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CFMV A Revista CFMV é editada quadrimestralmente pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária e destina-se à divulgação de trabalhos técnico-científicos (revisões, artigos de educação continuada, artigos originais) e matérias de interesse da Medicina Veterinária e da Zootecnia. A distribuição é gratuita aos inscritos no Sistema CFMV/CRMVs e aos órgãos públicos. Correspondência e solicitações de números avulsos devem ser enviadas ao Conselho Federal de Medicina Veterinária no seguinte endereço:

SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília–DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 – Fax: (61) 2106-0444 Site: www.cfmv.gov.br – E-mail: cfmv@cfmv.gov.br

A Revista Cfmv é indexada na base de dados Agrobase. Revista CFMV. – v.18, n.55 (2012) Brasília: Conselho Federal de Medicina Veterinária, 2012 Quadrimestral ISSN 1517 – 6959 1. Medicina Veterinária – Brasil – Periódicos. I. Conselho Federal de Medicina Veterinária.

AGRIS L70 CDU619(81)(05)


Sumário 4

Editorial

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Entrevista

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Medicina Veterinária Legal

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Perfil

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Helvécio Miranda Magalhães Júnior

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Suplemento Científico

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Ensino da Medicina Veterinária

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Medicina Preventiva

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Administração Rural

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Publicações

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Agenda

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Opinião

Destaques

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Guilherme Teixeira Goldfeder - Ao especialista estará reservado maior sucesso profissional?


Editorial

A Medicina Veterinária Legal O Regulamento da Profissão Médico Veterinária nos seus capítulos II e XII prevê como atribuição profissional peritagem e o relacionamento com a justiça. A Medicina Veterinária Legal é o conjunto de conhecimentos médicos veterinários destinados a servir ao direito e atuar cooperando na elaboração, auxiliando na interpretação e colaborando na execução dos dispositivos legais no seu campo de ação de medicina veterinária aplicada. Como perito, o médico veterinário aplicará os seus conhecimentos técnico-científicos em procedimentos judiciais e extrajudiciais, elaborando

laudos, informações e pareceres em relação a animais e produtos de origem animal, visando ao estabelecimento da justiça. As principais áreas de atuação do perito médico veterinário são ambiente, alimentos, maus-tratos, clínica, patologia, avaliação de rebanhos, seguro animal, saúde pública, bemestar e proteção animal. Nossa reportagem principal aborda temas relacionados ao ensino da especialidade e fornece dados sobre a forma de elaboração de laudos periciais, enfatizando a relação do profissional com a justiça.

ERRATA: Matéria: Biodiversidade, Saúde Ambiental e o Médico Veterinário, nº 54, pág. 10, está correto: Durante a “Rio92” foram elaborados o Documento do Rio ou Carta da Terra, assinado pelos chefes de Estados presentes ao evento, e a Agenda 21 (plano de ações para mudança do modelo de desenvolvimento e recuperação ambiental do Planeta).

EXPEDIENTE CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília–DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br

Conselheiros Efetivos Adeilton Ricardo da Silva

Tiragem: 90.000 exemplares

Nordman Wall Barbosa de Carvalho Filho

DIRETORIA EXECUTIVA Presidente

Benedito Fortes de Arruda CRMV-GO nº 0272 Vice-Presidente

Eduardo Luiz Silva Costa CRMV-SE nº 0037 Secretário-Geral

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk CRMV-PR nº 0850 Tesoureiro

Amilson Pereira Said CRMV-ES nº 0093

CRMV-RO nº 002/Z

José Saraiva Neves CRMV-PB nº 0237

Marcello Rodrigues da Roza CRMV-DF nº 0594

CRMV-MA nº 0454

CONSELHO EDITORIAL Presidente

Eduardo Luiz Silva Costa CRMV-SE nº 0037

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk CRMV-PR nº 0850

Amilson Pereira Said CRMV-ES nº 0093

Editor Ricardo Junqueira Del Carlo

Raul José Silva Girio

CRMV-MG nº 1759

CRMV-SP nº 2236

Jornalistas Responsáveis Flávia Tonin

Conselheiros Suplentes Francisco Pereira Ramos

MTB nº 039263/SP

CRMV-TO nº 0019

Flávia Lobo

João Esteves Neto

MTB nº 4.821/DF

CRMV-AC nº 0007

José Helton Martins de Sousa CRMV-RN nº 0154

Fred Júlio Costa Monteiro

Projeto e Diagramação Duo Design Comunicação Impressão Gráfica Editora Pallotti

CRMV-AP nº 0073

Heitor David Medeiros CRMV-MT nº 0951

Nivaldo de Azevedo Costa CRMV-PE nº 1051

OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE INTEIRA RESPONSABILIDADE DOS AUTORES, NÃO REPRESENTANDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DO CFMV.

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Entrevista

HELVÉCIO MIRANDA MAGALHÃES JÚNIOR Possui graduação em Medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (1985), especialização em Epidemiologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (1994), doutorado em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (2005) e residência médica pelo Instituto de Previdência dos Servidores do Estado de Minas Gerais (1987). Possui experiência na gestão de atividades e projetos de saúde pública no estado de Minas Gerais e no município de Belo Horizonte. Entre 2007 e 2009, presidiu o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems). Desde janeiro de 2011 é Secretário de Atenção à Saúde do Ministério da Saúde.

1. O que são os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (Nasf) e como são constituídos? Os Núcleos de Saúde da Família são equipes multiprofissionais, vinculadas a um conjunto de equipes de Saúde da Família, cujo objetivo é ampliar a capacidade clínica e sanitária das Equipes de Saúde da Família (ESF), especialmente pela prática do apoio matricial em saúde, que objetiva assegurar retaguarda especializada às equipes e profissionais encarregados da atenção a problemas de saúde. 2. Quais os critérios para implementação de um Nasf? Qual a origem dos recursos financeiros? Os critérios anteriores limitavam muito os municípios que podiam contar com esse importante Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

elemento de qualificação da saúde da família, por isso, já pactuamos novos critérios nos quais qualquer município que tenha mais que duas ESFs poderá ter um Nasf, chegando a mais de 4.400 municípios do Brasil. Os recursos federais destinados ao financiamento dos Nasfs são oriundos do Bloco de Financiamento da Atenção Básica, que é uma prioridade desta gestão. O Ministério da Saúde repassa recursos aos estados e municípios, por meio do Fundo Nacional de Saúde (que é o órgão que atua como gestor financeiro, na esfera federal, dos recursos do SUS) aos fundos estaduais ou municipais de saúde, para financiamento de ações. Esses recursos são divididos por blocos. Os Nasfs recebem recursos do bloco da Atenção Básica, que

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Entrevista

Áreas com alta prevalência de zoonoses e áreas rurais são exemplos de lugares potenciais de inserção do veterinário

também engloba os recursos para os programas como Saúde da Família, Agentes Comunitários de Saúde, Saúde Bucal, entre outros. 3. Como é atualmente e como será definida a ampliação das especialidades profissionais que poderão passar a atuar nos Nasfs? O que mudará na nova Política Nacional de Atenção Básica? Atualmente, a maior parte das profissões de saúde e algumas especialidades médicas podem estar inseridas nos Nasfs. A nova política, lançada em setembro de 2011, prevê a possibilidade, mas não a obrigatoriedade, de ampliar e incluir geriatra, médico do trabalho, clínico (internista), sanitarista, médico veterinário e arte-educador nos Nasfs, além de manter os outros que já podem fazer parte. 4. Qual a contribuição que se espera do Médico Veterinário após sua inclusão como membro da equipe? Espera-se que o veterinário, quando a sua presença for indicada, ajude a ampliar a capacidade da Atenção Básica na identificação e intervenção sobre riscos associados (direta ou indiretamente) à presença de animais nos territórios, nas chamadas Zoonoses, além de sua participação nos processos de saúde coletiva. 5. Como se dará a inclusão do profissional Médico Veterinário? Assim como os outros profissionais, é importante que o veterinário seja incorporado nos Nasfs em locais onde há evidente necessidade dessa profissão, não sendo necessário em todos os contextos. Áreas com alta prevalência de zoonoses e áreas rurais são exemplos de lugares potenciais de inserção do veterinário. 6. No que se refere à prevenção e vigilância das zoonoses, aquelas de importância para a saúde pública estão integradas com a atenção básica? Sim. Fazem parte do escopo de ações da Atenção Básica, dentre outras, as práticas de vigilância,

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tanto individuais quanto coletivas, sempre sintonizadas com as características de cada território. 7. Como o Ministério tem atuado nas questões estratégicas para a eliminação da raiva humana transmitida por cão em todo o território brasileiro? A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, disponibiliza nas unidades de saúde/hospitais a vacina antirrábica humana e o soro antirrábico para os 5.564 municípios. Além disso, o Sistema Único de Saúde oferta atendimento pela rede básica da saúde em 100% das pessoas acidentadas por agressões de animais suspeito - doentes (raiva); disponibiliza a vacina antirrábica animal para os Estados e Municípios para realização de campanha anual de vacinação em animais (cães e gatos); tem pactuação com os municípios para o cumprimento de cobertura vacinal canina acima de 80%; tem pactuação com os municípios para o monitoramento da circulação viral por meio do envio de amostras do sistema nervoso central de cães para diagnóstico de raiva; faz a investigação epidemiológica e bloqueio de foco em casos de raiva animal (animais domésticos), em até 72 horas; disponibiliza informações sobre prevenção, vigilância e controle da raiva disponíveis no site do Ministério da Saúde: www.saude.gov.br/svs e publicou a revista Sesinho com o tema “ Controle a Raiva”, com distribuição nacional. 8. Que políticas o Ministério tem implantado em relação às funções dos Centros de Controle de Zoonoses? A Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, vem conduzindo o processo de reesturturação das políticas de vigilância das zoonoses, visando normatizar as ações operacionais, não só dos Centros de Controle de Zoonoses (CCZs), canis municipais e Centros de Vigilância Ambiental (CVAs), mas de forma geral dos serviços de vigilância e controle das zoonoses, doenças transmitidas por vetores, agravos causados por animais peçonhentos e agravos de risco de transmissão de zoonoses. Da mesma forma, o processo visa à normatização da estruturação física dessas unidades. Atualmente, o processo se encontra em fase final de discussão, visando à publicação de uma normatização, bem como de manuais operacionais e de estruturação física. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Medicina Veterinária LegaL

O Ensino de Medicina Veterinária Legal no Brasil Introdução Medicina Veterinária Legal é uma especialidade que usa conhecimentos médico-veterinários para esclarecer questões do mundo jurídico (Merck, 2007; Munro e Munro, 2008; Marlet, 2011). A utilização dos conhecimentos médico-veterinários em questões judiciais não é, como se imagina, recente. No Brasil, ela está prevista na legislação de forma expressa desde 1933, quando o exercício da profissão Médico Veterinária foi regulamentado pelo Decreto nº. 23.133, de 09 de setembro de 1933. Nessa ocasião, tal decreto estabeleceu como função privativa do médico veterinário a realização de perícias em questões judiciais em que animais estejam envolvidos (Decreto nº. 23.133/33, artigo 11, b). Essa matéria foi ampliada e publicada em forma de Lei, a de nº. 5517, de 23 de outubro de 1968 (Quadro 1). Desde então, o uso dos conhecimentos médico-veterinários pela Justiça aumentou paulatinamente, passando a ser aplicado em questões relacionadas à saúde pública, à defesa do consumidor, à defesa da fauna, entre outras. Nos anos 1980, a demanda por exames periciais direcionados às Instituições de Ensino Superior (IES), particularmente à FMVZ/Unesp Botucatu, havia crescido tanto que o Prof. Dr. Enio Pedone Bandarra percebeu a necessidade de reunir em uma única disciplina os conhecimentos médico-veterinários e os conhecimentos jurídicos, necessários à realização de perícias. Assim, em 1989, o visionário Dr. Bandarra criou a disciplina Medicina Legal Veterinária, ministrada pela primeira vez na Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Estadual Paulista, em Botucatu. Ele também deu grande contribuição para o desenvolvimento da Patologia Forense (Bandarra e Sequeira, 1999a, b). De fato, nesse núcleo foram formados diversos pesquisadres e professores universitários que vêm ampliando esse tema nas mais variadas IES espalhadas pelo Brasil. Também em São Paulo, o Instituto de Medicina Social e Criminologia (Imesc), sentindo a carência de peritos médicos veterinários, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

Quadro 1 Lei nº. 5517, de 23 de outubro de 1968 99 trata do exercício da profissão do Médico Veterinário; 99 estabelece competência legal para o médico veterinário realizar perícias em: animais, identificação, defeitos, vícios, doenças, acidentes e exames técnicos em questões judiciais; perícias, exames e pesquisas reveladoras de fraudes ou operações dolosas em animais inscritos em competições desportivas e em exposições pecuárias; perícias para fins administrativos, de crédito e de seguro; exames tecnológicos e sanitários em produtos industriais de origem animal.

especialmente na área cível, promoveu os primeiros cursos para essa área, sob a coordenação do renomado Prof. Dr. José Maria Marlet, em 1996. Esse curso repetiu-se em 1997 e em 2000, nesse último em parceria com o CRMV-SP. O Conselho Nacional de Educação (CNE), por meio da Câmara de Educação Superior, lança mão da Resolução CNE/CES nº 1, de 18 de fevereiro de 2003,

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Medicina Veterinária LegaL na qual prevê as Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em MedicinaVeterinária. Nessa, tendo em vista o disposto no art. 9º, do § 2º, alínea c, da Lei nº 9.131, de 25 de novembro de 1995, e com fundamento no Parecer CNE/CES nº 105/2002, homologado em 9 de abril de 2002, estabelece como medida a ser implantada “o ensino de Medicina Veterinária Legal”, devido ao fato de ser necessário a esse profissional possuir habilidade para realização de Perícias (Quadro 2) CNE-2003.

Quadro 2 RESOLUÇÃO CNE/CES nº1, 18 de fevereiro de 2003. Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Medicina Veterinária Art. 4º A formação do Médico Veterinário tem por objetivo dotar o profissional dos conhecimentos para desenvolver ações e resultados (...) além das seguintes competências e habilidades gerais: XI - realizar perícias, elaborar e interpretar laudos técnicos em todos os campos de conhecimento da Medicina Veterinária; XIII - relacionar-se com os diversos segmentos sociais e atuar em equipes multidisciplinares na defesa e vigilância do ambiente e do bem-estar social;

A Disciplina Medicina Veterinária Legal A disciplina Medicina Veterinária Legal tem por objetivos a abordagem dos aspectos básicos de legislação, além de mostrar as áreas de atuação da Medicina Veterinária Legal, além capacitar o profissional para nela atuar. O programa dessa disciplina deve contemplar conteúdo curricular que inclua: noções de Direito e Criminalística; Identificação e genealogia; Avaliação e identificação de animais e rebanhos; Verificação de parentesco; Tanatologia e Traumatologia Forense; Patologia Forense; Toxicologia Forense; Exames laboratoriais em perícias; Identificação de fraudes e imperícias; Arbitragem de valores e custos de produção pecuária; Inventários; Normas relativas aos produtos de origem animal e funcionamento de estabelecimentos veterinários e correlatos; Normas relativas à produção, testes, armazenamento, comercialização e controle de medicamentos de uso animal; Legislação e exames de determinação de resíduos de medicamentos em produtos de origem animal; Normas relativas ao

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trânsito nacional e internacional de animais; Tráfico internacional de animais; Maus-tratos aos animais e danos ao meio ambiente; Realização de exames periciais por Médicos Veterinários; Elaboração de laudos, pareceres técnicos e demais documentos judiciais e Ética em Perícias (Maiorka, et al. 2007).

Especialista em Medicina Veterinária Legal O CFMV adota o seguinte conceito de especialista: “especialista” é o profissional que se consagra com particular interesse e cuidado a certo estudo; pessoa que se dedica a um ramo de sua profissão, com habilidade ou prática especial em determinada coisa; conhecedor; perito” (CME, 2008a, p. 62). O desenvolvimento da Medicina Veterinária Legal em todo o País levou o Conselho Federal de Medicina Veterinária, em 2003, a estabelecer a Medicina Veterinária Legal como uma nova especialidade (Resoluções CFMV nº. 756, de 17 de outubro de 20031).

O Exercício da Medicina Veterinária Legal O exercício da Medicina Veterinária Legal ocorre durante a realização de pesquisas, perícias e pareceres e geralmente as pesquisas são realizadas nas IES. Quanto às perícias e pareceres, o médico veterinário atua segundo os conhecimentos que possui e na forma em que é chamado a participar de um processo judicial.

O Conhecimento Especializado Para que o médico veterinário atue em processos judiciais, ele deve comprovar que possui os conhecimentos inerentes à sua profissão, advindos do curso de graduação, por meio da apresentação de seu registro profissional junto ao Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV). Existem, no entanto, casos em que os conhecimentos advindos da graduação não são suficientes para auxiliar na solução da questão judicial que se apresenta. Nessa hipótese, é preciso que o médico veterinário seja um especialista na área de conhecimento da matéria em questão (CME, 2008a, b). A partir de 2009, o médico veterinário comprova que é um especialista na área, por meio de seu registro de especialista no CFMV, de acordo com a Resolução CFMV nº 935. Detendo os conhecimentos necessários para auxiliar na solução da questão judicial, o médico veterinário pode ser chamado a participar no processo como perito ou como assistente técnico. Ele atua como perito quando é chamado ao processo pelo Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


juiz ou autoridade policial, e atua como assistente técnico quando é contratado por uma das partes envolvidas no processo.

O Perito Médico Veterinário Perito é um auxiliar da Justiça, devidamente compromissado, estranho às partes, portador de um conhecimento técnico altamente especializado e sem impedimentos ou incompatibilidades para atuar no processo (Aranha, 2004). Existem dois tipos de peritos: os peritos oficiais e os peritos louvados (São Paulo, 2007). A principal diferença entre os peritos oficiais e louvados é o vínculo empregatício com o Estado. O Estado tem a missão de disponibilizar um conjunto de peritos para atuar na esfera penal. Esse conjunto de peritos está reunido em um órgão oficial de perícia, o Instituto de Criminalística. Para integrar-se a ele, o médico veterinário, assim como qualquer cidadão que possui nível universitário, deve submeter-se a um concurso público e, se aprovado, torna-se um servidor público que exerce cargo e função de perito oficial (Aranha, 2004). Há, ainda, a figura do Médico Legista, que também adentra a carreira via concurso público, sendo essa atividade exclusiva aos Médicos que realizam atividades junto ao Instituto Médico Legal (IML). Ainda inexiste esta figura na Medicina Veterinária, sendo os exames necroscópicos, em sua grande maioria, realizados em IES, ou laboratórios privados. Ocorre que, em razão da grande demanda de exames periciais e do contínuo desenvolvimento da ciência, nem sempre o Instituto de Criminalística pode atender às requisições de exame, por não possuir peritos oficiais capacitados ou equipamentos suficientes para realizar a perícia. Nesses casos, a legislação penal prevê a nomeação de peritos louvados para atuarem no caso (CPP, artigo 159, § 1º)2. A nomeação de médicos veterinários como peritos louvados na esfera penal é relevante, posto que ela supre grave deficiência do Instituto de Criminalística na área de perícias médico legais veterinárias. A despeito da importância da atuação do médico veterinário como perito louvado na esfera penal, não há forma de o representante do Estado (Juiz de Direito ou Delegado de Polícia) que requisita a perícia, remunerar esse profissional. Por esse motivo, muitas vezes as requisições de exames periciais são direcionadas a outras instituições governamentais, tais como faculdades e órgãos especializados; mas, especialmente longe dos grandes centros, em que o acesso a essas insRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

tituições é difícil, muitas vezes as requisições de exames são direcionadas a clínicas e hospitais veterinários particulares. Vale ressaltar que o médico veterinário não pode deixar de realizar o exame pericial requisitado na esfera penal, a não ser que apresente uma forte razão para tanto (artigos 277 e 278 do CPP3). Na esfera judicial civil a situação é diferente. O juiz nomeia o médico veterinário para atuar como perito louvado e o remunera por esse trabalho (CPC, artigo 33)4. Independentemente da esfera judicial, penal ou civil em que o médico veterinário atue como perito, é fundamental que ele trabalhe de forma ética e imparcial para que o juiz possa fundamentar sua sentença no laudo pericial (Aranha, 2004). Essa matéria é abordada e se encontra expressa no Código de Ética da profissão, publicado na Resolução CFMV nº 722, de 16 de agosto de 2002, sendo encontrada no Capítulo XII – Das Relações com a Justiça (Quadro 3). Ademais, para que o juiz fundamente a sentença judicial no laudo pericial do médico veterinário, é necessário que ele confie nos resultados e conclusões apresentadas nesse documento judicial. Essa confiança e fé pública emanam do registro do profissional no sistema CRMV-CFMV.

Quadro 3 RESOLUÇÃO CFMV nº 722, de 16 de agosto de 2002 Capítulo XII - Das Relações com a Justiça: O médico veterinário na função de perito deve guardar segredo profissional, sendo-lhe vedado: I - deixar de atuar com absoluta isenção, quando designado para servir como perito ou auditor, assim como ultrapassar os limites das suas atribuições; II - ser perito de cliente, familiar ou de qualquer pessoa cujas relações influam em seu trabalho; III - intervir, quando em função de auditor ou perito, nos atos profissionais de outro médico veterinário, ou fazer qualquer apreciação em presença do interessado, devendo restringir suas observações ao relatório.

Os Conselhos Federal e Regionais de Medicina Veterinária constituem uma autarquia que “têm por finalidade orientar e fiscalizar o exercício da profissão de médico veterinário em todo o território nacional” (artigo 13, caput, do Regulamento da Profissão do Médico Veterinário e dos Conselhos

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Medicina Veterinária LegaL de Medicina Veterinária, aprovado pelo Decreto nº 64.704, de 17 de junho de 1969). O registro profissional ou de especialista no CRMV indica que o médico veterinário está sob o manto da regulamentação do CFMV, fato que confere segurança ao juiz para utilizar o laudo como prova.

Assistente técnico médico veterinário Para atuar como assistente técnico em um processo judicial, o médico veterinário deve ser contratado por uma das partes envolvidas no processo. Sua função é acompanhar o processo e realizar trabalhos e pesquisas úteis à comprovação das alegações da parte contratante (Aranha, 2004; Marlet, 2009). Sendo assim, o assistente técnico deve ser uma pessoa de confiança de seu contratante. O assistente técnico não precisa ter compromisso com a imparcialidade, como ocorre com o perito. No entanto, a parcialidade do trabalho realizado por esse profissional não o libera de sua obrigação de atuar dentro dos limites impostos pelo Código de Ética Profissional (Resolução CFMV nº 722).

Considerações finais A Medicina Veterinária Legal é uma especialidade que muito contribui com a sociedade, pois disponibiliza os conhecimentos médico - veterinários à Justiça, ao mesmo tempo em que oferece novas oportunidades ao profissional. Os avanços da ciência e o desenvolvimento de especialidades exigem o aperfeiçoamento constante. A isso se soma também o fato do aumento constante de demandas judiciais envolvendo animais, bem como os

profissionais que atuam nesta área. Esse conjunto de circunstâncias permite concluir que há necessidade de formação específica desses profissionais para atender a essas demandas sociais. Outro fato de extrema relevância é a necessidade de formação docente adequada para introduzir e difundir o ensino da matéria em todo o território nacional. Esse é um ponto a ser explorado e normatizado em um futuro próximo. Na atualidade, a relação homem x animal, especialmente em relação aos animais de companhia, tem modificado os conceitos de ética em relação à constatação de maus-tratos contra essas espécies. O tratamento adequado dessas questões exige conhecimentos específicos e estudos que apontem soluções para essa problemática (Marlet e Maiorka, 2010). Da mesma forma em relação aos animais de produção, selvagens, exóticos e em relação ao meio ambiente (Marlet, 2011). No contexto de Um mundo uma Saúde, o Médico Veterinário a cada dia assume um papel de maior relevância. A importante atuação pode ser vista em saúde pública, pela perícia em produtos de origem animal e vigilância sanitária (Palermo-Neto, 2003). Assim como em perícias ligadas aos crimes contra a fauna (Oliveira, 2003). Nessa situação, a atuação do Médico Veterinário, quer seja no combate aos crimes contra animais selvagens, ou aos danos ao meio ambiente, é um vasto campo a ser explorado (Marlet, 2009). Por tudo que foi exposto, torna-se evidente que essas atividades desenvolvidas pelos Médicos Veterinários nessa especialidade tem um papel de suma importância, com realização de perícias que fundamentam a ação da Justiça.

Notas 1. A Resolução CFMV nº 756, de 17 de outubro de 2003, foi revogada pela Resolução CFMV nº 935, de 10 de dezembro de 2009. 2. Código de Processo Penal, artigo 159 do CPP. “O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. § 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame”. 3. Código de Processo Penal, artigo 277. “O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível. Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada imediatamente: a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade; b) não comparecer no dia e local designados para o exame; c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos.” Código de Processo Penal, artigo 278. “No caso de nãocomparecimento do perito, sem justa causa, a autoridade poderá determinar a sua condução.” 4. Código de Processo Civil, artigo. 33. “Cada parte pagará a remuneração do assistente técnico que houver indicado; a do perito será paga pela parte que houver requerido o exame, ou pelo autor, quando requerido por ambas as partes ou determinado de ofício pelo juiz. Parágrafo único - O juiz poderá determinar que a parte responsável pelo pagamento dos honorários do perito deposite em juízo o valor correspondente a essa remuneração. O numerário, recolhido em depósito bancário à ordem do juízo e com correção monetária, será entregue ao perito após a apresentação do laudo, facultada a sua liberação parcial, quando necessária.”

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Dados dos Autores

Paulo César Maiorka

Médico Veterinário, CRMV-SP 6928; Professor Livre Docente; Membro da Comissão Nacional de Ensino de Medicina Veterinária – CFMV; Departamento de Patologia – FMVZ /USP.

Endereço de correspondência: Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87, Cidade Universitária São Paulo /SP - Brasil CEP: 05508-270 Fone: 55(11)3091-1375 Fax: 55 (11)3091-7829 E-mail: maiorka@usp.br

Elza Fernandes Marlet

Médica Veterinária, CRMV-SP 5765; Bacharel em Direito; Doutora em Patologia Experimental e Comparada – FMVZ/USP; Perita Criminal e Professora de Criminalística do Instituto de Criminalística – Superintendência da Polícia Técnico-Científica do Estado de São Paulo E-mail: emarlet@bol.com.br

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Medicina Veterinária LegaL

Elaboração de Laudo Pericial em Medicina Veterinária Introdução A perícia é um exame realizado por um especialista, com vistas ao fornecimento de subsídios técnicos e científicos que sirvam como prova e elemento de convicção para o Juiz, o Promotor, o Delegado de Polícia e os Advogados (França, 2008), que possibilita à Justiça fundamentar a decisão a ser tomada com base em avaliação criteriosa, elaborada por indivíduo capacitado, de conduta ilibada e com fé pública. Esse documento oficial deve prover as conclusões do perito sobre a perícia levada a efeito, procedidas da sua respectiva fundamentação. Segundo Marques (2000) o perito“responderá aos quesitos das partes e do Juiz, com o que atingirá a perícia os seus fins e objetivos”. Com a crescente demanda por perícias que envolvem animais, a saúde pública, ou o meio ambiente (Marlet, 2009; Sampaio, 2010), o Médico Veterinário vem sendo solicitado inúmeras vezes a prestar perícias, as quais estão previstas na Lei nº 5.517, de 23 de outubro de 1968. Em situações de maus-tratos, – o que vem sendo bastante debatidas na sociedade atualmente – onde acontece o ferimento ou a morte de animais, a participação dos Médicos Veterinários é essencial e está garantida por força de Lei. Assim como em situações em que há suspeita de erro médico, ou de erro de procedimento, em que animais estejam envolvidos a perícia por veterinário é indispensável (Marlet, 2011).

Laudo Pericial e Parecer Técnico O laudo pericial e o parecer técnico são documentos utilizados como forma de diálogo entre o Médico

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Veterinário e a Justiça. Por esse motivo, eles devem ser redigidos em linguagem formal, utilizando, quando necessário, termos técnicos apropriados, de modo que seu conteúdo seja facilmente compreendido pelo leitor. O laudo pericial difere do parecer técnico pelas formalidades estabelecidas pelo Código de Processo Penal (CPP) para cada um deles1. Há mais formalidades estabelecidas para o laudo pericial que para o parecer técnico, por esse motivo, trataremos especificamente da redação de laudos, e os critérios adotados para eles poderão ser adaptados para a redação de pareceres.

Redação de laudos Laudo pericial é um documento oficial, elaborado por um ou mais peritos, em que deve estar descrito detalhadamente tudo o que foi examinado, os resultados obtidos, as conclusões a que chegaram, e a resposta aos quesitos formulados (Mirabete, 2008; artigo 160, caput, do CPP). O laudo tem por finalidade fornecer subsídios científicos, técnicos e artísticos, que servem como elementos de convicção para as autoridades policiais e judiciárias acerca do fato ocorrido; daí a necessidade de que as informações nele contidas sejam claras e devidamente fundamentadas (Tochetto, 2010). A clareza e a adequada fundamentação das informações apresentadas no laudo conferem a ele a credibilidade necessária para que seja aproveitado como meio de prova pela Justiça (Aranha, 2004; Capez, 2005). O valor do laudo Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


pericial como meio de prova decorre em grande parte do fato de ele ser baseado em conhecimentos técnicos, artísticos e científicos (Espíndula, 2007). O perito também deve colher e trabalhar os dados utilizando metodologia adequada. A principal diferença entre o trabalho do perito e do pesquisador é o fato de o perito não escolher o tema, e nem a abrangência do estudo que ele deve realizar. Reis (2005) preconiza o planejamento das ações a serem desenvolvidas durante a perícia, mediante o estudo prévio do caso e o estabelecimento de condutas, baseadas em métodos científicos que induzam a um raciocínio sistemático, tal qual ocorre com a pesquisa científica. A adoção dos métodos científicos na elaboração de perícias demonstra um trabalho criterioso do perito, o que confere credibilidade ao laudo pericial, tanto frente à Justiça, como frente à comunidade científica (Marlet, 2011). Ainda segundo Reis (2005), a verdade e a justiça são alcançadas por meio da ciência. Sendo assim, a normatização dos laudos periciais pode aumentar a credibilidade do documento, uma vez que facilita a compreensão do caminho adotado pelo perito para chegar à conclusão de seu exame, bem como facilita ao perito a escolha do modo como ele pode apresentar as informações em seu laudo.

Necessidade de normatização de laudos A normatização visa apresentar de forma clara e eficiente os laudos periciais médico-veterinários a serem utilizados pela Justiça, mas não como uma armadura rígida que impeça os movimentos criativos de seu autor, mas de modo a facilitar o diálogo entre o médico veterinário, a polícia e a Justiça (CREMESP; 2008; Tochetto, 2010). Há grande variedade de casos médico-veterinários legais, que ensejam laudos periciais com conteúdos bastante distintos, como nos casos de um laudo necroscópico, ou mesmo de um laudo de identificação animal ou de um produto de origem animal. Cada tipo de exame pericial enseja uma forma de laudo a ser normatizada de acordo com as necessidades específicas do caso. Este artigo aborda um tipo específico de laudo pericial: o laudo de exame necroscópico relacionado a crimes contra a fauna. No entanto, os critérios aqui apontados podem servir como ponto de partida para a redação de laudos de outras modalidades de exames periciais médico-veterinários legais. Essa abordagem não pode, contudo, prescindir da exposição do posicionamento do Instituto Médico Legal a respeito da normatização de laudos, uma vez Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

que há longa data ele discute o tema (CREMESP, 2008), bem como do Instituto de Criminalística, órgão oficial responsável pela elaboração de perícias criminais (CPP, artigo 159), e do Departamento de Patologia da FMVZ/USP, responsável pela realização inúmeras necropsias por solicitação judicial.

