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A história sendo escrita agora

Por Maurício Oliveira Fotos: Arquivo Chapel

TRADIÇÃO, E ANSIOSAMENTE AGUARDADO PELA COMUNIDADE ESCOLAR A CADA FIM DE ANO LETIVO, O YEARBOOK DA CHAPEL É UM REGISTRO PRECIOSO PARA A POSTERIDADE

História sendo escrita em capítulos anuais. Esta é uma boa definição para o Yearbook, registro produzido pela Chapel desde 1970, com o objetivo de eternizar a passagem dos estudantes pela instituição, além de documentar sua própria evolução. Hoje, com tiragem de 840 exemplares, a publicação é distribuída a todos os alunos e professores.

“Guardo com muito carinho a coleção de Yearbooks desde que cheguei à escola, bem pequena. Se é algo que já considero importante agora, imagino que no futuro será ainda mais”, diz Hanna Joo, 17 anos. Ela integrou a equipe do Yearbook Club que produziu a edição de 2022, sob coordenação da bibliotecária-chefe e assistente editorial da Chapel, Fernanda Caires.

Além do encantamento com a oportunidade de integrar o time responsável por uma publicação tão tradicional e importante para a comunidade escolar, Hanna viveu uma experiência relacionada ao campo profissional que pretende seguir: o design gráfico. “Aprendi muito ao longo de todo o processo. Participei de várias etapas, inclusive da produção de fotos, que achei a parte mais divertida.”

A intimidade de longa data com o colégio a ajudou a planejar boas imagens para ilustrar os mais diferentes temas, já que flagrantes do cotidiano são uma das marcas registradas da publicação. “As pessoas vão acompanhando momentos da produção e criam uma grande expectativa com a chegada do Yearbook”, descreve Hanna.

Outro integrante muito ativo da equipe, que contou com oito estudantes, foi Leonardo Glaser, 16 anos, há cinco na Chapel. “Sempre achei que o momento de receber o Yearbook era uma das melhores partes do ano”, ele diz. “Agora, com a missão cumprida, a principal conclusão é de que dá bastante trabalho. Tem muito detalhe envolvido. Quando a gente simplesmente vê pronto, não imagina a grandeza do projeto.”

Caráter documental

Um dos desafios do processo, observa Leonardo, é encontrar o equilíbrio ideal entre dar espaço à criatividade da equipe e manter certos parâmetros e referências herdados dos anos anteriores. “Há espaço para inovações, mas elas precisam ser bem dosadas, em respeito às duas funções básicas da publicação: celebração e registro”, lembra Ms. Caires, que assumiu o comando do Yearbook em 2010. Um exemplo de novidade introduzida recentemente foi a Linha do Tempo, que sintetiza os principais acontecimentos do colégio ao longo do ano escolar, período que vai de julho a junho.

Entre as características que jamais mudaram, desde a primeira edição, está justamente a participação direta dos estudantes no planejamento e na realização do Yearbook. Inicialmente, a tarefa cabia a comissões montadas com esse objetivo. Em certos períodos, o conteúdo passou a estar associado a disciplinas, como Design Gráfico ou Publications. Agora é um dos Clubes da Chapel – ou seja, trata-se de uma atividade extracurricular com reuniões duas vezes por semana, em horários posteriores às aulas, para interessados que estejam entre o 9º e o 12º anos.

Depois que o Yearbook é lançado e entregue aos alunos e professores, entre o final de maio e meados de junho, o processo recomeça em agosto, com novas inscrições no

UM DOS PRINCIPAIS VALORES DO YEARBOOK, DESDE A PRIMEIRA EDIÇÃO, ESTÁ JUSTAMENTE NA PARTICIPAÇÃO DIRETA DOS ESTUDANTES NO SEU PLANEJAMENTO E REALIZAÇÃO

clube. Em certo momento, inicia-se a discussão sobre qual será o tema, o fio condutor que ajudará a contar a história daquele ano.

Um cronograma é estabelecido, as tarefas são divididas e o trabalho evolui, semana a semana, até que chega à data de fechamento – deadline, no jargão jornalístico. É o momento em que o produto segue para a gráfica. Aliás, por causa do caráter essencialmente documental do Yearbook, não há qualquer perspectiva de torná-lo um produto apenas digital. “Ele continuará existindo como publicação física, pois a ideia é estar na prateleira para ser folheado daqui a dez, vinte, trinta anos”, descreve Ms. Caires.

Yearbook para todos

Antes de Fernanda Caires assumir a coordenação do Yearbook, a missão esteve a cargo da professora de inglês Kyoko Shimokomaki, no período entre 1991 e 2007. Ela introduziu inovações como as fun pictures, fotos com cenas e legendas divertidas, e as mensagens dos pais aos seniors.

Ms. Shimokomaki também foi responsável pelo livro passar a ser distribuído a todos os estudantes no final do ano letivo. Com isso, ninguém ficaria sem a produção histórica.

