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Realização
INSTITUTO CULTURA BRASILEIRA www.culturabrasileira.org.br
Coprodução
WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO INTEGRADA www.widebrasil.com
Instituição parceira
INSTITUTO CASA DO CHORO www.casadochoro.com.br Editores Felipe Lucena, MTb 0036608/RJ Ricardo Da Fonseca, MTb 36583/RJ Conselho Editorial Abdallah Harati, Afonso Machado, Aurélie Tyszblat, Barão do Pandeiro, Carlos Almada, Felipe Lucena, Joel Nascimento, Jorge Cardoso, Luciana Rabello, Marcílio Lopes, Maurício Carrilho, Pedro Aragão e Ricardo Da Fonseca. Redação Felipe Lucena, Miro Lopes e Ricardo Da Fonseca Projeto Gráfico R. Gatto Agradecimentos Casa do Choro, Luciana Rabello, Maurício Carrilho, Mari Dantas, Anna Carolina Braz, Ariane Bastos, Elan Santiago e Cristóvão Bastos. Revisão de Texto Leonardo Legey Fotografia Flora Pimentel e Humberto Souza A revista Choro Carioca, é uma publicação do Instituto Cultura Brasileira, coproduzido pela WideBrasil Comunicação Integrada Ltda e pela Luneta Comunicação e Editora Ltda. As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição da revista Choro Carioca, dos seus editores e anunciantes. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte. Julho de 2016 - Edição exclusivamente eletrônica
Não é exagero dizer que a música já salvou a vida de muitas pessoas. Incontáveis pessoas. Infinitas pessoas. E não digo isso só no sentido literal. Não falo dos casos nos quais alguém, através do trabalho na ou com a música, muda de vida ou se recupera de grandes traumas. Falo no dia-dia. Quantas vezes, ouvir uma canção já fez o seu dia melhor? Aposto muitas notas que isso já aconteceu inúmeras vezes. A música sempre nos salva. Inclusive quando nem percebemos isso. É um herói discreto, não pode, de fato, ser visto, só ouvido, sentido. Com a certeza de que a música é uma heroína, fica a outra certeza de que precisamos de mais membros para as missões do cotidiano. É nesse contexto que entra o choro. Sinceramente, não me incomodo em ver pessoas ouvindo músicas industriais, comerciais, midiáticas. Cada um na sua. O que acho que é um problema é as pessoas não terem opções. Sou sempre a favor do maior número de opções possíveis. Para tudo na vida, sobretudo, a música. É nesse contexto que entra o choro. Não é justo que muitas pessoas não tenham acesso a esse gênero musical. No fim das contas, a pessoa pode gostar do gênero e estilo de música que quiser, porém, para fazer uma escolha mais completa, é preciso ter um conjunto de opções e conhecimento maior. As pessoas precisam ter contato para gostar ou não. O total desconhecido nem sempre é bem-vindo. E o choro, uma música tão enriquecedora, precisa estar próxima, falando ao ouvido de todos. É nesse contexto que entra o Festival Nacional de Choro. Um evento que abre as portas de um casarão no centro do Rio (Casa do Choro), do palco do BNDES e que escancara o choro pelas ruas do Rio, na Praça Tiradentes, merece todo respeito, destaque, admiração e muito mais. A cada ano que passa, esse evento leva mais gente para o choro e leva o choro para mais gente. É nesse contexto que entram as pessoas. Sempre as pessoas. Não fossem elas, nada disso aconteceria. Maurício Carrilho, Luciana Rabello e todos os incansáveis da Casa do Choro e seus aliados merecem todos os bons frutos que a festa vem colhendo nos últimos anos. Parabenizá-los e colaborar com a causa é pouco diante de todo o trabalho que fazem, mas são coisas que sempre devemos fazer. Parabéns a todos! Quem aposta, patrocina, colabora, ajuda de alguma forma, participa e frequenta o Festival do Choro também merece sinceros cumprimentos. Todos precisamos de apoio. Para que a música nos salve diariamente, precisamos abrir as portas das possibilidades para que a canção entre e abrir certas portas nem sempre é fácil, como sabemos. Nesse contexto geral, estamos nós, da revista Choro Carioca, da agência de comunicação WideBrasil, da editora Luneta e do Instituto Cultura Brasileira. Estamos aqui, com as portas, os ouvidos e os corações abertos para dar a nossa contribuição à promoção dessa tal música - que sempre nos ajuda e nos torna melhores. Choro Carioca
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CRISTÓVÃO BASTOS FELIPE LUCENA