Posicionamento do Instituto Médico Legal A Medicina Legal está presente no Brasil desde o período colonial, mas como no final do século XIX ainda não havia peritos oficiais para auxiliar a Justiça, as perícias eram elaboradas por médicos nomeados que muitas vezes não eram especialistas na área, ocasionando a emissão de laudos imperfeitos. Em vista dessa situação, o governo federal publicou o Decreto nº. 4.864, de 15/6/1903, que estabelecia normas para a conclusão de laudos de perícias médicas e sugeria a adoção de um protocolo para a realização de exames necroscópicos semelhante ao protocolo estabelecido por Rudolf Virchov, renomado patologista. O valor dessas normas foi reconhecido publicamente por nomes de grande importância, como de Locard 2 e Lombroso3 (Marlet, 1995), mas elas ainda não foram suficientes para resolver o problema da emissão de laudos médicos imperfeitos, o que levou à edição do Decreto nº. 6.440, de 30 de março de 1907, que adequava o protocolo de exames necroscópicos (Ancillotti e Prestes, 2009). Em São Paulo, o Instituto Médico Legal (IML) foi criado oficialmente em 1886, por meio da Lei nº. 18, de 7 de abril de 1886 (CREMESP, 2008; Ancillotti; Prestes, 2009). Após uma série de mudanças, o IML passou a integrar a Superintendência da Polícia Técnico-Científica (SPTC) em 1998 (CREMESP, 2008). Ao ser integrado à SPTC, o IML passou a ser administrado por médicos legistas que fizeram um diagnóstico preciso da situação das perícias médicas no Estado de São Paulo: ainda não havia uma orientação técnica uniforme para a realização das perícias médicas. Sendo assim, em cada região do estado, os médicos legistas fundamentavam seus laudos em literatura científica distinta, o que resultava em laudos distintos para cada região. Ficou evidente a necessidade de normatização dos procedimentos periciais médico legais (CREMESP, 2008). Sensível à demanda dos próprios médicos legistas pela normatização de procedimentos, o Conselho Regional de Medicina (Cremesp), por meio de sua Câmara Técnica de Medicina Legal, em parceria com os peritos oficiais do Instituto Médico Legal de São Paulo elaborou o Manual Técnico-operacional para os

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Medicina Veterinária LegaL Médicos-Legistas do Estado de São Paulo, editado em 2008. Esse manual tem por objetivos normatizar tanto os procedimentos como a linguagem utilizada nos laudos, a fim de melhorar a comunicação dos médicos legistas entre si, e desses com a polícia e a Justiça. Vale, porém, destacar que a normatização de procedimentos e linguagem esbarrou em divergências conceituais de autores distintos.

Posicionamento do Instituto de Criminalística O Instituto de Criminalística “Perito Criminal Dr. Octávio Eduardo de Brito Alvarenga” (IC) da Superintendência da Polícia Técnico-Científica de São Paulo, atento à qualidade de seus laudos, elaborou manuais de procedimentos a fim de orientar os peritos criminais de todo o Estado de São Paulo, nas diferentes áreas. Esses manuais de procedimentos foram estabelecidos por diretores de núcleos do IC e pela Comissão de Planejamento Estratégico do Ceap, a partir de normas e técnicas consagradas pela Criminalística brasileira (Moraes e Monteiro, 2005; CEAP, 2009). Os procedimentos preconizados abrangem desde o exame pericial, registro de dados e coleta de amostras até a elaboração de laudos periciais. Não é possível ao Instituto de Criminalística adotar um único modelo padrão de laudo, devido à imensa variedade de perícias que elabora; mesmo entre as perícias de um mesmo tipo, como no caso do atendimento de locais de crime contra a pessoa ou de acidentes de trânsito, existe grande variedade de situações e dados a serem registrados e relatados no laudo pericial. Alguns tipos de perícia, como as realizadas em laboratórios, que adotam uma metodologia mais uniforme em seus exames, a normatização dos laudos é uma tarefa mais simples (Espíndula, 2007; Monteiro e Moraes, 2005; CEAP, 2009). Mesmo não sendo possível a adoção de um modelo rígido para a elaboração de laudos, posto que não existem dois exames periciais absolutamente iguais, os manuais de procedimentos disponibilizados pelo IC oferecem rico subsídio para todos os peritos criminais do Estado, cada um em sua região e área de atuação (Monteiro e Moraes, 2005; CEAP, 2009). Diversos autores da Criminalística propõem modelos de laudos dividindo-os em partes a fim de facilitar a apresentação de seu conteúdo. Não há consenso quanto à melhor forma de se apresentar o laudo. Mas há consenso quanto à necessidade de o laudo ser claro, preciso e coerente (Monteiro e Moraes, 2005). Sendo assim, a normatização de laudos, em qualquer

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área, deve procurar distribuir seu conteúdo de modo a torná-lo claro, preciso e coerente. As perícias que envolvem animais vêm sendo mais solicitadas a cada dia a esse órgão, por isso há necessidade de os laudos médico-veterinário também seguirem uma metodologia clara e normatização.

Posicionamento do Departamento de Patologia da FMVZ/USP A FMVZ/USP conta com um serviço de necropsia desde os primórdios de sua criação. Seus primeiros registros datam de 1936; atualmente, esse serviço é denominado Serviço de Patologia Animal e funciona no Departamento de Patologia. Os exames necroscópicos realizados pelo serviço são requisitados a partir do Hospital Veterinário da instituição, clínicas veterinárias particulares, e por parte da Polícia Civil, entre outros. Estudo recente demonstra que grande parte desses foi solicitada pela Justiça e estão relacionados a casos de crimes de maus-tratos (Marlet & Maiorka, 2010). Os casos relacionados aos crimes de maustratos a animais têm crescido em importância e visibilidade, em função do desenvolvimento da legislação e do clamor social para a coibição dessa modalidade de crime (Marlet & Maiorka, 2010; Merck, 2007). Contudo, o aproveitamento dos laudos de exames periciais pela polícia e a Justiça depende do atendimento a formalidades legais (CPP, Livro I, Título VII, Capítulo II), e de apresentarem informações de forma clara para leitores com qualquer tipo de formação acadêmica, e não apenas para outros médicos veterinários (Reis, 2005; CREMESP, 2008). A normatização dos laudos necroscópicos de animais pode evitar a omissão de formalidades legais, bem como adequar o conteúdo e a linguagem do laudo à sua principal finalidade: fornecer subsídios científicos que sirvam como elementos de convicção para a polícia e a Justiça acerca do fato ocorrido (Tochetto, 2010).

Redação de laudo pericial de exame necroscópico Ao iniciar a elaboração de um laudo pericial, há que se ter em mente que ele é um documento destinado à esfera judiciária, e deve atender às formalidades estabelecidas pela lei. Diferente de um resultado de exame laboratorial que se destina à prática médica, o laudo é um termo empregado especificamente para a esfera judicial. Na esfera judiciária penal, os dispositivos legais que tratam da elaboração de laudos são Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


os artigos 159, § 1º4; 1605, 1656, 1707, 1768, 1809 e 18110 do Código de Processo Penal (CPP). Esses artigos estabelecem providências, tais como o número de peritos, que devem ser de no mínimo dois, que devem assinar o laudo, o prazo para emiti-lo, e, quanto ao conteúdo, exigem a descrição minuciosa do exame realizado, resposta aos quesitos formulados por autoridades ou partes, e aposição da rubrica dos peritos relatores em fotografias, desenhos e esquemas utilizados para ilustrar lesões em cadáveres ou materiais examinados em laboratórios. Resta uma grande margem de liberdade para o perito elaborar seu laudo, tanto no tocante à escolha da técnica pericial a ser utilizada, como no tocante à disposição do conteúdo e à linguagem utilizada (Almeida et al., 2006). Diversos autores da área criminalística sugerem formas de apresentar o conteúdo dos laudos, segundo a modalidade de perícia realizada. O cuidado de apresentar um tipo de laudo para cada modalidade de perícia vem do fato de que cada modalidade de perícia realiza exames distintos, que não podem ser descritos da mesma maneira. O laudo referente a um exame de local de maus-tratos a animais, por exemplo, apresenta conteúdo distinto de um laudo de exame necroscópico (Marlet, 2011; Tochetto, 2010). A literatura nacional sobre criminalística ainda não apresenta sugestão para a normatização de laudos de exames necroscópicos de animais. No exterior, autores como Merck (2007) e Munro & Munro (2008) abordam os cuidados a serem adotados quando da elaboração de um laudo pericial criminal em casos de maus-tratos. A proposta de um modelo de laudo para os exames de necropsia de animais não visa restringir o conteúdo do laudo pericial, ao contrário, ela visa orientar o perito quanto à forma mais clara de apresentar a perícia realizada; mas o conteúdo do laudo deve estender-se tanto quanto o perito entender necessário para alcançar uma conclusão categórica de seu exame, possibilitando, inclusive, a utilização de conhecimentos científicos recém-desenvolvidos (Reis, 2005). Ainda segundo Bandarra (2009): “Ao emitir um laudo... seja por designação judicial ou... para quaisquer outras finalidades,... ter em mente que documento técnico possui valor legal e que poderá ser aprovado, contestado, ou questionado, e eventualmente rechaçado.”

Etapas que antecedem a elaboração de laudos As primeiras providências a serem tomadas são a constituição da equipe pericial (médico veterináRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

rio, auxiliar de necropsia, digitador, entre outros), a definição da divisão de trabalhos e a preparação dos equipamentos necessários (Reis, 2005). A equipe pericial deve ser bem integrada entre si e com os laboratórios, a fim de otimizar o exame e aumentar a qualidade do laudo pericial (Bittencourt, 2010). Nesse sentido, Reis (2005) e Merck (2007) alertam que a adoção de protocolos de remessa de amostras para os laboratórios facilita a comunicação e evita que as amostras sejam misturadas com amostras de outros casos, contaminadas ou mesmo fraudadas (Figura 1). A cadeia de custódia das amostras enviadas ao laboratório deve ser documentada e mencionada no laudo pericial (Pereira, 2010). arquivo do autor

Figura 1. Frascos coletores universais podem ser usados para preservação de conteúdo, amostras biológicas ou objetos colhidos durante a necropsia a serem encaminhados para exames ou juntados ao processo. Deve haver identificação relativa à instituição proveniente, número de registro da necropsia e identificação do animal. Para preservação da cadeia de custódia devem ser acondicionadas em sacos plásticos, lacrados, e registrados com o número de lacre. Este número de lacre deve ser registrado com descrição do material contido, data, local, destinação a ser dada e assinatura de por parte de quem for retirar a amostra.

A interpretação dos dados é o principal ponto de diferenciação de um resultado de um exame com finalidade de auxiliar a prática médica. Nesse tipo de resultado de exame, a linguagem técnica, ou jargão, é comumente utilizado, pois se destina a outro médico veterinário. Já no laudo, a linguagem deve ser clara e evitar o uso excessivo de jargão, tendo em vista que o leitor a quem se dirige é o Poder Judiciário. A utilização de termos que possam ser compreendidos e a defini-

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Medicina Veterinária LegaL ção clara de causas e consequências relacionadas às lesões encontradas facilita o entendimento por parte dos policiais, delegados, promotores, advogados e juízes que recebem o laudo. A análise prévia do objeto de exame evita descuidos capazes de destruir vestígios. A perfeita coleta de dados relativos ao objeto de exame deve ser rápida, pois “o tempo que passa é a verdade que foge”11, e deve ser completa, porque muitas vezes os dados não coletados naquele instante não podem ser recuperados posteriormente, como ocorre em exames de necropsias ou locais de crime não preservados (Monteiro e Moraes, 2005). Assim, é importante que a coleta de dados seja sistematizada e conferida, para que o perito disponha de todas as informações necessárias à sustentação de sua conclusão no laudo pericial (Reis, 2005; CREMESP, 2008). Após colhidos, os dados referentes ao exame de necroscopia devem ser descritos, interpretados e relacionados entre si. A representação dos dados por meio de anexos fotográficos (Figura 2), esquemas, análises complementares, entre outros recursos existentes, facilita a descrição dos trabalhos periciais desenvolvidos, quando da elaboração do laudo (Almeida et al., 2006; CREMESP, 2008). A somatória dos dados obtidos e interpretados encaminha para conclusão; caso isso não ocorra, o perito deve procurar sanar as dúvidas remanescentes para, então, encerrar a pesquisa e elaborar seu laudo (Reis, 2005; CREMESP, 2008). arquivo do autor

Figura 2. Ilustrações por meio de fotografias devem seguir um padrão determinado pelo perito, e juntadas na forma de anexos ao laudo. Todas as imagens devem ser identificadas, conter régua, e acompanhadas de legendas com descrição do que é identificado em cada imagem, bem como assinatura do perito.

Partes Constituintes de um Laudo Pericial O laudo é dividido em partes, e apresentado nesta sequência ordenada:

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Preâmbulo Preâmbulo é a primeira parte do laudo; nele são indicados o título do documento, hora, data e local da perícia, nome do perito relator, nome e órgão a que pertence o requisitante da perícia, a natureza da infração penal em apuração e os números que a identificam (B.O, I.P. e processo judicial). Essas informações prestam-se a situar o leitor do laudo no contexto da perícia realizada: quando, onde, por que, por quem e a quem foi solicitada a perícia em questão (Fiker, 2005).

Objetivo do Exame O capítulo objetivo do exame no laudo indica a finalidade da perícia requisitada (CPP, artigo 176)12. O objetivo da perícia é indicado na requisição de exames e orienta o trabalho do perito; por isso, ao ser transcrito para o corpo do laudo, o objetivo da perícia permite que o leitor entenda qual a finalidade do exame pericial realizado (Tochetto, 2010). As necropsias médico-legais podem ter por finalidade: identificar o cadáver; determinar a causa médica da morte; auxiliar na determinação da causa jurídica da morte; e, estabelecer a provável data da morte (Ancillotti e Prestes, 2009). De posse desse conhecimento, o patologista pode iniciar o exame necroscópico mesmo que o objetivo da perícia não esteja expresso na requisição de exames (Fiker, 2005). O objetivo da perícia pode ser expresso por meio de perguntas formuladas pelo requisitante, que recebe o nome técnico de quesitos (Almeida et al., 2006). Os quesitos indicam quais pontos a autoridade requisitante visa esclarecer com a perícia. Tratando-se de um laudo da esfera criminal, os quesitos procuram esclarecer pontos que ajudem a autoridade policial a entender e comprovar o fato que está sob investigação (Aranha, 2004). Apesar de as autoridades requisitantes disporem de liberdade para formular quesitos, é comum elas adotarem quesitos previamente formulados e próprios para cada modalidade de crime. Esses quesitos podem ser encontrados, por exemplo, no Manual Operacional do Policial Civil (SÃO PAULO, 2007).

Histórico O histórico é um capítulo destinado a narrar resumidamente os fatos ocorridos, que levaram à necessidade da perícia (Fiker, 2005). Ele deve conter informações policiais e médico-legais. Pode ser feito uso e citação da cópia do documento policial de requisição, e a cópia juntada aos anexos do laudo. A inclusão de um capítulo destinado ao histórico do caso, certamente facilitará a discussão do caso pelo perito e a sua compreensão pelo leitor. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Objeto do Exame Esse segmento destina-se à descrição do corpo de delito a ser examinado. Corpo de delito, no presente estudo, é o animal a ser submetido ao exame necroscópico. O animal deve ser descrito de forma minuciosa, clara, precisa e fartamente documentada, com informações acerca de sua espécie, raça, pelagem, idade, sinais particulares, tais como marcas e números, entre outras, de maneira a tornar indubitável a identificação do animal (CPP, artigo 160, caput13).

Dos exames O capítulo dos exames destina-se à descrição fiel e minuciosa do exame necroscópico (CPP, artigo 160, caput). Como o exame a ser descrito é complexo, o Cremesp recomenda que a descrição do exame necroscópico seja dividida em exame externo e exame interno, a fim de que todas as alterações encontradas possam ser devidamente documentadas (CPP, artigos 165 e 170; CREMESP, 2008)14. A doutrina recomenda que, além da descrição e da ilustração dos achados necroscópicos, o laudo apresente esquemas, figuras ou outros meios disponíveis, a fim de facilitar a compreensão do leitor, inclusive no que diz respeito à localização dos achados necroscópicos relatados, ou seja, sua situação em relação ao todo, de modo semelhante ao utilizado pelo IML (Reis, 2005). Isso porque, caso o leitor não seja médico veterinário, ele pode não estar familiarizado com à nomenclatura própria utilizada pelos patologistas (Merck, 2007).

Análises complementares Além do exame necroscópico propriamente dito, podem ser necessárias análises complementares (CPP, artigo 159, § 7º) que permitam o seguro estabelecimento da causa mortis do animal (Tochetto, 2010). Essas análises complementares podem ser realizadas a partir de amostras colhidas durante o exame necroscópico. As amostras podem ser constituídas por tecidos animais, enviados a exame anátomo e histopatológico; por materiais extraídos por punções aspirativas enviadas para exames citológicos; conteúdo gástrico, sangue ou outros tecidos enviados para exame toxicológico. Também podem ser realizadas radiografias visando localizar fraturas e outras lesões e ainda fragmentos metálicos, que podem ter feito parte integrante de instrumentos de crime.

Discussão A discussão é o capítulo do laudo em que são apresentados, e cientificamente discutidos, os Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

elementos que servem de fundamento para a conclusão. Por isso, muitas vezes a discussão exige a utilização de vocabulário técnico pericial preciso. Na discussão, os resultados das análises complementares são colocados no contexto do exame de necropsia, de forma encadeada, mostrando o raciocínio desenvolvido pelo perito até alcançar a conclusão (Reis, 2005).

Conclusão do Laudo Na conclusão o perito apresenta, de forma direta e objetiva, um resumo da discussão contida no capítulo anterior e as consequências lógicas a que chegou. Sendo assim, a conclusão pode conter mais informações que as solicitadas ao perito por meio da requisição de exame. Os quesitos contidos na requisição de exame e as respectivas respostas podem ser integrados ao capítulo Conclusão, o que facilita ao leitor a localização da informação de que necessita (Reis, 2005). Muitas vezes, o exame pericial não é conclusivo, mesmo assim, o capítulo Conclusão deve fazer parte do laudo, a fim de expressar o resultado do trabalho pericial. Caso o perito entenda que não é adequado denominar de Conclusão o capítulo de um laudo pericial cujo exame não levou a um resultado conclusivo, ele pode adotar outra denominação para esse capítulo, tal como Considerações Finais. Diversos peritos do Instituto de Criminalística adotam essa postura15.

Fecho ou encerramento No segmento Fecho é citado o número de folhas que constituem o laudo, bem como relaciona os anexos: número de fotografias, desenhos, documentos, entre outros (Fiker, 2005). Ao final, a citação do número de folhas, as quais devem ser todas rubricadas e a última assinada pelos peritos, também deve ser citada a existência de uma cópia idêntica que será guardada pelo perito. O fecho confere segurança ao laudo, pois o extravio de qualquer folha ou anexo do laudo que esteja ali relacionado, pode ser facilmente percebido (Tochetto, 2010).

Anexos Anexos ao laudo podem ser desenhos, fotografias legendadas, resultados de análises complementares e quaisquer outros documentos que ilustrem ou tenham sido utilizados para a elaboração do laudo (Reis, 2005). Todos os anexos devem ser rubricados pelos peritos signatários. Outros documentos, tais como resultados de exames laboratoriais, radiografias, carteira de vacinação, entre outros,

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Medicina Veterinária LegaL apesar de não fazerem parte integrante do laudo, podem acompanhá-lo como anexos, pois oferecem elementos para a fundamentação do exame necroscópico (Reis, 2005; Espíndula, 2007).

Considerações Finais Quanto ao Laudo Pericial e À Medicina Veterinária Legal A normatização dos laudos periciais de exames necroscópicos pode aumentar a credibilidade desse documento, uma vez que facilita a compreensão do caminho adotado pelo perito para chegar à conclusão de seu exame. A utilização de linguagem clara, indicação de nexo de causalidade, aplicação

de terminologia de patologia e traumatologia forense apropriada aumenta a credibilidade e a aceitação do laudo. Assim como a utilização de ilustrações, por meio de fotografias, esquemas e desenhos, enriquecem e auxiliam na compreensão do conteúdo a ser exposto pelo perito. O aproveitamento do laudo pelas autoridades policiais e judiciárias depende de seu valor como meio de prova (Aranha, 2004; Capez, 2005). Segundo Reis (2005), a verdade e a justiça são alcançadas por meio da ciência. A Medicina Veterinária Legal é a ciência responsável pela atuação em perícia com animais, meio ambiente, saúde pública e os produtos de origem animal.

Notas 1. Código de Processo Penal brasileiro. Laudo pericial: artigos160, 165, 169, 170, 178, 179, 180, 181, entre outros. Parecer: artigos 159, § 5º, II. 2. Edmond Locard (1877 - 1966) formulou um princípio básico da Ciência Forense, o Princípio Troca de Locard, segundo o qual, qualquer coisa ou pessoa que entre em um local, tanto deixa como leva deste local, alguma coisa, que pode ser aproveitada pela criminalística (CASTRO JUNIOR; LISITA; MOURA; PINTO, 2009}. 3. Lombroso é um médico italiano que viveu entre 1835 e 1909 e é um dos fundadores da Criminologia. 4. Código de Processo Penal, artigo. 159. “O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial, portador de diploma de curso superior. § 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.” 5. Código de Processo Penal, artigo 160. “Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados. Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.” 6. Código de Processo Penal, artigo 165. “Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados.” 7. Código de Processo Penal, artigo 170. “Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.” 8. Código de Processo Penal, artigo 176. “A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.” 9. Código de Processo Penal, artigo 180. “Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame por outros peritos.” 10. Código de Processo Penal, artigo 181. “No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou esclarecer o laudo. Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame, por outros peritos, se julgar conveniente.” 11. Ditado tradicionalmente utilizado pela Criminalística, de autoria desconhecida. 12. Código de Processo Penal, artigo 176. “A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.” 13. Código de Processo Penal, artigo 160, caput. “Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.” 14. Código de Processo Penal, artigo 165. “Para representar as lesões encontradas no cadáver, os peritos, quando possível, juntarão ao laudo do exame provas fotográficas, esquemas ou desenhos, devidamente rubricados”. Art. 170. “Nas perícias de laboratório, os peritos guardarão material suficiente para a eventualidade de nova perícia. Sempre que conveniente, os laudos serão ilustrados com provas fotográficas, ou microfotográficas, desenhos ou esquemas.” 15. Fonte: Núcleo de Documentoscopia do Instituto de Criminalística.

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Referências Bibliográficas ALMEIDA, J. R.; AQUINO, A. R.; CONSONI, A. J.; CARVALHO, D. D.; SÉGUIN, E.; MANDILOVICH, F. Perícia ambiental judicial e securitária: impacto, dano e passivo ambiental. Rio de Janeiro: Thex Ed., 2006. 501 p. ANCILLOTTI, R. V.; PRESTES JR., L. C. L. Manual de técnicas em necropsia médico-legal. Rio de Janeiro: Rubio, 2009. 176 p. ARANHA, A.J.Q.T.C. Da prova no processo penal. São Paulo: Saraiva, 2004. 326 p. BANDARRA, E. P. Medicina veterinária legal. In: SEMANA ACADÊMICA DA MEDICINA VETERINÁRIA (SACAVET), 18, 2009, São Paulo. FMVZ/USP, 2009. BIT TENCOURT, E. Cuidados na coleta, guarda e remessa de materiais para análise. In: ENCONTRO TÉCNICO DE PERITOS CRIMINAIS E MÉDICOS LEGISTAS. SPTC, 12, 2010, São Paulo. 2010. CAPEZ, F. Curso de processo penal. 12. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2005. 699 p. CEAP. CENTRO DE EXAMES, ANÁLISES E PESQUISAS. Manual de Procedimentos Básicos de Laboratório. São Paulo: [s. n.], 2009. 91 p. CREMESP. CONSELHO REGIONAL DE MEDICINA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Manual técnico-operacional para o Médico-Legista do Estado de São Paulo. São Paulo: CREMESP, 2008.

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Dados dos Autores

Elza Fernandes Marlet

Médica Veterinária, CRMV- SP 5765, Bacharel em Direito, Doutora em Patologia Experimental e Comparada – FMVZ/USP. Perita Criminal e Professora de Criminalística do Instituto de Criminalística - Superintendência da PolíciaTécnico-Científica do Estado de São Paulo

Endereço para correspondência: Departamento de Patologia - FMVZ /USP Av. Prof. Dr. Orlando Marques de Paiva, 87 Cidade Universitária / 05508-270 São Paulo /SP - Brasil Fone: (11)3091-1375 / Fax: (11)3091-7829 E-mail: emarlet@bol.com.br

Alberto Soiti Yoshida

Médico Veterinário, CRMV- SP 6908, Bacharel em Direito, Mestrando em Patologia Experimental e

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

Comparada – FMVZ/USP, Perito Criminal – Instituto de Criminalística Santo André /SP E-mail: peritoalberto@uol.com.br

Silvana Lima Górniak

Médica Veterinária, CRMV - SP 3990, Professora Titular FMVZ/USP, Membro da Comissão Mista de Especialidades – CFMV, Assessora para Farmacovigilância e Toxicologia Veterinária – CFMV E-mail: gorniak@usp.br

Paulo César Maiorka

Médico Veterinário, CRMV-SP 6928, Professor Livre Docente FMVZ/USP, Membro da Comissão Nacional de Ensino de Medicina Veterinária – CFMV E-mail: paulomaiorka.cnemv@cfmv.gov.br

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Perfil

Frederico Lieberknecht: “É essencial ser apaixonado pelo que se faz” Por Flávia Lôbo Gonçalves - Jornalista CFMV / MTB nº 4.821/DF

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Ciências da Saúde de Porto Alegre, recebi também vários prêmios e homenagens”. No apartamento aconchegante do Médico Veterinário, localizado no centro de Porto Alegre, Lucila Lieberknecht, 87 anos, sua companheira há 67 anos, acompanhava atenta à entrevista e, de vez em quando, interrompia-o com histórias inesquecíveis. “Fala, Frederico! Conta o que você fez antes do nosso casamento”. Lieberknecht respondeu: “Três dias antes do meu casamento, contraí antraz por via cutânea. Eu estava injetando uma dose do bacilo em um cavalo, para produzir anticorpos, quando o animal se assustou. Tomei um banho da cultura do bacilo no rosto e nos braços. Minha preocupação imediata foi desinfetar as partes atingidas. Em seguida, voltei ao trabalho”. Horas depois, quando estava fazendo sangria em outro cavalo, o professor sentiu uma picada de mosca no braço esquerdo. “Vi sair da minha pele uma gota igual ao líquido que eu havia injetado no cavalo. Nesse momento, percebi que estava contaminado”, recorda. No outro dia, os sintomas confirmavam as suspeitas de Lieberknecht. O braço tinha uma pústula (elevação da epiderme que contém pus), a mão estava inchada e um vergão indicava infecção. “Fiz uma cauterização e tomei o soro anticarbúnculo para uso vearquivo Frederico Lieberknecht

Frederico Lieberknecht nasceu em Província de Santa Fé, na Argentina, durante a Primeira Guerra Mundial. Morou na Alemanha até os nove anos de idade, quando veio morar no Brasil. O Médico Veterinário naturalizado brasileiro, de pai alemão e mãe russa, comemora, em julho de 2012, 98 anos. Saudável, otimista e com um pique de dar inveja a muitos jovens, ele relata: “conheci a solidão e a fome aos dez anos. Logo depois de perder minha mãe, deixamos (eu e minha família) a Europa para viver no Brasil. Meu pai era médico, e foi trabalhar em uma pequena cidade do Rio Grande do Sul. Para que eu conseguisse estudar, ele me enviou a um internato alemão em Porto Alegre. Aos domingos, eu era o único aluno que não tinha família na cidade, e, pior, nem comida. O dinheiro era escasso. Certo dia, arranjei uma vara de pau e combinei com as empregadas da escola de deixarem os pães expostos em uma parte no jardim pela manhã para que eu pudesse pescá-los. E foram assim todos os meus domingos! Com muita luta e esforço, aprendi a ser forte. Acho que, por isso, tenho vivido muito. Acredito também que quem come pouco, como eu como, vive mais”. A carreira de Lieberknecht foi incentivada por um colega cujo pai era fazendeiro. “No curso de Veterinária da Faculdade de Agronomia e Veterinária do Rio Grande do Sul (UFRGS) éramos dois alunos: eu e esse meu amigo. Se eu não fosse o primeiro da turma, claro, seria o segundo,” brinca Lieberknecht, com um sorriso no rosto. “Sou o primeiro de três gerações de Médicos Veterinários na família. Iniciei minha carreira em clínica de pequenos animais; um filho e um neto seguiram esse caminho. Eu resolvi trabalhar em laboratório, influenciado pelo Médico Veterinário Desidério Finamor, catedrático de doenças infeccionas da UFGRS; dediquei 45 anos da minha vida à microbiologia e lecionei essa matéria em faculdades de Veterinária e Medicina. Participei da fundação da Faculdade Católica de Medicina do Rio Grande do Sul, hoje conhecida por Universidade Federal de

Dr. Frederico Lieberknecht recebendo diploma na cerimônia de colação de grau Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


“Se não fosse o primeiro aluno da turma de Medicina Veterinária, seria o segundo. Éramos somente dois estudantes no curso” arquivo CFMV

terinário, que eu mesmo elaborei”. Em função disso, teve uma reação alérgica, seguida de febre alta. Mesmo assim, decidiu se casar uma semana depois. “Saí do casamento direto para o hospital.” Lieberknenecht passou a receber penicilina por via subcutânea, de três em três horas, e a infecção cedeu. “Foi a penicilina que me salvou”, conta. Portador do CRMV–RS nº58, Frederico Lieberknecht foi presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul de 1975 a 1978. “Ninguém sabe, mas eu já discuti até com o presidente do País, à época, sobre a profissão”. “A Medicina Veterinária mudou muito em um século. Meus professores eram alemães e traziam conhecimentos, técnicas e equipamentos importados da Europa. Hoje, o Brasil não Frederico Lieberknecht e esposa deixa a desejar a nenhum outro país. E, além disso, a Medicina Veterinária atual está tão avançada quanto a Medicina humana”, comenta. “Na Ao perguntar sobre um conselho que ele daria minha época de recém-formado, éramos poucos aos Médicos Veterinários, o professor foi incisivo: “os profissionais. A maior dificuldade que encontrei profissionais devem dar mais valor ao cliente do que durante a carreira de clínico em pequenos animais ao dinheiro. É essencial ser apaixonado pelo que faz”. foi falta de tecnologia e equipamentos adequados E sobre o futuro da Medicina Veterinária, disse “é nepara alguns procedimentos. Mas minha paixão cessário melhorar a qualidade no ensino, intensificar sempre foi lecionar. Tive que parar de trabalhar há a fiscalização profissional e a inspeção de produtos 18 anos. Sinto falta”. de origem animal”.

Conheça mais sobre Frederico Lieberknecht Data de nascimento: 31/7/1914 Local: Província de Santa Fé – Argentina Um herói: Desidério Finamor – Médico Veterinário

e professor catedrático de doenças infecciosas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Uma frase: Persistência, estudo e trabalho. Sua ideia de felicidade: É para isso que eu vivo!

Para ser feliz! Se não fosse Médico Veterinário, seria... Médico. Última vez que chorou: Não me lembro. Acho que

nunca chorei.

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O que não pode faltar no seu cardápio: Frutas e verduras.

Gosto muito, mas como pouco. O que não fica fora da sua bagagem: meu cachorro Música favorita: Clássica Livro favorito: Gosto de ler

notícias Escritor favorito: Os

que escrevem sobre microbiologia.

Frederico Lieberkn

echt

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Destaques WORKSHOP DEFINE UMA SÓ VOZ PARA A MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA A Gestão 2011/2014 do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), presidida por Benedito Fortes de Arruda, reuniu todos os membros de Comissões, conselheiros e Diretoria Executiva do CFMV de 27 de fevereiro a 1º de março, em Goiás. O Objetivo do encontro, sob o título de “Única Voz”, foi a definição das metas para o cumprimento das diretrizes do planejamento estratégico do CFMV.

