BETH-SHALOM
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MAIO DE 2007 • Ano 29 • Nº 5 • R$ 3,50
Rembrandt e os judeus de Amsterdã Pág. 20
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Prezados Amigos de Israel
Seis Marcos Esclarecedores em Mateus 24
Notícias de
ISRAEL É uma publicação mensal da “Obra Missionária Chamada da Meia-Noite” com licença da “Verein für Bibelstudium in Israel, Beth-Shalom” (Associação Beth-Shalom para Estudo Bíblico em Israel), da Suíça. Administração e Impressão: Rua Erechim, 978 • Bairro Nonoai 90830-000 • Porto Alegre/RS • Brasil Fone: (51) 3241-5050 Fax: (51) 3249-7385 E-mail: mail@chamada.com.br www.chamada.com.br Endereço Postal: Caixa Postal, 1688 90001-970 • PORTO ALEGRE/RS • Brasil Fundador: Dr. Wim Malgo (1922 - 1992) Conselho Diretor: Dieter Steiger, Ingo Haake, Markus Steiger, Reinoldo Federolf Editor e Diretor Responsável: Ingo Haake Diagramação & Arte: Émerson Hoffmann
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O Fascinante Mundo dos Hassidim - parte 3
Assinatura - anual ............................ 31,50 - semestral ....................... 19,00 Exemplar Avulso ................................. 3,50 Exterior: Assin. anual (Via Aérea)... US$ 28.00 Edições Internacionais A revista “Notícias de Israel” é publicada também em espanhol, inglês, alemão, holandês e francês. As opiniões expressas nos artigos assinados são de responsabilidade dos autores. INPI nº 040614 Registro nº 50 do Cartório Especial
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O Gaon de Vilna: um Gênio Místico
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HORIZONTE • Rembrandt e os judeus de Amsterdã - 20
O objetivo da Associação Beth-Shalom para Estudo Bíblico em Israel é despertar e fomentar entre os cristãos o amor pelo Estado de Israel e pelos judeus. Ela demonstra o amor de Jesus pelo Seu povo de maneira prática, através da realização de projetos sociais e de auxílio a Israel. Além disso, promove também Congressos sobre a Palavra Profética em Jerusalém e viagens, com a intenção de levar maior número possível de peregrinos cristãos a Israel, onde mantém a Casa de Hóspedes “Beth-Shalom” (no monte Carmelo, em Haifa).
“Naquele dia, levantarei o tabernáculo caído de Davi, repararei as suas brechas; e, levantando-o das suas ruínas, restaurá-lo-ei como fora nos dias da antiguidade” (Amós 9.11). Depois de todos os terríveis juízos sobre Israel, Deus fará algo novo. Antes de tratarmos a respeito, devemos enfatizar que o livro de Amós é dirigido principalmente às dez tribos rebeldes de Israel, mas não exclui Judá. No capítulo 1, versículo 3, Deus começa a pronunciar o juízo sobre as nações vizinhas pelo que fizeram com Israel: “Assim diz o SENHOR: Por três transgressões de Damasco e por quatro, não sustarei o castigo, porque trilharam a Gileade com trilhos de ferro” (Amós 1.3). Apesar da distinção que fazemos entre Judá e as dez tribos, eles são um só povo. Todo o Israel experimentará tribulação, e o pior ainda está por vir. Esse período é conhecido como a “angústia de Jacó”, “...ele, porém, será livre dela” (Jeremias 30.7). A constatação de que os juízos descritos no livro de Amós são dirigidos principalmente às dez tribos de Israel está baseada nas referências geográficas: lugares como Samaria, Betel e Gilgal estão localizados fora de Judá. Mas, do mesmo modo como no início do livro de Amós, também vemos no seu final que todo o Israel está incluído. O “tabernáculo de Davi” refere-se a Jerusalém, a capital de Judá. O que significa a frase “o tabernáculo caído de Davi”? Sabemos que não se trata do tabernáculo semelhante a uma tenda, que abrigou a arca da aliança até que Salomão edificasse o templo. Uma dica são as palavras: “repararei as suas brechas; e, levantando-o das suas ruínas...” Essa é uma referência à Jerusalém física e ao templo. Ruínas indicam construções de pedras, o que não pode ser dito do tabernáculo descrito em Êxodo 25-31. Mas, a seguir lemos a promessa: “...restaurálo-ei como fora nos dias da antiguidade”. Será que isso quer dizer que Jerusalém será reconstruída exatamente como era nos dias de Davi? Penso que não. À medida que estudarmos os versículos seguintes, veremos que Deus realizará algo completamente novo, pois Ele não faz consertos ou remendos. Para melhor compreensão, será útil ler Jeremias 31.31: “Eis aí vêm dias, diz o SENHOR, em que firmarei nova aliança com
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a casa de Israel e com a casa de Judá”. Sem dúvida, esse versículo fala da renovação do povo judeu como o escolhido de Deus. Deus renova, Ele não conserta. A maior parte das pessoas procura melhorar sua vida, seu conforto, seu bem-estar. Até mesmo muitas igrejas acreditam que podem melhorar o ser humano. Essa é a razão porque existem tantos falsos ensinos. As igrejas e os ministérios de maior sucesso são os que prometem uma vida melhor aos seus membros, com o pretexto de que se tornarão melhores cristãos. Sobre esse tipo de filosofia está baseada, por exemplo, a maçonaria, mas muitas igrejas seguem esse padrão, imaginando que homens corruptos podem ser aperfeiçoados com o objetivo de contribuirem para uma sociedade melhor. Deus, porém, fez uma Nova Aliança: “Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o SENHOR: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração lhas inscreverei; eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo. Não ensinará jamais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao SENHOR, porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o SENHOR. Pois perdoarei as suas iniqüidades e dos seus pecados jamais me lembrarei” (Jeremias 31.33-34). Quando chegará esse dia? Para sabê-lo, temos de nos voltar para o Novo Testamento, lendo as palavras ditas por Tiago em Atos 15.14-18: “expôs Simão como Deus, primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor; que faz estas coisas conhecidas desde séculos”. Observamos uma interrupção no plano de Deus para Israel: “Deus, primeiramente, visitou os gentios”. Tecnicamente, isso não é correto, porque Ele visitou inicialmente o Seu povo Israel. No início, todos os crentes eram judeus, e o acréscimo dos gentios teria causado divisões e
mal-estar. O que Tiago quis dizer foi que o acréscimo dos gentios à Igreja judaica teria que ser completado, primeiramente – para “constituir dentre eles (os gentios) um povo para o seu nome (de Deus)”. Depois disso, se daria o cumprimento de Amós 9.11. É evidente que esse tipo de cumprimento não poderia ocorrer antes do estabelecimento dos judeus em uma nação soberana na terra de Israel. Esse processo começou no dia 14 de maio de 1948, quando foi proclamado o Estado de Israel, “como fora nos dias da antiguidade”, ou seja, Jerusalém, Israel, a Terra Santa de Deus. O que virá a seguir? “...para que possuam o restante de Edom e todas as nações que são chamadas pelo meu nome, diz o SENHOR, que faz estas coisas” (Amós 9.12). Ele se refere às nações (aos gentios), “que são chamadas pelo meu nome” (a Igreja de Jesus). Portanto, o ajuntamento e a restauração de Israel dependem da plenitude dos gentios (veja Romanos 11.25). Tiago vai um passo além: ele fala sobre os gentios, sobre a ressurreição de Israel e, no versículo 17 menciona “os demais homens”, para que “busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome. Portanto, podemos fazer uma distinção entre a Igreja de Jesus, Israel e aqueles que se converterão na Grande Tribulação, depois que a Igreja tiver sido arrebatada da terra. Após o restabelecimento de Israel e os juízos sobre a terra, lemos em Apocalipse 7.9: “Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos”. Essa grande multidão não é a Igreja, pois trata-se dos “demais homens”. A seguir, Amós escreve sobre o tempo em que o reino de Deus será estabelecido na terra: “Eis que vêm dias, diz o SENHOR, em que o que lavra segue logo ao que ceifa, e o que pisa as uvas, ao que lança a semente; os montes destilarão mosto, e todos os outeiros se derreterão” (Amós 9.13). Nessa época haverá colheitas ininterruptas e superabundância. Promessas especiais são feitas a “meu povo de Israel”. Observe o versículo 14: “Mudarei a sorte do meu povo de Israel; reedificarão as cidades assoladas e nelas habitarão, plantarão vinhas e beberão o seu vinho, farão pomares e lhes comerão o fruto” (Amós 9.14). A eternidade emergirá: “Plantá-los-ei na sua terra, e, dessa terra que lhes dei, já não serão arrancados, diz o SENHOR, teu Deus” (Amós 9.15). As promessas eternas de Deus ao remanescente de Israel não excluem a terra, pois “dessa terra que lhes dei, [os judeus]já
não serão arrancados”. Meus prezados amigos: essa é a verdadeira esperança de Israel. A promessa irrevogável de Deus é que todos os inimigos dos judeus serão envergonhados e que Ele perdoará todos os pecados do Seu povo, renovando-o, desde o menor até o maior – todos eles conhecerão o Senhor! Quanto à Igreja de Jesus, a ela não foi dada nenhuma promessa terrena (como as que foram dadas a Israel), mas promessas celestiais. Entretanto, o que Israel experimentará é uma maravilhosa representação, uma bela imagem do que nos espera: também ceifaremos sem cessar e viveremos com abundância, porque temos a Jesus e Ele tem a nós. Cristo deu a vida pela Sua Igreja, e é a Ele que esperamos ansiosamente! Unido com vocês nessa firme esperança, saúdo com um sincero Shalom! Arno Froese
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Norbert Lieth Em Mateus 24, Jesus usa seis expressões que são muito úteis na subdivisão do capítulo e para sua melhor compreensão: 1. Ainda não é o fim (Mt 24.6). 2. O princípio das dores (v.8). 3. A tribulação (v.9). 4. O fim (v.14). 5. O abominável da desolação (v.15). 6. Em seguida à tribulação (v.29). Essas seis expressões servem de marcos referenciais, uma vez que cada uma delas delimita um tempo específico e introduz uma nova fase nos acontecimentos proféticos.
