BETH-SHALOM
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FEVEREIRO DE 2007 • Ano 29 • Nº 2 • R$ 3,50
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Prezados Amigos de Israel
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A Mensagem da Babilônia
Notícias de
ISRAEL É uma publicação mensal da “Obra Missionária Chamada da Meia-Noite” com licença da “Verein für Bibelstudium in Israel, Beth-Shalom” (Associação Beth-Shalom para Estudo Bíblico em Israel), da Suíça. Administração e Impressão: Rua Erechim, 978 • Bairro Nonoai 90830-000 • Porto Alegre/RS • Brasil Fone: (51) 3241-5050 Fax: (51) 3249-7385 E-mail: mail@chamada.com.br www.chamada.com.br Endereço Postal: Caixa Postal, 1688 90001-970 • PORTO ALEGRE/RS • Brasil Fundador: Dr. Wim Malgo (1922 - 1992) Conselho Diretor: Dieter Steiger, Ingo Haake, Markus Steiger, Reinoldo Federolf Editor e Diretor Responsável: Ingo Haake
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Diagramação & Arte: Émerson Hoffmann
A Situação no Oriente Médio
Assinatura - anual ............................ 31,50 - semestral ....................... 19,00 Exemplar Avulso ................................. 3,50 Exterior: Assin. anual (Via Aérea)... US$ 28.00 Edições Internacionais A revista “Notícias de Israel” é publicada também em espanhol, inglês, alemão, holandês e francês.
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Ariel Sharon - Um Gigante à Frente de Israel
As opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores. INPI nº 040614 Registro nº 50 do Cartório Especial O objetivo da Associação Beth-Shalom para Estudo Bíblico em Israel é despertar e fomentar entre os cristãos o amor pelo Estado de Israel e pelos judeus. Ela demonstra o amor de Jesus pelo Seu povo de maneira prática, através da realização de projetos sociais e de auxílio a Israel. Além disso, promove também Congressos sobre a Palavra Profética em Jerusalém e viagens, com a intenção de levar maior número possível de peregrinos cristãos a Israel, onde mantém a Casa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monte Carmelo, em Haifa).
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HORIZONTE • O resgate dos judeus da Síria - 18
“...vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (Jo 4.23). A oração é uma das coisas mais sagradas e intocáveis no Novo Testamento. Está escrito a respeito de Jesus, que se tornou modelo para todos nós, que Ele ia a um lugar deserto, por exemplo, para um monte, com o objetivo de orar antes de tomar decisões importantes (veja Lc 6.12). Jesus louvou a oração em secreto e reprovou as orações dos fariseus, destinadas a chamar a atenção das pessoas. Uma oração pública nunca pode ser completamente livre e desembaraçada, entretanto, quando oramos dirigimo-nos a Deus, a quem não podemos ludibriar ou impressionar. Ele conhece nossos corações e vê o que está oculto. Certamente por essa razão, Jesus não recomendou certas práticas de oração a Seus discípulos, de modo que eles finalmente Lhe pediram: “Senhor, ensina-nos a orar” (Lc 11.1). Hoje em dia são realizados freqüentemente encontros de oração ou marchas de oração, para manifestar unidade e solidariedade em certas questões. Mas quando lemos a Bíblia, temos de admitir: esse não é o caminho de Deus. No islã, a oração conjunta é uma demonstração de poder, exercida freqüentemente por milhares de adeptos. Tais manifestações podem impressionar os homens, mas aos olhos de Deus trata-se apenas de “vãs repetições” (Mt 6.7), como as praticadas pelos gentios. Na Bíblia, a oração nunca tem características demonstrativas, pois trata-se de uma atitude do coração diante de Deus. A unidade em espírito não pode ser organizada, pois é uma dádiva de Deus, que Ele concede àqueles que se submetem à Sua Palavra em verdade. A oração agradável a Deus também não está associada a lugares específicos. Quando a mulher samaritana perguntou a Jesus onde era o lugar certo para adorar a Deus, Ele respondeu: “...vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores” (Jo 4.23). A sinceridade é a condição básica para uma oração agradável a Deus. O apóstolo Paulo diz que muitas vezes não sabemos orar como convém, mas que o
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Espírito nos representa continuamente diante de Deus (veja Rm 8.26). É o que também ocorre freqüentemente com relação à intercessão por Israel. Entretanto, a certeza de que Deus sabe o que é melhor nos transmite tranqüilidade e confiança. Paulo prossegue: “Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus...” (Rm 8.28). Portanto, no amor a Deus reside o segredo de estar abrigado nEle. Por isso, antes da Sua despedida em João 15, Jesus falou com tanta insistência sobre o amor, para lembrar aos discípulos o que era fundamentamental e mais importante. Quando permanecemos em Seu amor, essa é a maior manifestação em favor da causa de Jesus diante do mundo, pois, “nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35). Na certeza de que temos sempre o melhor Advogado diante de Deus, saúdo com um sincero Shalom!
r Fredi Winkle
A compreensão da profecia bíblica depende menos de nossas interpretações e muito mais de seu cumprimento. Isaías anunciou a queda do Império Babilônico aproximadamente 150 anos antes da sua ocorrência. Suas profecias foram muito detalhadas e, por isso, a comprovação do seu cumprimento é ainda mais espantosa. Mas, além disso, o profeta também descreve uma época babilônica futura, mais distante, que anuncia um cumprimento escatológico. No livro de Isaías Deus diz por meio de Seu profeta: “As primeiras coisas, desde a antiguidade, as anunciei; sim, pronunciou-as a minha boca, e eu as fiz ouvir; de repente agi, e elas se cumpriram. Porque eu sabia que eras obstinado, e a tua cerviz é um tendão de ferro, e tens a testa de bronze. Por isso, to anunciei desde aquele tempo e to dei a conhecer antes que acontecesse, para que não dissesses: O meu ídolo fez estas coisas; ou: A minha imagem de escultura e a fundição as ordenaram. Já o tens ouvido; olha para tudo isto; porventura, não o admites? Desde agora te faço ouvir coisas novas e ocultas, que não conhecias. Apareceram agora e não há muito, e antes deste dia delas não ouviste, para que não digas: Eis que já o sabia. Tu nem as ouviste,
nem as conheceste, nem tampouco antecipadamente se te abriram os ouvidos, porque eu sabia que procederias mui perfidamente e eras chamado de transgressor desde o ventre materno (...) Saí da Babilônia, fugi de entre os caldeus e anunciai isto com voz de júbilo; proclamai-o e levai-o até ao fim da terra; dizei: O Senhor remiu a seu servo Jacó” (Is 48.3-8,20). Essa passagem, especialmente o versículo 3, ilustra um princípio espiritual. É possível que a profecia divina fique em suspenso durante muito tempo, sem que nada aconteça. Mas então ela se cumprirá de modo surpreendente, como um relâmpago em dia de sol. Foi assim com a primeira vinda de Jesus: “Eis que eu envio o meu mensageiro, que preparará o caminho diante de mim; de repente, virá ao seu templo o Senhor, a quem vós buscais, o Anjo da Aliança, a quem vós desejais; eis que ele vem, diz o Senhor dos Exércitos” (Ml 3.1). Esse versículo aponta ao mesmo tempo para a volta do Senhor. O nascimento da Igreja também aconteceu de forma surpreendentemente rápida: “Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso, e encheu toda a casa onde estavam assentados” (At 2.1-2). A fundação do Estado de Israel ocorreu dessa maneira: “Pode, acaso, nascer uma terra num só dia?” (Is 66.8). Assim também será o Arrebatamento da Igreja: “Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados seremos todos,
te a situação mundial sofrerá uma guinada tão surpreendente que a profecia bíblica se cumprirá sem muito tempo para preparativos.