Diretoria do CFMV, conselheiros e corregedores reunidos em Goiás.

“Foram cinco dias de convívio intenso com discussões, aprendizados e definições para o futuro da Medicina Veterinária e Zootecnia. As conclusões serão utilizadas em benefício das duas profissões. Nosso objetivo foi alcançado. Com a participação de todos, formou-se um grupo coeso, com uma só voz; focado em metas, missão e valores do CFMV e no fortalecimento das classes”, avaliou o presidente. Ao longo do encontro, houve grande interação entre Comissões, Conselheiros e Diretoria Executiva. Além de palestras sobre o funcionamento e o regimento do Sistema CFMV/CRMVs e o planejamento estratégico do Conselho, os participantes, por meio de trabalhos e estudos de casos, enfrentaram vários desafios como: definição de metas para as Comissões; unificação dos discursos para a Medicina Veterinária e Zootecnia; e fortalecimento, identidade e reconhecimento da importância das profissões para a sociedade.

CFMV PREOCUPA-SE COM a VENDA INDISCRIMINADA DE Produtos VETERINÁRIOS O Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) espera avançar, nos próximos anos, na regulamentação para a aquisição de produtos da linha veterinária no mercado nacional e a obrigatoriedade do receituário veterinário para alguns produtos. De acordo com o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, o Conselho espera retomar as conversas com o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento, como, também, avançar nos entendimentos que existem com o Ministério da Saúde para “que consigamos obter uma portaria interministerial de regulamentação para aquisição de produtos

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veterinários”. Ele enfatiza que o CFMV conta com apoio da indústria e também dos profissionais de Medicina Veterinária. Segundo o presidente, a preocupação com o uso desregulado implica em possível contaminação dos alimentos e subprodutos de origem animal. “Essas ocorrências já afetaram até a nossa economia com a paralisação de exportações para alguns países por encontrarem resíduos na carne”. Ele acredita que, com maior controle e com supervisão do Médico Veterinário problemas como esses serão evitados. Além disso, o consumidor interno terá ainda melhor padrão de qualidade de seus produtos.

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COOPERAÇÃO E VALORIZAÇÃO PROFISSIONAL DERAM O TOM À CERIMÔNIA DE POSSE DO PRESIDENTE, DA NOVA DIRETORIA E DOS CONSELHEIROS DO CFMV Tomaram posse no dia 16 de dezembro de 2011, em Brasília, a nova diretoria e conselheiros efetivos e suplentes do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV). Benedito Fortes de Arruda foi reconduzido à presidência da entidade. Durante a cerimônia, Arruda agradeceu o apoio de todos e destacou, em seu discurso de posse, a relevância da ética, da união entre o Conselho Federal e os Conselhos Regionais e convidou os profissionais a caminharem juntos em busca de realizações. “Vamos conquistar espaços e solidificar posições. Vamos engrandecer, fortalecer e demonstrar a importância do trabalho dos Médicos Veterinários e Zootecnistas à humanidade. O progresso é como o tempo. Não é possível pará-lo. Então,

Diretoria Executiva do CFMV, gestão 2011/2014 – Da direita para a esquerda: Tesoureiro Amilson Pereira Said, Vice-Presidente Eduardo Luiz Silva Costa, Presidente Benedito Fortes de Arruda e Secretário-Geral Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk

vamos acompanhá-lo e sejamos protagonistas das transformações”.

Ministério da Educação oferece 169 bolsas de residência em Medicina Veterinária para as instituições de ensino federais

Fernando Leandro dos Santos, membro da CNRMV/CFMV e Jeanne Liliane Marlene Michel, coordenadora-geral de Residência em Saúde do MEC

Depois de liderar, por anos, a defesa da residência em Medicina Veterinária, o pleito do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) foi atendido. O Ministério da Educação (MEC) concedeu, inicialmente, 169 bolsas de

residência multiprofissional e em área profissional da saúde aos Médicos Veterinários das universidades federais de seis estados. As residências são orientadas pelos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS). Os programas terão padrões semelhantes aos da residência médica, com duração de dois anos e uma carga horária semanal de 60 horas. O valor da bolsa é de R$ 2.384,82. O apoio do CFMV ao MEC foi registrado em reunião, em 14 de março, no Ministério. Jeanne Liliane Marlene Michel, coordenadora-geral de Residência em Saúde do MEC e Fernando Leandro dos Santos, membro da Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária do CFMV, na ocasião representante do presidente do Conselho, Benedito Fortes de Arruda, discutiram e definiram ações sobre o assunto.

Médicos Veterinários e Zootecnistas Cadastrem-se em www.cfmv.gov.br e recebam semanalmente, em seu endereço eletrônico, notícias do CFMV.

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Destaques CFMV PARTICIPA DO FÓRUM PERMANENTE DO MERCOSUL PARA TRABALHO EM SAÚDE plataforma foi criada pela Universidade Aberta do SUS (Unasus) para “ser” um banco de dados dos profissionais da área de saúde (como o Lattes), e está sendo desenvolvida para agilizar o processo de habilitação dos interessados em trabalhar nos países-membros do Mercosul”, diz. Assim que disponibilizada na plataforma do Mercosul, o interessado em trabalhar fora do país de origem, deverá se cadastrar na Arouca. Em seguida, as informações serão enviadas ao Conselho de Classe para validação. Os dados ficarão disponíveis para consulta no Brasil, Argentina, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Segundo Marcello Roza, a Arouca será lançada, provavelmente com o início do acordo de livre circulação no Mercosul. shutterstock

Em 31 de janeiro deste ano, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) deu sua contribuição na 26ª reunião do Fórum Permanente do Mercosul para Trabalho em Saúde, o grupo que trata das profissões ligadas à saúde no Mercocul. O evento foi realizado no auditório da Secretaria de Vigilância Sanitária em Saúde, em Brasília, e o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, foi representado pelo conselheiro efetivo do CFMV, o Médico Veterinário Marcello Roza. De acordo com Roza, esse último encontro foi dedicado basicamente ao debate sobre a operacionalização da plataforma Arouca. “Esta

CFMV E REPRESENTANTES DAS AMÉRICAS ESTABELECEM COMPETÊNCIAS MÍNIMAS DO MÉDICO VETERINÁRIO Em 16 e 17 de fevereiro de 2012, o Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) participou da reunião da Federação Panamericana de Faculdades e Escolas de Ciências Veterinárias, em Lima, Peru. O presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda, foi representado no evento pelos Médicos Veterinários Benedito Dias de Oliveira Filho, presidente da Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária e João Carlos Pereira da Silva, membro da Comissão Nacional de Ensino da Medicina Veterinária do CFMV. O objetivo da reunião foi discutir e definir, entre os participantes de diversos países das Américas, as competências mínimas dos profissionais nos países. Ao final do encontro, os 40 participantes chegaram a um consenso e redigiram um documento com essas definições (em fase de finalização). “Os objetivos do CFMV, no evento, foram trocar experiências e contribuir para o ensino da Medicina Veterinária nos países das Américas,

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abordando, principalmente, o que já tem sido feito pelo Conselho, ao longo dos últimos anos, por meio da CNEMV e CNRMV. Durante a reunião, também nos interamos sobre o que vem acontecendo nas Instituições de Ensino Superio (IES) dessas nações”, diz o presidente do CFMV, Benedito Fortes de Arruda. Maria Isabel Vieira

Banner do evento

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ALUNOS DE MEDICINA VETERINÁRIA DA UFG VISITAM O CFMV Em 11 de janeiro deste ano, um grupo de alupassou a ser um órgão consultivo do Ministério nos da Universidade Federal de Goiás (UFG) veio de Educação (MEC) para abertura e renovação a Brasília para conhecer o Conselho Federal de de novos cursos. O Brasil tem um terço (1/3) dos Medicina Veterinária (CFMV). Eles foram recebicursos de Medicina Veterinária do mundo. Preodos, em nome do presidente do CFMV, Benedito cupamo-nos com a qualidade do ensino e com a Fortes de Arruda, pelo presidente em exercício e valorização e treinamento dos docentes”. Arquivo CFMV vice- presidente, Eduardo Luiz Silva Costa, o secretário-geral, Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk, e por colaboradores do Conselho O vice-presidente apresentou o Conselho aos alunos, deu boas-vindas em nome do presidente do CFMV e falou sobre a instituição, sua função social, estrutura, missão, visão, finalidades e poderes. Costa também discorreu sobre o panorama da Medicina Veterinária no Brasil e a composição das leis que regem a profissão. O secretário-geral do CFMV explicou como funcionam as comissões do CFMV, acreditações de universidades e progra- Alunos da UFG com o vice-presidente do CFMV, Eduardo Costa (à esquerda), e o secretário-geral, Felipe Wouk (ao centro). mas de residência. “Em 2010, o Conselho

SESSÃO PLENÁRIA DO CFMV ACENDE A DISCUSSÃO SOBRE O ABATE HUMANITÁRIO Arquivo CFMV

Luiz Rossi, diretor da WSPA e Benedito Fortes de Arruda, Presidente do CFMV

De 13 a 15 de dezembro, ocorreu na sede do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV ) a última Sessão Plenária da gestão 2008/2011. Atento à importância da questão

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do bem-estar animal para a comunidade, o CFMV convidou a Sociedade Mundial de Proteção Animal (WSPA) para dar sua contribuição ao evento com palestra sobre “abate humanitário”. Para Benedito Fortes de Arruda, presidente do CFMV, a questão do bem-estar animal é uma demanda mundial, e cabe aos profissionais promover a diferença e estabelecer melhorias. “Há uma sinergia muito grande entre a WSPA e o CFMV. Queremos estabelecer parcerias com o Conselho”, diz Charli Ludtke, Médica Veterinária e gerente de Animais de Produção da WSPA. “O CFMV tem realizado trabalhos em prol do bem-estar dos animais por meio de suas Comissões de Ética e Bem-Estar Animal (Cebea) e Nacional de Ensino da Medicina Veterinária (CNEMV). Preocupamo-nos com a questão. Vamos verificar como o CFMV poderá trabalhar em parceria com a WSPA”, afirma o presidente do Conselho.

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SuplementoCientífico Estudo retrospectivo dos diagnósticos citológicos no Hospital Veterinário de Uberaba Tatiane Furtado de Carvalho / Joely Ferreira Figueiredo Bittar Humberto Eustáquio Coelho / Ricardo Lopes da Cruz

Tratamento clínico das feridas em equinos. Revisão de literatura Cíntia Ferreira / Maristela Silveira Palhares Ubiratan Pereira de Melo / José Monteiro da Silva Filho

Prevalência da infecção por Ascaris Suum e achados macro e microscópicos em fígados de suínos abatidos na região metropolitana de Recife e Zona da Mata de Pernambuco Alessandra Santos d’Alencar / Márcia Paula Oliveira Farias / Marilene Maria de Lima Fernando Leandro dos Santos / Leucio Câmara Alves / Maria Aparecida da Glória Faustino

Enfermidades cirúrgicas do aparelho reprodutor masculino equino: aspectos clínicos e terapêuticos Cássia Maria Molinaro Coelho / Olízio Claudino da Silva / Luiz Antônio Franco da Silva Rogério Elias Rabelo / Camila França de Paula Orlando / Isadora Lopes Franco de Araújo

REVISTA DO CFMV - Brasília - DF - Ano XVIII - N° 55 - 2012 CONSELHO FEDERAL DE MEDICINA VETERINÁRIA SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília-DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444 www.cfmv.gov.br cfmv@cfmv.gov.br DIRETORIA EXECUTIVA Presidente

Benedito Fortes de Arruda Vice-Presidente

Eduardo Luiz Silva Costa Secretário-Geral

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk

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Tesoureiro

Amilson Pereira Said Editor da Revista CFMV

Ricardo Junqueira Del Carlo CRMV-MG nº 1759

Comitê Científico da Revista CFMV

Presidente

Cláudio Lisias Mafra de Siqueira CRMV-MG nº 5170

Conselho Editorial da Revista CFMV

Roberto Baracat de Araújo

Eduardo Luiz Silva Costa

Gilson Helio Toniollo

Presidente

CRMV-SE nº 0037

CRMV-MG nº1755

CRMV-SP nº 2113

Antônio Felipe Paulino de Figueiredo Wouk

João Luis Rossi Júnior

CRMV-PR nº 0850

CRMV-SP nº 11607 e CRMV-ES nº 1206/VS

Amilson Pereira Said

Luiz Fernando Teixeira Albino

CRMV-ES nº 0093

CRMV-MG nº 0018/Z

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ESTUDO RETROSPECTIVO DOS DIAGNÓSTICOS CITOLÓGICOS NO HOSPITAL VETERINÁRIO DE UBERABA RETROSPECTIVE STUDY OF CYTOLOGICAL DIAGNOSES IN THE VETERINARY HOSPITAL OF UBERABA Resumo O exame citológico é um importante método de diagnóstico de desordens neoplásicas, hiperplásicas, inflamatórias e degenerativas. O objetivo deste estudo foi determinar a prevalência das neoplasias diagnosticadas pelo exame citológico em cães atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba, no período de 2006 a 2009. Dos 250 registros provenientes da rotina do Laboratório de Anatomia Patológica, 33,6% (84/250) foram diagnósticos de neoplasias de células redondas, seguidos pelas neoplasias de células epiteliais e mesenquimais com 9,6% (24/250) e 6,8% (17/250), respectivamente. As neoplasias mistas representaram 4,8% (12/250) dos diagnósticos, e as neoplasias benignas representaram 4% (10/250). O diagnóstico citológico de outros processos de disfunção celular representou 41,2% (103/250). Palavras-chave: citologia, diagnósticos e neoplasias

Abstract Citologic exam is an important disorders diagnosis method of neoplasia, hiperplasia inflammation and degenerations. The aim of this study was determined the prevalence of diagnosed neoplasias by cytological examination in dogs examinated at Veterinary Hospital of Uberaba. There were 250 records examination from pathological laboratory routine, which 33,6% were neoplastic round cells; 9,6% were epithelial tumors cells, 6,8% were mesenchymal tumors cells, 4,85% were mixed tumors, and 4% were benign neoplasm. The diagnosis of the processes of cellular dysfunction accounted for 41,2%. Keywords: cytology, diagnostics, neoplams

INTRODUÇÃO A citopatologia é empregada desde o século XIX (Castillo et al., 1988; Carvalho, 1993), quando Papanicolau iniciou suas pesquisas sobre citologia esfoliativa, tendo estabelecido, em 1928, o diagnóstico de carcinoma uterino a partir da secreção vaginal de mulheres (Boon et al., 1982; Felizzola, 1995). Dentro da Medicina Veterinária Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

brasileira, esse método diagnóstico foi empregado a partir do século XX, ganhando algum incremento no final da década de 1980 (Silveira, 1988; Guedes et al., 1997). Além da determinação da origem celular e diagnóstico de diversos tumores, a citologia é também utilizada na diferenciação de processos inflamatórios ou hiperplásicos, no estabeleci-

27


Suplemento Científico mento do prognóstico, na identificação de metástase tumoral e no monitoramento da involução de neoplasmas, submetidas a terapia antineoplásica e da recidiva local (Magalhães et al., 2001; Wellman, 1996). O diagnóstico citopatológico pode ser realizado com ou sem aspiração, raspados, “imprints” de lesões, esmagamento de tecidos, análise de lavados traqueobrônquicos e líquidos cavitários (Raskin e Mayer, 2003). As principais vantagens do exame citológico são a rapidez (Guedes et al., 1997), a simplicidade e o baixo custo, pois não envolve equipamentos sofisticados. Quando usada a técnica de punção aspirativa com agulha fina (PAAF), a coleta do material é pouco invasiva, prevenindo a ocorrência de metástases pelos tumores malignos (Kristensen e Feldman, 1986; Peleteiro e Rodrigues, 1991; Clinkenbeard e Cowell, 1994; Larkin, 1994). Outra vantagem é a possibilidade de sua realização sem a necessidade de sedação, permitindo a coleta de material proveniente de linfonodos, pele e glândulas (Lavalle, 2003; Rocha, 2008). Sua maior limitação é a impossibilidade de demonstrar a arquitetura do tecido ou órgão alterado, impedindo o estudo da forma, estrutura e relação das lesões (Stirtzinger, 1988; Wellman, 1990). O objetivo deste trabalho foi determinar a prevalência por meio de estudo retrospectivo do diagnóstico citológico de neoplasias que acometem cães atendidos no Hospital Veterinário de Uberaba (HVU), no período compreendido entre os anos 2006 a 2009.

MATERIAL E MÉTODOS Foram analisados exames citológicos realizados pelo serviço de Patologia Animal do Hospital Veterinário de Uberaba, no período de 2006 a 2009, provenientes de cães e gatos atendidos pelo serviço de Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais do HVU. As informações foram classificadas quanto a sua origem em neoplasias cutâneas epiteliais, mesenquimais e arredondadas. Um grupo à parte foi classificado como “outros”, incluindo nesse os processos inflamatórios, não neoplásicos e diagnósticos inconclusivos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram realizados 250 exames citológicos, e em 2006, 2007, 2008 e 2009 foram realizados respectivamente 50, 94, 71 e 35 exames. Em 2006 tiveram 52% (26/50) de neoplasias de células redondas; 2007, 42,53% (40/94); em 2008, 12,68% (9/71) e em 2009, 25,72% (9/35). As neoplasias epiteliais nesses anos representaram 12% (6/50), 7,44% (7/94), 12,68% (9/71) e 5,72% (2/35), respectivamente. As neoplasias de origens mesenquimais representaram 4% (2/50), 6,37% (6/94), 9,87% (7/71) e 5,72% (2/35), respectivamente. As neoplasias mistas representaram 5,32% (5/94) dos casos registrados em 2007 e em 2008, 9,86% (7/71). No presente estudo, os tumores de células redondas constituíram 33,6% (84/250) do total de diagnósticos, seguidos pelos epiteliais com 9,6% (24/250), mesenquimais com 6,8% (17/250), neoplasias mistas 4,8% (12/250) neoplasias benignas

Tabela 1. Frequência de diagnóstico citológico de neoplasias de células redondas no período de 2006 a 2009 no Hospital Veterinário de Uberaba Neoplasias de células redondas

28

2006 (50)

2007 (94)

2008 (71)

2009 (35)

Diagnóstico citológico

n

%

n

%

n

%

n

%

Mastocitoma

1

2

4

4,25

3

4,22

2

5,71

TVT genital

21

42

18

19,15

1

1,41

5

14,3

Linfoma maligno

1

2

9

9,57

2

2,82

2

5,71

TVT nasal

1

2

1

1,06

-

-

-

-

Histiocitoma

2

4

5

5,32

1

1,41

-

-

Linfossarcoma

-

-

2

2,12

-

-

-

-

Melanoma

-

-

1

1,06

1

1,41

-

-

Linfoma histiocítico

-

-

-

-

1

1,41

-

-

TOTAL

26

52%

40

42,53%

9

12,68%

9

25,77%

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Arquivo do autor

com 4% (10/250). Diagnósticos citológicos de outros processos de disfunção celular (Figura 1) juntamente com neoplasias, cuja diferenciação não foi possível apenas por meio do exame citológico, totalizaram 41,2%. As neoplasias de células redondas representaram 33,6% dos diagnósticos, que concorda com Cowell et al. (2009), que relatam que o reconhecimento desses tumores é muito importante, pois eles representam umas das neoplasias mais comumente encontradas na clínica de pequenos animais. E por serem de fácil diagnóstico, não estão aderidas a outras estruturas nos tecidos, elas esfoliam facilmente durante a biópsia com agulha fina (BAS), o que se torna uma vantagem, pois essa esfoliação provocará maior celularidade na amostra, facilitando, assim, o diagnós- Figura 1. Inflamação neutrofílica. Coloração panótica. Aumento 100x. tico. Essas neoplasias possuem a característica de terem formato celular discretamente De acordo com a Tabela 1, dentre as neoplaarredondado e estão associadas, com frequência, sias de células redondas, a mais diagnosticada às células hematopoiéticas, que incluem tumor nos anos 2006, 2007 e 2009 foi o T VT genital, de mastócitos, histiocitoma, linfoma, plasmocitoapresentando 42%, 19,15% e 14,3%, respectivama e tumor venéreo transmissível (TVT) (Rose e mente. Esse tumor foi bastante diagnosticado no Denny, 2003). HVU por vários motivos: o hospital atende uma população carente, com maior porcentagem de Arquivo do autor cães errantes, e também por ser um tumor de fácil esfoliação e alta celularidade, concordando com Cowell et al. (2009). As células do TVT (Figura 2) são tipicamente as mais pleomórficas dentre todos os tumores de células redondas (Cowell et al., 2009). A confirmação microscópica é feita por exames citológicos de esfregaços da descarga genital e/ou imprints de fragmentos do tumor. Observam-se células grandes, esféricas a poliédricas ou ovais, de tamanho uniforme e com núcleo único. O núcleo apresenta um padrão delicado de cromatina, o nucléolo é grande, proeminente, central ou excêntrico. O citoplasma é abundante, de coloração azul clara ou incolor, contendo vacúolos claros múltiplos, pequenos e distintos, frequentemente dispostos em cadeia (Calvert, 1984). Em 2008, o mastocitoma foi a neoplasia de células redondas mais diagnosticada, com 4,22%. Os mastocitomas estão entre as neoplasias cutâneas Figura 2. Tumor venéreo transmissível. Aspecto de um tumor venéreo transmissível na vulva de uma cadela. Células mononucleares redondas individumais comuns nos cães e gatos. Essa lesão é a única ais, núcleos excêntrico redondos a levemente ovais, com uma quantidade que poderá esfoliar uma grande quantidade de moderada de citoplasma azul-pálido com vacúolos claros e individuais na células exclusivamente compostas por mastócitos periferia da célula. Coloração Panótica. Aumento 100x. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

29


Suplemento Científico Tabela 2. Frequência de diagnóstico citológico de neoplasias de células epiteliais no período de 2006 a 2009 no

Hospital Veterinário de Uberaba Neoplasias de células epiteliais Diagnóstico citológico

2006 (50)

2007 (94)

2008 (71)

2009 (35)

n

%

n

%

n

%

n

%

Carcinoma de células escamosas

3

6

5

5,32

2

2,82

1

2,86

Carcinoma de células basais

2

4

1

1,06

5

7,04

1

2,86

Colangiocarcinoma

1

2

-

-

-

-

-

-

Carcinoma de células transicionais

-

-

1

1,06

-

-

-

-

Adenocarcinoma TOTAL

-

-

-

-

2

2,82

-

-

6

12%

7

7,44%

9

12,68%

2

5,72% Arquivo do autor

que são reconhecidos pelos seus grânulos citoplasmáticos pequenos, vermelho-arroxeados (Cowell et al., 2009). Os mastocitomas caninos são classificados de acordo com Cowell et al. (2009), em Grau I: bem diferenciado, geralmente bem definido, superficial, com baixo índice mitótico; Grau II: moderadamente diferenciado, pouco a moderadamente circunscrito, leve a moderada infiltração nos tecidos profundos da derme, índice mitótico moderado, atipia citomorfológica discreta; Grau III: pouco diferenciado, pouco circunscrito, infiltração profunda no subcutâneo, alto índice mitótico, atipia citomorfológica moderada. As neoplasias epiteliais são caracterizadas por um agrupamento arredondado ou no formato de uma única camada de células. A origem celular desses tipos de neoplasias, frequentemente, envolve o tecido glandular e superfícies de reves-

Figura 3. Carcinoma de próstata. Presença de anisocariose, núcleo aumentado e irregular e relação núcleo-citoplasma muito aumentada. Coloração panótica. Aumento 100x.

Tabela 3. Frequência de diagnóstico citológico de neoplasias de células mesenquimais no período de 2006 a 2009 no Hospital Veterinário de Uberaba Neoplasias de células mesenquimais 2007 (94)

2008 (71)

2009 (35)

n

%

n

%

n

%

n

%

Fibrossarcoma

-

-

3

3,19

1

1,41

1

2,86

Osteossarcoma

-

-

1

1,06

-

-

-

-

Fibroma

1

2

-

-

4

5,64

-

-

Lipoma

1

2

2

2,12

2

2,82

1

2,86

2

4%

6

6,37%

7

9,87%

2

5,72%

TOTAL

30

2006 (50)

Diagnóstico citológico

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Arquivo do autor

timento (Rose e Denny, 2003). A principal característica das células epiteliais é a adesão entre elas. As células epiteliais podem ser muito grandes e possuírem um citoplasma abundante. São redondas, colunares a caudadas, e possuem limite citoplasmático bem definido. Os núcleos das células epiteliais são geralmente redondos a discretamente ovais (Cowell et al., 2009). De acordo com a Tabela 2, dentre as neoplasias epiteliais, o carcinoma de células escamosas foi o de maior incidência em 2006 e 2007, com 6% e 5,32%, respectivamente. O carcinoma de células escamosas tende a esfoliar uma mistura de aglomerados celulares e células individuais mais maduras. A morfologia celular in-

Figura 4. Fibroma. Aspirados ou impressões esfoliam pouquíssimas ou nenhuma célula. As células são uniformes em tamanho e forma, com formato espinal, com quantidade moderada de citoplasma azul-claro, afilando-se nas direções contrárias ao núcleo. Os núcleos são redondos a ovais. Coloração panótica. Aumento 100x.

Tabela 4. Frequência de diagnóstico citológico de neoplasias mistas no período de 2006 a 2009 no Hospital

Veterinário de Uberaba Neoplasias mistas Diagnóstico citológico Tumor misto mamário TOTAL

2006 (50)

2007 (94)

2008 (71)

2009 (35)

n

%

n

%

n

%

n

%

-

-

5

5,32

7

9,86

-

-

-

-

5

5,32%

7

9,86%

-

-

dividual varia de células escamosas normais, grandes e maduras, a células pequenas a medianas, redondas e com pequena quantidade de citoplasma intensamente basofílico, núcleos redondos com cromatina bastante grosseira, com padrão em cordões, contendo múltiplos nucléolos evidentes, variando em forma e tamanho (Cowell et al., 2009). O diagnóstico de carcinoma de células basais representou 7,04%, em 2008. Microscopicamente,

as neoplasias conhecidas como tumores das células basais são compostas de massas sólidas ou císticas de pequenas células redondas a fusiformes, com um núcleo ovóide e intensamente basofílico, contendo um nucléolo solitário e escasso citoplasma eosinofílico (Jones et al., 2000). Analisando a Tabela 3, fibroma foi diagnosticado em 2006 e 2008 com 2% e 5,64%, respectivamente. De acordo com Cowell et al. (2009), as-

Tabela 5. Frequência de diagnóstico citológico de neoplasias benignas no período de 2006 a 2009 no Hospital

Veterinário de Uberaba Neoplasias benignas 2006 (50)

2007 (94)

2008 (71)

2009 (35)

Diagnóstico citológico

n

%

n

%

n

%

n

%

Mixoma

-

-

2

2,12

1

1,41

-

-

Baselioma

-

-

3

3,18

-

-

1

2,86

Higroma

-

-

2

2,12

1

1,41

-

-

-

-

7

7,42%

2

2,82%

1

2,86%

TOTAL

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

31


Suplemento Científico pirados ou impressões esfoliam pouquíssimas ou nenhuma célula, o que pode justificar a pequena quantidade de diagnósticos, por ser difícil a obtenção de células para visualização. As células são uniformes em tamanho e forma, possuem quantidade moderada de citoplasma azul-claro e os núcleos são redondos a ovais. Em 2007, o fibrossarcoma foi o de maior incidência dentre os carcinomas, com 3,19%. Segundo Cowell et al. (2009), os aspirados, impressões e escarificações de fibrossarcoma tendem a coletar mais células do que nos fibromas. Várias células são globosas e/ou com formato oval. Ocasionalmente, há fibroblastos multinucleados.

No fibrossarcoma, as células são pleomórficas e variam, desde células aproximadamente fusiformes e altamente indiferenciadas, com núcleos redondos a ovóides, frequentemente em mitose, até células alongadas entremeadas com feixes que se assemelham ao tecido conjuntivo imaturo. Essa tendência para a formação celular em grupos de células paralelas entre si é uma característica valiosa na identificação do fibrossarcoma (Jones et al., 2000). De acordo com Tabela 4, o tumor misto mamário representou 5,32% e 9,86 % dos diagnósticos nos anos de 2007 e 2008, respectivamente. Os tumores mamários malignos podem ser diagnosticados com

Tabela 6. Frequência de diagnóstico citológico de outros processos de disfunção celular no período de 2006 a 2009 no Hospital Veterinário de Uberaba Outros 2007 (94)

2008 (71)

2009 (35)

n

%

n

%

n

%

n

%

Abscesso

2

4

3

3,19

-

-

-

-

Necrose

1

2

1

1,06

-

-

-

-

Inconclusivo

9

18

12

12,76

11

15,49

14

40

Linfoadenite supurada

2

4

-

-

1

1,41

-

-

Inflamação

2

4

6

6,38

10

14,08

3

8,57

Adenoma de glândula mamária

-

-

-

-

4

5,63

-

-

Adenoma de glândula sebácea

-

-

-

2

2

2,82

-

-

Adenoma

-

-

-

-

1

1,41

-

-

Adenoma de glândula perianal

-

-

3

3,19

2

2,82

-

-

Cisto sebácio

-

-

1

1,06

-

-

-

-

Cisto epidermóide

-

-

2

2,12

1

1,41

-

-

Cisto dermóide

-

-

-

-

2

2,82

-

-

Reação inflamatória alérgica

-

-

1

1,06

-

-

-

-

Peritonite seropurulenta

-

-

-

-

1

1,41

-

-

Hepatite

-

-

-

-

1

1,41

-

-

Hepatose

-

-

-

-

1

1,41

-

-

Linfonodo reacional

-

-

-

-

-

-

1

2,86

Mastite

-

-

-

-

-

-

1

2,86

Sialocele

-

-

-

-

-

-

1

2,86

Dermatite

-

-

-

-

-

-

1

2,86

16

32%

29

29,76%

37

52,12%

21

60,01%

TOTAL

32

2006 (50)

Diagnóstico citológico

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


base no aspecto citológico dos tipos celulares presentes (Raskin e Mayer, 2003), que podem ser células individualizadas de origem mesenquimal ou matriz óssea e de células epiteliais, caracterizando a neoplasia como mista (Shull e Maddux, 1999). Portanto, a presença de matriz óssea na citologia permite o diagnóstico em tumor misto maligno. As neoplasias benignas no ano de 2006 não foram diagnosticadas, em 2007, 2008 e 2009 representaram, respectivamente, 7,42%, 2,82% e 2,86%, segundo Tabela 5. De acordo com a Tabela 6, outros processos de disfunção celular que ocorrêram em 2006, repre-

sentaram 32% dos casos, sendo 18% com diagnósticos inconclusivos. Em 2007, representaram 29,76%, sendo 12,76% diagnósticos inconclusivos. Em 2008, 52,12%, sendo 15,49% diagnósticos inconclusivos. E em 2009 representaram 60,01% dos casos, sendo 40% com diagnósticos inconclusivos. Esses diagnósticos inconclusivos são devidos a diversos fatores, dentre eles erros na coleta e coloração inadequada, interferindo de maneira significativa na qualidade da amostra. De acordo com O’Rourke (1983) e Cowell e Tyler (1989), os erros de diagnósticos relacionam-se também aos problemas de coloração, com amostras muito ou

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Suplemento Científico pouco coradas, ou coradas de forma irregular e, em alguns casos, com presença de precipitados ou outros tipos de artefatos, que dificultam a avaliação. De acordo com as características citomorfológicas, a prevalência das neoplasias, no estudo de Bracarense e Reis (1997), que avaliaram 600 amostras por meio dos exames citológico e histopatológico, apresentaram resultados semelhantes. Os tumores de células redondas, segundo esses autores, representaram 37,64% dos diagnósticos de neoplasias, seguidos pelos epiteliais e mesenquimais, com respectivamente 26,24% e 7,31%, pois nesse estudo, os tumores de células redondas constituíram 33,6% do total de diagnósticos, seguido pelos epiteliais, com 9,6%, e mesenquimais com 6,8%, sendo o tumor de células redondas o mais diagnosticado. Entretanto, este estudo discorda dos dados de Ménard et al. (1986), que constataram maior prevalência de neoplasias epiteliais (32,35%), seguidas pelas mesenquimais (31,37%) e de células redondas (31,28%), que avaliaram 102 casos por meio dos diagnósticos citológicos e histopatológicos. A maior representação dos neoplasmas de células redondas deve-se tanto à maior prevalência desse tipo de tumor na população avaliada, quanto à facilidade de esfoliação e concordância entre o exame citológico e histopatológico (Dunca e Prasse, 1979 ; Wellman, 1996; Guedes, 2000). A menor representação do tipo mesenquimal, provavelmente, deve-se ao fato de esses tumores

possuírem pobre celularidade e presença de grande quantidade de matriz extracelular. Tais características tornam difícil a determinação do diagnóstico por meio da citologia sendo o exame histopatológico fundamental para a visualização da arquitetura tecidual (Ménard et al., 1986; Wellman, 1996 ). Constatou-se maior prevalência de tumores malignos em relação a tumores benignos. Esse resultado é similar ao relatado em outros estudos (Bracarense e Reis, 1997; Souza et al., 2006). Uma das hipóteses para esse predomínio é a demora por parte do proprietário em conduzir o animal para a avaliação clínica e estabelecimento de diagnóstico precoce, propiciando uma evolução longa e aumento da possibilidade de transformação maligna (Rossetto et al., 2009). Também, o fato de nódulos “malignos” aumentarem de tamanho rapidamente e, às vezes, ulcerarem, determina o encaminhamento do o animal à consulta.

