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Edição do autor. Qualquer transcrição de textos deste livro deve conter a citação da fonte, como determina a lei dos direitos autorais - Nº 9.610 de 19 de fevereiro de 1998. Programação visual: Francisco Barbosa Lançamento: www.kikedabola.blogspot.com.br
Brasília, 18.08.2018
PAPO ESTRELA No dia 30 de março de 1969, o treinador Gérson dos Santos (*) mandou ao gamado do Mineirão, pela primeira vez, e repetiu uma equipe que iniciou as cinco partidas seguintes – Raul; Pedro Paulo, Mário Tito, Fontana e Vanderlei; Wilson Piazza e Zé Carlos; Natal, Dirceu Lopes, Tostão e Rodrigues. Durante o decorrer desses jogos, ele fez três modificações, lançando o zagueiro Raul Fernandes (*) e os atacantes Evaldo e Hílton Oliveira (*), sem que o nível técnico caísse. Com estra rapaziada, o Cruzeiro venceu os seis compromissos, marcando 13 vezes e não levando gols. A formação carregou o time estrelado ao tetra estadual, feito inédito em sua história, antes das últimas três rodadas do Campeonato Mineiro, além de bater o recorde de invencibilidade do futebol brasileiro – 35 jogos oficiais –, tirando-o do Corinthians (33) e fechando a temporada sendo o maior, também, em arrecadação, ataque mais positivo e defesa menos vazada.
Uma alegria que se renovou por cinco temporadas
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Após o tetra, circulou pelas bancas de revista de Belo Horizonte um cartão postal com o time posado, turma que, conquistou, também, o segundo título estadual cruzeirense invicto. Muito provavelmente, a foto foi batida antes do clássico contra o Atlético-MG, em 4 de maio daquele 1969, quando, ainda, não era costume dar crédito aos fotógrafos, razão de o autor do ‘click’ não ter o seu nome por aqui citado. Depois do Cruzeiro, vários outros times brasileiros foram expostos em cartões postais, como o Vasco da Gama campeão da Taça Libertadores-1998, o Internacional e até a Seleção Brasileira. Dos 11 atletas posados no postal cruzeirense, quatro estão no grupo dos que mais atuaram com a camisa azul – Zé Carlos (619); Dirceu Lopes (601); Wilson Piazza (556) e Raul (549). Dificilmente, eles serão ultrapassados, devido a altíssima rotatividade dos atletas de hoje. Os sete restantes – os laterais Vanderlei (526) e Pedro Paulo (393) são sexto e 15º, respectivamente. Tostão (373) é o 18º e Natal (245) o 44º– figuram entre os 20 mais escalados. Há, ainda, os zagueiros Fontana e Mário Tito, respectivamente, com 158 e 64 partidas, e o ponteiro-esquerdo Rodrigues, com 172. O líder da estatística das atuações cruzeirenses, hoje, é o goleiro Fabio, que tinha 800 partidas até 21.10.2018.
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Encerrado o ciclo do maravilhoso time que chegou a pentacampeão mineiro, o grupo que o sucedeu teve o atacante Eduardo Amorim disputando 544 partidas e ficando como o quinto mais + mais raposeiro. Ele, no entanto, representa já uma fase em que o Cruzeiro passou a disputar muito mais compromissos. Antes da ser campeão da Taça Brasil, em 1966 (*), excursões e jogos pelo exterior, dificilmente, jogava-se fora de casa. Outros três atletas pós-time do postal completam os 11 mais gritados pela torcida cruzeirense: Joãozinho (João Soares Almeida Filho), ponta-esquerda driblador, que explodiu a partir da metade de década-1970. Tem 471 atuações; Ademir Roque Kaefler, apoiador gaúcho, com 440, e Ricardinho, (Ricardo Alexandre Santos), totalizando 415. O 11º é o zagueiro Vavá, que participou do grupo do penta. Embora Tostão, o maior ídolo do “time do postal” fique com a modesta 13º posição no “ranking” dos mais atuantes, ele é o maior goleador da história cruzeirense, com 242 tentos, seguido pelo colega de época Dirceu Lopes, com 223. Zé Carlos, que atuava pela meia, mas podia ser volante, fica em 20º, mandando 83 bolas às redes, enquanto Natal está em 25º, com 71. De sua parte, Rodrigues não aparece na relação dos que saíram para o abraço acima de 50 vezes . Na turma da “sucessão”, Palhinha (Vanderley Eustáquio Oliveira), autor de 145 tentos, está em sétimo lugar. Marcou menos do que Niginho (Leonízio Fantoni), com 207, entre 1929 e 1947; Bengala (Ítalo Frattesi) , 168 gols, de 1927 a 1939; Marcelo Ramos, 162, entre 1995 a 2003, e Ninão (João Fantoni), 156, de 1923 a 1938. Vale registrar, também, que o melhor Cruzeiro de todos os tempos - o clube surgiu com a colônia italiana de Belo Horizonte fundando a Societá Sportiva Paletra Itália, em 1921 - inclui cinco caras do “Time do Postal” - Raul, Piazza, Natal, Tostão e Dirceu Lopes -, o que representa quase a metade de uma equipe. A escalação dos “maiorais” saiu de uma pesquisa divulgada pela revista paulistana “Placar”, da Editora Abril e a melhor já surgida no jornalismo esportivo brasileiro - número 651, de 12 de novembro de 6
1982 -, informando ter a eleição sido feita por consulta a jornalistas, torcedores, dirigentes e atletas. Leia, agora, a história contada pelo “Time do Postal”. E tire o chapéu para os caras levaram o Cruzeiro ao penta mineiro (*).
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RAUL
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Alto – 1m82cm –, aloirado, com olhos verde garrafa, sempre sorridente, ele era o galã do “Time do Postal” e de todos os montados pelos cruzeirense nas décadas-1960/1970. Por ser o goleiro mais cabeludo do futebol brasileiro, era comparado aos astros do “iê-iê-iê”, a brasa musical que fez sucesso paralelo ao “Cruzeiro penta”. Garantia que os cabelos longos não lhe atrapalhavam. Ao contrário, ajudavam a aumentar o seu entusiasmo durante as partidas, devido aos aplausos femininos. “Sou cabeludo conscientemente e o serei até o dia em que os cabelos longos estiverem na moda. Quando ela passar... verão o goleiro do Cruzeiro sentado...na cadeira do barbeiro...”, prometeu à Revista do Esporte de Nº 415, de 18.02.1967. (*) De olho na idolatria feminina por Raul, uma fábrica de discos o convidou a gravar uma música. Ele topou e foi badalado pelas emissoras de rádio, interpretando a canção-poema “I love you”, que já vinha fazendo sucesso na voz do ator Anthony Quin. Com Raul, o sucesso dobrou, em Belo Horizonte, principalmente após o Cruzeiro conquistar o tri estadual. Também, a Lux Filmes, do Rio de Janeiro (*) sondou-lhe da possibilidade de ele aceitar ser o galã de uma produção musical, o que não topou. Achava já ter fãs demais. E um bom salário, passando muito longe daquele Cr$ 100 cruzeiros de luvas e Cr$ 20 mensais do seu primeiro contrato, assinado com o Atlético-PR – já era proprietário de dois apartamentos alugados, em “Belô” o que lhe proporcionavam uma boa renda. Mesmo contando com torcida feminina organizada, repleta de adolescentes, aos 23 de idade, no embalo do tri cruzeirense, Raul jurava não ter namorada. Dizia-se muito novo para se amarrar. Mas andava, rigorosamente, na moda, quando a onda da juventude era ditada pela Jovem Guarda do cantor e Roberto Carlos. Embora gostasse da minissaia das meninas lindas, Raul via as mulheres, também, ficando uma fada quando usavam vestidos de baile. Para os assovios dos torcedores atleticanos, por causa da sua camisa amarela, ele não ligava. Considerava-os “grandes despeitados, invejosos do seu sucesso junto às gatinhas”. 9
Nascido em Curitiba, em 27 de julho de 1945, Raul Guilherme Plassman – filho do alemão Guilherme e da brasileira Lavínia –, foi parar no Cruzeiro como contrapeso de uma negociação que levou o também goleiro Fábio, para o São Paulo, clube que tirou-lhe do Atlético-PR e não deu-lhe chances de disputar a camisa de titular. Sorte dele, pois emplacou com a pele da “Raposa”. Por sinal, sorte anunciada tão logo pisou em Belo Horizonte, encontrando uma nota de Cr$ 1 cruzeiro rolando pelo chão. Ficou pouco tempo no banco dos reservas e quando entrou no time não saiu mais. Melhor: foi promovido, também, no bolso - Cr$ 2 milhões de luvas e Cr$ 300 mil mensais de salário - e ganhou casa e comida pagos pelo patrão. Raul atribuía muito do seu sucesso à “boa defesa” do time cruzeirense. Não vinha um determinado centro futebolístico do país melhor do que outro, para um atleta emplacar, e propagava esta filosofia: goleiro, mesmo com todos os preparativos técnicos, depende muito da sua sorte e da falta desta para os atacantes. Para ele, os 82 quilos que mantinha, compatíveis com a sua altura, ajudavam a ter o físico ideal para a sua posição. “Não tenho dificuldades para defender bolas altas ou baixas. A minha flexibilidade é muito boa”, dizia, embora preferisse os chutes rasteiros, por ver muitos atacantes aproveitando o jogo aéreo para atingir os goleiros. Quanto a jogar em dia chuvoso, ou de sol, preferia a segunda opção, por não precisar de esforço terrível para desfiar um chute com pelota molhada. “Até com as pontas dos dedos desviamos o curso de uma bola seca”, justificava. Raul deixava curiosos os repórteres que o viam usando calções largos, os quais, garantia, permitiam mais mobilidade. Sujeito de respostas rápidas, ele não titubeava em considerar Pelé e o colega Wilson Piazza grandes craque; o zagueiro vascaíno Fontana a referência do jogador violento (ainda não jogavam juntos); o árbitro Armando Marques o melhor do país; o Mineirão tendo o melhor gamado em que atuara e a televisão maior invento humano. Fazendo autocrítica, admirava a sua sinceridade. Concordava que falava demais durante 10
as partidas e, diferentemente dos demais colgas, até gostava das concentrações. FESTA NO ALTAR - Após nove jogos pelo São Paulo, Raul contou com três fatos para fazer sucesso em Minas Gerais: 1 - era um sujeito bonitão; 2 - bom goleiro; 3 - o acaso colocou, acidentalmente, uma camisa amarela em seu caminho. A jaqueta que deveria usar em uma tarde de domingo não coube nele, levando o colega Neco (*) a emprestar-lhe uma blusa de frio que foi numerada nos instantes de o time entrar em campo. Pareceu ter sido comprada para ele. Ao aparecer no gramado do Mineirão vestido com a cor que nenhum goleiro brasileiro usava, Raul assombrou a conservadora torcida mineira. Involuntariamente, lançou moda e ganhou fã clube das gatinhas que passaram a usar blusas naquela tonalidade durante os jogos da “Raposa”. Pentacampeão mineiro –1965 a 1969 – e da Taça Brasil –1966 – Raul viveu a glória que um goleiro jamais imaginaria no futebol canarinho. Se o Cruzeiro levava mais de 100 mil torcedores aos seus jogos, boa parte era por conta de sua torcida feminina. Um dia, porém, Raul desagradou ao seu fã clube. Anunciou o seu casamento, com Maria Carmem, uma estudante de enfermagem e de artes plásticas. Foi o bastante para rolarem ameaças e acusações. Muitas garotas disseram-se gravidas dele e não o aceitavam de argola no dedo anelar da mão esquerda. Prometeram tumultuar o seu casório. Era 15 de dezembro de 1969, quando Raul compareceu à belo-horizontina Basílica de Lourdes, para casar-se. Antes, fora preciso preciso pedir proteção à Polícia Militar, que enviou ao templo 42 homens e quatro radiopatrulhas. A sua sogra Nair ficou assustadíssima. Mesmo assim, o grande aparato policial não conseguiu impedir que, desde às 14 horas, as fãs começassem a invadir a igreja. Foi o acontecimento social do ano, em BH. Duas TVs transmitiram, ao vivo, choros, gritos histéricos de fãs, empurrões, tudo o que rolava. Em três décadas de vida da basílica, jamais acontecera algo 11
igual por ali, segundo os padres da paróquia. Às 18h15, Raul começou a caminhar para o altar, levado pelos seus pais. Vendo-o passar, estavam vários dos seus colegas de times, entre os quais Tostão, Dirceu Lopes, Piazza, Evaldo e Fontana, também aclamados pelos torcedores. Pouco depois, surgiu Maria Carmen, levada pela mãe e tendo por padrinho o ex-presidente da república Juscelino Kubitscheck. Naquele instante, a maioria dos presentes estava em cima dos bancos. Os fotógrafos só faltavam subir no altar para clicar o padre Isidoro de Nadai, cruzeirense fanático, bem como os outros seis padres participantes da celebração matrimonial. Passado tudo aquilo e chegada a convocação da Seleção Brasileira que iria treinar para a Copa do Mundo-1970, Raul não estava na lista. Atribuía tudo à sua fama de muito mulherengo, conquistador. Mas jurava que o casamento o levara para longe “dos tempos do homem da camisa amarela”, quando revistas e jornais o chamava de galã, “beatle dos gramados”.
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PEDRO PAULO
Pedro Paulo é o segundo, da esquerda para a direita, em pé
Lateral-direito que sabia jogar usando a técnica, motivo que o levara a titular no time cruzeirense, ele carregava uma filosofia para os gramados: as vezes, zagueiro deve entrar mais duro no lance, para impor respeito. Nascido na mineira Pedro Leopoldo, em 15 de agosto de 1945, Pedro Paulo Teles Marcelino esteve estrelado, entre 1963 a 1974, por 393 jogos. Marcou quatro gols e está na história da “Raposa” como o atleta que mais pisou no gramado do Mineirão, em 1966, por 41 vezes, em uma dos melhores temporadas da história cruzeirense, pela qual ficou tri estadual e campeão da Taça Brasil-1966. Repetiu a dose na temporada seguinte, com 37 atuações, uma a mais do que astros como Dirceu Lopes, Natal e Raul, e, em 1968, com as mesmas 37 escalações, duas a mais do que Tostão. Chamado pela torcida por “PP”, quando chegou ao Cruzeiro, em 13
1963, Pedro Paulo foi para a equipe juvenil. Em 1964, subiu ao time A, após formar, com o conterrâneo Dirceu Lopes, o meio-de-campo que levara a garotada ao título estadual da temporada. Jogava pelo chamado “contrato de gaveta”. Quando foi registrado, ganhou um Fusca-1964 e uma casa, no bairro do Horto Florestal, o que jamais sonhara em seus inícios de sua história, em 1956, quando defendia o Industriário Atlético Clube, de sua cidade. No mesmo 1964 em que foi promovido ao grupo principal cruzeirense, Pedro Paulo viveu a alegria do sucesso no futebol estrelado. Casou-se com Madalena Silva Marcelino e, logo, gerou o “Pepezinho”, isto é, Pedro Paulo Júnior. Garoto pobre que só pudera estudar até a (antiga) primeira série primária, Pedro Paulo vivia um sonho como titular do grande time cruzeirense. Era sempre requisitado para entrevistas e pedidos de autógrafos. Ficavam distante os tempos de garoto, quando ele planejava, um dia, em vestir a camisa do Fluminense e levantar a torcida no Maracanã. Em sua nova realidade, já pensava ser fazendeiro e investir na compra de apartamentos. Calculava ser possível, baseando-se nos Cr$ 6 milhões de cruzeiros (moeda da época) que o seu grupo havia embolsado, de gratificações, entre 1965 e 1967. Considerado pela imprensa mineira como dono de uma carreira, tecnicamente, “irrepreensível”, o PP ainda ficou na história estrelada como um símbolo de raça, de força física, do jogo simples, da objetividade e pela facilidade com que atacava, não muito comum entre os laterais de sua época. Fazia cruzamentos açucarados para o ponteiro Natal. Antes de ser centro-médio (espécie dos atuais volantes) do Industriário, o PP havia defendido o Social Olímpico 14
Ferroviário, do Horto, bairro de BH. Foi por ali que o médico cruzeirense Joaquim Daniel o viu jogar e o convidou a treinar com a turma da “Raposa”. Já cruzeirense, o treinador Mário Celso de Abreu, o Marão, o fixou pela lateral-direita, em 1964. Ele chegara a jogar algumas partidas pelo time A, em 1963, mas teve de esperar pela saída do titular Massinha (para o Vasco da Gama). Firmando-se titular, foi convocado para os selecionados mineiros formados em 1967 e em 1970. Em 1968, Pedro Paulo vestiu a camisa da Seleção Brasileira dos 3 x 2 Argentina, amistosamente, no Mineirão, com o time “mineiro-canarinho” alinhando nove cruzeirenses e dois atleticanos. O fim de linha de PP no Cruzeiro pode ser demarcado em 21 de maio de 1972, quando ele sofreu ruptura total dos ligamentos, durante partida contra o “Galo” (*). Passou quatro meses em tratamento e, em 1973, com a chegada de Nelinho, perdeu a posição - para sempre. Voltou a jogar, mas improvisado como zagueiro e volante. Esteve emprestado à Caldense, para um amistoso, no mesmo ano, e tornou-se ex-cruzeirense em fevereiro de 1974. Foi embora levando na bagagem os títulos de campeão da Taça Brasil-1966; dos Campeonatos Mineiros-1965/66/67/68/69/72/73 e Taça Minas Gerais-1973. Pedro Paulo defendeu, ainda, os times do Atlético-PR, Paysandu-PA, União Bandeirantes-PR, Emelec-EQU, Vitória-BA e Náutico-PE, este em 1974. Foi autor de um feito inesquecível: em 9 de julho de 1966, marcou gol 100 da história do clube, em Cruzeiro 4 x 1 Uberlândia, pelo Estadual. Aconteceu no Mineirão, aos 22 minutos do segundo tempo, com o treinador Aírton Moreira escalando este time: Raul; Pedro Paulo, Vavá, Cláudio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Batista e Hílton Oliveira. Só 3.169 pagantes testemunharam. Pedro Paulo viveu por 62 anos, até 14 de fevereiro de 2008, levado por um acidente vascular cerebral, sofrido no 25.12.2007.