A mensagem profética do passado
➤ É possível que a profecia divina fique em suspenso durante muito tempo, sem que nada aconteça. Mas então ela se cumprirá de modo surpreendente, como um relâmpago em dia de sol.
num momento, num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados” (1 Co 15.51-52). Lemos a respeito da futura Tribulação: “Porque virá como um laço sobre todos os que habitam na face de toda a terra” (Lc 21.35, Ed. Revista e Corrigida). “Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão” (1 Ts 5.3). Da mesma forma acontecerá a queda da Babilônia: “Repentinamente, caiu Babilônia e ficou arruinada; lamentai por ela, tomai bálsamo para a sua ferida” (Jr 51.8). “Por isso, em um só dia, sobrevirão os seus flagelos: morte, pranto e fome; e será consumida no fogo, porque poderoso é o Senhor Deus, que a julgou (...) porque, em uma só hora, foi devastada!” (Ap 18.8,19). De uma hora para outra, a situação mundial pode mudar dramati-
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camente, de uma forma hoje inimaginável. Vamos tomar o exemplo de Ariel Sharon, o ex-primeiro-ministro de Israel: esse general outrora inflexível de repente tornou-se quem garantia a paz no Oriente Médio. O mundo passou a esperar estabilidade a partir das mudanças políticas introduzidas por ele. Mas, de uma hora para a outra, Sharon adoeceu mortalmente e a situação no Oriente Médio passou a ser totalmente diferente, de forma que os líderes mundiais ficaram inseguros e as negociações de paz emperraram. O especialista em Oriente Médio Peter Scholl-Latour escreveu a respeito da súbita saída de Sharon: “A saída de Sharon (...) é uma grande perda. Dessa forma, as condições da região se tornam ainda mais instáveis do que já eram”.1 O fato de a organização terrorista Hamas ter chegado ao poder na Palestina pouco tempo depois sublinha essas palavras. O mundo será pego desprevenido de forma semelhante. De repen-
“As primeiras coisas, desde a antiguidade, as anunciei; sim, pronunciou-as a minha boca, e eu as fiz ouvir; de repente agi, e elas se cumpriram. Porque eu sabia que eras obstinado, e a tua cerviz é um tendão de ferro, e tens a testa de bronze. Por isso, to anunciei desde aquele tempo e to dei a conhecer antes que acontecesse, para que não dissesses: O meu ídolo fez estas coisas; ou: A minha imagem de escultura e a fundição as ordenaram. Já o tens ouvido; olha para tudo isto; porventura, não o admites?” (Is 48.3-6). O que compõe a mensagem profética do passado? Ela trata de toda a história da profecia já cumprida até aquele momento, como, por exemplo, as promessas feitas a Abraão de que Israel seria um grande povo, a saída do Egito e a tomada da Terra Prometida. De forma mais específica, porém, ela trata do anúncio da tomada do Império Babilônico pelos persas no ano 539 a.C. Isaías 46 e 47 prevêem esse acontecimento, que hoje já faz parte da história. Israel pode olhar para esses fatos, aceitar o cumprimento e tirar daí ânimo para o futuro: “Já o tens ouvido; olha para tudo isto; porventura, não o admites?” (v.6). Os detalhes foram os seguintes: 1. Deus previu a vinda dos persas quando permitiu que Isaías anunciasse: “Chamo a ave de rapina desde o Oriente e de uma terra longínqua, o homem do meu conselho. Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei” (Is 46.11, cf. Is 41.2). – Essa “ave de rapina desde o Oriente” é uma designação para o
reino persa, que ficava a leste da Babilônia, e seria o seu substituto. – A expressão a respeito da “terra longínqua” refere-se à Pérsia e à Média. – O “homem do meu conselho” é o rei persa Ciro. Essa profecia, proferida aproximadamente 150 anos antes de seu cumprimento, contrasta com o cumprimento final e escatológico e a queda definitiva da Babilônia. Pois o inimigo dos últimos dias não invadirá a Babilônia vindo do leste, mas do norte, o que até hoje ainda não aconteceu: “Porque do Norte subiu contra ela uma nação que tornará deserta a sua terra, e não haverá quem nela habite; tanto os homens como os animais fugiram e se foram” (Jr 50.3). A queda da antiga Babilônia provocada pelos persas vindos do leste já é história realizada. 2. O orgulho da Babilônia antes da queda foi predito com as seguintes palavras: “E disseste: Eu serei senhora para sempre! Até agora não tomaste a sério estas coisas, nem te lembraste do seu fim. Ouve isto, pois, tu que és dada a prazeres, que habitas segura, que dizes contigo mesma: Eu só, e além de mim não há outra; não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos” (Is 47.7-8). Na noite de sua queda, cerca de 150 anos depois, encontramos a Babilônia exatamente nessa situação. Belsazar, o último rei babilônico, estava sentado em seu trono, pensando, mas não levando a sério as advertências. Pensar e levar a sério são duas coisas bastante diferentes. Ele pensou (como pensava a Babilônia): “Eu serei senhora para sempre! (...) Eu só, e além de mim não há outra; não ficarei viúva, nem conhecerei a perda de filhos”. Em seu orgulho ilimitado, Belsazar não acreditava em sua queda. Daniel 5 descreve isso de forma precisa. O rei promo-
veu uma grande festa, para a qual tinha convidado seus generais, milhares de seus servos, além de suas mulheres e concubinas. Rios de vinho corriam. Mas isso ainda não era suficiente para ele: mandou trazer os utensílios do templo de Jerusalém, que seu pai* Nabucodonosor tinha levado para a Babilônia, para que ele e seus convidados bebessem deles. Esse homem devia ter muita certeza de que nada lhe aconteceria. Mas – que segurança enganosa e fatal! Os persas e os medos já sitiavam a cidade. Belsazar, porém, não se incomodou com isso e manteve-se totalmente despreocupado. Quem venceria o poder da Babilônia? Quem poderia invadi-la e conquistá-la? Belsazar também confiava no grande estoque de mantimentos, preparado para durar aproximadamente vinte anos. Mas Deus já previa a desgraça e advertiu o povo para que ainda assim Lhe desse ouvidos: “Ouve isto, pois, tu que és dada a prazeres, que habitas segura, que dizes contigo mesma (...)” (Is 47.8). O engano de nossa geração egoísta e auto-indulgente está em pensar que tudo continuará sempre da mesma forma. Pessoas demais pensam, planejam e
agem, sem levar a sério as advertências – até que vem a grande surpresa. Ao tratar da Tribulação – o juízo de Deus sobre uma humanidade impenitente – a Bíblia diz que a condenação virá repentinamente, como um laço, como um ladrão na noite, como o dilúvio, como na época de Ló, sim, como a tomada da Babilônia.
➤ “De repente, veio do céu um som, como de um vento impetuoso”.
Belsazar não tinha levado em conta o que aconteceria se um dia a cidade da Babilônia chegasse a ser conquistada: “Até agora não tomaste a sério estas coisas, nem te lembraste do seu fim” (Is 47.7). Foi exatamente essa a acusação que Daniel levantou contra o rei babilônico 150 anos depois: “Tu, Belsazar (...), não humilhaste o teu coração, ainda que sabias tudo isto” (Dn 5.22). Belsazar sabia a respeito das profecias de Deus sobre seu pai Nabucodonosor e de seu cumprimento literal. Nabucodonosor tinha escrito uma crônica sobre isso, e Daniel 4 des-
* O termo “pai” pode simplesmente indicar um predecessor no trono, ou, neste caso, indicar que a mãe de Belsazar, a esposa de Nabonido, era filha de Nabucodonosor. (A Bíblia Anotada)
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➤ Ariel Sharon, o ex-primeiro-ministro de Israel: esse general outrora inflexível de repente tornou-se quem garantia a paz no Oriente Médio. Mas, de uma hora para a outra, Sharon adoeceu mortalmente.
creve seu orgulho e sua queda pela interferência de Deus. Mas Belsazar não tinha levado em conta que Daniel já tinha anunciado a seu pai Nabucodonosor que outro reino surgiria depois do seu: “Depois de ti, se levantará outro reino...” (Dn 2.39). Aparentemente seguro de si, Belsazar também não levou em conta que muito tempo atrás Deus já o havia chamado de último rei babilônico. Mais de 70 anos antes Jeremias havia anunciado pela Palavra de Deus: “Agora, eu entregarei todas estas terras ao poder de Nabucodonosor, rei da Babilônia, meu servo; e também lhe dei os animais do campo para que o sirvam. Todas as nações servirão a ele (Nabucodonosor), a seu filho (Nabonido) e ao filho de seu filho (Belsazar), até que também che-
gue a vez da sua própria terra, quando muitas nações e grandes reis o fizerem seu escravo” (Jr 27.6-7).* Em nossa época, a catástrofe será desencadeada repentinamente, porque uma grande parte da humanidade pensa que pode excluir Deus de seus planos e continuar a viver despreocupadamente, de forma cada vez mais descristianizada. Faz tempo que os valores bíblicos não valem mais nada, e estamos despencando desenfreadamente ladeira abaixo.
O cumprimento literal Por meio de Isaías, Deus profetizou contra a Babilônia tão cheia de si e contra seu rei: “Mas ambas estas coisas virão sobre ti num momento, no mesmo dia, perda de filhos e viuvez; virão em cheio sobre ti, apesar da multidão das tuas feitiçarias e da abundância dos teus muitos encantamentos. Porque confiaste na tua maldade e disseste: Não há quem me veja. A tua sabedoria e a tua ciência, isso te fez desviar, e disseste contigo mesma: Eu só,
* É verdade que houve outros reis na Babilônia depois de Nabucodonosor, mas estes não eram seus filhos. Nabonido, porém, era seu filho, e Belsazar, seu neto, o que torna ainda mais exata a profecia.