Primeiro marco: ainda não é o fim “E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque muitos virão em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos. E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim” (Mt 24.4-6). Aqui Jesus fala de um tempo que ainda não é o fim, mas que é uma condição imediatamente anterior a ele, ou seja, que conduz ao fim lenta mas inexoravelmente. Nos versículos 4 e 5 o Senhor Jesus menciona a primeira onda de enganos dos tempos finais, a sedução em nível político, ideológico e religioso. Depois que o cristianismo havia se firmado e expandido na Ásia Menor e na Europa (até a Reforma), veio o grande engano. Novos arautos da salvação começaram a se manifestar e toda a Europa foi seduzida pelo engano. Alguns tópicos desse processo enganoso: o Iluminismo, o tempo dos grandes filósofos, a teoria da evolução, as muitas seitas, a teologia do “Deus está morto”. Então veio o marxismo-leninismo; do socialismo surgiu o comunismo (1917). A partir de 1932, quando o nacional-socialismo se levantou na Alemanha, homens como Hitler, Goebbels e Himmler foram os novos salvadores (messias), e na Itália o falso salvador foi Mussolini.
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Esse levante generalizado, oriundo do reino das trevas, do Iluminismo ao comunismo e ao nacional-socialismo (nazismo), intensificou-se no período em que os judeus voltaram para sua terra, a partir de 1882. “E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores de guerras...” (Mt 24.6). A Primeira e a Segunda Guerra foram chamadas de guerras mundiais porque, até então, nada semelhante havia sucedido na História da humanidade. Ambas foram devastadoras: a Primeira Guerra Mundial ceifou a vida de 10 milhões de pessoas, a Segunda Guerra Mundial custou a vida de 55 milhões. Na verdade, elas tiveram de acontecer, mas ainda não significavam o fim: “porque é
necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim” (v.6). Certamente elas se originaram no reino das trevas, porém, por direcionamento divino foram fatores-chave para a fundação do Estado de Israel. A Primeira Guerra Mundial preparou uma terra para um povo*; a Segunda Guerra Mundial preparou um povo para essa mesma terra. É impossível frustrar os desígnios divinos!
Segundo marco: o princípio das dores “Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores” (Mt 24.7-8). Com essas palavras, em minha opinião, o Senhor Jesus descreve o tempo imediatamente anterior ao Arrebatamento, que prenuncia e introduz a época da Tribulação. “...se levantará nação contra nação, reino contra reino...” Isso significa revoluções, conflitos bélicos e terrorismo, assim como vimos acontecer após o fim da Guerra Fria (depois do conflito entre o Ocidente e o Oriente e da queda do Muro de Berlim) e como hoje acontece mundialmente (veja Lc 21.10). Um jornal suíço noticiou: Que o mundo seja pacífico e estável é refutado pelos fatos. Segundo levantamento de um renomado instituto de Hamburgo, no ano de 2004 houve 42 guerras e conflitos armados no mundo, e conforme os dados de um instituto estratégico de Pequim, após o término da Guerra Fria eclodiram em média dez novas guerras por ano. A Índia e o Paquistão são duas novas potências atômicas, e a disseminação de armas de destruição
em massa e de mísseis estratégicos avança. Em tempo previsível, de 30 a 40 países disporão desses artefatos de guerra. O mundo tornou-se instável e imprevisível. Estabilidade pacífica é uma exceção...” (Neue Zürcher Zeitung)
“...e haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém tudo isto é o princípio das dores” (Mt 24.78). Fomes, epidemias (Lc 21.11) e terremotos são elementos que caracterizam de modo especial a atual situação mundial; eles são como que seu selo, sua marca registrada. Pela mídia somos confrontados com a miséria da fome. A epidemia da AIDS, os terremotos, os pavores, os maremotos e os atos de terrorismo não se concentram mais apenas em algumas regiões, mas se manifestam pelo mundo inteiro. Esse é o “princípio das dores”. Dessa forma, o tempo da Tribulação está cada vez mais próximo do nosso mundo. Portanto, aproxima-se também o momento do Arrebatamento (que se dará antes da Tribulação).
Terceiro marco: a Tribulação “Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome. Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar,
* Pelo fato da Grã-Bretanha ter conquistado a Palestina em 1917 e ter apoiado a formação de um lar nacional judeu através da Declaração Balfour.
Marx, Lenin e Engels, do socialismo surgiu o comunismo (1917).
trair e odiar uns aos outros; levantarse-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, será salvo. E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações. Então, virá o fim. Quando, pois, virdes o abominável da desolação de que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê entenda)...” (vv.9-15). Esse texto descreve a primeira metade da Grande Tribulação, e essas características perdurarão até seu final. Nessa ocasião o Arrebatamento da Igreja já terá acontecido, pois está escrito que “...aquele que perseverar até o fim, será salvo”. Isso quer dizer: quem ainda estiver sobre a terra, terá de perseverar até o fim da Tribulação ou morrerá como mártir. Isso não pode se referir à Igreja, pois na época de Mateus 2425 ela ainda era um mistério, não sendo mencionada nesses capítulos. Somente dois dias após proferir Seu Sermão Profético Jesus falou dela a Seus discípulos (veja Jo 14.2-3). “Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis odiados de todas as
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Na verdade, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial tiveram de acontecer, mas ainda não significavam o fim: “porque é necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim” (v.6).