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MÁRIO TITO O Cruzeiro foi buscá-lo no Bangu, pelo qual fora eleito melhor zagueiro central do Campeonato Carioca-1962, atuando com cabeça erguida, muita tranquilidade e demonstrando intimidade com a bola, sobretudo quando a liberava, até pegando pela frente feras como os botafoguenses Garrincha, Amarildo e Quarentinha; os rubro-negros Dida e Henrique, e o cruzmaltino Saulzinho, entre outros “matadores”. Mário Tito, zagueiro de ótima estatura –1m87cm– para a sua época – calçava 42. Jogava bem, era elogiado, mas não conquistava títulos. Só mudou a sorte durante a temporada-1966, quando os “Mulatinhos Rosados de Moça Bonita” carregaram o caneco carioca (sem discussão), o que favoreceu a sua contratação pelo Cruzeiro. Ele dizia-se cansado ver a sua equipe boa, certinha e chegando sempre perto do título, que não o conquistava sob as críticas de ser considerado um “time sem camisa para ganhar campeonato”. Com a turma da “Raposa”, a coisa mudou. Por ser de família pobre, Mário Tito foi obrigado a começar as trabalhar muito cedo, para ajudar nas despesas de casa. Por causa daquilo, só frequentou a escola até o final do curso fundamental. E nunca mais voltou a sentar-se em um banco escolar. Nascido, em Bom Jardim-RJ, em 6 de novembro de 1940 – filho de Francisco Tito com Etelvina da Conceição Tito – foi em sua cidade que ele começou a sua história boleira. Aos 13 de idade, defendia os infantis do Bom Jardim Esporte Clube, disputando o campeonato da Liga Friburguense. Inicialmente, ele era ponta-de-lança, espécie de homem-gol, antigamente. Aos 17, já jogava pelo time principal, o que o encorajou a tentar a sorte no Vasco da Gama. Mas, como não lhe deram chance de mostrar serviço, voltou para a sua terra e foi visto jogando pelo dirigente banguense Euzébio de Andrade, fazendeiro na região. 16
Por ter gostado muito do estilo de Mário Tito, o cartola levou-o para Moça Bonita, onde deram-lhe o seu primeiro contrato para assinar, como profissional, em 1º de outubro de 1959, ganhando Cr$ 6 mil cruzeiros mensais. Ajuizado, pegou as primeiras economias e comprou uma casa, em sua terra, além de um caminhão. Embora tivesse se tornado banguense, devido ao mais importante dirigente alvirrubro, Mário Tito não foi logo para o grupo principal. Passou pelos aspirantes, até ser promovido pelo treinador Elba de Pádua Lima, o Tim. Dono de olhos castanhos escuros e de cabelos pretos, Mário Tito mantinha o peso de 72 quilos para jogar bem, sem precisar de fazer regime. Católico, devoto de Nossa Senhora de Fátima, casado, com Maria da Glória, ele não gostava de conversar sobre política partidária, como a maioria dos atletas do futebol. Preferia ouvir música, ir ao cinema, traçar uma saborosa maionese com legumes e fumar cigarros da marca “Minister”. Mário Tito chegou ao Cruzeiro, em 1968, levando no currículo só os títulos de campeão do Torneio Início-1964 (espécie de festival de futebol na abertura das temporadas estaduais, com jogos de tiro curto) e do Estadual-1966. De feito grande, teve, também, a oportunidade de vestir a camisa da Seleção Brasileira, jogando ao lado de futuros companheiros, pois o time era um autêntico selecionado mineiro representando a Confederação Brasileira de Desportos no Campeonato Sul-Americano. O grupo foi reforçado pelo lateral-direito Jorge, campeão carioca-1960, pelo América, e o artilheiro gaúcho Flávio “Minuano”, do Internacional. Os demais jogadores eram de times paulistas interioranos - Ilton Vacari e Amauri, do (Guarani, de Campinas; Amauri Silva e Marco Antônio, do Comercial, de Ribeirão, e Oswaldo Taurisano, do Santos. Vale ressaltar que o atacante Marco Antônio (*) e o zagueiro Procópio (*) (do Fluminense), eram muito familiares ao torcedor mineiro, por terem passado pelo Cruzeiro. 17
Naquela disputa, Mário Tito ele atuou em Brasil 0 x 3 Argentina, no estádio Hernan Siles Zuazo, em 24 de abril de 1963, em La Paz, a capital boliviana, sob arbitragem do peruano Arturo Yamazaki, com o time, dirigido pelo treinador Aymoré Moreira, tendo sido: Marcial; Jorge, Mário Tito (William), Procópio e Geraldino; Hílton Vaccari (Ari) e Hílton Chaves; Amauri, Marco Antônio (Amauri Silva), Flávio e Oswaldo.
Mário Tito é o quinto, em pé, da esquerda para a direita, nesta foto publicada pela Revista do Esporte
A vida cruzeirense de Mário Tito começou pelo final de 1968, tendo a “Raposa” pago Cr$ 80 mil cruzeiros pelo seu passe, grana nada desprezível para aquele momento do futebol brasileiro, que ainda chorava eliminação na primeira fase da Copa do Mundo da Inglaterra-1966. Em sua primeira temporada mineira, ele ficou campeão estadual, no que, também, fechou a série de cinco títulos seguidos, tendo disputado 20 dos 25 jogos. 18
Mário Tito vestiu a camisa estrelada, pela primeira vez, em 20 de março de 1969, durante amistoso disputado na cidade paulista de Franca, formando dupla de zaga com Fontana, no Estádio Palmeiras e com o Cruzeiro mandando 4 x 0. Seu último jogo cruzeirense rolou em 14 de março de 1971, no Mineirão, valendo pela primeira rodada do Campeonato Mineiro, no 0 x 0 Flamengo, de Varginha. Naquele dia, só 3.738 torcedores prestigiaram a partida, sem os principais jogadores estrelados que excursionavam ao exterior. De volta ao futebol carioca, Mário Tito defendeu o Olaria, entre 1972 a 1974, seguindo-se uma rápida passagem pelo baiano Galícia, em 1975, mesma temporada em que retornou ao club e da Rua Bariri, para pendurar as chuteiras. Viveu o seu último dia de vida, no Rio de Janeiro, em 9 de março de 1994.
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FONTANA Zagueiro temível, ele entrou para o time dos “homens maus” da bola em seus tempos de futebol carioca. Aproveitando as suas características de muita virilidade, as páginas humorísticas dos jornais diziam que “atacante para entrar na pequena área do Vasco da Gama precisa, antes de mais nada, fazer o testamento”. Fontana tinha rápida explicação para a brincadeira: não poder jogar bonito. Se o fizesse, afirmava, muita gente faria o nome em cima dele. E dizia ter aquela fama sido fabricada por jornalistas que não valorizavam a missão de entrar em campo para evitar gols. José de Anchieta Fontana era capixaba, nascido em Santa Teresa, em 31 de dezembro de 1940. Viveu por 39 anos, até o dia 9 de setembro 1980, quando o seu coração o tirou de uma pelada entre amigos. Saiu desta vida para virar lenda dos gramados. Fontana tinha boa estatura para um zagueiro de sua época, 1m83cm - jogava pesando 79 quilos. O início da carreira fora pelo Vitória, da capital capixaba, em 1958, mas os primeiros títulos de campeão estadual saíram pelo Rio Branco, também de sua terra, em 1959 e em 1962, esta a temporada em que tornou-se vascaíno. Campeão da Taça Guanabara-1965, Fontana ganhou, em 1966, convocação para os treinamentos da Seleção Brasileira que iria tentar o tri na Inglaterra. Mas não chegou até a Copa do Mundo, tendo 20
sido dispensado quando já estava na Europa, por motivo de contusão. No mesmo 1966, foi campeão do Torneio Rio-São Paulo, dividindo o título com Corinthians, Santos e Botafogo, porque a Confederação Brasileira de Desportos (atual CBF) não encontrou datas para uma decisão. A história cruzeirense de Fontana começou em 1969. Ele encaixou-se muito bem no time dirigido pelo treinador Gérson dos Santos, formando zaga, inicialmente, com Raul Fernandes – depois, com Mário Tito. Estreou em 26 de janeiro, nos 4 x 0 Valério, pelo Campeonato Mineiro, diante de 21.601 pagantes, no Mineirão - Raul; Pedro Paulo, Raul Fernandes, Fontana e Vanderlei; Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal, Tostão (Evaldo), e Hílton Oliveira (Rodrigues) foi o time do dia. Fontana esteve presente no dia em que a “Raposa” mordeu o caneco de pentacampeão, a três rodadas do final do Campeonato Mineiro, em 22 de junho de 1969, no Estádio Salles de Oliveira, em Juiz de fora, vencendo ao Tupi, por 1 x 0 - Raul; Raul Fernandes, Mário Tito, Fontana e Vanderlei; Piazza e Zé Carlos (Wilson Almeida); Natal, Evaldo, Tostão, Dirceu Lopes (Palhinha) e Rodrigues mandaram ver. XERIFADAS – Fora dos gramados, Fontana era um pacato cidadão. Embora fosse considerado bonitão e muito paquerado, não badalava pelas noites belo-horizontinas, preferindo ficar em casa, assistindo TV e ouvindo os bolerões cantados por Altemar Dutra. Sobre a pecha de “xerifão”, ele retrucava, dizendo-se zagueiro voluntarioso que entrava em campo só para vencer.
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Nesta foto, reproduzida de “Placar”, Fontana é sexto, em pé, da esquerda para a direita, na formação que sucedeu ao “Time do Postal” e que manteve Vanderlei, Piazza, ambos do seu lado, e Zé Carlos, segundo agachado, também, da esquerda para a direita. Note-se que, nesta nova fase, a camisa amarela de Raul foi trocada pela bordô, do goleiro Hélio.
Em 1970, Fontana voltou a formar dupla de zaga com Brito, revivendo o dueto famoso por tantas catimbas durante as seis temporadas em que estiveram juntos com a camisa do Vasco da Gama. Em 1972, em sua derradeira temporada de bola – depois foi ser fazendeiro, no Espírito Santo –, Fontana participou de uma das histórias mais inusitadas do Cruzeiro, uma excursão que durou 70 dias e 18 amistosos por três continentes – América do Norte, Oceania e Ásia –, levando vários chefes de estados a estádios. Na época, o seu colega de zaga era o argentino Perfumo e o treinador Orlando Fantoni (*). O último jogo com a camisa cruzeirense rolou em 14 de dezembro de 1972, no Maracanã, em 1 x 3 Vasco da Gama, pela segunda fase do Campeonato Brasileiro, diante de 66.254 pagantes. O treinador já 22
era Ílton Chaves e o time teve: Raul; Lauro, Darci Menezes, Fontana e Vanderlei; Piazza e Zé Carlos e Dirceu Lopes; Roberto Batata (Eduardo Amorim), Palhinha e Rinaldo. NAMORO COM O INIMIGO – Em 1964, o então Anchieta, como era chamado pela rapaziada do time do Vitória-ES, enfrentava o selecionado mineira, nos tempos dos antigos Campeonatos Brasileiros de Seleções Estaduais. No jogo em Vitória, ele não aliviou as canelas dos visitantes, que prometeram ir à forra, em Belo Horizonte. Mas não aconteceu nada, a não ser ele ter gostado muito de Belo Horizonte e pedido ao amigo Bueno, que fizera dupla de xerifes com ele no Espírito Santo, para tentar com o Atlético-MG levá-lo, também. O tempo foi passando e Bueno, segundo Fontana, só o enrolava, “talvez, temendo que eu tomasse o seu lugar no time do Galo”, disse à Revista do Esporte de Nº 524, de 22.03.1969. Veio, então, 1968 e o presidente atleticano, Fábio Fonseca, foi a São Januário, pedir ao Vasco os empréstimos dos atacantes Bianchini e William, e do lateral-esquerdo Silas. Fontana aproveitou a ocasião e, diante do presidente vascaíno, João Silva, na maior cara-de-pau, atacou: - Doutor Fábio, porque o senhor não me leva, também? – ele seria o cara ideal para entrar na zaga atleticana, mas não coube no pacote, porque se recuperava de contusão e levaria 30 dias para ficar curado e de outros tantos para retomar a forma física. SELEÇÃO BRASILEIRA – Substituto de Procópio (*) no time cruzeirense, Fontana tornou-se um autêntico caudilho na zaga. Passou a sonhar com volta à Seleção Brasileira, que servira durante os preparativos para a Copa do Mundo-1966, na Inglaterra. Fez 11 jogos, com oito vitórias, dois empates e uma derrota. E o mais importante: diante de 50 mil torcedores, participou de um jogo do tri, em 10 de junho de 1970, no Estádio Jalisco, em Guadalajara, durante a primeira Copa do Mundo promovida pelo México (a segunda foi em 1986). Quis o destino que ele fosse campeão mundial formando a ve23
lha zaga na qual fizera fama ao lado de Brito – Felix; Carlos Alberto Torres, Brito, Fontana e Everaldo (Marco Antônio); Piazza, Clodoaldo (Edu Américo) e Paulo César Lima; Jairzinho, Tostão e Pelé foi o time escalado pelo técnico Mário Jorge Lobo Zagallo.
Fontana, em foto de www.cbf.com.br, fez dupla de zaga com Brito, segundo , em pé, da esquerda para a direita, no jogo contra a Romênia, pela Copa do Mundo-1970
A estreia canarinha de Fontana foi amistosamente, em Brasil 3 x 1 Peru, no 8 de junho de 1966, no Maracanã, ainda vascaíno, escalado por Vicente Feola, que mandou a campo: Ubirajara Mota; Fidélis, Brito, Fontana e Oldair; Roberto Dias e Denílson; Paulo Borges, Alcindo, Tostão e e Edu Américo, o que seria um time B, tendo em vistas que foram formados quatro selecionados para os treinos. Como cruzeirense, Fontana disputou sete partidas canarinhas, todas em 1970 – 0 x 2 e 2 x 1 Argentina; 4 x 1 Seleção Amazonense; 0 x 0 Paraguai; 3 x 1 Seleção Mineira e 3 x 0 Irapuato, do México, além da já citada diante da Romênia. 24
VANDERLEI Lateral-esquerdo, esteve cruzeirense por 538 jogos, entre 1969 a 1978. É o sétimo atleta com o maior número de partidas pelo time estrelado – Zé Carlos (633), Dirceu Lopes (610), Piazza (566), Raul (557) e Eduardo Amorim (556) estavam à sua frente, além, do goleiro Fábio, ainda em atividade, já tendo atingido os 8000 jogos. Vanderlei Lázaro nasceu na mineira Uberaba, em 20 de junho de 1947. Antes do futebol, foi servente de pedreiro, ajudando o pai e um irmão na construção de casas, em sua terra, o que era a rotina dos homens de sua família. A vida boleira começou aos seus 14 de idade, quando aproveitava as folgas do horário de almoço para rolar uma bolinha com os colegas de trabalho. Até que, um dia, ele decidiu ir ao Nacional, clube de sua cidade, pedir para fazer um teste no time juvenil. Testado e aprovado, ganhou títulos na categoria-1964/65. Em 1966, o treinador João Avelino experimentou o desempenho de Vanderlei com a camisa 6 do time principal, e dali por diante ninguém mais a usou. Na temporada seguinte, com o Nacional disputando a principal divisão do Campeonato Mineiro, ele foi o melhor defensor da equipe e eleito a revelação da disputa. Motivou a sua contratação, pelo América-MG, que o teve convocado para uma seleção estadual que enca25
rou paulistas e carioca naquele mesmo 1967. Antes de chegar ao Cruzeiro, Vanderlei esteve emprestado ao Corinthians, mas não conseguiu ganhar a posição, pois o titular Edson já havia sido convocado para a Seleção Brasileira e ainda tinha bastante cartaz. Com a camisa cruzeirense, Vanderlei deixou 14 gols marcados em suas subidas ao ataque, tendo participado da conquista de oito títulos. Mesmo assim, era do time dos pouco badalados.
Darci Menezes, Piazza, Moraes, Nelinho, Vanderlei e Raul, em pé, da esquerda para a direita; Roberto Batata, Zé Carlos, Palhinha, Jairzinho e Joãozinho foi uma das formações da campanha, em foto reproduzida de www.scoopnet.com
Dos títulos raposeiros conquistados pelo “Fantasminha”, o apelido de Vanderlei entre os companheiros, para os quais tocava cavaquinho durante as concentrações, o mais importante foi o da Taça Libertadores-1976. Das 13 partidas, com 11 vitórias um empate e uma queda, ele participou de 12: 07.03 - Cruzeiro 5 x 4 Internacional-RS; 14.04 - Luqueño-PAR 1 x 3 Cruzeiro; 18.03 - Olímpia-PAR 2 x 2 Cruzeiro; 26
24.03 - Cruzeiro 4 x 1 Luqueño-PAR; 28.03 - Internacional 0 x 2 Cruzeiro. 04.04 - Cruzeiro 4 x 1 Olímpia; 09.05 - LDU-EQU 1 x 3 Cruzeiro;12.05 - Alianza-PER 0 x 4 Cruzeiro; 30.05 - Cruzeiro 4 x 1 LDU; 21.07 - Cruzeiro 4 x 1 River Plate-ARG; 28.07 - River Plate 2 x 1 Cruzeiro; 30.07 - Cruzeiro 3 x 2 River Plate. Ficou de fora só da mais fácil: 20.05 - Cruzeiro 7 x 1 Alianza, no Mineirão - Raul, Nelinho, Moraes e Eduardo Amorim participaram de todas, tendo o time da partida final sido: Raul. Nelinho, Moraes, Darci Menezes e Vanderlei; Piazza (Valdo), Zé Carlos e Eduardo; Ronaldo, Palhinha e Joãozinho foi o time da finalíssima, escalados pelo treinador Zezé Moreira. Vanderlei estreou cruzeirense em 26 de janeiro de 1969, no Mineirão, escalado pelo treinador Gérson dos Santos, nos 4 x 0 Valério, pelo Campeonato Mineiro, diante de 21.601 pagantes – Raul: Pedro Paulo, Raul Fernandes, Fontana e Vanderlei; Piazza e Zé Carlos; Natal, Dirceu Lopes, Tostão (Evaldo) e Hílton Oliveira (Rodrigues foi o time. O último jogo foi em 12 de julho de 1978, diante de 12.366 pagantes, em Cruzeiro 0 x 0 Vitória-BA, por 0 x 0, no Mineirão, pela terceira fase da Copa do Brasil - Raul; Flamarion, Zezinho, Marquinhos e Vanderlei; Nélio, Erivelto e Eduardo Amorim; Revetria (Eli Carlos), Lívio (Vicente) e Joãozinho foi a equipe escalada pelo treinador Zé Duarte.