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e além de mim não há outra. Pelo que sobre ti virá o mal que por encantamentos não saberás conjurar; tal calamidade cairá sobre ti, da qual por expiação não te poderás livrar; porque sobre ti, de repente, virá tamanha desolação, como não imaginavas” (Is 47.9-11). Belsazar estava no meio de uma festa quando, de repente, apareceram dedos de uma mão humana e escreveram algumas palavras na parede caiada em frente ao candeeiro: “Mene, mene, tequel e parsim!” Diante disso, “se mudou o semblante do rei, e os seus pensamentos o turbaram; as juntas dos seus lombos se relaxaram, e os seus joelhos batiam um no outro” (Dn 5.6). O seu susto foi tão grande porque ele pensava que nenhum inimigo poderia entrar em seu palácio e que ninguém o via. Mas, então, de onde vinha a mão na parede? Deus pode penetrar em qualquer lugar; ninguém está a salvo dEle ou pode esconder-se dEle (Am 9.2-4). Em nossos dias, a AIDS, a violência, a corrupção, etc. e a derrocada geral da moralidade apontam para uma mão que escreve na “parede dos povos”: “Pesado foste na balança e achado em falta” (cf. Na 1.14; Dn 5.27). Parece-me que o juízo ameaçador de Deus paira diretamente acima de nossas cabeças – mas a festa continua alegremente, no melhor estilo “Viva o ‘insubmergível’ Titanic!” Nem os encantadores nem os feiticeiros conseguiram decifrar a escrita na parede do salão de festas de Belsazar. Só o idoso Daniel, chamado a conselho da rainha-mãe, pôde explicar o significado da escrita (Dn 5.26-28). O juízo de Deus seguiu-se imediatamente: “Naquela mesma noite, foi morto Belsazar, rei dos caldeus” (v. 30).
Belsazar, completamente despreparado, foi surpreendido pelo anúncio do juízo e sua morte foi repentina. Pouco antes ele ainda tinha estado tão seguro de que nada poderia acontecer-lhe em sua cidade e em seu reino. Ele estava despreocupado, descansado e cheio de orgulho. Todos os pensamentos negativos, que poderiam tê-lo desanimado, eram afogados em bebedeiras nas animadas festas. Ele queria pensar positivamente. Todo o resto era amaldiçoado: “Mais um desses pessimistas, com pérolas de sabedoria que alega virem de Deus!” De uma hora para outra, porém, essa alegria regada a álcool desmoronou e deu lugar a um susto sem tamanho. Para usar uma imagem: de repente a Palavra de Deus em pleno cumprimento apresentou-se como espada faiscante diante do seu trono. A morte e o juízo haviam chegado! A profecia de Deus soa como se tivesse sido escrita com vistas à nossa época: “Pelo que sobre ti virá o mal que por encantamentos não saberás conjurar; tal calamidade cairá sobre ti, da qual por expiação não te poderás livrar; porque sobre ti, de repente, virá
tamanha desolação, como não imaginavas” (Is 47.11). Eis o que aconteceu naquela época: um antigo registro menciona que as tropas persas, sob o comando do general Ugbaru, desviaram o curso do rio Eufrates, que cruzava a Babilônia. O exército teria penetrado na cidade pelo leito seco do rio e alcançado o palácio real de forma inesperadamente rápida, matando o rei Belsazar. Assim, a Babilônia teria sido tomada praticamente sem luta. Nos meses posteriores, muitos homens teriam sido mortos, e outros homens, mulheres e crianças foram arrastados para o exílio. Desse modo a ameaça de Deus se cumpriu de forma literal: “...perda de filhos e viuvez; virão em cheio sobre ti...” (Is 47.9). John MacArthur comenta a esse respeito: “Essa profecia foi novamente cumprida quando a Babilônia se revoltou contra Dario; a fim de suportar o sítio durante mais tempo, cada homem escolheu uma mulher de sua família e estrangulou o restante, para poupar mantimentos. Dario empalou 3.000 revoltosos”.2
O ocultismo da Babilônia
➤ Essa “ave de rapina desde o Oriente” é uma designação para o reino persa, que ficava a leste da Babilônia.
Em Isaías 47.12-15 lemos que é impossível desviar o juízo de Deus com a ajuda de atos ocultistas: “Deixa-te estar com os teus encantamentos e com a multidão das tuas feitiçarias em que te fatigaste desde a tua mocidade; talvez possas tirar proveito, talvez, com isso, inspirar terror. Já estás
cansada com a multidão das tuas consultas! Levantem-se, pois, agora, os que dissecam os céus e fitam os astros, os que em cada lua nova te predizem o que há de vir sobre ti. Eis que serão como restolho, o fogo os queimará; não poderão livrar-se do poder das chamas; nenhuma brasa restará para se aquentarem, nem fogo, para que diante dele se assentem. Assim serão para contigo aqueles com quem te fatigaste; aqueles com quem negociaste desde a tua mocidade; dispersar-se-ão, cambaleantes, cada qual pelo seu caminho; ninguém te salvará”. Na noite em que a Babilônia foi tomada pelos persas, essa profecia cumpriu-se literalmente. Pois quando Belsazar viu a escrita na parede, ele gritou pelos seus videntes e feiticeiros, e nenhum deles foi capaz de ajudá-lo. Está escrito: “Então, entraram todos os sábios do rei; mas não puderam ler a escritura, nem fazer saber ao rei a sua interpretação. Com isto, se perturbou muito o rei Belsazar, e mudou-se-lhe o semblante; e os seus grandes estavam sobressaltados” (Dn 5.8-9). Esses versículos mostram o ridículo e o perigo por trás de práticas ocultas como astrologia, adivinhação, cartomancia, etc. Os tempos mudaram pouco: a cada dia surgem novos horóscopos, que indicam a lua nova e pretendem anunciar o que acontecerá a cada indivíduo (cf. Is 47.13). Nabucodonosor orgulhava-se de ter construído a cidade da Babilônia (Dn 4.26-27). Esse fato também é confirmado pelos historiadores seculares. Além disso, esse rei mandou erigir o templo de Marduque e a “torre babilônica”. Grandes procissões passavam pelo muro externo e pelo palácio até entrar no lugar santíssimo de Marduque.3 A respeito disso lemos em Isaías 46.1: “Bel se encurva, Nebo se abaixa; os ídolos são postos sobre os animais, sobre as bestas; as cargas que
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➤ O inimigo dos últimos dias virá do norte para transformar a Babilônia em um deserto, de forma que nem homens nem animais possam viver lá.
costumáveis levar são canseira para as bestas já cansadas”. O catolicismo também pratica essas procissões, sendo que muitas de suas cerimônias foram derivadas do culto babilônico. Apocalipse 17 volta a mostrar a Babilônia religiosa.
A mensagem profética do futuro Israel pode contemplar esse cumprimento da mensagem bíblica, aceitá-lo e tirar dele ânimo para o futuro: “Já o tens ouvido; olha para tudo isto; porventura, não o admites? Desde agora te faço ouvir coisas novas e ocultas, que não conhecias. Apareceram agora e não há muito, e antes deste dia delas não ouviste, para que não digas: Eis que já o sabia” (Is 48.6-7). Aqui se fala de uma profecia totalmente nova, uma situação completamente nova, um tempo inteiramente novo. A profecia transcende a Babilônia de então para referir-se a uma Babilônia escatológica.
Qual é a novidade? É verdade que Isaías já tinha profetizado coisa semelhante, como, por exemplo, o ataque final à Babilônia, no Dia do Senhor (capítulos 13 e 14). Mas aqui o profeta se desincumbe de uma tarefa dada por Deus e revela algo diretamente ligado ao Messias, que é o que torna tudo tão novo.*
Do que consiste a mensagem profética do futuro? No meu entendimento ela consiste de cinco partes, que vamos analisar com mais detalhes agora:
1. Israel terá de passar pela Tribulação Em Isaías 48.9-11 o Senhor diz: “Por amor do meu nome, retardarei a minha ira e por causa da minha honra me conterei para contigo, para que te não venha a exterminar. Eis que te acrisolei, mas disso não resultou prata; provei-te na fornalha da aflição. Por amor de mim, por amor de mim, é que faço isto; porque como seria profanado o meu nome? A minha glória, não a dou a outrem”. Nessa época a captu-
* Os capítulos dos livros proféticos nem sempre estão em ordem cronológica. Profecias mais tardias podem ser mencionadas em capítulos anteriores, e vice-versa (cf. Dn 6.1, 7.1 e 8.1). Apesar de as profecias da época de Belsazar nos capítulos 7 e 8 terem se cumprido antes da época de Dario, no capítulo 6, elas são mencionadas depois.
