISH
O design brasileiro está começando a ter uma maior
É uma onda nova procurar lightdesigners?
visibilidade lá fora?
Apesar de ser uma profissão que já existe há algum tempo,
Com certeza. E é por conta da nossa cultura. Aqui em São Paulo,
as pessoas estão despertando para esses projetos agora. Um
por exemplo, temos milhares de povos diferentes que trouxeram
profissional faz a diferença entre uma casa iluminada e uma com
culturas diversas. Algum tempo atrás isso era visto como um
um bom projeto de iluminação.
defeito, mas hoje dá para perceber que isso é excelente para o design. Atualmente, todo mundo procura um design globalizado e,
Como se ilumina uma casa?
sem querer, o nosso design sempre esteve à frente, seguindo esse
É difícil dizer, porque cada casa, ou apartamento, tem uma
conceito. Nosso design está sendo bem aceito lá fora por conta
arquitetura diferente, um estilo diferente e, como eu disse, o
dessa mistura étnica que existe aqui. Estamos no caminho certo.
projeto depende do estilo de vida do morador. Apesar de não ser um profissional de luminotécnica, dou os meus palpites: uso sempre
Quem desenha luminária pode fazer um trabalho de
lâmpadas quentes para os lugares mais aconchegantes. Recentemente
luminotécnica?
eu vi uma entrevista do alemão Ingo Maurer – um papa do design
Acho que não. Cada profissional tem seu espaço, por isso tem o
da iluminação – e ele falava sobre essa onda de proibir lâmpadas
designer e o lightdesigner (projetista de iluminação). É difícil
incandescentes, porque consomem muito, e dizia que é contra, pois
fazer bem as duas coisas. O que eu preciso saber é quais efeitos
cada lâmpada tem sua aplicação certa. Ele diz que as pessoas têm
são desejados pelos lightdesigners no projeto final. Sem saber
que economizar parando de iluminar fachadas feias, monumentos
isso não se consegue desenhar produtos vendáveis ou aplicáveis.
mal conservados e usar essa energia em lugares que dão prazer.
entrevista
Não dá para usar uma lâmpada de hospital dentro do quarto ou
28
Então um projeto de luminotécnica é importante?
da sala. E mais, isso vai refletir até na sua qualidade de vida. Por
É fundamental. Sempre que alguém vem aqui na Lumini comprar
isso, vale a pena fazer um projeto com um profissional para colocar a
nossas peças, orientamos que ela procure um profissional da área.
lâmpada certa no lugar certo. Eu, particularmente, só coloco lâmpada
Porque a casa é onde as pessoas passam a maior parte do tempo,
incandescente na minha sala, porque acho mais agradável, se parece
onde vão criar os filhos e onde estarão por um bom tempo. Sendo
mais com a luz do sol e dá uma impressão de natureza.
assim, não pode ser feita qualquer coisa. O lightdesigner senta junto ao dono da casa, sente o clima da família, qual a forma de
Geralmente as tomadas estão posicionadas em lugares
viver, daí ele define quais locais terão um efeito de luz e para
corretos?
qual finalidade. No Brasil, há ótimos profissionais.
Dificilmente as tomadas são projetadas junto ao layout da casa.
DIVULGAÇÃO
DIVULGAÇÃO DIVULGAÇÃO
CUT
GEMMO
Então, para não errar, alguns distribuem muitas tomadas ou, se você mora em apartamento antigo, existem pouquíssimas. Por isso, acho que cada vez mais os projetos têm que ser integrados: elétrico, iluminação, layout, decoração, arquitetura. Quanto mais juntos estiverem, menor a chance de sair errado.
Quais as dicas que você daria para uma boa iluminação em casa? Uma sala deve ser um lugar aconchegante. Os abajures, luzes incandescentes e pendentes decorativos dão sempre esse ar mais intimista, que é o que a gente quer para dentro da nossa casa. Isso acontece porque, na verdade, esse tipo de lâmpada lembra as luzes das tochas das cavernas, onde ficava o aconchego. Na cozinha, pode–se usar uma luz mais fria, mais fresca. Nos banheiros, pode-se temperar a luz quente com a luz fria. Nos quartos, o conforto é o mais importante e se consegue com o uso de dimmers, já que com eles se consegue criar cenários diferentes na casa com as mesmas luminárias.
O projeto de iluminação leva também em conta a questão ambiental? É engraçado porque as pessoas, quando pensam em sustentabilidade, só levam em conta o material usado e na verdade vai bem mais além. Eu tenho uma luminária de aço inox que as pessoas acham um absurdo, porque ela dura 300 anos no meio ambiente, mas eu estou usando uma fonte de luz que é um led (diodos especiais que emitem luz quando conectados a uma bateria, muito mais econômicos e brilhantes), que dura 30 WISH
FOTO PAULO BRENTA
entrevista 30
“Acredito que o grande tributo do design brasileiro seja mesmo a criatividade, que é fruto da nossa própria cultura e da forma como levamos a vida.”
FERNANDO PRADO | LUMINÁRIA ECLIPSE
DIVULGAÇÃO
E as pessoas buscam experiência hoje em dia ? A automação da luz tem a ver com experiência: quando se quer ver televisão, coloca-se uma luz mais intimista, se está recebendo pessoas, muda-se a luz. Quando se consegue ter uma gama de cenários, isso se transforma em uma experiência. O que acho mais interessante nos efeitos de luz é que é possível emocionar não só pela estética, mas também pelo efeito de luz, que dá um apelo emocional.
THEODORA
Dá para agregar a luz de velas? A luz da vela é a origem de tudo. Acho que é por isso que a
anos. Se essa luminária não durar pelo menos 30 anos ela está
lâmpada incandescente é tão agradável. Quando se tem um jantar
mal planejada. Então é relativo esse conceito. Nós usamos muito
à luz de velas, quer dizer que é aconchegante. E o próprio tom de
alumínio, mas ele é reciclável. A coisa é bem mais complexa e
amarelo dessa lâmpada lembra a luz do fogo.
vai além da aplicação do material. Há uma preocupação atual
Hoje em dia é possível se usar outras cores de luz dentro de
com a economia de energia. O próprio dimmer é uma forma de
casa, para dar uma idéia mais lúdica. Há também luzes brancas
economia, já que se pode usar menos luz, é possível regular.
que oferecem tons azulados e amarelados. Em alguns países da
Há também os leds, que estão surgindo como uma corrente de
Europa, onde o sol brilha muito pouco, as pessoas reproduzem o
economia, tanto de energia como de tempo: eles duram três
ciclo do sol dentro das casas através de um controle de luz.
décadas e consomem dois watts. Em alguns lugares, a aplicação dos leds ainda é restrita por causa do custo, mas acredito que o
Qual é a tendência em iluminação?
futuro da iluminação é o led.
É, inegavelmente, o led. Nas feiras fora do Brasil, na Alemanha por exemplo, há led para todo lado. Esse é o futuro, quem não
Como usar a luz direta ou indireta?
enxergou isso ainda está fora da realidade. Tanto que algumas
Depende do desejado. Existem salas em que se usa luz indireta
fábricas de lâmpadas começaram a fabricar leds. O custo inicial é
quando o ambiente é claro e outras em que você consegue
maior, mas o custo operacional é muito baixo.
combinar perfeitamente a direta com a indireta. A idéia é temperar esses artifícios, que são o segredo do bom projeto. A Bossa, por
Morar em São Paulo é...
exemplo, é uma luminária que foi criada para ter os dois efeitos,
Especial! Nasci e moro aqui. Conheço outras cidades muito mais
que se consegue com o simples movimento de colocar o refletor
charmosas, mas me acostumei com as facilidades da cidade, com
para cima ou para baixo. Como hoje as salas de jantar e de estar
a seriedade do povo, com a maneira como as pessoas encaram
estão praticamente integradas, eu acho um desperdício criar uma
o trabalho. Não é uma cidade fácil de se viver, por isso eu não
iluminação apenas para a sala de jantar, sendo que se passa apenas
critico quem quer sair daqui a todo custo, mas nunca pensei em
duas horas por dia lá. A Bossa leva em conta isso: na hora do
morar fora daqui.
jantar se usa o refletor para baixo e quando a intenção é iluminar o ambiente todo se usa a luz para cima. Isso tira um pouco da
São Paulo é bem iluminada?
ociosidade do produto e também tem a ver com sustentabilidade,
Não, e está bem longe de ser, principalmente as áreas externas
afinal, uma luminária está fazendo o papel de duas. A minha
e públicas. Quando se vai para a Europa, principalmente Itália
intenção foi fazer com que o próprio usuário possa controlar a
e Alemanha, tudo é muito bem iluminado e bonito. Inclusive
intensidade de luz. Dessa maneira, acabo vendendo, junto ao
dentro das casas, o lightdesign está enraizado nos projetos. Aqui,
produto, uma experiência de interação e personalização.
o profissional de lightdesign não é respeitado, isso prova que temos muito o que aprender em iluminação. •
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ACERVO REAL Por Lígia Prestes
Com idéia de presentear a cidade de São Paulo, o engenheiro Oscar Americano transformou sua casa em uma fundação, com acervo que
cultura
inclui peças do Brasil colônia e imperial.
36
É
É no centro dos 75 mil metros quadrados da Fundação Maria Luisa
dizer que o bairro do Morumbi, propriamente dito, nasceu dos
e Oscar Americano que está encravada a casa onde morou o casal
esforços de Oscar Americano nesta mesma década. Acompanhado
durante 18 anos. O terreno foi adquirido pelo engenheiro Oscar
do arquiteto urbanista e amigo Oswaldo Arthur Bratke, que lhe
apenas para ser um sítio de final de semana, mas acabou sendo a
presenteou com o projeto, construiu uma casa inspirada no
residência oficial da família. Para alguns amigos, o feito pareceu
modelo dos bairros-jardins, difundidos em São Paulo desde o final
absurdo, pois na década de 40, quando ele comprou o terreno, as
da década de 1910 pela Companhia City e que previam amplos
imediações não tinham o menor sinal de urbanização. Necessário
terrenos para construção de casas e muitos jardins.
Oscar Americano tratou da implementação das obras viárias,
Augusto Teixeira Mendes. A casa e o pavilhão estão entre
utilizando métodos de trabalho inovadores e equipamentos
as melhores obras desenhadas por Bratke, expondo todas as
de terraplenagem e pavimentação ainda pouco difundidos na
características que marcaram a grande fase criativa do arquiteto,
São Paulo da época. Uma dessas máquinas, adquiridas nos
como a simplicidade de meios, a racionalização, a flexibilidade
Estados Unidos no pós-guerra de 1945, possibilitou considerável
espacial, sua clareza estrutural, o predomínio dos volumes
melhoria na execução e colocação de guias, permitindo, com
puros e horizontais, a integração entre exterior e interior e
tecnologia avançada, melhor padrão e economia. Realização
o diálogo com entorno e paisagens, estabelecendo um novo
importante na região foi também a construção do Hospital
modelo brasileiro de morar, que rompeu com velhos e anacrônicos
Infantil do Morumbi, exemplo do idealismo de Oscar Americano
padrões domésticos do País. O parque é a obra central da
em prol da criança e cujo projeto também foi entregue a
maturidade de Teixeira Mendes.
Oswaldo Bratke.
Quando o paisagista iniciou esse trabalho, não havia nada
Além dessas benfeitorias, um grande presente ainda estava
que lembrasse o exuberante aspecto atual da propriedade. A
reservado para a cidade: construções e melhorias urbanísticas.
área estava coberta apenas por campos e poucos arvoredos de
Ele queria – e sempre teve essa idéia – transformar sua casa em
espécies estrangeiras, como eucaliptos. Diante dessa situação,
uma fundação. Tanto que deixou um testamento para isso.
Teixeira Mendes optou por reintroduzir espécies típicas da Mata Atlântica, chamando a atenção para a necessidade de recuperar
A Casa
essa formação natural que no passado caracterizou a região
Idealizados nos anos 50, a residência, o pavilhão de lazer
e o estado de São Paulo. A sofisticada composição dispondo
e o parque foram projetados por dois dos mais importantes
a vegetação em conjuntos formalmente marcantes numa área
profissionais em suas áreas na São Paulo daquele tempo: o
de 75.000 m2 envolveu o plantio de cerca de 25.000 mudas de
arquiteto Oswaldo Arthur Bratke (que acabou comprando um
árvores. O paisagista acompanhou pessoalmente a implantação e
terreno ao lado de Oscar) e o paisagista e agrônomo Otávio
a manutenção dos jardins durante os dez primeiros anos.