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WILSON PIAZZA
De inicio, ele era só Wilson, como os muitos xarás que rolavam a bola pelos gramados mineiros. Um dia, o técnico Mário Celso, o Marão, acrescentou o Piazza ao seu nome futebolístico, para diferenciá-lo dos homônimos que não jogavam nada. E, com nova assinatura, surgiu um dos principais atletas do Cruzeiro das décadas-1960/1970. 28
Marão marcou muito a carreira de Piazza, o nome que terminou ficando mais na boca dos locutores esportivos. Além de dar-lhe um chamamento pomposo, na época em que prevaleciam os apelidos esquisitos no futebol brasileiro, o treinador tirou-lhe do time amador do SESC-Serviço Social do Comércio e levou-lhe para o Siderúrgica, que disputava o campeonato estadual. O restante foi por conta do seu talento, o que rendeu-lhe dezenas de títulos com a camisa celeste, a cor de sua preferência, como dizia. Wilson da Silva Piazza nasceu na pequena mineira Neves, em 25 de fevereiro de 1943. Filho de José Piazza, com Regina da Silva Piazza, ganhou cinco irmãs – Glória, Meire, Marília, Regina e Marlene – e um irmão – Antônio. Quando firmou-se como titular cruzeirense, já sonhava com a Seleção Brasileira. E não só tornou-se um canarinho, como foi seu capitão e, também, tricampeão mundial, durante a Copa do Mundo México-1970. Coincidindo com o a explosão de talentos do time da “Raposa”, a partir de 1965 e que rendeu um pentacampeonato estadual, além do título da Taça Brasil-1966, Piazza recebeu os seus primeiros prêmios como o melhor de sua posição nos Estaduais-1965/1966, formando o meio-de-campo celeste com Evaldo. Carregou o Troféu Guará, que a Federação Mineira de Futebol oferecia à seleção da temporada, homenageando um dos grandes goleadores da história do Atlético-MG. Católico praticante, devoto de Santo Antônio, Piazza fazia o sinal da cruz ao entrar em campo, mas não usava amuletos. Só via Deus com poder para tirar a vida de alguém. Declarava-se sujeito de muita fé e agradecia ao “Senhor” e ao treinador Marão pelo seu sucesso na carreira, iniciada em 1962. Embora não acredite em macumba, Piazza diz respeitar todas as religiões. Só não respeita cirurgia plástica, por vaidade. Admite, porém, que o perfume influencia no charme da mulher, embora não o considere indispensável. Mulher, para ele, deveria ser simples e natural. Pelos seus inícios de carreira, Piazza não gostava de conversar so29
bre política. Quis o destino, porém, que ele viesse, mais tarde, a ser vereador, líder classista, secretário municipal de Esportes de Belo Horizonte, sócio-fundador e primeiro presidente da Associação de Garantia ao Atleta Profissional de Minas Gerais, entre outros atos políticos. Antes, disso preferia falar sobre futebol, música popular – adorava a italiana “Al di lá” – e cinema, sobretudo o filme “Imitação da vida”. Pelé, pela opinião de Piazza, é o máximo que o futebol já apresentou. Armando Marques, o número 1 da arbitragem do seu tempo; o Mineirão, o melhor estádio em que jogara e o avião o grande invento humano. Sobre si, apontava honestidade e sinceridade como as suas maiores virtudes. Embora fosse um jogador com fama de usar o cargo de capitão do time para reclamar, ponderadamente, com os árbitros, certa vez, Piazza discutiu com o paulista Olten Aires de Abreu, por vê-lo prejudicando demais o seu time, e foi expulso de campo. Garantia, porém, só falar o necessário em campo. Ao contrário de muitos colegas, Piazza considerava a concentração para os jogos indispensável. Afirmava que camisa não ganhava partidas e que, se o time não corresse, ficaria difícil vencer. Modesto, ele declarava-se “um jogador útil”. Menor prêmio? Cr$ 100 cruzeiros, como juvenil do Renascença, clube de bairro belo-horizontino, onde assinou o primeiro contrato, em 1962, ganhando Ncr$ 120 novos cruzeiros mensais. Inicialmente, Piazza foi centroavante. Custou Ncr$ 1 mil cruzeiros, após ter sido eleito uma das revelações do campeonato juvenil mineiro-1961. A mudança permitiu-lhe deixar o emprego, no Banco Mercantil de Minas Gerais, para dedicar-se, inteiramente, ao futebol. Valeu a pena, pois não demorou a chegar à Seleção Brasileira, tornando-se campeão, aos 24 de idade, em 1967, da Copa Rio Branco (*), com os 0 x 0, 2 x 2 e 1 x 1, com o Uruguai, no Estádio Centenário, em Montevidéu. Elogiado pelo bom futebol e a liderança, capitaneando, cresceu o seu prestígio e esteve cogitado, pelo técnico Vi30
cente Feola, para os treinamentos dos selecionados que disputaria a Copa do Mundo-1966, na Inglaterra. Pelo time canarinho, Piazza disputou 65 jogos, com 45 vitórias, 14 empates e seis quedas. Além da Copa Rio Branco-1967, foi campeão da Copa do Mundo-1970, atuando como quarto-zagueiro, e da Copa Roca-1971, disputada contra os argentinos, e da Copa Independência-1972, comemorativa dos 150 anos de independência do Brasil. Disputou, ainda, a Copa do Mundo-1974 – Félix; Everaldo, Jurandir, Roberto Dias e Sadi; Piazza e Dirceu Lopes; Natal/Paulo Borges, Tostão, Alcindo/Edu Antunes/Paulo Borges e Volmir/Hílton Oliveira foram os companheiros de primeira seleção nacional. ONDA DO GALO - Após fratura em uma das pernas, em um jogo da Seleção Brasileira, Piazza sofreu bastante para voltar a jogar. Muitos achavam que a sua carreira havia chegado ao final, pois ele treinava e não passava nos testes para jogar. Quando pôde, não conseguiu concluir o compromisso. Para piorar, Zé Carlos, que o substituíra, vinha jogando demais. Em determinado momento, perdeu a crença na volta por cima. Foi, então que o maior rival cruzeirense, o Atlético-MG, ajudou Piazza a voltar a jogar. Dirigentes do “Galo” lembraram-no de que, pela nova regulamentação do Conselho Nacional de Desportos (já extinto), o seu passe, brevemente, teria um preço “X”. O Cruzeiro descobriu o interesse atleticano e inquiriu ao seu médico se o seu atleta poderia voltar a campo, como antes. Com resposta positiva, Piazza teve o seu contrato renovado, recuperou a vaga de titular e, com 21 de idade, seguiu explodindo talento. Para o treinador Orlando Fantoni, bar31
rar Zé Carlos, para Piazza voltar ao time, seria uma tremenda estupidez, como, também, seria deixa-lo no banco dos reservas. Um dia, o antigo atleta cruzeirense Bengala, que havia sido treinador e seguia ligado ao clube estrelado, como benemérito e conselheiro, sugeriu barrar o meia Evaldo, para o seu trabalho ser feito, alternadamente, por Zé Carlos e Dirceu Lopes. Com isso, Piazza voltaria a sua velha função. Fantoni não acolheu a ideia. Mas Gérson dos Santos, sobre quem Bengala tinha forte ascendência, topou. Com os treinadores Orlando Fantoni e Aírton Moreira (*), o Cruzeiro formava um tripé no meio-de-campo. Com Gérson dos Santos, passou para um quadrado. Por conta de uma alteração tática, Piazza readquiriu o seu prestígio, voltou ao escrete nacional e a atuar com o antigo vigor, além de maior maturidade. Além de campeão mineiro-1965/66/67/68/69/72/73/74/75, ajudou o clube a conquistar mais quatro títulos não-oficiais. O final do relacionamento Piazza/Cruzeiro foi traumático. Após 14 temporadas juntos, ele recebeu o passe livre, aos 34 de idade. Então, foi à Justiça, cobrando indenização. À época, justificou à revista carioca Manchete – Nº 1.174, de 19.10.1974 – que o fazia para que “o meu gesto sirva de exemplo aos demais jogadores, muitas vezes iludidos e explorados pelos dirigentes...” Por intermédio do advogado Dílson Aquino, o já veterano Piazza questionou a validade técnica da atitude cruzeirense e cobrou mais ações do Estado na regulamentação da profissão de atleta de futebol. Questionou contrato de trabalho, após 10 temporadas consecutivas com o mesmo empregador, ganhar estabilidade, pela Consolidação da Leis do Trabalho-CLT. Piazza, ainda, cobrou não possuir o jogador de futebol direitos já adquiridos pelo artista teatral, por exemplo. E jurava não ter interesse financeiro na questão, só no serviço que prestaria à sua categoria trabalhadora Quando desentendeu-se com o Cruzeiro, Piazza era um dos três “dinossauros” do grande time surgido em 1965, juntamente com o 32
goleiro Raul e o meia-atacante Dirceu Lopes. Parou de jogar em 1979, devido uma sinfisite púbica. É lembrado como tendo sido o maior volante que vestiu a camisa azul cruzeirense. Fã de uma feijoada e de dobradinha, o pisciano Piazza, com 1m75cm de altura e 80 cm de cintura, não escondia ser fumante e proprietário de duas casas e três terrenos, na época do tri mineiro. Com 556 jogos, entre 1964 a 1977, ele é o quarto atleta que mais esteve raposeiro, atrás do goleiro Fábio e dos meias Zé Carlos e Dirceu Lopes. Estreou cruzeirense em 9 de março de 1964, com 3 x 2 Seleção de Barbacena-MG, amistosamente, no Estádio Santa Tereza, dirigido por Marão - Fábio; Massinha, Vavá, Dilsinho e Emerson; Piazza e Brandãozinho; Gradim, Paulo, Tostão e Hílton Oliveira foi a rapaziada. A última partida do Piazza estrelado foi foi em 29 de junho de 1977, em Cruzeiro 2 x 0 ESAB, pelo segundo turno do Estadual, no Mineirão - Raul; Nelinho Zezinho, Ozires e Vanderlei; Piazza (Eli Mendes), Zé Carlos e Eduardo Amorim; Neca, Eli Carlos (Revetria) e Joãozinho foi o time, escalado por Yustrich. Piazza saiu de cena dos gramados por não conseguir se recuperar de uma lesão no tendão de aquiles. Por aquele momento, Carmine Furletti e Edmundo Lambertucci, figuras que haviam ajudado a construído o grande Cruzeiro, já eram oposição ao presidente Felício Brandi que, sem a liderança do seu capitão junto ao grupo, viu a “Raposa” passar seis temporadas sem títulos, enquanto os cartolas brigavam entre si.
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ZÉ CARLOS
O futebol dele era de deixar noivas arrepiadas. Pelo menos, a de Felício Brandi, presidente do Cruzeiro. A moça começou a ficar nervosa, na igreja, achando que o noivo desistira do casamento. Nem adivinhava que o sumiço do nubente era por motivo muito mais do que justo (do ponto de visto do noivo, é claro). 34
Após nove viagens à mineira Juiz de Fora, finalmente, o Brandi conseguira acertar a contratação do apoiador Zé Carlos. Só com o caso fechado, foi agradecer a Deus por ter celebrado um dos melhores casamentos: do craque com a torcida cruzeirense. José Carlos Bernardes, nascido, em 28 de abril de 1945, começou a mostrar veneno defendendo o time do Tupi, de sua terra. Mas assinou o primeiro contrato profissional com o rival Sport, em 1962. Convocado para a seleção municipal que enfrentou um selecionado de Belo Horizonte, entusiasmou tanto ao presidente da “Raposa” que o homem só se aquietou quando o teve por seu jogador. Dia de grande comemoração do casal Jorge Bernardo e Ana Filomena (e de mais seis irmãos, três homens e três mulheres). Zé Carlos, apelidado por Zelão, vestiu a camisa estrelada entre 1965 a 1977, mostrando-se um dos apoiadores mais clássicos e modernos de sua época, com ótima qualidade no passe e sendo, também, grande “desconstrutor” de jogadas (do adversário, evidentemente). Isso lhe rendeu várias faixas de raposeiro campeão – Taças Brasil-1966; Minas Gerais-1973; Libertadores-1976; dos Estaduais de 1966 a 69; de 1972/75/77, e do Torneio Inicio do Campeonato Mineiro-1966. O Zé chegou ao Cruzeiro arrasando. Em seu primeiro treino, aplicou um “chapéu” (drible aéreo) no grande nome do time, o meia-atacante Dirceu Lopes, deixando o treinador Aírton Moreira “embasbacado”, como diria o “mineirinho”. Havia poucos torcedores presentes, mas quem viu deu razão ao presidente Felício Brandi. Zé Carlos, mesmo arrasando durante o seu primeiro treino cruzei35
rense, passou um bom tempo na suplência de Wilson Piazza. Disputou alguns jogos do Torneio Roberto Gomes Pedrosa (*) e da Taça Libertadores, e só foi fixado no time principal quando uma contusão barrou o titular. Depois, foi difícil tira-lo do time. Convocado, por Aírton Moreira, para uma seleção mineira que enfrentou cariocas e paulistas, Zé Carlos empolgou tanto, que Vasco da Gama e Corinthians chegaram a oferecer Cr$ 200 mil cruzeiros pelo seu passe, que custara Cr$ 7 mil e 500, ao Cruzeiro. Devoto de Nossa Senhora Aparecida, o craque celeste sempre procurou manter o peso, de 67 quilos, condizentes com o seu 1m,69cm. Usava chuteiras-41 e não exagerava diante der um prato com bife e batatas fritas, para manter a cintura com 75cm. Dono de tanta classe, seria natural que Zé Carlos chegasse à Seleção Brasileira. Quem primeiro o convocou foi Aymoré Moreira (irmão de Aírton). Disputou amistosos, entre 1968 e 1969, e estava no grupo que João Saldanha preparava para disputar a Copa do Mundo-1970, no México. Porém, quando aquele foi trocado, por Mário Jorge Lobo Zagallo, este o dispensou. O “Almanaque do Cruzeiro”, maior levantamento sobre os jogos do clube, pesquisado por Henrique Ribeiro, confere a Zé Carlos 619 jogos e 83 gols com a camisa celeste. A estreia foi em 26 de janeiro de 1966, durante o amistoso Cruzeiro 5 x 4 Rapid Viena, no Mineirão, tendo o treinador Aírotn Moreira lhe dado a chance de jogar contra os austríacos durante o segundo tempo, substituindo Wilson Piazza – Tonho (Fábio); Pedro Paulo, William, Vavá e Neco (Tenório); Piazza (Zé Carlos) e Dirceu Lopes; Natal (Rossi), Tostão, Marco Antônio e Hílton Oliveira. A última vestida de camisa estrelada rolou em 2 de outubro de 1977, em Cruzeiro 3 x 2 Atlético-MG, valendo o título mineiro da temporada – Raul; Nelinho, Zezinho, Darci Menezes e e Vanderlei; Zé Carlos (Valdo), Flamarion e Erivelto (Lívio); Eduardo Amorim, Revetria e Joãozinho, comandados por Procópio Cardoso Neto foi a escalação. 36
Após deixar o Cruzeiro, Zé Carlos defendeu o Guarani, de Campinas, ficando campeão brasileiro-1978, e Botafogo. Jogou até 1983 e não se desligou do Cruzeiro, formando uma parceria em uma escolinha de futebol, em Sete Lagoas-MG. Além disso, trabalhou para o clube até 2013, quando pediu desligamento e afastou-se do futebol. Viveu até 12 de junho de 2018, quando encarava problemas provocados por um acidente vascular cerebral. Zé Carlos experimentou, também a vida de treinador. Em 1986, viveu a glória de acabar com a hegemonia do catarinense Joinville, de oito campeonatos estaduais consecutivos, e carregou a taça para as prateleiras do Criciúma, primeiro caneco do “Tigre”, após deixar de ser Comerciário. Dirigiu sua equipe em 133 jogos oficiais, por duas temporadas, com 57% de aproveitamento.