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ra [de Israel] e o cativeiro na Babilônia ainda não tinham acontecido, muito menos a dispersão por todo o mundo por meio dos romanos. Ainda assim usa-se aqui o tempo passado, porque a profecia é história escrita por antecedência. Apesar de os dois cativeiros terem trazido muito sofrimento para Israel, não serviram para purificá-lo. Somente a última grande tribulação fará surgir o remanescente santificado de Israel, que invocará o nome do Messias. Deus reserva para Si o direito de preservar Israel como nação até aquele momento, a fim de continuar e completar a Sua obra, para Sua honra e por amor de Seu nome.
2. A entrada no Apocalipse “Dá-me ouvidos, ó Jacó, e tu, ó Israel, a quem chamei; eu sou o mesmo, sou o primeiro e também o último” (Is 48.12). Aqui fala o Messias. Esse processo de purificação efetuado por Deus em Israel começará no tempo apocalíptico, no Dia do Senhor, descrito no Apocalipse. Não é à toa que o último livro da Bíblia começa com as palavras “Eu sou” de Jesus: “Eu sou o Alfa e Ômega, diz o Senhor Deus, aquele que é, que era e que há de vir, o Todo-Poderoso” (Ap 1.8). A prova de que o Jesus glorificado que João viu na ilha de Patmos era o Todo-Poderoso pode ser reconhecida na continuação: “Quando o vi, caí a seus pés como morto. Porém ele pôs sobre mim a mão direita, dizendo: Não temas; eu sou o primeiro e o último e aquele que vive; estive morto, mas eis que estou vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e do inferno” (vv. 17 e 18).
3. O Messias como vencedor sobre a Babilônia “Ajuntai-vos, todos vós, e ouvi! Quem, dentre eles, tem anunciado es-
tas coisas? O SENHOR amou a Ciro e executará a sua vontade contra a Babilônia, e o seu braço será contra os caldeus. Eu, eu tenho falado; também já o chamei. Eu o trouxe e farei próspero o seu caminho. Chegai-vos a mim e ouvi isto: não falei em segredo desde o princípio; desde o tempo em que isso vem acontecendo, tenho estado lá. Agora, o SENHOR Deus me enviou a mim e o seu Espírito” (Is 48.14-16). Em relação ao primeiro cumprimento, o homem mencionado aqui é o rei persa Ciro, que venceu os babilônios.* Mas Ciro é uma figura, isto é, um tipo do Messias, semelhante a Melquisedeque. Deus concedeu títulos altíssimos a Ciro em Sua Palavra. Ele o chama de: – “homem do meu conselho” (Is 46.11) – “aquele a cujos passos segue a vitória” (Is 41.2, cf. também 45.13) – “Ele é meu pastor...” (Is 44.28)
➤ Belsazar promoveu uma grande festa. Rios de vinho corriam. Esse homem devia ter muita certeza de que nada aconteceria a ele.
– “...e cumprirá tudo o que me apraz” (Is 44.28) – “O SENHOR amou a Ciro...” (Is 48.14) – “...também já o chamei...” (Is 48.15) – “...seu ungido...” (Is 45.1). Todos esses nomes e títulos também se aplicam a Jesus. O “ungido” significa literalmente “Messias”. Ciro representa algo como uma pré-instância, mas não a instância final. Por isso a indicação final dessa profecia aponta para ninguém menos que Jesus Cristo. É a Ele que Deus ama, que tem a benevolência do Pai a qualquer tempo (Mt 3.17; 17.5; Mc 1.11; Lc 3.22), porque faz tudo o que apraz ao Pai (cf. Jo 8.29. É Ele quem chama Israel para Si, que foi enviado pelo Pai e pelo Espírito Santo, que completará a vontade e o plano de Deus, e não por último na Babilônia dos derradeiros dias. Ele vai aniquilar o último reino anticristão e a sua Babilônia (Ap 18).
4. O que serve à paz “Assim diz o SENHOR, o teu Redentor, o Santo de Israel: Eu sou o SENHOR, o teu Deus, que te ensina o que é útil e te guia pelo caminho em que deves andar. Ah! Se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então, seria a tua paz como um rio, e a tua justiça, como as ondas do mar” (Is 48.17-18). Aqui é abordado o problema escatológico de Israel: a questão da paz. Apesar de todos os esforços humanos e políticos, ape-
sar de todos os compromissos, Israel tem tudo, menos paz. O Irã o ameaça com a morte e no próprio país, isto é, nas regiões palestinas, o comando é do Hamas, que tem um ódio mortal por Israel. O profeta Jeremias anuncia: “Assim diz o SENHOR: Ouvimos uma voz de tremor e de temor e não de paz” (Jr 30.5). O problema é que Israel não é um povo como qualquer outro. Se fosse, já teria conseguido paz há muito tempo. Mas Israel é o povo do único Deus verdadeiro, e só poderá alcançar a paz por meio do Messias, pois a questão básica é a luta espiritual. Enquanto Israel não tiver Jesus e desprezar a Palavra de Deus, não terá paz: “Mas os ímpios não têm paz, diz o SENHOR” (Is 48.22, ERC). E por meio do profeta Oséias Ele diz: “Para tua perda, ó Israel, te rebelaste contra mim, contra o teu ajudador” (Os 13.9, ERC). Em outras palavras: “...porque não queres ter nada comigo, o teu ajudador”. A paz só é possível quando há paz com Deus: “...que homens se apoderem da minha força e façam paz comigo; sim, que façam paz comigo” (Is 27.5). Um comentário à parte: Isaías 48.18 é uma das poucas passagens que mencionam a paz antes da justiça; normalmente a ordem é inversa.
5. A última fuga de Israel Em Isaías 48.20-21 lemos: “Saí da Babilônia, fugi de entre os caldeus e anunciai isto com voz de júbilo; proclamai-o e levai-o até ao fim da terra; dizei: O SENHOR remiu a seu servo Jacó. Não padeceram sede, quando ele
* Aproximadamente 150 a 200 anos antes de seu surgimento o nome de Ciro foi citado pelo profeta Isaías. Ciro foi usado pelo Senhor para devolver a liberdade e a autonomia a Israel e a outros países, ainda que sob o controle soberano persa. Isaías atuou a partir de aprox. 739 a.C. – Ciro, a partir de aprox. 550 a.C. (portanto, já há profecias a respeito de Ciro cerca de 189 anos antes de seu surgimento).
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os levava pelos desertos; fez-lhes correr água da rocha; fendeu a pedra, e as águas correram”. Naquela época, aproximadamente 50.000 pessoas saíram da Babilônia, não fugindo, mas retornando para Jerusalém e para Judá (Esdras 2.1,64-65). Mas da última Babilônia será necessário fugir: só então os judeus fugirão em direção à sua redenção final, e isso será anunciado até os confins da terra. Em relação a essa fuga, eles são encorajados a confiar no Senhor, pois Ele os protegerá e levará ao alvo, como na época da fuga do Egito.
A mensagem para o presente Por meio do profeta Isaías, Deus pergunta: “A quem me comparareis para que eu lhe seja igual? E que coisa semelhante confrontareis comigo?” (Is 46.5, cf. v.9; 47.4; Dt 32.39; Os
➤ O catolicismo também pratica essas procissões, sendo que muitas de suas cerimônias foram derivadas do culto babilônico.
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13.4). Vivemos em uma época em que o Oriente Médio se destaca cada vez mais, política, militar, econômica e religiosamente. Trata-se de uma região na qual se desenrolarão grandes acontecimentos escatológicos, mencionados em muitas profecias. Em geral afirma-se que Alá é o mesmo Deus ao qual, no fim das contas, todos oram e de quem todos falam. Mas Alá não é, de maneira nenhuma, o Deus de Israel e dos cristãos. Um renomado jornal escreveu: George W. Bush provocou protestos em seu próprio arraial religioso. Quando perguntado, dois anos atrás, se os muçulmanos adoram o mesmo Todo-Poderoso que os judeus e os cristãos, o metodista na Casa Branca respondeu: “Creio que adoramos o mesmo Deus”. Círculos tradicionalistas já defendiam ter descoberto “monstruosidades” no documento “Cristãos e Muçulmanos na Alemanha”, publicado em 2003 pela Conferência Alemã dos Bispos, que defende que “cristianismo e islamismo representam dois diferentes acessos ao mesmo Deus”. O [falecido] papa João Paulo II reforçou essa afirmação (de que Alá também é o Deus de Israel e dos cristãos), quando, em 1989, pediu apoio aos muçulmanos em sua mensagem de paz ao Oriente Médio, “em nome do mesmo Deus que todos adoramos e a quem nos esforçamos para servir”. Críticos internos da Igreja atestam uma certa tendência à “doutrina da salvação universal” do papa Wojtyla.4 Quando Deus pergunta a quem os homens querem compará-lO, “a quem me comparareis para que eu lhe seja igual?”, a impressão que temos é que essa pergunta da Bíblia se dirige diretamente aos nossos dias, como se Deus confrontasse Alá e quisesse desafiá-lo.