No início da gestão de Ms. Shimokomaki, o processo era bem mais complexo que hoje, pois ainda envolvia fotografia analógica – portanto, com necessidade de revelação dos filmes – e a impressão na gráfica dos Oblatos nos Estados Unidos, o que exigia grandes antecipações de prazo para o transporte. A partir da edição de 1995, a impressão passou a ser feita no Brasil, o que facilitou bastante a logística.

Homenagem aos seniors

Uma das seções mais especiais da publicação é a dedicada aos seniors. Os alunos que estão se formando ganham uma página só sua para registrar suas memórias e agradecimentos, além de páginas contendo fotos e registros de suas jornadas no colégio, mensagens de seus familiares e a famosa sessão Favorites.

Houve um período em que os seniors tiveram liberdade plena para construir o texto e as imagens da própria página, incluindo o layout. Com a evolução do processo de design, a falta de padrão visual se tornou algo que necessitava ser ajustado.

Essa constatação levou à mudança da metodologia. “A ideia é que cada senior se sinta, mesmo, dono da página, mas estamos falando de uma publicação oficial da Chapel. Temos um diálogo, no início do processo, com cada nova turma de seniors para eles aprenderem como funciona a produção de uma publicação institucional, desde a identidade visual até o alinhamento do conteúdo à Missão e à Visão do colégio”, descreve Ms. Caires.

Cada senior passou a enviar o texto, em tamanho padronizado, e uma quantidade pré-estabelecida de fotos, que pode variar de acordo com o layout definido para o ano. Os textos são revisados por Ms. Caires e uma equipe de professores, e depois a equipe do clube insere texto e fotos na página, com o material já aprovado, e envia a versão editada para a aprovação final do(a) dono(a) da página.

Momentos históricos

Folhear a coleção de Yearbooks – disponível nas bibliotecas do colégio – oferece uma encantadora viagem no tempo. Além dos perfis e fotos dos estudantes, há descrições e imagens das atividades realizadas ao longo do ano: apresentações teatrais; diversas modalidades esportivas; e os clubes dos mais variados temas, que foram surgindo e desaparecendo ao longo do tempo, como: xadrez, debate, matemática, fotografia, boliche, jornal. Tudo isso além do tradicional StuCo, o grêmio estudantil da Chapel.

Outra tradição, desde os primeiros anos, são os Favorites – estudantes do 12.º ano eleitos pelos colegas para as mais diversas categorias, muitas das quais também criadas e extintas ao longo dos anos, como “mais confiável”, “mais atlético”, “mais bem-humorado”, “mais colaborativo”, “mais artístico” e até “mais cara-de-pau”.

O Yearbook também é um registro de momentos históricos para a instituição, como a inauguração da biblioteca, na edição de 1973 – nesse mesmo ano, aliás, a publicação começou a utilizar as primeiras fotos coloridas. Acontecimentos externos marcantes para cada geração também acabavam sendo de alguma forma refletidos. Em 1985, ano da primeira edição do Rock in Rio, o colégio realizou o Rock in Chapel. Nesse mesmo ano, a seção “Preparing students for the future” apresentava os primeiros computadores utilizados nas aulas da Chapel.

E assim o tempo passa, as pequenas crianças de outrora vão ganhando feições de adolescentes, os veteranos se formam e partem para novos desafios, mas uma certeza todos podem ter a cada final de ano letivo: lá estará o Yearbook para eternizar os momentos compartilhados na Chapel com colegas, professores, funcionários e familiares.

VIAGEM NO TEMPO

Os seniors sempre ganham destaque no Yearbook, pois estão deixando a Chapel. Saiba como estão alguns desses personagens.

1975

ANDREA HUGGARDCAINE RETI

Reconhecida consultora de gestão de pessoas, estabelecida em São Paulo, estudou na Chapel entre 1971 e 1975. Embora tenha registrado no Yearbook a pretensão de se tornar arquiteta, acabou cursando Administração no Mackenzie. “Posso dizer que exerci a arquitetura de forma amadora ao longo da vida. Minha casa está sempre em reforma”, ela brinca. De origem irlandesa e russa por parte do pai, e espanhola e italiana por parte da mãe, Andrea nasceu na Argentina e veio para o Brasil aos quatro anos, por causa da transferência do pai pela multinacional em que ele trabalhava. O domínio do idioma inglês foi fundamental para os primeiros passos na trajetória profissional – na rede hoteleira Hilton e, depois, no Citibank, onde começou como trainee e trabalhou por dez anos. “A Chapel me preparou para muitas coisas. Uma delas é não ter medo de falar em público, de apresentar minhas ideias, de me reunir naturalmente com quem quer que seja”, ela avalia. Yearbook