FUNDAÇÃO MARIA LUISA E OSCAR AMERICANO E PARQUE
cultura
RUÍNAS DA SÉ DE OLINDA, FRANS JANSZOON POST (1612-1680)
38
CIDADE DO INTERIOR,FRANS JANSZOON POST (1612-1680)
ÍNDIO CAÇADOR, SÉRIE NOUVELLES INDES, MANUFATURA DOS GOBELINS (SÉCULO XVIII)
Um acervo real
disposição da comunidade e tem um acervo permanente, com
Após a morte de Maria Luisa, abatido, Oscar resolveu fazer uma
mais de 1.600 peças divididas em três núcleos principais: Brasil
homenagem a sua esposa. O sentimento de preservação ambiental,
Colônia, Brasil Império e Mestres do Século XX.
que se espalhou pelo mundo décadas depois, já estava presente em
O acervo da arte colonial da Fundação reúne mobiliário, prataria
1948. Queria transformar a casa em uma fundação onde também
de importantes ourives e valiosos exemplares da arte sacra
se preservasse um pouco do verde que, segundo ele sentia,
brasileira. Entre as pinturas, destacam-se oito telas do pintor
depois de algum tempo a cidade iria precisar. Foi ao cartório e
holandês Frans Post, que acompanhou a comitiva de Maurício
registrou que a casa não mais poderia ser vendida. Sua idéia era
de Nassau ao Brasil durante a primeira metade do século XVII.
expor a pequena coleção de peças antigas e obras de arte (tanto
Um dos mais consagrados artistas de seu tempo, Post pintou
brasileiras como internacionais). Com sua morte em 1974, ano
inúmeras paisagens de Pernambuco que revelam diversos aspectos
que a fundação foi instituída, seus filhos reformaram toda a casa
da vida no Nordeste brasileiro durante o Período Colonial. Entre
com a intenção de abri-la ao público. No entanto, gostariam de
os móveis do Período Colonial, destacam-se as peças de estilo
que o acervo fosse maior. Sorte ou coincidência, no período dessa
D. José I, nas quais são atenuados os traços da influência
reforma, são levados a leilão diversos lotes de peças do Brasil
portuguesa e incorporadas características do mobiliário francês e
Colônia e República, um riquíssimo acervo que foi arrematado
inglês. Também estão conservados na fundação móveis de estilo
pelos filhos de Oscar e Maria Luisa, ampliando assim o sonho do pai.
D. João VI, ainda próximos da tradição portuguesa, e de D. Maria
Além dos mobiliários, tapetes e peças de arte sacra – que era
I, os quais carregam a renovação estilística que o século XIX
o que Maria Luisa mais gostava – a casa é um patrimônio à
terminaria por consolidar. O conjunto de móveis inclui cômodas,
RETRATO DA FAMÍLIA IMPERIAL, FOTOGRAFIA, 1492 ALBERTO HENSHEL & CIE, 1887 Da esquerda para direita: sentada Dona Isabel e seus três filhos, Dom Augusto Saxe-Coburgo e Bragança (segundo filho de Dona Leopoldina), O Imperador Dom Pedro II e a Imperatriz Dona Teresa Cristina. Em pé, atrás da Imperatriz, o Conde D’eu (Marido de Dona Isabel) E Sentado à direita Dom Pedro Augusto Saxe-Coburgo E Bragança (filho mais velho de Dona leopoldina).
DOM JOÃO VI, REI DO REINO UNIDO DE PORTUGAL, DO BRASIL E ALGARVES, CHARLES SIMON PRADIER (1786-1848) / JEAN BAPTISTE DEBRET (1768-1848)
A FAMÍLIA IMPERIAL DO BRASIL, C. 1854, LITOGRAFIA HENRIQUE FLEUISS / F.R. MOREAUX
meia-cômodas, oratórios, tronos e cadeira de bispo, que formam um seleto e harmonioso grupo de mobiliário luso-brasileiro do século XVIII. Entre as diversas peças de prata da época é possível encontrar uma bela naveta D. João VI, o conjunto de gomil e lavanda em estilo D. José I, o cuité baiano e a bandeja de pé D. Maria I, tudo feito por importantes prateiros portugueses e brasileiros da época. Há ainda exemplos de ourivesaria
cultura
portuguesa do século XIX, como o par de tocheiros do prateiro lisboeta Tocato José Clavina Bernardes. A série de tapeçarias conhecida como Anciennes Indes foi confeccionada entre 1687 e 1730 na manufatura dos Gobelins, em Paris. A composição dos cartões das tapeçarias foi baseada em pinturas e desenhos do retratista Albert Eckhout, que também acompanhou a comitiva de
40
Maurício de Nassau. Quando os cartões originais das tapeçarias se estragaram pelo uso constante, o pintor François Desportes CARLOTA JOAQUINA, PRINCESA DO BRASIL, LITOGRAFIA MANOEL MARQUES DE AGUILAR (1767- C.1816)
FAVELA COM MÚSICOS, 1957, CÂNDIDO PORTINARI (1903-1962)
executou nos cartões o mesmo espírito dos originais entre 1735
qual a Câmara presenteou D. Pedro I por sua decisão de permanecer
e 1740. Conhecidas como Nouvelles Indes, essas tapeçarias
no Brasil. No acervo também há porcelana da Companhia das
foram executadas numerosas vezes até o ano de 1802. As duas
Índias, elaborada na China sob encomenda e sob medida para o
tapeçarias que há na fundação, Le Chasseur Indien e Combat des
gosto ocidental. É possível encontrar diversos documentos, cartas
Animaux, são exemplos de Nouvelles. Vendidas em 1768 ao Duque
e até exercícios de caligrafia das princesas. Além disso há diversos
de Noailles, passaram mais tarde à propriedade de Lord Byron e
adereços como leques típicos de época – até um em comemoração
foram adquiridas por Oscar em 1973, na Inglaterra.
à chegada da Família Real no Brasil – miniaturas, abotoadeiras,
Os retratos a óleo são as peças mais importantes do acervo
botões de uniformes do Exército Imperial e de funcionários da
Imperial da Fundação. Entre eles há o de membros da Família
Corte, brasões móveis e vários outros objetos que completam a rica
Imperial brasileira, como os Imperadores D. Pedro I e D. Pedro
e diversificada mostra de arte e do modo de vida no Brasil Imperial.
II, D. Amélia de Leuchtenberg, D. Leopoldina e as princesas D.
Oscar Americano e seus filhos também fizeram questão de ter na
Maria Amélia e D. Francisca. As louças imperiais, muito utilizadas
fundação obras dos mestres do século XX. Há pinturas e esculturas
na residência do imperador, também são de grande interesse e
dos mais destacados artistas brasileiros contemporâneos, como
variedade. O conjunto de pratos da Ilustríssima Câmara é um
Victor Brecheret, Lasar Segall, Alberto da Veiga Guignard, Di
exemplo. Trata-se do refinado serviço de porcelana francesa, com o
Cavalcanti e Cândido Portinari.
PARQUE DA FUNDAÇÃO MARIA LUISA E OSCAR AMERICANO
Atividades da Fundação Não bastasse apenas o rico acervo que a Fundação preserva há
essenciais na vida nacional a partir da década de 1940, como o
muitos anos, é possível também fazer um passeio, que dura
rodo-ferroviário, hidroelétrico e aeroportuário. Recém-formado,
cerca de uma hora, para observar as centenas de espécies de
Oscar Americano iniciou-se modestamente na construção
pássaros que há no parque. Ainda neste ano o museu pretende
civil. Seu escritório realizava serviços de terraplenagem com
oferecer diversos cursos, como o de paisagismo por exemplo.
equipamentos de tração animal, entre outros trabalhos. No estado
Regularmente promove exposições temporárias e no seu auditório
de São Paulo, foi um dos responsáveis pela introdução de novos
são realizados concertos, recitais, conferências e cursos sobre
equipamentos e processos de execução de infra-estrutura viária
história da arte, literatura e música. Em tão agradável lugar
ao participar da construção de rodovias como Anchieta, Dutra,
não falta um Salão do Chá, onde é possível desfrutar de um
Castelo Branco e tantas outras .
chá completo servido à moda inglesa com um farto menu:
No campo hidrelétrico estão algumas das mais notáveis
chá, chocolate, brioches, croissants, pãezinhos, salgadinhos,
realizações de sua empresa, a CBPO. Participou da construção
sanduíches, torradas, bolos, biscoitos, etc. E tudo isso apreciando
das usinas de Xavantes, Capivara, Foz do Areia e outras. Foi uma
uma vista pouco comum na cidade de São Paulo, a de um
das cinco empresas brasileiras selecionadas para a construção da
majestoso jardim de Mata Atlântica!
usina hidrelétrica de Itaipu, a maior do mundo no final do século
cultura
XX. Ao longo de sua trajetória, Oscar Americano enfrentou os
42
Quem foi Oscar Americano
mais variados desafios profissionais. Realizou todo tipo de obras
Formado pela Escola de Engenharia Mackenzie, em 1931, Oscar
no ramo da construção civil, como o Aeroporto Internacional do
Americano de Caldas Filho foi um destacado engenheiro civil e
Rio de Janeiro (Galeão). •
empresário da construção no Brasil. Fundou e dirigiu uma das
Serviço:
principais empresas de engenharia e construção no País – a
Fundação Maria Luisa e Oscar Americano
Companhia Brasileira de Projetos e Obras (CBPO) – cuja história se confunde com o processo de modernização de alguns setores
Av. Morumbi, 4077 – Morumbi Tel.: (11) 3742-0077 www.fundacaooscaramericano.org.br
ERA hist贸ria uma vez uma
novos rumos
Por L铆gia Prestes
44
N
Nos tempos atuais, em que a tecnologia substituiu diversas
O ato de contar histórias e o prazer de ouvi-las ressurgem, apesar de toda tecnologia contemporânea.
expressões de cultura, a profissão de contador de histórias, na prática, deveria ser um ofício fadado ao fracasso. Muito pelo contrário. Antes era uma tarefa exercida em casa pelos pais e avós, ou por professores em escolas infantis, hoje é levada por profissionais para hospitais, livrarias e até mesmo empresas. “Freqüentemente recebo propostas para ir contar histórias em empresas. Claro que o contexto tem a ver com o momento da companhia, mas o conto ajuda na hora da reflexão e desenvolve a individualidade”, explica Regina Machado, que há mais de 20 anos é contadora de história profissional e pesquisadora de narrativas tradicionais da Universidade de São Paulo. “O trabalho do contador de história não precisa estar atrelado apenas ao incentivo à leitura, mas também a fins terapêuticos, filosóficos, sociais, artísticos, entre outros”, completa Carlos Eduardo Cinelli, fundador do Tapete Contadores de História, grupo de atores e arte-educadores que produz exposições interativas, sessões de histórias, espetáculos de narração e oficinas. Apesar de a arte de contar histórias existir desde os mais remotos tempos da história da humanidade, é a partir da década de 70 que essa arte começou a renascer no meio urbano no mundo todo. “Tudo que o mundo moderno não oferece, o contador proporciona. É como se ele trouxesse o encontro humano – que hoje quase não existe – através da forma de contar a história do seu próprio jeito”, acredita Regina. Atualmente, há diversos encontros e festivais de contadores de história que provam que o ofício tem tomado força no Brasil. Um deles é o Simpósio Internacional de Contadores de História, que acontece no Rio de Janeiro, e que já vai para sua sétima edição em agosto deste ano. Esse encontro oferece espetáculos tanto para adultos como para crianças e reúne profissionais de diversos países. Um dos pontos altos do evento é a Maratona de Contos, que dura 24 horas: durante o dia há histórias infantis; de noite e de madrugada, histórias de humor, erotismo e terror. Graças a sua magnitude, o encontro já chamou a atenção da Unesco, que desde 2004 apóia o evento. Já há cursos que desenvolvem a prática de contador de história, pois, segundo Regina, não há técnicas ou dicas de como narrar, e sim um desenvolvimento que vai melhorando com a experiência ao longo do tempo. Carlos Eduardo também
BICHO DO MATO
concorda: “O curso que oferecemos é uma ‘provocação’ sobre esse contador de histórias que todos temos dentro de nós. Durante a oficina trabalhamos com os mesmos princípios que desenvolvemos no nosso grupo. Esses princípios têm sempre como eixo a narrativa, a história. A utilização de suportes plásticos, cenários e outros recursos exteriores são desdobramentos da nossa relação com o conto”, explica. Para Carlos, o contador de história está sempre aprendendo e não há uma fórmula, apenas princípios, olhares e perspectivas sobre essa arte. “O importante é conhecer bem o que vai contar. O contador tem que demonstrar que está descobrindo a história naquele momento e não apenas contar e ponto final. Isso não tem aura”, completa Carlos. Formado em teatro pela UniRio, Carlos Eduardo encontrou na faculdade e na relação com seus colegas de sala afinidades artísticas que se entrelaçavam com seus desejos pessoais. “O grande despertar foi quando conhecemos um artesão e contador de história francês chamado Tarak Hammam, que desenvolve até hoje um projeto educacional de confecção e narração de histórias com tapetes. Aquilo me chamou a atenção pela ludicidade, pela memória da infância e a forma de manipular os suportes plásticos que servem de cenários para as histórias. Encontreime de forma múltipla”, conta. E não é apenas para crianças que esses contos são recitados. Quando para adultos, as histórias variam entre romance, suspense, comédia, terror ou com algum teor de lição de vida. Regina também oferece cursos para contadores de história e alerta que não é um curso técnico e sim uma preparação que leva a vida toda. Segundo ela, qualquer pessoa pode contar história, em todos os momentos e em diferentes profissões. “Nas minhas aulas costumo fazer os alunos se concentrarem em um único conto e transformá-lo em desenho, em canto e em dança. Você aprende quando descobre suas potencialidades e as transforma
novos rumos
para contar. Faço a pessoa se encantar pela história”, completa
46
CABE
Regina, que tem planos para criar uma pós-graduação voltada para os contadores de história. O grande segredo é experimentar e ter a intenção de fazer a
pessoas, a natureza, os objetos”, explica Regina. “O contador
história ser real, o que significa colocar-se dentro dela. “Se
profissional nunca deve esquecer que ele também é, e sempre
você sabe o que quer contar, ao longo da história essa inten-
será, um homem que precisa contar algo, e que, apesar dele estar
ção transparece”, diz a profissional. O ritmo que se dá ao conto
inserido em um contexto sociocultural específico, ainda assim é
também faz parte de uma história bem contada. “Uma monótona
um desses que simplesmente conta. O contexto da profissão não
história lida não permite que a pessoa ‘veja’ o que está sendo
deve ofuscar esse primeiro impulso de alguém que quer compar-
contado. Para aprender mais dos recursos corporais que você
tilhar uma memória, uma história que gosta, ou um fato que o
pode transportar para a história, basta observar o dia-a-dia das
mobiliza”, complementa Carlos.