Seja como for: o Deus de Israel nunca poderá ser o mesmo que o deus do islamismo, pois, de acordo com o Corão, Alá quer destruir o povo de Israel, enquanto o verdadeiro Deus salvará o povo da Sua aliança das mãos de seus inimigos: “Faço chegar a minha justiça, e não está longe; a minha salvação não tardará; mas estabelecerei em Sião o livramento e em Israel, a minha glória” (Is 46.13).
Ouvir o lado certo Sempre que as palavras se repetem em um texto bíblico, o Espírito de Deus está expressando algo significativo. Assim, em quatro passagens o livro de Isaías encoraja a ouvir a Deus: “Ouvi-me (...) A quem me comparareis para que eu lhe seja igual (...)?” (Is 46.3-5). “Eu o disse, eu também o cumprirei; tomei este propósito, também o executarei. Ouvi-me vós (...)” (Is 46.11-12). “Já o tens ouvido; olha para tudo isto; porventura, não o admites?” (Is 48.6). “Ah! Se tivesses dado ouvidos aos meus mandamentos! Então, seria a tua paz como um rio, e a tua justiça, como as ondas do mar” (Is 48.18). Todos os problemas humanamente insolúveis na vida do não cristão podem ser resumidos a um denominador comum: ele não quer ouvir a Deus! Deus precisou dizer ao povo de Sua aliança: “Para tua perda, ó Israel, te rebelaste contra mim, contra o teu ajudador” (Os 13.9, ERC). Por isso está escrito: “Mas os ímpios não têm paz, diz o SENHOR” (Is 48.22). Notas: 1. Berliner Zeitung, 6.1.2006. 2. John MacArthur, Bíblia de Estudos. 3. Weltgeschichte in einem Griff, Kurt M. Jung, Ullstein, pg. 53. 4. Die Welt, 1.3.2006.
Toda vez que Israel se envolve numa guerra no Oriente Médio, muitas pessoas, inclusive descrentes, querem saber se, de alguma maneira, há qualquer relação com a profecia bíblica. Minha resposta sempre tem sido: “sim e não”. Digo que “sim”, porque qualquer evento geopolítico que envolva Israel tem algum tipo de relação com o processo de “montagem do palco”. Por outro lado, digo que “não”, pois quase todas as profecias bíblicas que dizem respeito a Israel no fim dos tempos só se cumprirão depois do Arrebatamento, durante o período de sete anos da Tribulação. Sempre que algum fato relativo a Israel acontece no Oriente Médio, sem dúvida sou levado mais ainda a me perguntar: “Será que chegou a hora do Arrebatamento?”
A Montagem do Palco O Arrebatamento é um evento profético que não possui sinais precedentes descritos na Bíblia. Não há sinais preparatórios para o Arrebatamento, ou seja, ele pode ocorrer a qualquer momento. Atualmente existem no mundo indícios de que Deus efetua uma preparação para os eventos que acontecerão após o Arrebatamento, no transcurso do período da Tribulação. Essa visão contempla os acontecimentos atuais como uma progressiva montagem do palco ou do cenário para os eventos do fim dos tempos, ainda que estes não comecem a se cumprir durante a Era da Igreja. Tal paradigma permite que um futurista pré-tribulacionista entenda o Arrebatamento como um evento profético iminente (i.e., que poderia
acontecer a qualquer momento, sem a necessidade obrigatória do cumprimento de acontecimentos preliminares), e, ao mesmo tempo, creia que possamos ser a última geração da Era da Igreja. John Walvoord fez a seguinte observação: No cenário mundial da atualidade há muitos indícios que levam à conclusão de que o fim da era [da Igreja] pode chegar em nossos dias. Essas profecias concernentes ao futuro dia de sofrimento de Israel e de sua restauração final podem estar destinadas a se cumprir na presente geração. Na história do mundo, nunca houve uma confluência de tantas importantes evidências da preparação para o fim.1 A montagem do palco não é o “cumprimento” da profecia bíblica. Portanto, ainda que a profecia não
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esteja a se cumprir em nossos dias, isso não quer dizer que não possamos rastrear as “tendências gerais” na atual preparação para a futura Tribulação, principalmente quando se considera o fato de que a Tribulação se dará imediatamente após o Arrebatamento. A essa abordagem denominamos “montagem do palco”. Assim como muitas pessoas preparam na noite anterior a roupa que usarão no dia seguinte, assim também Deus, agora, em sentido análogo, prepara o mundo para o infalível cumprimento da profecia num tempo futuro. O Dr. Walvoord dá a seguinte explicação: Contudo, se não há sinais para a ocorrência do próprio Arrebatamento, quais são as razões pelas quais cremos que o Arrebatamento possa estar particularmente próximo desta geração? A resposta não se encontra em nenhum dos eventos proféticos preditos para se cumprir antes do Arrebatamento, mas na compreensão dos
eventos que acontecerão depois do Arrebatamento. Da mesma forma que a história foi preparada para a Primeira Vinda de Cristo, de modo semelhante, ela se prepara atualmente para os eventos que culminarão na Segunda Vinda [...] Se for assim, a conclusão inevitável é a de que o Arrebatamento pode estar estimulantemente próximo de ocorrer.2
A Preparação Para a Grande Tribulação Creio que a recente guerra no Oriente Médio foi um elemento preparatório para o começo da Tribulação, quando Israel firmará uma aliança com o Anticristo, o governante do Império Romano ressurgido (Is 28.18; Dn 9.24-27). Os primeiros três anos e meio da Tribulação serão um tempo no qual o Anticristo se comprometerá a proteger a nação de Israel. Sabemos que na metade do período de sete anos, depois de erigir sua imagem dentro do templo judeu reconstruído, o Anticristo perse-
Podemos perceber que, devido à situação nos dias atuais, o mundo se volta, cada vez mais, contra o povo que Deus novamente ajuntou – Israel.