“E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos” (Mt 24.12). As leis serão mudadas, a Lei de Deus será completamente ignorada, a Bíblia será rejeitada e a conseqüência será uma apostasia indescritível. “Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (v.13). Aqui trata-se daqueles que se converterem durante a Tribulação e que perseverarem na fé até seu fim. “E será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, para testemunho a todas as nações...” (v.14). Nada nem ninguém pode barrar essa marcha vitoriosa do Evangelho de Jesus. Por mais de dois mil anos não foi possível impedi-lo de se espalhar, e isso também não acontecerá no tempo da Tribulação. O Evangelho foi rejeitado, odiado e combatido, mas mesmo na segunda metade da Tribulação ele será proclamado até a volta de Jesus em glória.
nações, por causa do meu nome. Nesse que provavelmente conduzirá a um tempo, muitos hão de se escandalizar, governo mundial único, a uma unitrair e odiar uns aos outros” (vv.9- ficação política e religiosa. Tratar10). A aliança de Israel com o Anti- se-á, assim, sem dúvida, do cumpriQuarto marco: o fim cristo e o último ditador mundial mento de Apocalipse 3.10: “Porque “...Então, virá o fim” (v.14). O provavelmente será firmada nesse guardaste a palavra da minha persemomento, quando então começará verança, também eu te guardarei da termo “o fim” significa provavela perseguição daqueles que não hora da provação que há de vir sobre o mente as últimas e mais fortes doaderirem a esse acordo. mundo inteiro, para experimentar os res de parto antes que a nova vida irrompa e Jesus volte. “Levantar-se-ão muitos falsos pro- que habitam sobre a terra”. fetas e enganarão a muitos”. Agora se chega a mais um patamar de engano e sedução (veja o Fomes, epidemias (Lc 21.11) e terremotos são elementos que caracterizam de modo especial a atual situação mundial; eles são como que seu selo, sua marca registrada. v.4). É a segunda onda de enganos nos tempos finais. O fator desencadeante poderia ser o recém-sucedido Arrebatamento da Igreja. Esse engano consistirá da humanidade toda unindo-se numa única comunidade mundial. Haverá uma indescritível solidariedade entre os homens sob o poderio do Anticristo,
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guém iria sobreviver. Romanos 9.28 faz alusão a um juízo executado de forma intensa: “Pois o Senhor executará na terra a sua sentença, rápida e definitivamente” (NVI). “Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas opeA aliança de Israel com o Anticristo e o último ditador rando grandes simundial provavelmente será firmada durante a Tribulação, nais e prodígios paquando então começará a perseguição daqueles que não aderirem a esse acordo. ra enganar, se possível, os próprios eleitos” (Mt 24.24). Na segunQuinto marco: o da metade dos sete anos de Tribuabominável da desolação lação haverá uma terceira e última “Quando, pois, virdes o abomi- onda de engano. Comparado às duas nável da desolação de que falou o ondas anteriores, dessa vez o engaprofeta Daniel, no lugar santo...” no virá acompanhado de milagres e (v.15). Aqui é descrita a metade sinais. Isso levará a um completo dos sete últimos anos e o fator de- endemoninhamento da humanidasencadeante dos últimos três anos e de. Apocalipse 13.13 diz: “Também meio. O abominável da desolação opera grandes sinais, de maneira que consistirá do Anticristo se assentan- até fogo do céu faz descer à terra, do no novo templo reconstruído em diante dos homens.” Três capítulos Jerusalém (veja 2 Ts 2.3-4). adiante, lemos: “porque eles “Porque nesse tempo haverá grande são espíritos de demôtribulação, como desde o princípio do nios, operadores de mundo até agora não tem havido e sinais, e se dirinem haverá jamais. Não tivessem gem aos reis do aqueles dias sido abreviados, ninguém mundo inteiro seria salvo; mas, por causa dos escolhi- com o fim de dos, tais dias serão abreviados” (Mt ajuntá-los para a 24.21-22). Esse período da história peleja do grande mundial será tão terrível como ja- Dia do Deus Tomais houve na terra, incomparável d o - P o d e r o s o . . . em sua magnitude, a maior angús- Então, os ajuntatia já experimentada pelos homens. ram no lugar que Se ele não fosse abreviado, ou seja, limitado a três anos e meio, nin-
O “abominável da desolação” será o período da história mundial tão terrível como jamais houve na terra, incomparável em sua magnitude, a maior angústia já experimentada pelos homens. Se ele não fosse abreviado, ou seja, limitado a três anos e meio, ninguém iria sobreviver.
em hebraico se chama Armagedom” (Ap 16.14,16). Quando Jesus diz: “Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres” (Mt 24.28), penso que Ele está se referindo a Jerusalém, onde será estabelecida a abominação desoladora e sobre a qual as nações, seduzidas pelos demônios, se lançarão.
Sexto marco: em seguida à Tribulação “Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” (Mt 24.29-31). Depois do sofrimento, depois da Grande Tribulação, o Senhor Jesus voltará com poder e muita glória.
Últimas exortações “Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que está próximo o verão. Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às portas” (Mt 24.32-33). A parábola da figueira e as palavras: “Assim também vós: quando virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às por-
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“Pois assim não sabeis em que dia vem o nosso como foi nos Senhor. Mas considerai isto: se o pai dias de Noé, de família soubesse a que hora viria também será a o ladrão, vigiaria e não deixaria que vinda do Filho fosse arrombada a sua casa. Por isdo Homem” (v. so, ficai também vós apercebidos; por37). Antes da que, à hora em que não cuidais, o vinda de Jesus Filho do Homem virá” (Mt 24.42a situação será 44). Não permita que sua “casa” semelhante à seja arrombada! Coloque sua vida dos dias de à disposição do Senhor! EntregueNoé. Até que se completa e totalmente a Ele, o dilúvio inun- permitindo que Ele seja o guardião “Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol dasse a terra de sua casa! E mais: permita ser escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão (Gn 7.17), as enchido pelo Espírito Santo (veja do firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem; todos os povos pessoas não Ef 5.18)! se lamentarão e verão o Filho do Homem vindo sobre as a c r e d i t a v am “Quem é, pois, o servo fiel e prunuvens do céu, com poder e muita glória. E ele enviará os que o fim esta- dente, a quem o senhor confiou os seus seus anjos, com grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos, de uma va próximo, e conservos para dar-lhes o sustento a a outra extremidade dos céus” (Mt 24.29-31). a porta da arca seu tempo? Bem-aventurado aquele foi irremedia- servo a quem seu senhor, quando vier, velmente fe- achar fazendo assim. Em verdade vos tas”, significam: quando as pessoas chada por Deus (v.16). Também digo que lhe confiará todos os seus virem os sinais da Tribulação, en- no que diz respeito à primeira fase bens. Mas, se aquele servo, sendo tão a vinda de Jesus está às portas. da volta de Jesus, o Arrebatamento, mau, disser consigo mesmo: Meu se“Em verdade vos digo que não pas- as pessoas dirão que tudo está co- nhor demora-se, e passar a espancar os sará esta geração sem que tudo isto mo sempre foi e que vai continuar seus companheiros e a comer e beber aconteça” (v.34). Quem é “esta ge- assim. Elas não contarão com o Ar- com ébrios, virá o senhor daquele servo ração”? A geração dos judeus que rebatamento. em dia em que não o espera e em hora vivenciará o começo da Tribulação, “Porque, assim como foi nos dias que não sabe e castigá-lo-á, lançandoque não perecerá até que Jesus te- anteriores ao dilúvio comiam e be- lhe a sorte com os hipócritas; ali havenha vindo. biam, casavam e davam-se em casa- rá choro e ranger de dentes” (Mt “Passará o céu e a terra, porém as mento, até ao dia em que Noé entrou 24.45-51). Seja um servo prudente, minhas palavras não passarão” na arca” (Mt 24.38). Sete dias de- uma serva boa e fiel. Atente à Pala(v.35). Com essa afirmação Jesus pois que Noé entrou na arca, o di- vra Profética, esteja esperando o confirma tudo o que dissera ante- lúvio se derramou (veja Gn Senhor Jesus a qualquer momento riormente, tudo o que anunciara, 7.1,4,7). Quando o Arrebatamento e distribua a Palavra como alimento enfatizando que tudo acontecerá da Igreja tiver acontecido, em um no tempo certo! com certeza, que seu cumprimento espaço de temé mais certo que a duração da exis- po não especifitência do céu e da terra. A Bíblia e cado, mas relaRecomendamos: as palavras de Jesus se cumprirão tivamente curem todas as suas declarações. to, a Tribulação “Mas a respeito daquele dia e hora sobrevirá de ninguém sabe, nem os anjos dos céus, forma repentina nem o Filho, senão o Pai” (v.36). e surpreendente Dia e hora ninguém sabe, mas esta- sobre todos os mos na expectativa de que Ele virá que habitam a em breve, pois vivenciamos o cum- terra. Pedidos: 0300 789.5152 primento dos sinais que antecedem “Portanto, www.Chamada.com.br os juízos de Deus! vigiai, porque
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O Fascinante Mundo dos
Hassidim Parte 3 Steve Herzig
Sem sombra de dúvida, o rabino Israel Ben Eliezer (também conhecido como o Besht e, ainda, como Ba’al Shem Tov) deixou permanentemente sua marca no judaísmo. O movimento hassídico (i.e., ultra-ortodoxo) floresceu sob os seus cuidados. Todavia, o ensino hassídico não é uniforme e nem todos os judeus concordam com o hassidismo. Embora o hassidismo conte com muitos líderes locais, cada seita interna tem um líder principal que é reverenciado, chegando a ser quase adorado, pelos seus seguidores. Tal líder é o cabeça de uma dinastia e seu cetro de autoridade normalmente passa para o seu herdeiro direto ou para algum membro de sua família. O Besht criou o clima para essa situação com sua doutrina do ofício de tsaddik (i.e., “justo”). Os tsaddiks, conforme se crê entre os hassidim, são indivíduos que possuem qualidades espirituais superiores. Diferentemente da concepção bíblica quanto à pessoa do Messias, um tsaddik não é visto como alguém que trará a paz ao mundo. Pelo contrário, ele é um facilitador espiritual que tem a missão de auxiliar as pessoas a atuarem com felicidade no mundo em que vivem. Além de tsaddik, um líder hassídico também pode ser chamado de reb (um termo iídiche que denota respeito), ou rebbe, ou, ainda, rav. Os hassidim consideram o ofício do rebbe superior a todos os demais.