Reconhecimento Apesar do constante crescimento desse ofício, a profissão de con-
são os remanescentes na tradição milenar das populações mais
tador de história ainda tem muito a ser explorada aqui no Brasil.
antigas, indígenas e orientais, onde quem exercia esse ofício era
“Já está havendo uma boa discussão sobre a profissionalização,
um dos membros mais respeitados da comunidade. •
mas ainda falta um incentivo. Nós já estamos em diversas áreas: em empresas, em desenvolvimento de pessoas, em tratamentos
Serviço:
para doentes, em cultura, etc. Já está na hora de sermos reconhe-
www.tapetescontadores.com.br
cidos”, diz Regina. Ainda segundo ela, os contadores de história
Os Tapetes Contadores de Histórias (21) 2268-8873 | (21) 8132-0468
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reserva
Granja julietA
Por Vera Severo / Fotos Paulo Brenta
n
No Condomínio Reserva Granja Julieta é difícil acreditar que estamos em São Paulo. Os edifícios baixos de apenas oito andares e o amplo boulevard ajardinado proporcionam um clima de tranqüilidade que faz parecer que, ali, a vida passa mais devagar. Talvez uma das maiores qualidades desse empreendimento seja mesmo a esplanada que conecta os oito edifícios com baixa estatura. Entremeado por jardins, bancos e lagos, esse espaço possui uma escala tão adequada que nos sentimos como que em outra cidade, longe da agitada vida paulistana onde o barulho não nos deixa ouvir sequer a nós mesmos. Quando a tarde cai, um pouco antes das luzes se acenderem, o pôr do sol é um espetáculo quase diário para quem está caminhando pelo boulevard – só depende das condições climáticas. E quando as luzes se acendem, ainda uma outra bela atração nos aguarda.
do projeto à realidade
FOTO DO BOULEVARD NA ÉPOCA DA ENTREGA DAS CHAVES.
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VISÃO ARTÍSTICA DO PROJETO DO BOULEVARD DO CONDOMÍNIO GRANJA JULIETA.
Como é bonito o caminho iluminado ao cair da noite, quando a água corre tranqüila pelo córrego que se insinua por seu piso e as luzes dos apartamentos também começam a se acender. Na volta para casa, depois de mais um dia na cidade inquieta, somos brindados com uma visão que acreditávamos ser impossível existir em São Paulo. Depois de investimentos bem sucedidos no Brasil em empreendimentos comerciais, pela primeira vez a Tishman Speyer participa do segmento residencial e, em parceria com a Construtora Even, acaba de entregar a Reserva Granja Julieta, um condomínio inédito na história do mercado imobiliário paulista. Com uma área de 26,6 mil metros quadrados, o complexo residencial com projeto arquitetônico contemporâneo está perfeitamente integrado a uma área verde pré-existente, na verdade quase um bosque, que foi preservada e destinada à área de lazer. Além disso, os jardins projetados são extensões dos lobbies dos edifícios que se comunicam através deles ininterruptamente. Em função das amplas janelas panorâmicas e dos generosos terraços, a luminosidade é uma característica marcante nos interiores do empreendimento. Os amplos livings dos apartamentos são acompanhados em toda sua extensão por varandas que estão sempre em contato com os jardins, mantendo a associação com a natureza – um dos elementos mais prazerosos do empreendimento. Outro toque de genialidade do projeto são os painéis deslizantes em treliça metálica nos terraços, que podem ser deslocados conforme o desejo dos moradores, criando ambientes mais sombreados ou privados. A possibilidade de deslocamento dos painéis também confere jogos interessantes de fachada e uma constante mudança visual.
VISÃO ARTÍSTICA DO PROJETO DA VARANDA DO CONDOMÍNIO GRANJA JULIETA.
FOTO DO BOULEVARD NA ÉPOCA DA ENTREGA DAS CHAVES.
do projeto à realidade
FOTO DA PISCINA NA ÉPOCA DA ENTREGA DAS CHAVES.
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VISÃO ARTÍSTICA DO PROJETO DA PISCINA DO CONDOMÍNIO GRANJA JULIETA.
FOTO DO SPA NA ÉPOCA DA ENTREGA DAS CHAVES.
VISÃO ARTÍSTICA DO PROJETO DO SPA DO CONDOMÍNIO GRANJA JULIETA.
do projeto à realidade
FOTO DO SALÃO DE JOGOS NA ÉPOCA DA ENTREGA DAS CHAVES.
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VISÃO ARTÍSTICA DO PROJETO DO SALÃO DE JOGOS DO CONDOMÍNIO GRANJA JULIETA.
E não foi apenas a qualidade de vida dos moradores que
as obras. O curso teve duração de oito meses, três vezes na
preocupou empreendedores e construtores: a qualidade dos
semana, após o expediente de trabalho. Munidos de uma cartilha
acabamentos pode ser notada nos menores detalhes, tanto na
oferecida juntamente a todo o material necessário, os operários
sua especificação como na sua confecção. Diferenças no desenho
receberam conteúdos equivalentes aos estudados do 1º ao 4º ano
dos pisos – internos e externos – foram habilmente tratados e
do Ensino Fundamental.
por isso a integração entre jardins e passeios é sutil e delicada, aliando elegância e qualidade estética. Mas as inovações não ficaram só no projeto e na sua construção. Com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento pessoal e profissional de seus funcionários, a Even criou um curso de alfabetização de adultos e o instalou no canteiro durante
Reserva Granja Julieta Projeto de Arquitetura: Márcio Cury e Azevedo Antunes Arquitetos. Paisagismo: Isabel Duprat . Decoração: Patrícia Anastassiadis. Iluminação: Senzi Lighting. Construção: Even Construtora. Incorporação: Tishman Speyer.
AJUDA AMERICANA PARA O BRASIL Por Lígia Prestes
Através de doações financeiras, a BrazilFoundation capta, nos
projeto social
EUA, fundos para ajudar o Brasil no âmbito social.
56
U
Uma causa nobre por trás de um trabalho único. Talvez essa
de representação da BrazilFoundation no Rio de Janeiro, hoje
seja uma das diversas denominações que se pode atribuir à
chefiado por ela.
BrazilFoundation, uma entidade pública sem fins lucrativos
No início de 2001, Roberta Mazzariol, cuja experiência em bancos
incorporada em Nova York. Com escritório na cidade nova-
de investimento ajudou a desenvolver o plano de trabalho da
iorquina e comitês de voluntários em Boston, Califórnia, Flórida
BrazilFoundation, foi convidada a fazer parte da Diretoria.
e Washington, a organização tem como premissa captar recursos
Roberta, com a ajuda de Danyela Moron, estagiária e ponto de
nos Estados Unidos para investir em trabalhos sociais qualificados
contato da BrazilFoundation em São Paulo, vem coordenando
aqui no Brasil. A BrazilFoundation mobiliza recursos e o talento
atividades, inspirando voluntários e atraindo o interesse de
de indivíduos e empresas brasileiras, além de estrangeiros
empresários paulistas.
estabelecidos nos Estados Unidos interessados em contribuir
Em 2003, o primeiro Baile de Gala Beneficente da fundação em
para a melhoria das condições sociais no Brasil. A ONG canaliza
Nova York gerou recursos para apoiar 17 projetos sociais. Graças
o desejo de transformação social desses indivíduos e corporações
ao seu sucesso, este evento tornou-se uma importante fonte de
relacionando-as diretamente às organizações não-governamentais
recursos. Nos anos seguintes, a entidade organizou palestras nos
que atuam no Brasil.
EUA com líderes sociais brasileiros, pondo-os em contato direto
Essa captação é feita através de campanhas de mobilização, como
com doadores para promover melhor conhecimento do trabalho do
a campanha Amigos da BrazilFoundation, onde cada associado
Terceiro Setor brasileiro. Essas palestras ainda contribuem para o
contribui por ano com uma quantia de US$ 30 e, no caso dos
crescimento tanto do número de pessoas interessadas no trabalho
cidadãos americanos, se beneficiam de uma rede de descontos
da fundação, quanto da sua arrecadação. Conseqüentemente, o
e benefícios oferecidos por negócios parceiros nos Estados
número de projetos apoiados no Brasil também subiu de quatro
Unidos. Além disso, a entidade promove, todos os anos, um
em 2002 para 30 em 2007. O número de propostas recebidas de
Baile de Gala Beneficente nos EUA para angariar fundos. No ano
organizações em busca de apoio financeiro também aumentou
passado, o evento que aconteceu em setembro arrecadou mais
substancialmente, passando de 73 em 2002 para 975 em 2007.
de US$ 400.000,00 destinados aos projetos sociais nas áreas de
Através do trabalho de apoio das organizações de base, a
educação, saúde, direitos humanos, cidadania e cultura que a
equipe no Brasil percebeu que muitas das iniciativas apoiadas
BrazilFoundation apóia, após seleção feita anualmente. O baile, que
demandavam mais do que recursos financeiros para realizarem
conta com um leilão de peças doadas por alguns parceiros (design,
ações transformadoras em suas comunidades. A partir daí,
moda, etc.), tem seu público composto por diplomatas, designers,
a fundação desenvolveu e implementou uma metodologia
artistas, modelos, empresários e gente disposta a ajudar.
de Monitoramento Participativo, através do programa de Monitoramento e Avaliação, a fim de acompanhar passo a passo
O início de tudo
a aplicação dos recursos. A BrazilFoundation também criou um
Depois de se aposentar de uma carreira de mais de 20 anos na
programa de Capacitação em gestão e comunicação, que oferece
Organização das Nações Unidas (ONU), Leona Forman criou a
apoio técnico continuado aos líderes dos projetos apoiados.
BrazilFoundation para apoiar ONGs que trabalham em prol da
Desde sua fundação, a BrazilFoundation apoiou 222 projetos
transformação social no Brasil. O projeto de vida de Leona é
sociais em todos os 27 estados brasileiros. Alguns destes projetos
inspirado por um desejo de retribuir ao Brasil, país que acolheu
hoje são referências em suas áreas de atuação, recebendo prêmios
sua família refugiada da China, as muitas oportunidades que teve,
nacionais e internacionais, como por exemplo o Prêmio Ashoka-
como adolescente e jovem jornalista correspondente do jornal O
MacKinsey de Empreendedores Sociais, Prêmio Unicef de Educação
Globo na França, morando no Rio de Janeiro. Em junho de 2000,
e Prêmio de Direitos Humanos, Brasil 2007. Hoje, a fundação
Leona fez parceria com Marcello Hallake, advogado brasileiro que
é reconhecida mundialmente por seu profissionalismo e sólida
atua em Nova York e que representou a fundação na obtenção
trajetória e, conseqüentemente, estabeleceu novas parcerias com
do status de organização sem fins lucrativos. Logo depois, a
fundações como a Ford Foundation, Interamerican Foundation,
carioca Susane Worcman, experiente pesquisadora e curadora
W.K.Kellog, Lemann e com entidades empresariais como Instituto
de Artes, se juntou ao grupo e ajudou a estabelecer o escritório
HSBC Solidariedade, Fundação Vale, Embraer e TAM Linhas Aéreas.
Exemplos de gratidão A Artidéias adota a economia solidária para gerar alternativas de trabalho e renda e contribuir para a diminuição dos níveis de pobreza em comunidades de Vitória e Espírito Santo. Formada por grupos de artesãos, a instituição estimula microempreendimentos capacitando os trabalhadores e facilitando a entrada de seus produtos no mercado. O Banco Bem, projeto apoiado pela BrazilFoundation, é uma iniciativa inovadora da Artidéias, que está oferecendo microcrédito para 15 famílias da comunidade construírem e reformarem suas moradias na favela de São Benedito. A iniciativa oferece financiamento com juros baixos e sem burocracia e as famílias serão capacitadas para realizarem as obras com técnicas de baixo custo e em regime de mutirão. Com o retorno do financiamento, novas famílias serão beneficiadas. Em um intercâmbio com a Ação Moradia, outro projeto apoiado pela BrazilFoundation, os moradores estão tendo acesso a uma tecnologia de construção de casas populares a baixo custo (ver abaixo Tijolos Ecológicos). Já a Ação Moradia trabalha para a melhoria das condições de vida
projeto social
em comunidades de baixa renda através de ações direcionadas
58
para a família e focadas na área da habitação. Em 2003, com recursos doados pela BrazilFoundation, foi implantada em Uberlândia uma fábrica de tijolos ecológicos, uma tecnologia social utilizada na construção de casas populares a baixo custo e sem agredir o meio ambiente. O projeto Tijolos Ecológicos – Casas com Dignidade possibilitou que 15 famílias construíssem suas casas. Para difundir esse trabalho, a Ação Moradia está criando uma metodologia de gestão tecnológica para a fabricação de tijolos e construção de casas, que vai possibilitar a aplicação da tecnologia dos tijolos ecológicos em outras comunidades rurais
Desde sua fundação, a BrazilFoundation apoiou 222 projetos sociais em todos os 27 estados brasileiros. Alguns destes projetos hoje são referências em suas áreas de atuação, recebendo prêmios nacionais e internacionais.
e quilombolas. Para alcançar este objetivo, o projeto também vai treinar lideranças de organizações não-governamentais na implantação do modelo. Outro projeto apoiado pela entidade é a Associação Lua Nova, em Araçoiaba da Serra, no estado de São Paulo, que é um centro de acolhimento e tratamento para mães adolescentes em situação de risco, químico-dependentes, moradoras de rua e vítimas da violência doméstica. O centro oferece abrigo temporário, atendimento psiquiátrico e cursos profissionalizantes. Os recursos doados pela BrazilFoundation em 2004 destinaramse à qualificação de profissionais e agentes sociais para a formação de três núcleos de acolhimento nas cidades de Votorantim, Sorocaba e Araçoiaba. O apoio possibilitou também a participação de 40 meninas em programas de qualificação profissional e geração de renda. As jovens criam e vendem produtos artesanais, com destaque para a oficina de bonecas de pano, que chegaram a ser exportadas para a Itália. A renda obtida com a comercialização dos produtos permitiu a abertura de cadernetas de poupança para as jovens mães. Uma iniciativa idealizada a partir do intercâmbio com a Ação Moradia, outra instituição apoiada pela BrazilFoundation, possibilitou que algumas jovens do projeto aprendessem a construir suas casas. A Lua Nova promoveu cursos de capacitação em construção civil, criando mutirões para a construção das moradias. Foi utilizada uma técnica de construção com “tijolos ecológicos”, feitos pelas próprias moças a partir da mistura de solo com cimento, sem a queima de combustíveis. Criatividade, flexibilidade e disciplina são instrumentos que levam essas jovens à inclusão social.