CONCLUSÃO Os tumores de células redondas foram os mais diagnosticados nessa população, devido à facilidade de esfoliação dessas células ao grande número de cães errantes no caso de diagnósticos de TVT. A citologia permite diagnóstico rápido, de baixo custo e acurado. É considerada no Hospital Veterinário de Uberaba, como um exame complementar inicial que facilita o planejamento cirúrgico e/ou o estabelecimento de protocolos terapêuticos.

Dados dos Autores

Tatiane Furtado de Carvalho

Médica Veterinária – CRMV - MG n° 10319, Residente do Hospital Veterinário de Uberaba, Universidade de Uberaba (Uniube).

Endereço para correspondência: Avenida do Tutuna, n 385, apto 102 – Bairro Merces, CEP: 38061-500, Uberaba - MG Tel.: (34)9228-4306 E-mail: carvalhotativet@hotmail.com

Joely Ferreira Figueiredo Bittar

Médica Veterinária – CRMV - MG n° 5010, Mestre, Doutora. Professora de Parasitologia Veterinária e

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Patologia Clínica da (Uniube). E-mail: joely.bittar@uniube.com

Humberto Eustáquio Coelho

Médico Veterinário – CRMV - MG n° 1316, Mestre, Doutor. Professor de Patologia Animal e Ornitopatologia da (Uniube). E-mail: coelhoheus@yahoo.com.br

Ricardo Lopes da Cruz

Médico Veterinário – CRMV - RJ n°10464, Residente do Hospital Veterinário de Uberaba (Uniube). E-mail: drricarvet@hotmail.com

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Tratamento clínico das feridas em equinos. Revisão de literatura Equine wound healing by clinical therapy. a review Resumo Durante as últimas década detalhes celulares e moleculares sobre a regulação da cicatrização das feridas foram elucidados. Numerosos medicamentos de uso tópico estão disponíveis na atualidade, e as feridas que cicatrizam por segunda intenção são manejadas com curativos que fornecem proteção contra traumas e contaminação, além de absorver exsudato e estimular os processos de reparo. Devido à natureza única do processo de cicatrização dos equinos, muitos dos efeitos benéficos desses medicamentos vistos em outras espécies e em estudos in vitro não têm sido observados nos equinos. Este artigo tem por objetivo descrever os principais métodos utilizados no tratamento das feridas cutâneas nesta espécie animal. Palavras-chave: cicatrização, curativos, medicamentos tópicos, tecido de granulação

Abstract Over the past decades, extensive cellular and molecular details have been elucidated regarding the regulation of cutaneous wound healing. Numerous topical wound drugs are available today, and wounds that heal by second intention are often managed with a dressing that covers the wound, providing protection from further trauma and contamination, absorbing excess exsudate, and stimulating repair. Due to the unique nature of wound healing of horses, many beneficial effects of these drugs seen in other species and in vitro have not been reproduced in equine wounds. Keywords: healing, dressing, topic drugs, granulation tissue

Introdução Para minimizar o tempo e o custo do tratamento, o veterinário deve estar preparado para selecionar a técnica apropriada de manejo para cada ferida, baseado no conhecimento dos mecanismos fisiopatológicos envolvidos na reparação tecidual (Theoret, 2004a). Além disso, deve estar consciente de que nenhum agente isoladamente pode agir em todas as fases da cicatrização e, dessa forma, o tratamento deve envolver uma combinação de técnicas apropriadas para cada fase da cicatrização (Carter et al., 2003). A seleção do melhor método de tratamento dependerá da duração, localização, profundidade e configuração da ferida, tipo de trauma envolvido, fatores sistêmicos (idade, nutrição), grau de contaminação, custos do tratamento, grau Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

de cooperação do proprietário e o uso pretendido para o equino (Cockbill e Turner, 1995). Este artigo tem por objetivo descrever os principais métodos utilizados no tratamento das feridas cutâneas na espécie equina, na cicatrização por segunda intenção.

Revisão de literatura Avaliação do paciente e da ferida A avaliação da ferida é fundamental, pois o diagnóstico preciso do tipo e estágio da lesão permite a escolha correta dos métodos de tratamento (Mandelbaum et al., 2003a). O primeiro passo é a realização de anamnese e exame clínico completo.

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Suplemento Científico Embora nem sempre possível, o histórico detalhado enfatizando o tempo decorrido da lesão, causa, tratamentos adotados e evolução clínica necessitam ser obtidos (Cockbill e Turner, 1995). A determinação do estado sistêmico do paciente é necessária tanto para realização de cuidados imediatos quanto para identificação de qualquer condição que comprometa o processo de cicatrização. O envolvimento de estruturas internas (Figura 1) (articulações, tendões etc.) e de outros sistemas orgânicos deve ser avaliado durante o exame clínico para que o tratamento adequado possa ser estabelecido (Orsini et al., 2004).

b. Amarelas: apresentam exsudato purulento sobre tecidos desvitalizados, e são passíveis de contaminação. O objetivo do tratamento é identificar se há ou não infecção, debridar os tecidos desvitalizados e reduzir o grau de contaminação, preferencialmente por meio de antibioticoterapia sistêmica; c.

Pretas: apresentam necrose tecidual com desnaturação e aumento de fibras colágenas, formando uma crosta espessa cuja coloração pode variar do castanho ao preto. O objetivo do tratamento é remover o tecido necrosado com a máxima brevidade, por HV/EV-UFMG meio do debridamento. A coloração da ferida não constitui parâmetro preciso de avaliação e não deve ser o único, pois podem ocorrer combinações de diversas colorações (Figura 2), de acordo com a profundidade da lesão, terapias utilizadas e condições locais (Mandelbaum et al., 2003a). Na classificação empregada na Medicina Veterinária, as feridas são avaliadas quanto ao grau de contaminação, independente da coloração, e classificadas como limpa, limpacontaminada, contaminada e infectada (Lindsay, 1988), a saber:

Figura 1. Ferida lacero-cortante na face plantar do metatarso resultando na secção do tendão flexor digital superficial.

A classificação e a avaliação da ferida devem ser realizadas observando-se a localização, tempo de evolução, tamanho, presença de exsudato/transudato, necrose/edema, coloração do leito da ferida, além da sensibilidade cutânea (Stashak, 1991; Mandelbaum et al., 2003a). Os modelos de classificação das feridas no ser humano podem auxiliar na decisão do tratamento a ser empregado. O mais utilizado é o Red/ Yellow/Black (RYB) proposto por Cuzzel (1988) para classificação de feridas que cicatrizam por segunda intenção: a. Vermelhas: incluem sítios doadores de enxertos, feridas pós-desbridamento ou crônicas em cicatrização onde predomina tecido de granulação e epitélio novo. O objetivo do tratamento é favorecer o ambiente úmido, proteger os tecidos neoformados e prevenir a infecção;

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a. Ferida limpa: é toda ferida não traumática, não infectada e cirúrgica que não envolve o sistema gastrointestinal, genito-urinário e/ou respiratório que cicatriza por primeira intenção;

b. Ferida limpa-contaminada: ferida cirúrgica que envolve os sistemas gastrointestinal, genito-urinário ou respiratório, onde o grau de contaminação pode ser considerado mínimo. Cicatrizam por primeira intenção; c.

Feridas contaminadas: ocorrem quando há presença de inflamação aguda ou quando existe contaminação de cavidades com conteúdos. As feridas traumáticas e abertas, com mais de seis horas de ocorrência e contaminadas com pêlos e debris estão incluídas nesse grupo. As feridas infectadas advêm de lesões traumáticas e apresentam tecido desvitalizado, edema, inflamação e supuração. Necessitam de debridamento e cicatrizam por segunda intenção. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


HV/EV-UFMG

Figura 2. Ferida na articulação fêmuro-tibio-patelar. Coloração variando de amarelo ao preto devido à necrose e, possivelmente, contaminação.

Limpeza da ferida A pele e os pêlos ao redor da ferida atuam como fonte de contaminação. Dessa forma, depilação ampla é essencial para diminuir a probabilidade de infecção. Para tanto, a ferida deve ser coberta com gaze umedecida com solução salina 0,9% para reduzir o risco de contaminação durante a depilação. Após esse procedimento, procede-se com a limpeza da ferida (Stashak, 1991). A limpeza atua por dois mecanismos, mecânico e dilucional, reduzindo o número de micro-organismos, além de remover tecido necrótico e exsudato (Malone, 1996). Bactérias, exsudato e materiais particulados aderem à superfície da ferida por meio de cargas eletrostáticas e, independente do método de limpeza, a força de remoção deve ser superior à força dessas cargas. A irrigação é mais eficiente do que a utilização de gazes úmidas para a remoção de bactérias (Phillips, 1995). A força hidráulica que esse processo exerce nas partículas é proporcional ao quadrado da velocidade da irrigação. Para evitar injúrias ao tecido, esse procedimento deve ser realizado com a quantidade mínima de solução e força necessária para eficiente limpeza. A força necessária para limpeza dependerá do tamanho das partículas presentes, pois pequenas partículas aderem mais fortemente à superfície do que partículas maiores (Lees et al., 1989). Apesar de a irrigação com baixa pressão remover grandes partículas, pressões de 10 a 15 psi são mais eficientes para remoção de pequenas partículas e bactérias. A realização desse procedimento com seringa ou fluxo de gravidade não alcança adequaRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

da pressão e é ineficaz na remoção de pequenas partículas, sendo efetivo, somente, quando o fluido é liberado na pressão equivalente àquela obtida com seringa de 60ml acoplada a uma agulha de 18 gauge (8 psi) ou por meio de borrifadores (Phillips, 1995). Pressões acima de 70 psi resultam em trauma e semeadura de bactérias nos tecidos mais internos (Liptak, 1997). A solução de limpeza deve possuir propriedades antissépticas, atividade residual prolongada, ser atóxica, não carcinogênica e incapaz de promover resistência bacteriana. Esses produtos devem ser utilizados nas fases iniciais do tratamento para diminuir a carga bacteriana e retirar debris necróticos. Quando a ferida está isenta de contaminação, a solução salina 0,9% é a ideal para limpeza (Liptak, 1997). Clorexidine tem amplo espectro de atividade antibacteriana e baixa toxicidade. O Clorexidine possui algumas vantagens sobre a solução de Pvpi, incluindo capacidade antibacteriana residual (48 horas), atividade contínua na presença de secreção e debris orgânicos, além de baixa absorção sistêmica. O Clorexidine, como solução aquosa de 0,05%, reduz significativamente a população bacteriana da ferida sem aumentar a inflamação local. No entanto, concentrações altas diminuem a velocidade de reepitelização, formação do tecido de granulação, contração e resistência mecânica da ferida (Liptak, 1997; Farstvedt et al., 2004). A solução de PVPI contém iodo livre (ILv) e povidona, sendo sua atividade antibacteriana proporcional à concentração de ILv. O PVPI tem boa atividade antimicrobiana contra bactérias e fungos. Soluções diluídas a até 0,2% minimizam a citotoxicidade e aumentam a disponibilidade de ILv. Nessa concentração, a solução destrói bactérias em quinze minutos, não ocorrendo resistência bacteriana. A presença de ILv na ferida aumenta a liberação de citocinas envolvidas no processo de cicatrização pelos macrófagos, principalmente na fase inflamatória. Ocorre inibição da migração dos neutrófilos, função dos monócitos e efeitos fibroblasticidas dose-dependente com soluções acima de 0,5% (Farstvedt et al., 2004). Peróxido de hidrogênio é um eficiente esporocida e debridante químico, porém possui pequeno espectro antibacteriano. A solução a 3% é citotóxica para os fibroblastos, resultando em trombose nos microvasos. A toxicidade celular do peróxido de hidrogênio excede sua potência antibacteriana e, dessa forma, não é recomendado para limpeza de feridas (Brumbaugh, 2005).

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Suplemento Científico O hipoclorito de sódio (líquido de Dakin) tem amplo espectro antibacteriano, sendo mais efetivo do que clorexidine e PVPI contra Staphylococcus aureus. Esse efeito antibacteriano é alcançado pela liberação de íons cloreto e O2. Entretanto, o hipoclorito de sódio é citotóxico para os fibroblastos em concentrações acima de 0,025% e apresenta estreita margem de segurança, devendo ser utilizado somente para auxiliar na remoção do tecido necrótico, e nunca em feridas limpas. Embora não seja utilizado rotineiramente como um desinfetante tópico, uma solução a 0,125% pode ser utilizada como debridante (Farstvedt et al., 2004).

Debridamento da ferida O debridamento da ferida consiste na remoção de tecidos desvitalizados para assegurar o rápido inicio da fase proliferativa da cicatrização, podendo ser cirúrgico, enzimático, mecânico ou hidrodinâmico (Liptak, 1997). É difícil visualizar a separação entre o tecido desvitalizado e o saudável, principalmente após o trauma, tornando-se difícil a decisão de quando interromper esse procedimento. A capacidade do tecido em sangrar quando excisado, além da temperatura e aparência geral são bons indicadores da sua viabilidade quando do debridamento cirúrgico. A localização e configuração da ferida são também fatores a serem ponderados antes da remoção do tecido desvitalizado (Lees et al., 1989). Inflamação, trauma cirúrgico, corpos estranhos, infecção e compressão causada por bandagens podem transformar um tecido saudável em necrótico. Em virtude da incapacidade de prever com exatidão se o tecido sobreviverá ou não, é aconselhável reavaliar a ferida diariamente (Lees et al., 1989). Muitas vezes, tendões ou ligamentos desvitalizados são preservados pela crença de que possam atuar como base para o processo de cicatrização. No entanto, qualquer tecido necrótico na ferida inibe o processo de reparação (Phillips, 1995). O debridamento mecânico úmido-seco utilizando gazes umedecidas com solução salina a 0,9% sob bandagens ou passando-as com leve pressão sobre a ferida é rotineiramente realizado. No entanto, além de remover tecido necrótico, esse debridamento retira também tecido saudável em regeneração, principalmente queratinócitos em migração, devendo ser evitado (Cockbill e Turner, 1995). Já o debridamento enzimático é indicado em locais onde o debridamento excessivo dos tecidos saudáveis deve ser evitado. Quando utilizados adequadamente, esses agentes dissolvem exsudato, coágulos sanguíneos

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e tecido necrótico, sem lesar as células envolvidas no processo de cicatrização (Liptak, 1997). Entre as enzimas utilizadas para o debridamento estão a tripsina, colagenase, fibrinolisina e a papaína. A utilização de formulações combinadas de enzimas debridantes e antibióticos tópicos não são recomendáveis, pois não apresentam efetividade no controle da infecção e, com frequência, levam ao aparecimento de resistência bacteriana (Farstvedt et al., 2004).

Medicamentos de uso tópico Existe uma variedade de preparações para utilização tópica durante o tratamento das feridas. Grande parte desses produtos é ineficiente e alguns são mais deletérios do que benéficos, devido à constante irritação imposta à ferida e estímulo à formação da hipergranulação (Martins et al., 2003). Alguns medicamentos de uso tópico com bons resultados no manejo das feridas traumáticas e outros em fase experimental de avaliação estão descritos abaixo: a. Mel A utilização do mel no tratamento de feridas data de 1700 a 2000 a.C., mas, apesar disso, as bases científicas para sua utilização só foram elucidadas no século XX (Mathews e Binnington, 2002a). Os mecanismos associados com suas propriedades cicatrizantes incluem diminuição do edema inflamatório, quimiotaxia de macrófagos, debridamento de tecido necrótico, fonte de energia celular, além de auxiliar na formação de tecido de granulação saudável. A atividade antibacteriana tem sido atribuída à alta osmolaridade, acidez, viscosidade e conteúdo de peróxido de hidrogênio (H2O2). O baixo pH (3,6 a 3,7) acelera o processo de cicatrização assim como aumenta os efeitos antibacterianos, além de criar e manter condições ótimas para a atividade dos fibroblastos (Dart et al., 2005). O mel contém a inibina, enzima da glândula faríngea das abelhas, que dá origem ao H2O2 e ao ácido glucônico/glucolactona que agem como desinfetante e antibiótico, respectivamente. A geração de baixos níveis de H2O2 estimula a angiogênese e aumenta a liberação de O2. Acredita-se que a geração de H2O2 auxilie o debridamento da ferida devido à reação de Fenton, onde H2O2 reage com íons ferro produzindo radicais hidroxila (Tonks et al., 2003). A ação anti-inflamatória dessa substância tem sido investigada em estudos histológicos e observações clínicas, mas o mecanismo definitivo não foi identificado. Em particular, estudos têm demonstrado que o efeito estimulatório do mel na cicatrização Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


está em parte relacionado ao estímulo de citocinas inflamatórias (TNF-α, IL-1β e IL-6) dentro dos monócitos (Tonks et al., 2003; Ferreira et al., 2007). b. Própolis A própolis é um composto utilizado pelas abelhas para proteger suas colmeias de infecções bacterianas e virais. Contém vários flavanóides, aminoácidos, vitamina B e substâncias com propriedades antibióticas. Vários estudos têm demonstrado a ação epitelizante da própolis. Entretanto, ele contém potentes componentes sensibilizantes, podendo levar à dermatite de contato ou formação de granuloma (Rahal et al., 2003). c. Açúcar O açúcar granulado é utilizado topicamente no tratamento de feridas traumáticas abertas, especialmente aquelas contaminadas. As vantagens da utilização do açúcar são: rápida ação antibacteriana e maior velocidade na formação do tecido de granulação e epitelização. O tratamento das feridas utilizando açúcar é baseado na criação de um ambiente com baixa quantidade de água (Haddad et al., 2000). Cada micro-organismo possui uma aW (atividade da água) limite, abaixo da qual ele não cresce. Todo crescimento bacteriano pode ser inibido sob uma aW de 0,858, obtida pela mistura de 195 gramas de açúcar com 100 ml de água (Mathews e Binnington, 2002b). Outros mecanismos associados com as propriedades cicatrizantes do açúcar incluem diminuição do edema inflamatório, quimiotaxia para macrófagos, debridamento de tecidos necróticos, fonte de energia para metabolismo celular, além da formação de camada protetora para a ferida e tecido de granulação (Mathews e Binnington, 2002b). d. Ketanserina Recentemente, um estudo avaliou o efeito da aplicação tópica da Ketanserina no processo de cicatrização das feridas. Esse fármaco foi efetivo no controle da granulação exuberante e infecção em 88% dos casos avaliados, além de acelerar a contração e reepitalização da ferida (Engelen et al., 2004). Sua utilização pode resultar em aumento de duas a cinco vezes a probabilidade do fechamento completo da ferida, quando comparado com o uso de antissépticos e agentes debridantes (Theoret, 2004b). Seus efeitos benéficos são atribuídos a sua ação na microcirculação, debridamento e controle da formação do tecido de granulação. Os macrófagos são essenciais para o sucesso da fase de debridamento, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

mas sua ativação é inibida por elevados níveis do receptor 5-hidroxitriptamina (5-HT). A Kentaserina antagoniza a supressão induzida pela 5-HT, além de reverter a inibição da migração das células endoteliais e estimular proliferação de fibroblastos e células endoteliais. Essa resposta inflamatória resulta em controle eficiente da infecção e melhor organização das fases finais da reparação, quando citocinas e fatores de crescimento liberados pelos macrófagos desempenham importante papel. Além desses efeitos, a Ketanserina promove vasodilatação local, inibe a formação de microtombos e reduz a isquemia tecidual local resultando na melhoria da microcirculação local (Engelen et al., 2004). e. Ácidos graxos essenciais Os ácidos graxos essenciais podem ser utilizados em qualquer tipo de ferida e em qualquer fase do processo de reparação. Inúmeros trabalhos comprovaram que os triglicerídeos de cadeia média atuam de forma positiva no processo de cicatrização, tanto por sua ação bactericida quanto por sua interferência em diversas fases do processo de reparação tecidual. Os ácidos graxos essenciais atuam sobre a membrana celular aumentando sua permeabilidade, facilitando a entrada de fatores de crescimento na ferida, promovendo a mitose e proliferação celular, estimulando a neovascularização e exercendo efeitos quimiotáticos sobre os leucócitos (Ferreira et al., 2006). f. Fitoterápicos Existe uma variedade de fitoterápicos disponíveis para utilização tópica durante o tratamento de feridas agudas ou crônicas (Farstvedt et al., 2004). Historicamente, o confrei (Symphytum officinale) tem sido utilizado como debridante, retirando exsudato e debris da ferida. Apresenta propriedades antissépticas, bactericida e fungicida e, em menor grau, anti-inflamatória, antipruriginosa, cicatrizante e emoliente (Rahal et al., 2001; Martins et al., 2003). Staphylococcus spp, Streptococcus spp, leveduras, coliformes, Pseudomonas spp, e alguns fungos são inativados após 10 a 30 minutos da utilização do confrei (Farstvedt et al., 2004). A calêndula (Calendula officinalis) é utilizada na Europa como um fitoterápico com propriedade antisséptica e cicatrizante. Possui na sua composição uma fração lipolítica, os triterpenóides, responsáveis pela ação anti-inflamatória, além de carotenóides, flavanóides, carboidratos, ácidos graxos e polissacarídeos que lhe conferem ação epitelizante e imunoestimulante (Martins et al., 2003).

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Suplemento Científico HV/EV-UFMG

O barbatimão (Stryphnodendron barbatiman) é utilizado no tratamento de lesões cutâneas. A solução aquosa obtida a partir da cascas dessa planta possui no mínimo 20% de tanino, princípio ativo que confere ação adstringente. Os taninos precipitam proteínas dos tecidos desvitalizados, formando uma película protetora que favorece a reparação tecidual, diminuindo a permeabilidade e exsudação da ferida. Martins et al. (2003) avaliaram o efeito do barbatimão, calêndula e confrei no processo de cicatrização em equinos, e observaram que a utilização da calêndula era mais efetiva na fase inflamatória do processo de cicatrização, enquanto o barbatimão era mais efetivo durante a fase de proliferação e reparação da ferida.

Figura 3. Ferida infectada. Observar grande quantidade de secreção purulenta na ferida.

g. Insulina A administração tópica de insulina aumenta o metabolismo celular e a síntese protéica, aumentando a taxa de multiplicação celular. A insulina normaliza a permeabilidade celular, aumenta a fagocitose de debris celulares, diminui a hipóxia, elimina o edema e aumenta a velocidade de contração da ferida. Embora possua inúmeros efeitos benéficos sobre o processo de cicatrização, a sua utilização é pouco difundida (Stashak, 1991). h. Óxido de zinco O óxido de zinco é componente de muitas pomadas, pós e pastas utilizados no tratamento de lesões cutâneas, e possui quatro ações: proteção, leve adstringência, fraco poder antisséptico e ausência de toxicidade. No entanto, seus efeitos são muito variáveis. O efeito mais benéfico do óxido de zinco no processo de cicatrização é a sua ação em induzir aumento da reação proliferativa (Rahal et al., 2001). Uso de antibióticos tópicos e sistêmicos A infecção da ferida (Figura 3) é clinicamente perceptível à medida que dois elementos são identificados: excessiva inflamação regional para o tipo e tempo da ferida e presença de exsudato purulento. A antibioticoterapia empírica é, muitas vezes, eficaz na resolução da infecção. No entanto, é inadequada na presença de micro-organismos resistentes à base utilizada, nos pacientes imunodeprimidos, nos tecidos em que a liberação dos antibióticos é diminuída pelo baixo suprimento sanguíneo, ou devido à pre-

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sença de sequestro bacteriano associado a tecidos desvitalizados (Phillips, 1995). Segundo Orsini et al. (2004), uma ferida é considerada infectada quando preenche um ou mais dos seguintes critérios: a) excessiva inflamação regional e presença de exsudato purulento para o tipo, tamanho e tempo da ferida; b) evidência de resposta inflamatória sistêmica (febre, leucocitose, neutrofilia, hiperfibrinogenemia); c) infecção envolve estruturas ósseas ou sinoviais e d) presença de bactérias gram-negativas na citologia ou cultura positiva da ferida. A aplicação de antibióticos em feridas com mais de quatro horas não tem qualquer efeito na resolução da infecção (Lees et al., 1989). A administração tópica ou sistêmica é menos efetiva quando a infecção já está estabelecida, pois a presença de coágulos, fibrina, tecida o necrótico e desvitalizado impedem que uma concentração adequada do antibiótico penetre na ferida (Phillips, 1995). No momento da seleção da base farmacológica a ser utilizada, alguns fatores devem ser observados como espectro antibacteriano, dose, farmacocinética, toxicidade sistêmica e local, intervalo entre aplicações, via de administração e tipo da preparação (Rosenkrantz, 1995). O tempo é vital para o tratamento das feridas infectadas e, portanto, não deve ser gasto com o uso indiscriminado e empírico de antibióticos. O uso empírico de fármacos antibacterianos pode ser realizado enquanto se aguardam os resultados da cultura e antibiograma. Nesse intervalo, a combinação de penicilina G e gentamicina administradas por via sistêmica é indicada (Orsini et al., 2004). A utilização tópica de antibióticos em feridas é controversa. As vantagens sobre os antissépticos utiRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


lizados são a seletiva toxicidade bacteriana e eficiência na presença de matéria orgânica quando combinados com antibioticoterapia sistêmica, além de auxiliar na cicatrização por meio da proteção da ferida contra infecção superficial. A administração tópica de antibióticos é mais efetiva quando realizada nas três primeiras horas após a injúria. No entanto, se a ferida é completamente debridada, os antibióticos podem ser utilizados nas três primeiras horas após o debridamento (Farstvedt et al., 2004). A prata iônica é efetiva contra vários micro-organismos, mesmo em concentrações tão baixas quanto 50 µg. Em um complexo sistêmico biológico, como o fluido da ferida, o nível máximo de Ag+ é aproximadamente 1 µg/ml. Acima dessa concentração a prata liga-se a íons cloretos (Cl-) formando sais inativos (Percival et al., 2005). Alguns estudos demonstram que a sulfadiazina de prata (SAg+) pode aumentar a velocidade de reepitelização da ferida em até 28%, enquanto outros demonstram que pode ocorrer diminuição da reepitelização e aumento da fragilidade da ferida (Farstvedt et al., 2004). A SAg+ é um dos raros agentes antibacterianos que, quando utilizados topicamente, não impedem a migração dos queratinócitos (Ribeiro e Schmidt, 2000), e sua efetividade ocorre devido à lenta liberação de Ag+, resultando em contínuas concentrações antibacterianas de prata na ferida (Percival et al., 2005). O sulfato de gentamicina, quando aplicado topicamente, é eficiente no controle do crescimento bacteriano, especialmente de gram-negativos. Feridas infectadas e que não respondem à combinação bacitracina-polimixina-neomicina podem ser tratadas com sucesso com o sulfato de gentamicina, particularmente aquelas infectadas com Pseudomonas aeruginosa (Farstvedt et al., 2004). Embora seja efetiva em controlar o crescimento e proliferação bacteriana, certas formulações podem afetar o processo de cicatrização (Swaim e Lee, 1987). A cefazolina é um β-lactâmico efetivo contra bactérias gram-positivas e algumas gram-negativas. Quando aplicada topicamente na dose de 20 mg/ kg, alcança concentração no fluido da ferida acima da sua concentração inibitória mínima por períodos mais prolongados que a administração sistêmica da mesma dose. A formulação em pó da cefazolina pode ser eficiente no tratamento de infecções estabelecidas (Farstvedt et al., 2004).

Curativos A aplicação dos curativos serve para quatro propósitos básicos: proteção, absorção, estabilizaRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

ção e imobilização. Os curativos ajudam também a criar um microambiente ideal, pelo aumento da umidade e tensão de O 2, onde o processo de cicatrização pode ocorrer naturalmente (Malone, 1996). Para um curativo ser considerado ideal, deve reunir algumas características básicas: a) absorver exsudatos e substâncias tóxicas do leito da ferida; b) manter elevada umidade na interface curativo/ ferida; c) permitir trocas gasosas; d) fornecer insulação térmica; e) impedir colonização bacteriana; f ) atóxico e apirogênico; g) confortável e esterilizável e h) demonstrar resistência mecânica, elasticidade e conformabilidade. Os curativos para feridas são classificados, na maioria das vezes, como aderentes ou não aderentes e absorventes ou não absorventes. Os curativos aderentes são frequentemente feitos de gazes ou algodão, e sob muitas circunstâncias são considerados passivos. Os curativos não aderentes possuem poder de absorção variável e são subclassificados em oclusivos, semioclusivos e biológicos. Ressalta-se que para cada fase do processo de cicatrização, há um curativo ideal (Liptak, 1997). a. Curativos absorventes aderentes e não aderentes I. Curativos de gaze Os curativos aderentes de gaze têm sido utilizados durante décadas para o debridamento de feridas, sendo particularmente úteis durante a fase inflamatória, quando debris necróticos, corpos estranhos e exsudato precisam ser removidos (Stashak et al., 2004). O grau de aderência depende do tamanho dos espaços da gaze e, quanto mais largos forem os espaços da malha, maior a capacidade aderente e debridante. Os curativos de gaze podem ser aplicados úmidos ou secos, dependendo da natureza do exsudato e do grau de debridamento necessário (Lipak, 1997). O curativo úmido a seco é utilizado nas feridas com exsudato de alta viscosidade ou quando há presença de crostas desidratadas. A solução salina é utilizada como agente umedecedor e antibióticos, enzimas ou antissépticos podem ser adicionados quando necessário. O curativo seco é indicado para feridas com exsudatos de baixa viscosidade (Liptak, 1997). Como o debridamento realizado pela gaze não é seletivo, os curativos são comumente trocados a cada 24 horas. Após a retirada da gaze, toda superfície da ferida deve ser lavada com solução antisséptica à pressão de 10 a 15 psi (Stashak et al., 2004). Os curativos aderentes de gaze são utilizados na rotina clínica devido à facilidade de aquisição e custo.

