BEACH&COUNTRY 11

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UNIVERSO B&C O PODER DOS CLÁSSICOS

À MESA FASANO

BÚSSOLA

A ROTA BORDEAUXPROVENÇA


Por Gilberto Elkis


Fotos: edison Garcia

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DESTINOS CARTA AO LEITOR

O clássico de hoje Clássico e moderno, ao mesmo tempo. Assim é o mundo de hoje, em eterna transformação. Com tudo aquilo de bom que a tradição nos traz, e o update permanente que fazemos para nos manter atualizados, contemporâneos. Inclusive na leitura e na informação. Nas próximas páginas, você vai ler sobre o panorama mixado dos dois estilos e comportamentos que nos cercam. Desde o nosso tema principal da revista – Clássicos, clássicos, clássicos! – até a história atualizada de um clássico da gastronomia, da enologia e da hospedagem: a marca Fasano. Dos clássicos vinhos das regiões de Bordeaux e Provence ao poder da editora de moda Diana Vreeland, uma quase tirana clássica. Do cineasta de cinema Fernando Meirelles, leia-se Cidade de Deus e sua direção de Ralph Fiennes, Jude Law e Anthony Hopkins, celebridades já clássicas da cinematografia mundial, ao leitor compulsivo Pedro Herz. Ele, sim, um clássico da literatura. De Millôr Fernandes, humor inteligente, um clássico dos clássicos, aos refúgios preferidos de Coco Chanel e de Elizabeth Taylor, divas clássicas da moda e do cinema, hóspedes clássicas dos hotéis Ritz e Plaza Athenee.

Nossa capa Edição Clássicos www.artefactobc.com.br Revista Beach&Country | ano 04 |11ª Edição | Novembro 2012

UNIVERSO B&C O PODER DOS CLÁSSICOS

À MESA FASANO

Dos clássicos e modernos rock stars, os Rolling Stones, com 50 anos de carreira, até os pop stars da nossa arquitetura e decoração: Ana Maria Vieira Santos, Jorge Elias e Selma Tammaro. Eles já se tornaram clássicos, independentemente de seus estilos, sobre os quais falam com naturalidade, o que os torna sempre atuais. Tempos modernos, longe da Antiguidade Clássica, são os que vivemos. Neles, tudo muda com transparência. Sob o guarda-chuva da empresa-mãe, a nossa Artefacto B&C também evolui e, de forma atual, abre-se ao mercado sem se restringir à praia e ao campo, mas pensando nos melhores mobiliários e acessórios para transformar sua casa urbana – e moderna – em um clássico da decoração.

BÚSSOLA

A ROTA BORDEAUXPROVENÇA

Galleria Vittorio Emanuele II, situada em Milão, foi construída entre 1865 e 1877, durante a Belle Époque. Seu nome é uma homenagem ao primeiro rei da Itália. Foi desenvolvida pelo arquiteto e designer italiano Giuseppe Mengoni. Até hoje, sua estrutura incrível resiste às marcas do tempo e se integra perfeitamente às modernas lojas que abriga em seu interior.

12 | novembro 2012

Pedro Torres

Superintendente Artefacto

Fale o que você achou desta edição: revistabc@artefactobc.com.br



EXPEDIENTE

Albino Bacchi - Fundador Artefacto Diretoria Artefacto Beach&Country Bráulio Bacchi Diretor-Executivo Artefacto Paulo Bacchi CEO Internacional Artefacto Pedro Torres Superintendente Artefacto Projeto Editorial

PUBLISHING

Rua Artur de Azevedo, 560 - Pinheiros - SP - 05404-001 Tel.: (55 11) 2182-9500 - www.j3p.com.br Fabio Pereira Diretor de Criação Cesar Rodrigues Projeto Gráfico Direção de Arte Chico Volponi Gerente de Custom Publishing Pedro Enrike Eleuterio Assistente de Arte Luciana Fagundes Revisão Osmar Tavares Jr. Arte Final Giuliano Pereira Diretor Responsável Jornalistas Debora Carvalho Felipe Filizola Léa Maria Aarão Luiza De Andrade Paulo Cabral Paulo Pereira Rosane Albin Sergio Zobaran Fotos Edison Garcia Nelson Aguilar Paulo Brenta Rogério Cavalcanti Meire Silva Coordenadora de Publicidade Edison Garcia Produção Gráfica Diego Makul Publicidade diegomakul@portalartefacto.com.br Executivas de conta Cindy Vega Clarice Mattiello Elisangela Lara Colaboradores Adilson Rocchi, Ailton Alves, Alexandre Lemes, Edison Garcia, Fernando Vello, Meire Silva, Mônica Galvani, Talles Lima, Tânia Rodrigues.

16 | novembro 2012



ÍNDICE

F E R N MAN E D IR O E LL E

POR LÉA MARIA AARÃO FOTOS DIVULGAÇÃO

24

UNIVERSO B&C

Para ser um clássico é necessário estar atualizado com seu tempo

34 PERFIL

Fernando Meirelles 360 graus

56

GASTRONOMIA

Fasano. A alta gastronomia tem nome e sobrenome

66

ARCHITECTURE

As marcas e os marcos das metrópoles europeias

84 LEITURA

O clássico paulistano Pedro Herz, proprietário da Livraria Cultura, convida-nos a uma boa leitura

18 | N o v e m b r o 2 0 1 2

32 | Novembro 2012

Novembro


92

106

BÚSSOLA

A deslumbrante rota Bordeaux-Provence

114

DNA

De geração para geração, 50 anos de Rolling Stones

ARTE

Millôr Fernandes – poeta, desenhista, ilustrador, humorista e dramaturgo – deixa enorme legado

120 MODA

Diana Vreeland, a jornalista que foi um mito da moda internacional

destaques EXPERTS 44. 48. 52.

ANA MARIA V. SANTOS JORGE ELIAS SELMA TAMMARO

THE LOOK OF HOME 78. 80. 82.

WOLFGANG SCHLÖGEL DENISE BARRETO IVAN WODZINSKY

102. HIGHLIGHTS

126 ENSAIO

Rogério Cavalcanti registra a releitura do clássico pelo estilista Rodrigo Rosner

130 REFÚGIO

Por dentro dos hotéis Ritz e Plaza

N o v e m b r o 2 0 1 2 | 19


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DESTINOS por FELIPE FILIZOLA FoToS ACERVO

O estilo significa muito mais do que apenas tradição e é, de fato, moderno.

C

onhecida historicamente por ser a margem menos tradicional do Rio Sena em Paris, reduto dos boêmios e intelectuais, a Rive Gauche tornou-se famosa por suas lojas depois que Yves Saint Laurent abriu sua primeira boutique em Saint-Germain na década de 1960. O estilista, que já havia encantado a sociedade parisiense por quase uma década com impecáveis roupas de vanguarda, como o smoking feminino e botas acima do joelho, decidiu que o circuito de compras Faubourg Saint-Honoré – Champs Élysées – Avenue Montaigne era clássico demais para suas criações. Saint Laurent já havia despontado em sua carreira, sendo escolhido aos 21 anos para substituir Christian Dior em sua marca homônima. A Maison Dior era, naquele momento, o símbolo máximo do bom gosto clássico, enquanto outras centenárias marcas tradicionais estavam envelhecendo. Com a abertura da sua marca, Saint

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Laurent trouxe frescor de moda e de atitude, precedendo o advento do prêt-à-porter e o surgimento de novas importantes casas de moda na cidade-luz. Passado mais de meia década da abertura da boutique YSL Rive Gauche, a margem esquerda do Sena faz hoje parte oficial do circuito de compras de Paris, hospedando lojas repaginadas das grandes grifes em seus quarteirões. Um ótimo exemplo é a loja da Hermés na rue de Sevres. Projetado pela arquiteta e designer Rena Dumas, o espaço – misto de loja de roupas e acessórios para casa, floricultura e livraria – leva seus visitantes a interagirem com os clássicos e desejados objetos expostos à venda, como em uma deslumbrante instalação de arte. A lição aprendida por Hermés e seus concorrentes é que para ser um eterno clássico é necessário estar atualizado com o seu tempo, caso contrário tornar-se-á antigo e obsoleto. >>


UNIVERSO B&C

Na página ao lado,

Yves Saint Laurent em entrevista na década de 1960. 1. Um dos clássicos looks de Saint Laurent. Nesta página:

2. Loja da Hermés na rue de Sevres, projetada pela arquiteta e designer Rena Dumas. 3. YSL Rive Gauche, à margem esquerda do Sena.

3.

1.

2.


UNIVERSO B&C

1.

4.

Obras de artistas do periodo Renascentista Sandro Botticelli:

1. O Nascimento de Vénus,1483. Michelangelo:

2. 3.

O Clássico na hora das mudanças Se para a moda as linhas entre clássico, velho, vanguardista e moderno são muito tênues, dada a velocidade de lançamentos de novas coleções; para as artes, essas barreiras são um pouco mais concretas. O uso da nomenclatura “Clássica” ou do período “Classicista” da Idade Moderna toma como padrão de excelência a pureza formal, o equilíbrio e o rigor da Antiguidade Clássica. Essa busca por referências clássicas greco-romanas aparece nos movimentos Renascentistas e Neoclassicistas entre os séculos XV e XVIII. Durante o Renascimento, com a formação das primeiras cidades pós-feudais e nova sociedade econômica, ocorreram muitos efeitos nas artes, filosofia e ciências, trazendo o ser humano de volta ao foco das atenções como na Grécia Antiga. Esse período de efervescência cultural presenciou a passagem de alguns dos mais importantes artistas, como Leonardo da Vinci, Michelangelo e Botticelli. A representatividade das obras desses artistas se dá por suas técnicas, qualidade e expressão atemporal do retrato de uma época, tornando-se então obras clássicas, além de classicistas.

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2. Pintura em teto da igreja, no Vaticano, Roma, Itália. 3. A estátua de David, Itália. 4. "Sagrada Família". Reprodução da Enciclopédia ilustrada,galerias de arte da Europa, Parceria M. O. Lobo, St. Petersburg - Moscou, Rússia, 1901. Na outra página:

5. Daniel Defoe (1659-1731). Gravado por J. Thomson e publicado em A Galeria de Retratos enciclopédia, Reino Unido, 1834. 6. Ludwig van Beethoven - Foto de livros Léxico Meyers escritos em língua alemã. Coleção de 21 volumes publicados entre 1905 e 1909. 7. Jonathan Swift (1667-1745) Gravado por W.Holl e publicado na galeria de retratos com Memórias enciclopédia, Reino Unido, 1833.


5. 6. 7. O período Neoclássico, por sua vez, buscava no passado de Platão os princípios de moderação, equilíbrio e idealismo como uma reação contra os excessos decorativistas e dramáticos do Rococó e Barroco. Essa quebra, logo após a Revolução Francesa, representava o início de uma nova era, que incluía o primeiro Código Civil do mundo, a primeira separação entre Igreja e Estado na Idade Moderna e o estabelecimento de um plano de educação pública para os cidadãos do Império Napoleônico. Obviamente, mais uma vez as artes acompanharam essa mudança no pensamento e exprimiam a nova realidade da época. Nesse momento, a música expressou bem a transição por meio da simplificação de estruturas barrocas e com o uso menos exacerbado de dissonância e do ruído. O austríaco Mozart e o alemão Ludwig Van Beethoven deram forma definitiva às sonatas, concertos e sinfonias – consideradas hoje as representantes da música clássica. Na literatura, essa democratização do conhecimento se revelou com autores buscando se expressar de maneira mais fácil e objetiva aos seus leitores, trazendo temas também mais corriqueiros do dia a dia. É nessa época em que são escritos Robinson Crusoé, de Daniel Defoe, e As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift, além dos textos de Montesquieu e Voltaire sobre a vida cotidiana. >>

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UNIVERSO B&C

Pintura, Les Demoiselles d’Avignon, de Pablo Picasso

Clássicos Modernos Muitas das obras-primas que temos hoje surgiram nesses dois períodos históricos, pois foram feitas de maneiras inéditas até aquele momento, atemporais por sua expressividade e qualidade únicas. São, portanto, obras clássicas, extrapolando o tempo e o fascínio causado, tornando-se objeto de consulta para gerações futuras. É muito importante lembrarmos que peças consideradas referências clássicas hoje em dia já representaram a van-

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guarda de outrora. A pintura Les Demoiselles d’Avignon de Picasso e o livro 120 Dias de Sodoma de Sade quebraram, cada um a sua maneira, uma linearidade de pensamento e filosofia da época e, por isso, foram considerados modernos. Inclusive, o mundo levou algum tempo até reconhecê-las como algo valioso. Se por um lado se tornaram clássicos por sobreviverem à sua época, por outro, como escreveu o crítico americano Ezra Pound, “são clássicos porque são modernos em qualquer época”. >>


“SÃO CLÁSSICOS PORQUE SÃO MODERNOS EM QUALQUER ÉPOCA.” EZRA WESTON LOOMIS POUND, (Hailey, 30 de novembro de 1885 – Veneza, 1 de novembro de 1972), poeta, músico e crítico literário americano.