Cristóvão Bastos, homenageado do Sétimo Festival de Choro, respira música. Não costuma fazer muitos planos, as coisas acontecem e essa é sua “resposta ao tempo”. A ideia vem dando muito certo. Ao longo da carreira, Cristóvão tornou-se parceiro de nomes como Chico Buarque, Paulo César Pinheiro, Aldir Blanc, Abel Silva, Paulinho da Viola e Elton Medeiros. Em 1998, o pianista destacou-se como o compositor de “Resposta ao tempo” (em parceria com Aldir Blanc), tema de abertura da minissérie Hilda Furacão, da Rede Globo, sucesso na voz de Nana Caymmi. Outras composições de Cristóvão foram gravadas por Paulinho da Viola, Mauro Senise, Zé Nogueira, Luciana Rabello, João Nogueira, Raphael Rabello, Simone, Chico Buarque, Ney Matogrosso, Zezé Gonzaga e Barbra Streisand, entre outros. Nos mais de 50 anos de carreira, Cristóvão Bastos recebeu diversos prêmios, entre os quais oito Sharp: na categoria Melhor Arranjo de Samba pelos discos Paulinho da Viola e Parceria (de João Nogueira e Paulo César Pinheiro); na categoria Melhor Arranjo Instrumental pelo disco Disfarça e chora, de Zé Nogueira; na categoria Melhor Arranjo de MPB pelos CDs Tantos caminhos (de Carmen Costa) e Resposta ao tempo (de Nana Caymmi); na categoria Melhor Arranjo de Canção Popular pelo CD de Agnaldo Rayol. Em 2008 foi contemplado também com o Prêmio Tim de Música, na categoria Melhor Arranjador, pelo CD Acústico MTV, de Paulinho da Viola. Em 2011, foi contemplado com o Prêmio da Música Popular Brasileira, na categoria Melhor Arranjador. Cristóvão é o entrevistado dessa edição mais que especial da Choro Carioca. Merecidas homenagens.
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Revista Choro Carioca: Como foi o início de sua carreira artística? Cristóvão Bastos: Comecei com sete anos. Resolvi estudar acordeon. Eu vi umas pessoas tocando acordeon em uma festa e falei para o meu pai que eu queria aprender. Passei a estudar e me formei professor de acordeon aos 13 anos de idade. Nunca mais, eu vi esse curso que fiz, que formava professores em alguns instrumentos. Aos 13, já comecei a tocar profissionalmente, em bailes. Naquele tempo, o baile era um grande aprendizado. Depois, toquei em boates, onde conheci muita gente, passei a formar minhas parcerias e a compor. Revista Choro Carioca: Você teve outras profissões além da música? Cristóvão Bastos: Quando comecei na música, a estudar, eu não pensava em carreira musical. As coisas foram acontecendo. Com 19 anos, cheguei a trabalhar em uma gráfica que se chamava “Gráfica Musical”. Antigamente, antes dessa praticidade do digital, as partituras eram feitas em placas de chumbo. As partituras eram gravadas nessa chapa de chumbo e quando ia imprimir, saia a partitura. O nome da profissão era gravador. Hoje em dia, se você pegar uma partitura dessa época, as que eram feitas por gravadores caprichosos, são muito parecidas com as atuais. Nem se nota a diferença. Nessa gráfica, eu não tocava, mas exigia um conhecimento teórico de música para fazer esse trabalho. Trabalhei menos de um ano lá, porque eu tocava na noite, fiquei sobrecarregado. Cheguei a fazer um concurso público uma vez também, quando era bem novo. Mas nem lembro para que órgão. Só lembro do meu número de inscrição para esse concurso, que era 5555. Lembro desse número porque meu número de registro da Ordem dos Músicos é 9999. Lembro por essa coincidência dos números repetidos. Revista Choro Carioca: Você começou no acordeon e migrou para o piano. Como foi essa mudança? Cristóvão Bastos: Na escola que eu estudei tinha um piano. Eu botava a mão nele às vezes. Mas a técnica do acordeon é bem diferente do piano. O segredo do acordeon está na mão esquerda. No piano, as coisas são de outra forma. Eu tinha uns 17 anos e estava tocando acordeon em uma boate, o que era até proibido na época, pois eu era menor de idade. Um dia, o dono dessa boate, que ficava em Cascadura, me perguntou se eu tocava piano, porque o pianista da casa iria sair e ele precisava de alguém para substituir. Eu disse que tocava. Eu tinha conhecimento das notas, porque no acordeon são as mesmas, mas o complicado era a mão esquerda, que no começo “catava milho”, aí eu acabava cansando a direita. Foi uma boa partida para estudar o instrumento e fiz isso: estudei. A necessidade, às vezes, nos faz tomar certos rumos na vida mais do que qualquer outra coisa.