Assemelha-se ao guru hindu porque guia seus seguidores em todos os aspectos da vida. Ele é quem lidera seu povo ao devekut, o apego leal a Deus. O tsaddik, ou rebbe, é o responsável por conduzir seus seguidores à salvação de suas almas através da comunhão com Deus. O Ba’al Shem Tov não deixou nenhum documento escrito acerca de seus ensinamentos, porém, seus seguidores escreveram muitas histórias sobre ele. Quando morreu em 1770, esse líder, que era muito popular, tornou-se lendário. Suas idéias se propagaram para centenas de comunidades localizadas por todo o território da Polônia, Lituânia e Ucrânia. Dezenas de rebbes surgiram nas cidades do Leste Europeu e muitos judeus os seguiam, por acreditarem que eles detinham o conhecimento do caminho de Deus. As cidades de Satmar, Belz, Kotzk e Lubavitch deram origem e seu nome às diferentes seitas do hassidismo que conhecemos na atualidade. Chaim Shneider, especialista no assunto, escreveu: Aos poucos, mas consistentemente, o hassidismo veio a ser aceito como uma forma legítima de se guardar o judaísmo. Os hassidim ficaram
conhecidos por suas práticas de devoção religiosa, tais como, participar assiduamente do mikva [i.e., um banho ou lavagem ritual]. Algumas vezes eles não seguem a Halacha [i.e., as prescrições instituídas da lei judaica], como, por exemplo, o davnen [i.e., recitar as orações prescritas na liturgia judaica] no final de cada dia. O hassidismo se ramificou literalmente em centenas de dinastias rabínicas.1
Antes da Segunda Guerra Mundial, havia 3 milhões e meio de judeus na Polônia. Conforme escreve Shneider, a “esmagadora maioria” deles era de tradição hassídica.2 Belz’e: Tradição hassídica que recebeu esse nome por causa de uma cidade situada na Galícia (atualmente, sudeste da Polônia). Foi instituída no século XIX pelo rav Dov. Seu traço distintivo é que os homens casados ficam na sinagoga o dia todo para estudar o Talmud
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Um judeu ultra-ortodoxo acende as velas de Hanukah em Mea Shearim (bairro ortodoxo) na cidade de Jerusalém. Hanukah, que significa “dedicação”, também denominado “Festa das Luzes”, é um feriado que comemora a reconsagração do templo de Jerusalém, após ter sido profanado por Antíoco Epifânio.
e para orar. Eles vivem com o sustento proveniente de doações generosas dos homens de negócios e comerciantes da localidade. À semelhança de uma dinastia, o ofício de tsaddik é transmitido de pai para filho ou para membros da mesma família. Satmar: É o tipo mais tradicional de hassidismo. Originou-se numa distante cidade húngara, na região da Transilvânia. Os satmar distinguem-se como um dos poucos grupos judaicos que não dão apoio ao estabelecimento do atual Estado de Israel, por crerem que o mesmo só deverá existir quando o próprio Messias o instituir. Os satmar argumentam que o sionismo e a criação do Estado Judeu causaram o Holocausto, como um juízo sobre o po-
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quer pessoa que cresse na causa sionista de entrar novamente pelas portas da Shul [i.e., sinagoga]”.4 Os satmar não recrutam membros oriundos da comunidade judaica não-praticante. Lubavitch: Um dos movimentos hassídicos mais conhecidos é o Lubavitch, também designado pelo termo Habad, um acróstico com as iniciais das palavras hokmah, binah e da’at – que, respectivamente, significam: sabedoria, discernimento e conhecimento.5 Os lubavitcher desejam que os judeus não-praticantes retornem à comunidade judaica que pratica o judaísmo. Eles dirigem aqueles “trailers mitzvah” [i.e., trailers de boas ações], que são uma espécie de ônibus adaptado em local de adoração ambulante, com a finalidade de transitar pelas comunidades judaicas à procura de homens judeus sem chapéu para convidá-los a usar filactérios e fazer as orações. Seu último rebbe foi o famoso Menachem Mendel Schneerson do Brooklyn, Nova York. Muitos de seus seguidores crêem que ele é o messias, mesmo depois da morte dele em 1994.