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UNIVERSO B&C

Cadeira Wassily

Artista russo Wassily Kandinsky

Poltrona Barcelona

Dentro dessa linha de pensamento, temos também como exemplo a escola alemã Bauhaus de arquitetura e design. O legado modernista da era pré-guerra deixado por ela inclui hoje clássicos da decoração como a cadeira Wassily – cujo nome referencia o artista abstrato russo Wassily Kandinsky –, de Marcel Breuer, e a poltrona e banqueta Barcelona, de Mies Van Der Rohe, objetos de desejo atemporais. Apartamentos de Nova York a Shanghai, casas de Belo Horizonte a Budapeste e townhouses em Londres e Paris possuem esses mesmos icônicos móveis. E assim voltamos a Paris do começo do texto, e vemos que mesmo com a novidade e efervescência cultural da margem esquerda do Sena, a oposta Rive Droite e seus imponentes e lindos prédios não envelheceram. Continuam absolutamente clássicos – e modernos.

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Arquiteto alemão, Mies van der Rohe


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PERFIL

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F E R N A M N E D IR O E LL E S

por LéA MARIA AARÃO FoToS DIVULGAÇÃO

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PERFIL

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Fernando Meirelles, paulistano de 57 anos, nosso cineasta carismático, humilde e diligente, sempre foi chegado a um clássico. Adora Shakespeare e devora a boa literatura – “fico empolgado com ela”, costuma dizer. Ficou fascinado ao ler Cidade de Deus, livro de referência do brasileiro Paulo Lins. Quando conheceu Ensaio sobre a Cegueira – outro clássico –, do português José Saramago, apaixonou-se por essa história da miséria humana. Tomou-se de amores pelo livro O Jardineiro Fiel, de John le Carré, mestre da literatura inglesa clássica de espionagem, e, agora, ainda este ano, começa as filmagens de uma história com o nome da deusa Nêmesis. É a biografia de Aristóteles Onassis, baseada no livro do americano Peter Adams, outra história mitológica clássica, de ódio, vingança e castigo.

Um caminho de clássicos Filmando os três primeiros títulos, Meirelles ganhou fama internacional, uma grande plateia e o respeito da crítica. Foi indicado para quatro oscars, dez anos atrás, com Cidade de Deus (filme codirigido por Katia Lund),

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e terminou ele próprio se tornando um clássico do cinema brasileiro moderno. Este ano, persistindo na sua trilha pontuada de clássicos, o sócio-fundador de uma das cinco mais influentes produtoras de filmes do mundo, a O2, que se encontra na companhia das célebres produtoras Belladonna, de Nova Iorque, e da Film 4, de Londres, o diretor estreou o filme 360. Segundo ele, é “um filme pequenininho” (custou 15 milhões de dólares), inspirado (novamente) num dos mais destacados clássicos alemães: a peça Reigen, de Arthur Schnitzler, a mesma que outro diretor do cinema clássico, Max Ophuls, já havia filmado, e A Ronda. Fecha-se assim um ciclo do artista que gosta de dar este conselho aos que estão começando: “Sonhem, acreditem e realizem que a recompensa virá”. Alguém que pretende ter a consciência exata do seu tamanho: “Não sei se tenho estofo para ser um grande cineasta”, ele declara, nas entrevistas. “Fiz apenas um filme que deu certo e acabou abrindo muitas portas – nas quais, na verdade, nunca fui bater.” >>


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1. Fernando filmando O Jardineiro Fiel, de 2005, com a atriz inglesa Rachel Weisz e o ator Ralph Fiennes. 2, 3 e 4. O filme Cidade de Deus, de 2002, Â foi o passaporte de Fernando Meirelles para o mercado do cinema internacional.

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PERFIL

Elenco de Ensaio sobre a Cegueira, na Marginal Pinheiros, ao fundo a ponte Estaiada, em S達o Paulo.


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PERFIL

O cineasta com a atriz Julianne Moore e o ator Mark Ruffalo nas filmagens de Ensaio sobre a Cegueira, no centro de São Paulo , de 2008.

A Crítica Boa é Perigosa Menino nascido no Alto de Pinheiros, de família de classe média culta, numa época em que a região ainda era rural e parecia cidade do interior (os pais compravam o leite da casa num curral próximo), Fernando estudou no Colégio Santa Cruz e, depois, foi para a USP. Em casa, o pai, médico, costumava fazer filminhos caseiros, os quais o interessavam muito. Mas também era encantado pela cidade; e, por isso, escolheu estudar Arquitetura e Urbanismo. Queria recuperar galpões abandonados e “lindos” e fazer projetos de transferências urbanas. Não chegou a realizá-los porque, depois de formado, começou a trabalhar para a televisão com a clássica máxima de “uma ideia na cabeça e uma câmera na mão”. Trabalhou durante dez anos em filmes de publicidade e para a TV, dentre outros, fez o consagrado programa Rá-Tim-Bum e criou sua primeira produtora, a Olhar Eletrônico. Hoje, na empresa atual, a O2, fundada há 30 anos, seus sócios são o amigo Paulo Morelli e Andrea Barata Ribeiro – ela, considerada uma das produtoras de entretenimento mais influentes do mundo.

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Depois da fama e do grande sucesso mediático, Fernando não adquiriu os cacoetes das celebridades, detestando inclusive a fase de promoção de seus filmes. “Queria ter um avatar”, declara sempre, “um ator que eu pudesse treinar para ir às entrevistas”. Ele é como Jorge Luís Borges, o escritor argentino, que dizia: “A gente publica um livro para se livrar dele”. Fernando também garante que adora se livrar dos seus filmes. Sobre a sua paixão por Shakespeare, vai longe e ousa dizer que “nem Freud compreendeu os homens como ele”. A respeito da crítica e dos críticos, é enfático: “Quando ela é dura, violenta e até, muitas vezes, perversa, tira toda a razão de quem a faz, por mais que o crítico esteja certo. Mas a boa crítica é pior ainda – é perigosa e destrutiva.” Para Meirelles, a produção de filmes como 360 e Nêmesis, de capital globalizado, exige um esforço de logística financeira complexo. Os filmes se fazem com o chamado soft money, dinheiro subsidiado para projetos culturais – a BBC, entre eles – e de investidores individuais. >>


1. O excelente ator Ben Foster trabalha no mais recente filme de Meirelles, 360. 2. O ator Jude Law e ( mais uma vez) Rachel Weisz estão no elenco do filme de histórias curtas, 360.

Cinema, um bom Negócio “Cinema é um negócio de risco. Mas quem sabe fazer não perde dinheiro.” Como no caso do experiente investidor grego de Nêmesis, Emmanuel Michael, proprietário da Unison Films. Ele aplicou US$ 5 milhões na produção que está começando agora, na Croácia. Filmar é fácil, conclui Fernando. “Negociar é que é complicado.” Na visão de Meirelles, “Onassis é um personagem interessantíssimo, um gângster que precisava odiar para produzir. Sempre encontrava uma vítima e trabalhava para destruí-la. Toda a sua energia era concentrada em destruir alguma coisa ou alguém.” Já 360, para ele, não é um filme com uma grande mensagem. É sobre relacionamentos. Os personagens “são pessoas corretas, bons pais, bons maridos, que querem fazer as coisas direito, mas nem sempre conseguem. Há sempre uma coisa dentro da gente que nos joga para outro lado. O filme é sobre pessoas lutando contra si mesmas.” Ou “pessoas tentando ficar melhores”, como anotou o crítico de cinema Luiz Gallego. Quando perguntam ao cineasta se não se intimida dirigindo atores de peso, estrelas como Anthony Hopkins, Jude Law, Ralph Fiennes ou Rachel Weisz, ele faz piada. “Às vezes, fico me perguntando onde fui amarrar meu cavalo e se não fui longe demais. Mas aí já é tarde para voltar atrás e sumir.”

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PERFIL

3. Anthony Hopkins foi dirigido por Fernando Meirelles em 360, produção deste ano

Um Outro Mundo No ano passado, uma jornalista perguntou a Meirelles se algum dia imaginou que chegaria tão longe. “Não foi uma coisa planejada nem desejada. Cidade de Deus é um bom filme. Antes dele, eu já tinha feito, durante mais de dez anos, cinema publicitário e televisão. Tinha aprendido uns truquezinhos”, ele respondeu, fazendo graça. Mas, generoso, reconhece a qualidade do seu time. “Trabalhei com muita gente e fui agrupando os melhores; para mim, a equipe com quem eu filmava era a melhor do Brasil.” Os cineastas Rogério Sganzerla e Júlio Bressane são suas fontes de inspiração criativa. Quando fala sobre o cinema de Glauber Rocha, ele costuma ser cauteloso. “As viúvas de Glauber são muito agressivas. Os filmes dele têm tanta energia que é impossível assistir sem se sentir tocado. Mas não é a minha praia.”

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Meirelles também exercita o seu lado jardineiro quando escapole para a fazenda da família, no interior de São Paulo, na região de Franca e Ribeirão Preto. Então, enche a sua caminhonete de mudas que ele mesmo cultiva. É o contraponto a uma rotina exaustiva de voos e viagens sucessivas. Na fazenda, dentre outras espécies, cultiva a madeira teca, uma árvore de origem asiática usada com frequência pelos escandinavos na fabricação de móveis. “Isso me dá um enorme prazer. Entro num outro mundo.” O mundo masculino do homem comum, discreto e sensível, que ele sabe mostrar tão bem nos personagens construídos pelas estrelas que dirigiu: Ralph Fiennes, Jude Law e Hopkins. Mas bem diferente do Onassis que ele pretende ver encarnado no ator queridinho do cinema atual, Michael Fassbender.


O tapete que veste seu mundo Coleção Wasily


O DIA EM QUE

O CONTEMPORÂNEO VIROU UM CLÁSSICO 44 | novembro 2012


EXPERTS

por SERGIO ZOBARAN FoToS NELSON AGUILAR

A

na Maria Vieira Santos é uma apaixonada pelo que faz. Workaholic assumida, tem nos projetos de suas próprias casas o melhor cartão de visitas para seus clientes – empresários, advogados e banqueiros, altos executivos da área financeira e grandes amigos. E recebe como ninguém em suas residências monumentais: a urbana, em São Paulo, cidade que adotou quando se casou, a de Iporanga, praia do Litoral Norte do estado, e a do condomínio Quinta da Baroneza, em Bragança Paulista. Em seu escritório na capital, próximo ao Jockey Club, no bairro Cidade Jardim, comanda uma equipe ensaiada e afinada de jovens arquitetos que a trata com respeito. ‘D. Ana’ concentra os projetos em sua mente e no estilo que a consagrou: uma arquitetura brasileira e contemporânea que faz do resultado de seu trabalho um clássico – o qual se estende, com o mesmo clima, para o mobiliário –, e se desenvolve em diversos estados do país, tanto nas capitais, além de São Paulo (especialmente Rio de Janeiro, Curitiba e Porto Alegre), quanto fora daqui, principalmente, nos Estados Unidos, em Nova York, para onde faz ponte-aérea durante todo o ano, em função de seus inúmeros clientes por lá. Adepta incondicional da madeira que trabalha muito bem, das pedras nobres, do tijolo aparente, “e dos grandes panos de vidro, da boa iluminação natural, da água, muita água em seus espelhos e piscinas, e da permissão que a natureza entre em casa”, ela completa, Ana se orgulha de suas casas invariavelmente com pé-direito muito alto, entre 3,80 m e 5,50 m. “Hoje meu trabalho se concentra mais na arquitetura em si e na arquitetura de interiores – o escritório cresceu e a decoração vem como complemento”, explica. Como estilo, reitera

que a base é contemporânea, com detalhes modernos e clássicos: “É a fusão dos dois”. E Ana conta como começou: “No neoclássico, e fui limpando, limpando, até chegar ao contemporâneo”. Ela tem uma certeza, hoje: “Certas coisas não se planejam, simplesmente acontecem. É que, com o tempo, vamos ficando mais críticos, mais exigentes. Por isso, pesquiso muito, estudo, presto atenção em tudo o que vejo, deletando o que é ruim e acrescentando o que é bom”. E admite não ter chegado à perfeição: “Ela não existe em ninguém!”. O olhar é aguçado, e há três anos pratica compulsivamente a fotografia, da natureza a uma vitrine, em qualquer lugar do mundo onde vá, com resultados tão surpreendentes que encantam seus clientes, hoje adeptos desta sua arte também nas paredes de suas casas. A busca constante da beleza passa pelos móveis, naturalmente: “No início (da carreira dela) faltavam alguns itens básicos no mercado, como mesas de centro e laterais, aparadores e sofa tables”, relembra Ana, que encontra na Artefacto B&C esta família completa de produtos, e mais os bancos e as cadeiras, especialmente em seu lado mais rústico, e as fibras naturais, o que ela mais aprecia na empresa. Na sua decoração, que prevê muito uso de espelhos, para ampliar, além de objetos em vidro e muitas velas, surgem os nichos nas paredes (e aí ela pede licença para contar como eles surgiram: do pedido de uma cliente que não queria arte nas paredes, ao contrário de Ana, que teve que descobrir elementos para recobri-las). E estes elementos, marcantes em seus projetos, podem aparecer nas casas de campo ou de praia, indistintamente. Aliás, neste quesito, o coração desta mineira não balança: “Entre praia e campo, fico com os dois”. E assim garimpa na B&C muitas de suas escolhas. >>