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guirá essa nação (Ap 12). Também sabemos que todas as nações do mundo se colocarão contra Israel durante a Tribulação (Zc 12-14), razão pela qual elas se ajuntarão para marchar contra Israel na campanha do Armagedom (Jl 2-3; Ap 16.16). Dessa forma, podemos perceber que, devido à situação nos dias atuais, o mundo se volta, cada vez mais, contra o povo que Deus novamente ajuntou – Israel. Como isso está acontecendo? Para uma breve compreensão do modo pelo qual o Oriente Médio chegou onde hoje está, preciso apresentar um rápido panorama de sua história. A começar pelo surgimento do Islã no século VII, Maomé fundou uma religião militante cujo objetivo tornou-se a conquista do mundo. O Islã assumiu o controle da Península Arábica e começou a estender seu domínio a partir dali. Como Dave Hunt ressaltou: “O Islã divide o mundo inteiro em Dar al-Islã (“a casa da paz”) e Dar al-Harb (“a casa da guerra”), bem como exige uma jihad [“guerra santa”] em toda parte contra a Dar alHarb, ou seja, contra os não-muçulmanos. Nunca poderá haver “paz” enquanto o Islã não sujeitar o mundo todo a Alá”.3 Isso explica a militância do Islã hoje em dia, enquanto prossegue na sua busca da conquista global. Os muçulmanos devotos não crêem que nações deveriam existir dentro dos limites da Dar al-Islã. Maomé tinha um único império e essa é a razão pela qual, durante toda a história islâmica, os grandes líderes têm sido aqueles que unificaram o Islã num único império. Tal intento foi conseguido por Saladino (em cerca de 1.000 d.C.) e, mais tarde, pelos turcos (em cerca de 1.500 d.C.). O século XIX contemplou um declínio vertiginoso do Império Otomano, que finalmente
veio a sucumbir na Primeira Guerra Mundial, quando os ingleses e franceses o conquistaram. Após a Primeira Guerra Mundial, os ingleses e franceses dividiram o antigo Império Otomano em Estados nacionais, tal como os temos na atualidade. O petróleo mal tinha aparecido no cenário mundial e os europeus não queriam que nenhum dos Estados nacionais árabes, em particular, tivesse domínio sobre uma grande quantidade de petróleo, de modo que retalharam o império subdividindo-o em países menores. Para os muçulmanos religiosos, a fragmentação da Dar al-Islã, efetuada por ingleses e franceses, foi vista como uma influência desagregadora semeada pelos cruzados [i.e., expedicionários das cruzadas] imperialistas ocidentais e que precisa ser remediada. Os devotos muçulmanos não somente crêem que a Dar al-Islã foi artificialmente dividida pelos infiéis, mas também tendem a considerar seus novos líderes como corruptos representantes dos cruzados, que só estão interessados no petróleo árabe. Assim, o objetivo para muitos muçulmanos foi o de tentar reunificar novamente a Dar al-Islã num único império, a fim de que a conquista mundial pudesse recomeçar. Esse era o objetivo de Nasser, presidente do Egito, nos idos de 1950 e 1960. Saddam Hussein teve a visão exata de tal império quando começou sua guerra contra o Irã e, em seguida, invadiu o Kuwait. Agora é o Irã que tem seus olhos voltados para a recriação da Dar al-Islã, enquanto luta pela sua conquista através da obtenção de tecnologia nuclear e da desestabilização do Oriente Médio pela instrumentalidade de seus agentes, o Hezb’allah (Partido de Alá) e o Hamas. O Irã é o poder que estava por detrás da recente guerra. Os irania-
nos têm um plano de assumir o domínio do mundo muçulmano e, se forem capazes de concretizar seu intento, controlarão grande parte do petróleo mundial e terão recursos financeiros, além de potencial humano, capazes de formar um exército para destruir Israel e os Estados Unidos, bem como dominar o resto do mundo. Sua A primeira meta do Irã é a de reunificar a maior extensão possível do Império Islâmico a fim de primeira meta é a de reuimplementar o objetivo islâmico de domínio nificar a maior extensão mundial. Na foto: os presidentes da Síria e do Irã. possível do Império Islâmico a fim de implementar o objetivo islâmico de domínio mundial. Quando [o ex- fama de usar força inexpressiva nas primeiro-ministro israelense] Benja- horas em que se requer força máximin Netanyahu foi interpelado so- ma. Israel, apesar de possuir um exbre o que pensava serem os objeti- celente exército, não o utilizou de maneira adequada contra o vos do Irã, ele declarou o seguinte: Creio que se trate de um teste de Hezb’allah. Isso prepara o cenário fogo, cujas experiências com mísseis para que Israel necessite de protetêm como alvo um país do Ocidente. ção externa e oferece o motivo para O Irã está empenhado na destruição que entre numa aliança com o Antide Israel. Nega o Holocausto en- cristo. Não seria surpresa nenhuma quanto prepara um novo Holocausto. se os Estados Unidos saíssem dessa Porém, o Irã também está compromis- situação rebaixados na sua condisado com uma ramificação desvaira- ção de agente mediador no Oriente da dos xiitas que vislumbra uma Médio e se a União Européia assuguerra apocalíptica com milhões de misse tal função no lugar dos amevítimas, na qual a religião xiita as- ricanos. Um Israel cansado de guercenderia ao poder e o Ocidente su- ra, a cada dia que passa, está mais cumbiria. Talvez sejamos [Israel] o propício a entrar numa “aliança primeiro alvo deles, mas não somos com a morte” (Is 28.18), aliança o último. Aquele outro tipo de fanatis- essa que marcará o começo da Trimo que testemunhamos há 60 anos bulação. Se a Tribulação já se aproatrás, o nazismo, também tentou se xima, isso significa que o Arrebataarmar com armas atômicas. Essas mi- mento está mais próximo ainda. litâncias doidas começam com ataques contra os judeus, mas nunca paIsaías 17 e Damasco ram por aí. No fim, seu último alvo é a nossa civilização livre.4 Alguns gostariam de saber se “a Hoje em dia, os liberais estão no sentença contra Damasco”, na qual governo da nação de Israel, repre- essa cidade síria será destruída para sentados pelo primeiro-ministro sempre (Is 17.1ss.), poderia se Ehud Olmert e pelo ministro da cumprir caso a Síria entrasse em Defesa Amir Peretz, os quais têm a conflito com Israel. Não há a me-
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nor dúvida de que Israel, com suas armas atômicas, certamente teria condições de apagar a cidade de Damasco do mapa. Entretanto, não creio que isso venha a acontecer na conjuntura atual no Oriente Médio, segundo se pode depreender da leitura atenta de Isaías 17. Os capítulos 13 a 23 de Isaías tratam dos julgamentos de Deus contra Babilônia, Egito, Tiro, Etiópia e muitas outras cidades e países. Esses juízos acontecerão no momento em que
Deus julgar o mundo inteiro, um fato que acontecerá durante a Tribulação e na ocasião da Segunda Vinda de Cristo, como sabemos pela evidência de muitas passagens do Antigo Testamento. Além disso, os capítulos 24 a 26 do livro de Isaías formam uma das principais seções sobre o período da Tribulação durante o qual Deus há de julgar todos os “moradores da terra” (Is 24.1,6,17; 26.9,18,21). Assim, faz muito mais sentido entender esse conjunto de profecias dos capítulos 13 a 26 de Recomendamos: DVD Isaías como eventos que se cumprirão após o Arrebatamento e durante a Tribulação. Portanto, fica bastante claro que os aconteciPedidos: 0300 789.5152 • www.Chamada.com.br mentos signifi-
cativos da atualidade parecem preparar o mundo para os últimos dias – conhecidos nas Escrituras como “a Tribulação”. Mesmo nestes tempos angustiosos, nossa expectativa se sustenta na “bendita esperança” da volta de Cristo nas nuvens para arrebatar a Sua Igreja. Você já está preparado? Maranata! (Pre-Trib Perspectives) Thomas Ice é diretor-executivo do Pre-Trib Research Center em Lynchburg, VA (EUA). Ele é autor de muitos livros e um dos editores da Bíblia de Estudo Profética.
Notas: 1. John F. Walvoord, Israel in Prophecy, Grand Rapids: Zondervan, 1962, p. 129. 2. John F. Walvoord, Armageddon, Oil and the Middle East Crisis, edição revisada. Grand Rapids: Zondervan Publishing House, 1990, p. 217. 3. Dave Hunt, O Dia do Juízo! – O Islã, Israel e as Nações, Porto Alegre, RS: Actual Edições, no prelo. 4. Benjamin Netanyahu, conforme mencionado durante uma entrevista com Kenneth Timmerman para o Newsmax.com, em 2 de agosto de 2006, publicada em www.newsm a x . c o m / a r c h i v e s / a r t i cles/2006/8/1/132039.shtml?s=Ih.
Em janeiro de 2006, quando Ariel Sharon, então primeiro-ministro de Israel, sofreu um derrame desolador que interrompeu sua carreira política, uma era chegou ao fim. Sharon foi o último dos gigantes a tombar diante dos estragos causados pelo passar do tempo e pelo estresse de viver continuamente no limite extremo da sobrevivência pessoal e nacional. Embora alguns possam discordar, Sharon foi um inspirador herói nacional que estava disposto a arriscar tudo em favor do que ele entendia ser o bem de sua amada pátria. Nascido em 1928, Sharon cresceu em meio à voragem da guerra e do terrorismo. Aos 14 anos de idade, engajou-se no grupamento militar comandado por Ben Gurion, o Haganah, e serviu com mérito na Guerra da Independência em 1948. Mais tarde, tornou-se o arquiteto da política de assentamentos de Israel, recomendando com insistência
Em cima, à esquerda, o general de Brigada Ariel Sharon de pé ao lado de Menachem Begin, na frente sul de combate localizada no deserto do Sinai, durante a Guerra dos Seis Dias, em 16 de junho de 1967. Na imagem em primeiro plano, uma foto de Sharon na sede do Likud, antes da sua hospitalização.
