n.12 - Abril, 2019
Um dia na Chapel com Leo Fraiman
Psicólogo Leo Fraiman passou um dia inteiro na Chapel interagindo com Aos alunos do 4º ao 7º ano, sentimentos e inteligências alunos do 4º ao 12º ano, professores, assistentes e familiares em quatro humanas palestras diferentes e empolgantes acerca de temas como inteligência social, projeto de vida, propósitos da educação e síndrome do imperador. A primeira atividade do dia foi uma animada conversa com os alunos do 4º ao 7º ano sobre sentimentos. Assim que a superintendente da Chapel, Lucy Nunes, apresentou o convidado, Leo Fraiman deu início a Por Paula Veneroso um animado bate-papo com os alunos. Iniciou a conversa perguntando O amanhecer cinzento e chuvoso de 21 de março previa um daqueles sobre os tipos de inteligência que uma pessoa pode ter, e a plateia dias aborrecidos na cidade de São Paulo, de trânsito, garoa fina e mau respondeu participativa. Em seguida, tratou sobre sentimentos como humor. A Chapel, no entanto, estava aquecida e ensolarada. Desde as raiva, tristeza e vergonha, pontuando para as crianças que nenhum primeiras horas da manhã, quando chegou, até quase onze da noite, sentimento é somente ruim ou somente bom, e permeou sua fala com quando se despediu, Leo Fraiman tornou especial o dia da comunidade histórias que prenderam a atenção dos alunos e provocaram reações escolar, que se encantou com seus ensinamentos sobre felicidade, na plateia. atitudes empreendedoras, empatia e criação dos filhos. Um dos momentos mais interessantes foi quando Fraiman propôs uma Para cada público, o psicólogo direcionou um ou mais temas e dinâmica com balões coloridos – cada um escreveu num papelzinho o resultado pode ser percebido na feição de cada um da plateia, três coisas que considerava necessárias para sentir-se bem na Chapel, prestando máxima atenção nas falas do convidado e participando colocou dentro do balão e o encheu de ar. Depois, os balões foram trocados das conversas e das atividades propostas por ele. “Acredito que o Leo aleatoriamente entre os alunos e, em seguida, estourados – como numa Fraiman conseguiu transformar um pouquinho a vida de cada um com festa. Na sequência, cada um leu os sentimentos de outro colega. Depois de quem conversou hoje na Chapel”, comentou a bibliotecária Fernanda ouvir o que vários alunos escreveram, o psicólogo comentou que as pessoas Caires, que teve o privilégio de acompanhar todas as palestras do dia. mais admiradas e amadas – seja no mundo, seja em cada família – são as que ouvem os sentimentos dos outros: “A pessoa inteligente socialmente não quer a atenção somente para si mesma, não é aquela que só quer falar, mas, sim, é a que escuta o outro, que pede ajuda e que também oferece ajuda ao outro, é aquela que estende a mão para os amigos”.
esse sonho em projeto, têm uma chance real de alcançarem o sucesso e, portanto, a felicidade. Para tanto, é essencial o jovem se conhecer, saber quem é, perdoar-se e ser gentil com seus medos e fraquezas. “Uma das decisões que precisamos tomar é definir o quanto de luz desejamos para nossa vida”, disse. Segundo ele, é comum as pessoas se desviarem dos seus sonhos ao perderem tempo se distraindo em redes sociais – vendo, curtindo, compartilhando conteúdo dos outros e preocupando-se com a opinião dos outros. “Então, o grande ideal da vida não é mais ser importante para daí ser famoso. Não, o grande ideal passa a ser famoso para depois ser importante”, alertou, ressaltando que tal atitude gera uma infelicidade sem tamanho.
Fraiman assinalou que é a partir de pequenas decisões que as pessoas se tornam quem são e, dirigindo-se aos alunos, finalizou: “Vocês ainda não estão prontos, estão crescendo e se ‘aprontando’ para a vida. E para se tornarem pessoas felizes, de sucesso, cheias de orgulho, pessoas que fazem a diferença no mundo, o meu convite hoje é para que vocês, sempre que estiverem diante de alguém, parem e pensem: Como esta pessoa está se sentido? Que diferença posso fazer na vida dela? Porque o tamanho do mundo tem três letras, N, O, S. Nós”. A orientadora educacional do ECEC ao 4º ano, Cristiana Cavalcanti, pontuou que o que mais lhe chamou atenção na palestra foi quando o psicólogo destacou a importância das pequenas decisões: “Foi importante mostrar para as crianças que elas tomam decisões e que tais escolhas, por menor que pareçam, fazem muita diferença no decorrer da vida”.