“PESQUISO MUITO, ESTUDO, PRESTO ATENÇÃO EM TUDO O QUE VEJO, DELETANDO O QUE É RUIM E ACRESCENTANDO O QUE É BOM”

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EXPERTS

ANA MARIA V. SANTOS

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EXPERTS

CLÁSSICO COM BOSSA por SERGIO ZOBARAN FoToS NELSON AGUILAR

O

arquiteto paulista Jorge Elias defende seu eterno estilo urbano e para lá de sofisticado, que adapta às casas de praia, de campo e fazendas. Afinal, ele é um clássico sim, mas com bossa. “Trabalho de acordo com o uso da casa”, diz Jorge, autor de projetos palacianos que o tornaram conhecido como um dos preferidos da elite paulistana e de outros estados e países, como os EUA, onde hoje está executando quatro apartamentos, todos localizados em Nova York. Suas próprias residências, no Brasil e no exterior, são publicadas nos maiores títulos internacionais de decoração, como a Elle a Elle Décor norte-americana e as diversas edições internacionais das revistas AD-Architectural Digest, entre outras. Para Jorge, que está cercado de preciosidades antigas – dos quatro últimos séculos, pelo menos – em seu escritório localizado numa casa que parece uma vila romana, nos Jardins, em São Paulo, o exemplo vem de muita pesquisa, viagens, busca diária em leilões pelo mundo e de casa mesmo. “Minha casa no Guarujá tem um toque brasileiro, português, indo-árabe, enfim exótico.” Para quem não trabalha – porque não acredita – com tendências, “o mundo está voltando ao clássico, porque as pessoas querem a tradição e a elegância, e um estilo assim se encaixa muito bem”. E como ele se caracteriza? “Pelos lambris, boiseries, móveis de época, tapetes – mas hoje, tudo com bossa!”

Barroco em alta Elias garante que o estilo Barroco, que ele tanto pratica, está absolutamente em voga, assim como o colonial brasileiro em suas boas peças: “Sempre com muitíssima qualidade”. Mas ele mistura estas peças com arte contemporânea, móveis de junco e bambu, numa “jogada de descontração”, como denomina. E por isso é tão procurado também por jovens clientes, que entendem este mix chique. “Clássica não é casa de velho, pois nos tecidos, nas cortinas, nas gravuras e até nos tapetes divertidos, a gente faz a coisa ficar bacana”, conclui. Para Jorge, “a base é o clássico, e cabe até uma mesa de acrílico para modernizar, o ferro, materiais diferentes, o inesperado”. E sugere que, por exemplo, utilizem-se tapeçarias ao invés de telas de grandes artistas plásticos, pois mesmo este tipo de arte pode ser considerado um toque de modernidade no ambiente. Na iluminação, ele prefere lustres e abajures, mas sempre entra com um spot, um foco naquilo que quer destacar. E tudo de Jorge é, na verdade, um destaque. Na B&C, Jorge opta pelas fibras que, repete, “uso sempre”, e aposta nas peças mais “clássicas”. Como ele, que já assinou até um verdadeiro pagode chinês como uma das vitrines mais comentadas da loja Artefacto, na Rua Haddock Lobo, sede da marca, em São Paulo. >> novembro 2012 | 49


EXPERTS

JORGE ELIAS

indica

01 02

04 03 01. Buet Tehran 02. Estante Nyang Alta 03. Cadeira Abigail 04. Aparador Livima 05. Banco Mihrab 06. Mesa Bar Jolie

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EXPERTS

por SERGIO ZOBARAN FoToS NELSON AGUILAR

TODOS OS TONS:

A PRAIA DE SELMA TAMMARO

A

depta total das cores, do verde-limão ao tomate, passando pelos tons de azul – e da filosofia de Leonardo da Vinci, que afirmava que o último grau de sofisticação é a simplicidade –, Selma Tammaro vai do rústico praiano ao luxo na cidade, com seu olhar contemporâneo e colorido. “Meu estilo descontraído foi criado na praia”, diz Selma, arquiteta, designer de interiores e paisagista – mas isso apenas no início da carreira, nos anos 1980. E tudo começou no Litoral Norte de São Paulo. Em Tabatinga, onde parte para sua terceira casa (“sou nômade”), Juquehy e Maresias. “Era tudo bege, e construí uma casa azul turquesa por fora e nos detalhes de dentro.” E assim já dava o tom de seu trabalho: pé-direito sempre muito alto (o de sua casa atual tem 8,20 m), grandes vidros trazendo luz natural e a paisagem para dentro de casa: “a praia é solar!”. Entre idas e vindas, já que imigrou para o Canadá com a família neste meio tempo, e lá se habilitou em construção, Selma desenvolve também projetos de residências urbanas e escritórios, mas tem forte atuação mesmo em casas de alto padrão na praia que ama. Nelas, a integração entre as áreas sociais internas e o exterior é o pedido que mais tem. “Passo o conceito ao cliente, dentro do possível e para a casa não ficar parecida comigo, e tenho bastante cuidado. Procuro orientar quem me contrata sem impor minha opinião, pois a casa não é minha e quem vai morar lá não sou eu.” Selma só não mora por mais dias da semana no litoral, o que sempre foi seu sonho, porque na capital o trabalho a chama. Mas relembra este momento de mudança “pé na areia”, dizendo que as residências que surgiam, então, pediam uma decoração confortável e de qualidade: “Mas aquele ar de sofisticação tinha que existir. Por outro lado, os ambientes eram muito grandes e se misturavam com a paisagem: ora com a imensidão do mar, ora das montanhas, e eu precisava de móveis que fossem proporcionais a este conjunto – e, ao mesmo tempo, descontraídos.” Mas afinal, Selma: praia, cidade ou campo? Ela explica que, na cidade, o trabalho é mais sofisticado, podendo ser utilizados mais móveis e objetos. E que no campo o clima é mais austero. “Minha paixão é pela arquitetura, e a decoração é uma consequência, no meu caso.” Na ambientação urbana, Selma prefere cores mais clássicas, ou vibrantes se for um jovem, e, neste caso, aposta no vermelho, no amarelo, no verde, no turquesa e até no lilás. No off-white e no concreto claro, nos linhos dos sofás de linhas retas, como as mesas de jantar, clássicos também – neutros e eternos. “Mas são as pessoas que dão vida ao projeto.” >>

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EXPERTS

SELMA TAMMARO

indica 01

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01. Chaise Longue Agoy II 02. Mesa Lateral Lake 03. Poltrona Kilwa 04. Poltrona Mars Black 05. Mesa de Jantar Sun

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GASTRONOMIA

FASANO: NOME E SOBRENOME DA ALTA GASTRONOMIA Em 1902, nasce o embrião do império gastronômico erguido pela italiana família Fasano; conheça alguns bastidores do restaurante que virou sinônimo de qualidade desde sua abertura, nos anos 80, em São Paulo. >> por LUIZA DE ANDRADE FOTOS PAULO BRENTA


Ambiente do restaurante Fasano, localizado no t茅rreo do hotel hom么nimo, nos Jardins.


GASTRONOMIA

O restaurateur Rogério Fasano, que assumiu os negócios do grupo no começo dos anos 80

C

erta vez, lá nos anos 90, Rogério Fasano, um dos mais respeitados restaurateurs do Brasil, foi detido no aeroporto internacional de Guarulhos. Trazia a tiracolo uma mala abarrotada de alcachofras. Eram as mais famosas alcachofras do mundo, as castraure, cultivadas em uma ilha minúscula a vinte minutos de Veneza, na Itália. Colhidas somente na primavera, têm alto teor de enxofre – o que lhe confere sabor único. Rogério Fasano estava cansado de saber: não se entra no país com nenhum derivado animal ou vegetal sem autorização do Ministério da Agricultura. Foi pego na alfândega, toda a mercadoria foi confiscada e incinerada. Naqueles tempos, vivia-se com dificuldades para manter um restaurante como o Fasano, em São Paulo. O restaurateur contava até com o favor de amigos, que traziam isso e aquilo na mala quando voltavam da Itália. E assim abastecia um dos mais tradicionais restaurantes de São Paulo, com produtos da melhor procedência. Pois o restaurante Fasano virou sinônimo de qualidade na cidade. Não de repente. Ele surgiu de um império que começou a ganhar forma em 1902, quando Vittorio Fasano, um italiano de Milão, abriu o primeiro restaurante do grupo, a confeitaria Brasserie Paulista, na praça Antônio Prado, no centro de São Paulo. A história da família Fasano se desdobrou pelos anos. Começou com o bisavô de Rogério em 1902, passou para o avô, Ruggero, em 1952, depois para ele, em 1982. Hoje, são 12 restaurantes do grupo (São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília), quatro hotéis (São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Feliz e Punta del Este) e dois bares (São Paulo e Rio de Janeiro), um bufê e uma casa de eventos. Mas é no Fasano dos Jardins, alojado no principal hotel do grupo, que estão resguardados os traços mais tradicionais.


Ali o serviço segue à moda antiga, de um profissionalismo raro de alcançar. Garçons alinhados circulam delicadamente pelo salão, aproximam-se discretamente dos clientes e não marcam bobeira. Toalhas brancas sobre as mesas, cadeiras almofadadas e confortáveis, taças de cristal, talheres de prata, guardanapos de linho, arranjos de orquídeas. Tudo à perfeição. Não é à toa que se ouve por aí que o Fasano é uma escola. São profissionais pinçados de restaurantes na Itália. Grandes chefs italianos que, aliás, já têm certo receio quando Rogério aparece: alguns de seus funcionários podem receber uma proposta para trabalhar no Brasil. E lá se vão. Dentro do restaurante, em São Paulo, a exigência é máxima para que se tornem os melhores – seja no salão, na cozinha ou no serviço de vinhos. São escalados de tal forma que possam crescer em suas carreiras lá dentro. Muitos se aperfeiçoam, ganham confiança e saem dali para tocar negócios próprios. Esse costume já virou cíclico em São Paulo. Junto, vem a fama dos bons profissionais. A maioria abriu restaurantes que seguem padrão semelhante de serviço, servem receitas caprichadas, levadas à excelência, sempre algo que esbarra nos clássicos herdados das cozinhas italianas. São casos assim restaurantes como Piselli, Tre Bicchieri e Aguzzo. >>

As mesas são decoradas com miniorquídeas, guardanapos de linho e taças de cristal


GASTRONOMIA

O chef italiano Luca Gozzani, na cozinha do restaurante Fasano.


Tartar de atum e bottarga (ovas de tainha salgada e seca) com iogurte.

COZINHA Nas panelas, Rogério Fasano também quer tradição. Avesso aos modernismos da cozinha vanguardista espanhola, encabeçada pelo catalão Ferran Adrià – que fez técnicas como as esferificações e as espumas feitas em sifão, por exemplo, se espalharem pelo mundo –, o que ele busca é uma cozinha italiana de base clássica. Quem o ajudou a construir e fortalecer esse conceito nos bastidores foi o consagrado chef Salvatore Loi, que deixou a casa recentemente, depois de 13 anos no comando da operação gastronômica do grupo – inclusive em seus braços fora de São Paulo. Mas ali permanecem as mesmas receitas que ajudaram a fazer a fama: o risoto de feijão com linguiça toscana e vinho tinto, e o cordeiro desossado ao forno. Ficarão mantidos também os cardápios sazonais que levam ingredientes como as trufas d’Alba trazidas da Itália. Na ala de uma, digamos, “Itália marinha”, ganha atenção mais profunda com a chegada do novo chef, o italiano Luca Gozzani, que foi trazido do Fasano Al Maré, do Rio de Janeiro. Os pratos são fresquíssimos a ponto de lagostins e lagostas serem pinçados de um aquário próprio do restaurante, que fica alojado nos bastidores. Com os novos ares de Gozzani, surgem também receitas como o peixe vermelho em crosta de pão de miga com tomate seco e purê de batata e o linguini com bottarga (ovas de tainha secas) e anchova. >>

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GASTRONOMIA

VINHO Na retaguarda, uma equipe de profissionais experientes faz o serviço de vinho. Estão orquestrados pelo respeitado Manoel Beato, um dos mais importantes sommeliers do país. A carta, muito bem organizada, traz longa relação de rótulos, na qual constam produtor, região e safra. São garrafas de países como França, Alemanha, Espanha, Itália, África do Sul, Argentina e Chile, entre outros, acondicionadas adequadamente em adega climatizada. À mesa, o serviço se mostra impecável e sela a experiência num dos mais tradicionais restaurantes de São Paulo. >>

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R贸tulos de vinhos da adega climatizada do restaurante, sob o comando do sommelier Manoel Beato.