vo judeu. Assim, escreveu Shneider, em 1948 o líder satmar “chorou desconsoladamente [...] por causa do dano que a criaMoishe Arye Friedman, à esquerda, um hassidim anti-sionista ção do Estado Judeu extremista, aperta a mão do presidente iraniano Mahmoud causaria e pela graviAhmadinejad, durante uma conferência de negação do Holocausto. Ahmadinejad tem afirmado que a tentativa dos dade do pecado dos nazistas de exterminar o povo judeu é um “mito”. judeus ao estabelecerem seu próprio poder governamental antes da chegada do ‘Mashiach’ [i.e., Messias] para redimi-los”.3 Ele também lamentou a vitória israelense na Guerra dos Seis Dias, em 1967, “a ponto de dar ordens para impedir qual-
Os Detratores do Hassidismo
Solomon Zalman (1720-1797). Ele viveu em Vilna, uma cidade cognoJunto com uma grande multidão minada de “Jerusalém da Lituâde adeptos, o Ba’al Shem Tov tam- nia”,8 que estava repleta de sinagobém atraía uma quantidade de críti- gas e universidades, situada ao norcos. Eles consideravam que priori- te da região da Polônia onde o zar a alegria e o contentamento aci- hassidismo era mais proeminente. ma do estudo da Torah [i.e., o Apesar de seu brilhantismo (SoloPentateuco] era um perigoso sinal mon fez um complexo discurso talde declínio do judaísmo. No entan- múdico aos sete anos de idade), ele to, a verdade mais chocante foi a de recusou todos os títulos ou ofícios que, após a morte do Besht, seus públicos. Ao contrário do Besht, ensinos se propagaram ainda mais Solomon estudava o Talmude por rapidamente do que quando ele era dezoito horas todos os dias. Ele vivo. Os críticos perceberam que também estudava matérias seculaaquele movimento precisava ser de- res, tais como geometria, astronotido. Doze anos depois da morte do mia e medicina. “Dizem que neBesht,6 levantou-se um grupo deno- nhum tema judaico ou geral que timinado os Mitnagdim, que traduzi- vesse alguma relação com o do quer dizer “oponentes”.7 judaísmo era estranho ao conheciO movimento de oposição real- mento dele”.9 Ele estudava o tempo todo e elimente começou com o aparecimento de um rabino chamado Elijah minava aquilo que poderia causar distrações, fechando as venezianas Um “trailer-mitzvah” dos Hassidim-Lubavitch trafega pelo centro da janela até de Manhattan. Uma foto do falecido rebbe de Lubavitch, mesmo duMenachem Schneerson, com seus olhos voltados para os transeuntes, é exibida na lateral da carroceria do veículo. rante as horas do dia, e estudava à luz de velas. Finalmente, ele ascendeu para se tornar o maior líder espiritual e intelectual da comunidade judaica nos tempos modernos. O Gaon de Vilna, como veio a ser conhecido, tinha a preocupação de que
o hassidismo se alastrasse a tal ponto que a Torah e o Talmude fossem completamente substituídos por orações emocionais, experiências místicas e pela Cabala (veja, a seguir, o artigo “O Gaon de Vilna: Um Gênio Místico”). Ele considerava a posição do tsaddik como idolatria, por acreditar que promovia a adoração de seres humanos. Em 1772, apenas dois anos depois da morte do Besht, o Gaon determinou que os hassidim deviam ser excluídos da comunhão. Ele foi ainda mais longe, a ponto de declarar: “Eu permanecerei de guarda e o dever de todo judeu crente é repudiá-los [i.e., repudiar os hassidim], persegui-los com toda espécie de aflição e subjugá-los, porque eles [os hassidim] pecaram em seu coração e são como uma ferida aberta no corpo de Israel”.10 Ao longo dos anos, os mitnagdim se tornaram menos hostis ao hassidismo, porque surgiu um oponente mais implacável que ameaçava a ambos. O inimigo constituía-se num grupo de homens cuja intenção era a de levar todo o povo judeu, particularmente os judeus da Polônia e da Rússia, a adotar a cultura européia. Tal movimento recebeu o nome de Haskalah, ou seja, Iluminação. As pretensões do Haskalah visavam a assimilação – uma finalidade inaceitável para qualquer judeu praticante. O czar da Rússia, Alexandre II, governou “com mão de ferro dentro de uma luva de pelica”.11 Ele tentou promover uma abertura nas grandes cidades para os judeus ricos, com o intuito de que eles investissem suas habilidades e seu capital na ampliação do comércio. Porém, a maioria dos judeus não seria beneficiada com esses decretos do governante russo e estava muito cautelosa com a “benevolência” dele. Em conseqüência da desconfiança dos judeus, inter-
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pretada como má vontade em cooperar, os pogroms começaram seis semanas depois que Alexandre III subiu ao trono.12 Foram esses pogroms – massacres autorizados pelo governo contra os judeus – que provocaram a imigração em massa de judeus para os Estados Unidos, a qual proporcionou a sobrevivência do movimento hassídico. Embora haja muitas diferenças de opinião dentro do movimento hassídico, a respeito de questões como, liderança, o Estado de Israel e a identidade do Messias, existe, porém, um consenso maior na convicção de que, para os judeus, o mundanismo e a assimilação cultural num mundo gentílico são ameaças perigosas. A moderna tendência, verificada nas elites de Hollywood, de combinar o “carma” da Ioga e da Nova Era com o estudo da Cabala é um exemplo dessa assimilação perigosa que preocupa os hassidim. Os judeus hassídicos não estão interessados na última moda; eles querem preservar os elementos que os distinguem, com um desejo de agradar a Deus. Deveria ser um en-
corajamento para os crentes em Cristo saber que há pessoas, especialmente judeus, que têm esse desejo. Contudo, é de partir o coração, quando se constata que eles canalizam seus esforços na direção errada. Viver de modo agradável a Deus não implica líderes, roupas, aparência exterior, nem comidas especiais. Uma vida verdadeiramente piedosa (i.e., hassídica) só é possível a partir do momento em que o coração for “kosher” [“purificado”, termo hebraico que designa alimentos preparados de acordo com os preceitos judaicos, ou seja, “preparado adequadamente”] pela fé no Messias vivo e verdadeiro identificado na Bíblia. (Israel My Glory) Steve Herzig é diretor dos ministérios norteamericanos de The Friends of Israel.
Notas: 1. Chaim Shneider, “The Roots of Hasidism”, publicado no site www.nycchitecture.com/WBG/wbgjewish.htm. 2. Ibid.
Um dos centros de falsa adoração No Parque Nacional de Tel-Dã, situado na região montanhosa da Galiléia, os visitantes podem ver o local onde os israelitas construíram santuários nos lugares altos e, assim, violaram a ordem divina de não adorar em nenhum outro lugar além do templo em Jerusalém. À direita, encontra-se a plataforma sobre a qual outrora se alicerçava o santuário. No centro, pode-se identificar o lugar onde ficava o altar sobre o qual os holocaustos eram oferecidos. Os fundamentos e as pedras datam dos tempos antigos, mas as estruturas de proteção montadas na parte superior são recentes. O texto de 1 Reis 12.25-33 menciona os dois locais de falsa adoração: Betel e Dã. Confira, também, 2 Reis 10.29.
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3. Chaim Shneider, “The Roots of Satmar”, publicado em 5 de novembro de 2001 no site http://hasidicnews.com/Satmar.shml. 4. Ibid. 5. “Hasidism”, publicado no site http://religiousmovements.lib.virginia.edu/nmrs/hasid.html. 6. Yehuda Klausner, “The Hasidic Rabbinate, Part 1”, publicado no jornal on-line Rav-Sig: Online Journal, através do site www.jewishgen.org/Rabbinic/journal/hasidic1.htm. 7. “Mitnaggedim”, publicado na Encyclopaedia Judaica, edição em CD-ROM. 8. Deborah Pessin, The Jewish People, Nova York: United Synagogue Commission on Jewish Education, 1953, vol. 3, p. 107. 9. Samuel Kalman Mirsky, “Elijah Ben Solomon Zalman”, publicado na Encyclopaedia Judaica, edição em CD-ROM. 10. Israel Klausner, “Elijah Ben Solomon Zalman”, publicado na Encyclopaedia Judaica, edição em CD-ROM. 11. Pessin, vol. 3, p. 161. 12. Ibid., vol. 3, p. 167.
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No alvorecer do século XVIII, os judeus da Europa tentavam se recuperar de décadas marcadas por destruição e decepção. Em 1648, um ucraniano chamado Bodgan Chmielnicki liderou uma revolta contra a Polônia. Na violência que se seguiu, as tropas de Chmielnicki aniquilaram mais de 100 mil judeus e destruíram 300 vilarejos judaicos. Centenas de judeus que perderam suas casas perambulavam na condição de refugiados. Todavia, das cinzas surgiu um raio de esperança – um judeu de 38 anos, chamado Shabbtai Zvi.