Como ajudar Para fazer doações à BrazilFoundation, os brasileiros podem entrar em contato através do e-mail: info@brazilfoundation.org
Leona Forman, um exemplo a ser seguido
trabalho com membros das comunidades em que atuam,
Sua intenção era devolver ao Brasil um favor. Ela foi acolhida
participativos, qualificados e atuantes como cidadãos dignos que
aqui junto da família que veio refugiada da China. A retribuição
são. Exemplo: em um dos vilarejos, 30 cisternas de placa foram
foi dar aos brasileiros um pouco mais de esperança e auxílio em
construídas por famílias que as necessitavam. Além de fornecer
diversos projetos sociais.
água potável para o consumo, essas cisternas melhoram a saúde da família (as crianças têm menos resfriados ou problemas de
Além da gratidão que tem pelo Brasil, algum outro
verminoses, a mãe tem mais tempo para cuidar da horta, dos
ponto fez a senhora se empenhar em auxiliar os
filhos e até de sua própria educação, já que não precisa passar
projetos sociais brasileiros?
horas buscando água). A comunidade se uniu no esforço, criando
Tendo trabalhado na ONU com representantes do Terceiro Setor
um fundo rotativo de repagamento das cisternas, o que permite
de todas as regiões do mundo, vi como era difícil – em todos
a construção de cisternas para quem ainda não as tem. Juntando
os países – para eles conseguirem recursos para implementar
todos os recursos disponíveis na comunidade para um objetivo
seus projetos, muitas vezes mais criativos, mais flexíveis,
comum, contribui-se para o desenvolvimento. Sem apoio, os
mais adaptados às necessidades das comunidades onde atuam.
projetos sofrem uma dificuldade imensa.
Como brasileira vivendo nos EUA, achei que haveria uma ótima possibilidade de engajar outros brasileiros interessados em,
Quais são os próximos planos da BrazilFoundation?
de longe, fazer investimentos sociais em pequenas e médias
Os planos da BrazilFoundation incluem promover conhecimento
organizações sem fins lucrativos espalhadas pelo nosso
sobre o trabalho do Terceiro Setor brasileiro através de novas e
grande País, sem muito acesso a financiamento ou parcerias.
diversas audiências nos Estados Unidos – indivíduos e empresas
A resposta das pessoas com quem comecei a conversar sobre
de todos os setores da indústria e do comércio. Ao fazerem
o estabelecimento da BrazilFoundation foi tão encorajadora –
uma contribuição para organizações sem fim lucrativo, eles
queriam participar, fosse com recursos ou com o seu tempo e
podem se beneficiar das leis do Imposto de Renda americano,
talento – que senti que estava com uma idéia boa e realizável.
que permitem dedução na declaração de imposto de renda.
projeto social
Estamos expandindo nossa atuação de Nova York para a
60
A senhora acredita que o Brasil poderá ser melhor,
Flórida, Califórnia, Washington, Massachusetts. Este ano vamos
caso os projetos sociais sejam mais atuantes?
desenvolver novas parcerias com empresas e indivíduos, fazendo
Acabei de voltar de uma visita a nove projetos em Pernambuco
investimentos econômicos e financeiros no Brasil. Oferecemos
e Paraíba que receberam apoio da BrazilFoundation. Estou
a eles a oportunidade de fazer um investimento social usando
convencida de que as organizações que visitei conseguiram
tecnologias e metodologias desenvolvidas por projetos sociais
utilizar o nosso apoio – não somente para realizar os projetos
que já apoiamos no Brasil. O investimento social trará soluções
propostos como para encontrar novos parceiros e receber
inovadoras, trazendo melhorias nas áreas de habitação, educação,
reconhecimento das autoridades públicas (principalmente no
saúde, geração de renda e desenvolvimento local sustentável nas
nível federal e estadual). Todos que visitei estão desenvolvendo
comunidades de atuação. •
Estar por dEntro das mElhorEs obras só podEria tEr um rEsultado: rEconhEcimEnto. Em 2007, a Gerdau esteve por dentro de todas as obras da EVEN. E foi reconhecida como um dos 10 melhores fornecedores de materiais, não só por abastecer essas obras com os melhores produtos para a construção civil, mas por buscar a constante excelência em prazo, atendimento, qualidade e segurança. Obrigado, EVEN. Esse reconhecimento nos motiva, cada vez mais, a oferecer produtos e serviços diferenciados para nossos clientes. Conheça a linha de produtos para construção civil:
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Efirma ven Por Lígia Prestes
novos negócios
C 62
PARCERIA COM EMPRESA DO SUL
Com o claro objetivo de expandir seus negócios e se consolidar
os diretores da Even tiveram com os diretores da própria Melnick.
como uma empresa de nível nacional, a Even firmou no começo de
“Nós valorizamos muito o lado pessoal. Não é apenas fechar um
março uma parceria com o Grupo Melnick, com larga experiência
negócio e assinar um contrato. Queremos também que exista
na incorporação e construção de empreendimentos residenciais
um bom relacionamento, que seja perene e que compartilhe os
e comerciais no estado do Rio Grande do Sul. “A Even, além de
mesmos valores éticos e institucionais”, diz Alexandre.
já ter conquistado espaço em empreendimentos de alto e médio
As sinergias esperadas na associação são relevantes.
padrão, agora quer atacar em empreendimentos mais acessíveis. E
“Preservaremos ao máximo a forma de atuação da Melnick no
a Melnick, no Rio Grande do Sul, vai nos auxiliar em todos esses
mercado, dado seu know-how local, ao passo que pretendemos
segmentos na região”, explica Alexandre Dinkelmann, da Even.
contribuir com nossa experiência de empresa atuante no mercado
A escolha da Melnick como parceira foi feita após uma avaliação
mais competitivo do Brasil, que é São Paulo”.
de construtoras e incorporadoras do Sul. “Nós a escolhemos por
Ainda em 2008, a Even e a Melnick pretendem fazer lançamentos
causa da semelhança que a empresa tem com o nosso modelo
distribuídos nos segmentos de alta e média rendas, assim como no
de negócios integrados, além de sua tradição e competência
acessível. “Nós estamos buscando a liderança de mercado e por isso
reconhecidas no ramo imobiliário. As perspectivas e os objetivos
nos unimos à Melnick, pois eles estão entre as maiores construtoras
também são iguais, o que foi “relevante” na escolha, conta
do Sul”, finaliza Alexandre. As duas empresas ainda querem expandir
Alexandre. Outro ponto levado em consideração foi a empatia que
suas operações também para Santa Catarina. •
Sugestões
para presente Por Rita Apoema
Amor. Bolinhas de sabão. O som de copos com água. O som das gotas no chão. Um sorriso tímido. A música por trás dos ruídos. Um coração encostado no outro. Um ou dois para sempres. Um avião nas mãos de um menino. Um barquinho de papel. Uma pipa atravessando as nuvens. Uma sementeira de tulipas. Um mingauzinho de aveia. Um par de meias listradas. Dois ou três cata-ventos. Uma palavra inventada. •
blog em revista
http://ritaapoena.zip.net/
63
meio ambiente
Um jardim
PARA D. JOテグ VI Por Vera Severo | Fotos Flテ。vio Moura
64
A incrível viagem das plantas
M
Muitas das frutas comuns em nossas mesas, e que acreditamos serem brasileiras, tiveram que percorrer uma longa viagem para chegar ao Brasil e foram tão bem aclimatadas que é difícil, hoje em dia, acreditar que uma banana ou uma manga não sejam de fato verdadeiramente brasileiras. Apesar de o continente americano ter sido o responsável pela introdução na alimentação da humanidade de importantes vegetais, como por exemplo a batata, o tomate, o milho e o cacau – até então desconhecidos na Europa e no Oriente – dentre muitos outros, estes foram trazidos para cá e aclimataram-se perfeitamente, fazendo parte de nossa alimentação diária, a exemplo do trigo, do arroz, do café e da cana-de-açúcar, assim como várias frutas e temperos. Sem dúvida, os descobrimentos do século XVI foram impulsionados principalmente pela busca das especiarias e iguarias que valiam tanto quanto o ouro e que já eram conhecidas na Europa há algum tempo. Supõe-se que tenham sido introduzidas pelos árabes orientais em arriscadas e difíceis jornadas que aportaram em primeiro lugar no Egito, onde eram usadas na conservação de cadáveres e na preparação das
A SUMAÚMA, UMA DAS MAIORES ÁRVORES AMAZÔNICAS
múmias. Provavelmente, esses usos promoveram outros mais difundidos, como o emprego de ervas para conservar carnes e outros alimentos. Era tal o valor dessas especiarias que volumes de pimentas e outras eram armazenadas e transmitidas como herança, da mesma forma como hoje se procede com dinheiro e jóias. Dentre as mais famosas, pode-se mencionar a pimenta, o gengibre, o cardamono, a canela, o cravo-da-índia e a noz moscada. Outras razões para o grande intercâmbio de plantas eram a necessidade de alimentos a bordo, a interrogação do que seriam as plantas indígenas que encontrariam nos países recém descobertos e a “saudade” dos alimentos aos quais estavam acostumados. Madeiras – espécies que forneciam tinta ou açúcar, remédios ou carvão, frutas, raízes, flores, bebidas – eram tesouros para os países que os conquistavam, uma reserva de capital que podia garantir suas finanças. E as novas plantas introduzidas nesses intercâmbios assumiram, com o tempo, importância tão grande que modificaram profundamente o panorama da economia e dos costumes de regiões inteiras. Se por um lado os portugueses adaptaram nas novas regiões as plantas que já conheciam e utilizavam, por outro também tiraram proveito das que passaram a conhecer, transformando umas e
O CHAFARIZ DAS MUSAS QUE VEIO DA INGLATERRA EM 1885
meio ambiente
JARDIM JAPONÊS
66 O LAGO QUE É O CORAÇÃO DO JARDIM
outras em fonte de progresso e fomento. Como o transporte de plantas também era oneroso, a descoberta de plantas nativas que substituíssem as “importadas” requisitadas pela alimentação dos europeus, como o trigo por exemplo, foi imprescindível. Nessa troca, a mandioca foi uma das escolhidas e assim foi reconhecido seu enorme valor na cultura alimentar, capaz de substituir cereais até no fabrico do pão. Os primeiros Jardins Botânicos – que nas suas origens haviam sido criados para abrigar coleções de ervas farmacêuticas e aromáticas – na época dos descobrimentos obtiveram grande importância, ao servirem de estágio para a aclimatação das plantas que chegavam ao Novo Mundo e também para aquelas que eram levadas para os países dos conquistadores. Quando D. João VI chegou ao Brasil em 7 de março de 1808, às margens das águas salobas de uma grande lagoa no Rio de Janeiro (a Lagoa Rodrigo de Freitas), uma antiga fazenda já muito descuidada abrigava pomares de frutas estrangeiras e nativas, plantações de batatas, milho, cana-de-açúcar e café. As matas encontravam-se bastante degradadas pelo plantio do café e pela queima de madeira para carvoarias. Já no dia 13 de maio, o príncipe regente assinava vários decretos, entre eles a compra dessa fazenda para instalar a Real Fábrica de Pólvora, um empreendimento urgente para a defesa do poder português recém chegado. Com o tempo, o projeto inicial da fábrica de pólvora acabou sendo suplantado pelo que veio a ser um grande jardim de aclimatação – o mais importante da época da colonização – que acabou por mudar a feição da região, antes alagadiça e sem urbanização, além de atrair grande interesse de cientistas europeus. A primeira leva de árvores, que se destinou à então fábrica de pólvora, chegou em 1809, embarcadas no navio francês Ville de Autum que vinha das Ilhas Maurício, no Oceano Índico. Em sua bagagem vieram sementes e mudas de moscadeiras, canforeiras, lichias, cajás, mangueiras, cravos-da-índia, canelas, acácias,
chegavam as sementes preciosas de longana, anis estrelado,
palmeiras sagu e areca, nogueiras, frutas-pão e outras nativas do
canela-da-china, bambus e gingseng, fruta-do-conde, carambola,
próprio continente americano, mas que já tinham se aclimatado
groselha, pimenta-do-reino, cânfora. Conviviam em harmonia
no oriente e voltavam para casa, como o abacate por exemplo. Os
espécies estrangeiras e nativas, árvores gigantes de madeira de
europeus já conheciam as práticas dos jardins de aclimatação há
lei, figueiras, paus-brasil, tecas, palmeiras da Ásia, da África e
pelo menos 3 séculos e pomares de laranjas, limões e tangerinas
América, tamareiras e dendezeiros, espécies raras que viajaram
asiáticos já tinham sido transplantados pelo príncipe Maurício de
pelo mundo e que aqui chegaram como presentes trazidos
Nassau, no século XVII em Pernambuco.