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NATAL
Diziam que o “Diabo Louro” endiabrava mais do que o capeta
Rolava um festival de futebol para garotos de escolinhas, em Belo Horizonte. No time do Itaú, de Contagem – cidade industrial das vizinhanças da capital mineira – jogava um garoto que, enfrentando o Cruzeiro, aprontou. Depois da partida, ele nem teve tempo de respirar. Um sujeito chamado Orlando Vassali aproximou-se dele e o intimou a ser, imediatamente, um cruzeirense. Assustado, o menino não só foi, com tornou-se o maior ponta-direita da história do clube. Driblar era uma brincadeira para o moleque que, logo, ganhou o apelido de “Diabo Louro”. Aprontava horrores pra cima dos marcadores, principalmente quando já era juvenil e foi campeão mineiro, atuando ao lado do também recém chegante Dirceu Lopes. Aquela driblação toda que fazia Natal gostar de jogar para a torcida era causa de sua admiração pela arte de Mané Garrincha, vista pelos videoteipes da Copa do Mundo-1962, no Chile. Pouco depois daquela competição, porém, ele intuiu que precisava ter estilo próprio, após passar por uma fase em que não vinha conseguindo suces38
so como “papel carbono”, como qualificou-se para a Revista do Esporte - Nº 413, de 04.02.1967. E deixou o “Torto” de lado. Natal de Carvalho Baroni não sabia explicar porque os seus pais – Mário Baroni e Nádia de Carvalho Baroni – lhe deram um pré-nome que não batia com uma data comemorativa do cristianismo, pois ele nascera em um 24 de outubro (de 1946) – no bairro belo-horizontino Nova Granada. Irmão de Vera, Antônio, José Antônio, Lúcia, Maria, Marinho, Solange e Haidê, ele chegou a 1m68cm de altura e mantinha o peso de 60 quilos para não perder o bom pique com as suas chuteiras de número 38. Quando o Cruzeiro estava formando a geração que seria pentacampeã estadual e ganharia a Taça Brasil (espécie da atual Copa do Brasil), a rapaziada não tinha noção do que estava acontecendo, sobretudo porque o presidente do clube, Felício Brandi, pedia-lhe para não se preocupar com resultados. DANAÇÃO - Natal virava mais fera, ainda, quando enfrentava o maior rival cruzeirense, o Atlético-MG. De tanto humilhar o marcador Warley, os galenses foram ao Uruguai e contrataram o terrível Cincunegui, em uma quarta-feira, para este marca-lo no domingo que seria de decisão de título estadual. Resultado: durante 85 minutos, o gringo não viu a cor da bola. Descia a porrada, para não passar por mais vexames, mas, por castigo, Natal passou-lhe a pelota por entre as pernas e lançou Tostão, que mexeu no placar. No entanto, o lance mais incrível de Natal diante do “Galo” rolou no 18 de setembro de 1966, quando foi papai do primeiro dos seus cinco filhos. Disseram que ele fizera um cruzamento e terminara marcando um gol, por acaso, o que sempre contestava e jurava ter, mesmo, tentado acertar a rede. À revista do Cruzeiro - Nº 15, de junho de 1997 - ele alegou: “Nunca vi ninguém fazer um cruzamento (para a pequena área) do meio do campo”. Para o gol espírita acontecer, houve uma falta, o apoiador Zé Carlos tocou na bola para Natal e ele arriscou o chute, aos 45 minutos 39
do segundo tempo. A pelota passou por um ângulo superior, na interseção do poste transversal com o vertical, deixando impressionados 97.965 torcedores que foram ao Mineirão aplaudir Raul; Hilton Chaves (*), William (*), Cláudio e Neco; Piazza e Zé Carlos; Natal, Tostão (autor do primeiro gol, aos 25 minutos da etapa inicial), Evaldo e Hilton Oliveira. Por aquela mesma temporada, Natal aprontou muito, também, diante do Santos, de Pelé, decidindo a Taça Brasil. A geração cruzeirense da época era desconhecida fora de Minas Gerais e a defesa santista lenta. Dentro de um gramado muito grande, no Mineirão, Natal, Tostão e Dirceu Lopes, principalmente, sumiam na frente dos visitantes, que não tinham velocidade para acompanha-los. Resumo da ópera: Cruzeiro 6 x 2. No jogo seguinte, em São Paulo, a “Turma do Rei” abriu dois gols de frente, a “Raposa” empatou e Natal virou a conta: 3 x 2. Em 1967, faltando três rodadas para o final do Estadual, o Atlético-MG estava com seis pontos à frente do Cruzeiro. Com um empate, seria campeão. Mas perdeu para o Valério, o Uberaba e o Uberlândia, indo para uma melhor de três com o Cruzeiro. A turma de Natal, então, achou que o “Galo” fosse um peru e torceu-lhe o pescoço: 3 x 1 e 3 x 0. Não precisa dizer que “Diabo Loiro” aprontou, precisa? Coisas do destino. Quando era garoto, Natal torcia pelo Atlético-MG. Cresceu, no entanto, para castiga-lo, atuando por um esquema tático em que ele recuava um pouco, quando preciso, mas sem a obrigação de marcar o lateral-esquerdo, como era comum em vários times e como ele o fez durante excursão da Seleção Brasileira. Tinha 21 de idade e, por sinal, agradou muito ao treinador Aymoré Moreira no desempenho do papel. Natal apontava Pelé e Tostão (atletas), Armando Marques (árbitro) e Aírton Moreira (treinador) como as grandes feras do seu tempo e tinha a opinião de que a camisa pesava a depender do jogador. Via a televisão como maior invento humano, sem matar o futebol, 40
ao transmitir partidas, uma grande discussão da época sessentista. O seu maior sonho era chegar à Seleção Brasileira. Chegou e disputou 15 partidas, das quais ajudou a vencer 10. Marcou três gols – 20.06.1968 - Brasil 6 x 3 Polônia; 23.06.1968 – Brasil 2 x 3 Tchecoeslováquia; 14.07.1968 - Brasil 4 x 3 Peru. A estreia canarinha de Natal foi em entrando no decorrer de partida válida pela Copa Rio Branco - 28.06.1967 – Brasil 2 x 2 Uruguai – no Estádio Centenário, em Montevidéu -, diante de 15 mil torcedores e substituindo o corintiano Paulo Borges – Felix; Everaldo, Juradir, Roberto Dias e Sadi; Wilson Piazza e Dirceu Lopes; Paulo Borges (Natal) , Tostão, Edu Antunes e Hílton Oliveira foi a escalação. Na partida seguinte, quatro dias depois, no mesmo local e onde as duas seleções se enfrentaram por três vezes, Natal foi titular, revivendo uma linha cruzeirense – Natal, Dirceu Lopes, Tostão e Hílton Oliveira. E contando, ainda, com Wilson Piazza na cabeça de área, defendendo e apoiando o ataque. Ele só não atuou no 0 x 0 da estreia, tendo os três jogos valido o título copeiro para o time de Aymoré Moreira (*). A boa participação na disputa sul-americana serviu para Natal ser chamado para excursionar à Europa, em de 1968, novamente comandado por Aymoré. Como da vez anterior, ele deveria ser reserva de Paulo Borges, que não rendeu o esperado. Quando a chance de jogar surgiu, a aproveitou bem. Diante da então Iugoslávia - 25.06.1968 – Brasil 2 x 0 - ele foi um autêntico operário para os companheiros chegarem à rede, inclusive fazendo o passe para Tostão marcar o segundo gol brasileiro. Bastante elogiado pelos jornalistas estrangeiros, estes escreveram que o Brasil levara à Europa “uma grande revelação”. Verdade! Natal desempenhara bem as funções de um ponteiro moderno, agredindo defendendo, armando e sempre indo à linha de fundo. Antes daquela excursão, ele havia vestido a camisa canarinha em uma outra partida, diante dos uruguaios, amistosamente, no paulistano Pacaembu - 09.06.1968 – Brasil 2 x 0. E após jogos contra polo41
neses, tchecos, iugoslavos e portugueses – 30.06.1968 – Brasil 2 x 0 -, o giro do escreto mudou para o continente americano, onde, além do já citado 4 x 3 Peru, rolou para ele: 07.07. 1968 – 2 x 0 México e 10.07.1968 – 1 x 2 México.
Com o endiabrado Natal, não tinha bolas perdidas: conferia todas
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Em 11 de agosto do mesmo 1968, a torcida cruzeirense viu Natal, pela primeira vez, no Mineirão, jogando com a camisas da Seleção Brasileira. Foi durante uma autêntica festa local, pois o time esteve dirigido pelos cronistas esportivos Lísio Juscelino Gonzaga, o Biju, Carlyle Guimarães e Jota Júnior, que mandaram a campo o time do Cruzeiro reforçado por dois jogadores atleticanos. Eles cravaram 3 x 2 Argentina, amistosamente, com gols de Dirceu Lopes (2) e Rodrigues, e a escalação sendo: Raul Marcel; Pedro Paulo, Djalma Dias (ATL-MG), Procópio e Oldair (ATL-MG); Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Rodrigues. DEFINIÇÃO - Fora dos gramados, Natal dizia-se um “otimista incurável”, mas, também, um fatalista. E sugeria a receita “amar e ser amado” para alguém ser feliz. Acreditava em macumba, usava um breve, feito pela mãe, e não negava esmola a um pedinte. Não gostava de falar sobre política, preferindo cinema – adorou o filme Doutor Jivago – estrelado por Omar Sharif, Julie Christie e Geraldine Chaplin (1965), baseado em livro de Boris Pasternak e dirigido por David Lean - e música, principalmente a italiana “Al di Lá” - composta por Carlo Donida Labati, cantada por Emilio Pericoli e chegada ao Brasil pelo filme “Candelabro Italiano” (1962), estrelado por Troy Donahue, Suzanne Pleshette e Rosano Brazzi. Fã da cor vermelha, Natal considerava o perfume indispensável à mulher, “lhe dá mais it” (*), justificava, e preferia as bem simples, sem sofisticações e falsidades. Até aceitaria vê-la fazer cirurgia plástica, em caso de necessidade. Tinha medo de viagens aéreas, só concebia a Deus o direito de tirar a vida de um ser humano e gostaria de viver por 100 viradas do calendário. Quando cobrado pelos entrevistadores, Natal revelava ter a sua menor gratificação por vitoria sido Cr$ 1 mil cruzeiros, quando juvenil cruzeirense, em 1964, e a maior Cr$ 1 milhão, ao vencer o Grêmio Porto-Alegrense, em 1966, o triunfo que mais lhe emocionara. Pouco falante durante as partidas, considerava as concentrações ne43
cessárias para jogadores solteiros. Natal vestiu a camisa do Cruzeiro por 245 jogos, entre 1964 e 1971, marcando 71 gols. A estreia foi em 30 de setembro de 1964, em Cruzeiro 4 x 0 Uberlândia, no estadio cruzeirense do bairro do Barro Preto, pelo Campeonato Mineiro, entrando no decorrer da partida e marcando um gol, aos 44 minutos do segundo tempo – Fábio; Jaime, Vavá, Dilsinho, Pedro Paulo, Piazza e Tostão; Wilson Almeida, Picinin (Natal) Fescina e Hílton Oliveira foi o time escalado por Aírton Moreira. O último Natal cruzeirense aconteceu em 29 de setembro de 1971, no Maracanã, escaldo por Orlando Fantoni, em Cruzeiro 1 x 2 América-RJ, pelo então chamado Campeonato Nacional, o atual Brasileirão, assistido por 12.999 pagantes – Hélio; Pedro Paulo, Perfumo, Piazza e Vanderlei; Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal ( Baiano), Tostão, Evaldo (Eduardo) e Lima foi a rapaziada.
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EVALDO No infanto-juvenil do Americano, de Campos-RJ, o treinador Jorge Pinheiro viu um garoto muito bom de bola. Pediu ao seu irmão e zagueiro do Fluminense, João Batista Pinheiro, que o levasse para as Laranjeiras. Atendido, o sujeito não demorou a ver grande futuro no moleque que chutava com as duas pernas, cabeceava forte e tinha a mesma cor escurinha de extraordinários craques brasileiros. Assinava Evaldo Cruz e nascera por ali mesmo, em Campos - 12 de janeiro de 1945 -, terra de tantos craques. Quando Evaldo começou a estraçalhar como meia do time juvenil tricolor, em 1961, começaram a chama-lo por Pelé. Ele não gostou, demonstrando personalidade. Pediu à imprensa que o livrasse daquele apelido, pois temia que logo aparecesse alguém chamando-o de “mascarado”. Era sincero. Se os seus pais lhe deram um nome, queria ser chamado conforme constava em seu registro no cartório e na certidão de batismo. Para permitir que Evaldo fosse para o Fluminense, o pai dele exigiu-lhe manter-se nos estudos. O menino prometeu e foi à luta pelo clube do seu coração, como garantia. Fã de Zizinho, mostrava aos que o viam rolar a pelota que o apelido de Pelé não seria mal aplicado nele, pois carregava muito do “Rei do Futebol” em seu jogo. Lançado no time A tricolor, pelo treinador Zezé Moreira, em 1962, Evaldo era chamado, pelos colegas, por Buda e Porquinho. E nem era tão gordinho. Talvez, por ser baixinho. Em 1963, seguia progre45
dindo, mas, na temporada seguinte, foi obrigado a dar um tempo na bola, a fim de passar por uma cirurgia de extração de meniscos. Evaldo fazia gols e não era fominha. De preferência, deixava os companheiros olhos-nos-olhos dos goleiros, o que fazia Tostão, o maior astro do time raposeiro, ser o seu maior fã. Dizia que boa parte dos seus 245 tentos estrelados começaram pelas chuteiras do colega. Evaldo viveu a sua melhor fase no período em que o Cruzeiro montou a “máquina” que destruía adversários. Chegou ao clube, em 1966, para ficar tri estadual e campeão da Taça Brasil-1966, tornando-se, juntamente com Natal, Evaldo, Tostão, Dirceu Lopes e Hílton Oliveira os maquinistas do ataque. Filho de Benedito Cruz e de Graciosa Silva Cruz, Evaldo teve por irmão Elier, Everaldo, Edílson, Eduardo e Leila. Dono de cabelos e olhos pretos, jogava pesando 65 quilos, usando chuteiras-38 e não via a sua altura, de 1m65cm, prejudicar-lhe nos gamados. Dizia-se devoto de São Jorge e a sua primeira grana pela bola foram Cr$ 5 mil cruzeiros mensais, de ajuda de custo, do Fluminense. Adorara o filme “Doutro Jivago” e a música principal da película, o “Tema de Lara”.