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Suplemento Científico No entanto, o uso contínuo durante todo o processo de cicatrização é deletério. Na ferida limpa e sem debris, deve-se optar por um curativo mais adequado àquela fase da cicatrização. Quando esses curativos são utilizados depois da fase inflamatória retiram da ferida, no momento da sua troca, as células em processo de proliferação e migração (fibroblastos, queratinócitos etc.) retardando significativamente o processo de cicatrização tecidual (Liptak, 1997; Stashak et al., 2004). II. Curativos de solução salina hipertônica O curativo de solução salina hipertônica, impregnado com NaCl 20%, é utilizado onde um debridamento excessivo é necessário (grandes extensões de área necrótica e gravemente contaminada). É considerado um tipo de curativo interativo e funciona por meio de mecanismos osmóticos, dessecando todo o tecido necrótico e bactérias. No entanto, sua ação é inespecífica, devendo ser utilizado com cautela para evitar dano aos tecidos adjacentes. Outro benefício adicional advindo das suas propriedades osmóticas é a redução do edema intersticial. Com a diminuição do edema, a pressão dos capilares no leito da ferida é reduzida, resultando em melhor perfusão tecidual. Como o debridamento exercido por esse tipo de curativo não é seletivo, ele só deve ser utilizado durante os primeiros três dias após a lesão (Stashak et al., 2004). b. Curativos de polímeros fibrosos e partículas naturais Os curativos de alginato de cálcio contêm o ácido alginico como princípio ativo (Mandelbaum et al., 2003b). Esses curativos são atóxicos e aumentam a formação do tecido de granulação e a epitelização, absorvendo 20 a 30 vezes seu peso em fluido. Esse processo converte o material inicialmente semelhante a pó em material gelatinoso na superfície da ferida, que é facilmente removido. Devido a suas características hidrofílicas, esse curativo é utilizado durante a fase inflamatória da cicatrização, principalmente em feridas exsudativas e infectadas, ou durante a transição de curativos debridantes para hidrocolóides (Stashak et al., 2004). Sua aplicação em feridas sem exsudato pode resultar na formação de crostas de difícil remoção (Swaim e Gillette, 1998).

c.

Curativos sintéticos oclusivos e semi-oclusivos I. Hidrogel Os curativos de hidrogel possuem ação quimiotática sobre leucócitos, favorecem a angiogênese,

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absorvem quantidade variável de exsudato, auxiliam no debridamento da superfície da ferida, mantêm um microambiente úmido no leito da ferida e são compatíveis com a maioria dos medicamentos tópicos, além de aumentarem a atividade das colagenases (Dart et al., 2002a). Devido a sua compatilidade com medicamentos tópicos, os hidrogéis podem ser utilizados para liberação de fármacos no leito da ferida (metronidazol, sulfadiazina de prata etc.), o que os torna ideais para feridas com exposição óssea. Como esse tipo de curativo é um potente estimulante da formação do tecido de granulação, deve ser utilizado até os primeiros sinais de formação desse tecido, sendo mais adequados para ferimentos traumáticos agudos e limpos, principalmente durante a fase inflamatória e de debridamento (Mandelbaum et al., 2003b). II. Hidrocolóide Esses curativos em contato com o exsudato da ferida formam um gel hidrofílico mantendo a ferida úmida e estimulando a angiogênese e a epitelização. Embora as feridas epitelizem mais rápido, a contração delas é diminuída devido à maior produção de exsudato (Liptak, 1997). Esses curativos não devem ser utilizados em feridas extensas ou infectadas, e sua utilização errônea pode causar maceração dos tecidos adjacentes (Mandelbaum et al., 2003b). Aparentemente, a melhor utilização desse curativo no equino é durante o início da fase inflamatória até o momento do início da formação do tecido de granulação (Stashak et al., 2004). d. Curativos antimicrobianos Os curativos contendo iodo são muito eficazes no manejo das feridas. À medida que o curativo se hidrata no ambiente úmido da ferida, o iodo elementar liberado passa a exercer efeito antibacteriano e a interagir com macrófagos locais, estimulando-os a produzir TNF-α e IL-6, afetando diretamente o processo de cicatrização (Theoret, 2004b). A utilização dos curativos de carvão ativado é indicada em feridas infectadas, fétidas e exsudativas, sejam elas superficiais ou profundas. Esses curativos propiciam um microambiente úmido, removem o exsudato e bactérias por adsorção, previnem a formação do tecido de granulação exuberante, além de diminuir o odor da ferida (Mandelbaum et al., 2003b). Na utilização desse curativo, deve-se observar a formação do tecido de granulação, e uma vez que ele esteja no mesmo nível das bordas da ferida, deve ser substituído por outro tipo de curativo (Stashak et al., 2004). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


e. Curativos biológicos Diversas pesquisas demonstram que os curativos biológicos promovem a cicatrização da ferida por meio da manutenção de ambiente úmido atuando como barreira antibacteriana, protegendo a ferida de infecções, além de inibirem a formação do tecido de granulação exuberante (Gomez et al., 2004). Esses curativos induzem a uma leve resposta inflamatória aparentemente benéfica ao processo cicatricial (Stashak et al., 2004). Os seguintes curativos biológicos são utilizados em equinos: I. Colágeno Os curativos de colágeno possuem efeito comprovado no aumento da cicatrização de feridas (Stashak et al., 2004). Esses curativos são constituídos de partículas hidrofílicas de colágeno, ou da associação colágeno (90%) e alginato de cálcio (10%), podendo ser aplicados em qualquer fase do processo de cicatrização. A aplicação do colágeno na lesão aumenta a quimiotaxia para eosinófilos, macrófagos e fibroblastos, além de promover a granulação e epitelização (Yvorchuk-St. Jean et al., 1995). Umas das principais desvantagens desses curativos é a necessidade de trocas, no máximo, a cada 48 horas. Outra desvantagem é a reação de hipersensibilidade manifestada por grave urticária e edema ventral (Bertone et al., 1985). A aplicação de colágeno no tratamento das feridas equinas pode não ser satisfatória, principalmente naquelas localizadas nos membros. A aplicação do colágeno não resultou em qualquer efeito significativo no processo de cicatrização e, aparentemente, as feridas tratadas desenvolveram mais tecido de granulação do que as não tratadas (Bertone et al., 1985). Em outro estudo, a aplicação de uma membrana porosa de colágeno não resultou em qualquer efeito significativo sobre o processo de cicatrização quando comparado com o grupo controle (Yvorchuk-St. Jean et al., 1995). II. Peritôneo e pericárdio homólogos O peritôneo homólogo equino foi avaliado como curativo biológico devido a sua fácil obtenção e relação custo-benefício, além de ser fonte de tecido conectivo rico em colágeno. Apesar da natureza biológica do peritôneo permitir uma rápida vascularização nenhum efeito no processo de cicatrização foi observado (Gómez et al., 2004). O pericárdio homólogo também foi testado no tratamento de ferida equina, não induzindo desconforto ou inflamação acentuados no local da Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

aplicação. Embora muitas feridas desenvolvam tecido de granulação exuberante com sua utilização, esse é mais uniforme e menor do que os vistos com a utilização de outros tipos de membranas biológicas (Bellenzani et al., 1998). III. Membrana amniótica A membrana amniótica tem sido utilizada no tratamento de feridas e queimaduras extensas desde o início do século passado. O âmnio tem muitas características de um curativo ideal: adere e adapta-se à forma da ferida, fornece um ambiente úmido, controla a contaminação bacteriana e reduz a dor, além de estimular a epitelização e proteger o tecido de granulação (Bigbie et al., 1991). Independente da natureza oclusiva, sua utilização resulta em menor formação de tecido de granulação (Howard et al., 1993). Bigbie et al. (1991) compararam os efeitos da membrana amniótica equina com a levedura viva no processo de cicatrização. Embora as taxas de contração e epitelização não tenham diferido, a porcentagem de epitelização foi maior no grupo da membrana amniótica. Além desse efeito, a membrana amniótica diminuiu o tempo de cicatrização e a formação de tecido de granulação exuberante. A utilização da membrana amniótica como curativo após a aplicação de enxertos cutâneos é satisfatória, resultando em menor formação de tecido de granulação e menor tempo de cicatrização (Goodrich et al., 2000). IV. Matriz extracelular (ECM) Os principais componentes da ECM são o colágeno, proteoglicanos, glicoproteínas e fatores de crescimento. Várias formas de ECM têm sido avaliadas como curativo biológico, incluindo as formas hidratadas, liofilizadas e multifilamentadas. Embora a forma hidratada forme um substrato úmido e favorável para a migração e crescimento celular, as duas outras demonstram resultados satisfatórios após a reidratação. A ECM deve ser utilizada em lesões de grande extensão e profundidade. Ela fornece uma barreira de proteção contra a desidratação da ferida, atua como barreira antibacteriana, além de ser fonte de citocinas e FCs angiogênicos. Ela não proporciona uma perfeita regeneração da pele, mas um processo de cicatrização mais fisiológico (Badylak, 2004). V. Gel de plasma rico em plaquetas As plaquetas não auxiliam apenas na formação do coágulo, mas são importante fonte de enzimas hidrolíticas, citocinas e FCs, incluindo TGF-β, TGF-α, PDGF, EGF, e VEGF. O gel de plaquetas concentrado aplicado

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Suplemento Científico na ferida exerce estímulo e coordena o processo de cicatrização. A aplicação local de FCs tem importante implicação terapêutica no tratamento de feridas crônicas, embora os mecanismos exatos de seus efeitos sejam pouco compreendidos. Em um estudo realizado em equinos, a aplicação tópica de gel rico em plaquetas resultou em melhor organização do colágeno no interior do tecido de granulação e acelerou o processo de diferenciação epitelial (Carter et al., 2003).

Bandagens As bandagens têm sido utilizadas nos membros dos equinos por diversas razões, entre as quais o fornecimento de suporte, redução do movimento, dor e edema e proteção da ferida contra trauma adicional. A utilização das bandagens é muito importante quando há graves traumatismos nos membros, principalmente naquelas feridas com exposição óssea e laceração de tendões e ligamentos. No entanto, quando uma quantidade suficiente de tecido de granulação tenha se formado, essa deve ser retirada para evitar a proliferação do tecido de granulação exuberante (Dart et al., 2002a).

Controle do tecido de granulação exuberante A formação do tecido de granulação exuberante (Figura 4) impede a cicatrização por inibir tanto o processo de reepitelização quanto o de contração (Bacon-Miller et al., 2000; Lepault et al., 2005). Uma vez formado, o tecido de granulação exuberante predispõe a ferida à infecção e trauma adicional, e em muitos casos a ressecção cirúrgica é necessária para permitir a progressão da cicatrização (Engelen et al., 2004). HV/EV-UFMG

Figura 4. Tecido de granulação exuberante em equino.

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Aparentemente, a probabilidade de desenvolvimento do tecido de granulação e a velocidade de cicatrização são correlacionados com o tamanho corporal do equino. Equinos de grande porte desenvolvem mais tecido de granulação e apresentam cicatrização mais lenta, independente do tamanho da ferida (Bertone et al., 1985). A espécie equina é susceptível à formação do tecido de granulação exuberante. Entre os fatores predisponentes estão movimentação, tamanho corporal, infecção, baixo suprimento sanguíneo e de O2, tensão na pele ao redor da lesão, inflamação após aplicação tópica de certos fármacos, desequilíbrio da síntese e degradação de colágeno, uso de bandagens compressivas, formação de sequestro ósseo e localização da ferida (Bacon-Miller et al., 2000; Engelen et al., 2004). Diversas pesquisas demonstraram que a utilização de bandagens, compressivas ou não, e gessos promovem a formação do tecido de granulação exuberante (Dart et al., 2002b). As bandagens e gessos aumentam o gradiente de O2 entre o tecido e a superfície da ferida, estimulando a angiogênese, e podem reduzir a tensão de O2 no tecido, estimulando, também, a proliferação de fibroblastos. Além disso, criam um ambiente úmido e quente com pH baixo. Todos esses fatores associados aumentam as chances de formação do tecido de granulação exuberante (Wilmink e Weeren, 2004). Um achado comum nas cicatrizes hipertróficas (Figura 5) e quelóides é a presença de oclusão microvascular resultante da hiperplasia e/ou hipertrofia das células endoteliais do tecido de granulação, desempenhando papel significativo no desenvolvimento do tecido de granulação exuberante. A oclusão é mais pronunciada na região dos membros do que na região torácica, e o uso de bandagens nos membros aumenta a oclusão microvascular em 3,37 vezes quando comparado com as feridas torácicas (Lepault et al., 2005). É possível que a oclusão luminal microvascular reflita diferenças na pressão perivascular devido à reação inflamatória dos tecidos adjacentes, podendo ser exacerbada pelo uso de bandagens compressivas (Lepault et al., 2005). Outro fator que pode influenciar no surgimento do tecido de granulação exuberante é a disfunção do processo apoptótico. Quando comparadas com as feridas torácicas, as feridas da região dos membros demonstram maior atividade mitótica do tecido de granulação e uma menor taxa de apoptose celular (Wilmink et al., 1999; Lepault et al., 2005). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


HV/EV-UFMG

devem ser utilizados após o quinto dia da lesão. Quando os corticosteróides são aplicados logo após os primeiros sinais de desenvolvimento do tecido de granulação exuberante, uma a duas aplicações é o suficiente para controlá-lo. Os corticosteróides não devem ser utilizados em feridas infectadas (Farstvedt et al., 2004). Barber (1990) avaliou o efeito das bandagens e corticosteróides tópicos no controle do tecido de granulação. A formação do tecido de granulação foi menor no grupo controle (sem tratamento) e no grupo que recebeu a aplicação tópica de corticosteróides e bandagem. Os dois outros grupos, bandagem e bandagem com pomada, apresentaram maior formação de tecido de granulação, e necessitaram de maior número de debridamento Figura 5. Cicatriz hipertrófica em equino. Observar presença de extensa cicatriz na face dorso-medial do metatarso e aumento de volume no membro posterior esquerdo. para controlá-lo. O método de tratamento empregado duA quantidade do tecido de granulação poder ser rante o manejo da ferida influencia significativamenclassificada em cinco graus: a) grau I: tecido de grate o tempo de cicatrização. A aplicação de agentes nulação abaixo da borda da ferida; b) grau II: tecido cáusticos para controle do tecido de granulação, inde granulação proliferado ao nível da borda da fericluindo sulfato de cobre, alúmem de potássio, ácido da; c) grau III: tecido de granulação acima da borda nítrico, associação de ácido acético e málico, nitrato da ferida; d) grau IV: tecido de granulação necesside prata, permanganato de potássio hiper-saturado, tando de excisão ou debridamento para retornar ao hipoclorito de sódio, ou outros medicamentos nível do epitélio e controlar a proliferação excessiva caseiros para prevenir ou a formação do tecido de que está inibindo a reepitelização e grau V: tecido de granulação exuberante prolonga significativamente granulação exuberante (Schwartz et al., 2002). o tempo gasto para a completa cicatrização. Esses Vários tratamentos podem alterar a quantidade cáusticos não induzem à necrose apenas do tecido do tecido de granulação. Os tratamentos utilizados de granulação, mas, também, de todo o epitélio em incluem utilização de corticosteróides tópicos, HV/EV-UFMG géis e membranas de colágeno, membrana amniótica, levedura, inibidores farmacológicos, substâncias cáusticas, criocirurgia, bandagem em associação com antibióticos tópicos e hidroterapia, curativos oclusivos e semi-oclusivos, e aplicação tópica de ketanserina (Bacon-Miller et al., 2000; Engelen et al., 2004). Os corticosteróides podem ser aplicados topicamente para suprimir a formação inicial do tecido de granulação saudável, dessa forma facilitando a contração e a reepitelização da ferida. A utilização contínua dos corticosteróides durante o processo de cicatrização é contra-indicada, devido seus efeitos negativos na angiogênese, contração e reepitelização (Bacon-Miller et al., 2000). Para maximizar o efeito inibitório dos corticosteróides sobre a formação do tecido de granulação exuberante e evitar seus efeitos Figura 6. Ferida na região dorsal do metatarso com presença de crostas de alúmen de contralaterais no processo de cicatrização, eles potássio (seta). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

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Suplemento Científico migração, além de formarem crostas de difícil remoção (Figura 6) (Wilmink e Weeren, 2004). A necrose induzida aumenta a resposta inflamatória crônica, reativando a liberação de todos os mediadores envolvidos no processo de reparação. A contração e a reepitelização serão inibidas e um novo pico de proliferação celular surgirá, aumentando o tecido de granulação e sua recidiva. Embora alguns casos tratados com esse procedimento progridam para a completa cicatrização, o resultado final é uma cicatriz inaceitável (Shappell e Little, 1992). O tecido de granulação exuberante pode ser confundido com tumores, em particular os sarcóides equinos. A transformação de uma simples ferida para um sarcóide é uma importante causa de falha do processo de cicatrização. Feridas faciais ou torácicas geralmente desenvolvem sarcóides verrugosos, enquanto as feridas localizadas nos membros desenvolvem sarcóide fibroblástico. A transformação da ferida em sarcóide pode ocorrer logo após o trauma, comumente naquelas mantidas abertas em ambientes com alta densidade de moscas (Wilmink e Weeren, 2004). Nesses casos, a obtenção de uma amostra do tecido para avaliação histopatológica é necessária (Knottenbelt, 2005).

Enxertos de pele O uso de flapes de pele reconstrutivos ou enxertos podem modificar dramaticamente o resultado final da cicatrização de feridas que apresentam déficit na contração ou formação excessiva de tecido de granulação impedindo a cicatrização. O enxerto é indicado primariamente para feridas com excessiva perda tecidual; feridas em que a formação de tecido de granulação exuberante impede a contração e naquelas com contração e epitelização insuficientes para fechar o defeito. O enxerto deve ser transplantado para áreas com suprimento sanguíneo local adequado, não sobrevivendo quando transplantados sobre áreas com exposição óssea, tendão e tecido adiposo. Além disso, não devem ser fixados em feridas infectadas, pois contagens bacterianas de 105/g de tecido estão associadas com falha no transplante (Bristol, 2005; Hierner et al., 2005). Atualmente, a pesquisa e o desenvolvimento de tecidos e produtos celulares tem sido uma abordagem dos avanços do campo da medicina regenerativa. Três estratégias são utilizadas para o desenvolvimento de produtos da engenharia tecidual. A primeira estratégia envolve o uso de células sem a matriz. Quando transplantadas, essas células restauram a função do sistema ou órgão lesado. A segunda estratégia

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envolve o desenvolvimento de polímeros sintéticos ou biomateriais que agem restaurando a função orgânica sistêmica quando usados individualmente. A última abordagem terapêutica envolve o uso de células com uma matriz tridimensional. Por exemplo, substitutos de pele com camada dupla composta de queratinócitos e fibroblastos incorporados dentro de uma matriz de colágeno biológica antes do transplante e, consequentemente, auxiliam melhorando ou promovendo o processo de reparação tecidual (Jimenez e Jimenez, 2004).

Terapia com Laser Vários estudos têm demonstrado que o laser estimula a proliferação dos fibroblastos, melhora a síntese de colágeno, aumenta a produção de ATP, e a resistência tensil e influencia a concentração de várias prostaglandinas (Peterson et al., 1999). O laser apresenta vantagens para a retirada de tecidos com hemorragia mínima ou de sítios inacessíveis com instrumentos convencionais. Adicionalmente, após debridamento cirúrgico, promove menor formação de edema e menor sensibilidade pós-operatória devido à oclusão dos vasos sanguíneos e terminações nervosas. A decisão para usar o laser versus instrumentos convencionais deve variar de acordo com cada caso. Em algumas situações, a cirurgia convencional pode ainda ter vantagem para alguns procedimentos, tais como: reavivamento de bordas, elevação de flaps de pele ou remoção de contaminantes da ferida (Sullins, 2004).

Profilaxia do tétano Uma adequada proteção contra o Clostridium tetani deve ser fornecida (Caron, 1992). Embora a dose de soro antitetânico a administrada varie entre os profissionais, uma a duas doses de 5.000 a 10.000 UI com intervalo de 3-4 semanas entre administração, parece ser o regime terapêutico mais apropriado.

Considerações finais Independente do tipo e da localização da ferida, o paciente sempre deve ser examinado minuciosamente para que outras alterações concomitantes possam ser identificadas e corrigidas. Durante o tratamento, o bem-estar deve ser preconizado para que alterações como perda de apetite e estresse não prejudiquem a recuperação. A abordagem da ferida deve ser individualizada. Após abordagem inicial, a melhor intervenção terapêutica deve ser instituída sempre evitando que novas complicaRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


ções ocorram. Embora não se tenha um protocolo terapêutico ideal para o manejo das injúrias cutâneas, existem diversos produtos disponíveis que podem atuar de forma benéfica em cada fase da cicatrização. A abordagem clínica mais efetiva é a limpeza diária da ferida para evitar a contaminação e colonização bacteriana, e a utilização de estratégias que acelerem o processo de cicatrização, sem, contudo, aumentar a incidência de complicações.

É essencial que o Médico Veterinário tenha amplo conhecimento de todos os mecanismos que envolvem o processo da cicatrização para identificar os fatores que estão afetando negativamente a cicatrização da ferida e tenha capacidade de intervir mediante a observação de complicações, proporcionando a resolução dos problemas e permitindo a cicatrização da ferida sem que ocorram cicatrizes exuberantes e defeitos cosméticos.

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Dados dos Autores

Cíntia Ferreira

Médica Veterinária – CRMV-MG n° 8260 Doutoranda. Bolsista do CNPq.

Endereço para correspondência: Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias Escola de Veterinária da UFMG. E-mail: cfvet@ig.com.br

Maristela Silveira Palhares

Médica Veterinária – CRMV-MG nº 2746. Profa. Associada – Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias – Escola de Veterinária da UFMG. E-mail: palhares@vet.ufmg.br

48

Ubiratan Pereira de Melo

Médico Veterinário – CRMV n° 6939 –Doutorando Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias – Escola de Veterinária da UFMG. Bolsista do CNPq. E-mail: ubiratan_melo@yahoo.com.br

José Monteiro da Silva Filho

Médico Veterinário – CRMV-MG nº 1427. Prof. Associado – Departamento de Clínica e Cirurgia Veterinárias – Escola de Veterinária da UFMG. E-mail: monteiro@vet.ufmg.br.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


PREVALÊNCIA DA INFECÇÃO POR Ascaris suum E ACHADOS MACRO E MICROSCÓPICOS EM FÍGADOS DE SUÍNOS ABATIDOS NA REGIÃO METROPOLITANA DE RECIFE E ZONA DA MATA DE PERNAMBUCO Ascaris suum prevalence and strutural changes in liver of swines from metropolitan region of recife and zona da mata of pernambuco state

Resumo Este trabalho teve como objetivo avaliar a prevalência da infecção por Ascaris suum e avaliar a frequência de alterações macro e microscópicas em fígados de suínos abatidos na região metropolitana de Recife e da Zona da Mata do Estado de Pernambuco. A pesquisa foi desenvolvida em três abatedouros inscritos no sistema de inspeção estadual, nos meses de julho de 2008 a maio de 2009. Foram examinados 715 animais. Realizou-se a aplicação de um questionário para avaliar as condições de manejo das propriedades. Os fígados foram examinados, na respectiva linha de inspeção, para a presença de manchas leitosas, que foram classificadas conforme o grau de lesão. As manchas leitosas foram registradas em 2,2% (16/715) dos fígados examinados, ocorrendo em 0,6% (4/638) animais das granjas tecnificadas e em 15,6% (12/77) dos animais das granjas de subsistência (p < 0,001). Das demais lesões diagnosticadas, constataram-se áreas de mineralização com 2,0% (14/715), seguidas de coágulo, cirrose, espessamento de cápsula, teleangiectasia e atrofia. As alterações microscópicas nos animais que apresentaram manchas leitosas foram congestão sinusoidal, focos inflamatórios granulomatosos, perihepatite granulomatosa, e infiltração eosinofílica nos espaços interlobulares. Palavras-chave: manchas leitosas, helmintose suína, Ascaris suum

Abstract The objective of this paper was to estimate the prevalence of milk-spot lesions and structural changes in liver of slaughtered swines from three different slaughterhouses under federal veterinary inspection located at metropolitan region of Recife (MRR) and Zona da Mata (ZM) of Pernambuco State, Brazil. Between June 2008 to May 2009 livers from 715 animals were collected, examined and scored for lesions consistent with parasitic migration during meat inspection. The questionnaire survey also was carried out to identify the current husbandry practices. The results showed milk-spot lesions in 2.2% (16/715) of livers examined being 0,6% (4/638) from intensive animal husbandry procedures and 15.6% (12/77) from subsistence practices (p < 0,001). Several morphologic changes including mineralization (2.0%) followed by of blood clot, cirrhosis, capsule thickening, telangiectasia and atrophy were evidenced. The results of the optical microscopy examination showed sinusoidal congestion, granulomatous inflammatory foci, granulomatous perihepatitis, and eosinophilic infiltration in the interlobular spaces. Keywords: milk spots, swine helminthosis, Ascaris suum

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Suplemento Científico

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INTRODUÇÃO

MATERIAL DE MÉTODOS

O diagnóstico de rotina das helmintoses em suínos realiza-se mediante a investigação periódica da presença de formas parasitárias (ovos e larvas) nas fezes e mediante exame post mortem dos animais, com o objetivo de evidenciar os nematóides adultos e sua localização definitiva (trato gastrointestinal, trato respiratório) e as lesões produzidas pela migração das fases larvais e pelos próprios adultos (Mora, 2000). Dos parasitos mais adaptados aos sistemas de confinamento e, portanto responsáveis pelas maiores perdas na produção, destaca-se Ascaris suum. Das endoparasitoses do suíno, a ascariose suína constitui o processo patológico mais importante por sua prevalência e efeitos adversos no ganho de peso e no índice de conversão (Hoy, 1994). A migração de larvas através do fígado é um componente comum de ciclo de vida dos nematóides em animais domésticos. Como a larva migra através do fígado, elas produzem uma necrose hepatocelular local que é acompanhada por inflamação. Os tecidos funcionais são substituídos por tecido conectivo que amadurece e se manifesta em cicatrizes fibrosas na superfície da cápsula, que se denominam manchas leitosas, conferindo ao órgão uma aparência indesejável, que o torna impróprio para o consumo, sendo uma causa bastante comum de condenação de fígado de suínos em nível de frigorífico (Lignon et al. 1985, Cullen, 2007). O estudo post mortem tem grande importância na ascariose suína. A detecção de fígados com lesões é um indicador mais sensível da infecção por A. suum que a demonstração de parasitos adultos no intestino (Bernardo et al., 1990). Assim, a demonstração das lesões de hepatite intersticial (manchas leitosas) nos fígados infectados por A. suum foi incorporada aos programas de inspeção em abatedouros como a forma mais habitual e completa de demonstrar a presença, prevalência e gravidade da ascariose suína durante o período de engorda (Pointon et al., 1999). O uso de monitorias patológicas em frigoríficos é uma das mais importantes fontes de informações conhecidas para o acompanhamento sanitário dos suínos, com finalidade de identificar e quantificar as prevalências das doenças, bem como a severidade das lesões encontradas (Piffer e Brito, 1990). Este trabalho teve como objetivo estudar a prevalência de infecção por Ascaris suum e a frequência de alterações macro e microscópicas em fígados de suínos abatidos na Região Metropolitana de Recife e da Zona da Mata do estado de Pernambuco, Brasil.

A pesquisa foi desenvolvida em abatedouros cadastrados no sistema de inspeção estadual, localizados na Região Metropolitana do Recife e na Zona da Mata do estado Pernambuco, cuja agência reguladora é a Agência de Defesa e fiscalização Agropecuária (Adagro), nos meses de julho de 2008 a maio de 2009. Foram examinados 715 animais de três abatedouros de diferentes municípios da referida área, regidos pela regulamentação da inspeção sanitária estadual. Os animais eram machos e fêmeas, de raças variadas, em idade de abate, com peso vivo variando entre 80 a 120kg, provenientes de oito granjas tecnificadas e três de subsitência (Miele e Waquil, 2007). As granjas de subsistência foram reunidas em um único grupo para efeito de análise, devido às semelhantes características de criação e manejo. Foi aplicado um questionário investigativo nas propriedades que abateram animais nos abatedouros, permitindo-se conhecer: a identificação do produtor, identificação da propriedade, manejo higiênico-sanitário, acesso ao mercado, e condição do plantel, analisando-se as variáveis, tipo de exploração, qualidade de higiene das baias, fonte e tratamento de água, tipo de bebedouro e de piso, limpeza das instalações, tratamento e destino de dejetos. A inspeção das vísceras foi realizada nos abatedouros, após o descanso, jejum e inspeção antemortem, segundo a legislação pertinente (Brasil, 1997). Os fígados foram examinados, na respectiva linha de inspeção, para a presença de manchas leitosas, indicada por lesão macroscópica característica, seguindo classificação de acordo com o grau da lesão, conforme os seguintes graus: 0 (ausência de focos de manchas leitosas), 1 (até 10 focos de manchas leitosas) e 2 (mais de 10 focos de manchas leitosas) (Morés, 2000). O intestino e o conteúdo intestinal foram examinados para a verificação da presença de adultos de A. suum. Amostras fecais foram coletadas diretamente da ampola retal de cada animal na própria linha de inspeção, utilizando-se sacos plásticos previamente identificados e transferidos para caixa isotérmicas contendo gelo reciclável, para transporte ao Laboratório de Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos – Departamento de Medicina Veterinária – Universidade de Federal Rural de Pernambuco, para exame parasitológico por meio da contagem de ovos nas fezes (OPG), conforme Gordon e Whitlock (1939). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Durante a inspeção, 30 amostras de fragmentos de fígados que apresentaram diferentes tipos de lesões foram coletadas para exame histopatológico. Os fragmentos dos fígados foram transferidos para recipientes plásticos previamente identificados, contendo formol tamponado 10%, sendo mantidos em temperatura ambiente, por pelo menos 72 horas, para completa fixação dos tecidos. No Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, os fragmentos foram cortados com auxílio de uma lâmina de micrótomo, transferidos para casseteres, previamente identificados com o número de cada animal e data e encaminhados para a confecção de lâminas no Laboratório de Histotecnologia da Universidade Federal de Pernambuco, seguindo metodologia preconizada por Banks (1993). Procedeu-se à leitura das lâminas em microscópico óptico à objetiva de 10X no Laboratório de Patologia Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Para análise dos dados foram obtidas distribuições absolutas e percentuais para a frequência de manchas leitosas, e de alterações macro e microscópicas em fígados de suínos, além da utilização do teste Qui-quadrado de Pearson ou Exato de Fisher (quando as condições para utilização do teste Quiquadrado não foram verificadas) para avaliar a associação das manchas leitosas com as variáveis analisadas. Para a associação com o tipo de suinocultura (tecnificada e subsistência) foi calculado o odds ratio.