Revista Choro Carioca: Que outros instrumentos você toca? Cristóvão Bastos: Toco violão. Como referência. É um instrumento que me fascina muito. Tem uma coisa de concisão. Ao tocar, você tem seis cordas e, normalmente, toca com quatro dedos, então, você tem quatro sons e tem que sintetizar isso. No piano, por exemplo, você tem a possibilidade de fazer até 10 sons ao mesmo tempo. Isso eu acho muito fascinante no violão. Inclusive, já compus no violão. Compus no violão duas músicas que marcaram minha carreira, que foram “Todo Sentimento”, com Chico Buarque e “Resposta ao Tempo”, que a Nana gravou e foi sucesso. Já toquei flauta e trompete também, o que me ajudou muito nas percepções que um arranjador precisa ter. Revista Choro Carioca: Qual sua relação com outras artes, além da música? Cristóvão Bastos: Eu gosto muito de literatura. Sou leitor. Estou relendo “Sagarana”, do Guimarães Rosa, que acho que é meu autor preferido. Lembro que quando eu era bem novo, com uns 14 anos, quando ainda vivia em Marechal Hermes, eu cheguei a escrever umas letras de música. Tive uma fase na minha vida que eu escrevia quase todo dia, mas isso foi passando e passei a me dedicar à música mesmo. Já fiz trilhas para cinema. É uma coisa que gosto bastante. Revista Choro Carioca: Já que estamos falando de arte, cultura, qual sua opinião sobre toda essa polêmica criada em torno do Ministério da Cultura? Cristóvão Bastos: A cultura tem que ser uma obrigação do Estado. Você imagina uma orquestra sinfônica, não tem como uma coisa assim ser privada. O grande acervo e as grandes possibilidades têm que ser bancadas pelo Estado. A arte virou um produto. O que escutamos no rádio é um formato de fácil digestão. É como um sabonete, inclusive as pessoas estudam meios para que esse formato chegue a esse ponto de ser digerido fácil. O sabonete é feito para acabar e você ter que comprar e usar outro. Há uma necessidade de ser descartável. Têm vários discos atuais que se você comprar, você vai escutar uma ou duas vezes e vai passar. Eu tenho discos dos anos 1940, que se eu botar para tocar agora, vão continuar sendo bons. Ou até melhores hoje em dia que já foram no passado, porque não tem mais concorrência. A cultura tem que ser obrigação do Estado. Cultura e educação. Com cultura e educação a população passa a fazer escolhas melhores. Os maiores medos dos ditadores são cultura e educação. Revista Choro Carioca: E o mercado da música, qual sua análise sobre? Cristóvão Bastos: O conceito de quem faz parte dessa indústria cultural, da mídia, é burro. Eles só olham para um seguimento. Alegam que é o que Choro Carioca
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o público quer ouvir, mas na verdade é o que eles acham que o público quer ouvir. Eu penso que se uma rádio de bom alcance coloca uma música de um seguimento que não costuma tocar, aquela música vai ser escutada por muita gente. E as pessoas vão gostar. Uma parte delas, pelo menos. Eu faço shows de choro e vejo que tem público e um público entusiasmado. Que gosta mesmo daquela música. A mídia não é nem seletiva, ela é burra mesmo. Tem espaço para outras coisas, mas eles não exploram. Eles abraçariam outros mercados, outras pessoas se soubessem trabalhar com gêneros musicais que não são tão trabalhados. Há muito tempo, eu fui fazer um programa de TV e soube no programa que a audiência tinha sido de 250 mil pessoas. Tem gente para acompanhar determinados gêneros que não recebem a devida atenção da mídia.