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GASTRONOMIA

No comando do Fasano Al Mare, no Rio de Janeiro, desde 2006, o chef italiano pretende trazer mais leveza às receitas do Fasano, em São Paulo. Luca Gozzani nasceu em 1975, em Empoli, nas redondezas de Florença, na Itália. E por lá passou por cozinhas estreladas pelo consagrado guia “Michelin”. O restaurateur Rogério Fasano pinçou o chef de um dos mais respeitados restaurantes da Itália, a “três estrelas” Enoteca Pinchiorri. De lá, em 2006, Gozzani assumiu a cozinha do Fasano al Maré, no Rio de Janeiro, e neste 2012 assumiu o controle das cozinhas do Grupo Fasano.

Por que aceitou a proposta de vir trabalhar no Fasano? Fiquei muito interessado na possibilidade de trabalhar no grupo de hotelaria mais consagrado e profissional da América do Sul, além de gostar muito da ideia de aprender uma nova língua e conhecer uma cultura diferente. São coisas que contribuem para meu crescimento profissional. Como é assumir um restaurante clássico italiano fora da Itália? É muito gratificante, porque você tem a oportunidade de mostrar a verdadeira cozinha italiana a um público diferente, e levar ao exterior um pedaço da sua cultura é algo muito atraente para mim. Ao mesmo tempo, existem certos desafios: não é fácil encontrar os melhores produtos e temos um trabalho maior para preparar os colaboradores. E assumir um restaurante que por 13 anos teve o mesmo consagrado chef (Salvatore Loi)? Na verdade, o Fasano já teve vários chefs renomados no comando da cozinha e todos trouxeram seu conhecimento e técnica, deixando pratos que ficaram marcados na história do grupo. Eu me sinto muito honrado em ser um deles. O que permanece no cardápio? Todos os pratos clássicos que fazem parte da historia do grupo vão permanecer. Trarei alguns pratos novos e estou adaptando alguns outros para dar um ar mais leve.

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Chef Luca Gozzani, que acaba de assumir as cozinhas do grupo Fasano.

Cite uma receita que será mantida e como você aprendeu a fazê-la “ao modo Fasano”. A clássica paleta de cordeiro agora é feita de uma outra maneira, com um cozimento diferente, mas continua um clássico. Está só um pouco mais revisitado, talvez mais leve e com menos gordura. O que muda com a sua chegada? Entrarão pratos que fizeram sucesso no Rio e outras novidades que estou desenvolvendo aqui em São Paulo, que poderão ser implantadas também no Rio. Vamos rever o cardápio de sobremesas, trazendo algumas novas opções, mas também mantendo as mais clássicas. O que você pretende nessa cozinha? Gosto muito de pratos leves e frescos acompanhados de legumes. Gosto de pegar uma receita de um prato que era pesado e deixá-lo mais leve sem mudar o conceito, adaptando para os dias de hoje. Também espero trazer algumas novidades que, no futuro, tornem-se clássicos da casa. Afinal, até os pratos que todo mundo conhece como “clássicos” já foram novidades em algum momento.


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ARCHITECTURE

AS CIDADES E SUAS MARCAS

Os onze monumentos que são sinônimos de algumas das mais importantes cidades da cultura ocidental. por ROSANE ALBIN FOTOS DIVULGAÇÃO

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ual é a primeira imagem que vem a nossa mente quando pensamos em Paris? Torre Eiffel talvez seja a resposta de grande parte da população do planeta. Essa torre, que no começo foi rejeitada por destoar do skyline parisiense, é considerada o monumento mais conhecido do mundo. Pela Europa, diversos marcos são referências culturais, arquitetônicas e, principalmente, turísticas. Apresentaremos aqui outros dez pontos globais de grande visitação e admiração, incluindo um que entrou recentemente neste panteão, o Reichstag. Também rechaçado no passado, ganhou um ar contemporâneo quando Sir Norman Foster projetou uma impressionante cúpula espelhada. Resultado: hoje, quem vai a Berlim não pode deixar de visitá-lo. >>

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ARCHITECTURE

PARIS

Torre Eiffel Considerado o ponto turístico mais conhecido em todo o mundo, a Torre Eiffel é mais um caso de patinho feio que vira cisne na história dos grandes monumentos. Feita para a exposição Universal de 1889, foi criticada por artistas e personalidades. Eles achavam que a torre de 324 metros de altura e dez toneladas de ferro não combinava com o skyline de Paris − e não combina mesmo –, e talvez justamente aí resida todo seu charme. A construção, assinada por Gustave Eiffel, tem duas plataformas, uma a 115 metros de altura e outra no topo, de onde é possível obter uma vista de 360 graus de Paris, com a Rive Gauche e Rive Droite bem ao lado, mais o Arco do Triunfo. Também é possível visitar uma exposição que conta a história do monumento e de seu criador. Atualmente, estão sendo criados novos espaços e atrações no primeiro piso, tudo isso a uma altura de 57 metros. Mais informações: www.tour-eiffel.fr.

Arco do Triunfo A capital francesa é pródiga em cartões-postais, e o Arco do Triunfo rivaliza com a Torre Eiffel em fama. Mas, com certeza, é muito mais agradável visitar a segunda do que embrenhar-se no emaranhado de carros e som de buzinas que circundam o monumento, confluência de várias ruas importantes de Paris. Erguido entre 1806 e 1836, foi desenhado pelo arquiteto Jean-François-Thérèse Chalgrin, um adepto do estilo neoclássico, a pedido do imperador Napoleão Bonaparte. O monumento tem 50 metros de altura e 45 metros de largura, sendo levantado para homenagear os exércitos vitoriosos de Napoleão, que decidiu copiar os arcos construídos pelos romanos em respeito aos generais. Assim como na Tower Bridge, um aviador destemido também passou voando sob o arco num biplano em 1919, o francês Charles Godefroy. O monumento era – e ainda é – tão importante como símbolo nacional, que as tropas nazistas fizeram questão de desfilar sob ele para comemorar a conquista da França na Segunda Guerra Mundial. Mais informações: http://arc-de-triomphe.monuments-nationaux.fr.

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Sacré-Coeur A Basílica de Sacré-Coeur de Montmartre é uma das primeiras construções que os turistas que chegam à cidade pelos aeroportos D’Orly ou Charles de Gaulle, ou pelas estações de trem Saint-Lazare, Norte ou Leste avistam. A colina em que está localizada fica a 129 metros do nível do mar, e a construção é cercada pelo charmoso bairro boêmio de Montmartre, frequentado por pintores como Degas, Renoir e Toulouse-Lautrec. A basílica começou a ser construída em 1875 e ficou pronta em 1914, porém não foi inaugurada devido à Primeira Guerra Mundial que explodiu na mesma época. A inauguração acabou acontecendo no ano de 1919. Em estilo romano-bizantino, sua cúpula, com mais de 200 metros, é o segundo ponto mais alto de Paris – depois da Torre Eiffel. Curiosidade: o nome Montmartre vem de monte de martírios, pois foi nessa colina que Saint Denis foi martirizado. Saiba mais em: www.sacre-coeur-montmartre.com

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ARCHITECTURE

Notre-Dame A célebre catedral abrigará uma série de comemorações para marcar seu 850º aniversário a partir do dia 12 de dezembro deste ano até 24 de novembro de 2013. Uma das novidades será a entrega do órgão, considerado o mais famoso do mundo durante o século XX. A Catedral de Notre-Dame, uma das mais antigas em estilo gótico, começou a ser construída em 1163. Sua história é recheada de altos e baixos, e chegou a ser utilizada como depósito para alimentos após a Revolução Francesa. Serviu de palco para a coroação de Henrique VI, da Inglaterra, em 1431; coroação de Napoleão Bonaparte como imperador e Josefina como imperatriz, em 1804; e beatificação de Joana D’Arc, em 1909. Foi lá que Victor Hugo ambientou o livro O Corcunda de Notre-Dame. Além de ser um importante monumento arquitetônico com sua mistura de estilos, a catedral sempre abrigou concertos e exposições, mas não tem vocação para museu: as principais atividades continuam sendo as missas e rituais católicos. Mais informações: www.notredamedeparis.fr.

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LONDRES Tower Bridge

O projeto da Tower Bridge começou por causa de “terríveis” engarrafamentos em Londres, que até então só tinha pontes a oeste da London Bridge. Como o leste ficou mais populoso no início do século XIX, a prefeitura decidiu construir uma ponte. O grande desafio era que ela não poderia impedir a navegação no rio Tâmisa, e a cidade abriu uma concorrência pública para escolher o melhor projeto. Um comitê foi formado em 1876, mas só em 1884 que o arquiteto Horace Jones, numa parceria com John Wolfe Barry, escolheu o trabalho vencedor. Alguns dos mais de 50 projetos enviados estão em exibição no museu da torre. A construção levou oito anos, consumiu mais de 11 mil toneladas de aço, mobilizou cinco grandes empresas e 432 operários. A solução encontrada foi criar duas torres, uma passagem basculante para os carros que poderia ser aberta caso um navio precisasse navegar no local e uma passarela no alto para os pedestres. Hoje, a ponte já não é a solução para engarrafamentos, ela assumiu uma função mais nobre: ser um dos monumentos que mais atraem turistas em Londres. Com um museu e exposições permanentes, ela encanta não só por sua história, mas por oferecer uma das mais belas vistas da cidade. Toda a história do local é contada numa mostra histórica, aberta em 1982, e relata fatos curiosos como o do piloto Frank McClean, que teve que voar entre a parte de baixo da ponte e a passarela de pedestres com seu biplano para evitar um acidente. Mais informações: www.towerbridge.org.uk/TBE/EN/Exhibition/Current+Exhibitions.htm.

Big Ben É como se Londres fosse uma cidade pequena, dessas em que as batidas do sino da igreja regram a rotina dos moradores. Cada vez que o Big Ben soa, as badaladas são transmitidas pela rádio BBC. Em geral, as pessoas acham que Big Ben é o nome da torre com relógio do Parlamento britânico, mas na verdade é o nome do sino, batizado em homenagem a Sir Benjamin Hall, ministro de Obras Públicas da Inglaterra, que instalou o sino de 13 toneladas no Palácio de Westminster. Os ponteiros do relógio, famosos por sua precisão, começaram a rodar em 31 de maio de 1859 e o sino começou a funcionar no dia 11 de julho do mesmo ano. Desde

então, acompanhou diversos momentos importantes da história do país, como quando soou para anunciar o final da Segunda Guerra Mundial. Durante as batalhas, suas badaladas transmitidas pelo rádio davam uma sensação de segurança em meio ao barulho das bombas e sirenes. A torre de 96 metros não está aberta à visitação de estrangeiros; só os cidadãos britânicos podem subir os degraus que levam até o alto, onde é possível apreciar a cidade. Mais informações: www.parliament.uk/visiting/online-tours/virtualtours/bigben-tour.

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ARCHITECTURE

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BERLIM

Portão de Brandemburgo Uma das principais transformações do Ocidente no século XX teve como principal ícone o portão, chamado Brandenburger Tor em alemão. A cidade de Berlim, com o muro que separava a área comunista da capitalista, o leste e o oeste, era uma espécie de símbolo do grande embate do século entre as duas formas de produção econômica e organização política. Como ficava na parte Oriental, ou seja, comunista, mas bem na linha divisória delineada pelo muro, não podia ser visitado nem por um lado nem pelo outro. >>

Catedral de St. Paul Basta dizer que os casamentos do Príncipe Charles com Diana, em 1981, e de Catarina de Aragão com Arthur, em 1501, foram realizados na Catedral de St. Paul. A atual construção, feita entre 1675 e 1710, é a quinta entre as que aconteceram no local desde o ano de 604. A igreja anglicana sediou vários funerais de grandes estadistas e membros da realeza, como Sir Winston Churchill e Almirante Nelson, além de servir de ponto de encontro para a população em momentos de grande comoção. Foi o caso do ataque às Torres Gêmeas, em 2001, quando uma multidão reuniu-se lá para expressar sua solidariedade aos americanos. Em 2005, durante os atos de terrorismo em Londres, jovens de diferentes religiões acenderam velas como sinal de paz e esperança. A catedral foi desenhada pelo arquiteto, astrônomo, cientista e matemático Sir Christopher Wren. “A arquitetura deve ser eterna”, declarou na época em que projetou a obra. Quem visita o local deve reservar algumas horas, porque há muito a ver. Da cripta até a galeria Golden, 111 metros acima do solo, o edifício medieval construído em forma de cruz com uma cúpula (a segunda maior do mundo) ao meio reserva várias atrações, entre elas, os relevos que decoram a fachada, que narram a conversão de São Paulo ao cristianismo. O primeiro projeto do gênero em uma catedral Oculus: an Eye Into St. Paul’s conta, em um filme, 1.400 anos de história do local. Mais informações: www.stpauls.co.uk/Visits-Events.