pelos viajantes para D. João VI. Estudiosos e historiadores
E muitas outras espécies foram chegando, como vários tipos de
contam que o príncipe regente fazia longos passeios pelo
cana e chá chinês, fumo e amoreiras para criação do bicho-de-
jardim, acompanhando o progresso das plantas e que também lá
seda. De Goa a Macau, da África, da Guiana ou do norte do Brasil
pernoitava, na sede da fazenda, por ser longo o caminho de volta
para o Palácio da Quinta da Boa Vista, onde morava. Nessa época, assinou decretos que premiavam e isentavam de impostos quem aclimatasse árvores de especiarias e outras “úteis ao progresso agrícola do Brasil”. Numa de suas visitas à Fábrica, D. João VI encantou-se com uma palmeirinha e quis ele mesmo plantar uma muda de Roystonea oleracea, originária das Antilhas e do norte da Venezuela, e que passou a ser conhecida como a “palmeira imperial”, tornando-se um ícone do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, um jardim de aclimação que nasceu de forma imprevista, sem planejamento algum, nos terrenos de uma fábrica de pólvora. A intensa troca de espécies e experiências de cultivo dessa época fizeram com que o Jardim fosse um importante fator no desenvolvimento agrícola do País. Quando a “palma mater” frutificou, suas sementes foram O ANTIGO PORTAL DA REAL ACADEMIA DE BELAS ARTES DEMOLIDA EM 1937 RECONSTRUÍDO NO JARDIN
disputadas e tornaram-se objeto de desejo de nobres e plebeus, um símbolo da aristocracia, haja vista os costumeiros renques de palmeiras plantados nas fazendas dos barões de café. A disseminação de suas sementes foi fomentada por um diretor do jardim que, proibindo que fossem colhidas e estocadas, motivou a formação de uma eficiente rede de contrabando alimentada pelos escravos que recolhiam-nas de madrugada para vendê-las mais tarde por um bom dinheiro. Depois de desistirem do monopólio das sementes, a diretoria plantou as filhas dessa palmeira nos 740 metros de uma avenida central do jardim, onde atingiram em pouco tempo a altura média de 30 metros, e que hoje figuram como o cartão postal do lugar. Um autor francês escreveria mais tarde sobre D. João VI que “se ele pouco se dava às idéias e às guerras, comprazia-se com as flores”. Com o tempo, as primeiras plantações com fins agrícolas realizadas no Jardim foram perdendo sua importância – como a do chá, uma das plantações de maior sucesso do jardim,
meio ambiente
importado junto a um grupo de chineses para ensinar a cultiválo. Mesmo as especiarias, que um dia perfumaram o passeio do príncipe, acabaram por ter seu número diminuído para favorecer as espécies nativas, antiga reivindicação não só dos cientistas visitantes mas também dos que ali trabalhavam e pesquisavam a sua preservação e propagação. Muitas foram as transformações sofridas nestes duzentos anos e o jardim de especiarias de D. João VI passaria por muitas modificações, com períodos ora de glória, ora de abandono, pois,
68 BEBEDOURO EM FERRO FUNDIDO DE ORIGEM FRANCESA ( c. 1878)
muitas vezes, o que o homem faz a natureza desfaz. Apesar disso, muitos são os que lutam por sua manutenção e conservação, e a
multidão que por lá passeia não tem noção do invisível mundo
de D. João VI, que consultamos para este artigo, conta que no dia
científico que estuda e protege um dos parques mais notáveis do
21 de março de 1925 o Jardim recebeu a visita de um viajante
mundo, o mais importante da América Meridional, com um grande
ilustre, o físico Albert Einstein, que passeava com uma comitiva,
número de belos exemplares de plantas raras e esplêndidas.
em sete automóveis para admirar as belezas do Rio de Janeiro.
Além de toda sua importância no mundo científico, e apesar de
“Einstein deslumbrou-se com tudo o que viu, especialmente
ter nascido sem um projeto definido, no Jardim Botânico do Rio
com um jequitibá-rosa e quis saber que árvore era aquela. O
de Janeiro a natureza exuberante teceu cenários de uma beleza
diretor Pacheco Leão respondeu que, além de gigante da nossa
indescritível e hoje é, sem dúvida, um ícone do patrimônio
flora, era uma das mais belas das matas brasileiras, fornecia
carioca. D. João VI hoje ficaria espantado se pudesse contemplar
sombra protetora para gente e bicho, produzia madeira nobre,
a impressionante aléia de palmeiras imperiais em seu jardim,
vermelho-rosada, usada na construção de casas, canoas e pontes,
todas descendentes da pequena palmeirinha por ele singelamente
e sua casca continha tanino, substância com propriedades
plantada há quase duzentos anos. (A palmeira “mater” foi
adstringentes, úteis nas diarréias e nas anginas e que entrava no
atingida por um raio em 1992 e em seu lugar foi plantada uma
fabrico de papel.
filha sua, hoje a palmeira “filia”.) Talvez não reconhecesse mais os
Mais um tanto de coisas disse o biólogo sobre o jequitibá e ainda que,
recantos por onde um dia passeara, mas identificaria os aromas,
quando um deles caía na floresta, de velhice, serrado pelo homem ou
se espantaria com a grandiosidade das árvores e com muitas
derrubado por um raio, o estrondo era tremendo, ouvido no fim do
espécies que não chegou a conhecer, e se sentiria orgulhoso por
mundo. O ilustre físico, então, abraçou o tronco e o beijou.”
ter-nos deixado essa herança magnífica.
Um pouco de história sobre algumas frutas e as especiarias que
A jornalista e escritora Rosa Nepomuceno, em seu livro O Jardim
vieram com os portugueses.
Jaca Artocarpus heterophyllus Os portugueses conheceram a jaca na Índia, de onde supõe-se que ela seja originária.
Canela
Pimenta-do-reino
Aclimatou-se tão bem no Brasil que
Cinnamonum zeylanicum
Piper nigrum
cresceu por todos os cantos do país,
Originária do antigo Ceilão, hoje Sri
A pimenta deve ter sido a primeira
agradando várias espécies de nossa
Lanka, é a mais famosa dentre as
especiaria a ser conhecida na Europa e
fauna, alimentando principalmente
especiarias que aqui chegaram trazidas
foi a que assumiu maior importância,
pássaros, macacos e sendo muito
pelos jesuítas e espalhadas do Rio
chegando os mais ricos a fazer reserva
apreciada pelo gado. Como as
de Janeiro ao Maranhão. Foi uma das
de bens em pimenta e que depois eram
mangueiras, as jaqueiras eram figuras
primeiras mudas a ser introduzida no
transmitidos a seus descendentes. Era
centrais em todos os pomares. Hoje, um
Jardim de D. João VI, formando até
usada na conservação de carnes, como
pouco deixada de lado pela abundância
um bosque de caneleiras, mais tarde
condimento e remédio, vendida em
de novos tipos de frutas à disposição no
desaparecido. Existem várias outras
farmácias e trocada por igual peso em
comércio, ainda pode ser encontrada em
espécies de caneleiras mas esta é a mais
moedas de ouro (pesada a peso de ouro).
jardins de São Paulo. Na rua Prudente
especial, aquela que é a “mais cheirosa,
Com a descoberta do caminho para a
Correia uma jaqueira graciosa parece
macia, doce, amarga, quente e picante,
Índia, a pimenta passou a constituir
uma árvore de natal quando frutifica, e
capaz de aquecer as amizades, segundo a
a mercadoria fundamental que os
seus ramos se cobrem de pequenas jacas
tradição indiana, de pôr os povos a lutar
portugueses traziam do Oriente. Nos
arredondadas.
pelos mares”.
tempos de D. João VI, o consumo de pimenta já era uma realidade. Introduzida no Brasil pelos jesuítas, a cultura foi
meio ambiente
muito bem sucedida.
70
Tamarindo
Cravo-da-Índia
Tamarindus indica
Syzygium aromaticum
Essa fruta da Índia e da África tropical,
O craveiro, árvore nativa das Ilhas
como a banana, já era plantada na
Molucas, é usado no Oriente desde
fazenda da Lagoa Rodrigo de Freitas
há muitos séculos para eliminar o
quando a Corte lá instalou a fábrica de
mau-hálito. Na China, no século III
pólvora. Considerada como árvore mal
a.C., as pessoas mascavam o cravinho
Chá
assombrada por espíritos malignos em
antes de se dirigirem ao Imperador,
Camellia sinensis
seus países de origem, o tamarindo
em sinal de respeito. Em outros locais,
Introduzido no Brasil no Jardim do
adaptou-se muito bem nas regiões do
como a Índia e a Pérsia, atribuíam-lhe
príncipe regente, em 1817 já se expandia
semi-árido brasileiro, principalmente
poderes afrodisíacos. Era a mais cara
em 6 mil pés – produção que era
no Nordeste. Utilizado em vários pratos
das especiarias comercializadas, pois
comercializada pela instituição. No Rio
tradicionais em sua origem, o tamarindo
sua viagem era uma das mais longas
de Janeiro, só se tomava esse chá àquela
foi considerado como purgativo por um
até chegar na Europa. Existe uma certa
época e chegou-se a pensar em fazer do
médico português já em 1524. Seu valor
discordância quanto à data de introdução
País o maior exportador do mundo. Hoje,
econômico e paisagístico justificou seu
no Brasil, pois aqui existiam espécies
quem detém esse título são a Índia, a
plantio no jardim do príncipe e muitos
semelhantes. No Jardim Botânico do Rio
China e o Sri Lanka, e no Jardim de D.
tamarindos ainda são encontrados nas
formam um dos caminhos mais cheirosos.
João VI apenas um arbusto restou.
ruas em volta da Lagoa.
Índia. Outra espécie muito saborosa, que chegou junto da lichia ao Jardim, foi a longana, em São Paulo mais encontrada no comércio do bairro da Liberdade.
Banana
Manga
Além de ser um alimento complementar
Mangifera indica
na dieta de muitos povos, inclusive
Originária do Oriente, provavelmente de
o nosso, a banana é uma das
uma região compreendida pela Índia e
frutas mais importantes do mundo,
pela Birmânia, a mangueira – uma das
tanto quanto à produção quanto à
frutas mais apreciadas em todo planeta
comercialização. A origem da banana
Citrinos
– graças aos descobridores portugueses
no Brasil ainda é discutida pelos
São muitas as espécies de laranjas,
espalhou-se por todas as regiões
cientistas e alguns acreditam que uma
tangerinas e limões que chegaram ao
tropicais. Ocupa um lugar importante
espécie de banana já se encontrava
Brasil com os portugueses logo depois
em quase todo o mundo tropical,
aqui à chegada dos portugueses. Mas
de seu descobrimento. Já eram plantadas
principalmente na Índia, seu principal
essa que hoje saboreamos trazida
em Portugal, onde eram conhecidas
produtor. Além de ocupar posição de
por eles provavelmente veio da costa
muito tempo antes dele existir como
destaque em qualquer pomar brasileiro,
mediterrânea ou da ocidental africana.
país, introduzidas pelos árabes. Em uma
sua imponente figura – grande porte,
Em 1938, os compositores Braguinha
carta de Manoel da Nóbrega, de 1549,
copa densa e floração abundante – fez
e Alberto Ribeiro fizeram uma crítica
na fundação da cidade de S. Salvador, há
com que fosse também requisitada pelo
bem humorada à empáfia americana
referência a “cidras, laranjas e limões que
paisagismo de praças e jardins. Em Belém
que denomina de “bananas republics”
se dão em muita quantidade”.
do Pará, muitas ruas foram plantadas
os países da América Latina, com a
com renques de mangueiras que hoje
marchinha carnavalesca “Yes, nós temos
formam verdadeiros túneis vegetais. No
bananas”, o que é um fato, pois o Brasil
Jardim Botânico do Rio, na Praça das
é o terceiro produtor de banana do
Mangueiras, alguns exemplares possuem
mundo, atrás da Índia e do Equador.
cerca de 180 anos!
Carambola
Referências:
Lichia
Averrhoa carambola
A aventura das Plantas e os
Litchi sinensis
Originária provavelmente das Ilhas
Descobrimentos Brasileiros de
Há poucos anos no mercado paulista,
Molucas ou da Ásia, a carambola foi
José E. Mendes.
em 1809 a lichia foi uma das primeiras
introduzida no Brasil em 1817, em
O Jardim de D. João VI de Rosa
espécies a serem introduzidas no Jardim
Pernambuco, vinda das Ilhas Maurício, e
Nepomuceno.
de D. João VI, o responsável pela sua
daí espalhou-se por todo País. É também
aclimatação no Brasil. Originária do sul
uma árvore muito ornamental por sua
da China, onde é cultivada há pelo menos
floração abundante mas nunca despertou
3.000 anos, é uma séria concorrente da
muito interesse da parte dos agricultores.
manga na competição pela fruta mais
Hoje já aparece no comércio sofisticado e
saborosa do mundo. Sua importância para
é até utilizada em caipirinhas. Sua forma
a China é a mesma que a da manga na
estrelada enfeita qualquer prato.