que os colonos israelenses ocupassem a maior extensão de terra possível, antes que a intervenção e as pressões internacionais redesenhassem o novo mapa do Oriente Médio. Entre os grandes feitos de sua ilustre carreira militar, está a sua contribuição para a esmagadora vitória de Israel na Guerra do Yom Kippur em 1973. Atento e apreensivo com o possível desaparecimento de Israel depois que a Síria e o Egito lançaram um arrasador ataque-surpresa, Ariel Sharon liderou o contra-ataque no Sinai, numa iniciativa que acabou com o sonho egípcio de aniquilar Israel. As tropas de Sharon cercaram o Terceiro Exército egípcio, atravessaram o canal de Suez e já estavam nos arredores do Cairo, quando o mundo exigiu um cessar-fogo. Sem dúvida, a contundente derrota do exército egípcio convenceu
Anuar Sadat, o presidente do Egito, de que outras tentativas de extirpar Israel da face do Oriente Médio seriam inúteis. Além disso, ela forçou Sadat à inacreditável atitude de visitar Jerusalém em novembro de 1977, declarando publicamente diante do Knesset (o Parlamento israelense) seu desejo de por um fim ao derramamento de sangue e de buscar a paz. Embora, um dia, isso viesse a lhe custar a própria vida, a coragem de Sadat e seu discernimento de que guerrear contra Israel era uma iniciativa vã, foram fatores que deram início ao processo de paz. Ariel Sharon desempenhou um importante papel nessa decisão de Sadat. Apesar de ter sido retratado como um determinado e inflexível expoente da Direita, sua biografia e relacionamentos pessoais dão testemunho de uma história bem diferente. Em muitos aspectos ele personificou o “novo judeu” baseado no qual o Estado de Israel foi criado. Ele nasceu no território que atualmente é Israel; portanto, caracterizou-se pelo designativo de sabra: duro e espinhento por fora, mas macio por dentro, a exemplo do cacto sabra que simboliza a identidade nacional de Israel. Nossos encontros pessoais com o senhor Sharon sempre foram marcados pela amabilidade. Ele tinha uma consciência aguçada da amizade dos cristãos evangélicos e da importância vital deles para a missão sionista de assegurar os direitos inalienáveis do povo judeu a uma pátria nacional localizada no Oriente Médio. Quando um grupo de líderes evangélicos se reuniu com ele no outono de 2005 em Washington, ele estava bem dispos-
to, bem humorado e agiu em todos os momentos como um líder e amigo acessível e desejoso de ouvir nossas opiniões. Diferente de muitos políticos que comparecem a um compromisso público com cara de quem não vê a hora de se livrar rapidamente da situação, em momento algum o primeiro-ministro israelense deixou transparecer pressa ou impaciência. Muitos amigos cristãos de Israel ficaram inquietos com o plano de desocupação proposto por Sharon. Conforme se temia, ele sacrificou uma parte da terra dada por Deus a Israel, sem, contudo, obter a paz... Porém, a despeito do que se possa pensar acerca das políticas defendidas por Ariel Sharon, esse homem extraordinário sempre ocupará um lugar insubstituível na história de Israel, um lugar que provavelmente não será ocupado por mais ninguém. (Elwood McQuaid, Israel My Glory) Elwood McQuaid é editor-chefe de The Friends of Israel.
O cacto sabra, duro e espinhento por fora, mas macio por dentro, simboliza a identidade nacional de Israel.
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deus sírios se tornaram famosos com a publicação, em 1999, do livro The Ransomed of G’d: The Remarkable Story of One Woman’s Role in the Rescue of Syrian Jews, de autoria do historiador Harold Troper. Como na ocasião Judy ainda estava envolvida no resgate, muitos detalhes tiveram que ser mantidos em sigilo. Foi apenas em 2001, depois de ter retirado da Síria a última família judia, que chegou a Nova York menos de uma hora antes que os aviões fossem arremessados contra as torres do World Trade Center, naquele trágico 11 de setembro, que os detalhes de sua história puderam ser revelados. O livro de Harold Troper conta uma epopéia que envolveu grandes somas de dinheiro, ameaças, perigos e riscos inimagináveis, mas, acima de tudo, a corajosa determinação de uma mulher que dedicou praticamente três décadas de vida a auxiliar uma comunidade judaica tão distante da sua. Pessoal e diretamente, esteve envolvida no resgate de 3.228 judeus, que vivem atualmente nos Estados Unidos, no México e em Israel, entre vários outros países. Em reconhecimento por seu trabalho, Judy Feld-Carr recebeu inúmeras láureas, entre as quais, a Ordem do Canadá, o Prêmio Simon Wiesenthal para a Tolerância, a Honra ao Mérito pela Defesa da Justiça e Direitos Humanos da Universidade de Haifa, além do título de Doutor Honoris Causa da Universidade Lauraentian. Uma placa colocada pela comunidade judaica síria, no Brooklyn (Nova York), relembra a sua coragem: “Judy FeldCarr, aquela que acordou enquanto ainda era noite e despertou o mundo para o nosso destino, na Síria. Graças a seus esforços, vidas foram salvas, fa-
O resgate dos judeus da Síria Judy Feld-Carr, a canadense catedrática em musicologia que montou uma rede clandestina para resgatar judeus na Síria, esteve em São Paulo em setembro de 2006, a convite do Fundo Comunitário e do Instituto Morashá de Cultura. Até o final da década de 1990, pouco se ouvira falar nessa valente mulher mesmo nas esferas judaicas, pois, em seu trabalho, o anonimato era de vital importância para sua segurança e para a vida dos judeus que pretendia resgatar. E mesmo entre os que conseguiu fazer sair clandestinamente da Síria, poucos sabiam seu nome; a maioria a conhecia como “a mulher do Canadá” ou, simplesmente, “Mrs. Judy”. A história de sua vida e, principalmente, de seu empenho em ajudar ju-
Judy Feld-Carr.
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mílias foram preservadas e amigos se reencontraram. Ela salvou mundos inteiros e será abençoada pelas gerações futuras”.
O pano de fundo Quando a Partilha da Palestina foi aprovada pelas Nações Unidas, em novembro de 1947, ocorreram violentos distúrbios contra os judeus na Síria e em todo o mundo árabe. Apesar da proibição de deixar a Síria, a intensificação da perseguição provocou um verdadeiro êxodo dos judeus sírios que atingiu seu pico em 1948, após a independência de Israel. Os que ficaram para trás passaram a sofrer todo tipo de discriminação. Os judeus não podiam ter posse de nada e suas contas bancárias foram congeladas. Suas carteiras de identidades portavam, e ainda portam, hoje, o carimbo “Mussaw” (judeu); toda a correspondência era aberta e as poucas linhas telefônicas que lhes eram concedidas estavam sob “grampo”. As instituições religiosas e de assistência social, assim como as escolas judaicas, ficaram sob o controle das autoridades muçulmanas. Só tinham permissão de viver nos bairros judaicos em Damasco, Alepo e Qamishli e, se tivessem que ir a algum lugar, a mais de 3 quilômetros de distância de sua residência, precisavam de permissão do governo. A temida polícia secreta síria, conhecida como Muhabarat, treinada pelo nazista Aloïs Brünner, criou um departamento especial para cuidar dos chamados “assuntos judaicos” e seus agentes passaram a vigiar os judeus. Impedidos de sair do país, alguns perderam a vida tentando escapar; se capturados, eram trancados em prisões e torturados. Quando comerciantes judeus recebiam autoriza-
ção para viajar ao exterior, tinham que pagar impostos exorbitantes e seus familiares eram mantidos como reféns no país – como garantia até seu retorno. Em 1971, quando Assad subiu ao poder, havia por volta de 5 mil judeus presos na Síria. Ao longo de sua história pós-criação de Israel, a comunidade vivenciou poucos períodos menos hostis. Pressões externas levaram o governo a permitir aos judeus viajar para o exterior, o que equivalia a uma clara oportunidade de “escapar”. O ano de 1992 foi um marco, quando mais de dois mil judeus conseguiram seu intento, mas depois, novamente, as portas se fecharam para a comunidade judaica da Síria.