Fraiman lembrou que a acomodação é perigosa, porque as coisas mudam muito rapidamente no mundo e o conforto que algumas pessoas têm hoje pode acabar um dia, daí a importância de se ter na vida atitudes empreendedoras. “A história de todas as pessoas empreendedoras tem algo em comum: quando foram testados, quando foram provocados, eles se superaram, eles empreenderam e foram além”, ressaltou. Em seguida, fazendo uma analogia com os dedos da mão, o psicólogo compartilhou cinco atitudes características das pessoas de sucesso: atenção aos detalhes, cultivo das amizades, busca de diferenciais, manutenção do foco e validação do outro. O psicólogo finalizou a conversa com os alunos lembrando o poder das palavras e a importância de todos exercitarem a capacidade de pensar nas consequências de suas escolhas: “Aquilo que falamos para os outros e para nós mesmos faz toda a diferença. Nunca se esqueçam de que a vida é feita de decisões e que a resposta para tudo na vida está em suas mãos. Quem não sai da zona de conforto vira minhoca, nunca pássaro, pois, para voar, o pássaro precisa deixar o ninho e se arriscar”.
Atitudes empreendedoras e projeto de vida para os alunos do Para a diretora do Programa Brasileiro da Chapel, Daniela Gattai, a 8º ao 12º ano palestra de Leo Fraiman propiciou uma reflexão interna nos alunos, que prestaram muita atenção na fala do psicólogo: “Tocou o sentimento Foi compartilhando a angústia vivida aos 16 anos de idade, quando se dos jovens, para que pensem na gama de possibilidades que têm para viu perdido ao decidir qual carreira seguir, que Leo Fraiman iniciou a o seu futuro. Foi emocionante”. conversa com as turmas do 8º ao 12º ano, segunda palestra do dia. As falas desencorajadoras que ouvia ao externar seus sonhos e a leitura Para os professores, motivação e reflexão interna do livro História sem fim (de Michael Ende) levaram-no ao curso de Psicologia: “Eu queria trabalhar com os sonhos das pessoas”. No A palestra de Leo Fraiman para os professores da Chapel foi uma entanto, o medo do fracasso profissional pairava no ar. Foi então que dedicação de carinho e atenção ao “eu” de cada um ali presente no decidiu pesquisar sobre sucesso profissional: “E descobri que sucesso auditório. “Aprendemos sobre muitas coisas na graduação, na pós e profissional é o oposto de egoísmo. Sucesso é fazer o mundo melhor”, no mestrado, mas quanto tempo esse sistema acadêmico nos permitiu afirmou. refletir sobre o nosso mundo interno?”, questionou o psicólogo. A partir da constatação de que apenas recentemente as competências O psicólogo compartilhou com os alunos outros livros que contribuíram socioemocionais adquiriram visibilidade social, Fraiman discutiu com para suas escolhas profissionais, notadamente para sua decisão de os mestres a importância de cada um valorizar o seu propósito interno, trabalhar com projeto de vida. “Quem tem um projeto de vida, quem sua intencionalidade, a fim de não se menosprezar, não se desprezar tem um ‘para quê’viver sobrevive a qualquer ‘como’viver”, disse, citando nem se apequenar diante da vida. um trecho do livro Em busca de sentido, de Viktor Frankl. Segundo Fraiman, todos aqueles que têm um propósito na vida, ao transformar
Diante do fato de que os seres humanos se constituem, ao longo da vida, de inúmeras referências externas, é importante entender que a capacidade de se criar hábitos – ou esquemas mentais –, de um lado, pode servir para facilitar a vida, mas, de outro, pode aprisionar a nossa existência, nos levando a um estado de servidão voluntária, como discutido pelo filósofo Etienne de La Boétie. “Servidão voluntária significa você ceder ao outro – seja ele quem for – a chave da sua existência e do seu propósito. E, assim, no lugar de você servir para aprender e crescer, você serve para amedrontar, em vez de servir para desfrutar, você serve para sofrer”, explicou Fraiman.
Finalizando a conversa, Fraiman disse que todos estão onde se colocam: “O professor, por exemplo, pode enxergar sua profissão como um sacrifício ou como um ‘sacro ofício’ – um ofício sagrado. E quem colhe resultados é quem doa se si, quem oferece luz”. Para a diretora do high school, Paula Moro, foi muito importante a recomendação de Fraiman para que os professores tenham momentos para pensar em si mesmos: “Dado que todo o trabalho que a escola faz é voltado para o aluno, é difícil termos um tempo para nós, professores, nos autoconectarmos. E essa mensagem positiva, com dicas de reflexão para pensarem em si mesmos, foi muito emocionante, foi um presente para os professores. Não à toa ele foi aplaudido de pé”, afirmou. “Foi muito generoso por parte da Chapel oportunizar esse momento para falar da pessoa do professor, para lembrá-los de que não estão condenados a nada, de que somos seres em processo, e que é possível ter uma vida boa, repleta de aprendizados”, comentou Leo Fraiman depois da palestra.