Evaldo é o segundo agachado à esquerda deste ataque cruzeirense, em foto reproduzida de www.cruzeiro.com.br
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Em 1967, Evaldo achava boa a situação do país, mas não demonstrava grande conhecimento de política governamental. “Deve estar”, respondia, quando indagado se o Brasil encontrava-se bem orientado. Segurança mostrava ao falar de suas lembranças, como do primeiro treino pelo time juvenil do Fluminense, em 1961: “Levei tantos pontapés, de um zagueiro, que cheguei a chorar”. Sujeito que dizia-se combativo e possuidor de autocrítica, provocado, ele definia-se como alguém expansivo e alegre, por natureza, e muito falador. Achava a mulher perfumada mais atraente, “se não fosse sofisticada e infiel”, ressaltava. E se submetesse a uma cirurgia plástica só em casos necessários. Católico, usava uma medalha com a imagem de São Jorge e não deixava de acreditar, em parte, em macumba e mau olhado. Amante da cor marrom, ele via a TV prejudicando o futebol, ao transmitir jogos ao vivo. Evaldo poderia ir mais longe no coração dos cruzeirenses, mas uma tragédia voltou a tirá-lo dos gramados, como em seus tempos tricolores. Aconteceu em 3 de outubro de 1971, no Mineirão, enfrentando o Santos, pelo Campeonato Brasileiro. Dividiu bola com o goleiro Cejas e sofreu fraturas em cinco locais da perna direita. Ficou uma temporada inteira e mais três meses de 1972 em recuperação. Evaldo disputou 294 jogos com a camisa cruzeirense, entre 1966 e 1975, e marcou 108. Depois da tragédia, defendeu o também mineiro ESAB, o interiorano paulista Marília e encerrou a vida boleira por um time da Venezuela, o desportivo Itália, em 1977. O seu currículo anota, ainda, seis vestidas de camisa da seleção canarinha, com cinco jogos - 2 x 0 Chile; 3 x 1 Equador; 4 x 0 Peru: 2 x 2 Argentina e 1 x 1 Colômbia, pelo time olímpico, entre 1963 e 1964 - , e um pela equipe principal, representada pela base do Cruzeiro, reforçado pelo zagueiro Djalma Dias e o lateral-esquerdo Oldair Barchi, ambos do Atlético-MG. Daquele vez, 50 mil pagantes foram ao Mineirão assistir Brasil 3 x 2 Argentina, em 11 de agosto de 1968, com Evaldo abrindo o placar, aos oito minutos. 47
DIRCEU LOPES Certa vez, pela metade da década-1960, o time do Cruzeiro estava em um hotel de São Paulo. De repente, bateram à porta do apartamento em que hospedava-se o camisa 10 estrelado. Era Mané Garrincha, dizendo: “Vim conhecer o melhor jogador do futebol brasileiro”. O mineiro Dirceu Lopes Mendes, nascido em 3 de setembro de 1946, por aquela época, se não era o melhor, no mínimo, estava entre os cinco primeiros donos da bola canarinha. Tanto que foi uma das principais peças da turma que venceu o Santos, de Pelé, por 6 x 2, no Mineirão, e por 3 x 2, de virada, no Pacaembu, para conquistar a Taça Brasil-1966, a disputa que apontava o representante brasileiro à Taça Libertadores da América. Baixinho, rápido e muito habilidoso, Dirceu começou as suas intimidades com a pelota a partir dos 12 de idade, defendendo os juvenis do Pedro Leopoldo Esporte Clube, de sua terra. Em 1962, foi para o Cruzeiro, como amador, mas jogava tanto que, por várias vezes, esteve lançado no time principal. Em 1963, disputou o Campeonato Mineiro Juvenil e, ao final, ganhou contrato como profissional, embolsando Cr$ 150 mil cruzeiros, entre luvas (grana adicional) e Dirceu Lopes foi capa e... ordenado. De 1965 até 1969, Dirceu viveu o auge de sua carreira, tornando-se pentacampeão estadual e da Taça Brasil-1966. Em 1970, esteve convocado para a Seleção Brasileira que trinava para a Copa do Mundo e era citado, pelo treinador João Saldanha, como nome certo para ir ao México. No entanto, Zagallo, 48
ao substituí-lo, o dispensou do grupo que voltaria tri, alegando já ter Pelé e Rivellino para a posição. Dirceu disputou 19 jogos canarinhos e marco quatro gols, em 12 vitórias, seis empates e só um insucesso. Sagrou-se campeão da Copa Rio Branco-1967, diante do Uruguai, contra o qual estreou, no 0 x 0 de 25 de junho de 1967, diante de 20 mil pagantes, no Estádio Centenário, em Montevidéu – Félix; Everaldo, Jurandir, Roberto Dias e Sadi; Wilson Piazza e Dirceu Lopes; Paulo Borges, Alcindo (Edu Coimbra),Tostão e Volmir foi o time escalado por Aymoré Moreira. A última partida foi em 6 de agosto de 1975, nos 2 x 1 Argentina, pela Copa América, no Mineirão, assistido por 71.718 pagantes – Raul; Nelinho, Wilson Piazza, Amaral e Getúlio; Vanderlei, Danival e Marcelo Oliveira (Palhinha); Roberto Batata, Campos (Dirceu Lopes) e Romeu foi a escalação do treinador Oswaldo Brandão, formando uma seleção mineira, reforçada pelo paulista Amaral. Além desses jogos, Dirceu Lopes esteve canarinho, ainda, em: 28.06.1967 – 2 x 2 Uruguai; 01.07.1967 – 1 x 1 Uruguai; 11.08.1968 – 3 x 2 Argentina; 03.11.1968 – 2 x 1 México; 13.11.1968 – 2 x 1 Coritiba-PR; 14.12.1968 – 2 x 1 Alemanha Ocidental; 17.12.1968 – 3 x 3 Iugoslávia; 07.04.1969 – 2 x 1 Peru; 09.04.1969 – 3 x 2 Peru; 06.07.1969 – 4 x 0 EC Bahia; 01.08.1969 – 2 x 0 Millonarios-COL; 04.03.1970 – 0 x 2 Argentina; 08.03.1970 – 2 x 1 Argentina; 14.03.1970 – 1 x 1 Bangu-RJ; 22.03.1970 – 5 x 0 Chile; 26.04.1972 – 3 x 2 Paraguai e 13.06.1972 – 2 x 0 Hamburgo-ALE. Portanto, 12 vitórias, seis empates e só uma queda, tendo marcado quatro gols – 1 x 1 Uruguai; 3 x 2 Argentina; ...poster da revistas Placar. 2x 1 Coritiba; 3 x 2 Paraguai. 49
Jogador representativo da “Era Mineirão”, inaugurado em 7 de setembro de 1965, quando defendeu a seleção mineira que enfrentou o argentino River Plate, Dirceu Lopes fez o lançamento que permitiu ao atleticano Bougleux marcar o primeiro gol no estádio. Naquele dia, ele não imaginava a mudança que o futebol de sua terra viveria. “...não pensava que o impulso fosse tão forte...pois, em pouco tempo...Minas Gerais consegui chamar a atenção, tornando-se um dos maiores centros do futebol brasileiro”, disse à Revista do Esporte de Nº 408, de 31.12.1966, da segunda vez em que falava à semanária e a uma publicação esportiva nacional. “Temos ganhado bichos que jamais sonhávamos...”, revelou, atribuindo a isso, também, ao fato de o associado cruzeirense dispor de uma sede campestre próxima do Mineirão, o que lhe permitia passar as manhãs dos finais de semana recreando e, à tarde, ir aos jogos dos estrelados. Dirceu via o Cruzeiro sendo um “time certinho”, com estrutura que lhe permitia mudar peças mantendo o rendimento. Com os primeiros dinheiros lhe pagos pela “Raposa”, mandava ajuda financeira para os pais e remodelou a casa deles. Dizia não fazer mais do que a sua obrigação. Quando atleta, o filho do seu Tião com a Dona Maria, não se considerava pessoa perfeita e tinha pavor de escândalos. Achava que as pessoas deveriam evita-los. Embora não tivesse tempo e nem pudesse se expor tanto em público, gostava muito de cinema e elegeu “Os Brutos também amam”, como o melhor filme que assistira. Como todo jovem de sua idade, aos 22 anos, nos tempos do iê-iê-iê, curtiu muito a música “Aquele beijo que te dei”, gravada por Roberto Carlos. Dirceu atendia bem aos repórteres, mas quando lhe indagavam sobre temas fora do futebol enrolava o lance. Certa vez, lhe perguntaram se o Brasil (de 1968), tempos da ditadura militar dos generais-presidentes, estava bem orientado. Mandou isso: “Acho o Brasil tem carência de bons treinadores”, embora tivesse grande consideração por Martim Francisco (*). Preferia dizer nada entender de po50
lítica, embora tivesse opinião sobre o que via. Por exemplo, que a vida no país poderia melhorar se houvesse esforço do governo para alfabetizar a grande massa da população e criar postos de emprego para todos. Fã das praias do Rio de Janeiro, Dirceu Lopes, quando solteiro, não deixava de sacar a estampa das belas cariocas dentro dos seus biquínis. Não reclamava por deparar-se com mulheres perfumadas, pois as achava assim mais agradável. E era de opinião que a brasileira do ontem e a do seu tempo de jovem se equivaliam. Sujeito muito romântico, ele só não gostava das sofisticadas e leA Taça Brasil nas mãos de quem vianas. merecia carregá-la Católico praticante, Dirceu nunca negava esmola. Dizia-se combativo e não acreditava em macumba e em amuletos. Para ele, ser sincero é o caminho da felicidade. O complexo mera falta de personalidade. No entanto, aceitava a cirurgia plástico para corrigir defeitos físicos.
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Dirceu Lopes no ataque da Seleção Brasileira ao lado de Pelé (C)
Individualmente, os primeiros prêmios pelo seu talento foram os troféus Guará (destaques da temporada mineira), Revelação e Craque do Ano-1964 (juvenil), com o último repetido em 1965, já profissionalizado Dirceu Lopes aparece, pela primeira vez em uma escalação do time A cruzeirense, em 16 de abril de 1962, como Dirceu, apenas, no 0 x 0 Pedro Leopoldo, amistosamente, no estádio da Alameda, do América-MG (no local existe, hoje, um supermercado), lançado pelo treinador Geninho, no decorrer da partida, em lugar do atacante Paulo - os demais da equipe foram: Mussula, Juca, Vavá, Benito, Emerson, Amauri, Nelsinho (Zé Francisco), Antoninho; Elmo (Jairo) e Orlando (Lu). Em 1 de dezembro de 1963, em Cruzeiro 1 x 1 Atlético-MG, no Estádio Independência, pelo Campeonato Mineiro, ele foi anunciado por Dirceu Lopes, pois, desde março, o clube tinha o zagueiro Dirceu II. 52
Naquele clássico – Fábio; Massinha, Vavá, Dilsinho e Emerson; Elmo, Dirceu Lopes e Luiz Carlos (Paulo); Wilson Almeida, Tostão e Hílton Oliveira foi a “Raposa” de Geninho -, a torcida celeste marcou o início da maior dupla ofensiva estrelada de todos os tempos, mas Dirceu e Tostão já haviam atuado juntos pelo time principal, por alguns minutos, durante 0 x 0 Valério, amistoso, em 13 de junho da mesma temporada, no estádio Israel Pinheiro, em Itabira-MG, quando Marinho, que vinha comandando a rapaziada, há quatro jogos, tirou Gradim da partida e a equipe terminou o compromisso sendo: – Fábio; Juca, Vavá, Raul e Dilsinho; Nuno, Rossi e Luiz Carlos; Gradim (Dirceu), Tostão e Dalmar (Nerival). Zezé Moreira escalou o último Dirceu Lopes cruzeirense: em 27 de março de 1977, no Mineirão, nos 0 x 2 Atlético-MG, diante de 99.044 pagantes – Raul; Mariano, Moraes, Darci Menezes e Vanderley; Wilson Piazza, Zé Carlos e Eduardo Amorim; Ronaldo, Dirceu Lopes ( Eli Mendes) e Joãozinho foi o time, encerrando um ciclo dez 594 jogos e 224 gols.
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TOSTÃO Nascido em Belo Horizonte, em 27 de janeiro de 1947, ele era um atleta diferente dos demais. Aos 19 de idade, falava em estudar Ciências Econômicas e mostrava-se bem informado sobre o caminho das finanças, registrando o seu apelido, o que significava que, quem quisesse usa-lo, comercialmente, teria de conversar com Eduardo Gonçalves de Andrade que, por sinal, já recebia convites para fazer publicidade empresarial. Canhoto, o “Mineirinho de Ouro”, denominação lhe dada Após o título da Taça Brasil, pelos jornalistas, raramente Tostão e Dirceu chutava, ou passava a bola com Lopes ganharam capa de revista de ciro pé direito, que exigia-lhe chu- culação nacional, o que não acontecia com o futebol mineiro de antes teiras 41. Mas o fato de ser um “saci” em campo não impediu-lhe de tornar-se o maior artilheiro da história cruzeirense, com 245 gols, em 373 jogos. Cuidadoso com o peso (68 quilos) condizente com a sua altura (1m72cm), Tostão era considerado pelo bicampeão mundial Zito, do Santos, o melhor futebolista brasileiro, depois de Pelé, o qual ofuscara na decisão da Taça Brasil-1966, vencendo-o, por 6 x 2, em Belo Horizonte, e por 3 x 2, em São Paulo - ficara, também, “vice-rei”, em popularidade nacional, após aquela conquista. 54
Tostão chegou juvenil ao Cruzeiro, em 1964, após desacordo financeiro com o América-MG. Em 1965, tornou-se titular e até deixar o clube, em 1972, quando foi para o Vasco da Gama, conquistou os mesmos títulos já citados no texto sobre Dirceu Lopes. Em 1966, após a Copa do Mundo, na Inglaterra, Tostão já estava ganhando Cr$ 800 mil cruzeiros mensais, boa grana no período. Até pouco antes, não passava dos Cr$ 150 mil. ADMIRAÇÃO – Dois craques, em especial, fora de Minas Gerais, mereciam os aplausos de Tostão: Pelé e Rivellino. Na arbitragem, considerava o argentino Roberto Goicochéa o bom - apitava em São Paulo. Já o melhor treinador dizia ser o seu conterrâneo Orlando Fantoni. Melhor gramado? Resposta seca: o do Mineirão. Não apontava o pior, mas garantia haver coisas horrorosas pelo interior mineiro. Tostão sempre respondia aos repórteres que lealdade e franqueza eram as suas maiores virtudes. Fazia algumas reservas às críticas sobre as suas atuações e, embora não fosse de discutir com os árbitros, não deixava de fazer reclamações, bem como aos marcadores pancadeiros. Achava a concentração necessária e, em 1969, já pensava em ser médico, o que o foi após abonar a carreira de atleta. Sem modéstia, considerava-se um bom jogador, e não escondia ter ficado rico. Garantia, porém, jogar mais por prazer. Não acreditava que camisa pudesse ganhar jogo. PRIMEIRA RAPOSA - Foi no acanhado estádio colado à sede cruzeirense do belo-horizontino bairro do Barro Preto que Tostão estreou no time do Cruzeiro. Escalado pelo treinador Niginho, foi nos 2 x 1 Siderúrgica, amistosamente, em 4 de abril de 1963, sem marcar gol – Tonho; Juca, Raul, Dirceu II e Tenório; Pedro Paulo e Dida; Antoninho, Wilson Almeida (Neivaldo), Tostão e Mário Jorge era a turma. Menos de um mês antes – 13 de março – ele havia entrado durante o decorrer de amistoso contra o seu futuro time, jogando pelo Amé55
rica-MG, no 1 x 1 Cruzeiro, no antigo estádio americano da Alameda – Lima; Luizinho, Jorge, Laércio e Murilo; Amarelinho e Paulista (Tostão); Djalma, Zé Emílio, Dario Damasceno e Robson (Zé Geraldo) foram escalados pelo treinador Zezinho Miguel. Foi, também, em um mês de abril – 09.04. 1972 – e em um outro estádio acanhado, o Pedro Ludovico, em Goiânia, no amistoso Cruzeiro 0 x 0 Goiás, que Tostão vestiu a camisa estrelada pela última vez – Raul; Lauro Moraes, Piazza (Darci Menezes) e Vanderlei; Zé Carlos e Dirceu Lopes; Rinaldo, Tostão (Repetto), Palhinha e Rodrigues foi o time que o treinador Yustrich (Dorival Knippel) mandou ao gramado.
Dirceu Lopes, Pelé e Tostão, feríssimas
TRAGÉDIA – Nem tudo foi glória durante a vida cruzeirense de Tostão. Disputando o Torneio Roberto Gomes Pedrosa (*), ele levou uma bolada no rosto, chutada pelo zagueiro corintiano Ditão, que deslocou a retina do seu olho esquerdo. Aconteceu aos 10 minutos do segundo tempo, durante a noite de 24 de setembro de 1969, diante de 48.383 torcedores pagantes que assistiam Cruzeiro 0 x 2 Corinthians, no paulistano estádio do Pacaembu, pela quinta rodada do “Robertão”, quando a “Raposa” brigava por vaga do Grupo A, que incluía, ainda, o gaúcho Internacional. 56
Para um atleta consagrado, aos 23 de idade, era algo terrível. Foi preciso ele parar de jogar, por uns tempos, e submeter-se a uma cirurgia, feita pelo oftalmologista mineiro Roberto Abdala Moura, em Houston, nos Estados Unidos. Só voltou aos gramados (e a cabecear a bola) em março de 1970, mostrando-se recuperado e pronto para voltar “resser” um canarinho, história que teremos a seguir.
Dirceu Lopes, Piazza e Tostão “canarinhados” para defender a Seleção Brasileira
SELEÇÃO BRASILEIRA - A estreia de Tostão foi pelo 1 x 1 Chile, em 15 de maio de 1966, diante de 25 mil pagantes, no estádio do Morumbi, em São Paulo, amistosamente, durante os preparativos para a Copa do Mundo – Manga; Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrique; Dudu e Fefeu; Nado, Tostão, Flávio “Minuano” e Rinaldo foi o time escalado pelo treinador Vicente Feola. Ele não marcou gol daquela vez, mas quando o fez, em sua primeira vez canarinha, foram dois, em 5 de junho da mesma temporada, diante da torcida cruzeirense, no Mineirão, aos 41 e aos 56 minutos 57
de Brasil 4 x 1 Polônia - Manga; Fidélis, Bellini, Orlando Peçanha e Rildo; Denílson e Roberto Dias; Jairzinho, Tostão, Alcindo (Parada) e Edu Américo (Paulo Borges) foram os homens de Feola. Tostão totalizou 36 gols, em 65 jogos, pelo time da então Confederação Brasileira de Desportos, atual CBFutebol, em 47 vitórias, 12 empates e seis quedas. Dessa estatística, 17 partidas foram oficiais, com 15 vitórias, um empate e uma escorregada. Nelas, deixou 13 bolas nas redes e ajudou a rapaziada a conquistar quatro títulos: Copas Rio Branco-1967; do Mundo-1970; Roca-1971 e Taça Sesquicentenário da Independência do Brasil-1972. Em duas Copas do Mundo disputadas, Tostão marcou três gols: em 15 de julho de 1966, no Goodson Park, da inglesa Liverpool, em Brasil 1 x 3 Hungria, diante de 57 mil pagantes - e os outros dois, em 14 de junho de 1970, nos 4 x 2 Peru, no mexicano estádio Jalisco, em Guadalajara, aplaudido por 54 Este gol, diante do Tupi, foi capa da revista “Placar” Nº 20, de 31 de mil almas – Gilmar; Djalma Santos, Bellini, Altair e Paulo Henrijulho de 1970 que; Lima e Gérson; Garrincha, Tostão, Alcindo e Jairzinho foi o time de Feola, diante dos húngaros, enquanto Mário Jorge Lobo Zagallo, contra os peruanos, escalou: Felix; Carlos Alberto Torres, Wilson Piazza e Everaldo (Marco Antônio); Clodoaldo, Gérson (Paulo César Lima) e Rivellino; Jairzinho, Tostão e Pelé. Em 9 de julho de 1972, no Maracanã, em Brasil 1 x 0 Portugal, decidindo o torneio comemorativo das 150 viradas de calendário com o Brasil independente – Taça Sesquicentenário da Independência do 58
Brasil -, Tostão despediu-se da Seleção Brasileira, diante de 99. 138 pagantes – Leão; Zé Maria, Brito, Vantuir e Marco Antônio (Rodrigues Neto); Clodoaldo, Gérson e Rivellino; Jairzinho, Tostão e Leivinha Dario “Peito-de-Aço” foi a moçada de Zagallo. Além desta disputa e do tri da Copa do Mundo do México-1970, Tostão ajudou a Seleção Brasileira a ganhar as Copas Rio Branco-1967, encarando os uruguaios, e Roca-1971, tendo os argentinos pela frente. VOLTA AO CRUZEIRO - Tri no México, Tostão era, ansiosamente, aguardado pela torcida raposeira, que não o via com a camisa da sua rapaziada há 10 meses. Em 22 de julho de 1970, durante a noite de quarta-feira, no Mineirão, ele voltou, em grande estilo, marcando quatro gols - aos 37, 62, 66 e 76 minutos dos 5 x 0 Tupi, de Juiz de Fora, pelo Campeonato Mineiro. Com camisas, calções e meiões brancos, o treindor Gérson dos Santos mandou a campo: Nego; Lauro, Mário Tito, Fontana e Vanderlei; Wilson Piazza (Pedro Paulo), Zé Carlos (Evaldo) e Dirceu Lopes; Natal, Tostão e Rodrigues. Perto do final da partida, Tostão chocou-se com o goleiro Zé Maurício, do Tupi, ms saiu ileso do lance, tranquilizando a torcida cruzeirense. Estava com a retina em dia. CARÍSSIMO - Ao ir para o Vasco da Gama, Tostão marcou a maior transação do futebol brasileiro: Cr$ 3,5 milhões de cruzeiros, bancados pelo Banco Pinto de Magalhães (Afonso Pinto de Magalhães), Casas Sendas (Arthur Sendas) e o ex-presidente vas-
Cruzmaltino, em foto reproduzida de “Placar”
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caíno João Silva, rico comerciante português. Ele desembarcou na Colina, em 15 de abril de 1972, recebido no carioca aeroporto do Galeão por mais de 10 mil torcedores. Estreou em 7 de maio da mesma temporadas, em Vasco 2 x 2 Flamengo, assistido por 18.454 pagantes. Mas só ficou por uma temporada, em São Januário, devido o problema que leremos adiante. Tostão disputou 45 partidas com a camisa cruzmaltina, marcando seis gols, o último, em 10 de fevereiro de 1973, aos 34 minutos do segundo tempo, fazendo o Vasco a carregar a Taça Erasmo Martins Pedro, por 1 x 0 Flamengo. A última partida rolou, em 27 de fevereiro de 1973, contra o Argentinos Juniors. Tinha 26 de idade quando pendurou as chuteiras. Inflamação na retina operada foi o motivo. Voltou aos Estados Unidos, para ser examinado pelo oftalmologista Roberto Abdalla Moura, que recomendou-lhe encerrar o seu ciclo nos gramados. Em 17 de maio, Tostão teve seu contrato rescindido com o Vasco da Gama, que pediu-lhe indenização pelo prejuízo, enquanto ele desejava receber as parcelas ainda não pagas das luvas - recebidas após muita briga na Justiça. Tostão viveu a sua melhor fase, entre 1963 e 1972, disputando 383 jogos e marcando 242 gols pelo Cruzeiro-MG, do qual é o maior artilheiro e pelo qual foi campeão estadual em 1965/66/67/69/60/1972. Longe da bola, passou a ser, rigorosamente, o cidadão Eduardo Gonçalves de Andrade. Por um bom tempo, evitou os jornalistas, estudou, graduou-se em Medicina, atuou na área e foi, também, professor. Um dia, voltou para o mundo da bola, sendo comentarista de TV e colunista de jornais e autor de livros sobre futebol.