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ARCHITECTURE

Com a queda do muro e dos regimes comunistas, foi reaberto em 1989 e abrigou a grande festa do 20º aniversário da data em 2009. Como ícone que é, remete diretamente a Berlim e aos conflitos da Guerra Fria no século XX. Sua construção, entre 1789 e 1791, foi ordenada pelo rei prussiano Frederico Guilherme II, com projeto de Carl Gotthard Langhans, para ligar o castelo ao seu jardim, o Tiergarten. Em estilo neoclássico, tem 12 colunas, seis de cada lado, cinco vãos centrais e, na parte de cima, uma escultura mostra a deusa Irene, da paz, numa charrete puxada por quatro cavalos. Ninguém vai a Berlim sem parar para uma foto no Brandemburgo, localizado na Pariser Platz. Depois de fazer a tradicional imagem com o portão, vale caminhar pela Unter den Linden, uma das mais bonitas avenidas da cidade. Mais informações: www.visitberlin.de/en/feature/berlins-top-10-sights.

Reichstag A sede do Parlamento viveu alguns dos mais turbulentos momentos históricos da Alemanha. Desde o começo, o Reichstag foi cercado de polêmicas e até chamado de “casa de macaco” e “ápice do mau gosto”. Antes mesmo de assentar a pedra fundamental do prédio, projetado pelo arquiteto Paul Wallot, o rei Guilherme teve que fazer três tentativas, e em uma delas chegou a quebrar as ferramentas. Ele não aprovava o projeto, enciumado porque sua cúpula seria mais alta que a do castelo. Chegou a proibir que a inscrição “Para o povo alemão” fosse colocada em sua fachada. Mas isso não ofuscou o brilho do prédio. Em 1918, a criação da república alemã foi anunciada de suas janelas pelo deputado Philipp Scheidemann. Em 1933, o edifício sofreu um incêndio que destruiu sua cúpula e câmara e serviu como desculpa aos nazistas para perseguir seus oponentes. Entre 1961 e 1971, o prédio foi reformado, mas sem a cúpula. Com a reunificação, voltou a ser sede do Parlamento e de 1994 a 1999 foi renovado, ganhando uma nova cúpula, que encanta e fascina todos os admiradores de arquitetura. Projetada por Sir Norman Foster, um dos maiores arquitetos da atualidade, ela é toda espelhada e tornou-se rapidamente um clássico da mistura entre moderno e antigo. O terraço oferece uma das melhores vistas de Berlim. Mais informações: www.visitberlin.de/en/spot/reichstag.

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MILÃO Duomo

A cidade de Milão é a capital do design todos os anos, durante o verão europeu. A Semana de Design de Milão reúne os mais inovadores e importantes profissionais da área, que atraídos pelos séculos de história da cidade aproveitam para flanar por suas ruas e visitar grandes monumentos. Um dos passeios obrigatórios é a Catedral Duomo, que impressiona desde a imponente fachada de mármore encimada pela estátua dourada da Madonnina até o interior, com cinco grandes naves decoradas por intricados vitrais. Construída a partir de 1386 e só concluída em 1813, mais de quatro séculos depois, a catedral ainda passaria por reformas no século XX, quando decidiram trocar as cinco portas da fachada. Atualmente, a cúpula central está sendo restaurada, para amenizar os efeitos do tempo e preservar essa que é considerada uma das mais célebres e sofisticadas construções em estilo gótico da Europa. A catedral é o símbolo e o coração da cidade, e seu terraço oferece uma das mais belas vistas de Milão. Seu imenso patrimônio inclui centenas de estátuas, esculturas e vitrais deslumbrantes. Curiosidade: em 2009, Silvio Berlusconi foi o alvo do arremesso de uma estatueta da catedral, que depois teve que confeccionar uma série de miniaturas para satisfazer a demanda do público. Virou um símbolo da rebeldia contra o governo. Site oficial: www.duomomilano.it.

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ARCHITECTURE

Galleria Vittorio Emanuele II Ao lado da Catedral Duomo e do famoso Teatro Scala de Milão, a Galleria Vittorio Emanuele II é um verdadeiro templo da elegância, com lojas de grifes como Gucci e Prada e um ambiente charmoso. Projetada em forma de cruz pelo arquiteto Giuseppe Mengoni, tem estilo neoclássico com alguns toques de barroco. Foi construída entre 1865 e 1877 para ligar as praças Duomo e Scala. Coberta por uma estrutura de ferro com cúpulas de vidro e afrescos e com entradas em forma de arcos de triunfo, tornou-se conhecida em toda a Europa logo após ser inaugurada por suas dimensões e por simbolizar uma nova era de modernidade e progresso. É tradição entre os turistas e milaneses girar o calcanhar no mosaico que retrata um touro no chão da galeria central, um gesto que, segundo a lenda, afasta o mal. E deve afastar mesmo, porque o pavimento já desgastou-se tanto que formou um buraco. Mais Informações: www.tourism.milan.it.


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82 | novembro 2012


Inspiração nos contrastes EM MEIO À ELEGÂNCIA SÓBRIA, COMPOSIÇÕES SUSTENTÁVEIS E PONTOS DE COR PROMOVEM LEVEZA.

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LEITURA

Pedro Herz em uma das lojas do Conjunto Nacional, na Avenida Paulista, onde sua m達e, Eva Herz, abriu a primeira Livraria Cultura, em 1969, e onde atualmente se encontra o teatro que leva o nome dela.

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UMA VIDA ENTRE LIVROS À frente da Livraria Cultura, Pedro Herz estimula a leitura com suas lojas espalhadas por todo o país, mas deixa claro que esse hábito começa em casa e que para todos os assuntos que alguém possa se interessar há algo para se ler. por PAULO CABRAL FoToS PAULO BRENTA

A

história de um menino de vasta cabeleira e unhas grandes, porque não tinha ninguém para cuidar dele, chamado João Felpudo, é um clássico da literatura infantil. Mas para Pedro Herz, o nome à frente da Livraria Cultura e atualmente no cargo de presidente do conselho de administração, o texto escrito pelo psiquiatra e pensador alemão Heinrich Hoffmann, em 1844, para dar de presente ao filho Carl, é muito mais uma referência autobiográfica do que um dos grandes títulos que estão nas estantes de suas 14 lojas espalhadas em nove cidades do Brasil. Esse foi o primeiro livro que Pedro leu na vida. Não guarda direito na memória de quem ganhou, se foi de uma tia ou de um tio, mas, como bom livreiro, tem na

ponta da língua a lembrança de que se tratava de uma versão da Editora Melhoramentos. Na época em que devorou João Felpudo de cabo a rabo, os livros começavam a entrar na vida de Pedro Herz de forma pouco convencional. Filho de judeus alemães que fugiram do horror nazista só com o passaporte no bolso e mais nada, ele nasceu em São Paulo, em 1940, em uma casa ainda com hábitos europeus, ou seja, a leitura se fez presente desde que se entende por gente. E a língua dos pais também. “Falo fluentemente alemão, fiz teatro em alemão, sou alemão, tenho a cidadania alemã”, conta com orgulho. “Também leio em alemão, apesar de nunca ter frequentado uma escola alemã.” Mas para complementar o orçamento doméstico, em 1947, quando Pedro estava se alfabetizando, sua mãe, Eva Herz, montou uma biblioteca ambulante para suprir a carência de seus compatriotas e outros estrangeiros ávidos por boas histórias. Foi quando volumes e mais volumes passaram a fazer parte de seu cotidiano.

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LEITURA

Pedro Herz ao centro da Livraria Cultura do Conjunto Nacional: "Sou um assalariado como todos os outros funcionários".

Enquanto seu pai, Kurt Herz, trabalhava como vendedor de roupas e se tornava um fanático torcedor do Corinthians, Eva montava o negócio do aluguel de livros juntando o útil ao agradável. “Minha mãe era a intelectual da família”, decreta Pedro, que só vai se enfronhar nesse ramo quando sua mãe, depois de mais de duas décadas de sucesso, proporcionando leitura de qualidade a vários clientes, principalmente, com livros importados, resolve abrir uma loja de porte considerável no recéminaugurado Conjunto Nacional, um complexo comercial típico dos anos 60, na esquina da rua Augusta com a avenida Paulista. O investimento era sério e, para dar certo, Pedro Herz, já casado e formado em Administração de Empresas, decidiu arregaçar as mangas e botar a mais nova livraria de São Paulo para funcionar. “Digo que perdi os cabelos carregando caixas de livros”, brinca. Uma das características da Livraria Cultura é o seu amplo espaço, onde o cliente tem a liberdade de pegar uma obra e se acomodar em um dos pufes para degustá-la. No início também era assim, sem tanto conforto, a loja do Conjunto Nacional proporcionava uma grande variedade de títulos para quem quisesse folhear e, muitas vezes, comprar. “É a mesma coisa quando compro uma camisa ou um sapato, tiro, ponho, não vejo diferença”, desmistifica Pedro. “Você precisa dar uma olhada no livro, se é aquilo que quer, se é para presentear. A variedade é que é muito grande, as opções são muitas.” E ele já serviu de conselheiro literário, o que resultou até em saia justa. “O cara odiou tanto o livro que eu indiquei que quase perdi o amigo. Ele ia sair de férias e me disse ‘não tinha porcaria maior para me indicar?’ Era Cem Anos de Solidão, do Garcia Marquez. E ele ficou horrorizado com o livro, detestou. Essa é a vantagem do livro, um gosta, outro não, enfim, você pinta o cenário da cor que quiser. Não vem pronto como no cinema”.

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LEITOR COMPULSIVO, PEDRO HERZ NÃO SE CONSIDERA UM LITERATO. JÁ LEU OS CLÁSSICOS, MAS TAMBÉM SE DEDICA A UM CLASSIFICADO DE JORNAL ANTIGO, SE FOR PRECISO.

Leitor compulsivo, Pedro Herz não se considera um literato. Já leu os clássicos, mas também se dedica a um classificado de jornal antigo se for preciso. “Estou lendo menos porque estou ficando mais velho e, além de chegar cansado em casa, as atividades que tenho para exercer e exerço me deixam pouco tempo para ler, mas diariamente eu me dedico um pouco”, afirma. E não adianta insistir, ele é veemente em dizer que não tem um gênero preferido, assim como não tem opção pela ficção ou não-ficção. “O Millôr Fernandes diria ‘finalmente um cara sem estilo’.”, ri de si próprio. No momento, seu companheiro é um livro em inglês, Quiet, de Susan Cain, sobre atuais problemas de comunicação. “Ele trata da incapacidade de as pessoas ouvirem, elas só falam. Está superinteressante. Ninguém tem capacidade de ouvir nada, sequer música. Nas salas de concerto, estão lá com seus aparelhos BlackBerry na mão, respondendo e-mail. É triste isso, vive-se numa sociedade em que só se fala e não se ouve”, contou envolvido com sua atual leitura. Se sentir falta de uma nova leitura, Pedro Herz desce de seu escritório, em um dos prédios do mesmo Conjunto Nacional, vai até a Livraria Cultura, agora subdividida em várias lojas na galeria, escolhe um livro sem muito critério e o compra! “Sou um assalariado como todos os outros funcionários”, faz questão de ressaltar. Sua escolha pode ser baseada em algo que leu, em algum comentário, em uma crítica, e não se intimida em dizer que já deixou muitas obras pela metade. Lê e-books? “Leio e acho uma ferramenta utilíssima. Eu só acho que quem lê, lê, e quem não lê não vai passar a ler por causa do aparelho”, pondera não sem antes deixar clara a sua preferência pelo papel. Seguindo a máxima de Millôr, Pedro Herz afirma que também não tem nenhum estilo quando se trata de escolher um filme para ver no cinema.

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Pode ser de um cineasta que admira, como Woody Allen, assim como pode deixar de ver o último dele, Para Roma com Amor, já que não se baseia no diretor para fazer sua opção. O mesmo acontece quando vai assistir televisão. “Vejo noticiários, a BBC, o jornal alemão, a TV5 francesa, filmes, mas não tenho nenhum critério.” Considera-se judeu por uma simples herança familiar, mas não se diz religioso. “Frequento, respeito, sigo alguma coisa, mas não numa linha muito ortodoxa.” Quando fala de teatro, seu maior orgulho é ter várias salas patrocinadas pela Livraria Cultura que levam o nome de sua mãe, Eva Herz. “É o único teatro que tem filiais, tem aqui em São Paulo, em Brasília, em Curitiba, em Salvador e terá no Rio também. Acho que leitura, teatro, música, tudo tem a ver”, conclui. Para morar, no entanto, Pedro Herz escolheu um clássico da arquitetura, o edifício Copan, projetado por Oscar Niemeyer, erguido no centro de São Paulo, na década de 50. “Sou separado e moro sozinho, e nos Jardins eu morava em um sobrado. Quando chegava em casa à noite, abria a janela e o meu vizinho da frente estava lá, ‘oi, Pedrão, tudo bem?’ A minha privacidade era mínima.

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“VEJO NOTICIÁRIOS, A BBC, O JORNAL ALEMÃO, A TV5 FRANCESA, FILMES, MAS NÃO TENHO NENHUM CRITÉRIO.” novembro 2012 | 89


LEITURA

O edifício Copan, clássico da arquitetura moderna no centro de São Paulo, projetado por Oscar Niemeyer, onde Pedro Herz mora desde 1986. "Tenho horizontes, e isso é importante."