Em 1665, Zvi declarou ser o messias. Toda a Europa e o Oriente Médio se alvoroçaram de alegria. Zvi contava com o maior cortejo de seguidores messiânicos da história judaica, desde os dias de Bar Kokhba, o falso messias do século II d.C. Mas a esperança morreu rapidamente, depois que Zvi se converteu ao islamismo um ano mais tarde. As más notícias se espalharam com muita rapidez, deixando a população judaica em profundo abatimento. Além disso, a condição da educação judaica também não ajudava. Muitos rabinos tradicionais ofereciam pouquíssimo apoio espiritual, porque davam ênfase à arte do pilpul, um método de exposição e debate que procura solucionar controvérsias religiosas através de maliciosas interpretações de pormenores do Talmude. Em meio a todo esse ambiente, no dia 23 de abril de 1720, nasceu em Vilna, na Lituânia, aquele que
muito em breve se tornaria um gigante espiritual dentro da comunidade judaica. Seu nome era Elijah Ben (que significa “filho de”) Solomon Zalman. Ele se tornou conhecido pelo cognome Gaon (termo que significa “gênio”) de Vilna, ou simplesmente, HaGra (i.e., um acróstico hebraico formado pelas iniciais de cada palavra do designativo “O Gaon Rabbi Elijah”). O Gaon de Vilna é uma personalidade tão venerada na história judaica que uma coletânea de histórias lendárias e feitos heróicos se avolumou a respeito dele. Hoje em dia, é difícil discernir entre o que é fato e o que é ficção em tal registro. O que sabemos, com certeza, é que ele foi uma criança brilhante, muito provavelmente um menino prodígio dotado de uma memória fotográfica. Dizem que ele, aos 7 anos de idade, já tinha aprendido tão bem o hebraico, o Antigo Testamento e o Talmude, que era ca-
paz de pregar um sermão talmúdico. Aos 13 anos também dominava com destreza as principais obras literárias da Cabala (o misticismo judaico). Ele devia ter uma capacidade mental impressionante, visto que há uma quantidade enorme de histórias sobre a sua habilidade de lembrar praticamente de todos os textos sagrados, bem como de citar de cor as palavras que completam qualquer frase das Escrituras que tivesse sido mencionada por alguém. Ele ganhou a reputação de ser um dedicado estudante de todos os escritos judaicos reconhecidos oficialmente (coletivamente denominados de Torá). Além disso, ele buscava o isolamento nos bosques ou hibernava em seu próprio aposento, mantendo sempre as janelas fechadas para evitar distrações durante o seu tempo de estudo da Torá. O Gaon dormia apenas duas horas por noite, em vários períodos de sono que não excediam trinta minutos.
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O Gaon de Vilna também estudou matérias seculares, tais como história, matemática e astronomia, mas apenas para aumentar sua capacidade de compreensão da Torá. O mesmo verificou-se no estudo do misticismo judaico. Ele acreditava que a Cabala, conhecida como “a Torá secreta”, só seria proveitosa para alguém que estivesse bem alicerçado na “Torá revelada”, que compreende os escritos bíblicos e talmúdicos. O Gaon denunciou o estudo especulativo da filosofia, opondo-se, assim, a muito do que o famoso rabino medieval Moses ben Maimon (ou Maimônides, também chamado de Rambam, que viveu em 1135-1204 d.C.), usara como base para seus ensinos. O Gaon ainda arrumou tempo para se casar. Quando tinha cerca de vinte anos de idade, ele se casou com uma jovem chamada Hannah. Durante seus quarenta anos de casamento, o casal recebeu a benção de ter sete filhos, os quais Hannah criou praticamente sozinha, já que o Gaon dedicou a maior parte de seu tempo aos estudos. Nos primeiros anos de seu casamento, o Gaon ficou longe de sua jo-
vem esposa durante um período em que viajou por toda a Europa. Não se sabe a razão de tal viagem e afastamento da família. Alguns especulam que ele acreditava ser um período no qual intensificaria seus estudos da Torá. Aos 28 anos de idade ele retornou ao convívio de sua família e determinou-se a uma vida de estudo, oração e meditação, sustentando sua família com um modesto ordenado semanal que seu tataravô reservara para estudiosos da Torá. Embora desfrutasse de uma grande reputação por suas perspicazes concepções desenvolvidas no estudo da Torá, o Gaon de Vilna nunca aceitou nenhuma função pública importante. Ele se contentou em dar instrução particular a um pequeno grupo de discípulos, que, posteriormente, disseminou suas idéias e ensinamentos. O Gaon é conhecido por ter escrito, pelo menos, setenta obras, que variam de comentários do Antigo Testamento a exposições explicativas do Talmude. Praticamente a metade de seus ensinos trata exclusivamente da Cabala. Suas interpretações se tornaram tão respeitadas que ele está incluído entre os grandes sistematizadores da lei judaica. Quando já era um senhor de meia-idade, houve um momento em que o Gaon de Vilna decidiu emigrar para a Terra Santa. Ele deixou sua família e partiu sozinho, com o plano de trazer, posteriormente, seus familiares. Todavia, por alguma razão desconhecida, o Gaon nunca concluiu seu projeto de imigração e retornou a Vilna. Ele nunca chegou a dar explicações mais detalhadas sobre as razões de
O Gaon nunca conseguiu ir à Terra Santa, mas alguns de seus seguidores conseguiram e lá promoveram os ensinamentos dele.
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seu retorno, exceto esta: “Eu não tive permissão do céu”.1 O Gaon nunca conseguiu ir à Terra Santa, mas alguns de seus seguidores conseguiram e lá promoveram os ensinamentos dele.
A Batalha Contra o Hassidismo Mais para o fim de sua vida, o Gaon de Vilna se envolveu em batalhas que não se restringiram aos auditórios estudantis. Ele foi preso, pelo menos duas vezes, por ajudar a seqüestrar um menino judeu que se convertera ao catolicismo, a fim de trazê-lo de volta ao judaísmo. Entretanto, a batalha mais importante do Gaon foi contra alguns de seus próprios irmãos judeus. O hassidismo, liderado pelo seu fundador, Israel ben Eliezer (também chamado de Ba’al Shem Tov, ou seja, “mestre do bom nome”; 1700-1760 d.C.), teve seu início no sudeste da Polônia e rapidamente se propagou pela Lituânia, inclusive em Vilna. Os rabinos tradicionais, a exemplo do Gaon de Vilna, viam esse novo movimento como uma ameaça a tudo o que criam ser mais precioso. Eles acreditavam que o hassidismo dividiria a comunidade judaica. Tinham receio da ênfase do hassidismo na fé e na emoção acima do estudo objetivo da Torá e condenavam a revelação dos segredos da Cabala aos leigos. Acima de tudo, eles consideravam o hassidismo como um rompimento com a tradição, o qual menosprezava a autoridade dos estudiosos da Torá e seus legítimos pareceres oficiais. Em conseqüência disso, o Gaon de Vilna assinou dois decretos de excomunhão dos hassidim, um em 1772 e outro em 1781. Para os tradicionalistas, o Gaon de Vilna lutou contra as ondas de elementos radicais do hassidismo, enquanto de-
fendia o judaísmo tradicional e a erudição. Em 1797, no terceiro dia de celebração da Festa dos Tabernáculos (do hebraico Sukkot), o Gaon de Vilna faleceu. O funeral dele atraiu centenas de pessoas. Durante muitos anos, peregrinos judeus visitaram o local onde o Gaon foi sepultado, por acreditarem que tal ato trazia recompensa e benção às suas vidas.
Seus Pontos Fortes e Fracos Como acontece com qualquer pessoa, a vida multifacetada do Gaon de Vilna foi marcada tanto por pontos fortes quanto por pontos fracos. Por exemplo, o Gaon acertadamente deu ênfase ao valor da oração, crendo que a correta motivação era o que realmente importava. Ele também estava certo na conclusão de que as soluções para as necessidades espirituais do ser humano se encontram dentro da Palavra de Deus e ensinava que a chave para a memorização são os sentimentos legítimos: “O caminho para se superar uma memória fraca é aprender com amor e temor ao Céu, ou seja, a Deus [...] aquilo que para alguém é precioso, permanece em sua memória”.2 O Gaon cria que o caminho para se dominar uma língua maldizente é elogiar as outras pessoas. Ele também acreditava que o meio de se confiar em Deus e ter vitória contra os desejos carnais é aprender a estar contente com aquilo que se tem. Naturalmente, o Gaon se distinguiu mais no campo do conhecimento da Torá. Ele desejava demonstrar a absoluta unidade entre a Torá escrita e a, assim chamada, Torá oral [i.e., transmitida oralmente], provando que ambas se constituem numa única obra divinamente transmitida.