O nível de significância utilizado na decisão dos testes estatísticos foi de 5,0%. Os dados foram digitados na planilha Excel e o software utilizado para a obtenção dos cálculos estatísticos foi o SPSS (Statistical Package for the Social Sciences) na versão 15.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos 715 fígados de suínos avaliados nos abatedouros, apenas 2,2% (16/715) apresentaram manchas leitosas. Analisando-se a frequência por propriedade, observou-se que a granja 9 apresentou percentual de 15,6% (12/77), significativamente mais elevado que as demais, dentre as quais cinco mostraram resultados negativos para a referida lesão (Tabela 1). Analisando-se a Tabela 2, houve associação significativa entre a presença de manchas leitosas e o tipo de suinocultura, verificando-se maior probabilidade de ocorrência de tais lesões em animais criados em granjas de subsistência. Esse dado justifica o maior percentual na granja 9, por tratar-se de propriedade de subsistência, enquanto que as cinco granjas negativas (Tabela 1) constituíam-se granjas tecnificadas. Considerando-se que, nos dois tipos de granjas, adota-se o mesmo sistema intensivo, a diferença pode ser explicada pelo tipo de manejo praticado, verificando-se condições inadequadas nas propriedades de subsistência. De acordo com as respostas ao questionário investigativo, tais propriedades não possuem assistência veterinária, provavelmen-

Tabela 1. Frequência absoluta (n) e relativa (%) da distribuição de manchas leitosas em fígados de suínos em abatedouros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco, Brasil, segundo a procedência Manchas leitosas Propriedade Granja 1

Positivo

Negativo

Total

n

%

n

%

n

%

1

1,0

98

99,0

99

100,0

Granja 2

1

0,8

118

99,2

119

100,0

Granja 3

2

4,4

43

95,6

45

100,0

Granja 4

0

0

150

100,0

150

100,0

Granja 5

0

0

59

100,0

59

100,0

Granja 6

0

0

60

100,0

60

100,0

Granja 7

0

0

47

100,0

47

100,0

Granja 8

0

0

59

100,0

59

100,0

Granja 9

12

15,6

65

84,4

77

100,0

16

2,2

699

97,8

715

100,0

Total

Valor de p p < 0,001*

(*): Diferença significativa a 5,0% pelo teste Exato de Fisher.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

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Suplemento Científico Tabela 2. Frequência absoluta (n) e relativa (%) e valor de p e Odds Ratio (OR) da presença de manchas leitosas, segundo o tipo de suinocultura, em suínos de abatedouros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco, Brasil Suinocultura Manchas leitosas

Tecnificada

Subsistência

n

%

n

%

n

%

Sim

4

0,6

12

15,6

16

2,2

Não

634

99,4

65

84,4

699

97,8

638

100,0

77

100,0

715

100,0

Total

Total

Valor de p

OR (IC a 95%)

p < 0,001*

1,00 29,26 (9,17 a 93,44)

(*): Diferença significativa a 5,0% pelo teste Exato de Fisher.

te utilizando os anti-helmínticos de forma empírica sem a adequada orientação técnica quanto à aplicação da dosagem correta descrita pelo fabricante, dentre outros fatores. Nas granjas tecnificadas, os suínos são encaminhados para o abate com 140 dias de idade. Às vezes, esse prazo pode ser prolongado até 160 dias. Sendo assim, esses animais são terminados e adultos e provavelmente já desenvolveram imunidade contra A. suum. Segundo Bernardo et al. (1990), é altamente improvável que o animal tenha uma infecção por A. suum e não apresente manchas leitosas no fígado, portanto, a monitoria de manchas leitosas em abatedouros é mais sensível indicador de infecção por A. suum do que a presença do parasito adulto no intestino (Bernardo et al., 1990). Embora os parasitos adultos possam estar presentes no intestino em pequena quantidade em suínos que não apresentam as referidas lesões (Pointon et al., 1999), não foram encontrados exemplares de A. suum no intestino delgado de nenhum dos animais examinados no presente estudo, bem como as amostras fecais examinadas mostraram-se todas negativas para ovos de A. suum. E m r e l a ç ã o a o s g r a u s d e l e s õ e s, 9 7 , 8 % (699/715) dos fígados apresentaram grau 0 (ausência de manchas leitosas), 0,6% (4/715) grau 1 e 1,6% (12/715) o grau 2. Nas granjas tecnificadas, dos animais positivos para manchas leitosas, sendo 4,4% (2/43) da granja 3, 1,0% (1/99) da granja 1 e 0,8% (1/119) da granja 2, todos apresentaram o grau 1. Nas granjas de subsistência, observaram-se manchas leitosas em 15,6% (12/77) dos fígados, todos com o grau 2 de lesão. Ao exame de 1.000 fígados coletados no abate de suínos da região de Lublin, na Polônia, registraram-se 31,1% (311/1000) de manchas leitosas, com 58,2% (181/311) apresentando de 1-3 manchas leitosas por fígado, 28,3% (88/311) de 4-7

52

manchas e 13,5% (42/311) com 8-30 lesões (PyzUkasik & Prost, 1999). Vyt et al. (2004), em estudo na Bélgica, revelaram 11,0% (16760/152364) de fígados rejeitados em abatedouro devido às múltiplas manchas leitosas. Na Coréia, em fígados de suínos de cinco propriedades, examinados ao abate obtiveram-se 17,9% (80/446) de positividade para manchas leitosas, variando de 9,8 a 29,7% entre as propriedades, sendo 82,1% (366/446) no grau 0, 17,5% (78/446) no grau 1, e 0,4% (2/446) no grau 2 (Hwang et al., 2004). O aumento nos valores de frequência nesses graus de lesões no fígado está relacionado a vários fatores ligados à infecção por A. suum, dentre eles o manejo, as condições climáticas, ciclo biológico e o anti-helmíntico utilizado (Roepstorff e Nansen, 1994). Os resultados obtidos mostram a necessidade de se avaliar a eficácia dos programas de controle da infecção por helmintos nas propriedades, realizando-se exames coproparasitológicos dos suínos jovens e das matrizes na maternidade, definir prioridades de ações no sistema de assistência técnica e identificar fatores de risco nas propriedades, conforme recomendado por Taylor (1986) e Bernardo et al. (1990), particularmente naquelas propriedades em que se observaram maiores taxas de fígados acometidos (Tabela 1), levando-se em consideração que, além dos custos diretos da infecção por A. suum, existe um potencial efeito indireto dessa parasitose no aumento do índice de conversão e na exacerbação das patologias respiratórias devido às migrações larvares (Taylor, 1986, Bernardo et al., 1990). Nakagawa et al. (1983), no Japão, demonstraram que, de um total de 815 suínos, 311 (38,2%) tiveram parte ou todo o fígado condenado por manchas leitosas. No Canadá, Wagner e Polley (1997) obtiveram positividade de 44% em 2.500 suínos Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Tabela 3. Frequência absoluta (n) e relativa (%) de achados macroscópicos em fígados de suínos de abatedouros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco, Brasil Achados macroscópicos

n

%

Coágulo

1

0,1

Áreas de mineralização

14

2,0

Manchas leitosas

16

2,2

Cirrose

1

0,1

Perihepatite

1

0,1

Teleangiectasia

1

0,1

Atrofia

1

0,1

35

4,7

Total

quanto à presença de manchas leitosas. Theodoropoulos et al. (2002), na Grécia, em um estudo avaliando as condenações por infecção parasitária na região de Trikala, de um total de 3.920 fígados de suínos de abatedouros, a única lesão observada foi mancha de leite, com 0,35%, valor inferior ao encontrado neste trabalho. Embora com frequências variáveis em diferentes países, os resultados permitem considerar as manchas leitosas, uma das causas importantes de condenação de fígados de suínos em abatedouros. Dos animais avaliados 4,9% (35/715) apresentaram outras lesões hepáticas além das manchas leitosas, observando-se áreas de mineralização com 2,0% (14/715), seguidos de cirrose, coágulo, espessamento de cápsula, teleangiectasia e atrofia (Tabela 3). Com exceção de manchas leitosas, as demais lesões não têm como causa a infecção por parasitos gastrintestinais.

No exame histopatológico (Tabela 4), a lesão que apresentou maior frequência foi a tumefação celular dos hepatócitos, proliferação conjuntiva dos septos interloburares e proliferação de ductos biliares com 20,0% (6/30) para cada alteração. Nos fígados que apresentaram áreas de mineralização, microscopicamente foram evidenciadas congestão sinusoidal, tumefação dos hepatócitos, granulomas, hiperplasia das células de Kupfer, proliferação conjuntiva de ductos biliares e septos interlobulares, sendo essa última o principal achado no fígado que apresentou cirrose. No fígado que apresentou teleangiectasia, ao exame microscópico detectou-se perihepatite. Em apenas um dos fígados analisados microscopicamente observou-se necrose, proliferação conjuntiva dos septos interlobulares com a presença de alguns granulomas. Nos fígados que apresentaram manchas leitosas, foram observados congestão sinusoidal, focos

Tabela 4. Frequência absoluta (n) e relativa (%) de alterações microscópicas em fígados de suínos de abatedouros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco, Brasil Alterações microscópicas

n

%

Fibrose

5

16,7

Congestão sinusoidal

5

16,7

Tumefação dos hepatócitos

6

20,0

Hiperplasia das celulas de Kupfer

1

3,3

Proliferação conjuntiva dos septos interlobulares

6

20,0

Hepatite granulomatosa

4

13,3

Proliferação de ductos biliares

6

20,0

Vacuolização

1

3,3

Degeneração gordurosa

1

3,3

Perihepatite granulomatosa

3

10

Necrose

1

3,3

Obs.: Os percentuais foram obtidos do número total de animais analisados que são iguais a 30. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

53


Suplemento Científico Tabela 5. Frequência absoluta (n) e relativa (%) de manchas leitosas em fígados de suínos em abatedouros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco – Brasil, segundo as variáveis relativas ao tipo da criação e manejo das instalações Manchas leitosas Positivo

Variáveis

Negativo

Total

n

%

n

%

n

%

Recria

2

4,4

43

95,6

45

100,0

Mista

14

2,1

656

97,9

670

100,0

0

0

197

100,0

197

100,0

Valor de p

Tipo de exploração p = 0,267

Qualidade de higiene das baias Boa Moderada

4

0,9

437

99,1

441

100,0

Ruim

12

15,6

65

84,4

77

100,0

p < 0,001*

Fonte de água Poço

2

0,4

544

99,6

546

100,0

Poço + açude

2

4,4

43

95,6

45

100,0

Poço + rio

0

0

47

100,0

47

100,0

Poço + barreiro

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Sim

4

0,6

634

99,4

638

100,0

Não

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Chupeta

4

0,6

634

99,4

638

100,0

Cocho

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Áspero

16

2,8

549

97,2

565

100,0

Liso

0

0

150

100,0

150

100,0

Jato d’ água

2

0,3

591

99,7

593

100,0

Remoção dos dejetos

14

11,5

108

88,5

122

100,0

Sim

0

0

256

100,0

256

100,0

Não

16

3,5

443

96,5

459

100,0

Fossa séptica

0

0

106

100,0

106

100,0

Céu aberto

16

3,5

443

96,5

459

100,0

Lagoa de tratamento

0

0

150

100,0

150

100,0

16

2,2

699

97,8

715

100,0

p < 0,001*

Tratamento de água p < 0,001*

Tipo de bebedouro p < 0,001*

Tipo de piso p = 0,031*

Limpeza das instalações p < 0,001*

Tratamento de dejetos p = 0,003*

Destino dos dejetos

Total

p = 0,005*

(*): Diferença significativa a 5,0% pelo teste Qui-Quadrado de Pearson.

inflamatórios granulomatosos, perihepatite granulomatosa, e infiltração eosinofílica nos espaços interlobulares. Nakagawa et al. (1983), realizando estudo patológico de manchas leitosas em 338 suínos, caracterizaram três tipos de lesões micros-

54

cópicas: hepatite intersticial eosinofílica, fibrose e hiperplasia linfofolicular. Dos resultados obtidos da análise dos questionários investigativos para avaliação da associação entre a ocorrência de manchas leitosas e as condiRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Tabela 6. Frequência absoluta (n) e relativa (%) de manchas leitosas em fígados de suínos de abatedouros da Região Metropolitana de Recife e Zona da Mata do estado de Pernambuco – Brasil, segundo as variáveis relacionadas à alimentação, assistência veterinária e controle anti-helmíntico Manchas leitosas Variáveis

Positivo

Negativo

Total

n

%

n

%

n

%

Ração balanceada

4

0,6

634

99,4

638

100,0

Ração balanceada + restos de alimentos

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Sim

4

0,6

634

99,4

638

100,0

Não

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Valor de p

Alimentação p < 0,001*

Assistência veterinária p < 0,001*

Ouviu falar de verminose Sim

4

0,7

575

99,3

579

100,0

Não

12

8,8

124

91,2

136

100,0

Sim

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Não

4

0,6

634

99,4

638

100,0

Ivermectina

0

0

59

100,0

59

100,0

Febendazole

4

0,8

528

99,2

532

100,0

Ivermectina para suínos

0

0

47

100,0

47

100,0

Ivermectina + cloridrato de levamisol

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Sim

14

2,1

656

97,9

670

100,0

Não

2

4,4

43

95,6

45

100,0

Sim

0

0

47

100,0

47

100,0

Não

16

2,4

652

97,6

668

100,0

Bom

16

2,4

640

97,6

656

100,0

Moderado

0

0

59

100,0

59

100,0

Sim

4

0,6

634

99,4

638

100,0

Não

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Só no município

12

15,6

65

84,4

77

100,0

Inter e intra-estadual

4

0,6

634

99,4

638

100,0

Total

16

2,2

699

97,8

715

100,0

p < 0,001*

Ouviu falar de manchas leitosas p < 0,001*

Anti - helmíntico p < 0,001*

Rotação de anti-helmíntico p = 0,267

Exames coproparasitológicos p = 0,617

Estado nutricional p = 0,634

Quarentena p < 0,001*

Comércio de animais vivos p < 0,001*

(*): Diferença significativa a 5,0% pelo teste Qui-Quadrado de Pearson.

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

55


Suplemento Científico ções higiênico-sanitárias das propriedades (Tabelas 5 e 6), observa-se diferença significativa com todas as variáveis relacionadas à criação e ao manejo das instalações (Tabela 5), com frequências mais elevadas para animais criados em condições inadequadas que facilitaram a disseminação dos ovos de A. suum. Os dados estão de acordo com Roespstorff e Nansen (1994), que afirmam que A. suum destaca-se dentre as espécies de helmintos que conse-

guem sobreviver mesmo em sistemas intensivos, estando sua prevalência e níveis de infecção ligados às condições relativas à higiene e ao manejo. A falta de tratamento dos dejetos e o destino a céu aberto (Tabela 5) são fatores na propriedade que favorecem a manutenção e disseminação da infecção por A. suum. Com a implantação do uso cada vez maior de sistemas confinados, o homem provocou a concentração de suínos em pequenas áreas, causando grande volume de dejetos produ-

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Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


zidos por unidade de área (Ferreira et al., 2004). A exposição a céu aberto pode permitir que insetos e roedores tenham acesso e possam servir de disseminadores de diversos patógenos. Segundo Pedroso-de-Paiva (2006), as falhas de manejo dos dejetos continuam sendo a causa da proliferação de moscas em criações de suínos. Förster et al. (2009) demonstraram o potencial de ovos e larvas de A. suum serem carreados no exoesqueleto e intestino de Musca domestica, a espécie de mosca mais comum em baias suínas. Na Tabela 6 verifica-se que percentuais significativamente mais elevados foram obtidos para os animais das granjas de subsistência nas quais as deficiências nas práticas de manejo sanitário foram mais evidentes, justificando, portanto, o resultado encontrado. Em relação ao uso de anti-helmínticos, deve-se levar em consideração não só a prática desta medida, mas também obser vação de outros aspectos relacionados à dinâmica da infecção parasitária. Segundo Murrel (1986), devido ao efeito transitório dos anti-helmínticos, esses precisam ser utilizados em combinação com outras medidas de controle. Jolie et al. (1998) observaram que a utilização de anti-helmínticos é ineficiente para animais que tenham uma pesada infecção

por A. suum e com constante acesso à fonte de infecção. Trabalhando com grupos de animais criados extensivamente e confinados, em duas etapas experimentais, a primeira sem tratamento e a segunda com uso de tartarato de pirantel e ivermectina esses mesmos autores não detectaram manchas leitosas nos animais confinados em nenhuma das situações; nos criados extensivamente, as lesões apareceram, porém mais graves nos animais não tratados. Vyt et al. (2004), em suínos de abatedouro revelaram que o sistema “todos dentro, todos fora” apresentou correlação negativa entre as lesões de fígado, sendo, assim, uma importante ferramenta para prevenir essas lesões. No presente estudo, apenas três granjas adotam tal sistema, o que reforça ainda mais a necessidade da avaliação das condições de manejo das propriedades no tocante à infecção por A. suum. Apesar da ausência de helmintos adultos no intestino delgado dos animais ao exame no abatedouro e da negatividade para ovos de A. suum nas amostras fecais obtidas deles, a presença de manchas leitosas nos fígados de suínos das granjas tecnificadas e de subsistência comprova a existência da infecção por A. sunn nestas propriedades, estando a frequência e o grau de parasitismo diretamente influenciados pelo manejo adotado.

Dados dos Autores

Alessandra Santos d’Alencar

CRMV-PE Nº 2646 – Doutora em Ciência Veterinária – (PPGCV/UFRPE) – Médica Veterinária Autônoma

Endereço para correspondência: Rua Guedes Pereira 180/1603, Recife-PE, CEP: 52060-150 E-mail: dalencar_ale@yahoo.com

Márcia Paula Oliveira Farias

CRMV-PE nº 2236 – Doutora em Ciência Veterinária – (PPGCV/UFRPE) – Médica Veterinária Autônoma E-mail: marciapbo@gmail.com

Marilene Maria de Lima

CRMV-PE nº 2339 – Prof. Adjunto de Parasitologia – UFRPE – Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) E-mail: lenelimal@yahoo.com.br

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

Fernando Leandro dos Santos

CRMV-PE nº 1492 – Prof. Adjunto de Patologia Veterinária – Departamento de Medicina Veterinária – UFRPE E-mail: fls@dmv.ufrpe.br

Leucio Câmara Alves

CRMV-PE nº 1290 – Prof. Associado III – Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos/DMV – UFRPE E-mail: leucioalves@gmail.com

Maria Aparecida da Glória Faustino

CRMV-PE nº 2263 – Prof. Associada III – Doenças Parasitárias dos Animais Domésticos/DMV– UFRPE E-mail: magfaustino@hotmail.com

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Suplemento Científico

ENFERMIDADES CIRÚRGICAS DO APARELHO REPRODUTOR MASCULINO EQUINO: ASPECTOS CLÍNICOS E TERAPÊUTICOS Surgical conditions of equine male reproductive system: clinical and therapeutic aspects

Resumo O aparelho reprodutor masculino é compreendido por bolsa escrotal, testículos, ductos eferentes, epidídimos, ductos deferentes, uretra, pênis, prepúcio e glândulas anexas. Traumatismos nos testículos, pênis e prepúcio produzem edema e, dependendo do tipo de trauma, podem acarretar hemorragia, infertilidade e outras complicações, como fimose nas lesões de caráter crônico do prepúcio. Paralisia do pênis é a incapacidade do animal retrair o órgão, com ou sem ereção, denominadas priapismo e parafimose, respectivamente. Neoplasias do pênis e prepúcio produzem lesões que incluem tumefação e ulceração. Dor e tumefação no escroto podem ser causadas por torção do testículo, hérnia ou orquite. Os sinais de falha parcial ou completa do descenso testicular (criptorquidia) variam com a extensão do distúrbio e com a sua condição de ser uni ou bilateral. O protocolo terapêutico estabelecido para correção das alterações depende da patologia e gravidade e, na maioria dos casos, a refratariedade ao tratamento sugere indicação cirúrgica. Os protocolos cirúrgicos de tratamento mais comuns de lesões nesses locais são a orquiectomia, falectomia e falopexia. Palavras-chave: garanhão, falectomia, reprodução

Abstract The male reproductive system comprehends the scrotum, testicles, efferent ducts, epididims, ductus deferens, urethra, penis and prepuce. Trauma on testicles, penis and prepuce lead to edema, and, depending on the nature of trauma, may also lead to hemorrhage, infertility and other complications, such as phimosis as in chronic prepuce conditions. Penis paralysis is the inability of retracting this organ, with or without erection, named priapism and paraphimosis, respectively. Neoplasias of penis and prepuce lead to lesions including swelling and ulceration. Pain and swelling of the scrotum may be due to testicle torsion, hernia or orchitis. Signs of fail, both partial and complete, of criptorchidism may vary according to the extension of the condition and the fact of being uni or bi-lateral. The therapeutic protocol established for the correction of alterations depends on the pathology and its gravity, and, in most cases, recurrences may suggest surgical indication. The most common surgical protocols in these sites are orchiectomy and phalectomy. Keywords: stallion, phalectomy, reproduction

Introdução A monta natural ocorre por meio do contato físico do garanhão com a égua, podendo ocorrer lesões em ambos os animais envolvidos. A contenção adequada dos animais e o uso de equipamentos de proteção ajudam a minimizar alguns dos riscos.

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Lesões no garanhão podem incluir coices no pênis, prepúcio, escroto, região inguinal, pernas ou no corpo por uma égua inadequadamente contida. Os garanhões com experiências negativas como essa, podem ficar relutantes em copular após esta agressão (Immegart & Threlfall, 2000). Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


A ocorrência de traumas envolvendo o pênis, prepúcio e escroto são uma causa comum de infertilidade em garanhões (Mckinnon & Voss, 1992). As patologias traumáticas produzidas na genitália externa são consideradas uma condição de risco para os garanhões e devem ser tratadas como emergência a fim de evitar danos à espermatogênese, à habilidade de realização da cópula e ejaculação do animal (Perkins & Frazer, 1994). Esses problemas representam importância econômica, pois podem interromper uma estação de monta ou diminuir a eficiência reprodutiva do plantel (Papa & Leme, 2002). Um rápido e correto diagnóstico das injúrias pode levar a uma pronta e efetiva terapia, além de minimizar danos irreparáveis. A avaliação reprodutiva de animais com traumas anteriores deve ser criteriosa, incluindo-se exame físico, análise do sêmem, culturas bacteriológicas, ultrassonografia, exames laboratoriais, hormonais e biopsia testicular (Speirs, 1999).

Exame clínico do Aparelho Genital Masculino Durante o exame clínico do aparelho reprodutor, geralmente é necessária a contenção física para palpação do pênis, prepúcio, testículos e eventualmente via transretal. Na maioria dos cavalos, consegue-se facilmente a contenção, no entanto, em outros, especialmente garanhões, o exame pode ser mais difícil e mesmo bastante perigoso para o animal e para o Médico Veterinário (Walker & Vaughan, 1980; Speirs, 1999). Para ser examinado, o pênis deve ser parcial ou completamente estendido para o exterior do prepúcio. Existem várias maneiras de se conseguir a exposição do pênis, como o uso de éguas no cio, no caso de garanhões, no ato de micção, por meio da administração de diuréticos, exteriorização manual e tranquilização com fármacos como a acepromazina ou xilazina (Doherty & Valverde, 2006). A posição dos testículos pode ser visualmente avaliada. São geralmente de forma e tamanho simétricos, com um testículo levemente cranial ao outro. Apresentam consistência fibroelástica. A palpação é realizada comprimindo-se levemente o testículo, ao mesmo tempo em que ele é imobilizado no escroto com a outra mão colocada dorsalmente. A cabeça do epidídimo fica no polo crânio-dorsal, o corpo no aspecto medial e a cauda no pólo caudal. O reconhecimento da cauda do epidídimo é facilitado pela identificação do ligamento caudal do epidídimo, palpado como um nódulo firme. As dimensões testiculares podem ser medidas com paquímetros. O cordão espermático é Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

examinado por meio de palpação delicada pelo colo do escroto. Não deve haver manifestação de dor nem tumefações, o que poderia indicar abscesso, hematoma ou torção. O anel inguinal externo e interno devem ser examinados para a identificação de criptorquidia e presença de hérnia inguinal. São estruturas em forma de fenda e não devem ser aderidas ao intestino ou apresentar quaisquer sinais de aderências (Walker & Vaughan, 1980; Speirs, 1999).

Enfermidades da Região Escrotal Complicações pós-castração A complicação mais frequente decorrente de orquiectomias em equinos é a hemorragia excessiva da artéria testicular localizada no cordão espermático. O sangramento na área cirúrgica normalmente diminui visivelmente ou acaba no máximo 30 minutos após o final do procedimento; caso contrário, deve-se avaliar a necessidade de uma reintervenção (Perkins & Frazer, 1994; May & Moll, 2002). O prolapso intestinal (evisceração) pelo anel inguinal é a mais crítica e emergencial das complicações de castração. Geralmente, ocorre até quatro horas após a castração, mas existem relatos de até seis dias. Em animais com pequenas porções de tecido expostas, pode-se tentar manipular a parte prolapsada de volta para o abdômen, via palpação transretal. Esse procedimento só é eficaz em poucos casos e não é recomendado se existir a opção de tratamento cirúrgico. A abordagem recomendada por diversos autores é a limpeza do tecido prolapsado e sua colocação temporária no escroto. A seguir, a incisão escrotal deve ser fechada com sutura para o transporte até um Hospital e/ou preparação do animal para a cirurgia. Uma bandagem deve ser colocada na área do anel inguinal para oferecer suporte ao escroto durante o transporte. Ressecção e anastomose intestinal podem ser necessárias se sua viabilidade estiver comprometida. O anel inguinal externo deve ser suturado parcialmente e um dreno deve ser inserido na incisão escrotal para facilitar a drenagem. Alternativamente, o anel inguinal pode ser fechado com gaze estéril por dois a três dias. O animal deve ser tratado com antibióticos de amplo espectro, anti-inflamatórios, fluidoterapia e restrição alimentar (Perkins & Frazer, 1994; May & Moll, 2002). Funiculite é a infecção do cordão espermático, geralmente resultante de inadequada antissepsia e drenagem sanguínea do escroto incisado. Técnica cirúrgica inadequada, ligadura contaminada e excessiva

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Suplemento Científico manipulação tecidual também podem resultar em contaminação bacteriana e desencadear a enfermidade. O tratamento inclui hidroterapia, antibioticoterapia e, se possível, drenagem ventral pelo escroto. A funiculite, se não tratada, pode evoluir para uma peritonite, ou formação de granuloma, nesse caso necessitando de um procedimento cirúrgico reparador (Perkins & Frazer, 1994; May & Moll, 2002)

Hérnias escrotal e inguinal A hérnia pode ser considerada inguinal quando se localiza no canal inguinal ou escrotal se o conteúdo descer até a bolsa. Esses tipos de hérnias são mais comuns em machos ao nascimento e até alguns meses após. Elas podem se resolver espontaneamente durante os primeiros três a seis meses de vida, sendo necessário acompanhamento desses animais. Nos casos de hérnias irredutíveis, ou seja, quando a alça intestinal não pode ser reposicionada na cavidade abdominal, o tratamento cirúrgico deve ser preconizado. As herniações podem ocorrer também em animais adultos após a cópula, exercícios ou traumas. Esses tipos de hérnias inguinais ou escrotais adquiridas em garanhões, invariavelmente provocam obstrução intestinal e cólica aguda. O diagnóstico pode ser confirmado pela palpação direta, transretal e ultrassonografia da bolsa testicular. O tratamento cirúrgico imediato é essencial, devendo-se realizar a castração do lado correspondente à herniação (Mckinnon & Voss, 1992; Perkins & Frazer, 1994).

Criptorquidismo Devido à complexa natureza do descenso testicular, a etiologia do criptorquidismo é considerada multifatorial e envolve distúrbios no metabolismo dos hormônios esteróides, deficiência de andrógenos ou alterações neurológicas (Silva et al., 2003; Cattelan et al., 2004; Lu, 2005). Acredita-se que o criptorquidismo seja hereditário em muitas espécies de mamíferos, como suínos, caninos, caprinos, ovinos e equinos. A base genética da hereditariedade em equinos ainda não está bem definida, mas algumas referências sugerem ser um fator dominante, o que se torna um forte incentivo à não utilização dos animais acometidos na reprodução (Jones et al., 2000; Lu, 2005). Em equinos, estudos epidemiológicos sugerem que quando o testículo retido é o do lado direito, sua localização mais frequente é inguinal (isto é, dentro do canal inguinal), enquanto, se o testículo for o do lado esquerdo, esse mais comumente localiza-se dentro da cavidade abdominal. Os pôneis, por outro lado, apresentam frequência inversa. A retenção inguinal é mais

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comum que a abdominal; entretanto, a incidência da localização abdominal diminui com a idade, o que sugere que alguns testículos somente apresentam atraso na descida (Lu, 2005). A retenção unilateral é mais frequente que a bilateral (Silva et al., 2003) O aumento da temperatura no testículo retido causa alterações na espermatogênese; entretanto, a produção hormonal pelas células de Leydig continua no testículo criptorquida. Há ainda aumento do risco de neoplasias testiculares, sendo a mais comum, o seminoma (Lu, 2005). Segundo Hafez (1988) e Thomassian (2005), cavalos criptorquidas unilaterias são férteis e os bilaterais são estéreis. A avaliação comportamental de animais criptorquidas é um importante componente do diagnóstico. Geralmente, os animais apresentam comportamento típico de garanhões como excitação sexual, ereção, monta e agressividade. Um dos cuidados que se deve ter é que alguns animais castrados podem apresentar esse comportamento de garanhão persistente. A palpação externa e transretal também pode auxiliar no diagnóstico e na localização do testículo criptorquida (Cattelan et al., 2004; Lu, 2005). O tratamento clínico de base hormonal não é sugerido para animais em virtude da natureza hereditária da síndrome, recomendando-se a cirurgia (Lu, 2005).

Enfermidades Penianas e Prepuciais Os traumas penianos e prepuciais rapidamente desenvolvem um edema inflamatório. As causas mais comuns incluem coices de éguas, abrasões por pêlos da cauda, brigas com outros cavalos e traumatismos provocados por objetos sólidos como cercas. Os traumas diretos ao pênis geralmente ocorrem quando se encontra em ereção (Schumacher & Vaughan, 1988; Gatewood et al., 1989; Perkins & Frazer, 1994). Essa condição pode causar disúria e redução do desempenho reprodutivo (Doles et al., 2001). Tipicamente, o edema é mais pronunciado na região do anel prepucial, contribuindo para a ocorrência de prolapso peniano. O edema gravitacional exerce importante papel no aumento do prolapso que, se não tratado imediatamente, torna o problema auto-perpetuante. A drenagem linfática e venosa fica comprometida em razão do edema e do peso penduloso do pênis, além do somatório de complicações resultantes dos traumas físicos, pela exposição do órgão. A meta inicial de terapia é providenciar suporte ao pênis e resolver o edema gravitacional. Se possível, o pênis deve ser cuidadosamente recolocado no prepúcio e seguro por uma sutura ou outro artifício pelo óstio prepucial. Uma preRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Neoplasia e parasitismo As neoplasias e o parasitismo do pênis e prepúcio apresentam aparência as similares e muitas vezes difícil de serem diferenciadas (Figura 1) sem o início da teraRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

Coelho, 2006.

puciotomia pode ser indicada para facilitar o manejo. (Mckinnon & Voss, 1992; Perkins & Frazer, 1994). Se essas tentativas de redução do edema em equinos não surtirem efeito, o pênis deve ser sustentado pela parede ventral abdominal até que o edema seja resolvido. O tratamento de escolha para a reposição do pênis para o prepúcio é o fechamento temporário do óstio prepucial externo (Nie & Pope, 1997). Se o pênis não apresentar danos permanentes ou paralisia, o prognóstico frequentemente é bom. Mas, caso o pênis não possa ser reposicionado, a amputação parcial ou fixação irreversível junto ao prepúcio deve ser sugerida (Perkins & Frazer, 1994). Aurich & Aurich (2006) sugeriram como tratamento para os prolapsos de pênis, o emprego da técnica de Buhner e citaram cinco casos de sucesso com esse tratamento em equinos. Lacerações ou abrasões penianas devem ser tratadas como feridas abertas, ou seja, por cicatrização em segunda intenção. O debridamento cirúrgico e sutura devem ser realizados com o animal sob anestesia geral e somente nos casos de ferimentos profundos e extensos, especialmente se o corpo cavernoso, corpo esponjoso e uretra forem acometidos. O repouso sexual é fundamental até que a cicatrização se complete. Em casos extremos, a amputação pode ser necessária. Outros cuidados que podem ser necessários são a profilaxia do tétano, antibioticoterapia de amplo espectro, anti-inflamatórios, dimetilsulfóxido intravenoso e diuréticos (Perkins & Frazer, 1994). Hematoma peniano pode ocorrer por um desvio do pênis durante a cópula. A hemorragia é geralmente proveniente da ruptura de vasos externos da túnica albugínea, ao contrário dos touros em que os hematomas invariavelmente se originam a partir da ruptura da túnica albugínea, com hemorragia do corpo cavernoso do pênis (Memon et al., 1987; Schumacher & Vaughan, 1988; Gatewood et al., 1989; Perkins & Frazer, 1994). Uma vez que as injúrias penianas sejam resolvidas e o pênis retorne voluntariamente para o prepúcio, é importante que se continue a terapia física para minimizar os riscos de restrição da função peniana pela formação de tecido de cicatrização. O pênis deve ser massageado diariamente com uso de emolientes e o garanhão só deve ser exposto novamente a uma fêmea, três semanas após a total resolução do problema (Perkins & Frazer, 1994).