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TostĂŁo foi homenageado com a capa da primeira revista do clube estrelado
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RODRIGUES
Rodrigues é o último agachado à direita da página
Ele brigou muito, com Hílton Oliveira, pela posição de titular da ponta-esquerda cruzeirense. Deixou escrito a autoria do gol 500 raposeiro, aos 35 minutos do primeiro tempo dos 1 x 2 Atlético-MG, em 2 de agosto de 1970, no Mineirão, diante de 106.155 pagantes – Raul; Raul Fernandes, Morais, (Darci Menezes), Fontana e Neco; Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal, Tostão e Rodrigues (Gilberto) foi o time escalado por Gérson dos Santos. José Rodrigues dos Santos, nascido na baiana Conde, em 31 de julho de 1946, começou a fazer o seu nome como campeão juvenil e profissional do IV Centenário do Rio de Janeiro, em 1965, um ano depois de ter chegado ao Flamengo. Pela temporada seguinte, ajudou os rubro-negros a ganharem o Torneio Internacional de Guyaquil-1966, no Equador e passou mais uma temporada na Gávea, tendo jogado, entre outros, ao lado de Fio Maraviha. Atacante de puco bater na rede, em 79 jogos rubro-negros, marcou apenas sete tentos, em em 32 vitórias, 21 empates e 26 quedas, currículo que levou para o Cruzeiro, em 1967. 62
Em nome da “Raposa”, Rodrigues ficou bicampeão mineiro-1968/1969 e a honrou com a camisa do escrete nacional, marcando um gol no amistoso Brasil 3 x 2 Argentina, no Mineirão, em 11 de agosto de 1968, aos 21 minutos, com os canarinhos representados pelo selecionado mineiro, diante de 50 mil pagantes. Na verdade, no dia em que Rodrigues esteve canarinho, a Seleção Brasileira foi o time do Cruzeiro, reforçado por dois atleticanos, o que está contado no texto sobre Natal. Rodrigues residia em Belo Horizonte em companhia de Dona Raimunda, sua mãe, e das irmãs Neusa e Iolanda. Como a primeira não se aclimatara na capital mineira, ele começou a pensar em voltar ao futebol carioca, ainda mais porque sentia saudade do mar, pois era marinheiro quando um oficial da chamada “armada” o levou para treinar no Flamengo, embora ele fosse torcedor do Vasco da Gama - quando garoto, vivia usando a camisas cruzmaltina. Nem sempre - jamais negou - Rodrigues teve bom relacionamento com a torcida cruzeirense. Certa vez, por dizer, durante programa de TV, que estivera para defender o “Galo” (*) antes de ser raposeiro, levou a maior vaia ao entrar em campo para seu primeiro jogo após a declaração. Por ter atuado muito bem, destacadamente, saiu de cena aplaudido e encerrou aquela história. O primeiro dos 172 jogos cruzeirense de Rodrigues foi em 19 de agosto de 1967, nos 4 x 0 Araxá, pelo Campeonato Mineiro, lançado 63
diante de 12.815 pagantes, pelo treinador Aírton Moreira, durante o decorrer da partida - Raul; Pedro Paulo, Celton, Procópio e Neco; Ílton Chaves e Dirceu Lopes; Natal, Evaldo, Tostão e Wilson Almeia (Rodrigues) foram as caras do dia. A despedida está registrada no 8 de maio de 1981, no mesmo Mineirão, valendo, igualmente, pelo Estadual-MG e assistido por apenas 5.377 almas que prestigiaram Cruzeiro 4 x 0 Flamengo, de Varginha, marcando gol, aos 35 minutos do segundo tempo – Raul; Pedro Paulo, Perfumo, Fontana e Geraldo Galvão; Toninho Almeida, Spencer e Dirceu Lopes; Roberto Batata (Palhinha), João Ribeiro e Lima (Rodrigues), dirigidos por Ílton Chaves. O hobby de Rodrigues era colecionar pássaros e curtir dois cães pastores alemães. Além do Flamengo e do Cruzeiro, ele vestiu, as camisas de mais cinco times: Portuguesa de Desportos, Vasco da Gama, São Bento, de Sorocaba-SP, Atlético-MG e Noroeste, de Bauru-SP, pelo qual chegou ao fim de linha, em 1975. Viveu até 19 de julho de 2015, deixando os filhos Valéria, Juliana, Guilherme, Heliabarbara e Pablo.
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ESTRELINHAS GÉRSON DOS SANTOS - Mineiro, nascido em Belo Horizonte, no 14 de julho de 1922, ele era um treinador para quem futebol deveria ser arte e ciência. Na juventude, fora defensor (volante) do Botafogo, entre 1945/1946, tendo disputado 371 partidas pelo alvinegro carioca. Marcou apenas dois gols e foi convocado, por quatro vezes, para a Seleção Brasileira. Criador do “quadrado” no meio-de-campo cruzeirense, Gérson dos Santos chegou ao clube estrelado encontrando o time jogando à base de Wilson Piazza, Dirceu Lopes e Tostão. Não concebia Zé Carlos fora da escalação. Então, tirou o meia-atacante Evaldo e lançou o “Zelão” na equipe, para Dirceu fazer o papel do ponta-de-lança. “Apenas aproveitei os (talentos dos) quatro. Vocês (da imprensa) inventaram (o termo) o quadrado”, disse o treinador, em julho de 1969.
Naquele tempo ainda não havia leitura labial, mas Airton já se precavia
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AÍRTON MOREIRA - Irmão mais novo de Zezé e de Aymoré Moreira, foi o montador do maior Cruzeiro de todos os tempos. A imprensa escrevia o seu Ayrton com o “i” em lugar do “y”, como o fazia, também, com o seu irmão Aimoré. Antes de ser treinador, Aírton era superintendente da sede campestre cruzeirense. Chamado a quebrar o galho como treinador, em 1964, ele lapidou uma geração que encantou o país. Além de carregar a Taça Brasil-1966, Aírton venceu os Estaduais-MG daquele ano e do anterior. Em 1967, apresentando pressão arterial muito alta, foi intimado, por seu médico, a repousar durante 30 dias. Como o seu time estava dois pontos distante do “Galo”, nem discutiu. Orlando Fantoni, o superintendente do Departamento de Futebol, o substituiu, para ficar, interinamente, no cargo - havia passado 17 temporadas e vencido 14 campeonatos nacionais na Venezuela. Enquanto Airton recuperava-se, Fantoni cravou Cruzeiro 4 x 0 Democrata; 7 x 1 Araxá; 6 x 1 Usipa; 0 x 0 América-MG e 3 x 3 Atlético-MG. Vencida a interinidade, Aírton Moreia reapresentou-se para reassumir as suas funções e armar o time que enfrentaria o Formiga. Porém, reunião secreta dos cartolas decidiu chuta-lo, pois Fantoni conseguira cinco vitórias, com o time marcando 20 e levando cinco gols. Nascido, em 31 de dezembro de 1917, em Miracema-RJ, Ayr- A vibração do treinador Aírton ton Moreira viveu por 57 temporadas, até 22 de novembro de 1975. Como atleta, durante as décadas-1930/40, defendeu equipes do Rio de Janeiro, de Minas Gerais e 66
de Pernambuco. Foi treinador a partir de 1946, em clubes mineiros e cariocas. Chegou ao Cruzeiro, em 1957, ficou por duas temporadas e retornou para uma nova fase, entre 1964 a 1967. Após sair da vida raposeira, trabalhou para o Atlético-MG, em 1968, e depois para outros times mineiros. Fez o seu último trabalho, em 1975, como auxiliar-técnico no mesmo Cruzeiro que o teve como um técnico de estrela e de estrelas. ORLANDO FANTONI – Ele jurava jamais ter participado de qualquer complô para derrubar Aírton Moreira. Alegava ser um simples empregado do clube, sem cacife para participar de reuniões de diretoria, e dizia-se indignado com quem o via como cabeça do movimento que tirara o cargo do antecessor. Também, garantia não ser “afilhado” de nenhum diretor. Quando provocado, Fantoni defendia-se, dizendo não ser “treinador de laboratório” e, se substituíra Aírton Moreira, fora por ter capacidade demonstrada treinando os venezuelanos Deportivo Português, Deportivo Itália e Valência. Fantoni defendia-se dizendo, ainda, que a “Raposa” começara mal a campanha do tri mineiro, em 1967, e que vira, no primeiro treino em que a comandara, ser preciso reagir. Então, implantou uma linha dura que recuperara o futebol que a torcida se acostumara a aplaudir. Para completar a campanha cruzeirense do tri, Fantoni gabava-se de ter solicitado só um reforço, o lateral-direito Lauro, que defendia o São Cristóvão-RJ, para revezar com Pedro Paulo. Ele alegava ter mudado pouco o sistema de jogo da equipe estrelada, considerava o seu ataque como o mais rápido do futebol mineiro, talvez, do Brasil, 67
e avisava que, para o Cruzeiro, seria indiferente jogar no Mineirão-MG, no Maracanã-RJ ou no Pacaembu-SP, estádios que recebiam os maiores clubes do país. Quando assumiu o comando do time estrelado, Orlando Fantoni procurou criar uma escolinha de futebol, por intuir que o futuro do futebol passava por ali. Nascido, em Belo Horizonte, em 3 de maio de 1917, ele viveu por 82 anos, até 5 de junho de 2002. Foi atleta cruzeirense, entre 1932 a 1942, quando marcou 82 gols e o nome da agremiação ainda era Palestra Itália. Como treinador, teve três passagens pelo Cruzeiro, entre 1967/1968; de 1971 a 1972, e em 1983. Encerrou a carreira em 1989, pelo Vitória-BA, totalizando passagem por 14 equipes, entre elas Vasco da Gama, Botafogo, Corinthians e Grêmio-RS. RAUL FERNANDES - Raul Fernandes da Costa Filho, zagueiro nascido em Belo Horizonte, em 2 de dezembro de 1941. Cria do Democrata, de Sete Lagoas-MG, defendeu a a “Raposa” até 1971, aparecendo, pela primeira vez, na escalação, em 17 de novembro de 1968, em Cruzeiro 2 x 2 Portuguesa de Desportos, no Mineirão, pela primeira fase do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão. De início, por causa do goleiro Raul Guilherme, era anunciado por Raul Costa. Mas, se a camisa 1 do dia fosse de Fazzano, seria só Raul. Para o amistoso Cruzeiro 3 x 2 Nacional-AM, no Estádio Gilberto Mestrinho, em Manaus, no 5 de dezembro do mesmo 1968, foi anunciado, pela primeira vez, por Raul Fernandes. Durante o Robertão-1969, quando os cruzeirenses perderam o título, para o Palmeiras, por dois gols de saldo, foi titular até a reta final, atuando pela lateral-direita e sendo barrado por Lauro, tendo o time-base sido: Raul, Raul Fernandes (Lauro), Darci (Mário Tito), Fontana e Neco; Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Tostão (Zé Carlos Mérola/Gilberto), Evaldo (Palhinha) e Rodrigues (Hilton Oliveira). Raposeiro, pela última vez, no 11 de outubro de 1970, em Cruzei68
ro 4 x 2 Londrina-PR, no Estádio Vitorino Dias, ele foi lançado pelo treinador argentino Filpo Nuñes, na vaga de Pedro Paulo, durante o amistoso com esta formação: Raul (Nego); Pedro Paulo (Raul Fernandes), Brito, Darci Menezes e Neco (Vanderley); Piazza, Zé Carlos (Spencer), Dirceu Lopes e Evaldo: Tostão (Eduardo Amorim) e Rodrigues. Disputou menos de 60 partidas estreladas e, em 1971, transferiu-se para o rival Atlético-MG, tendo ficado no “Galo” até 1974, disputado 60 jogos e sido campeão da Taça Minas Gerais-1972. HÍLTON OLIVEIRA - Ponta-esquerda, antes de chegar ao “grande” Cruzeiro, defendia o Fluminense, sem o seu sobrenome mencionado nas escalações. Em 27 de março de 1963, o seu contrato terminou e foi renovado, por mais uma temporada e meia. Voltou para o Cruzeiro, que o negociara com os carioca, em 1961, tendo saído bicampeão mineiro-1959/1960. Muito contribuiu para a sua volta o fato de Escurinho ter lhe barrado. Cria do Renascença, Hílton chegou ao Cruzeiro, com 18 de idade, em 1958. O Oliveira passou a entrar em seu nome futebolístico para evitar confusões com o do apoiador Ílton Chaves, na volta ao clube, pelo qual ficou pentacampeão mineiro (1965 a 196) e campeão da Taça Brasil-1966. Esteve cruzeirense até 1970, por 330 partidas. Marcou 33 gols. Nascido em 30 de setembro de 1941, viveu por 64 anos, até 3 de março de 2006. NECO – Aos 38 de idade, no 21 de dezembro de 1983, após disputar, no Maracanã, a sua última partida, o goleiro Raul Guilherme Plasmann homenageou um colega jamais badalado pela imprensa, nunca idolatrado por torcedores e nem chamado para a Seleção Brasileira: o lateral-esquerdo Neco. Por acaso, este contribuíra muito para o seu sucesso junto à torcida cruzeirense. Um dia, o roupeiro não levou para o estádio camisa que coubesse em Raul. 69
Então, Neco lembrou-se de que tinha em sua bagagem uma camisa amarela, para dias friorentos. Coube certinho no colega e o mais foi
Neco é o primeiro em pé, da esquerda para a direita.