Contudo, apesar de ser tão ex- de Deus ou de anjos. Certa feita, traordinário, ele também cometeu quando um convertido ao judaísmo erros. O Gaon falhou ao conferir foi preso, o Gaon se ofereceu para aos escritos extrabíblicos a mesma libertá-lo através da aplicação de autoridade que conferia à Bíblia. seus poderes oriundos da Cabala Só existe uma Torá e esta não Prática. A participação do Gaon no inclui o Talmude, nem os escritos misticismo judaico também envolcabalísticos, nem quaisquer outros via a comunhão com espíritos. O textos não-canônicos. Apenas os 66 Gaon alegava que conhecia segrelivros do Antigo e do Novo Testa- dos que lhe foram revelados pelos mentos constituem a Palavra de patriarcas Jacó e Moisés, bem como Deus revelada. pelo profeta Elias e por falecidos raO Gaon de Vilna também se binos que praticavam a Cabala. Ele equivocou em seus princípios de in- chegou ao ponto de admitir que, terpretação. Tal como muitos ou- antes de completar treze anos de tros rabinos, o Gaon acreditava que idade, tentara criar um golem (i.e., todo texto das Escrituras, até mes- uma criatura inanimada feita de mo cada letra, possui quatro níveis barro, que recebe fôlego de vida por de interpretação: 1) o sentido claro intermédio de rituais cabalísticos). ou literal; 2) o sentido indireto ou Essa aceitação do misticismo, atrealegórico; 3) o sentido homilético; e lado às distorções das Escrituras e 4) o sentido místico ou oculto. As ao relacionamento com espíritos passagens bíblicas geralmente são enganadores, mancha a reputação mal entendidas ou torcidas em seu do Gaon, a qual, do contrário, seria significado devido a esse tipo de maravilhosa. hermenêutica. Em vez disso, a regra Na maioria dos casos, a influêngeral de interpretação devia ser a cia dos heróis intelectuais ultrapasseguinte: não procure nenhum ou- sa os limites da realidade e o Gaon tro sentido que não o sentido claro de Vilna não é exceção. Em virtude ou literal, a menos que o texto níti- de seu conhecimento da Torá e de da e intencionalmente apresente sua piedade, dizem que ele possuía uma linguagem figurada, pois, do poderes sobrenaturais. As bênçãos contrário, você pode chegar a uma que ele proferia sobre o povo suinterpretação absurda. postamente se concretizavam. Ele Talvez o erro mais clamoroso do dava a entender que podia curar os Gaon tenha sido o apoio que deu à cegos, predizer o futuro e proteger Cabala. Ele cria piamente na auto- sua comunidade dos ataques de inridade desses escritos místicos ju- surgentes que pilhavam os vilarejos. daicos e ensinava que uma pessoa Chegam mesmo a dizer que ele tenão podia compreender o texto cla- ria evitado que uma bala de canhão ro da Torá sem estudar a Cabala. explodisse. Para dizer a verdade, ele também Na verdade, esses relatos inacreacreditava que o aprendizado da ditáveis são desnecessários para que Cabala era um requisito necessário o povo judeu seja agradecido ao para trazer o Messias. Gaon de Vilna pelo legado que deiAs convicções místicas do Gaon incorporavam a “Cabala PrátiVeja esclarecimentos e alertas sobre a Cabala e o misticismo no artigo Os Mistérios da ca”, o uso de amuletos Cabala (na edição 4/07). e encantamentos que continham os nomes
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xou. Perante os olhos de seu povo, ele foi um modelo de diligência, dedicação aos estudos e devoção. Em praticamente todas as comunidades judaicas, o impacto da vida dele ainda se faz sentir até o dia de hoje. (Israel My Glory)
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Bruce Scott é representante regional de The Friends of Israel em New Hope, no estado de Minnesota, EUA. Notas: 1. Betzalel Landau, The Vilna Gaon: The Life and Teachings of Rabbi Eliyahu the Gaon of Vilna, Brooklin, NY: Mesorah Publications, Ltd., 1994, p. 161. 2. Ibid. p. 54.
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O Misterioso Golem Um dos mais estranhos ensinos da Cabala trata da criação do legendário golem. Alguns cabalistas alegam que, com os ingredientes certos (tal como o barro) e o pronunciamento de fórmulas apropriadas, cabalistas piedosos podem criar e dar vida a seres sem alma, semelhantes a homens, chamados golems. Golem quer dizer “substância informe”. O termo aparece apenas uma vez nas Escrituras, quando o salmista declara que Deus o viu quando era “substância ainda informe” (Sl 139.16). O mais famoso golem no folclore judaico é o que foi supostasmente trazido à vida pelo rabino Judah Loew, no século XVI, em Praga. Seu golem tinha mais de 3,30 metros de altura e conta-se que ele protegeu os judeus de Praga contra aqueles que os acusavam através do infame “libelo de sangue”. A lenda diz que, quando o golem continuou a crescer e a agir descontroladamente, o rabino Loew teve que destruí-lo. Muitos acreditam que essa história foi a base para a novela Frankenstein, escrita por Mary Shelley.
Rembrandt e os judeus de Amsterdã Um dos mais importantes artistas de todos os tempos, o grande mestre do barroco holandês viveu e trabalhou durante duas décadas em sua residência no bairro judeu de Amsterdã, de onde saíram seus melhores trabalhos.
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Rembrandt e sua obra ocuparam o centro das atenções do mundo das artes no ano de 2006, que marcou o quarto centenário de seu nascimento. Ao redor do mundo realizaram-se exposições, sobretudo na Holanda, terra natal do grande pintor. Em Amsterdã,
no antigo bairro judaico de Vlooienburg, foram realizadas várias mostras. Quatro destas aconteceram no Rembrandthuis, o Museu da Casa de Rembrandt, residência do artista de 1639 até 1658, que foi transformada em museu em 1911. E, a poucas quadras dali, o Museu Histórico Judaico também participou, com a exposição “The Jewish Rembrandt”, em novembro de 2006. Desde o século XIX, a relação entre Rembrandt e os judeus tem sido alvo de estudo. Os historiadores são unâni-
Horizonte mes em afirmar que foi pela mão do mestre holandês que se percebeu uma visível mudança na forma como os judeus eram retratados nas artes plásticas. Há quem chegue a considerá-lo um “artista judaico”, apontando o fato de ter vivido no bairro judeu e de um terço de suas obras retratarem personagens ou temas bíblicos – fato pouco comum na Holanda protestante do século XVII, pois os temas religiosos não tinham apelo para os protestantes holandeses.
Um artista extraordinário Rembrandt Harmenszoon van Rijn nasceu em 15 de julho de 1606, na cidade holandesa de Leyden e morreu em Amsterdã, em 1669. Na época, a Holanda protestante, finalmente livre do domínio da Espanha católica, tornara-se potência econômica e oásis de tolerância e abrigo para os perseguidos. A prosperidade comercial, aliada ao respeito à individualidade, incentivara a criatividade dos artistas, desencadeando um período extraordinário: a Época de Ouro da pintura holandesa (1584-1702). A arte deixara também de ser exclusividade dos nobres e da Igreja, passando a ser artigo de consumo da burguesia comercial; e Amsterdã se tornou o maior mercado de arte não-estatal da Europa. Nesse período, de extraordinária produção artística, resplandeceu o gênio de Rembrandt. Pintor, desenhista e gravador, tecnicamente brilhante, foi um dos grandes mestres do barroco. Além de dominar a técnica do chiaroscuro – a arte de jogar com contrastes de luz e escuridão, o mestre atingiu uma nova percepção, a profunda compreensão da natureza humana. “Não há, na história da pintura, artista que tenha penetrado tão profundamente, com tanta dúvida e angústia, no problema das relações entre o homem e seu mundo”, escreveu o historiador de arte Pierre Cabanne. Nin-
guém antes dele fez as coisas “comuns” da humanidade parecerem tão profundamente humanas, sérias e interessantes. Calcula-se que Rembrandt tenha criado mais de 600 pinturas, estimando-se que tenha feito acima de 300 gravuras e 1.400 desenhos. Alguns de seus quadros são um registro vívido da Amsterdã de sua época. Seus desenhos, a maior parte dos quais não assinados, são notáveis pela soltura dos traços, ao passo que os retratos e auto-retratos evidenciam profunda sensibilidade às sutis nuanças das emoções humanas.