Então apareceu essa oportunidade e eu me mudei para lá em 1986, para um andar alto onde tenho horizontes, e isso é importante.” E além de apreciar a cidade de sua casa, Pedro também a aproveita com boas caminhadas, inclusive indo muitas vezes a pé de lá até o trabalho, na avenida Paulista, numa pernada de uns 15 minutos. “São Paulo é uma cidade que, entre o que há de melhor e o que há de pior, eu me encontro. Esses dois extremos são fascinantes”, afirma. Quando fala dos problemas da cidade, Pedro reconhece que é um mal crônico que vem se espalhando por todo o país, e aí vem toda aquela lista bastante repetida nas campanhas eleitorais – violência, má administração pública, sistema de transportes precário, poluição. “Qualidade de vida não é só o dinheiro, é o ar que se respira. Acho que tem de ser medida a felicidade interna bruta e não só o produto interno bruto”, teoriza. Para ele, os próximos governantes nem precisariam se esforçar muito para fazer melhorias. “Eles poderiam fazer uma coisa: pôr para funcionar o que existe e não fazer nada de novo. Nós estamos cheios de leis! Põe para funcionar o que existe, porque a maioria das coisas não funciona no Brasil, e basta. Faria um governo fantástico, seja federal, estadual ou municipal”, sugere.Com dois filhos e sete netos, Pedro Herz circula bem entre as novas gerações. A Livraria Cultura, inclusive, está investindo em um jovem público segmentado com a Geek.etc.br, uma loja voltada para games e quadrinhos. “É um público que já existia, os produtos que têm na Geek nós já tínhamos em casa”, ressalta. No entanto, para ele, toda essa movimentação não garante a formação de novos leitores. “O leitor é formado em casa”, decreta e vai além. “A escola pode ajudar, quando não atrapalha. Se você der uma coisa muito chata para o aluno ler, ele não quer mais saber. Depende muito do critério. Iracema, do José de Alencar, é uma chatice sem tamanho. Se dessem um Harry Potter, fariam muito mais leitores”, conclui. Pedro brinca dizendo que estaria rico se tivesse uma fórmula para fazer alguém começar a gostar de ler, mas não deixa de indicar um caminho. “Busque alguma coisa que te interesse. Quer aprender a fazer pão? Tem livro. Quer desvendar um mistério? Procure um bom romance policial. Quer ficção científica? Tem. Para tudo o que você imaginar, tem alguma coisa escrita. Quer consertar a torneira da sua casa? Tem algum livro que vai ensiná-lo. Basta ter interesse, quer dizer, a solução está nos livros.”


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VIVE LE VIN

As regiões de Bordeaux e Provence produzem alguns dos melhores vinhos e oferecem vistas deslumbrantes por ROSANE ALBIN FOTOS DIVULGAÇÃO

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Paraíso dos vinhos: Manoel Beato considera Bordeaux, na foto da página seguinte, e seus arredores como a melhor região produtora do mundo.

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s franceses adoram brincar com os turistas com pequenas variações da história do dono de um pequeno bistrô que convida um grupo de americanos (talvez hoje sejam os chineses) a retirar-se quando eles inocentemente pedem uma Coca-cola para misturar ao vinho. Na dúvida, melhor não cometer esse tipo de heresia. Especialmente nas regiões de Bordeaux, considerada a principal capital dos vinhos tintos, e Provence, produtora do melhor rosé do mundo. Essa última é famosa pela gastronomia, pela lavanda e girassóis. “É um lugar ótimo para comer. Eles têm tradição em trufas pretas e fazem uma ótima comida mediterrânea, com muitos ingredientes do mar e azeite, o que combina muito bem com o vinho mais típico da região, o rosé”, diz Manoel Beato, sommelier do Grupo Fasano, um dos mais conceituados especialistas em vinhos do Brasil. Beato elogia a Provence, mas fica ainda mais empolgado ao falar da região de Bordeaux. “Lá são produzidos os tintos mais majestosos e disputados do mundo, alguns brancos de primeiríssima qualidade e talvez o melhor vinho de sobremesas branco doce, o Sauternes. Tem uma importância fundamental para o mundo dos vinhos”, diz. Conhecer a história dos Bordeaux é conhecer a própria história da bebida, pelo menos na era cristã.


A história do cultivo de uvas começou nos anos 80, quando Bordeaux chamava-se Burdigala e era a capital da província romana de Aquitânia. As vinhas foram introduzidas, mas logo depois, nos anos 90, o imperador determinou que todas fossem arrancadas. Foi só em 270 que os agricultores passaram a ter direito a plantar novamente as uvas, produzir e vender vinho. Na Idade Média, a demanda por brandys no mercado europeu tornou os produtos de Armagnac e Cognac famosos e, no final do século XVII, a disseminação do uso de garrafas e rolhas permitiu que os vinhos de Bordeaux fossem exportados. Ao mesmo tempo, a construção de estradas de ferro favoreceu que o consumo se espalhasse por toda a França. A bebida seguiu sua trajetória de sucesso praticamente sem interrupções até que, em 1864, a Phylloxera vastatrix devastou as vinhas francesas. Os produtores começaram a usar um enxerto resistente à praga e retomaram a produção. Em 1935, o Institut National des Appellations D’Origine (INAO) foi criado, designando os primeiros Appellations D’Origine Contrôlées (AOCs), ou Deno-

minação de Origem Controlada (DOC), garantindo a qualidade dos vinhos. Bordeaux produziu aquele que é considerado o melhor vinho do século XX, em 1945.

NA ROTA DO VINHO Viajar pelo interior e arredores de Bordeaux é a melhor e mais prazerosa forma de conhecer estas e outras histórias com direito a muitas degustações. A viagem no tempo e no espaço pode começar com um curso na École du Vin (www.bordeaux.com/ Ecole-du-vin), que oferece desde workshops de duas horas até cursos de três dias com direito a visitas a vinícolas. As opções são muitas. “Grande parte dos vinhos é produzida em castelos – os châteaux – que dão nome às bebidas, e eles são cercados por belos vilarejos. Um dos que mais me impressionaram é o Margaux, o castelo é muito suntuoso, lindo de morrer, e o vinho é um dos melhores do mundo. O que me surpreende também é a diversidade da região, há muitos lugares a visitar”, diz Beato. Uma das cidadezinhas que o sommelier recomenda é Arcachon, à>>

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“UM DOS QUE MAIS ME IMPRESSIONARAM É O MARGAUX, O CASTELO É MUITO SUNTUOSO, LINDO DE MORRER, E O VINHO É UM DOS MELHORES DO MUNDO.”

Lembranças inesquecíveis: o Château Margaux é um dos preferidos de Manoel Beato

beira-mar. “Eles servem algumas das ostras mais maravilhosas da França. É uma cidade linda, um brinco, pequena e charmosa. Tem vários tipos de mariscos”, conta. Outro lugar que deixou boas lembranças é Saint Emilion, a cidade do vinho francês por excelência. Ou a região de Médoc, que abriga o château Margaux e outros nomes famosos como Mouton-Rothschild, Cos d’Estournel, Latour ou Lafite-Rotschild. A gastronomia local está entre as melhores do mundo. A região produz trufas negras, queijo roquefort e foie gras de ótima qualidade. Isso sem falar na cidade de Cognac, que dá nome à bebida conhecida internacionalmente. A região vinícola abrange mil quilômetros quadrados ao redor da cidade de Bordeaux, com mais ou menos cinco mil châteaux. São 57 appellations (regiões cujos terroirs, com suas condições de solo e microclima, produzem uvas com características especiais), divididas em sete famílias de designações diferentes, como, por exemplo, o Grand Cru Classé, que é o mais prestigiado. A melhor época para as visitas é de setembro a novembro, quando ocorre a colheita das uvas e as ostras e cogumelos estão em sua plenitude. A cidade de Bordeaux também merece vários passeios. Quem gosta de ostras pode degustá-las no Marche des Capucins (marchedescapucins.com), aos sábados, ou no La Boite à Huitres. A cada dois anos, a cidade sedia a principal feira de vinhos do mundo. A próxima está marcada para 2013, entre os dias 16 e 20 de junho. Quem busca qualidade deve prestar atenção nas avaliações das últimas safras de vinhos da região: as melhores deste século são as de 2005, 2009 e 2010, quando as uvas tiveram as melhores condições de sol e chuva para chegar ao melhor sabor. >>

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Provence: trufas negras, bistrôs charmosos, perfumados campos de lavanda e delícias gastronômicas fazem a fama da região.

Perfumes no ar A região da Provence, ao sul da França, imediatamente evoca os aromáticos campos de lavanda, aldeias de pedra cheias de charme e vinho rosé. Beato lembra com saudades das trufas negras que degustou em uma de suas passagens por lá. “Provence é muito forte em vinho rosé, produz os melhores do mundo e também alguns tintos muito bons, mais encorpados. Os brancos não são tão fortes, porque a região é muito quente e ensolarada, fazendo com que careçam de frescor”, explica o sommelier. A comida, simples e deliciosa, tem os delicados e intensos sabores mediterrâneos. Um tomate com azeite e flor de sal de Camargue pode ser uma refeição dos deuses... Os vinhos mais destacados no Guia Hachette de 2012, com análises das safras de 2010, foram o Château Minuty (Prestige, Côtes de Provence Cru Classé), o Domaine de la Madrague (Cuvée Claire, Côtes de Provence), e o Domaine Sainte Lucie (L‘Hydropathe Élite, também Côtes de Provence). A área é dividida em seis sub-regiões, as Côteaux d’Aix en Provence e Varois-enProvence; e os côtes de Provence, Provence Fréjus, Provence la Londe e Provence Sainte-Victoire. >>

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França profunda: a cidadezinha de Gordes, no Luberon, embutidos para todos os gostos e aldeias medievais.

O cultivo de uvas em Provence começou dois séculos antes de Cristo, quando os romanos instalaram-se na região, até então, chamada de Província Romana. Após a queda do Império Romano, foi só na Idade Média que o cultivo voltou a ganhar força por causa dos monges, que passaram a produzir vinhos não só para o consumo próprio, mas também para a venda, o que se revelou um bom negócio para a igreja. A partir do século XIV, famílias nobres começaram a investir nas vinícolas e criar a estrutura da indústria vinícola moderna de Provence. A região também sofreu com a Phylloxera no século XIX, mas reagiu com os enxertos e retomou a produção. Apesar de não fazer parte oficialmente dos vinhos da região, o vilarejo medieval de Châteauneuf du Pape merece uma visita. Ainda conserva uma ruína da antiga residência dos papas de Avignon, que foi bombardeada pelos alemães durante a Segunda Guerra. Lá, vale conhecer o Le Verger des Papes, que tem vistas lindas da região e pão feito no forno a lenha. A cidade de Arles, famosa por abrigar Van Gogh e inspirar algumas de suas mais famosas pinturas, é outra joia da Provence. Para conhecer todas as possibilidades de passeio, visite o site www.vinsdeprovence.com, o www.routes-lavande. com e www.veloloisirluberon.com, com caminhos encantadores para serem feitos de bicicleta.

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Os Rolling Stones em frente à St. George’s Church, Hanover Square, Londres, em 17 de janeiro de 1964. Mick Jagger, Charlie Watts, Bill Wyman, Keith Richards e Brian Jones (1942 – 1969) - foto de Terry O’Neill.

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por DEBORA CARVALHO / LONDRES FOTOS DIVULGAÇÃO

“IT WAS SOMETHING TO DO ON THE WEEKENDS” E “BANDS DIDN’T EXIST MORE THAN FOUR OR FIVE YEARS” (ERA ALGO PARA FAZER NOS FINS DE SEMANA E BANDAS NÃO DURAM MAIS QUE QUATRO OU CINCO ANOS), DISSE MICK JAGGER SOBRE OS PRIMEIROS DIAS DOS ROLLING STONES EM 1960. MAS PARECE QUE ISSO NÃO VALEU MUITO PARA ELES.

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eio século depois de seu primeiro show ao vivo no The Marquee Club, em Londres, os Stones comemoraram o aniversário de 50 anos da banda. The Marquee Club é conhecido entre os ingleses não só por ter sido testemunha do desenvolvimento da cultura musical em Londres durante quatro décadas, mas também por ter sido um dos berços de artistas que entraram para a história da música pop europeia. Inaugurado em 19 de abril de 1958, no número 165 da Oxford Street, tornou-se o lugar mais importante para o jazz e rhythm & blues de Londres. Por seu palco, passaram nomes como David Bowie, Cream, Pink Floyd, Manfred Mann, The Who, Yes, Led Zeppelin, Jethro Tull, Genesis, The Clash, The Pretenders, The Police, The Cure, Joy Division and Sex Pistols. >>

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Stones no show em Honolulu, em 1973.

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Visita de Mick Jagger a S達o Paulo, em 1968.

The Rolling Stones: Charlie Watts, Keith Richards, Mick Jagger e Ron Wood, em 21 de agosto de 2005, no Fenway Park, Boston - foto de Mark Seliger.