só improvisar o número 1, com esparadrapo. Raul surpreendeu o Mineirão, surgindo à boca do túnel vestido daquele jeito, quando os colegas de posição só usavam o preta. E o amarelo virou o símbolo do goleiro, que já era paqueradíssimo pelas torcedoras da “Raposa”, por ser alto, loiro e cabeludo, como um cantor de iê-iê-iê, a onda da hora. Neco foi um dos mais constantes titulares na melhor fase cruzeirense de todos os tempos. Em 1967, época do tri estadual, ele disputou 35 70
refregas, tornando-se o terceiro mais “comparecente” aos jogos no Mineirão, suplantado só pelos 37 de Pedro Paulo e 36 de Dirceu Lopes, Natal, Procópio e Raul. Em 1968, época do tetra, atuou menos 25 vezes -, mas foi um dos 11 que mais preliaram. PROCÓPIO - Um dos xerifes dos times cruzeirenses, considerava o de 1966 o melhor de todos. E o colocava entre os 10 melhores da história do futebol, ao lado do Santos de Pelé; do Botafogo de Garrincha; da seleção da Hungria-1954; da Holanda-1974 e da Seleção Brasileira-1970”, conforme avaliou par a “Revista do Cruzeiro” Nº 15, de junho de 1997. Procópio não figura no “Time do Postal”, mas participou de duas das cinco conquistas do penta-1965/1969. Revelado pelo Renascença, foi juvenil do Cruzeiro e assinou o seu primeiro contrato como profissional em 19 de fevereiro de 1959. Passou, também por São Paulo, Atlético-MG, Fluminense e Palmeiras –, tendo, em 1963, sido campeão brasileiro pela seleção mineira. Em 1966, estava no time campeão da Taça Brasil. Em outubro de 1968, Procópio Cardoso Neto, jogando no Morumbi-SP, em um lance contra Pelé, teve uma das pernas fraturadas e levou cinco temporadas para voltar aos gramados. No retorno, o Cruzeiro já tinha uma outra geração, mas que, ainda, permitiu-lhe colecionar novos títulos, como os Estaduais-1973/74. Pouco depois, encerrou a carreira de atleta e iniciou a de treinador, tendo, inclusive, comandado equipes da “Raposa”. WILLIAM - Cria do Marianense, de sua terra - Mariana-MG, onde nasceu, em 25 de junho de 1933 - William José Assis Silva fez o nome com a camisa do Atlético-MG, durante 10 temporadas. Em 1964, esteve no América-RJ, por cinco meses, tendo abandonado o clube por ter sido barrado pelo treinador Zizinho (Thomás Soares da Silva), às véspera do início do Torneio Rio-São Paulo, a grande competição dos clubes brasileiros da época. Brigado com o “Diabo”, em uma sexta-feira, William acertou com 71
a “Raposa”, no sábado. Mesmo tendo em sua história grande ligação com o “Galo”, - quatros títulos estaduais mineiros-1955/56/58/62/63 e da Taça BH-1959 -, William agradou ao torcedor cruzeirense, ajudando o clube a conquistar o penta-1965/1969 e da Taça Brasil-1966, quando, interessantemente, formou dupla de zaga com o seu cunhado Procópio. Estreou cruzeirense em 2 de agosto de 1964, exatamente contra o “Galo”, para quem tanto havia “xerifado” a área. ÍLTON CHAVES - Ele tinha o seu pré-nome escrito pelos jornais com “H”. Mas era com “I” mesmo. Acentuado e registado assim no cartório de Itinga, no Vale do Jequitinhonha, em 28 de março de 1937. Foi um grande exemplo de conduta nos gramados. De tão correto que era, em 1967, expulso de um amistoso contra a seleção mexicana, em Leon, os companheiros foram pedir ao juiz para reconsiderar o fato, e ele foi autorizado a voltar ao jogo, o que só havia acontecido com o “Rei Pelé”. Ílton era cinco temporadas mais velho quando Wilson Piazza chegou ao Cruzeiro. Após os primeiros treinos do novato, sugeriu-lhe mudar para o meio do campo. Passou-lhe muitos conselhos e perdeu a vaga de titular, o que permitiu ao treinador Aírton Moreira armar a trinca Piazza, Tostão e Dirceu Lopes. Em 1969, ele tornou-se auxiliar técnico de Gérson dos Santos. Apelidado por “Pezão” e pentacampeão mineiro, após o final da carreira tornou-se treinador e o que mais dirigiu a moçada raposeira: 389 vezes, vencendo 213 jogos, empatando 89 e escorregando em 60. Levou o Cruzeiro a um tetra estadual – 1972/73/74/75 e a carregar, também, a Taça Minas Gerais-1973 – as suas passagens à frente da equipe foram em: 1970/71/72/75/79/80/83/84. A carreira boleira começou em Teófilo Otoni-MG, onde o Atlético-MG foi buscá-lo, em 1955. Após cinco temporadas, mudou-se para o América-MG. Também campeão brasileiro de seleções esta72
duais-1963, esteve na turma do “Diabo” (alcunha do América-RJ), por uma temporada.
Marco Antônio não perdoava. Com ele, havia sempre goleiro chorando
MARCO ANTÔNIO - Centroavante que não figura no “Time do Postal”, mas foi importante na conquista do penta mineiro. Habilidoso, veloz e com chute forte, formou dupla com Tostão em jogos de 1965 a 1967, foi tri mineiro-1965/66/67 e da Taça Brasil-1966. Cria dos juvenis do América-RJ, em 1959, mudou-se para o América-MG, em 1962. Em 1963, foi o camisa 9 titular da seleção mineira campeã brasileira, vencendo o Rio de Janeiro, na final, pro 2 x 1. Em 1964, pintou no Comercial de Ribeirão Preto-SP, de onde o Cruzeiro o tirou. Saiu do clube estrelado, em 1967, para defender o Botafogo, de Ribeirão Preto. Em 1971, foi para o Goiânia-GO. Voltou a ser raposeiro, em 1975, como treinador dos juvenis. Ficou até 1979, tornou a sair e voltou, mais uma vez, na década-1990, para coordenar as categorias de base. 73
APRESENTADO AO PAÍS Ao final da temporada-1965, a torcida brasileira vivia a expectativa pelo tri do escrete canarinho na Copa do Mundo da Inglaterra-1966. E tirava o chapéu para os campeões carioca (Flamengo) e paulista (Santos). Em Minas Gerais, um time ainda sem fama nacional, o Cruzeiro Esporte Clube, exibiu durante a temporada uma equipe fantástica em que sobressaiam-se Tostão, Dirceu Lopes, Natal e Wilson Piazza, principalmente. Ganhou o título estadual, mas este só teve repercussão caseira. Até então, a bola das alterosas era só para consumo interno. Iniciada a temporada seguinte, o Cruzeiro queria levar o campeão paulista para fazer uma grande amistoso diante de sua torcida. Como aquela era uma época em que os santistas excursionavam e o planeta pagava-lhe muitos dólares para aplaudir o “Rei Pelé”, o convidado foi o time flamenguista. Repleto de estrelas, como Murilo, Paulo Henrique, Carlinhos ’Violino” e Silva, todos jogadores de Seleção Brasileira, os rubro-negros pisaram no gramado do Mineirão, cinco meses após a inauguração do então segundo maior estádio de futebol do país, levando no bico de suas chuteiras o charmoso título de campeões do IV Centenário do Rio de Janeiro. Seguramente, grande parte dos 40 mil torcedores que foram ao amistoso da tarde/noite de 3 de fevereiro de 1966 achou normal Silva abrir o placar (aos 20 minutos). Seria a ordem natural da partida. Mas Dirceu Lopes empatou, cinco minutos depois - Silva fez o segundo dele (aos 27) e Tostão “reempatou” (aos 39 minutos). Para o público da terra, estava “bão demais, sô!” Menos para a rapaziada comandada pelo treinador Aírton Moreira. No segundo tempo, o Cruzeiro massacrou o Flamengo, que não viu a cor da bola. E levou muito trabalho ao “garoto do placar” – Wilson Piazza, aos 17; 74
Tostão, aos 23 e aos 42, e Marco Antônio, aos 29 minutos – deixaram incrédulo o locutor da carioca Rádio Globo, mostrando-lhe um show de técnica e levando o Flamengo – Valdomiro; Murilo, Ditão (Jaime), Luiz Carlos ‘Gaúcho’ e Paulo Henrique; Carlinhos e Jarbas (Nelsinho); Neves, César Lemos (Aírton ‘Beleza’), Silva e Rodrigues (Osmar) – ao pesadelo de ser moído por uma máquina de jogar bola. Que time era aquele, que lhe mandava 6 x 2? O Cruzeiro, então, passou a ser respeitado pelo torcedor brasileiro. Naquele jogo – apitado por Joaquim Gonçalves, da Federação Mineira de Futebol – seu time do dia – Tonho; Pedro Paulo, William (Celton), Vavá e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Wilson Almeida (Natal), Tostão, Marco Antônio e Hílton Oliveira – excedeu. E excederia, tempinho depois, mandando os mesmos 6 x 2 sobre o Santos de Pelé.
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TAÇA BRASIL-1966
Carnaval fora de época para os torcedores estrelados
O Cruzeiro avisou que não era o bom só do Campeonato Mineiro. Mostraria isso, também, durante a Taça Brasil, até então só levada pelo Bahia e o Santos. E começou a disputa – entre 7 de setembro e 8 de dezembro – valendo vaga na Taça Libertadores, indo a Campos-RJ e mandando 4 x 0 Americano. No Mineirão, sapecou 6 x 1. A segunda etapa foi mais difícil. Eliminou o Grêmio Porto-Alegrense, com 0 x 0 fora e 2 x 1 em casa. Antes da terceira fase, um tropeço pelo Estadual – 0 x 1 Valério, no Mineirão, fez a sua torcida temer eliminação, pelo Fluminense, nas semifinais. Bastou, no entanto, a rapaziada mandar 6 x 3 Villa Nova, em 30 de outubro, para a confiança voltar – e fazer o Flu voar, por 1 x 0, em Belo Horizonte, e por 3 x 1, no Maracanã. E a “Raposa” – símbolo do clube, criado pelo desenhista Fernando Pierucetti, o Mangabeira – foi para as finais, encarar o favorito Santos, de Pelé. 76
Por aqui, o Cruzeiro escreveu uma das mais bonitas páginas da história do futebol brasileiro. Para o torcedor de fora de Minas Gerais, fora uma zebra. Aquele time não teria nenhuma chance diante do pentacampeão da Taça Brasil-1961/62/63/64/65 e bicampeão paulista-1964/65, que só não era penta estadual, também, porque o Palmeiras de Ademir das Guia atravessara as suas glórias, em 1963. Veio a noite do 30 de novembro daquele 1966, que não deveria ter terminado para os cruzeirenses, e 90 mil torcedores – 77.325 pagantes –- compareceram ao Mineirão, gerando a espetacular arrecadação de Cr$ 223 milhões, 314 mil e 600 cruzeiros, a moeda da época. O favorito Santos – também, bicampeão da Taça Libertadores e do Mundial Interclubes-1962/63 – entrara em campo com seis jogadores passados pela Seleção Brasileira – Gilmar, Carlos Alberto Torres, Mauro Ramos, Zito, Pelé e Pepe – e mais o temível goleador Toninho ‘Guerreiro’, que chegaria, também, ao escrete nacional. Até ali, o Cruzeiro não tinha ninguém selecionável. O juiz Armando Marques, então, apitou o início de contenda. Com um minuto de bola rolando, Tostão serviu Evaldo, no meio do gramado. Vendo Dirceu Lopes avançando para a área santista, o centroavante fez um lançamento, na medida, para o camisa 10 estrelado “matar”. Apavorado, o lateral-esquerdo santista Zé Carlos chegou primeiro na pelota, mas marcou gol contra: Cruzeiro 1 x 0. Aos cinco, Dirceu Lopes, servido por Evaldo, lançou Natal, que driblou Zé Carlos e bateu forte para a rede: Cruzeiro 2 x 0 – o show estava só começando. E aumentou, aos 20 minuHora de fazer fumaça no céu tos, quando o zagueiro santista 77
Oberdan perdeu bola para Dirceu, que mandou-lhe dois dribles e não perdoou Gilmar, batendo de fora da área: Cruzeiro 3 x 0. Inacreditável! Mais ainda quando, aos 39, a “Raposa” infernizou a cozinha do “Peixe”, com três tentativas seguidas de gol. Na última, Dirceu Lopes escreveu: Cruzeiro 4 x 0. “Peguei a bola na entrada da área, apliquei um corte no zagueiro, passei-a, do pé direito para o esquerdo, e bati. Ela fez uma curva e enganou o Gilmar, que ficou agarrado na trave. Foi um golaço”, narrou Dirceu ao site www.cruzeiropedia.com.br Aos 41, novamente, Dirceu Lopes infernizou a vida peixeira. Driblou Mauro, dentro da área, e foi derrubado, por Oberdan. Pênalti que Tostão bateu e enlouqueceu a galera: Cruzeiro 5 x 0. Dava para acreditar que tudo isso estava acontecendo só no primeiro tempo? E o “Rei Pelé”, por onde andava? Marcado em cima, por Wilson Piazza, não apareceu. No segundo tempo, o Cruzeiro começou mais desacelerado e levou dois gols, aos seis e aos 10 minutos, ambos marcados por Toninho ‘Guerreiro”. Conta-se que, durante o intervalo, no vestiário, o treinador santista Luís Alonso Peres, o Lula, mandou parar o ataque cruzeirense na porrada. Os cruzeirenses, porém, reacenderam o vigor, após o susto e, aos 72 minutos, Tostão lançou Evaldo, que venceu Oberdan e chutou forte. Gilmar defendeu, oferecendo rebote que Dirceu Lopes não desperdiçou: Cruzeiro 6 x 2. Diante de um baile daqueles, do que não estava acostumado, o Santos ficou nervoso e, aos 75 minutos, Pelé chutou Piazza. Formou-se um burburinho e, da confusão, sobraram expulsões de campo para o “Rei” e o zagueiro cruzeirense Procópio – na época, não havia suspensão automática na partida seguinte. Jogo encerrado, conta-se que os cartolas santistas Athiê Jorge Cury (presidente), e Nicolau Moran (diretor) enviaram a Taça Brasil para o vestiário cruzeirense, a fim de que a “Raposa” ficasse com ela até viajar para a finalíssima. Então, o presidente cruzeirense, Felício 78
Brandi, a teria devolvido, avisando-os de que iria busca-la, em definitivo, na semana seguinte. No que Athiê teria retrucado: “Em São Paulo, a nossa vingança será terrível” – não foi! Wilson Piazza declarou ao Jornal de Brasília que o Cruzeiro mandara 6 x 2 no Santos de Pelé porque este desconhecia a força da moçada estrelada. Na verdade, o “Peixe” não estava tão desinformado assim, pois, em 29 de março, disputara um amistoso contra o Cruzeiro, no Mineirão, e caíra, por 4 x 3. Na dureza do jogo, tivera um aviso sobre a força da equipe visitada, a não ser que quisesse considerar o placar “zebrado” – naquele dia, Tostão (2), Dirceu Lopes e Pelé marcaram gols. A finalíssima da Taça Brasil-196 rolou durante a noite do 7 de dezembro, com o paulistano Pacaembu recebendo almas confiantes da reversão de vantagem Raul foi um dos mais tietados pelo Santos. E tudo parecia que ocorreria, mesmo, pois, aos 23 minutos, Pelé abriu a conta, para Toninho ‘Guerreiro” aumenta-la, dois minutos depois, deixando o primeiro tempo nos 2 x 0. Por ali, entra mais um “conta-se” nessa história. Daquela vez, os dirigentes santistas teriam ido ao vestiário do Cruzeiro, durante o intervalo, querendo negociar o local da terceira partida, no que Felício 79
Brandi teria dito: “O jogo ainda não acabou”. No segundo tempo, Tostão perdeu um pênalti, mas recuperou-se marcando um gol, de falta, aos 18 minutos. A torcida santista não ligou muito. Mas teve como preocupar-se, dez minutos depois, quando Dirceu Lopes empatou. E não acreditou, quando Natal virou a conta, aos 44 minutos: Cruzeiro 3 x 2 - público não divulgado e renda de Cr$ 65 milhões, 142 mil cruzeiros. Pela primeira vez, um time mineiro carregava aquele caneco, erguido, para todo o Brasil ver, pelo capitão Wilson Piazza – Raul; Pedro Paulo, William, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo e Hilton Oliveira, comandados pelo treinador Aírton Moreira.
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PRIMEIRA ETAPA DO PENTA
A gloriosa hora da festa da Raposa
Em 1965, a bola era um fascinante brinquedo para aquele time repleto de jovens que encantavam a torcida. Naquela temporada, os mineiros reverenciavam duas maravilhas, o recém inaugurado e imponente estádio Governador Magalhães Pinto, o Mineirão, e a equipe do Cruzeiro, montada pelo treinador Aírton Moreira. Inaugurado em 5 de setembro daquele alucinante 1965, tempo em que o mundo ficou de cabeça para baixo, principalmente na moda, na política e na música iê-iê-iê dos ingleses Beatles, o Mineirão teve a camisa estrelada desfilando pelo seu gramado, pela primeira vez, poucos dias depois de entregue ao público, no 12 de setembro, vencendo ao Villa Nova, por 3 x 1, sem seis titulares que serviam ao selecionado estadual. Razão de o seu primeiro gol na casa não ter sido marcado por um astro, mas pelo coadjuvante Dalmar, cobrando pênalti, aos 22 minutos da preliminar de Seleção Mineira 1 x 2 Santos, parte, ainda, dos festejos inaugurais - João José fez 2 x 0, aos 25, e a etapa inicial terminou Cruzeiro 2 x 1. 81
A rodada marcava a inauguração dos refletores do Mineirão e um fato incomum fez a torcida cruzeirense gritar “uuuuuhhhh!”, aos 15 minutos do segundo tempo: Batista lançou Antoninho, pintou na cara do gol e não marcou. Quando iria chutar, um pique de energia elétrica apagou as inaugurantes luzes e ninguém viu bola, gramado e nem traves - mas ele fez Cruzeiro 3 x 1, aos 44. A rodada festiva teve 87.701 pagantes renda de Cr$ 92 milhões, 703 mil e 125 cruzeiros, com a “Raposa” usando: Tonho (Valdir); Pedro Paulo (Tenório), Celton, Dilsinho e Neco; Ílton Chaves e Wilson Piazza; Antoninho, João José (Edward), Dalmar e Batista foi o time dirigido por Aírton Moreira. Antes, os cruzeirenses haviam ido ao gramado do Mineirão participar de um bate-bola publicitário, divulgando a obra e para vender cadeiras cativas, em 1964. “Eu vi nascer o estádio”, assinalou Dirceu Lopes para o seu biógrafo Pedro Blank, pelo livro “O Príncipe – A real história de Dirceu Lopes. Em 24 de outubro, em Cruzeiro 1 x 0 Atlético-MG, com gol de Tostão, aos 35 minutos, foi disputado o primeiro clássico no estádio – Tonho; Pedro Paulo, William, Vavá e Neco; Hílton Chaves e Dirceu Lopes; Wilson Almeida, Tostão, Marco Antônio e Hílton Oliveira foram os vencedores. CAMPANHA – Turno - Cruzeiro 2 x 0 Uberlândia; 0 x 0 Democrata de Sete Lagoas; 0 x 0 Uberaba; 2 x 0 Nacional de Uberaba; 2 x 2 Villa Nova de Nova Lima; 2 x 1 América-MG; 1 x 0 Guarani, de Divinópolis; 3 x 0 Valério, de Itabira; 4 x 0 Renascença, de BH; 5 x 0 Siderúrgica de Sabará; 1 x 0 Atlético-MG. Returno – 3 x 0 Democrata; 1 x 0 Valério; 4 x 2 Uberaba; 5 x 0 Villa Nova; 7 x 0 Nacional; 7 x 1 Guarani; 3 x 2 América-MG; 1 x 3 Renascença; 2 x 1 Atlético-MG; 6 x 0 Uberlândia; 8 x 3 Siderúrgica.