surgiu muito rápido. O Aldir fez uma letra de forma bem natural e da mesma forma a Nana [Caymmi] começou a cantá-la. Lembro que fomos ao estúdio gravar e eu sentei ao piano e fui fazendo um arranjo na hora, porque não havia levado nada arranjado de casa. Na hora também a Nana decidiu que iria fazer uma coisa com a voz. Enfim, tudo nessa música foi muito natural. Alguém levou para a Globo e colocaram em uma série. Foi um sucesso. É uma música muito especial. Quando escuto, por tudo o que aconteceu, sinto que essa música tem algo mágico. Não foi nada planejado e acho isso fantástico.
Revista Choro Carioca: Você chegou a ser produtor algumas vezes, não é mesmo? Cristóvão Bastos: Eu produzi pouca coisa. Fiz a produção de dois ou três discos do Jards Macalé e um do Edu Lobo. Foram trabalhos bem tranquilos, Revista Choro Carioca: Você teve muitos parceiros porque as coisas fluíram muito fácil com eles dois. musicais ao longo da carreira. Consegue apontar os Eu gosto mesmo é de ser arranjador. Essa é uma mais marcantes? coisa que trouxe para mim, que gosto de fazer. Cristóvão Bastos: Eu só fiz uma música com o Chico Buarque. Mas foi uma grande música, virou Revista Choro Carioca: Muito se fala do Cristóvão uma música cult, então nota-se que tem muita artista. Conte como é seu dia normal, pessoal química nessa parceria. Estamos trabalhando em mesmo. outra música que deve sair no próximo disco dele. Cristóvão Bastos: Meu dia é o seguinte: eu acordo Fiz muita coisa com o Paulo César Pinheiro. Só que e tomo um café da manhã, aí toco. Quando tenho ainda não conseguimos fazer algo que marcasse. que escrever algo, eu escrevo. Eu vivo em um mundo Mas sinto que vai rolar algo assim. Com o Abel Silva musical, eu estudo todo dia. Estudo cerca de duas deu muito certo. Fizemos música que foi abertura horas por dia, busco músicas dos grandes mestres de novela, que a Simone gravou, o nome da música para tocar. Leio, no momento estou com esse livro é “Raio de Luz”, até a Barbra Streisand fez versão. do Guimarães Rosa, que citei agora pouco. Estou Agora, o parceiro que dá super certo é o Aldir Blanc. estudando inglês online, para me atualizar. Mas de Fizemos “Resposta ao Tempo”, que foi sucesso, entre modo geral, está tudo ligado ao mundo musical, outras coisas. que é muito grande. Eu vivo em um mundo musical, mesmo. Revista Choro Carioca: E em meio a tantos prêmios, consegue citar alguns mais importantes? Revista Choro Carioca: Como foi receber o convite Cristóvão Bastos: Eu tenho vários prêmios como para ser homenageado no Festival de Choro? arranjador, prêmio de disco instrumental, um disco Cristóvão Bastos: Foi uma surpresa muito boa. Eu que fiz com o Marco Pereira, o nome do disco é até brinquei com a Luciana. Falei para ela: “Vocês “Bons Encontros”. O tema desse disco são as músicas estão certos disso? Eu estou vivo” [risos]. Foi uma de Noel Rosa e Ary Barroso. Os dois, por um ser honraria. Ser homenageado vivo é uma honra. Muitos pianista e o outro violonista. Mas fazendo o disco, dos outros homenageados, nas edições anteriores vimos que esse trabalho tinha mais piano que violão, do Festival, já estavam mortos. É uma coisa muito porque muitos sucessos do Noel foram feitos em bonita essa coisa da homenagem. Eu fiquei muito parceria com o Vadico, que compunha no piano. Esse feliz. Estou até para escrever algo sobre isso e postar trabalho tem essa curiosidade. Eu ganhei prêmios no Facebook, que