O psicólogo convidou os participantes a assumirem em suas vidas “uma posição de filtro, e não de torneira”, ressaltando a importância das pessoas se libertarem das marcas deixadas por estímulos negativos durante a vida e focarem o seu próprio potencial de realização. “Para tanto, é fundamental dedicar um pouco de tempo para se conhecer a fim de assumir propriedade sobre a sua vida e deixar definitivamente de pensar que a vida que você tem está dada e que nada pode ser feito para mudá-la”, pontuou. Aos pais, dicas de empoderamento para vencer a síndrome do imperador Em razão da plasticidade cerebral, é possível desenvolver os nove tipos de inteligência descritos até hoje, independentemente da A última palestra foi dedicada aos pais, que preencheram o auditório idade: “Atualmente, está comprovado cientificamente que o cérebro apesar do frio e da chuva que avançavam noite adentro. Leo Fraiman muda, que as pessoas mudam. No entanto, esse processo humano de começou sua fala contando algumas de suas experiências no mudança só ocorre por dois motivos: pelo amor ou pela dor”, pontuou. consultório, em contraponto ao modo de criação dos adultos da sua As pessoas mudam pela dor porque são obrigadas, ao sofrer um revés, geração, o que provocou risos na plateia. E foi assim, de maneira uma traição ou uma doença, por exemplo. Por outro lado, mudar pelo leve e descontraída, que o psicólogo tratou de um problema comum amor significa mudar por uma causa ou um propósito: “Significa mudar a muitas famílias atualmente: a falta de autoridade sobre os filhos. por mim, pelos meus filhos, por pessoas que amo, significa colocar o “O que está acontecendo? As crianças se tornaram os alfas da casa, ‘nós’ acima do ‘eu’, significa conectar-se com algo maior do que eu, com e os pais são os betas. E neste mundo sem liderança as coisas não um propósito de vida. Em razão disso é que cada um tem o poder de funcionam”, instigou. definir sua existência a todo momento, isso é possível”, explicou.
Para (re)assumir o controle sobre os filhos, é necessário, segundo o psicólogo, construir familiaridade, que é bem diferente de parentesco. Enquanto parentesco é laço de sangue, familiaridade é envolvimento verdadeiro. “A maior autoridade de um pai ou ou de uma mãe é a sua presença. A confiança que um filho deposita no pai não é automática, é conquistada. Quando o filho percebe que o pai não se importa com ele de verdade, vai descobrir um jeito de ser visto, mesmo que ele próprio (o filho) se machuque”, afirmou Fraiman, pontuando que o significado da palavra ‘importar’ é ‘carregar para dentro’.
o incentiva a procurar soluções, mas não resolve por ele. O colo com mola humaniza o outro, pois respeita a sua integridade”, explicou. As consequências de se perpetuar o ciclo do mimo são imaturidade psicológica, intolerância a regras e limites, irritabilidade diante de frustrações, insegurança emocional, insatisfação generalizada, ingratidão com os demais e com a vida, inadequação para o mercado de trabalho e, por fim, infelicidade. Antes de fazer algo pelos filhos, os pais devem fazer duas perguntas: isso é bom para ele? Isso faz bem? E, de acordo com Fraiman, os pais devem aprender a não realizar todos os desejos dos filhos. “Amar é estimular o outro a chegar na melhor A fala do profissional foi dividida em três momentos: um breve versão de si mesmo”, acrescenta. panorama da vida moderna, que se mostra cada vez mais acelerada, conectada e competitiva, tendências para o futuro e como os pais Para finalizar, o psicólogo convidou os pais a educarem os filhos para podem se preparar para o amanhã no que concerne à educação dos que adquiram mentalidade de empreendedores e não de herdeiros. filhos. Segundo ele, muito da superproteção que os pais exercem sobre Para tanto, os pais devem se empoderar, e isso pode ser conquistado os filhos é puro narcisismo, pois os pais elegem o filho como seu totem por meio das seguintes atitudes: presença, organização, disciplina, narcísico – não à toa, exemplifica, é comum ver no perfil da rede social engajamento e resiliência. Afinal de contas, “educar um filho é a de um adulto não a própria foto, mas a dos filhos. mais difícil tarefa que um ser humano pode assumir na vida, por isso a importância da empatia e da amorosidade para se construir um Ao pontuar três atitudes que prejudicam a educação dos filhos – legado”, concluiu sob aplausos. negligência, autoritarismo e permissividade –, Fraiman explicou o ciclo do mimo e como ele concorre para que a criança não se torne adulta, “As palestras de hoje geraram bastante emoção no público, acredito mas sim adulterada. “No momento em que você não aceita que seu que por meio da empatia e do humor o Leo Fraiman conseguiu filho se frustre, intercede – não raro atacando a escola e os professores mostrar aos pais como fazer para que os filhos se sintam capazes de – e resolve os problemas por ele, está passando a informação de que serem autônomos. Esse é o nosso grande objetivo: conseguir que as ele é incapaz, portanto, incompetente”, constatou. Para livrar-se de crianças, nossos alunos, sintam seu poder de realizar, descobrindo tal ciclo, que produz filhos intolerantes, ingratos e constantemente suas capacidades”, comentou no final da noite Luciana Brandespim, insatisfeitos, o psicólogo propõe que os pais pratiquem o que ele coordenadora do currículo socioemocional da Chapel. “Acredito que ao chama de “colo com mola”: “É desenvolver com os filhos a empatia implementarem suas dicas práticas muitos pais e mães, com certeza, junto com a autonomia. Você entende os problemas do seu filho e vão notar mudanças em sua dinâmica familiar”, complementou.