Os Feitos de D. João VI
Por Denise Fernandes
O plano de mudar a capital do reino para o Brasil não era novo.
lembrar, nunca haviam perdido nenhuma batalha por toda Europa.
Em muitos outros períodos de crise, a transferência da corte
Às sete horas da manhã, a nau Príncipe Real (que levava a bordo
para a Colônia foi vista como uma proposta de solução. No
o Príncipe Regente, D. João VI; sua mãe, D. Maria – a Louca; e
entanto, foi somente no final de 1807, quando as
os príncipes D. Pedro e D. Miguel) inflou suas velas,
tropas napoleônicas de fato entraram em
deslizando rumo ao Atlântico, seguida pelas
território português, deixando a Corte
outras três naus principais e pelo
entre a cruz e a espada (de um
restante da esquadra portuguesa.
lado, se mantivesse contato
No cais, além de muitos
com a Inglaterra, seria
cidadãos portugueses
invadida pela França; de
assistindo a partida com
outro, se cedesse ao
lágrimas nos olhos,
bloqueio continental
ficaram também os
promovido pela
60 mil exemplares da
França contra a
Biblioteca Nacional
Inglaterra seria
e o dinheiro retirado
atacada por
dos cofres públicos
navios ingleses),
(que, segundo
que o plano foi
alguns historiadores,
definitivamente
teria sido saqueado
colocado em prática.
pelos franceses logo
Em uma manhã de
depois).
novembro, em 1807, após
Após dois meses ao mar, as
meio ambiente
uma decisão de última hora
72
naus portuguesas finalmente
do Príncipe Regente D. João VI,
atracaram em terras brasileiras.
o povo português pôde notar uma
O primeiro itinerário da nau Príncipe
movimentação incomum às margens do
Real foi Salvador (BA). Após passar pouco
Tejo: quatro navios acompanhados de dezenas
mais de um mês no nordeste brasileiro, D. João VI
de outros barcos eram carregados com as bagagens da Família
embarca novamente para o Rio de Janeiro, a nova sede do Reino
Real e dos membros da gorda corte portuguesa. Pelas ruas de
português.
Lisboa, circulava o boato de que a corte fugia devido à chegada
Durante os 16 anos em que esteve no Brasil, a corte portuguesa
do exército napoleônico em território português. Embasbacados
promoveu diversas mudanças, principalmente na cidade do
de curiosidade e medo, os cidadãos portugueses simplesmente
Rio de Janeiro, onde ficou instalada. Na visão portuguesa, a
assistiam o embarque daqueles que seriam os únicos que
colônia precisava de algumas obras urgentes, entre elas estradas,
poderiam defendê-los dos ataques daquelas tropas que, vale
escolas, tribunais, fábricas, bancos, moeda, comércio, imprensa,
EMBARQUE DE D. JOÃO VI, PRÍNCIPE REGENTE DE PORTUGAL, PARA O BRASIL, EM 27 DE NOVEMBRO DE 1807. PINTURA DE NICOLAS LOUIS ALBERT DELERIVE, 1807-1818.
biblioteca, hospitais e comunicações mais eficientes. Assim, mal
a Biblioteca Nacional, o Museu Nacional, o Jardim Botânico e
chegara no Brasil, D. João VI já nomeou um novo ministério,
o Real Teatro de São João. A Gazeta do Rio de Janeiro também
cujo principal foco deveria ser criar um novo país, merecedor do
foi criada neste mesmo contexto de melhorias na cultura e
título de capital da corte. Ainda em Salvador, o príncipe regente
comunicação. Em 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino
havia decretado a Abertura dos Portos às Nações Amigas, o que
Unido a Portugal e Algarves, o que acabou de vez com a condição
significava para o Brasil o fim, de fato, da condição de colônia,
de Colônia desempenhada pelo Brasil (pelo menos do ponto de
uma vez que se extinguia o pacto colonial (no qual a colônia só
vista burocrático).
poderia comercializar com a Metrópole). No aspecto econômico,
Do ponto de vista arquitetônico, também houve algumas
outra medida importante tomada por D. João VI foi a concessão
importantes mudanças: quando chegou ao Brasil, D. João VI
de liberdade à Indústria e ao Comércio, antes proibidos no Brasil,
detestou o estilo mourisco das janelas das casas cariocas que,
o que colaborou para a fundação de algumas indústrias em
por serem de madeira e praticamente fechadas, lhes davam um
território brasileiro.
aspecto escuro, e mandou que fossem trocadas imediatamente
No que se refere à educação e à cultura, as mudanças foram
por vidraças. Assim, a chegada da Família Real no Brasil trouxe
ainda mais radicais: foram introduzidos no País o ensino leigo e
importantes mudanças à colônia, tanto do ponto de vista
superior (D. João VI criou a primeira Escola Superior brasileira,
administrativo, quanto do ponto de vista artístico, cultural e
destinada ao estudo de Medicina; e outra, destinada ao estudo
econômico, muitas delas podem ser notadas até hoje na cidade
de técnicas agrícolas). Ainda no âmbito cultural, foram criados
do Rio de Janeiro e por todo o Brasil. •
um laboratório de análises químicas, a Academia Real Militar,
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brasileiros seção 76
BrasiL sabores do
Por Lígia Prestes
ANA LUIZA TRAJANO
Engajada no propósito de difundir o que há de mais rico na culinária brasileira, Ana Luiza Trajano, a estrelada chef do Brasil a Gosto, mostra o que uma viagem de seis meses pelo País é capaz de oferecer. Junte um pouco de amor pela terra, curiosidade por ingredientes brasileiros e intimidade com as panelas. A isso, misture uma missão: preservar a cultura de pratos tipicamente do Brasil sem perder sua essência. Foi tudo isso que levou a jovem Ana Luiza Trajano, com apenas 29 anos, a idealizar o projeto Sabores do Brasil. O primeiro fruto do projeto foi o livro “Brasil a Gosto”, com 172 páginas de poesias e imagens, resultado de uma viagem de mais de seis meses pelos vários cantos do Brasil, visitando 47 cidades e provando mais de 300 receitas. Na companhia do fotógrafo Alexandre Schneider, da ceramista Gisele Gandolfi e do cinegrafista Giuliano Zanelato, Ana viajou pelo País à procura de respostas à pergunta que não saía de sua cabeça: “Qual é a receita do Brasil?”. E essa fascinante busca resultou em um
BRASIL A GOSTO
volume de imagens e belos poemas, indo além de um simples livro culinário. O segundo fruto do seu trabalho foi o restaurante, de mesmo nome do livro, que está em uma pequena rua do Jardins. Completamente diferente dos outros, o menu é recheado de pratos típicos – e desconhecidos – de vários estados do Brasil, feitos a partir da mais alta gastronomia. Outro ponto que diferencia o restaurante Brasil a Gosto das outras casas brasileiras é a leveza das combinações feitas por Ana. Mas não é apenas na cozinha que a jovem chef quer perpetuar a comida brasileira. Ainda para este ano, ela prepara um filme com imagens de sua longa viagem pelo Brasil, contando e mostrando que a boa e saborosa culinária do Brasil vai bem além da feijoada e do churrasco.
O que veio primeiro, o amor pelas panelas ou a idéia de difundir a verdadeira comida brasileira? Desde criança sempre gostei de cozinhar, mas a minha primeira formação foi em Administração. Isso porque eu ia seguir o caminho que minha família, proprietária de uma grande rede de lojas, havia planejado. Fiz Administração porque há quatorze anos, quando tive que escolher um curso universitário, a profissão de chef de cozinha não existia. Não tinha grandes chefs. Entre
BRASIL A GOSTO
brasileiros
BRASIL A GOSTO
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BRASIL A GOSTO
as aulas da USP, comecei a fazer alguns dos poucos cursos que começaram a aparecer, e amava tudo aquilo. Levava meus amigos da faculdade em casa e me deliciava em cozinhar para eles. Assim que me formei, parti para a Itália, onde freqüentei o Italian Culinary Institute for Foreign Professionals, em Piemonte e o Istituto per la Promozione della Cultura Alimentare, em Milão. Quando voltei tinha uma missão muito forte de divulgar nossas comidas. Eu sou neta de cearense, de mineiros e sou do interior, então percebi que eu tinha um leque muito grande para trabalhar. Porque eu vejo a gastronomia não só como uma receita e um prato, foi a forma que eu encontrei para contar a história do nosso País. Há muito o que se falar sobre um prato. Então eu fiz esse trabalho de pesquisa porque eu precisava conhecer mais dessa história que eu queria contar. E para aprender, precisava conhecer hábitos, consumos e ingredientes. Mas antes de começar a minha viagem, fiz algumas peregrinações por outras cozinhas, como a do nobre restaurante Beccofino, em Florença. Aqui no Brasil, aprendi muito com Sérgio Arno. Sempre soube que eu queria divulgar o Brasil, mas antes da viagem, ainda não sabia direito como seria a maneira. Para conseguir viajar, eu fiz o projeto do livro juntando uma equipe e buscando patrocinadores. Foi uma viagem que custou 150 mil reais e eu, no começo da minha carreira, não tinha todo esse dinheiro. Consegui cadastrar o projeto na lei Rouanet para obter recursos para viajar. O primeiro produto foi o livro, logo depois o restaurante, que também gerou os insumos de pesquisas para construção do cardápio. E agora, até o fim do ano, estou lançando um filme sobre a cozinha brasileira, que terá 52 minutos.
Após conseguir levantar a verba para a viagem, como foi a escolha do roteiro? No meu roteiro, eu tracei algumas coisas macro e fiz um estudo prévio do que eu queria ver. Só que tudo que recebi de material era muito pouco e além disso tive que filtrar muita coisa. Então o meu filtro se realizava nos mercados. Eu chegava lá, fazia amizade com as pessoas e ia descobrindo outros lugares que valia a pena a visita. A viagem inteira foi assim. Conheci o pessoal do Passo a Passo, que fez o Brasil inteiro a pé, e que me davam auxílio para achar os lugares. E minhas viagens de pesquisa continuam. Ano passado fui para o Maranhão e Rio Grande do Sul e esse ano pretendo ir para o Rio Grande do Norte.
BRASIL A GOSTO
Como você conseguiu juntar o restaurante ao centro cultural? Tudo aqui no restaurante tem um porquê. As pessoas comem muito juntas, então é possível contar história quando você põe um prato na mesa. Mas isso não era suficiente, o que eu queria é que as pessoas viessem aqui no restaurante e tivessem uma experiência de Brasil. Então por isso que havia a necessidade de ter um projeto que fosse mais a fundo, que contasse mais coisas. Todas as pessoas do atendimento do restaurante contam as histórias dos pratos, dos ingredientes, da viagem e com a programação cultural, consigo trazer artistas populares para dar mais detalhes do Brasil. Nada melhor que as pessoas que bebem da fonte para contar essas histórias para nós. Daí eu faço um cardápio especial e uma sessão de fotos, então cada vez mais o cliente que vem ao restaurante pode absorver mais e mais sobre o Brasil.
Você vende artesanato no restaurante? Sim, mas ao contrário do que as pessoas pensam, não são de projetos sociais. O que temos aqui é artesanato e não projetos sociais, que nem sempre mostram artesanato da terra. Faço temporadas temáticas e todo o cenário do restaurante muda de acordo com esse tema. E o artesanato faz parte deste resgate, pois o artesão que produz essas peças faz disso sua vida e tem a preocupação de perpetuar uma cultura. Os produtos brasileiros que vendo aqui é com a intenção de manter a arte brasileira. Se neste artesanato se consegue unir trabalhos sociais, melhor ainda. Mas o meu trabalho é manter uma cultura. Por isso é claro que me preocupo com a origem desses objetos artesanais. Não vendo nada que seja feito à base de escravismo ou qualquer outra forma ilícita de trabalho.
Por que você levou uma ceramista na viagem?
brasileiros
Justamente para desenvolver peças que tivessem a ver com o
80
menu e recriassem todo o clima que estava estudando. A cada festival que acontece aqui, ela cria novos utensílios que têm a ver com o tema em questão.
Há muitas frutas, e acredito que até diversos alimentos, que não são típicas do Brasil, mas que já foram incorporadas ao nosso cardápio, não é? Os portugueses, africanos e indígenas foram os formadores da alimentação brasileira. Então esses povos vieram para cá e
modificaram sua gastronomia. Por exemplo, a base da doçaria
O brasileiro dá valor para a cozinha brasileira ou
mineira é a mesma da portuguesa. Só que ela tem uma diferença
ainda prefere os importados?
que já transmite a idéia de doces nacionais. Então essas frutas
Quando se fala de grandes centros, as pessoas não dão valor para
foram incorporadas para a base da nossa alimentação. O Brasil é
a culinária do Brasil. Aqui em São Paulo há poucos restaurantes
na verdade vários países em um só, então não dá para falar de
de comida regional. Mas na verdade é uma mania que as
uma gastronomia brasileira, você pode falar de uma raiz – que
pessoas têm de não valorizar nada daqui, seja na educação, na
é única – com interferência da comida portuguesa, indígena,
vestimenta, arte, ou no que for. Hoje o Brasil está na moda,
africana – como a baiana –, cada uma com peculiaridades.
então a nossa gastronomia também está na moda. Já no interior é o contrário, se valoriza muito a comida regional, pois ela
Então não é possível fazer um prato brasileiro, apenas
está sempre nas mesas. Além disso, as pessoas se importam em
um prato regional?
guardar suas próprias culinárias. Hoje, essa “cozinha das casas”
O que eu faço no restaurante é pegar ingredientes do Brasil
está começando a ter uma maior valorização, aparecendo nas
inteiro, então faço pratos que representem o país. Mas o prato
universidades de gastronomia e nos restaurantes de grandes chefs.
sempre terá uma identidade que se refere a alguma região ou estado.