é um veículo legal que temos para de composição com “Resposta ao tempo”, além de nos comunicarmos com as pessoas. Essa homenagem prêmios como arranjador de samba, arranjador de foi bem legal. Fiquei muito feliz mesmo. MPB e de música popular, categoria que tinha no Revista Choro Carioca: Como e quando começou Prêmio da Música. sua relação com o choro? Revista Choro Carioca: Essa música “Resposta ao Cristóvão Bastos: Começou cedo. Eu me lembro que Tempo” tem muita história. Fale um pouco sobre quando era bem garoto, estava sentado no meioela. fio da rua onde morava, em Marechal Hermes, e Cristóvão Bastos: Eu lembro que essa música, eu fiz a eu vi passando o Regional do China. Eles vinham primeira parte em minutos. Morava em Copacabana, andando e passaram por mim. Eu escutava esses peguei o violão e a música surgiu, como se estivesse regionais famosos na rádio. Ficava encantado e ver sido enviada para mim. A segunda parte também os caras ali me deixou maravilhado. Tocando em Choro Carioca
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baile, tocávamos pouco choro, eventualmente tocávamos “Carinhoso”, do Pixinguinha. Certa vez, tocando em uma boate em Copacabana, conheci o Paulinho da Viola e nos demos muito bem. Pessoal e musicalmente. E foi na época que o Paulinho estava na luta pelo resgate do choro, junto com o Sérgio Cabral, o jornalista. Esse trabalho do Paulinho trouxe de volta o conjunto Época de Ouro e foi muito legal. Acho que em 1974, ou 1975, Paulinho, que gravava um disco por ano, gravou dois. O “Cantando” e o “Chorando”. Nesse “Chorando”, foi a primeira vez que gravei um disco instrumental como convidado. E esse disco foi uma retomada do choro, um marco. Mais recentemente veio meu contato com Luciana e Maurício, dei aula por um tempo na Escola Portátil de Música, estou sempre tentando, como posso, ajudar na Casa do Choro, onde, hoje em dia, dou aula. Aliás, trabalho maravilhoso que Luciana, Maurício e aquela turma toda da Escola Portátil e Casa do Choro fazem para promover o choro, a música brasileira. Sempre fui fascinado pelo choro, mas os marcos da minha vida com esse gênero musical são esses que citei. Revista Choro Carioca: Qual sua visão em relação ao futuro da música feita no Brasil? Cristóvão Bastos: A palavra é renovação. Estive pensando nisso. Nelson Sargento falou “O samba agoniza, mas não morre”. O Paulinho da Viola disse: “Há muito tempo eu escuto esse papo furado, dizendo que o samba acabou. Só se foi quando o dia clareou”. Partindo dessas ideias desses dois sábios, nós notamos que choro e samba têm raiz. As correntes contrarias são descartáveis. Choro e samba, não. São coisas mais firmes. E tem muita gente nova tocando. A Escola Portátil, como citei antes, tem muita importância nisso. A Luciana é incansável. Acho que a música está viva e vai continuar viva. Tem muita gente nova fazendo música boa, usando raízes antigas e mesclando com coisas novas, então o futuro é bom. Acredito nisso. Revista Choro Carioca: E os seus planos futuros, quais são? Cristóvão Bastos: Quero gravar um disco solo, de piano. E outras coisas. Vou fazer um trabalho com a Áurea Martins. Além disso, quero fazer um disco com Maurício Carrilho, Aquiles Moraes e Luciana Rabello. Tem essa canção nova com o Chico. Estou compondo outras coisas. Eu não sou muito planejador. As coisas acontecem, mas esse ano tem esses planos, para esses próximos dois anos, para ser mais exato.