Figura 1. Lesão de aspecto granulomatoso no prepúcio. O diagnóstico diferencial deve ser direcionado para neoplasia ou parasitismo.

pia ou por meio de exames como biópsia ou citologia da lesão (Gatewood et al., 1989). Os tumores de pênis e prepúcio não são comuns na espécie equina e quando presentes, o mais frequente é o carcinoma de células escamosas (Gatewood et al., 1989; Johnson, 1998; Rapisarda et al., 2004). A incidência dessa neoplasia em machos (23-45%) é maior que em fêmeas (5-12%) (Johnson, 1998). A aparência das lesões varia com a localização e estágio de desenvolvimento. As lesões são tipicamente granulomatosas, com aspecto de couve-flor e com crescimento multifocal. Os sarcóides também são tumores que podem se desenvolver nesses locais e o seu tratamento depende da localização das lesões, dos efeitos na reprodução e na micção (Gatewood et al., 1989). Tecido de granulação exuberante é o mais comum dos tumores não neoplásicos, seguido pela habronemose, cistos cutâneos e granulomas fúngicos como a pitiose (Valentine, 2005). A habronemose é a doença parasitária mais frequente em pênis e prepúcio. A gravidade das lesões varia com o local e a cronicidade do processo (Gatewood et al., 1989). O diagnóstico diferencial é realizado por meio de biópsia e exame histopatológico ou citologia por agulha aspirativa, nos casos de lesões pequenas e nodulares (Johnson, 1998).

Parafimose A parafimose é a condição em que o pênis não erétil se prolapsa pelo prepúcio sem sua posterior retração (Clem & Debowes, 1989a; Perkins & Frazer, 1994; Rochat, 2001; Aurich & Aurich, 2006). A inabilidade de retração peniana é seguida pela ocorrência de edema gravitacional, condição que predispõe ao desenvolvimento da parafimose, resultando também em necrose do pênis penduloso (Perkins & Frazer, 1994). Parafimose geralmente ocorre quando o óstio prepucial é muito pequeno, com o prepúcio apresentando comprimento inadequado, por fraqueza da

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Suplemento Científico musculatura prepucial ou resultante de trauma (Blanchard et al., 1991; Rochat, 2001), porém vários casos de paralisia já foram descritos em equinos após sedação com fenotiazínicos (Perkins & Frazer, 1994; Rochat, 2001), doenças nervosas (raiva, herpesvirose, infecções bacterianas, mieloencefalite protozoária equina, neoplasias e traumas) e animais debilitados ou exaustos (PerkinS & Frazer, 1994; Aurich & Aurich, 2006). O tratamento da paralisia envolve o suporte do pênis e terapia sintomática. Exame físico completo, bem como exames auxiliares são importantes para se identificar a doença predisponente. Em muitos casos, a resolução da paralisia peniana somente ocorre com o sucesso do tratamento da doença primária. Se o animal apresentar dor intensa, pode ser necessária tranquilização, analgesia local ou mesmo o bloqueio do nervo peniano (Choe, 2000). Nos casos em que o animal mostra-se refratário ou recorrente ao tratamento, devese considerar a realização de falopexia ou falectomia (Perkins & Frazer, 1994; Silva et al., 1995b; Schumacher et al., 1999; Schumacher & Hardin, 1987).

Priapismo Priapismo é a ereção persistente do pênis na ausência de estímulo sexual, não sendo possível a redução manual para o prepúcio (Perkins & Frazer, 1994; Rochat, 2001). Essa desordem é incomum em animais domésticos, mas já foi reportada no cavalo e é de tratamento imediato (Rochat, 2001). Ereção fisiológica resulta de estímulo parassimpático do fluxo sanguíneo arteriolar para o pênis. A ausência de estímulo colinérgico e o aumento da estimulação adrenérgica diminuem o fluxo sanguíneo arteriolar peniano e promove a saída do fluxo venoso do corpo cavernoso do pênis, causando a detumescência. O excessivo estímulo colinérgico e ausência de estimulação adrenérgica podem resultar em priapismo. O aumento da tensão de dióxido de carbono com estagnação das hemácias no corpo cavernoso resulta na sedimentação das hemácias e oclusão do retorno venoso, o que é exacerbado pelo edema generalizado do pênis e prepúcio (Schumacher & Hardin, 1987; Perkins & Frazer, 1994; Rochat, 2001). As causas de priapismo relatadas na Medicina Veterinária incluem a administração de fenotiazínicos (Schumacher et al., 1999; Rochat, 2001), lesões na medula espinhal associadas à cinomose, traumas, lesões da cauda eqüina, assim como complicações decorrentes de castração, constipação e irritações do trato urinário inferior secundárias a inflamações. Muitos dos mecanismos exatos das várias etiologias do priapismo nos animais domésticos são desconhecidos

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(Rochat, 2001). Priapismo associado a fenotiazínicos desenvolve-se mais frequentemente em garanhões que apresentam altas doses de andrógenos (Blanchard et al., 1991; Rochat, 2001). Priapismo pode ser confundido com parafimose. No exame clínico de um cavalo com priapismo, a anatomia peniana e prepucial estarão normais, porém a prolongada exposição pode causar edema e ressecamento tecidual. Se uma intervenção não ocorrer a tempo, o problema pode progredir para necrose e perda da capacidade reprodutiva (Rochat, 2001). O tratamento inicial de priapismo deve ser iniciado com a identificação e, se possível, eliminação do fator predisponente. A terapia sintomática é a mesma empregada na parafimose. Inúmeros protocolos clínicos que incluem o uso de diuréticos, corticóides e dimetilsulfóxido são sugeridos, porém esses têm produzido inconsistentes e inadequados resultados (Rochat, 2001).

Fimose Fimose é considerada uma enfermidade rara em equinos, caracterizada pela impossibilidade dos animais em exteriorizarem o pênis. A enfermidade pode ser congênita ou adquirida em consequência de estenose do óstio prepucial, hematomas, neoplasias, granulomas, infecções e traumatismos. A patologia pode causar retenção de urina na cavidade prepucial com formação de processos inflamatórios na mucosa do prepúcio (Schumacher & Vaughan, 1988; Eurides et al., 1997). No primeiro mês de vida dos equinos, a fimose é considerada natural porque o epitélio do segmento livre do pênis é fundido com a lâmina interna da dobra prepucial (Schumacher, 1988). Fimose adquirida pode ser causada por coices, traumatismos em arames e tentativas de saltar obstáculos (Eurides et al., 1997). O tratamento cirúrgico da fimose baseia-se em promover o retorno da configuração anatômica do prepúcio. Geralmente, a terapia medicamentosa com corticóides, para a diminuição do edema e inflamação deve ser tentada antes da intervenção cirúrgica, principalmente para garanhões, o ato cirúrgico pode alterar a eficiência reprodutiva do animal (Gatewood et al., 1989).

Tratamentos cirúrgicos Quando a terapêutica estabelecida para a correção da enfermidade reprodutiva do garanhão é cirúrgica, alguns fatores como a localização onde o animal se encontra, valor zootécnico e/ou afetivo do animal devem ser analisados para a escolha da anestesia e técnica cirúrgica. A maioria dos procedimentos pode ser realizada, sem maiores problemas, no campo. A anestesia, por sua vez, deve ser geral. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Abordagens cirúrgicas ao pênis e prepúcio Diversas técnicas de falectomia e falopexia já foram descritas. Se somente a porção distal do pênis está envolvida, a amputação parcial do órgão é apropriada. Entretanto, essa técnica só pode ser empregada se a parte livre do pênis remanescente puder ser distendida do orifício prepucial durante a micção para a prevenção do acúmulo de urina no prepúcio. Se o pênis, prepúcio e linfonodos regionais estiverem envolvidos, uma ressecção em bloco com uretroplastia pode ser necessária (Doles et al., 2001). Embora as incisões na região do pênis e prepúcio sejam de boa cicatrização, os procedimentos cirúrgicos envolvendo o pênis apresentam complicações em potencial. Estenose uretral, hemorragia do corpo cavernoso, recorrência de neoplasias ou metástase são as principais (Schumacher & Vaughan, 1988; Mair et al., 2000; Doles et al., 2001). A mais comum é a formação de hematoma no local de amputação, o que, algumas vezes, resulta em deiscência e cicatrização por segunda intenção. Outras possíveis complicações incluem infecção, retenção de urina e cistite (Doles et al., 2001). Amputação parcial do pênis A amputação parcial do pênis nos equinos é uma das técnicas mais utilizadas para o tratamento de parafimose irredutível e recomendável na preparação de rufiões, pois impossibilita a cópula, é de fácil execução e utiliza pouco material (Walker & Vaughan, 1980; Silva et al., 1991). Seu uso tem sido frequente nos casos de tumores (Schumacher, 1988), paralisias, lesões por habronema e necroses (Silva et al., 1991a; Waldridge & Gillis, 1996; Turner & McIlwraith, 2002).

O cavalo é posicionado em decúbito dorsal ou lateral estando submetido à anestesia geral (Schumacher & Vaughan, 1988; Turner & McIlwraith, 2002). O pênis é preparado para a cirurgia asséptica de modo rotineiro e cateterizado com uma sonda de borracha para a identificação da uretra. O pênis deve ser estendido e firmado usando-se uma gaze ao redor da glande (Schumacher & Vaughan,1988; Turner & Mcilwraith, 2002). A técnica é composta de três tempos operatórios: I. Introdução de sonda uretral, hemostasia preventiva por meio de torniquete de borracha na base do pênis e demarcação no epitélio de revestimento peniano; II. Uretrostomia para a confecção do novo óstio uretral – a uretrostomia é realizada por meio de incisão triangular no epitélio de revestimento no aspecto ventral do pênis (Figura 2- A). O ápice do triângulo é localizado na linha média na direção caudal. O triângulo deve ter três centímetros de base, com os lados de aproximadamente quatro centímetros de comprimento. Essas incisões devem ser ampliadas até a mucosa uretral, sendo o tecido conjuntivo do interior do triângulo retirado. Tendo o catéter como guia no interior da uretra, a mucosa uretral é dividida longitudinalmente pela linha média partindo da base até o ápice da incisão triangular. As bordas da uretra são suturadas às bordas

Rabelo, 2007; Coelho, 2006.

Alguns cuidados básicos, independente do local de execução do procedimento, devem ser observados. Dentre eles a profilaxia do tétano, jejum alimentar de 12 horas, salvo em emergências e limpeza, desinfecção e antissepsia pré-operatória do local.

Figura 2. Amputação parcial do pênis em equinos. Em (A), incisão longitidunal com visualização da uretra para a formação do novo óstio uretral; (B), técnica de amputação utilizando o garroteamento de borracha na porção distal do pênis; (C), técnica de amputação com extensão do óstio uretral até a linha de transecção do pênis; (D), sutura de oclusão do corpo cavernoso do pênis e da porção final do novo óstio uretral.

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Suplemento Científico do epitélio peniano ao longo dos lados da incisão triangular aplicando suturas interrompidas simples com fio absorvível; III. Incisão circular para transecção envolvendo o epitélio, tecido celular subcutâneo, corpo esponjoso e cavernoso e uretra. A porção distal do pênis pode ser transfixada utilizando fio inabsorvível ou mesmo um torniquete de borracha, técnica chamada de Vinsot, que permanecerá até a cicatrização completa do coto (Figura 2-B). Outra técnica mais laboriosa, de Williams, consiste em estender a incisão da base do triângulo até um ângulo levemente oblíquo na direção cranial rumo à superfície dorsal do pênis (Figura 2-C). A túnica albugínea é fechada sobre os corpos cavernosos do pênis que foram transversalmente seccionados (Figura 2-D), fazendo uso de suturas interrompidas simples com fio absorvível.

e submetidos ao procedimento cirúrgico que foi dividido em tempos operatórios: I. Demarcação do tecido epitelial de revestimento nas porções caudal e cranial do pênis (Figura 3- B); II. Circuncisão, divulsão e remoção do epitélio de revestimento peniano (Figura 3-C); III. Aproximação, justaposição e sutura das bordas do tecido epitelial de revestimento, proximal e distal. Para a circuncisão do pênis, são colocadas primeiramente, quatro pinças de Kocher, equidistantes, sendo uma dorsal, uma ventral e duas laterais na porção cranial da lâmina interna da prega prepucial externa, distando aproximadamente três centímetros do ponto de inserção da mesma, sobre o corpo peniano. O mesmo procedimento é repetido com quatro pinças de Allis no tecido epitelial de revestimento da porção caudal da parte livre do pênis, cerca de três centímetros da coroa da glande. No tempo operatório seguinte, a • Circuncisão peniana lâmina interna da prega prepucial externa é incisada De acordo com Walker & Vaughan (1980), Silva et al. de pinça a pinça, circundando a região delimitada (1995a) e Turner & McIlwraith (2002), essa técnica cirúrpor elas, evitando a formação de ângulos na intersecgica também é indicada para a remoção de neoplasias, ção delas. Procedimento semelhante é praticado na granulomas, tecido de cicatrização ou espessamento porção distal do órgão. Para facilitar a dissecção, uma crônico da membrana prepucial que impedem a reterceira incisão, longitudinal, é realizada, abrangendo tração do pênis. A circuncisão requer pós-operatório todo o tecido epitelial de revestimento localizado mais criterioso, visto que a quantidade de sutura e entre as porções extremas já incisadas, estabelecidas manipulação tecidual são maiores. O pênis e prepúcio pelas oito pinças. Após a remoção do epitélio, os vasos são tratados segundo as normas básicas de antissepsia sangrantes são pinçados e ligados com fio absorvível. Finalmente, realizam-se nas bordas do tecido epitelial de revestimento da porção cranial do pênis quatro incisões longitudinais, de aproximadamente 1,5 centímetro e equidistantes das pinças, para facilitar a coaptação dessas e aproximá-las dos pontos de correspondência às pinças, localizadas na base do pênis, com sutura em padrão Donatti, utilizando fio de algodão 3-0. O fechamento completo da ferida é realizado com fio inabsorvível, utilizando-se sutura em padrão simples interrompido, evitando a formação de dobras e reduzindo o pênis, no máximo para um terço do tamanho normal, ou para aproximadamente 10 cenFigura 3. Utilização da técnica de circuncisão peniana para correção de fimose adquirida em eqüino. Em (A), estenose tímetros de comprimento prepucial impedindo a exteriorização do pênis; (B), exteriorização do pênis com demarcação do tecido epitelial de (Figura 3-D). revestimento; (C), divulsão e remoção do epitélio de revestimento peniano; (D), aspecto final do procedimento.

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• Falopexia Essa técnica é considerada conservativa, difere da falectomia, não interfere na estética, não é mutilante e apresenta menos complicações no pós-operatório (Clem & Debowes, 1989b; Silva et al., 1995b). A técnica de Bolz consiste na manutenção do pênis retraído dentro do prepúcio por meio de suturas no óstio prepucial. Essa técnica é indicada nos casos de paralisias crônicas onde as alterações físicas causadas pela enfermidade predispõe às recorrências (Walker & Vaughan, 1980; Clem & Debowes, 1989b). Silva et al. (1995b) descreveram uma modificação da técnica de Bolz onde o pênis, prepúcio e região do períneo são tratados segundo as normas básicas de antissepsia. Para exposição do pênis, aplicam-se duas pinças de Kocher na região média do períneo, distando aproximadamente 10 centímetros da base do escroto e com espaçamento de mesmo tamanho entre elas. Em seguida, pratica-se uma incisão no epitélio, tendo cuidado para não seccionar os vasos sanguíneos mais calibrosos, que estão presentes em maior quantidade sob a fáscia subcutânea envolvendo a albugínea. Após exposição do órgão, realiza-se a tração do corpo do pênis, com a finalidade de recolher a porção prolapsada para o prepúcio. Para manter o pênis nessa posição, aplica-se bilateralmente três pontos simples separados com fio de algodão 3-0 na albugínea peniana na face dorso lateral do corpo peniano, para, em seguida, fixá-lo profundamente na fáscia subcutânea, deixando teci-

do suficiente para reconstruir os planos anatômicos incisados. Finalmente, procede-se à aproximação da fáscia subcutânea e redução do espaço morto utilizando – se categute número um. A dermorrafia é praticada empregando-se fio de algodão 3-0, em padrão de sutura interrompido simples.

Procedimentos pós-operatório A ferida cirúrgica deve ser higienizada diariamente. Deve ser praticada antibioticoterapia com uso de antimicrobianos de amplo espectro e uso de anti-inflamatório não esteroidal parenteral. A exposição do pênis para tratamento pode ser facilitada pelo uso intravenoso de acepromazina, na dose de 0,1mg/kg de peso corporal. A retirada dos pontos é praticada entre o décimo e décimo quarto dia do pós-operatório e deve ser realizada de forma alternada, considerando principalmente a cicatrização clínica da ferida cirúrgica (Silva et al., 1995a).

Conclusão As enfermidades cirúrgicas do aparelho reprodutor masculino em sua maioria iniciam-se de eventos simples e a ausência de tratamento imediato pode culminar em perda da função do órgão e prejuízos econômicos. Uma abordagem rápida e eficaz consiste principalmente no entendimento da enfermidade e da aplicação da correta técnica no tratamento, evitando nesses casos, principalmente, as recidivas.

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Suplemento Científico

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Dados dos Autores

Cássia Maria Molinaro Coelho

Médica Veterinária, CRMV-GO nº 3751, Doutoranda em Cirurgia, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Unesp-Jaboticabal.

Endereço para Correspondência: Escola de Veterinária, Universidade Federal de Goiás, UFG. Campus Samambaia (Campus II). Caixa postal 131 – CEP: 74001-970 – Goiânia/GO – Telefone: (62) 3521-1572. E-mail: cassiamaria.coelho@gmail.com

Olízio Claudino da Silva

Médico Veterinário, CRMV-GO nº 0547, Dr. Professor em Patologia Cirúrgica Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia, UFG–Goiânia.

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Luiz Antônio Franco da Silva

Médico Veterinário, CRMV-GO nº 0780 , Dr. Professor em Patologia Cirúrgica Veterinária, Escola de Veterinária e Zootecnia, UFG–Goiânia.

Rogério Elias Rabelo

Médico Veterinário, CRMV-GO nº 2456, Dr. Professor em Patologia Cirúrgica Veterinária, Escola de Veterinária, UFG–Jataí.

Camila França de Paula Orlando

Médica Veterinária, CRMV-GO nº 4631, Msc, Doutoranda em Ciência Animal, Escola de Veterinária e Zootecnia, UFG–Goiânia.

Isadora Lopes Franco de Araújo

Médica Veterinária Autônoma. CRMV-GO nº 3792

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Normas para apresentação de Artigos Informações Gerais O Suplemento Científico da Revista do Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV) tem como objetivo principal a publicação de artigos de investigação científica, de revisão e de educação continuada, básica, e profissionalizante, que contribuam para o desenvolvimento da ciência nas áreas de Medicina Veterinária e de Zootecnia. Os artigos, cujos conteúdos serão de inteira responsabilidade dos autores, devem ser originais e previamente submetidos à apreciação do editor e/ou do Conselho Editorial da Revista CFMV, bem como de assessores ad hoc de reconhecido saber na especialidade. A publicação do artigo dependerá da sua apresentação dentro das Normas Editoriais e de pareceres favoráveis. Os pareceres terão caráter sigiloso e imparcial. A periodicidade da publicação será quadrimestral. Os artigos devem ser encaminhados para:

E-mail: artigos@cfmv.gov.br

E correspondências podem ser encaminhadas para: Revista CFMV Conselho Editorial SIA – Trecho 6 – Lotes 130 e 140 Brasília–DF – CEP: 71205-060 Fone: (61) 2106-0400 Fax: (61) 2106-0444

Normas Editoriais Os textos de revisão, de educação continuada e científicos devem ser de primeira submissão, escritos segundo as normas ortográficas oficiais da língua portuguesa e com abreviaturas consagradas, exceto o Abstract e Keywords, que serão apresentados em inglês. Assim como uma versão do título.

Artigos de Revisão e de Educação Continuada Os artigos de revisão e de educação continuada devem ser estruturados para conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Referências Bibliográficas e Agradecimentos (quando houver). A divisão e subtítulos do texto principal ficarão a cargo do(s) autor(es).

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Artigos Científicos Os artigos científicos deverão conter dados conclusivos de uma pesquisa e conter Resumo, Abstract, Palavras-chave, Keywords, Introdução, Material e Métodos, Resultados, Discussão, Conclusão(ões), Referências Bibliográficas e, quando houver, Agradecimentos, Tabela(s), Quadro(s) e Figura(s). A critério do(s) autor(es), os itens Resultados e Discussão poderão ser apresentados como uma única seção. Quando a pesquisa envolver a utilização de animais, os princípios éticos de experimentação animal preconizados pelo Conselho Brasileiro de Experimentação Animal (Cobea) e aqueles contidos no Decreto nº 24.645, de 10 de julho de 1934, e na Lei nº 6.638, de 8 de maio de 1979, devem ser observados. Também deve ser observado o disposto na Resolução CFMV nº 879, de fevereiro de 2008.

Apresentação Os manuscritos encaminhados deverão estar digitados com o uso do editor de textos Microsoft Word for Windows (versão 6.0 ou superior), no formato A4 (21,0 x 29,7), com espaço simples, em uma só face do papel, com margens laterais de 3,0cm e margens superior e inferior de 2,5cm, na fonte Times New Roman de 16 cpi para o título, 12 cpi para o texto e 9 cpi para rodapé e informações de tabelas, quadros e figuras. As páginas e as linhas de cada página devem ser numeradas.

Título O título do artigo, com 15 palavras no máximo, deverá ser escrito em negrito e centralizado na página, sem utilizar abreviaturas. A versão na língua inglesa deverá anteceder o Abstract.

Resumo e Abstract O Resumo e sua tradução para o inglês, o Abstract, não podem ultrapassar 250 palavras, com informações que permitam a adequada caracterização do artigo como um todo. No caso de artigos científicos, o Resumo deve informar o objetivo, a metodologia aplicada, os resultados principais e as conclusões.

Palavras-chave e Keywords No máximo cinco palavras serão representadas em seguida ao Resumo e Abstract. As palavras serão escolhidas do texto e não necessariamente do título.

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Suplemento Científico

Texto Principal O número-limite de páginas será de 15, em espaço simples, fonte Times New Roman 12. Poderão ser utilizadas abreviaturas consagradas pelo Sistema Métrico Internacional, por exemplo, kg, g, cm, ml, EM etc. Quando for o caso, abreviaturas não usuais serão apresentadas como nota de rodapé. Exemplo, GH = hormônio do crescimento. As citações bibliográficas do texto devem ser pelo sobrenome do(s) autor(es) seguido do ano. Quando houver mais de dois autores, somente o sobrenome do primeiro será citado, seguido da expressão et al. Exemplos: Rodrigues (1999), (Rodrigues, 1999), Silva e Santos (2000), (Silva e Santos, 2000), Gonçalves et al. (1998), (Gonçalves et al., 1998).

Referências Bibliográficas A lista de referências bibliográficas será apresentada em ordem alfabética por sobrenome de autores, de acordo com a norma ABNT/NBR-6023 da Associação Brasileira de Normas Técnicas. Inicia-se a referência com o último sobrenome do(s) autor(es) seguido da(s) letra(s) inicial(is) do(s) prenome(s), exceto nos nomes de origem espanhola ou de dupla entrada, os quais devem ser registrados pelos dois últimos sobrenomes. Todos os autores devem ser citados. Obras anônimas têm sua entrada pelo título do artigo ou pela entidade responsável por sua publicação. A referência deve ser alinhada pela esquerda e a segunda linha iniciada abaixo do primeiro caractere da primeira linha. Os títulos de periódicos da referência podem ser abreviados, segundo a notação do BIOSES *BIOSIS. Serial sources for the BIOSIS previews database. Philadelphia, 1996, 486p. Abaixo são apresentados alguns exemplos de referências bibliográficas.

Artigo de periódico EUCLIDES FILHO, K.; V.P.B.; FIGUEIREDO, M.P. Avaliação de animais nelore e seus mestiços com charolês, fleckvieh e chianina, em três dietas 1. Ganho de peso e conversão alimentar. Revista Brasileira de Zootecnia, v.26, n.1, p.66-72, 1997.

Livros MACARI, M.; FURLAN, R.L.; GONZALES, E. Fisiologia aviária aplicada a frangos de corte. Jaboticabal: Funep, 1994. 296p.

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Capítulos de livro WEEKES, T.E.C Insulin and growyh. In: Buttery, P.J.; LINDSAY, D.B.; HAYNES, N.B. (ed). Control and manipulation of animal growth. Londres: Butterworths, 1986. p.187-206.

Teses (doutorado) ou dissertações (mestrado) MARTINEZ, F. Ação de desinfetantes sobre salmonella na presença de matéria orgânica. Jaboticabal, 1998. 53p. Dissertação (mestrado) – Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias. Universidade Estadual Paulista.

Artigos apresentados em congressos, reuniões e seminários RAHAL, S.S.; W.H.; TEIXEIRA, E.M.S. Uso de fluoresceina na identificação dos vasos linfáticos superficiais das glândulas mamárias em cadelas. In. CONGRESSO BRASILEIRO DE MEDICINA VETERINÁRIA, 23 Recife, 1994. Anais... Recife, SPEMVE, 1994. p.19.

Tabelas, Quadros e Ilustrações As tabelas, quadros e ilustrações (gráficos, fotografias, desenhos etc.) podem ser apresentados no corpo do artigo. Uma em cada página. Serão numerados consecutivamente com números arábicos. A tabela deve ter sua estrutura construída segundo as normas de Apresentação Tabular do Conselho Nacional de Estatística (Rev. Bras. Est. v. 24, p. 42-60, 1963).

Fotografias As fotografias deverão estar em boa resolução (nítida, colorido sem saturação, sem estouro de luz ou sombras excessivas), com resolução mínima de 300 dpi, com a foto em tamanho grande (centímetros), formato TIF e as cores em CMYK. Se possível, também devem ser enviadas em arquivos separados (JPEG).

Avaliações/Revisões Os artigos sofrerão as seguintes avaliações/revisões antes da publicação: 1) avaliação inicial pelo editor; 2) revisão técnica por consultor ad hoc; 3) avaliação do editor e/ou Comitê Editorial. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Ensino de Medicina Veterinária

PERFIL DO MÉDICO VETERINÁRIO RESIDENTE EGRESSO DE PROGRAMAS RECONHECIDOS PELO CFMV NO PERÍODO DE 2004 A 2010 Atualmente, o mercado consumidor apresenta-se cada vez mais exigente, atingindo, inclusive, os prestadores de serviços, onde se encontra o Médico Veterinário. Sendo assim, e buscando formas de aprimorar os conhecimentos principalmente dos recém-formados, vários cursos de especialização são ofertados no País, mas destacadamente, encontramos os Programas de Residência que têm o objetivo de treinamento em serviço, proporcionando ao profissional o desenvolvimento de novas tecnologias em benefício de seus pacientes, bem como segurança nas intervenções. Nesse sentido, dos 170 Cursos de Medicina Veterinária em funcionamento no País, 60 apresentam Programas de Residência (35,3%), porém apenas 21 (35%) são devidamente reconhecidos pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), sendo dois na Região Nordeste, três na Centro-Oeste, sete na Sul e nove na Sudeste, provenientes principalmente de instituições privadas (52%),

seguidas pelas federais (28,5%) e estaduais (19,5%), o que representa 370 vagas disponíveis no mercado, atendendo a 1% dos formandos no País anualmente. Sendo assim, buscou-se parâmetros visando avaliar o desempenho dos egressos dos PRMVs reconhecidos pelo CFMV no período de 2004 a 2010, além de suas observações e sugestões, por meio de questionários. Dos 21 Programas reconhecidos no período avaliado, totalizou-se 611 profissionais, onde 105 (17,89%) responderam ao questionário. A Tabela 1 apresenta os Programas de Residência em Medicina Veterinária reconhecidos pelo CFMV, bem como o número de egressos avaliados. Observou-se que 63,8% dos entrevistados foram do sexo feminino e 36,2% masculino, numa faixa etária que variou de 24 a 36 anos, com uma média de 27 anos. As subáreas em que desenvolveram seus Programas foram todas contempladas nas respostas, sendo principalmente de Clínica Médica de Peque-

Tabela 1. Programas de Residência em Medicina Veterinária reconhecidos pelo CFMV com seu respectivo número de egressos avaliados. REGIÃO SUDESTE REGIÃO SUL REGIÃO NORDESTE IES Nº IES Nº IES Nº UFMG 2 PUC/PR 3 UFPI ---UNESP/JABOTICABAL 12 UEL 10 UNIME 2 UNESP/BOTUCATU 14 UFPEL 4 UNIFEOB 3 UFRGS 3 REGIÃO CENTRO-OESTE UNIMAR 7 UFSM 4 UNIDERP 3 UNIUBE 4 ULBRA 11 UPIS 4 UNOESTE 2 UPF ---UFMS ---USP 10 IES: Instituição de Ensino Superior N: Número de egressos participantes UVV 06 Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

69


Ensino de Medicina Veterinária nos Animais (23,8%), Clínica Médica e Cirúrgica de Grandes Animais (18,1%), Clínica Cirúrgica de Pequenos Animais (17,1%) e Patologia Clínica (12,4%), conforme Gráfico 1.

1 1

2

1

2

30

3

25

3

3

23,8%

4

20 18,1%

14

15

17,1%

12,4%

10

10,5%

5 2,9%

2,9%

2,9%

1,9%

1,9%

1,0%

1,0%

0

Clín ica M édic Clín a PA ica e Ciru r g i a GA Clín ica C irúr gica Pato PA logi a C línic Clín a ica e Ciru rgia PA Ane stes iolo gia Insp eçã Pato o PO logi A a Ve Zoo teri nos n ária es e Saú de P Diag ú nós blic tico a por Ima g em Orn itop atol o gia Nut riçã o An ima l Rep rod uçã o

3,8%

Gráfico 1. Subáreas de atuação dos egressos de PRMV avaliados (%).

Quanto ao ano de conclusão, o Gráfico 2 demonstra que a maioria data de 2009 (24,8%), seguida pelo ano de 2008 (21%), 2010 (17,1%), 2007 (15,2%), 2006 (12,4%), 2005 (6,7%) e 2004 (2,9%).

30 25

24,8%

20

21,0%

15

17,1% 15,2%

10

12,4%

5

6,7%

4

0

200

5 200

6 200

7 200

8 200

9 200

201

0

2,9%

Gráfico 2. Ano de conclusão dos egressos de PRMV avaliados (%).

Os egressos avaliados encontram-se atuando em vários Estados do País, destacando-se São Paulo (42), Rio Grande do Sul (23) e Paraná (14), sendo esse número, de forma geral, encontrado na Figura 1. Destaca-se também que, dos 105 profissionais egressos, 92% atuam na área em que fizeram seu aprimoramento, sendo 41,9% como funcionários e

70

42

Figura 1. Número de egressos de PRMV avaliados, de acordo com o Estado de atuação.

2 23

39,1% autônomos, distribuídos em empresas privadas (36,4%), instituições de ensino superior de vínculo privado (15,2%) ou público (10,5%), ou ainda, órgãos públicos (5,7%), além de outros vínculos (32,2%). Demonstrando o impacto que a residência refletiu na formação profissional dos egressos, 83,8% classificaram como muito bom, 11,4% bom, 2,9% regular e apenas 1,9% como nenhum impacto. Ressalta-se que daqueles que avaliaram como impacto positivo (muito bom e bom), a justificativa deve-se à experiência profissional angariada, na relação interpessoal, na segurança nas intervenções exigidas, bem como na valorização do currículo e no incentivo à pesquisa. Já, os que apontaram como impacto negativo (regular e nenhum), viram-se como mão de obra barata, com orientação insuficiente e sem reconhecimento, ressaltando um ponto interessante que diz respeito à dificuldade em realizar os procedimentos cirúrgicos, visto que esses ficavam mais restritos a docentes e pós- graduandos stricto sensu, dificultando o aprendizado. Um dos pontos muito valorizados durante os Programas de Residência envolve a vivência geral do pós-graduando nas várias especialidades desenvolvidas no Hospital Veterinário, fazendo com ele tenha uma visão generalista inicial para posteriormente se especializar e, nesse caso, 80% alegaram ter tido a oportunidade de vivenciar outros setores durante suas atividades, em forma de rodízio. Quanto ao rendimento mensal, detecta-se que a maioria (35,2%) encontra-se na faixa de R$ 1.500,00 a R$ 3.000,00, podendo-se visualizar essa variável no Gráfico 3. A continuação dos estudos acadêmicos, visando à formação docente e/ou científica foi encarada por 60% dos entrevistados, uma vez que 45,7% exercem o Mestrado e 14,3% o Doutorado; desses, 84,1% relatar ter tido na residência a maior influência na escolha. Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

5


2,9%

30,5% 31,4%

35,2%

tisfação e sucesso profissional, na área em que exerceram seus programas, e muitos, com aptidão ao ensino e pesquisa, reflexo de suas atividades na importante modalidade de pós-graduação, destacando-se principalmente o impacto positivo que a residência teve em sua formação profissional. Há de se enfatizar, ainda, que todas as informações e sugestões provenientes desse levantamento serão abordadas em plenária da Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária, para que ações sejam implementadas visando ao aperfeiçoamento dos Programas no País.