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Natal, TostĂŁo, Evaldo, Dirceu Lopes e HĂlton Oliveira acertaram a pontaria e marcaram quase oito dezenas de gols.
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BI-1966 Por aquela época em que a televisão não chegava a todas as casa do país, as emissoras de rádio mais potentes do Rio de Janeiro e de São Paulo faziam os torcedores interioranos mineiros terem mais simpatias pelos clubes dos dois estados. Malmente, eles conheciam os times de Belo Horizonte. Com a inauguração do Mineirão e o sucesso do Cruzeiro, quem ia à capital conhecer o novo estádio encantava-se com a bola de Tostão, Dirceu Lopes, Natal, Piazza, etc. E o Cruzeiro passou a ter a maior torcida do interior de sua terra – merecidamente. Onde ia, lotava estádios. Com 19 vitórias, dois empates e uma inacreditável queda diante do fracote Valério, o Cruzeiro atingiu a marca de 78 gols marcados – 15 levados – em seu segundo campeonato conquistado, na “Era Mineirão”, mantendo a invencibilidade da temporada passada diante de América-MG e Atlético-MG, os dois maiores rivais. Mas não ficaria só nas glórias caseiras, como veremos adiante. Na partida de encerramento do campeonato, por pouco a invencibilidade cruzeirenses não caiu. A moçada foi a campo embalada pela conquista da Taça Brasil, levada ao Mineirão para apresentação à sua torcida, e decepcionou a sua galera, no primeiro tempo, com Tostão chutando um pênalti para a defesa do goleiro atleticano Hélio. Era o segundo que ele perdia, sucessivamente, em dois jogos. Mas o “Galo” também desperdiçou um, na etapa final, quando abriu o placar, aos 25 minutos. Muitos cruzeirenses já haviam ido embora, intuindoo que o seu time perdera aquele clássico, quando ouviram, pelos seus radinhos à pilha, a narração do gol de empate, marcado por Evaldo, aos 48 minutos, nos chamados “descontos” – hoje, acréscimos. E o bi foi comemorado com volta olímpica carregando a Taça Brasil. CAMPANHA – Entre 9 de julho a 11 de dezembro – Turno – Cru84
zeiro 4 x 1 Uberlândia; 7 x 0 Formiga; 2 x 0 Siderúrgica de Sabará; 3 x 0 Renascença; 1 x 0 Nacional de Uberaba; 1 x 0 Villa Nova de Nova Lima; 3 x 2 Democrata de Sete Lagoas; 2 x 1 Valério; 6 x 3 Uberaba; 5 x 1 América-MG; 2 x 0 Atlético-MG. Returno - 4 x 1 Siderúrgica; 3 x 0 Formiga; 4 x 1 Renascença; 0 x 1 Valério; 6 x 3 Villa Nova; 9 x 0 Nacional; 4 x 1 Uberlândia; 5 x 0 Democrata; 4 x 0 Uberaba; 1 x 0 América-MG; 1 x 1 Atlético-MG.
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TRI-1967 O rival “Galo” colocou seis pontos de vantagem na tabela classificatória do Campeonato Mineiro e seria campeão com três empates. Mas perdeu para o Valério, o Uberaba e o Uberlândia. Tinha tudo para acabar com a festa cruzeirense. Como não segurou a onda, o título foi decidido em uma melhor de três. No primeiro jogo da decisão, Cruzeiro 3 x 1. Para o segundo, já em 21 de janeiro de 1968, a Federação Natal, Zé Carlos (Dirceu encoberto) e Tostão Mineira de Futebol-FMF a caminho de mais uma vitória mandou buscar, no Rio de Janeiro, o considerado melhor árbitro do país, Armando Marques, por esperar muitas dificuldades durante a partida. O Cruzeiro não deu chances ao Atlético-MG. Mandou 3 x 0, com gols de Tostão e Dirceu Lopes, respectivamente, aos 41 e aos 45 minutos do primeiro tempo, e de Evaldo, aos 79, diante de 79.981 pagantes – Raul; Pedro Paulo, Vicente, Procópio e Neco; Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo e Hilton Oliveira deram ao Cruzeiro o primeiro tri da “Era Mineirão”, em jogo visto pelo jornal “Diário da Tarde” como “um show do início ao fim”. Para o goleiro Raul, o jogão emocionante da campanha fora o de 26 de novembro: 3 x 3 Atlético-MG, quando a mesma FMF buscara, 86
em São Paulo, o árbitro Ethelvino Rodrigues e 90.838 pagantes passaram pelas bilheterias do Mineirão. Lacy, aos 14 e aos 59, e Ronaldo, aos 38, minutos, abriram a frente vantajosa do “Galo, enquanto Natal, aos 60 e aos 63, e Piazza, aos 74, igualaram o clássico mineiro, que teve, ainda, bola chutada por Zé Carlos batendo na trave galense. Foi um empate com gosto de vitória, sentiu Raul, explicando à “Revista do Cruzeiro” – Nº 7, de 26 de outubro de 1996: “É o meu jogo inesquecível...num domingo. Chovia barbaridade, nós perdíamos, por 0 x 3...tivemos um jogador expulso (de campo), Procópio, ainda no primeiro tempo, e Tostão se contundiu, com cinco minutos de partida...Dos 0 x 3, partimos para a reação, no segundo tempo, empatamos e quase vencemos” – Raul; Pedro Paulo, Victor, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo e Hilton Oliveira (Zé Carlos) foi o time armado pelo treinador Orlando Fantoni para aquele dia. Para outros atletas, o grande resultado da temporada fora o de 21 de janeiro de 1968, fechando a decisão do Estadudal-1967, com Tostão, aos quatro minutos; Dirceu Lopes, aos 45, e Evaldo, aos 82, escrevendo na rede os 3 x 0 que valeram o primeiro tri do Mineirão – Raul; Pedro Paulo, Vicente, Procópio e Neco; Piazza e Dirceu Lopes; Natal, Tostão, Evaldo e Hílton Oliveira foi a turma da pancada. CAMPANHA – Entre 12 de julho e 9 de dezembro de 1967 - Turno - Cruzeiro 1 x 3 Usipa; 6 X 2 Valério; 5 x 0 Democrata; 3 x 1 Formiga; 3 x 1 Uberlândia; 0 x 0 Uberaba; 5 x 1 Villa Nova; 4 x 0 Araxá; 0 x 0 Nacional; 1 x 2 América-MG; 0 x 0 Atlético-MG. Returno – 2 x 0 Uberlândia; 4 x 0 Uberaba; 2 x 1 Villa Nova; 4 x 2 Valério; 4 x 0 Democrata; 7 x 0 Araxá; 0 x 0 América-MG; 6 x 1 USIPA; 3 x 3 Atlético-MG; 2 x 0 Formiga; 4 x 1 Nacional. Melhor de três: 3 x 1 e 3 x 0 Atlético-MG.
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ROBERTÃO-1967 Antes do Campeonato Mineiro, a temporada havia marcado a primeira goleada sobre o rival Atlético-MG, na “Era Mineirão”: 4 x 0, em 5 de março, valendo pela primeira rodada do Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o “Robertão”, principal embrião do atual Campeonato Brasileiro – a disputa homenageava um ex-atleta e ex-dirigente do futebol brasileiro. Os torcedores atleticanos não suportavam mais as tantas caçoadas dos cruzeirenses, pois não comemoravam uma vitória sobre eles desde o amistoso de 26 de junho de 1966, no Mineirão, por 3 x 2, diante de 23.942 pagantes. E o placar tornava-se mais importante por conta de um detalhe: os alvinegros belo-horizontinos eram a maioria da torcida da terra e, dos mais de 100 mil presentes ao clássico – 91.042 pagantes e a sensacional renda de NCr$ 190.607,00 novos cruzeiros, a moeda de então –, eles ocupavam mais espaços no estádio. Devido a grandiosa expectativa pelo prélio, foi preciso contratar juiz de fora das Minas Gerais. Chamaram Olten Ayres de Abreu, da Federação Paulista de Futebol, e este, aos 30 minutos, já estava ordenando uma nova saída de bola, pois Evaldo fizera Cruzeiro 1 x 0, placar da primeira etapa. Na fase final, aos 52 minutos, o mesmo Evaldo voltou a calar a torcida atleticana. Aos 77 e aos 82, respectivamente, Natal e Wilson Almeida fizeram a torcida galense sair mais cedo do estádio: 4 x 0 – Raul; Pedro Paulo, Celton, Procópio e Neco; Piazza (Zé Carlos) e Driceu Lopes; Natal (Wilson Almeida), Tostão, Evaldo (marco Antônio) e Hílton Oliveira foi a rapaziada do show de bola destacado por toda a imprensa nacional.
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TETRA-1968 Quem foi ao Mineirão na tarde do sábado 4 de maio, deslumbrou-se com o futebol apresentado pelo Cruzeiro. Mandou 10 x 0 Independente, de Uberaba, com 2 x 0, em 10 minutos, e 4 x 0 ao final da primeira etapa. Na fase final, com 30 segundos, a “Raposa” avisou que a rapaziada não iria se acomodar. E deu no que deu, com gols de Rodrigues, aos 7 e aos 52; Evaldo, aos 10; Tostão, aos 29 e aos 40 minutos do primeiro tempo; aos 30 segundos do segundo tempo e aos 65, e Natal, aos 64, 69 e aos 85 minutos – Raul (Fazano); Pedro Paulo, Procópio, Darci Menezes e Neco; Wilson Piazza e Zé Carlos; Natal, Tostão, Evaldo (Palhinha) e Rodrigues foi o time do dia. Com aquela conquista, invicta, o Cruzeiro quebrava o tabu, de 30 temporadas sem um tetra. Andara perto disso, sendo tri-1928/29/30; 1943/44/45; 1959/60/61. A jornada teve 22 jogos, com 22, com 17 vitórias, cinco empates, 63 gols marcados e oito contra. CAMPANHA: Turno - Cruzeiro 6 x 1 Uberlândia; 3 x 0 Uberaba; 0 x 0 Democrata; 0 x 0 Valério; 4 x 0 Usipa; 4 x 1 Araxá; 10 x 0 Independente; 2 x 0 América-MG; 0 x 0 Formiga; 5 x 1 Formiga; 2 x 1 Atlético-MG. Returno - 3 x 0 Uberlândia; 2 x 0 Usipa; 2 x 0 Uberaba; 3 x 0 Araxá; 3 x 0 Independente; 2 x 2 América-MG; 3 x 0 Democrata; 2 x 0 Formiga; 5 x 1 Valério; 1 x 1 Atlético-MG.
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PENTA-1969
Natal condecorado por Ignez Helena, relações públicas do Cruzeiro
O time fechou a série de cinco títulos mineiros, em 30 jogos, com 26 triunfos e quatro empates. Marcou 68 gols e levou seis – só um empate durante o primeiro turno e engoliu um gol marcado pelo devagar Uberaba. A incrível média de 62, revelava a sua grande superioridade sobre os concorrentes. Além de não tropeçar nos principais adversários – Atlético-MG e América-MG –, o Cruzeiro mandou a maior goleada do certame: 8 x 0 Tupi. O grande jogo da temporada, no entanto fora o de 4 de maio der 1969, com 1 x 0 sobre o “Galo”. Diante do então maior público do futebol brasileiro – 123.351 pagantes, recorde, até hoje, no Mineirão –, o Cruzeiro teve o seu gol marcado por Natal, aos sete minutos do segundo tempo. Com a sua 90
rapaziada já havia mandado o mesmo placar, durante o primeiro turno, os atleticanos juraram vingança para aquele clássico apitado por José Astolfi, da Federação Paulista de Futebol. Ficaram, porém, só na promessa – Raul: Pedro Paulo, Fontana (Raul Fernandes), Mário Tito (Evaldo) e Vanderlei; Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Natal, Tostão e Rodrigues foi a equipe. CAMPANHA: Turno – Cruzeiro 4 x 0 Valério; 3 x 0 Democrata, de Sete Lagoas; 8 x 0 Tupi, de Juiz de Fora; 1 x 0 Formiga; 0 x 0 Uberlândia; 3 x 1 Uberaba; 3 x 0 Araxá; 3 x 0 Usipa; 1 x 0 América-MG; 1 x 0 Democrata, de Governador Valadares; 1 x 0 Atlético-MG; 2 x 0 Independente; 5 x 0 Sete de Setembro; 1 x 0 Villa Nova, de Nova Lima; 4 x 0 Vila do Carmo. Returno – 3 x 0 Democrata-SL; 1 x 0 Demcraata-GV; 1 x 0 Uberlândia; 2 x 0 América-MG; 1 x 0 Atlético-MG; 1 x 1 Vila do Carmo; 1 x 1 Independente; 2 x 0 Tupi; 2 x 0 Villa Nova; 1 x 0 Uberaba; 5 x 0 Usipa; 2 x 0 Sete de Setembro; 1 x 1 Valério; 2 x 0 Formiga e 2 x 1 Araxá.
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TORNEIO ROBERTO GOMES PEDROSA (ROBERTÃO) Ampliação, em 1967, pelas federações de futebol carioca e paulista, do Torneio Rio-São Paulo, este criado, em 1933, pelo jornalista Mário Filho, como promoção do seu “Jornal dos Sports”. Em 2010, a Confederação Brasileira de Futebol o reconheceu como Campeonato Brasileiro. Antes do Campeonato Mineiro-1967, a temporada havia marcado a primeira goleada sobre o rival Atlético-MG, na “Era Mineirão”: 4 x 0, em 5 de março, valendo pela primeira rodada do “Robertão”, principal embrião do atual Campeonato Brasileiro e disputa que homenageava um ex-atleta e ex-dirigente do futebol brasileiro. Os torcedores atleticanos não suportavam mais as tantas caçoadas dos cruzeirenses, pois não comemoravam uma vitória sobre eles desde o amistoso de 26 de junho de 1966, no Mineirão, por 3 x 2, diante de 23.942 pagantes. E o placar torna-se mais importante por conta de um detalhe: os alvinegros belo-horizontinos eram a maioria da torcida da terra e, dos mais de 100 mil presentes ao clássico – 91.042 pagantes e a sensacional renda de NCr$ 190.607,00 novos cruzeiros, a moeda de então –, eles ocupavam mais espaços no estádio. Devido a grandiosa expectativa pelo prélio, foi preciso contratar juiz de fora das Minas Gerais. Chamaram Olten Ayres de Abreu, da Federação Paulista de Futebol, e este, aos 30 minutos, já estava ordenando uma nova saída de bola, pois Evaldo fizera Cruzeiro 1 x 0, placar da primeira etapa.
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ROBERTÃO-1969 O Cruzeiro do grupo que chegou ao penta mineiro conquistou o vice-campeonato da então maior competição nacional do final da década, título importantíssimo. Se enfrentou apenas três “grandes” – Fluminense, Grêmio-RS e Santos – durante a Taça Brasil-1966, neste outro desafio encarou 15 adversários duríssimos – Corinthians, Palmeiras, Portuguesa de Desportos, Santos, São Paulo, Bangu, Botafogo, Flamengo, Fluminense, Vasco da Gama, Internacional-RS, Grêmio Porto-Alegrense-RS, Atlético-MG, Cruzeiro e Ferroviário-PR. Para honrar as alterosas, o Cruzeiro contratou o “xerife” Fontana, de muitas histórias no Vasco da Gama, por caríssimos Cr$ 200 mil cruzeiros, e um outro zagueiro do futebol carioca, o banguense Mário Tito. Também, foi por ali que chegou o lateral-esquerdo Vanderlei, um dos caras do “Time do Postal”. A “Raposa” começou a morder o vice com gande dentada: 3 x 0 Fluminense, durante o festivo 7 de setembro, no Maracanã, diante de 30.243 pagantes, bom público para um feriadão. Tostão (2) e Dirceu Lopes balançaram a rede e Gerson dos Santos escalou: Raul; Raul Fernandes, Darci Menezes, Mario Tito, e Neco (Vanderlei); Wilson Piazza, Zé Carlos e Dirceu Lopes; Palhinha (Evaldo), Tostão e Hílton Oliveira. Incluído no Grupo A, além daquela vitoriaça sobre os tricolores cariocas, os raposeiros não deixaram dúvidas quanto ao seu poderio, prosseguindo na fase com mais três grandes resultados fora de casa: 1 x 0 Palmeiras; 2 x 1 América-RJ e 3 x 2 Santos – além de 1 x 1 Portuguesa de Desportos; 1 x 1 Coritiba e 1 x 1 Grêmio-RS. Mas, também, rolaram tropeços inesperados no Mineirão, como 0 x 1 Botafogo e 2 x 2 Flamengo. No cumprimento do dever de casa, houve 2 x 0 São Paulo; 1 x 0 Internacional; 1 x 0 Vasco da Gama e 2 x 1 Atlético-MG, este diante de 97.928 pagantes, em 28 de setembro. Os resultados da fase inicial deixaram o Cruzeiro em segundo lu93
gar no Grupo A, com os mesmos 16 pontos ganhos pelo Corinthians, que lhe venceu, por 2 x 0, em São Paulo, e ficou com um triunfo a mais: 10 x 9 – mesmo número de vitórias do ganhador do Grupo B, o Palmeiras. Veio a fase decisiva e o Cruzeiro – 2 x 2 Botafogo (fora); 1 x 1 Palmeiras e 2 x 1 Corinthians (ambos em casa) – somou os mesmos três pontos dos campeões palmeirenses, só não carregando o caneco por ter levado dois gols a mais.
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