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ormado por Mick Jagger, Keith Richards, Elmo Lewis (verdadeiro nome de Brian Jones), Dick Taylor, Ian Stewart e Mick Avory, o grupo fez seu primeiro show na casa no dia 12 de julho de 1962, sob o nome de The Rolling Stones, escolhido a partir da canção “Catfish Blues” do norte-americano Muddy Waters, considerado o pai do Chicago Blues. Alexis Korner’s Blues Incorporated, a banda que tocava frequentemente no clube, foi solicitada para tocar num show da BBC rádio e Harold Pendleton, proprietário do The Marquee Club, na época, precisava preencher o espaço com uma nova banda. Essa oportunidade trouxe os Stones aos palcos pela primeira vez; e, de lá até hoje, eles já fizeram centenas de concertos ao redor do mundo. Em 1963, Taylor deixou a banda e foi substituído por Bill Wyman, que ficou até 1991, mas continuou a trabalhar com Mick Jagger em seus projetos solo. Dois anos após o primeiro show, em 1964, o primeiro álbum, chamado simplesmente The Rolling Stones, foi lançado e ganhou disco de ouro depois de ficar em primeiro lugar em vendas no Reino Unido, por doze semanas. Nele existiu apenas uma canção de autoria de Mick Jagger e Keith Richards “Tell Me (You’re Coming Back)”, mas foi o suficiente para ficar em décimo primeiro lugar nos Estados Unidos. A partir daí, pouco a pouco o material próprio começou a ser valorizado. Out Of Our Heads, lançado em 1965, foi o primeiro de uma série de discos feitos basicamente de composições da dupla Jagger-Richards. E foi também nesse ano que a banda lançou seu maior hit de todos os tempos: “(I Can’t Get No) Satisfaction”. >>

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The Voodoo Lounge Tour no Robert F. Kennedy Memorial Stadium, em Washington, DC, em 8 de agosto de 1994.

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Em 1966, com o álbum Aftermath, os Stones começaram uma fase de músicas mais longas e de arranjos mais elaborados. Brian Jones ficou na formação até 1969. Durante esse período, foi quem manteve uma inventividade que gerou o Rolling Stones Rock’n Roll Circus. Também foi um dos mentores do estilo adotado pela banda e ficou conhecido no mundo musical pelo seu estilo de vida baseado no “sexo, drogas e rock’n roll”, além de suas roupas extravagantes. Em 1975, Ronnie Wood se juntou ao grupo e a formação dos Stones ficou a que conhecemos até hoje: Mick Jagger, Keith Richards, Ronnie Wood e Charles Watts. Em cinquenta anos de carreira, sucessos como “Beast of Burden”, “Tumbling Dice”, “Ruby Tuesday”, “Wild Horses”, “I Can’t Get No) Satisfaction”, “She’s Like A Rainbow”, “Sympathy For The Devil”, “Jumping Jack Flash”, “Miss You” e “Angie” fizeram dos Stones uma das mais conhecidas bandas do rock mundial, levando-a a enfrentar todos os grandes clichês do gênero, desde recepções efusivas da crítica até problemas com drogas e conflito de egos, principalmente, entre Jagger e Richards. Em sua carreira, os Rolling Stones já venderam mais de 200 milhões de álbuns no mundo inteiro e seu maior público, um milhão e meio de pessoas, foi em fevereiro de 2006, no show feito na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. Toda a trajetória e seus diferentes estágios nesses cinquenta anos da banda, desde a sua primeira aparição pública, foram mostrados numa exposição com setenta fotos inéditas, que aconteceu no Somerset House, de julho a setembro desse ano. Essas imagens fazem parte do lançamento do The Rolling Stones: 50, único livro autorizado para celebrar o marco do aniversário do gru-

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po. O outro marco foi a nova versão do famoso logotipo, redesenhado pelas mãos do ilustrador americano Shepard Fairey, que criou o cartaz de Barack Obama - Hope e assinou no ano passado a capa do álbum SuperHeavy, da banda de mesmo nome, formada por Mick Jagger, Dave Stewart, Joss Stone e Damian Marley. A língua dos Stones, conhecida pelo mundo inteiro, foi originalmente criada em 1971 pelo designer John Pasche, um estudante da Royal College of Art, e apareceu pela primeira vez no álbum Sticky Fingers. No livro , é possível ter acesso a materiais raros, nunca antes divulgados para os fãs, que incluem fotografias retratadas pelas lentes de Gered Mankowitz, JeanMarie Périer, Dezo Hoffmann, Michael Cooper, Terry O’Neill, Bent Rej e Philip Townsend. E preparem-se, tem turnê prevista para 2013. Os titãs da música dos anos 70 prometeram que vão subir ao palco mais uma vez para comemorar o cinquentenário da banda junto aos fãs. Fora a turnê que está sendo preparada, o documentário Crossfire Hurricane, produzido pela HBO e dirigido por Brett Morgen, que conta a trajetória das lendas do rock, está prestes a ser lançado nos cinemas de Londres e Estados Unidos. Segundo a imprensa, o filme vai encantar, chocar e surpreender os devotos de longa data, bem como a nova geração de fãs. Uma frase dita por Keith Richards define exatamente a essência da banda e explica por que eles continuam a levantar legiões de fãs no mundo inteiro: “When all of us get behind our instruments and Mick starts to sing, we become like one person” (Quando estamos por trás dos instrumentos e o Mick começa a cantar, nós nos tornamos uma só pessoa).


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MILLÔR CLÁSSICO DOS CLÁSSICOS Pra ser feliz de verdade É preciso encarar A realidade. (Hai-Kai de Millôr Fernandes)

por LéA MARIA AARÃO REIS / RIO JANEIRO

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umorista Poeta, desenhista, ilustrador, Poeta, dramaturgo, escritor, tradutor (um dos melhores que o Brasil já teve) e, sobretudo, filósofo – todas estas qualificações cabem no artista multimídia Millôr Fernandes, carioca do Méier, cujo nome deveria ter sido Milton, mas que por erro na caligrafia do escrivão, ao ser registrado no cartório, chamou-se a vida toda de Millôr. Clássico entre os maiores clássicos do país, nas artes gráficas e na área das artes plásticas em geral, Millôr Fernandes faleceu no dia 27 de março deste ano, aos 88 anos, deixando em grande tristeza seus bons e fiéis amigos, alguns personagens, assim como ele próprio, da vida carioca durante mais de meio século. Brilhante e muitas vezes cáustico pensador das coisas brasileiras, do povo e dos políticos, ele é um clássico inquestionável. Hoje, é nome de campus, numa universidade no bairro do Méier, cenário de suas lembranças da infância

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e adolescência, e de uma praça no Arpoador – o Largo Millôr – , em Ipanema, a praia que curtiu como poucos e onde viveu a sua vida adulta. De alguns meses para cá, a sua obra artística está sendo representada pela mais respeitada agência literária do Brasil, de Lucia Riff e sua equipe. Mas Millôr costumava brincar dizendo que obra é coisa de pedreiro. No entanto, agora ela passa a ter maior visibilidade, diz Lucia, com a chance de ser editada fora do país. “Além do mais, os jovens poderão conhecer melhor os seus trabalhos. A agência está sendo inundada com pedidos de inclusão dos trabalhos do artista em livros didáticos, acadêmicos e em exposições.” Mas o uso dos trabalhos que serão autorizados por Lucia e pelo filho e herdeiro de Millôr, Ivan Fernandes – também artista, colaborador eventual do pai e profundo conhecedor do trabalho dele –, terão duas restrições: não serão vinculados à publicidade de álcool nem de cigarro.


Mill么r: fil贸sofo, um dos mais brilhantes pensadores da vida brasileira e c谩ustico cr铆tico das mazelas nacionais.

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ARTE

“ELE MORA NO PRIMEIRO TIROTEIO À ESQUERDA.” Gentil e afetuoso Todos da geração que conheceram a Ipanema de antes da contracultura dos anos 60, quando o bairro ainda não era um cartão-postal turístico (era o autêntico paraíso tropical) lembram bem da figura de Millôr, sempre bronzeado, olhos verdes cintilantes, correndo, todos os dias de manhã cedinho, na beira da areia ou pela calçada. A corrida ao nascer do sol sempre foi uma paixão do atleta amador que, certa vez, acabou ganhando um título de vice-campeão de pesca ao atum, em uma viagem à Escócia. Antes, nunca pescara nada. Naqueles tempos pré-históricos do bairro, quando correr e fazer o jogging ainda não havia entrado na agenda das modas cariocas, Millôr inventou o frescobol, hoje praticado nas praias do mundo. O seu jogo de raquetes de frescobol, vermelhas, está guardado com todo cuidado pelo grande amigo, o geólogo Luiz Gravatá. “A família me deu. Presente maior impossível. O tom do vermelho escuro das raquetes, um vermelho meio oriental, era a cor predileta do Millôr,” diz Gravatá. Os dois, madrugadores, se falavam por telefone todas as manhãs. Gravatá também possui, na sua cobertura, em Ipanema, um dos cinco grandes murais produzidos pelo amigo. “Um deles foi encomendado por um laboratório de São Paulo. O outro está em Copacabana, no Posto Cinco, na Praça Sara Kubitschek.” Porque o apartamento de Gravatá fica próximo a uma favela, na época violenta, Millôr costumava dizer: “Ele mora no primeiro tiroteio à esquerda”. Naquela mesma época, Millôr, companheiro gentil e afetuoso, adorado pelos amigos, frequentava com eles o restaurante Fiorentino, no Leblon, e o mitológico Antonio’s. Depois, o ponto de encontro mudou para o famoso Satyricon, onde comiam peixes e frutos do mar. À mesa, reuniam-se o arquiteto Paulo Casé, Gravatá, o cartunista Chico Caruso, Luiz Veríssimo e, algumas vezes, a atriz Tônia Carrero – sua amiga de toda a vida.

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Millôr no terraço da cobertura de Ipanema, do grande amigo Luiz Gravatá, na inauguração da "praça" em sua homenagem.


Um frasista inigualável Outro amigo, o jornalista Carlos Leonam, relembra um voo que fez com Millôr: “Amigo carinhoso, embora bem mais velho que eu, nossa convivência era bissexta, com encontros aqui e acolá. Mas a maior recordação que tenho dele é de um voo que fizemos juntos, de Lisboa para Milão. O avião deu uma balançada esquisita na decolagem e quando pousou. Depois, Millôr escreveu no quadrado que tinha na Tribuna da Imprensa: ‘Quase morremos, eu e o Leonam, num voo na Europa. Se a gente tivesse morrido, eu teria muito mais a perder. Afinal, Leonam só tinha 23 anos e eu 33.’ Liguei para ele, reclamando das idades a que ele se referia. Millôr disse: ‘Quando você ficar mais velho vai entender o espírito da coisa.’ Hoje, entendo o que ele disse. Numa das últimas vezes em que nos encontramos, eu lembrei da história e dei minha mão à palmatória.” Assim como Leonam, ele era um apaixonado torcedor do Fluminense, e costumava dizer: “Não sou um tricolor doente; sou um Fluminense saudável”. E quando o grande amigo Paulo Francis morreu, Millôr escreveu um dos seus textos mais tocantes – nem por isso menos di-

vertido. “À proporção em que a vida avançava, Francis, fraco e delicado como era, ia sendo assumido por ela (N.R. a doença) e pelas circunstâncias, fingindo sempre o contrário, enfunando o peito, olhando de cima, impostando arrogância. Nos últimos 10 anos, tinha crescido uns 10 centímetros. (…) Diante de alguns de seus acessos – comigo jamais demasiados – eu zombava, parodiando, comicamente, o Horácio final do Hamlet: ‘Dá-lhe sweet prince!’ (…) Tinha, na sua profissão, chegado ao máximo, como repercussão, como compensação, como satisfação. Não podia ir mais longe. ‘Good night, sweet prince!’.” O saite (como ele escrevia) de Millôr ainda está no ar. São nada menos que sete mil páginas para consulta contendo o que ele mesmo definiu em Novo Evangelho: Bíblia do Caos: pensamentos, máximas, preceitos, considerações, raciocínios, ponderações, devaneios, elucubrações, cismas, disparates. E os célebres e primorosos hai-kais, lembra Gravatá. Ele destaca dois para meditação, estão em A Verdadeira História do Paraíso, publicada na seção Pif-Paf, do Cruzeiro, em 1963, e motivaram a saída de Millôr da revista: >>

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ARTE

Responda, amigo: Adão Tinha umbigo? O outro é: Mestre, respeito o Senhor, Mas não a sua Obra. Que paraíso é esse, que tem cobra?

No saite há também a série de hai-kais intitulada Pensa o outro lado. Um deles: Só quem tem fama É difamado. O outro: Espantalho: Juventude demais No país grisalho. Dentre seus livros, Raízes, publicado pelo Instituto Moreira Salles, é um dos mais aclamados. Os desenhos do álbum são do filho Ivan. Mas houve um conselho dado pelo seu professor do Liceu de Artes e Ofícios, onde estudou garoto, que o cáustico e doce Millôr nunca esqueceu. Disse o professor, encantado com o talento do aluno: “Nunca zombe de alguém. A pessoa perdoa que você bata a sua carteira, mas jamais perdoará a zombaria.” O guru (como os amigos o chamavam) Millôr sempre seguiu à risca o conselho. 118 | novembro 2012

Amigos de toda a vida posando para foto "histórica": dentre eles, Luis Fernando Veríssimo, Chico Caruso e Luiz Gravatá.