O início da luta Foi nesse contexto que a vida de Judy Feld-Carr começou a se entrelaçar com a de judeus na Síria. Quando Morashá a questionou sobre a razão que a levou a esse caminho, ela disse não ter apenas uma resposta, mas um conjunto. Nascida em Montreal, passou a maior parte de sua infância em Sudbury, na província de Ontário. “Na verdade, tive uma vida muito tranqüila”, conta. “Cresci em uma cidade onde havia apenas trinta famílias judias. O fato de pertencer a um grupo minoritário, em uma cidade pequena, fez com que eu percebesse, desde cedo, o significado de ser diferente. Costumo dizer que Deus age por caminhos estranhos”. Judy cresceu ouvindo os pais e a avó contarem sobre as atrocidades engendradas pelos nazistas na Europa. Fundamental para a compreensão dos aspectos humanos da Shoá (Holocausto) foi a convivência com uma vizinha, Sophie, cuja filha fora assassinada ainda criança em Auschwitz. “Minha vida foi profundamente influenciada por ela”, relembra Judy,
“Sophie me abraçava e chorava, lembrando da filha que perdera. Durante um de nossos encontros ela me fez prometer que, como judia, eu faria tudo o que fosse possível para garantir que jamais algo semelhante ao Holocausto voltasse a se repetir”. Judy lembra que muitas vezes teve pesadelos tentando imaginar o que faria se o destino a colocasse à prova. Anos mais tarEm 1971, quando Assad (pai) subiu ao poder, de foi, realmente, “testada”. havia por volta de 5 mil judeus presos na Síria. Levava uma vida organizada, calma, tanto em sua profissão de professora catedrática em musicologia, como pessoalmente – casada com Ronald Carr, ti- nhum grupo canadense lutando em prol dos judeus sírios, uma comunidanham três filhos e uma família feliz. Jamais pensou em se tornar “agen- de isolada do mundo. Após várias tente secreta”, não fora treinada para is- tativas e com a ajuda de um tradutor, so e nem recrutada por qualquer Ronald conseguiu falar com uma teleagência governamental para essa mis- fonista síria e pediu para se comunicar são. Uma série de circunstâncias fo- com uma escola judaica. Apesar de ram-se apresentando e ela acabou por acabar falando com um informante da se envolver. Seu primeiro marido, Ro- Muhabarat, os Felds obtiveram o nonald Feld, era um ativista engajado. À me de um judeu em Damasco, o rabipergunta de Morashá sobre a razão no Ibrahim Hamra. “Era a primeira, para o casal escolher justamente os ju- em muito tempo, e foi a única ligação deus da Síria e não de outro país ára- telefônica feita à Síria, proveniente de be, respondeu: “Não os escolhemos uma comunidade judaica”, recorda por nenhum motivo específico. Não Judy, emocionada. era muito fácil conciliar meu papel de No mesmo dia, os Felds enviaram mãe, profissional e ativista política en- um telegrama ao rabino, iniciando o volvida em uma rede internacional de contato. Era o ponto de partida de um intrigas. Mas a causa me pareceu jus- fluxo constante de caixas com livros ta e o trabalho tinha que ser feito!” religiosos, entre Toronto e Damasco, Tudo começou em 1972, quando o além de cartas e telegramas, todos cocasal tomou conhecimento do caso de dificados. Era Judy que decodificava doze jovens judeus que haviam morri- as mensagens. Para transmitir infordo ao tentar escapar da Síria. Uma re- mações muitas vezes eram usadas ciportagem sobre o caso revelara que tações bíblicas. Por exemplo, logo os guardas sírios de fronteira haviam após a realização de um sangrento assistido, sem nada fazer, enquanto os “pogrom”*, Judy recebeu um telegrajudeus voavam pelos ares, um a um, ma com a seguinte alusão bíblica: por não saberem que corriam, na fuga, em terreno minado. Indignados, o casal e alguns amigos decidiram que urgia fazer-se algo * Movimento popular de violência contra os judeus. mais sério. Na época, não havia ne-
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Horizonte “Rachel está chorando por seus filhos”, indicando que havia crianças feridas. Em 1973, aos 43 anos, Ronald faleceu subitamente, vítima de um ataque cardíaco. Dias antes, recebera ameaças por suas atividades clandestinas. Nem a morte inesperada de seu marido, nem as ameaças afastaram Judy de seu caminho e ela decidiu continuar com a missão. A sinagoga que freqüentava, em Montreal, criou o Fundo “Ronald Feld Para Judeus nos Países Árabes”. Viúva, com filhos de três, oito e onze anos de idade, Judy se dividia entre três empregos. Em 1974, a ativista pleiteou junto ao Departamento de Relações Exteriores do Canadá permissão de se encontrar com os judeus da Síria para melhor avaliar suas condições. O pedido foi oficialmente recusado, com base no argumento da ONU de que as informações sobre maus-tratos aos judeus na Síria eram “inflamatórias”. Judy resolveu, então, estruturar uma campanha para sensibilizar os políticos e a mídia à causa que abraçara. Percebeu, também, que o caminho a percorrer passava necessariamente por contatos nas esferas políticas, pela rota do suborno e do contrabando de pessoas para fora da Síria. Até então, a “operação” se limitara ao envio de livros religiosos e telegramas para Damasco, Alepo e, posteriormente, Qamishli. Em 1977 Judy ganhou um novo aliado – seu segundo marido, Donald Carr, um respeitado advogado e líder comunitário. Ela tinha apenas 33 anos quando sua missão entrou em nova fase: retirar os judeus das prisões sírias e, a seguir, do país. Na verdade, Judy jamais pensou em, ela mesma, resgatar os judeus sírios. Mas, pouco antes de seu casamento com Donald, tomou conhecimento de que um senhor de idade, Toufik Srour, acabara de ser o primeiro judeu sírio, em vinte anos, a deixar o país
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pela via legal. Para sair teve que subornar a Muhabarat, pagando US$ 9.500,00 por um visto de turista para os Estados Unidos. De lá pretendia chegar ao Canadá, onde vivia sua filha, Esther. Um fato chamou a atenção de Judy. Antes que o homem deixasse a Síria, sua filha recebeu um telegrama com o seguinte pedido: “Mande-me imediatamente US$ 2.000 para acelerar a emissão do visto”. Esther prontamente enviou o dinheiro. Mas, quando Toufik chegou ao Canadá, ela lhe perguntou sobre o telegrama, ao que ele respondeu que jamais o enviara. Era um sinal claro de que alguém na polícia secreta síria estava tentando verificar se havia pessoas, fora de lá, dispostas a pagar suborno pela liberdade dos judeus. Pouco depois, Hannah Cohen contatou Judy para falar sobre seu irmão, o rabino Dahab, que ainda vivia na Síria. Quatro de seus filhos haviam conseguido fugir do país, mas depois de cada uma das fugas o rabino era preso e torturado. A violência a que fora submetido era tanta que seu rins pararam de funcionar. Judy, logo iniciou uma campanha para obter sua liberdade temporária para tratamento médico. Para arrecadar recursos, ela proferiu palestras, até que obteve o valor necessário para pagar o resgate e retirar o rabino da Síria. O médico que o examinou, assim que chegou, afirmou que jamais vira um corpo tão maltratado. Infelizmente, o rabino Dahan não resistiu; no entanto, antes de falecer, recebeu de Judy a promessa de que tiraria sua filha Olga da Síria. Judy decidiu falsificar os documento do rabino Dahan como se ainda estivesse vivo, pedindo às autoridades que sua filha pudesse ir ao Canadá para cuidar do pai. O preço foi estipulado por intermediários e Olga conseguiu sair da Síria rumo a Toronto. Era a “Mrs. Judy” em ação...
Ela já sabia, pois, que os judeus poderiam ser “comprados”. Agora, o próximo passo era saber quem os sírios queriam vender, a que preço e quem tinha autoridade para fechar o acordo. “Por mais duro que seja admitir, nós estávamos comprando pessoas e o valor dependia de uma série de circunstâncias e dos indivíduos envolvidos no “labirinto do poder”, em Damasco. Quem salvar, um adulto, uma criança? Pais ansiavam por ver seus filhos fora do país e enfrentavam uma separação dolorosa para que eles pudessem ter uma chance, fora da Síria”. Não há dúvida de que a polícia secreta síria, a Muhabarat, sabia das atividades de Judy, mas não a deteve – muito provavelmente porque não tinha interesse em acabar com aquele ingresso [monetário] adicional”. Juntos, Judy e Donald e um grupo de ativistas trabalharam intensamente. Ela viajou ao redor do mundo para manter negociações secretas, sempre com o auxílio de intermediários. “Eu tinha que viver duas vidas – uma marcada por intrigas internacionais; e outra, na qual eu era mãe e tinha um dia-a-dia normal”. Os riscos eram enormes, tanto para ela quanto para as famílias que tentava resgatar. “Na verdade”, ressalta, “foi um verdadeiro milagre que eu ainda esteja viva e que nenhum dos 3.288 judeus que conseguimos tirar de lá jamais tenha sido preso”. Uma das últimas missões que coordenou foi o resgate do valioso Keter de Damasco, um manuscrito hebraico do século XIV, atualmente na Biblioteca Nacional de Jerusalém. Judy Feld-Carr sempre acreditou que a força de um único judeu pode mudar o mundo. Hoje, após ter enfrentado obstáculos, vencido barreiras e salvado milhares de vidas, sua mensagem para os judeus é a famosa frase de Theodor Herzl: “Se você desejar, não será um sonho”... (extraído de www.morasha.com.br)