Dados dos Autores < R$ 1.500

R$ 3.001 - 5.000

R$ 1.500 - 3.000

> R$ 5.000

Gráfico 3. Rendimento mensal dos egressos de PRMV avaliados (%).

De forma geral, os egressos entrevistados apontaram para algumas limitações e qualidades em seus Programas, além de sugestões visando à melhoria, sendo classificadas por ordem decrescente. Limitações: baixo valor da bolsa; falta de envolvimento e pouca disponibilidade docente; sobrecarga de atividades; limitação na estrutura hospitalar; falta de incentivo à pesquisa; dificuldade na interação setorial; pouca discussão de casos; não ter internação e/ou atendimento 24 horas; dificuldade em realizar cirurgias e responsabilidades não condizentes com à função. Qualidades: orientação e casuística condizentes com o aprendizado; boa infraestrutura hospitalar; interação setorial, proporcionando amplo conhecimento das especialidades; incentivo à pesquisa; autonomia nas condutas; discussão de casos; valor da bolsa; presença do estágio obrigatório e perspectiva de ingresso na pós-graduação stricto sensu. Sugestões: valorização da bolsa; capacitar e aumentar a disponibilidade dos preceptores; fomentar o incentivo à pesquisa; aumentar a fiscalização do CFMV junto às instituições que oferecem PRMV; organização de aulas teóricas; maior disponibilidade no número de vagas; rodízio hospitalar obrigatório; aumentar o período dos programas; rever o tempo de ingresso ao formado; padronizar as subáreas; efetivar questionário com residentes em atividade; organizar encontro técnico para residentes; possibilitar título de especialista e estabelecer uma prova de capacitação anual. Enfim, pode-se evidenciar que os egressos de Programas de Residência em Medicina Veterinária reconhecidos pelo CFMV, atuam, na sua maioria, com saRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

Eduardo Harry Birgel

Médico Veterinário CRMV-SP nº 0018 – Presidente da Comissão Nacional de Residência em Medicina Veterinária (CNRMV/CFMV)

Endereço pra correspondência: E-mail: comissoes@cfmv.gov.br

Fábio Fernando Ribeiro Manhoso

Médico Veterinário CRMV-SP nº 6983 Membro da CNRMV/CFMV

Antonio José de Araujo Aguiar

Médico Veterinário CRMV-SP nº 4982 Membro da CNRMV/CFMV

Fernando Leandro dos Santos Médico Veterinário CRMV-PE nº 1492 Membro da CNRMV/CFMV

Carlos Marcos Barcellos de Oliveira

Médico Veterinário CRMV-RS nº 0136 Membro da CNRMV/CFMV

Benedito Dias de Oliveira Filho

Médico Veterinário CRMV-GO nº 0438 Membro da CNRMV/CFMV

Luis Cláudio Lopes Correia da Silva

Médico Veterinário CRMV-SP nº 5993 Membro da CNRMV/CFMV

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A DIMENSãO DO SOFRIMENTO ANIMAL As palavras dor e sofrimento são utilizadas comparativamente pelo senso comum, no entanto, uma pessoa pode experimentar dor sem sofrer (sadomasoquismo) e pode experimentar sofrimento sem dor (angústia e medo). O sofrimento é qualquer percepção de ameaça à integridade do indivíduo, compreendendo além dos danos físicos, outras emoções negativas decorrentes de eventos aversivos como medo e ansiedade, muito estudados em humanos por meio de modelos animais. A noção de sofrer como uma ameaça à integridade de um animal tem grande importância para sua qualidade de vida e a extensão do sofrimento variará segundo a complexidade mental do animal. O cérebro ao mesmo tempo em que analisa toda informação encaminhada pelos sentidos, determina as respostas apropriadas. Os caminhos anatômicos e químicos de percepção de dor entre animais e humanos são muito semelhantes. A maioria dos sinais externos que nos leva a inferir a ocorrência de dor em seres humanos pode ser observada em outras espécies, principalmente em mamíferos e aves. Os sinais comportamentais incluem contorções corporais e tentativas de evitar a fonte causadora da dor, contorções faciais, gemidos, ganidos e outras expressões vocais, semblante Arquivo CFMV

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e gestos de retraimento indicativos de medo ante a perspectiva de sentir dor. As reações fisiológicas indicativas de dor são: dilatação das pupilas, elevação inicial da pressão arterial, transpiração, aceleração do pulso e caso o estímulo continue, queda de pressão arterial. Embora os seres humanos tenham um córtex cerebral mais desenvolvido dentre todos os animais, essa parte do cérebro está mais associada às funções do pensamento, e não aos impulsos, emoções e sentimentos básicos que estão associados ao diencéfalo, estrutura bem desenvolvida em mamíferos e aves. O cérebro do mamífero, por apresentar estrutura límbica faculta a esses animais algumas capacidades tais como: comunicação auditivo-vocal, brincar, sentir emoção, empatia e compaixão. As experiências obtidas por meio dessas aptidões constituem o que se denomina inteligência do animal e a sua disposição para empatia favorece o consórcio emocional com outros indivíduos. Em seu livro intitulado In the Shadow of Man, sobre o admirável estudo realizado com chimpanzés, Jane Goodall assinalou que os sinais básicos que o homem usa para expressar estados emocionais como a dor, a raiva, a alegria, a surpresa, o medo, o amor, a excitação sexual não são exclusivos da espécie humana. Os sentimentos de um indivíduo são aspectos importantes de seu bem-estar, pois tanto os sentimentos de prazer ou desagradáveis afetarão o bem-estar do indivíduo. Esses sentimentos se intercalam ao longo da vida do animal, assim como bem-estar pobre e adequado. A angústia severa experimentada por animais domésticos poderia estar associada ao tédio resultante da falta de estimulação ambiental e com as experiências de desamparo, privação de comida e água ou contato social por longos períodos. Os animais suportam sentimentos desagradáveis intensos por dois motivos: a) causados pela ocorrência de situações que o animal tenta evitar, mas não consegue (aversão); b) causados pela ausência de certas condições ou de estímulos satisfatórios, ou, ainda, por alguma barreira física ou social que impeçam determinado comportamento. Se o nível de moRevista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

shutterstock

Medicina preventiva


tivação que induz a um comportamento é suficiente para que ele ocorra, e isso não acontece, é muito provável, que o animal experimente frustração Por outro lado, o não atendimento de uma necessidade comportamental para alguns indivíduos não sugere necessariamente privação ou sofrimento, e as consequências de não executar um comportamento, também podem ser muito variáveis. Alguns animais, quando privados de um comportamento básico para a sua sobrevivência (comer, beber), podem sofrer uma motivação crescente e sofrerem se a privação persistir, não obstante, se um animal é privado de um comportamento que não aumenta a sua motivação, ele provavelmente não sofrerá e, consequentemente, a privação não afetará o seu bem-estar. A privação se torna um sofrimento quando um animal for impedido ou frustrado de executar comportamento importante para ele, experimentando intensos ou prolongados sentimentos desagradáveis. Em um ambiente estéril ou desprovido de estímulos, onde não há oportunidades de o animal se comportar adequadamente, ele pode pagar um alto

de repercussão e estereotipia. A atividade vazia é uma atividade sem propósito aparente (lambedura e mordedura de flanco) que o animal desenvolve em resposta à motivação de um comportamento instintivo que não apresenta escape disponível. O desempenho desse comportamento pode reduzir a motivação para executar outro comportamento. O efeito de repercussão ocorre quando o animal privado da oportunidade para executar certos tipos de comportamento mostra uma tendência significativamente aumentada para executar aquele comportamento quando eventualmente lhe é dada oportunidade, por exemplo, a excitação exagerada ao saber que irá passear. Diferentemente das atividades vazias e dos efeitos de repercussão que são comportamentos naturais, a estereotipia é um comportamento despropositado para o seu contexto, executado de forma repetitiva e constante. Se em determinado momento, o animal não executar um comportamento para o qual está altamente motivado, e a situação se constituir em um risco para a sua aptidão, considera-se que esse comportamento tenha um

O sentimento de desamparo é uma experiencia subjetiva negativa

O conforto se relaciona ao estado mental de satisfação e calma. O animal demonstra vivacidade e contentamento.

O animal que experimenta sofrimento não responde corretamente aos estímulos ambientais. Imagens: shutterstock

custo para se adaptar. Se o animal é motivado a executar um comportamento e é impedido de fazê-lo, o seu bem-estar será prejudicado. O indivíduo, para controlar os sentimentos desagradáveis utiliza-se de alguns artifícios comportamentais conhecidos como atividade vazia, efeito Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

alto custo para o animal. Esse custo, portanto, seria o custo de preservação da sua aptidão. Se o sofrimento acontece quando os animais são impedidos de executar um comportamento, os comportamentos considerados com um alto custo para o animal estariam relacionados diretamente ao sofrimento e à aptidão. A constatação do

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Medicina preventiva comprometimento da aptidão de um animal é feita quando sua habilidade para reproduzir e sua saúde física ou psicológica são afetadas. Quando um animal estiver em seu ambiente natural, mecanismos causais levam-no a comportarse de modo que maximizem a aptidão. Porém, em ambientes antinaturais, esses mesmos mecanismos podem ser ativados independentes das consequências para aptidão. Se em determinada situação o animal avaliar que está em perigo por não conseguir executar certo comportamento, sofrerá até mesmo se não estiver de fato em perigo. Logo, a estimativa de sofrimento de um animal deve considerar não somente o custo para preservar sua aptidão, mas também o “custo percebido”. Por outro lado, o “alto custo” percebido pode ou não envolver sentimentos desagradáveis, no entanto, quando eles estiverem atrelados a um componente subjetivo, ele passa a ser denominado estado de sofrimento. A saúde física não requer somente que o animal esteja livre de lesões e infecções, que lhe garantam a sobrevivência e a reprodução, ele deverá estar livre também de perturbações fisiológicas menos óbvias, potencialmente capazes de comprometer a sua higidez. A saúde psicológica é de igual importância, todavia, é mais difícil determiná-la com pre-

cisão. Um animal pode ter aparentemente uma boa saúde física e experimentar sofrimento se o custo percebido em relação ao seu ambiente psicossocial for alto. A saúde psicológica está associada, portanto, a um baixo custo de percepção, pois a ausência de oportunidade para realizar um comportamento não implica necessariamente sofrimento para alguns animais. Determinados tipos de comportamentos podem refletir diferentes tipos de anormalidades fisiológicas em largo espectro de debilitação progressiva em um animal. Qualquer tipo de modificação estrutural e/ou funcional produzida por doença no organismo pode conduzir o animal a sentir dor e/ ou mal-estar e, consequentemente, envolver algum grau de sofrimento e bem-estar pobre. A associação da doença ao bem-estar pobre não se caracteriza somente pela ausência de equilíbrio orgânico, mas, também, por diminuir a resistência ou aumentar a susceptibilidade do animal a patógenos e a efeitos adversos. Portanto, tendo o bem-estar uma conexão importante e complexa com as patologias, o bem-estar adequado e a proteção contra doença podem ser alcançados com respostas mentais e comportamentos positivos facilitados pelo apoio social intra e multiespecífico.

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MORTON, D. B.; GRIFFITHS, P. H. M. Guidelines on the recognition of pain, distress and discomfort in experimental animals and an hypothesis for assessment. Veterinary Record, v. 116, p. 431-436, 1985.

GODALL, J. In the Shadow of Man. Boston: Howghton Mifflin, 1971, 304 p.

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BROOM, D. M. Assessing welfare and suffering. Behavioural Processes, v. 25, p. 117-123, 1991.

CHAPMAN, R. C. On the neurobiological basis of suffering. In: DAWKINS, M. S. From an animal’s point of view: motivation, fitness,

DUNCAN I. J. H. Animal rights-animal welfare: a scientist’s assessment. Poultry Science, v. 60, p. 489-499, 1981.

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Dados do Autora

Sheila Regina Andrade Ferreira Médica Veterinária, MSc, DSc., CRMV-MG nº 2264

Endereço para correspondência: Rua Marrocos, 975, Jd. Leblon; Belo Horizonte/MG. CEP: 31540-230 E-mail: neshivile@yahoo.com.br

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ADMINISTRAÇÃO RURAL Ensino de Medicina Veterinária

Gerenciamento de projetos para condução do agronegócio Introdução Uma informação fundamental para o Gerenciamento de Projetos no setor do Agronegócio ou em qualquer outro é a definição exata do termo “Projeto”. Muitas atividades que desempenhamos em nossas carreiras fazem parte de projetos, mas outras não podem ser tratadas com o mesmo enfoque. A principal característica de um projeto é sua limitação no tempo: todo projeto tem um início e um fim. Não existe projeto com duração indeterminada ou que dure para sempre. Alguns são definidos a partir de uma data inicial, outros são guiados por uma data final, mas sempre uma dessas informações estará claramente definida. Um projeto sempre tem objetivos claramente definidos e tangíveis. Esses objetivos podem incluir a construção de uma unidade produtiva, o desenvolvimento de um sistema de melhoramento genético e ou a realização de uma análise financeira de uma fazenda. O projeto somente estará concluído quando seu produto ou serviço for produzido. Um projeto também envolve um conjunto determinado de recursos humanos, financeiros e materiais que devem ser otimizados para atingir os objetivos dentro do prazo estipulado. Essa é a essência da Gerência de Projetos. Assim, uma definição para projeto é: “a utilização coordenada de recursos humanos, financeiros e materiais dentro de um período limitado de tempo para alcançar objetivos tangíveis e únicos”.

realizadas conforme planejado, atacando sempre os desvios e retardos, o gerente de projetos precisa fazer um constante exercício de antecipação de futuras possibilidades de falha, para minimizar os desvios ao plano. A pressão para o cumprimento da meta é permanente. Se, durante a execução do projeto, ocorrem atrasos, estouro de orçamento, problemas técnicos etc., a pressão pode atingir níveis alarmantes. Mesmo quando está “tudo em dia” não pode haver esmorecimento, pois fatos novos podem surgir (por exemplo, concorrência ou legislação). Para piorar, a lei de Murphy encontra no ambiente de projetos o seu hábitat natural. Por tudo isso, gerenciar projetos é uma tarefa para profissionais experientes e com um perfil adequado. De maneira ampla, podemos dizer que o processo de gerenciamento de projetos se baseia nos seguintes pilares: 99 Estabelecimento da meta (objetivos + prazos + valores). 99 Estabelecimento do escopo (descrição do que vai ser efetivamente produzido). 99 Divisão do projeto em etapas.

Gerenciar projetos Coordenar o trabalho de pessoas de diversas áreas para o cumprimento de prazos, orçamento, lucratividade e especificações técnicas talvez seja mais trabalhoso, complexo e estressante do que o esperado. Além de conseguir que as atividades previstas sejam shutterstock

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ADMINISTRAÇÃO RURAL Em cada etapa são executados os seguintes processos gerenciais: I. Inicialização II. Planejamento III. Execução IV. Controle V. Encerramento Os processos abrangem nove áreas de conhecimento: escopo, tempo, custo, qualidade, integração, recursos humanos, suprimentos / contratação, comunicação e riscos. Portanto, gerenciar um projeto é executar os processos gerenciais sobre as nove áreas de conhecimento, durante o seu ciclo de vida, para atingir a meta preestabelecida. Por estar inserido no ambiente da organização, muitas vezes o gerente do projeto necessita se envolver com áreas contíguas, tais como planejamento estratégico e gerenciamento da produção ou de operações rotineiras.

Para alguns tipos de projetos (marketing, transformação organizacional, construção etc.) a porção “valores quantitativos” da meta deve ser desdobrada, mostrando, por exemplo, quanto se pretende gastar por mês e por departamento. O cumprimento dessas metas intermediárias passa a ser igualmente importante para garantir que a meta total seja atingida.

Escopo e Cronograma O escopo do projeto (descrição do que vai ser feito) é o detalhamento do objetivo gerencial presente na descrição da meta e, geralmente, costuma ser representado pela Estrutura Analítica do Projeto (EAP). É a partir da análise dos níveis mais baixos da Estrutura de Divisão do Projeto (denominados “pacotes de trabalho”) que é criado (Figura 1) o cronograma do projeto.

Sucesso e Meta

Recursos Humanos

Denomina-se meta do projeto ao objetivo gerencial, acrescido de prazo e custo. Este é um dos componentes para se medir o sucesso do projeto e deve ser definido tão cedo quanto possível. Geralmente o sucesso de um projeto é medido por: 99 Cliente satisfeito. 99 Valores quantitativos (prazo, custo e qualidade) foram atingidos. 99 Moral da equipe alto.

Visto que projetos são conduzidos por pessoas, aspectos como liderança, formação de equipes, motivação, conflitos, comunicações etc., são importantes para um final de sucesso. Ese é um dos aspectos da chamada “Gerência Moderna de Projetos”. O gerenciamento de recursos humanos é um dos componentes fundamentais da gerência de projetos. Embora os conceitos e técnicas sejam semelhantes aos encontrados na ciência geral da

Horta Fazer a horta

Preparar a terra

Preparar Insumos Construir sistema de irrigação

Figura 1. Exemplo de detalhamento de um projeto.

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Instalar canos

Instalar bomba

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administração, eles devem ser implementados obedecendo às peculiaridades de gerenciamento de projetos. O sucesso dos projetos requer uma mistura adequada de habilidades técnicas, humanas e conceituais.

O Plano de Ação Plano de Ação é um documento escrito contendo a estratégia para a execução do projeto. Nele estão presentes os conceitos mostrados anteriormente (meta, escopo, cronograma etc.). A confecção de um bom plano de ação é meio caminho para o sucesso do projeto.

Gerência à vista O acompanhamento do projeto é realizado pela utilização de técnicas diversas, tais como inspeção e reuniões. Um aspecto-chave é a “gerência à vista”, pela qual se consegue mostrar, para todos os envolvidos, aspectos-chave do projeto. O meio físico geralmente é uma parede, onde são colocados os gráficos e tabelas de acompanhamento. A gerência à vista cria um clima de realismo e de desafio.

Os Papéis em um Projeto O Cliente. O cliente é o principal personagem, por ser a razão da existência do empreendimento. Dentre os critérios de sucesso de um projeto, certamente “cliente satisfeito” é o principal. O Gerente do Projeto. O gerente do projeto é o principal responsável pelo cumprimento da meta. Será mediante sua positiva atuação que a equipe de execução conseguirá uma produtividade adequada, dentro de um ambiente de alto moral. Alta Administração. As altas administrações, tanto do cliente como do executor, são peças importantes nesse cenário por possuírem uma visão macro

de suas empresas (missão, estratégia, políticas etc.). Elas participam quando do estabelecimento das metas do projeto e em momentos críticos do acompanhamento da execução. A Equipe do Projeto. Projetos podem envolver desde uma única pessoa a milhares. Podem envolver um único setor de uma empresa ou podem cruzar as fronteiras organizacionais e podem também implicar parcerias entre organizações. Fornecedores Externos. Sua importância reside no fato, muitas vezes, de serem responsáveis por parcelas significativas. Os Vizinhos do Projeto. Chama-se de “vizinhos do projeto” a indivíduos ou organizações não diretamente ligados ao projeto, mas cujos interesses podem ser positiva ou negativamente afetados com o resultado da execução do projeto ou do seu término com sucesso. Alguns exemplos: sindicatos, ambientalistas, políticos, imprensa, etc. Portanto, os vizinhos são todos aqueles que podem, eventualmente, influir na evolução do projeto. Dependendo das circunstâncias, o gerente de projeto deve estar atento a esses personagens.

Conclusão Neste novo cenário mundial onde o conhecimento impera e os conceitos se tornam obsoletos a cada dia, devido à velocidade da troca de informações, o setor do agronegócio twm um papel muito importante quanto ao processo de atualização e emprego das melhores práticas de gestão, visando alcançar os melhores resultados para a sua organização e para a sustentabilidade da sociedade como um todo.

Dados do Autor

Marcus Túlio Ferreira de Oliveira

Médico Veterinário, CRMV-MG nº 5701. MTO Consultoria Empresarial.

Endereço para correspondência: Rua Aparecida Pinto 541, Planalto, Belo Horizonte-MG, CEP: 31720-100 E-mail: consultoriamto@gmail.com

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PUBLICAÇÕES Acupuntura na Prática Veterinária Editora Interbook Rua Major Carlo Del Prete, 750 –Centro São Caetano do Sul –SP/Brasil CEP 09530-000 (11)4224-4888 E-mail: interbookeditorial@ uol.com.br

Jose Eduardo Silva Lobo Junior

Trata-se de livro pioneiro no Brasil, pois aborda a teoria básica da acupuntura, fornecendo ao leitor o embasamento dos princípios da medicina tradicional oriental (MTO), para prosseguir no entendimento das diversas especialidades medicas em que a acupuntura apresenta resultados positivos, com a apresentação das indicações terapêuticas nas afecções específicas.

Anestesiologia Veterinária Farmacologia e Técnicas. Texto e Atlas.

Editora Guanabara Koogan Travessa do Ouvidor ,11 Rio de Janeiro –RJ CEP 20040-040 (21)3543-0770 E-mail: editorial.saúde@ grupogen.com.br

Flavio Massone

A obra tem o intuito de orientar o acadêmico, o pesquisador, o docente e o profissional na execução das técnicas dentro dos conceitos da nomina, da farmacologia e das técnicas anestésicas vigentes. Aborda a anestesia em pequenos e grandes animais, apresenta um atlas colorido de anestesiologia com exemplos em diversas espécies, com linguagem dentro da nomina anestesiologica vigente e capítulos que abordam eutanásia e ética, assuntos considerados polêmicos.

Reprodução da Fêmea Bovina Editora Editar Rua Alfredo Teixeira Lopes,340 Rua Jardim do Sol Juiz de Fora - MG CEP 3213-2529 (32)3213-2529 E-mail: editar@acessa.com

Fisiologia aplicada e Problemas mais comuns (causas e tratamentos) Ademir de Morais Ferreira

A obra trata dos aspectos básicos da fisiologia da reprodução, de maneira simplificada e prática, do controle do ciclo estral, do diagnóstico reprodutivo em bovinos, associando exame ginecológico e condição corporal. Aborda, também, os problemas reprodutivos mais comuns em fêmeas bovinas, suas causas e tratamento e apresenta de forma clara aspectos relacionados à gestação e parto em bovinos.

TEXTBOOK OF VETERINARY INTERNAL MEDICINE Saunders Elsevier 0800-0265340 info@elsevier.com.br

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SÉTIMA EDIÇÃO Stephen J. Ettinger / Edward C. Feldman

Aborda de forma incomparável a fisiopatologia, diagnóstico e tratamento das doenças que acometem cães e gatos, bem como informações mais recentes sobre o genoma, a genômica clínica, a eutanásia, sopros cardíacos inocentes, medicina hiperbárica, preparo de dietas, obesidade, vacina , dentre outras.

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AGENDA

Abril

Maio Zootec 2012

Data: 13 a 18 de maio Local: Cuiabá-MT Maiores Informações: http://zootec2012.com

AveSui América Latina 2012 Data: 2 a 4 de abril Local: São Paulo (SP) Maiores Informações: www.avesui.com

II Seminário Nacional de Ensino de Zootecnia

Procedimentos para a Implementação do Sistema HACCP na Indústria de Carnes

Data: 14 a 16 de maio Local: Centro de Eventos Pantanal Mais Informações: www.cfmv.gov.br

Data: 23 a 26 de abril Local: Campinas (SP) Maiores Informações: www.ital.sp.gov.br/ctc/

Junho I Encontro Nacional de Epidemiologia Veterinária

Data: 10 a 13 de junho Local: São Paulo (SP) Maiores Informações: http://vps.fmvz.usp.br/ eventos/

IV Encontro de Ética, Bioética e Bem-Estar Animal Data: 26 de abril Local: Universidade Federal Fluminense-UFF Mais Informações:

Patologia Clínica Veterinária Data: 13/9 a 13/10

Local: São Paulo (SP) Maiores Informações: http://www.ibvet. com.br/Front/Turmas. aspx?codigo=14

Novembro Congresso Internacional da Associação Brasileira de Endocrinologia Veterinária Data: 15 a 17 de novembro Local: Búzios (RJ) Maiores Informações: www.ciabev.com.br

Fevereiro

Setembro

Agrishow Data: 30 de abril a 4 de maio Local: Ribeirão Preto (SP) Maiores Informações: www.agrishow.com.br

PorkExpo 2012 VI Fórum Internacional de Suinocultura Data: 26 a 28 de setembro Local: Curitiba (PR) Maiores Informações: www.porkexpo.com.br

International Sheep Veterinary Congress

Data: 18-22 /2/ 2013 Local: Rotorua, Nova Zelândia Maiores Informações: intsheepvetassoc.org/

VEJA MAIS EVENTOS EM >> www.cfmv.gov.br Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

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OPINIÃO

Ao ESPECIALISTA estará reservado maior sucesso profissional? Guilherme Teixeira Goldfeder

Médico Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo e presidente da Sociedade Brasileira de Cardiologia Veterinária

O médico veterinário é um profissional com formação eclética, capaz de gerar e aplicar conhecimentos técnico-científicos, tendo uma sólida formação generalista: tratamento das enfermidades e dos traumatismos que afetam os animais; prevenção, controle e erradicação de agravos à saúde animal e zoonoses; controle da sanidade dos produtos e subprodutos de origem animal para o consumo humano; desenvolvimento de pesquisas em diversos campos da saúde humana e veterinária, entre outros. Atualmente, na Medicina Veterinária, assim como na medicina humana, a procura pela especialização ocorre cada vez mais precocemente. Desde a graduação, muitos estágios e cursos extracurriculares são realizados em áreas específicas como, por exemplo, a cardiologia veterinária. O acadêmico acredita que ao profissional especialista estará reservado maior sucesso profissional e que poderá ofertar um serviço de melhor qualidade aos seus clientes. Como consequência, negligenciam a formação eclética, preconizada nos projetos pedagógicos, cuja concepção fundamenta o alicerce da vida profissional, até mesmo como um futuro especialista. A pergunta, então, é: quando e como eu devo me especializar? É importante lembrar que para caminhar primeiramente é preciso aprender a engatinhar. Considero que a vivência, traduzida pela experiência na clínica, de pelo menos dois anos, seja imprescindí-

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vel para fundamentar qualquer aspiração ao título e atividades como especialista. Trata-se de um ledo engano achar que os especialistas restringem sua ação à área de especialidade. Muitos são os casos apresentados em comorbidade, exigindo do profissional especialista a capacidade de diagnosticar doenças que não fazem parte de sua área de interesse/estudo ou estará fadado a conviver com incertezas e aos erros de diagnóstico e tratamento. Vale lembrar que a condição de especialista ainda é incipiente em nosso país. São poucas as associações e colégios que estão aptos a outorgar o título de especialista. Entretanto, proliferam cursos de especialização latu sensu que conferem ao aluno aprovado o título de especialista em determinada área. No Brasil, a RESOLUÇÃO Nº 935, de 10 de dezembro de 2009, dispõe sobre a Acreditação e Registro de Título de Especialista em áreas da Medicina Veterinária e da Zootecnia, no âmbito do Sistema CFMV/CRMVs, e considera que compete ao CFMV a concessão do valor prático-profissional aos títulos de especialista conferidos por sociedades, associações ou colégios. Em minha área de atuação, a cardiologia veterinária, com frequência, surgem cursos que prometem aprendizado rápido, Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012


Arquivo do autor

Atividade especializada em laboratório de doenças infecciosas de animais é uma atribuição do Médico Veterinário.

alguns durando um final de semana. A sedimentação do aprendizado torna-se impossível. Cito como exemplo, nessa área de especialidade, que os médicos veterinários que querem atuar no diagnóstico de enfermidades, devem ter em mente que para a realização de um ecocardiograma de bom padrão, é imprescindível ao profissional passar por uma curva de aprendizado, que consiste no acompanhamento, realização e interpretação de exames sob supervisão de profissional experiente, por período nunca inferior a seis meses. É inegável que o mercado de trabalho para o especialista encontra-se valorizado e em expansão. Há cerca de 10 anos eram realizados nos centros diagnósticos da cidade de São Paulo, em média, 100 exames ecocar-

diográficos por mês. Atualmente, dados remetem a cerca de 400 exames. Com frequência, nos deparamos, nos dias atuais, com colegas que sobrevivem exclusivamente da especialidade que praticam, o que era inimaginável até pouco tempo atrás. Também, colegas adquiriram o hábito do encaminhamento de casos para aprimoramento diagnóstico e, não é raro que proprietários busquem por conta própria o serviço de um especialista. Nesses aspectos, e considerando o cenário econômico favorável do Brasil, o número crescente de médicos veterinários que entram no mercado de trabalho anualmente e os animais domésticos cada vez mais presentes nos lares brasileiros, espera-se aumento da demanda e da procura pelo profissional especialista. Diante do exposto, concluímos que a especialização é um passo importante para o desempenho e afirmação profissional, uma vez que a segmentação do conhecimento em áreas específicas permite o aprofundamento de informações e experiências valiosas. Entretanto, o caminho da especialização somente deverá ser trilhado após a sedimentação de conhecimentos fundamentada em bases amplas que abrangem todo um conjunto geral e essencial de saber.

shutterstock

Revista CFMV - Brasília/DF - Ano XVIII - nº 55 - 2012

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Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado do Espírito Santo– CRMV-ES Endereço: Rua Cyro Lima, 26 - Enseada do Suá - Vitória/ES CEP 29050-230 Telefone: (27) 3324-3877 • Fax: (27) 3324-3877 • E-mail: crmves@terra.com.br • Site: www.crmves.org.br Diretoria Executiva

Méd. Vet. Maria da Glória Alves da Cunha CRMV-ES nº 0264

Presidente - Méd. Vet. Luiz Carlos Barboza Tavares

Méd. Vet. Virgínia Teixeira do Carmo Emerich

CRMV-ES nº 0308

CRMV-ES nº 0568

Vice-Presidente - Méd. Vet. José Carlos Landeiro Fraga CRMV-ES nº 0059

Conselheiros Suplentes

Secretária-Geral - Méd. Vet. Daniele da Costa CRMV-ES nº 0484

Méd. Vet. Douglas Severo Silveira

Tesoureiro - Zoot. Alexandre Câmara dos Santos

CRMV-ES nº 0688

CRMV-ES Nº 0087/Z

Méd. Vet. Iliani Bianchi CRMV-ES nº 0455

Conselheiros Efetivos

Méd. Vet. Rogério Magno do Vale Barroso CRMV-ES nº 1022

Méd. Vet. Nézio Faber da Silva

Méd. Vet. Leandro Abreu da Fonseca

CRMV-ES nº 0220

CRMV-ES nº 0551

Méd. Vet. Nildo Marcelo Milanezi

Méd. Vet. Márcio Figueiredo Gonçalves

CRMV-ES nº 0080

CRMV-ES nº 0512

Méd. Vet. Giuliano Moraes Figueiró

Méd. Vet. Thiago Barbosa Spalenza

CRMV-ES nº 0518

CRMV-ES nº 0822

Méd. Vet. Osvaldo Góis de Oliveira Filho CRMV-ES nº 0163

Mandato: 12/4/2012 a 11/4/2015



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