Qual a visão de alimentação que você tinha antes de
brasileiros
viajar e a que tem agora?
82
Dos lugares que visitou, qual achou mais rico?
Eu sempre tive para mim que a alimentação não é apenas aquilo
É difícil dizer, porque cada um tem uma riqueza muito peculiar.
que você engole e sim o que alimenta a alma, aquilo que você
Mas a região Norte foi a mais desconhecida para mim. Me
cheira, aquilo que se vê. O que ficou muito claro para mim depois
apaixonei pelas ervas e frutas que lá encontrei. Também
da viagem é que a comida brasileira vai além das panelas. Quando
desmistifiquei a idéia de que o peixe de água doce não era bom.
eu quero conhecer a alimentação de um povo, eu tenho que aprender muito mais do que como usar os ingredientes, tenho
E onde você consegue esses ingredientes tão
que entender aquela cultura, aqueles hábitos. Esse é o principal
regionais?
conhecimento que se deve ter para cozinhar bem. •
Como hoje São Paulo é a casa de todos os brasileiros, há boas
Serviço:
Casas do Norte, onde encontro diversos produtos. Ou alguns dos amigos que fiz na viagem me mandam os ingredientes.
Brasil a Gosto Rua Prof. Azevedo do Amaral, 70 – Jardins – SP Tel.: (11) 3086-3565 www.brasilagosto.com.br | www.saberesdobrasil.com.br
PETRÓPOLIS,
Quase um museU IMPERIAL Por Lígia Prestes Fotos Cris Hammes
Um dos acervos mais completos e bem conservados sobre o Brasil Imperial, a
cidade e o museu de Petrópolis também fazem parte da comemoração dos 200
nossa história
anos da chegada da corte portuguesa em terras brasileiras.
84
PALテ,IO DE CRISTAL
Q
Quem anda pelas ruas arborizadas de Petrópolis logo sente a
Originalmente, Petrópolis era a Fazenda do Córrego Seco que D.
importância histórica da cidade. Todos os 300 mil habitantes
Pedro I adquiriu em 1830, pretendendo nela construir um palácio.
sabem e têm enraizados em suas consciências as influências
Como a idéia não foi concretizada pelo primeiro imperador, seu
do modo de vida da Corte Imperial do Brasil. Além de casas
filho recebeu-a como herança e construiu o sonho do pai.
tombadas, há diversos imóveis remanescentes do reinado de D.
Um acervo brilhante
em 1884 e construído na França em estrutura pré-moldada de
As coleções históricas preservadas no museu fazem parte do
ferro fundido, então coberta por cristal. O Conde d’Eu – marido da
próprio processo de sua criação, por decreto governamental,
Princesa Isabel – teve essa iniciativa graças ao seu envolvimento
que mandou recolher ao Palácio de Petrópolis todos os objetos
com horticultura. Segundo historiadores, foi lá que a lei áurea foi
significativos e representativos do período. Inúmeras peças foram
assinada. Hoje vidros substituem os cristais, exatamente como
trazidas ao Museu Imperial transferidas de outros órgãos públicos
antigamente, e o lugar é palco de diversos eventos artísticos e
e museus – como o o Museu Histórico Nacional, a Biblioteca
culturais. A casa da Princesa Isabel também é um dos imóveis
Nacional, o Palácio do Itamaraty. Outras foram adquiridas
que se pode contemplar. Apesar de estar fechada para visitas
especialmente das mãos de colecionadores privados, ou em leilões,
– só é permitido passear nos jardins – a casa também tem sua
e muitas foram doadas pelos beneméritos que se sucederam ao
importância. Da casa da princesa pode ser avistada a Igreja São
longo de mais de meio século da vida da instituição, que foi
Pedro de Alcântara, com seu estilo neogótico francês. O grande
inaugurada em março de 1943 por Getúlio Vargas.
destaque está na Capela Imperial, onde estão os restos mortais
O acervo tem quase oito mil peças entre artesanatos, alfaias,
de D. Pedro II, dona Teresa Cristina, Conde d’Eu e Princesa Isabel.
instrumentos musicais, esculturas, pinturas, prataria, porcelanas,
No entanto, a grande vedete da cidade é o Museu Imperial.
móveis, gravuras, viaturas, acessórios, mobiliários, entre outros.
Construído entre 1845 e 1862 pelo Major Júlio Frederico Koeler, o
Na sala de jantar, há mobílias de mogno carimbadas pelo
palácio foi construído para ser a casa de veraneio de D. Pedro II.
marceneiro e tapeceiro F. Lèger Jeansèlme Père Cie, fornecedor
nossa história
Pedro I e II. Um desses lugares é o Palácio de Cristal, inaugurado
86
PALÁCIO DE CRISTAL
CASA DA PRINCESA ISABEL
MUSEU IMPERIAL
da Casa Imperial. Na Sala de Música, aconteciam os saraus e recitais promovidos pelo Imperador, nos quais se reunia a corte, os diplomatas e artistas nacionais e estrangeiros. Entre os instrumentos musicais apresentados destacam-se uma harpa dourada, de fabricação Pleyel Wolff, um “saltério” (um tipo de cítara) do século XVIII, fabricado no Rio de Janeiro, e uma “espineta”, instrumento de cordas da família do cravo, em madeira dourada e policromada, fabricada em Lisboa em 1788. Há também exposta a Coroa Imperial de D. Pedro II, uma das peças mais valiosas das coleções nacionais. Para a confecção não só da coroa mas do anel da sagração de D. Pedro II, foram desmanchadas várias jóias de família. Depois de proclamada a República, a Coroa Imperial foi guardada no Tesouro Nacional onde permaneceu até 1943, quando foi transferida ao recémcriado Museu Imperial, de onde, desde então, nunca saiu e ocupa um lugar especial. A Sala de Estado, como era chamada na época, era a sala mais importante do Palácio. Nela o Imperador recebia os visitantes ilustres e diplomatas em recepções formais. O trono, os espelhos e os consoles vieram da antiga “Sala do Trono” do Paço de São Cristóvão. O Palácio Imperial de Petrópolis, por ser uma residência de veraneio e descanso, não possuía Sala do Trono. Era no seu gabinete de trabalho que D. Pedro II encontrava seu refúgio. Gostava tanto do lugar que, próximo à janela, é possível observar um óculo de alcance que ele usava para ver o céu. Também se vê nesse cômodo, em cima da mesa, o primeiro telefone que trouxe para o Brasil após conhecer Graham Bell nos Estados Unidos. Os quartos das princesas, ambos no fundo do casarão, porém em lados opostos, têm uma decoração delicada. O quarto da princesa Leopoldina possui mobiliário do século XVIII estilo D. José I e algumas peças típicas do rococó português, em jacarandá, feitas no Brasil.
nossa história
Há também no museu um cofre de porcelana, biscuit e bronze
88
dourado – uma peça rara da manufatura de Sèvres – que pertenceu ao príncipe François d’Orleans, cunhado de D. Pedro II. O cofre tem cenas da vida do príncipe, que foi oficial da Marinha Francesa, em placas de porcelana. Colares e brincos de esmeraldas e rubis, que pertenceram a D. Leopoldina, e colar da Marquesa de Santos, formado por ametistas e ouro, também podem ser vistos por lá. Outras peças especiais como o traje e o cedro que D. Pedro II usava na abertura da Assembléia Geral, a pena que a Princesa Isabel usou para assinar a Lei Áurea e diversas carruagens fazem parte do rico e conservadíssimo acervo do Museu Imperial.
O acervo do Arquivo Histórico do museu é formado por aproximadamente 100 mil documentos textuais. Destaca-se o Arquivo da Casa Imperial do Brasil, doado ao Museu Imperial pelo príncipe D. Pedro de Orleans e Bragança, importante fonte de estudo do período monárquico no Brasil. Trata-se de documentos pertencentes à Família Real e Imperial. Os demais arquivos – pertencentes a personagens ilustres que participaram ativa e intimamente daquele regime – complementam o primeiro, fornecendo, além de subsídios de caráter biográfico de seus donos, valiosas informações para o estudo de aspectos da vida política e administrativa do País. O Arquivo Histórico é ainda detentor de uma rica fototeca que conta com aproximadamente 13 mil fotografias, entre originais e reproduções, tendo por temas personalidades, fatos históricos, geográficos e sociais, relacionados ao Período Monárquico e à formação do Estado do Rio de Janeiro e, em especial, à cidade de Petrópolis e à Família Imperial. Complementam o acervo iconográfico aproximadamente duas mil gravuras de autores renomados e mais de 500 mapas e plantas datados a partir do século XVI. Especializada em História, a Biblioteca do Museu Imperial abriga livros que relatam principalmente a fase do Brasil no Período Imperial, história de Petrópolis e artes em geral. Seu acervo, constituído basicamente por doações, conta hoje com aproximadamente 40 mil volumes em suas diversas formas – livros, jornais, revistas, folhetos, artigos de periódicos, etc.
200 anos e muitas comemorações com sonhos e travessias Apesar de não ter uma ligação direta com D. João VI – a não ser claro por algumas telas do Rei português e por sua descendência – o Museu Imperial inaugurou, no final de fevereiro, duas AMBIENTES E PEÇAS DA FAMÍLIA IMPERIAL CONSEVADOS NO MUSEU IMPERIAL.
exposições que comemoram o bicentenário da chegada da Família Real no porto do Rio de Janeiro. Travessias – relatos trágicomarítimos da passagem do Atlântico pela corte portuguesa e outros navegantes – e Sonhos – os projetos e feitos de um príncipe clemente e inteligente, que queria ficar no Brasil para sempre – são as duas exposições que ficam até final de julho. Fazem parte do projeto O Império de João, conjunto de eventos que o museu fará ao longo de 2008 em homenagem aos 200 anos da chegada de D. João VI e da corte portuguesa ao Brasil. Na inauguração dessas exposições, o Coral Municipal de Petrópolis, especialmente para a ocasião, incluiu em seu repertório peças do Padre José Maurício, um dos principais compositores da época.
O evento O Império de João prevê ainda, entre outras iniciativas além das exposições, o lançamento de um DVD com toda a documentação e iconografia referente a D. João VI e do projeto Cadernos de Marcos, com a compilação da obra completa de Marcos Portugal, professor de música de D. Pedro I e pioneiro da música de concerto no Brasil. Para a exposição Travessias, além de uma imensa reprodução da tela de Nicolas Louis Albert Delerive logo na entrada do pavilhão, sobre o embarque de D. João VI para o Brasil, o cenógrafo Pedro Girão, um dos talentos que faz o carnaval da Imperatriz Leopoldinense, criou um navio cenográfico onde o público pode experimentar duas viagens. A primeira é a travessia do Atlântico feita por D. João VI, então príncipe regente de Portugal; sua mãe, a rainha dona Maria, a Louca; sua mulher, Carlota Joaquina; seus filhos e a nata da nobreza e do clero português. A outra é a realizada por um navio negreiro. “Esta exposição além de contar detalhes da travessia, também mostra a formação do povo, a miscigenação e a cultura híbrida que temos hoje no Brasil, e que contou com a contribuição específica de um contingente fortíssimo de escravos e africanos que para cá vieram. Por isso os dois lados – a corte e os escravos – estão lado a lado no mesmo barco aqui na exposição”, explica Maurício Vicente Ferreira Júnior, chefe do setor de museologia do Museu Imperial. Responsável pela curadoria das duas exposições e diretora da instituição, Maria de Lourdes Parreiras Horta resolveu mesclar as duas viagens para lembrar que, no momento em que D. João VI atravessava o Atlântico para fugir de Napoleão e dar sobrevida à sua coroa, o Rio de Janeiro já tinha se transformado no maior porto escravagista das Américas. Travessias foi baseada em dois documentos raros que fazem parte do acervo do Museu: um relato biográfico até hoje inédito do Visconde do Rio Seco, nobre português que organizou a viagem
nossa história
de D. João VI; e outro do reverendo Pascoe Granfell Hill, chamado
90
Cinqüenta dias a bordo de um navio negreiro, que dispõe sobre a missão da marinha britânica, que ele acompanhou em meados do século XIX para a captura de um navio que transportava escravos para o Brasil. O navio cenográfico está instalado no Pavilhão das Viaturas, edifício localizado nos jardins do Museu, e que foi dividido em dois. Uma parte tem peças que lembram a viagem dos portugueses – retratos da nobreza, baú de correspondências do Príncipe Regente, objetos de uso cotidiano e documentos raros como A luz da liberal arte da cavalaria, livro do final do século XVIII
PEÇAS DA EXPOSIÇÃO “SONHOS” E DO ACERVO LEGADO PELA FAMÍLIA IMPERIAL.