Rembrandt e os judeus Em 1631, o pintor radicou-se em Amsterdã, logo se tornando conhecido e próspero. Em pouco tempo se alçou à posição de principal retratista da Holanda. Em 1639, já casado, comprou uma ampla casa no número 4 da rua Breestraaat, na ilhota de Vlooienburg, entre os vários canais da cidade. Na época, o bairro era o centro do mercado de arte e da vida judaica, pois grande parte de seus habitantes, elementos cultos e de posses, pertenciam à “Nação Portuguesa” (a respeito, leia o artigo “Os judeus portugueses de Amsterdã”, na edição 3/07). Todas as casas vizinhas à mansão de Rembrandt eram ocupadas ou de propriedade de ricos comerciantes sefaraditas, como Daniel Pinto, os irmãos Rodrigues, Isaac de Pinto, Baruch Osorio, entre outros. A poucas quadras da residência do artista vivia o rabino Menasseh ben Israel, a mais importante personalidade judaica da cidade e, provavelmente, uma das mais famosas na Europa da época. Rembrandt manteve, durante anos, profunda amizade com o rabino, inclusive tendo ilustrado, com quatro de suas gravuras, um de seus tratados, “Piedra Gloriosa”. É famoso em todo o mundo o portrait do rabino realizado por Rembrandt. O fato de viver,
Rembrandt Harmenszoon van Rijn: pintor, desenhista e gravador, tecnicamente brilhante, foi um dos grandes mestres do barroco.
durante quase duas décadas, no coração da vida judaica foi, sem sombra de dúvida, fundamental para moldar sua visão sobre os judeus. Vale lembrar que em nenhum outro país da Europa Rembrandt teria tido permissão de viver no bairro judaico. Segundo alguns teóricos, ao conviver tão de perto com o judaísmo, o pintor, protestante que estudara a Bíblia a fundo, identificou-se com a cultura e a religião judaica. Para outros, essa convivência próxima e diária mudou a percepção do artista quanto aos judeus, permitindo-lhe construir uma imagem calcada em sua experiência pessoal e não nos estereótipos carregados dos preconceitos vigentes na Europa do século XVII. Ele não apenas morava em Vlooienburg – interagia com os vizinhos, construindo laços de amizade e profissionais. E, graças a isso, o mundo pôde vislumbrar através dos seus olhos a crônica da
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Horizonte vida judaica na Holanda. Conta-se, por exemplo, que o comerciante de diamantes Alphonso Lopez costumava receber o artista em sua casa, para que ele pudesse apreciar e estudar sua coleção de obras de arte, que incluía quadros de Rafael e Tintoretto, entre outros. Muitos de seus trabalhos foram financiados e adquiridos por patronos e clientes judeus, principalmente de origem sefaradita, grandes admiradores das artes plásticas, em geral, e os maiores colecionadores da época, na cidade. Entre eles, contavam-se Samuel D’Orta, Caspar Duente, a família d’Acosta Curiel e Ephraim Bueno, famoso médico e pensador, também retratado por suas mãos. Para os historiadores da arte, a relação de Rembrandt com os judeus pode ser analisada através de suas obras. Apesar de, no início da carreira, tê-los representado, em alguns de seus quadros, segundo os estereótipos negativos costumeiros, não há como negar que
Rembrandt mudou sua forma de retratá-los. O artista descartou as velhas imagens de judeus, comuns na arte ocidental – associadas a demônios, ganância, maldade e traços muitas vezes animalescos. Os judeus de Rembrandt apresentam feições delicadas e transmitem profundas emoções, extraídas das várias situações da vida humana. Suas obras são mais do que um documento histórico do período – permitem-nos perceber, a partir da temática dos seus quadros, a cultura holandesa e as relações entre as duas comunidades. Ao retratar os “Homens da Nação” (ou “Nação Judaica Portuguesa”, como os judeus portugueses se auto-designavam), Rembrandt não se presta tão somente a captá-los como em um instantâneo fotográfico; o seu olhar adiciona e soma a riqueza resultante do seu convívio entre esse povo. Abraham Bredius, uma das grandes autoridades em Rembrandt, relacionou, no conjunto da obra do pintor, aproximadamente duzentos retratos de homens, excetuando-se os que ele fez de si mesmo e de famiEm sua tela “Moisés quebrando as Tábuas da liares: dentre esses, trinta e sete Lei”, diferentemente do que se costumava ver em judeus. Entre as obras do Museu outras reproduções artísticas, Rembrandt mostra Casa de Rembrandt constam os Moisés carregando duas Tábuas e não um pedaço de rocha simulando a divisão em duas estelas. portraits de dois líderes comunitários judeus, com chapéus pretos de abas largas, barba curta, típicos membros da aristocracia de Amsterdã no período. Esses trabalhos comprovam a diferença entre a vida judaica local e no restante da Europa. Quando retratava cenas inspiradas nos textos bíblicos, Rembrandt tinha sempre a preocupação de reproduzir de maneira correta a simbologia judaica. A inclusão do alfabeto hebraico, por exemplo, em qualquer um de seus trabalhos, era sempre acompanhada por minuciosos estudos, visando a perfeita reprodução das letras. Rembrandt não era o único artista holandês
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Notícias de Israel, maio de 2007
do século XVII a tratar temas judaicos, mas o que o diferenciava era o cuidado que tinha ao retratar fatos, situações e personagens ligados ao povo dos “Homens da Nação”. Em sua tela “Moisés quebrando as Tábuas da Lei”, diferentemente do que se costumava ver em outras reproduções artísticas, Rembrandt mostra Moisés carregando duas Tábuas e não um pedaço de rocha simulando a divisão em duas estelas. A coleção de obras com temática judaica inclui vários óleos, entre os quais os mais famosos são dois com o mesmo nome: “A noiva judia”. O primeiro, de 1665, representa um casal que alguns acreditavam ser o poeta sefardita Miguel de Barrios (16251701) e sua esposa, no entanto, não há provas definitivas disso. O outro óleo foi pintado por Rembrandt em 1684. Outros quadros famosos são: “O médico judeu Ephraim Bueno”, de 1647; “Retrato de um judeu” e “Velho com gorro vermelho de pele, em uma poltrona”, ambos de 1654. O Livro de Ester inspirou obras como “O Triunfo de Mordechai”, de 1641, e “Hamã e o rei Assuero no banquete de Ester”, de 1660. Entre as gravuras e desenhos podemos destacar os retratos de Menasseh ben Israel (1636) e de Ephraim Bueno (1647), “Abrahão e Isaque”, 1645, “Uma sílfide ou A grande noiva judia”, de 1635. Este último retrata uma noiva que tem nas mãos a ketubá, o contrato judaico de casamento. Vemos ainda a famosa gravura “Judeus na sinagoga”, de 1648, em que o pintor retrata membros da comunidade asquenazi de Amsterdã. (extraído de www.morasha.com.br) Bibliografia: – Cabanne, Pierre, Rembrandt, Ed. Profils de l’art Chêne, 1991. – Bockemuhl, Michael, Rembrandt, Ed. Taschen. – Artigo de Ivy Judensnaider Knijnik, “Rembrandt e os judeus em Amsterdã: algumas considerações entre arte e ciência”, Revista Digital Art, abril de 2005. – http://www.rembrandthuis.nl, Museu Casa de Rembrandt.