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MODA

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Diana posa de quimono, para Richard Avedon, em 1977.


Diana em sua casa londrina, em frente ao portrait pintado pelo artista plástico William Acton.

por PAULO PEREIRA / PARIS

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FOTOS DIVULGAÇÃO

m encontro casual de Mme. Carmel Snow, redatora-chefe da Harper’s Bazaar na época, com uma jovem morena vestida de Chanel na pista de dança do hotel St. Regis em 1936, fez nascer o personagem mais importante da imprensa de moda internacional: Mme. Diana Vreeland. Foi ela quem reinventou o cargo de redatora de moda, sempre colocando em evidência o estilo americano e acompanhando os shottings com os fotógrafos. Diana Vreeland dizia que sabia o que as leitoras iam vestir antes mesmo que elas começassem a usar, onde iriam e o que comeriam antes de todo mundo. Com esta certeza, ela criou um mundo fascinante e encantador nos editoriais da revista. O primeiro encontro de Mme. Vreeland com o fotógrafo Richard Avedon quase virou um desastre. Ela estava em sua sala vestindo uma modelo e super emocionada com o resultado do look, tão eufórica que, quando foi colocar o broche, furou a pele da modelo. Ela olhou para Avedon, que estava em frente à porta, e disse, “não é de chorar M. Aberdeen?”, ele saiu da sala e foi direto dizer à redatora-chefe Mme. Carmel Snow que não poderia trabalhar com uma pessoa que não sabia dizer seu nome. Mme. Snow lhe respondeu que iria sim trabalhar com ela, pois era uma artista no que fazia. E foi assim que Avedon trabalhou por quase 40 anos com Mme. Vreeland. >> novembro 2012 | 121


MODA

Diana em poses no estúdio, do artista plástico William Acton.

Na sua vida pessoal existe uma passagem bem interessante. Quando seu marido Reed Vreeland foi trabalhar no Canadá para a corôa britânica, as pessoas diziam que ele tinha encontrado uma amante e decidido viver com ela no país. Dizem inclusive que Diana tenha ido afrontar sua rival e que, quando a encontrou, foi super franca dizendo que ela era linda e jovem, que teria toda a vida para aproveitar, e ela, ao contrário, estaria envelhecendo e só tinha o marido maravilhoso que ela estava tentando tomar. Reed voltou a Nova Iorque, e os dois foram morar no 550 Park Avenue – o apartamento da famosa sala vermelha. Sua saída da Haper’s Bazaar em 1962 foi um tanto quanto premeditada. Nesta mesma época, Sam Newhouse comprou a editora Condé Nast e deu a revista Vogue de presente a sua mulher, que exigiu a contratação da melhor editora-chefe de moda. Os rumores da saída de Diana já circulavam no meio, então, ele a convidou e a contratou como editora-chefe da revista Vogue América em troca de um salário altíssimo, motorista particular e um crédito ilimitado para comprar as roupas que quisesse. Felix Clark, que foi sua secretária de 1964 a 1969, diz que todo mundo era impressionado com a abundância de ideias de Diana. Um dia, chegando ao escritório, ela viu uma nota em cima de sua mesa, escrita por Diana, dizendo para trazerem sapatos de salto com correntes. Ninguém sabia do que se tratava, não existiam sapatos assim no acervo da revista e eles nunca tinham visto Diana usando um deles. >>


Portrait feito por seu amigo, o fot贸grafo David Bailey.

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MODA

O barulho da novidade correu a redação e em seis meses todos os estilistas de sapatos da época lançaram os famosos pares. Seus shottings ficaram conhecidos pelo alto custo de produção, motivo que a levou a ser demitida da Vogue América. Ela mandava os fotógrafos e as modelos para os quatro cantos do mundo, aviões, hotéis, inúmeras assistentes, cabeleireiros e maquiadores, enfim, toda uma equipe que passava, às vezes, 2 noites sem dormir para poder fazer “A foto”. Como foi o caso da modelo Penelope Tree e o fotógrafo David Bailey, que passaram duas noites direto fotografando e quando as fotos chegaram ao escritório de Diana, ela as olhou por um longo tempo, virou-se para o David e disse “são lindas as fotos, pena que não poderei utilizá-las”, ao que ele retrucou inconformado, “por que sua maluca?”. E Diana simplesmente respondeu “a boca não está voluptuosa”. Este é um entre vários exemplos da excentricidade de Mme. Vreeland. No escritório da revista, as assistentes tinham que usar sininhos para que ela soubesse onde elas estavam. Dona de um caráter fortíssimo, quase tirana, mas talentosa e muito à frente de seu tempo, Diana transformou as revistas de moda, que até então eram consideradas banais, em real objeto de desejo, informação e beleza.

Diana em sua famosa sala de jantar toda forrada de seda pura listrada, onde se reunia sempre a elite da época.


Ana Madeira

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A beleza do Clássico com o frescor do contemporâneo O fotógrafo Rogério Cavalcanti registra a visão estética do estilista Rodrigo Rosner, onde ole revive volumes bufantes de outros séculos, em incríveis peças de vanguarda.




Fotografia: Rogério Cavalcanti Beleza: Patrick Pontes – Capa MGT Modelo: Marina Streb – Ford Models Vestido: Rodrigo Rosner


REFÚGIO

Os Preferidos de

COCO CHANEL e LIZ TAYLOR Os hotéis Ritz e Plaza Athenee conquistaram algumas das maiores personalidades da moda e das artes com seu ar clássico e bons serviços.

Referência em elegância: a atmosfera do Ritz de Paris encanta os hóspedes desde o século XIX; ao lado, a Place Vendôme, que concentra as maiores grifes de alta joalheria.


por ROSANE ALBIN FOTOS DIVULGAÇÃO

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Hotel Ritz, de Paris, foi a casa da estilista Coco Chanel durante nada menos que 37 anos. Apesar de ter um apartamento na Rue Cambon, onde recebia os amigos, ela preferia morar lá, pelo conforto, claro, mas também porque a regra entre os funcionários era atender a todos os desejos dos hóspedes, a qualquer custo. Elizabeth Taylor era uma hóspede regular do Plaza Athenee de Nova York, onde chegava a gastar mais de 2.500 dólares por noite só em room service. A atriz fazia festas para os amigos, concedia entrevistas e fechava negócios em sua suíte. Esses dois hotéis são clássicos da elegância e do bom gosto que atraem algumas das mais interessantes e cultas personalidades do mundo, e suas histórias – como não poderiam deixar de ser – têm desde instantes de puro glamour até tragédias que comoveram o mundo.

À bientôt, Ritz Em agosto de 2012, o célebre hotel da Place Vendôme fechou suas portas para uma reforma de 140 milhões de euros que vai durar dois anos: a previsão de reinauguração é para o verão europeu de 2014. Antes de fechar, a revista Vogue dos Estados Unidos fez uma homenagem cheia de glamour ao Ritz. Além de fotografar um elegante ensaio com a modelo Kate Moss, entrevistou várias celebridades do mundo sobre as suas memórias, encontros com outros famosos nos corredores e o tratamento VIP que receberam. A própria Kate contou que dormiu muitas vezes no hotel quando namorava Johnny Depp, que não gostava de ficar hospedado no apartamento parisiense da namorada. O escritor Ernest Hemingway, um dos mais fervorosos habitués do século passado, é o mentor do drinque Bloody Mary, que foi criado no bar a seu pedido. E foi pródigo em elogios. “Quando sonho com o paraíso, o cenário é sempre o Ritz de Paris. No meu sonho, é uma agradável noite de verão. Tomo um par de martinis no bar, do lado da Rue de Cambon. Em seguida, há um maravilhoso jantar sob um castanheiro florido no Petit Jardin. Esse é o jardim em frente ao grill. Depois de alguns brandies, eu caminho até o meu quarto e deslizo numa dessas grandes camas do Ritz.” >>

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REFÚGIO

Além do passional escritor americano, outros grandes nomes da literatura elogiaram o hotel. Marcel Proust e F. Scott Fitzgerald eram hóspedes habituais e citaram o Ritz em seus escritos. E a lista de clientes famosos é extensa: Valentino, Charlie Chaplin, Greta Garbo, Elton John e Eduardo VII, da Grã-Bretanha, são alguns dos nomes. O hotel abriu no dia 1º de junho de 1898, quando o hoteleiro suíço Cesar Ritz transformou os dois prédios − um com fachada voltada para a Place Vendome, outro com fundos para a Rue de Cambon − em um luxuoso hotel. Um longo corredor, chamado de Caminho das Tentações, por causa dos objetos de luxo que exibia, unia as duas alas. O hotel logo atraiu os ricos, famosos e nobres do mundo, e foi pioneiro em instalar banheiro em todos os quartos. A gastronomia também era um ponto fortíssimo desde a abertura: Auguste Escoffier, um dos mais famosos chefs franceses de todos os tempos, comandava o restaurante. Aliás, foi nele que Alex Atala inspirou-se ao batizar seu livro de receitas, chamado Escoffianas Brasileiras (Editora Larousse). Quando reabrir, em 2014, o hotel manterá a escola de gastronomia Ritz Escoffier, que também será remodelada. O dono atual, Al Fayed, comprometeu-se, em um comunicado à imprensa, a fazer a reforma sem arranhar o passado

Clássico autêntico: a piscina em estilo romano é rodeada por colunas.

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glorioso do lugar. Com estilo Belle Époque, torneiras banhadas em ouro, sofisticadas mobílias Luís XV e XVI e uma piscina em estilo romano rodeada de colunas, o hotel ganhará ares mais contemporâneos sob o comando do designer Thierry W. Despont. A família Fayed, aliás, viveu uma tragédia que comoveu o mundo e está ligada à história do hotel. Dodi, filho de Al, e a princesa Diana jantaram no Ritz antes de sair de carro, serem perseguidos por paparazzis e a princesa sofrer o acidente fatal. A apenas uma quadra do Jardin des Tuileries e perto do Louvre, o Ritz com certeza deve grande parte de seu poder de atração à localização privilegiada. A Place Vendôme é um dos endereços mais disputados da capital francesa e talvez tenha a maior concentração de lojas de alta joalheria do planeta. Desde que Fréderic Boucheron instalou-se por lá, em 1893, cinco anos antes de o hotel abrir, a praça não parou mais de receber as mais caras grifes de joias. Chaumopala chegou em 1902, Van Cleef & Arpels em 1906, e hoje a lista é enorme: Breguet, Piaget, Buccellati, Rolex, Mikimoto, Patek Philippe, Hublot, Repossi e Mauboussin, além das butiques de alta joalheria de Dior e Chanel. A inauguração mais recente foi em agosto, quando a Louis Vuitton também abriu sua loja.


Dinheiro velho A localização também é um ponto forte do hotel butique Plaza Athenee de Nova York. Encravado no Upper East Side de Manhattan, na Rua 64, entre as avenidas Madison e Park e a uma quadra e meia da Quinta Avenida e do Central Park, o hotel é o preferido de Pierce Brosnan, o ex-007. “Eu sinto o cheiro de dinheiro velho, e o gosto de dinheiro. Amo as boas coisas da vida”, disse o ator quando justificou sua preferência pelo hotel depois de tentar hospedar-se em outro lugar de Nova York a pedido de sua amiga, Juliane Moore. Ela o convenceu a ficar num endereço mais moderno e fashion do SoHo, mas ele só conseguiu dormir lá por uma noite. >>

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Conforto: a suíte Manhattan, com terraço, tem decoração sóbria e aconchegante.

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Cores quentes: a suíte Premiere e o Bar Seine, que recebe famosos como Robert de Niro.

O charme europeu e a privacidade são um chamariz de famosos em busca de tranquilidade. Elizabeth Taylor e a princesa Diana encontravam a paz de que precisavam em suas penthouses com átrios e vistas de tirar o fôlego. Liz Taylor costumava receber os jornalistas para longas entrevistas e até fechava negócios em sua suíte. Já o Bar Seine, na entrada, é frequentado por atores como Robert de Niro, políticos, vizinhos, executivos e celebridades. Ao contrário da sóbria elegância das suítes, o bar tem uma selvagem decoração em tons africanos e marroquinos. O hotel passou por uma reforma milionária, que teve como destaque a inauguração do spa, em 2010. Ele só recebe hóspedes, uma das regras que permitem ao Plaza Athenee ser um refúgio para quem não quer ser visto, e sim fugir do barulho e do constante movimento da metrópole. E o melhor: se cansar da tranquilidade, dá para ir a pé ao Central Park, ao Whitney Museum, à Bergdorf Goodman e à Bloomingdale’s.

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Qualidade e respeito por vocação.

A próxima cozinha de virar a cabeça pode ser a sua.



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