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Imaginem um grande festival, que se repete pela sétima vez e que na presente edição terá uma semana de atrações, de variadas formas. Imaginaram? Pensaram no trabalho que isso daria ou deu, não é mesmo? Pois assim foi o Sétimo Festival Nacional do Choro, que ocorreu em abril deste ano, no Rio de Janeiro. Foram shows, palestras, aulas e muito mais. Para botar essa roda para girar, foi preciso muito trabalho. Mariana Dantas, que trabalhou na produção do evento, conta como foi toda essa organização: “De produção mesmo fui eu e a Maria Holanda mais na parte de ‘logística’, contato com os músicos e produção das palestras/workshops; o Cesar Carrilho (responsável pelos shows da praça), a Fernanda da Silveira (responsável pela parte financeira) e a Soraya Nunes (essa é um polvo, cuida de tudo!). Os meninos Tomaz Retz, Jamerson Farias - responsáveis pelo acervo da Casa do Choro - também ajudaram bastante. Nosso programador visual a mesma coisa, o Gabriel Leite. Tá sempre junto. Mauricio Carrilho, Paulo Aragão e Jayme Vignoli focam na direção musical. Fora a Luciana que é uma mãezona e nossa coordenadora de produção. Trabalha muito”, disse Mariana, que também colaborou na produção do quinto e do sexto Festivais.
Como era de se esperar, o trabalho não foi fácil. Contudo, a equipe que produziu o Festival frisou que a correria de sempre e as dificuldades ao longo das atividades eram compensadas pelo amor ao projeto e pelos resultados. “Cara, não é demais ver aquela galera na Praça Tiradentes? Um lugar tão maltratado da nossa cidade? Como diz a Luciana, não é um show de funk e bomba! É choro! O público tá carente disso, de boa música. Por mais que não seja necessariamente de choro, as pessoas querem ouvir o que é bom. E o choro está aí pra isso. A gente espera 365 dias por outra semana como essa! O bom é que desde maio, a Casa do Choro conta com uma programação semanal especial, o que diminui um pouco a saudade...” pontua Mariana Dantas.
Sim. O show tem que e vai continuar. Neste último mês de maio, a Casa do Choro iniciou uma série de apresentações que acontecem no belo auditório desse novo templo da música brasileira. Além disso, vêm mais novidades por aí. “A ideia é continuar, ao longo do ano, com essas conversas - que chamamos de palestras - com grandes nomes da música e da cultura. É um trabalho muito importante de valorização de quem merece”, afirmou Luciana Inclusive, o Sexto Festival Nacional de Choro, que durante o Festival deste ano. aconteceu em 2015, inaugurou a Casa do Choro e coroou toda essa equipe que há muito tempo vem Com essa dedicação total, o choro agradece. trabalhando para que esse gênero musical siga firme e forte.
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No dia 18/04, o Espaço Cultural BNDES abriu as portas de seu auditório para o show do grupo Os Matutos. Oriundos de Cordeiro, interior do estado do Rio de Janeiro, e ex-alunos (alguns hoje são professores) da Escola Portátil de Música (EPM), o conjunto encantou o público com canções autorais e algumas versões que serviram de homenagem, como uma música de Cristóvão Bastos, celebrado nesse Sétimo Festival Nacional de Choro.
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Entre os dias 19 e 22 de abril, a Casa do Choro foi palco de workshops e palestras. Muitos temas, como os metais e o choro, composição de choro, entre outros, foram abordados. Os palestrantes foram um show à parte: Hermínio Bello de Carvalho, Déo Rian, Cristóvão Bastos e Wilson das Neves.
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O FUTURO É AGORA Quem foi que disse que choro é música de velho? Óbvio que isso está errado. O choro é de todos. Na manhã do sábado, dia do choro (23/04), Paula Borghi comandou atividades para crianças na Casa do Choro. A “Oficina - Uma apreciação lúdica do Choro” foi voltada para meninos e meninas de seis a 12 anos de idade e antecedeu os shows da Praça Tiradentes, que começaram na tarde daquele mesmo dia.