1977

RAYMOND PROOST

Belga nascido na África do Sul, Raymond estudou na Chapel entre 1974 e 1977. Na década seguinte, de volta à Bélgica, começou a voar em ultraleves. Com o tempo, tornou-se instrutor de voo, mais tarde especializado em atender clientes paraplégicos, tetraplégicos e portadores de deficiência, o que exige a utilização de controles modificados – por causa disso, ele se dedicou também a aprender toda a parte mecânica das aeronaves para realizar as adaptações e manutenções necessárias. Apaixonado pela atividade escolhida, Raymond trabalha hoje em uma escola de formação de instrutores, atuante na região de Salisbury, na Inglaterra. Ele conta que algumas amizades que o acompanharam ao longo da vida foram construídas na Chapel. “O colégio permitiu que eu me integrasse com várias nacionalidades e culturas. Esse é o maior atributo que trago até hoje daqueles anos.” Yearbook

1988

JACOPO RIGHINI

Oitaliano mudou-se criança para o Brasil porque o pai havia sido nomeado diretor da Levi’s Strauss no País. Estudou por onze anos na Chapel e, depois de formado, em 1988, voltou à Itália por conta própria para estudar Jurisprudência. Trabalhou algum tempo como assessor financeiro, mas acabou sendo contratado pelo grupo de moda Stefano Ricci, onde fez carreira. Hoje coordena a produção de sofisticados artigos de couro, como carteiras, bolsas e mochilas. “Os anos no Brasil foram extremamente felizes. Eu me diverti na Chapel com os muitos amigos que tive e ainda tenho. A oportunidade de crescer num ambiente internacional e realmente multicultural foi enriquecedora”, ele descreve. Sua página no Yearbook registra um apelido inusitado, “Jaca elétrico”. “Jaca era a versão reduzida do meu nome e o ‘elétrico’ foi acrescentado porque eu era muito ativo e tinha sempre respostas afiadas.” Yearbook

2000

CHRISTINA ROSTWOROWSKI DA COSTA

Definindo-se profissionalmente como “construtora de pontes”, montou o departamento de inovação social da Red Bull no Brasil e fundou no ano passado a consultoria Ligeia, caminho que encontrou para fundir e exercitar seus interesses diversificados, que incluem História – área em que fez mestrado pela Universidade de São Paulo – e o uso da voz. Fã do Pink Floyd desde os tempos de escola (conforme registrado no Yearbook pela inscrição “Pink Floyd is life!”), já foi vocalista de banda e atua também como narradora – é dela, por exemplo, a narração em inglês da área de futebol feminino do Museu do Futebol. Christina estudou na Chapel entre 1987 e 2000, capítulo de uma bela história familiar: a avó dela, Cecília, chegou da Polônia em 1949 e foi trabalhar justamente na recémfundada escola, onde exerceu diversas atividades – secretária, bibliotecária, assistente de enfermagem – ao longo de trinta anos. Yearbook

2002

JESSICA KHERLAKIAN

Descendente de armênios por parte de pai e de italianos por parte de mãe, Jessica teve formação completa na Chapel School. “Foi a melhor decisão que meus pais tiveram. Eu me sinto muito abençoada por ter tido a sorte de estudar na Chapel por quinze anos. O colégio me preparou para celebrar diferentes culturas, trabalhar duro e sempre tentar dar o melhor de mim”, ela diz. Ao final do curso, cumprindo o objetivo anunciado no Yearbook de “conhecer o mundo”, Jessica partiu para Milão, onde estudou Artes Visuais, com um semestre do curso feito em Nova York. Voltou a São Paulo depois de três anos e começou a trabalhar em galerias de arte. Durante uma viagem pela Ásia, conheceu aquele que se tornaria seu marido e acabou se mudando para Hong Kong, onde vive há quase cinco anos. Depois de trabalhar como Executive Officer da Associação de Galerias de Arte de Hong Kong, abriu a própria consultoria criativa e de marca – e lançou também uma linha de utensílios para casa, outra de suas paixões. Yearbook

2012

FILIPPO CALZERONI

Vive em Londres, onde trabalha na Seedrs, aceleradora de startups. Nascido em Milão, morou três anos em Boston antes de chegar ao Brasil, onde cursou o International Baccalaureate (IB) da Chapel, entre 2011 e 2012. “Lembro bem da emoção de viver num ambiente tão diferente dos Estados Unidos e da Europa, da descoberta de um país maravilhoso e de todas as pessoas que me acolheram. Aprendi no Brasil a ter uma mente mais aberta, independente, adaptável e gentil, habilidades que me definem fortemente até agora”, descreve Filippo. O provérbio latino que ele eternizou em sua página no Yearbook – “Example plus quam ratione vivimus” (Vivemos mais pelo exemplo do que pela razão) – continua sendo um lema de vida. “Muitas das minhas conquistas só ocorreram porque alguém tirou um tempo para me inspirar e me orientar. Meus professores na Chapel certamente são uma parte importante disso.” Yearbook

CHAPEL YEARBOOK 2022 VOLUME LII Lights, Camera, Trojans!

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