A Exposição Sonhos mostra o homem que foi D. João VI, as dificuldades e contingências que passou e os feitos que realizou.
dedicado a D. João VI, com gravuras de Gaspar Fróes, que dá ensinamentos de cavalaria artística. Há também os códices secretos de Carlota Joaquina, compilação em quatro volumes de cartas da princesa para parentes e amigos, na qual podem ser lidas suas tramas contra D. João VI e as críticas ferozes que dirigia a Napoleão. Do outro lado, peças que lembram a travessia dos escravos, as condições precárias como eram tratados e a herança cultural que a chegada deles trouxeram para o Brasil: roupas, instrumentos de orixás, batas e alguns objetos usado para castigos. Outro grande destaque são os retratos de negros feitos no século XVI por fotógrafos como Marc Ferrez, que receberam molduras sofisticadas, semelhantes àquelas dos retratos da nobreza portuguesa. “Sonhos conta quem foi D. João VI e o que sua chegada propiciou e, mais tarde, o que suas ações propiciaram ao País. Essa exposição tenta discutir um pouco sobre o homem D. João VI com as dificuldades e contingências sofridas, mas também os feitos e aquilo que ele produziu. E não só sonhos, mas também pesadelos e aspirações, em uma linguagem metafórica mesmo”, explica Maurício. Instalada dentro de uma das salas do Museu, a mostra tem uma tenda cenográfica que ocupa o ambiente, lembrando a tenda do “beija-mão”, montada no porto no momento do desembarque de D. João VI, para que a Família Real fosse saudada pela elite do Rio. A exposição mostra, além dos feitos do monarca, imagens que se referem ao Jardim Botânico, à Biblioteca Nacional, à Casa da Moeda, à Imprensa Oficial e
nossa história
à Academia Real de Belas Artes, entre outras realizações. Além disso, algumas peças pessoais de D. João VI estão expostas. A principal delas é uma camisola de cambraia usada por ele. Segundo a diretora Maria de Lourdes, a inscrição na peça “Deus fez imperador do Ocidente ao Príncipe Regente para sempre” confirma a idéia de que a Família Real já tinha planos de vir para o Brasil. Também faz parte da mostra uma réplica da coroa de D. João VI.
Serviço:
92
Museu Imperial Rua da Imperatriz, 220 – Centro – Petrópolis – RJ | Tel.: (24) 2237-8000 De terça a domingo, das 11h às 18h. (Bilheteria fecha às 17h30) ACIMA A COROA DE D. JOÃO, NO MEIO A CAIXA DE CORRESPONDÊNCIA REAL E ABAIXO A CAMISOLA DO MONARCA PORTUGUÊS
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Apartamentos Iguais Idéias de Decoração
A Evenmag visita três apartamentos do Condomínio Horizons – um projeto do arquiteto Jonas Birger construído pela Even – e conta como três casais e suas famílias escolheram viver. Com uma planta que valoriza a área social, a decoração de três apartamentos do Condomínio Horizons apresenta idéias inovadoras de acordo com a visão de cada proprietário.
Apartamento de Alessandra e Henry Já no hall de entrada do apartamento do casal Alessandra e Henry com a filhinha Isabella, a sensação é de muito capricho. A parede lateral forrada por um espelho reflete arranjos de orquídeas em vidros transparentes que estão sutilmente iluminados, bem como a tela de Ilca Braggion. Nota-se que o vão da entrada foi
jeito even de morar
ampliado para receber uma alinhada porta pivotante.
94
A primeira impressão que se tem, ao entrar, é a de um ambiente muito claro e aconchegante. Alessandra é arquiteta e, junto da sua sócia Eliana, projetou todo o mobiliário. As duas escolheram tons claros e neutros para combinar com o uso de fibras naturais, o que garantiu a total integração nos três ambientes que criaram para o espaço do living, cujo piso é revestido em perobinha e arrematado por um rodapé de MDF em laca branca.
Henry, exímio cozinheiro, adora preparar pratos especiais e receber os amigos em volta da mesa em aço projetada pela dupla de arquitetas e executada pela empresa do pai de Alessandra. As cadeiras antigas foram revestidas com tecido floral e, para marcar esse recanto, um painel de palhinha natural foi aplicado na parede de fundo. Sobre ele, mais duas telas de Ilca Braggion, artista plástica mãe de Alessandra.
Para fugir da decoração tradicional e não pendurar uma tela sobre o sofá, as arquitetas criaram um painel de laca branca com iluminação embutida para apoiar flores preservadas, produzindo assim um cenário romântico. O sofá de chenile está ladeado por duas poltronas de ratan, reforçando o conceito do uso de fibras naturais.
Nada convencional, uma peça com formato em “L”, confeccionada
Para curtir filmes em família ou com os amigos, elas projetaram
em laca branca, abraça dois espaços, servindo de aparador para
um móvel com prateleiras, também em laca branca e perobinha
sala de jantar e de console para a de estar, além de ab rigar a
do campo, para receber o home theater e objetos de decoração.
adega climatizada. Espelhos, com arremates de perobinha do
Para o conforto da platéia, dois sofás ladeiam a mesa de centro
campo, foram colocados revestindo a parede na parte superior
retangular. Completam esse ambiente banquinhos de ratan, um
desse móvel, dando sensação de amplitude.
baú antigo e um vaso com bambu mossô também preservado.
Nas janelas e nas portas, que dão para a grande parte central do condomínio, foram utilizadas persianas rolô em tecido rústico, arrematadas nas laterais por cortinas transparentes com desenho floral e que proporcionam uma luz suave ao living durante o dia. Para a noite, o projeto de luminotécnica valoriza telas e objetos através de iluminação ora pontual ora difusa, obtida por circuitos elétricos independentes.
O lavabo, que faz parte do living, recebeu forração em tecido de
jeito even de morar
linho floral e um espelho antigo, do acervo da moradora. O piso e a bancada em mármore branco são opções oferecidas pela Even.
Consultores e Fornecedores Projeto: AE Arquitetura-Alessandra Braggion e Eliana Toledo. Marcenaria: AE Arquitetura. Tapetes: Avanti. Cortinas: De Angelis. Mesa de jantar e acessórios inox: Sergio Braggion. Tecido cortina e forração do lavabo: Kauany. Iluminação: Ligth Center.
96
Objetos de decoração: Cecília Dale, Home Marche. Telas: Ilca Braggion.
Apartamento de Edson e Cristina Edson e Cristina, dentistas de profissão, queriam um lugar acolhedor e tranqüilo onde pudessem receber amigos para jantar ou para um bate-papo informal. Há um ano e quatro meses no Condomínio Horizons, o casal, que já morou na Zona Norte, está muito feliz com a nova moradia e o bairro. Eles mesmos foram atrás de revistas, exposições de decoração e lojas de móveis para ter referências na hora de escolher a decoração de seu apartamento. Escolheram otimizar os espaços sem perder a sensação do conforto e buscar um ambiente sóbrio com toque de refinamento nos detalhes, mas onde não se perdesse a identidade da família. E esse objetivo foi conseguido com sucesso. Para o hall de entrada, a idéia do casal foi a de causar uma sensação intimista e por isso escolheram um tom escuro de bordô para as paredes, que também receberam espelhos e uma prateleira de vidro de apoio para objetos de decoração.
jeito even de morar 98
Em contraste, a porta de entrada foi pintada em laca branca e
madeira escurecida, tem como pano de fundo um painel forrado
demarcada por três painéis horizontais. Da mesma forma, aqui no
com papel de parede e arrematado por duas colunas de gesso.
hall já se pode sentir o conceito inspirador para todo o trabalho
Entre essas colunas, duas prateleiras de vidro apresentam a
de interiores.
coleção de xícaras antigas de Edson – herança de família – e
Os dois interessados proprietários escolheram um piso uniforme
outras garimpadas em viagens. Na mesma altura da mesa, outra
para todo o living, um porcelanato bege de origem espanhola,
prateleira, agora em madeira, também serve de aparador. A
ampliando a sensação de espaço e integrando os três usos: jantar,
parede lateral revestida com espelho ajuda a ampliar a sensação
estar e home theater.
de profundidade do ambiente.
Com um desenho de Edson, um marceneiro executou um móvel
Para a iluminação o casal pediu auxílio profissional, que resultou
baixo em madeira embuia escura que define o espaço onde a TV de
em spots embutidos no forro rebaixado. Essas luminárias criam
plasma é o centro das atenções. Esse recanto é também um lugar
focos de luz e mantêm um clima acolhedor durante a noite.
especial para os dois filhos adolescentes curtirem filmes e jogos,
O móvel em estilo clássico, que já pertencia ao casal, serve para
confortavelmente instalados em um amplo sofá em chenile bege.
guardar louça e talheres e, junto do quadro do artista acadêmico
Na sala de estar, um sofá em veludo marrom, acompanhado por
Vincenzo Cencin, conferem sobriedade à parede principal do living.
cortinas do mesmo tom, acentua a sobriedade do ambiente e está
Para o lavabo, Edson e Cristina optaram por revestir a parede
harmonizado por uma tela de cores fortes e contrastantes, de autoria
frontal com pastilhas de vidro em tons de azul e branco e
da artista plástica Cristina Ipólito, conhecida de longa data do casal.
arrematá-la com rodameio de mármore branco espanhol, o mesmo
No espaço do jantar, a mesa quadrada para oito pessoas, em
usado na bancada e no piso.
Fornecedores Mesa de jantar, cadeiras e poltronas: Villa Marinho. | Home Theater, movele aparador: marceneiro. | Tapetes: Leroy Merlin. | Iluminação: Lustres Yamamura. Sofá: La Barca. | Pastilhas de vidro: Vidrotil.
jeito even de morar 100
Apartamento de Patrícia e Sandro Patrícia e Sandro já haviam utilizado os serviços da AE Arquitetura em seu apartamento anterior e também na decoração de sua empresa, uma agência de marketing e eventos. Para o seu novo apartamento, desejavam a integração total do espaço social e que fosse usado um material inusitado.
O uso da pedra mineira em paginação canjiquinha – que reveste o hall de entrada e a parede principal do living – foi o material escolhido e é o toque de rusticidade que contrasta com o acetinado do piso de taco de madeira amêndola e das paredes pintadas em branco off white, utilizado para a integração dos espaços. Os rodapés de MDF em laca branca têm 20 cm de altura e são complementados pelo rodateto na mesma medida, um truque que dá a impressão do pé direito ser mais alto. A idéia da porta pivotante também se fez presente no hall de entrada, onde a pedra mineira antecipa a idéia eleita para a decoração do apartamento. A parede lateral, forrada por espelho, é uma opção bem sucedida repetida aqui. Para formar o recanto da sala de jantar, painéis em tecido floral teflonado, divididos em três módulos, acompanham a mesma modulação do espelho bisotê da parede ao lado e que reflete todo o ambiente. Os móveis da sala de jantar já eram do apartamento anterior do casal: uma mesa retangular com tampo de vidro e cadeiras, agora repaginadas com capa de linho. O toque clássico e moderno foi obtido pelo lustre de design italiano em cristal.
102
jeito even de morar
Na sala de estar, um sofá em chenile – que veio do antigo apartamento – está ladeado por duas mesinhas revestidas de espelho, material também usado no painel da sala de jantar e sobre o aparador fixado na parede de pedra. Acima do sofá, destaca-se uma simpática tela de Ilca Braggion, peça preferida de Patrícia. Executado em laca branca, o móvel que ampara a TV de plasma de 42’’ também abriga uma lareira elétrica. Nas laterais inferiores, portas retráteis escondem equipamentos de som e vídeo. Dois confortáveis sofás ladeiam a mesa de centro. O forro de todo living foi rebaixado para conter iluminação com spots embutidos com lâmpadas AR70 e dicróicas, com circuitos elétricos independentes, que garantem efeitos de luz. No lavabo, o papel de parede floral cor de água é refletido nas paredes de vidro do piso. A bancada em laca com auto brilho e branca sustenta uma cuba inox e o espelho colocado sobre um painel também em laca finaliza o conjunto.
Consultores e Fornecedores Projeto: AE Arquitetura - Alessandra Braggion e Eliana Toledo. | Marcenaria: AE Arquitetura. | Tapetes: Fio sobre Tela. | Cortinas: De Angelis. | Persianas rolo: Caran Uniflex. Varões e tecidos para cortina: Kauany. | Iluminação: Light Center. | Sofá, mesa de jantar, mesa de centro, poltronas: Breton. | Objetos de decoração: Cecília Dale, Home Marche. Telas: Ilca Braggion. | Acessoorios inox: Sergio Braggion.
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The Gift
Granja Julieta
3466.3820
4
4
2/4
The View
Brooklin
5505.1729
2
3/4
1/2
Up Life
Recreio
(21) 3526.000 3311.1600
1/2
2/3
1
Verte
Aclimação
3277.3108
3/4
4
2
Vivre
Alto da Boa Vista
3067.0000
2
3/4
1/2
Vida Viva Butantã
Butantã
3766.5368
2
3/4
1
Vida Viva Freguesia do Ó
Freguesia do Ó
3991.2919
1/2
3
1
Vida Viva Mooca
Mooca
3067.0000
1/2
3
1
Vida Viva Santa Cruz
Santa Cruz
3067.0000
2
3/4
1/2
Vida Viva São Bernardo
Baeta Neves
4122.1501
2
3/4
1
Vida Viva Tatuapé
Tatuapé
3067.0000
1/2
3/4
1
Vida Viva Vila Maria
Vila Maria
3067.0000
1/2
3
1
Villaggio Monticiello
Vila da Serra
(31) 3264.9049
4
4
4
Vitá Araguaia
Freguesia
(21) 3526.0000
1/2
2/3
1
Wingfield
Perdizes
3868.2469
3
4
2
QUADRA DE TÊNIS
3466.3820 2/3/4 2/3
SALA DE CINEMA
Alto da Lapa
QUADRA
Plaza Mayor
SPA/DESCANSO
2
SALA DE GINÁSTICA
4
LAN HOUSE
3
SALÃO DE JOGOS
5092.7262
ESPAÇO GOURMET
SUÍTES
Campo Belo
SALÃO DE FESTAS
DORMITÓRIOS
Personale
BRINQUEDOTECA
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