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PALCO A CÉU ABERTO
No sábado, 23/04 — no Dia do Choro —, a Praça Tiradentes, no centro do Rio de Janeiro, foi tomada por apresentações e por um público considerável. Músicos cariocas e de outras cidades deram o tom nessa festa do gênero musical urbano mais antigo do nosso país. Aqui é choro!
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BOAS IMPRESSÕES DE UMA FESTA Uma vez, ao entrevistar Maurício Carrilho (entrevista que estará na próxima edição da revista Choro Carioca), ele me disse algo que concordei plenamente e que ficou na minha cabeça. Enquanto falávamos sobre a popularização do choro no Brasil, Maurício disse que a ideia não é que todo mundo ouça choro, mas que, pelo menos, as pessoas tenham a oportunidade de conhecer o gênero musical e possam optar entre ouvi-lo ou consumir outras formas de fazer música. “Essa música (o choro) não faz mal a ninguém, só faz bem. Estamos há muito tempo com a Escola Portátil de Música - EPM - funcionando e nunca vimos uma confusão. Nenhuma briguinha. O que seria até normal em um ambiente com tantas pessoas diferentes, mas não temos problemas. Isso se deve também a essa música, que só traz coisas boas”, me disse o violonista. Maurício tem razão. Essa música só traz coisas boas. E foi essa impressão que tive acompanhando o Sétimo Festival Nacional de Choro. Evidente que eu já conhecia o poder que o choro tem de tocar almas, de nos levar para um plano paralelo, prazeroso. No entanto, assistir isso de perto e de forma constante, envolvendo muitas outras pessoas, é outra história. Durante a abertura dessa edição do Festival, no show do grupo Os Matutos, que aconteceu no Espaço Cultural BNDES, no Rio de Janeiro, uma senhora bem velhinha que estava sentada na poltrona à frente da minha, cochilou no fim da apresentação. Quando a ótima apresentação acabou, os bombeiros civis que trabalham no Espaço Cultural foram acordá-la. Ela fez questão de dizer várias vezes que não cochilou por mal, que pegou no sono porque a música a relaxou de tal forma que ela, já com muita idade, não resistiu. Sou testemunha da simpática senhora. No início do show, ela estava tão animada que ficara erguendo os braços toda hora, atrapalhando, de leve, minha visão. Mas isso não foi problema, fiquei feliz vendo a felicidade dela e assistindo os músicos por entre aqueles braços serelepes. Assim como essa senhora, muitas outras pessoas se encantaram nessa apresentação dos Matutos. Excelente grupo. Nos dias que se seguiram a esse show, vieram as palestras. Assisti muitas delas. Se tivesse que escrever sobre todas, iria faltar espaço. Para não ser injusto, vou comentar o dia que uma unanimidade falou no auditório da Casa do Choro. Hermínio Bello de Carvalho fez quem estava presente sorrir, chorar e, principalmente, aprender. Emocionante, enriquecedor é pouco. O que aconteceu na terça-feira, dia 19/04, ainda não tem nome. Ainda bem que foi gravado. Ainda bem. A semana seguiu com mais ótimas palestras, workshops, aulas etc. Até que chegou o sábado. O sábado sempre chega. O dia do choro. O dia de Pixinguinha e tantos outros. E na Praça Tiradentes, muita gente boa se reuniu para celebrar essa data. Gente do Rio de Janeiro e de fora dele. Gente do mundo. Gente que foi agraciada com lindos shows. Shows que começaram com Jorge Cardoso e terminaram com quem começou muita coisa: Furiosa Portátil, a orquestra popular formada por alunos, ex-alunos e professores da Escola Portátil de Música. Inesquecível! Maurício tem razão: “essa música só traz coisas boas”. E por isso, sinto uma enorme alegria, pois através da produção da revista Choro Carioca também estamos dando alguma contribuição para essa história que pessoas como Maurício, Luciana e tantos outros estão escrevendo, levando além dos muros uma música como o choro, que só traz coisas boas. Afinal, essa deve ser a meta de todos: dar um pouco de si para oferecer às pessoas novas oportunidades de conhecer o que era até então desconhecido para que vivam mais e mais coisas boas. Felipe Lucena
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