Choro Carioca
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Realização
EXPEDIENTE
Momento de satisfação
INSTITUTO CULTURA BRASILEIRA www.culturabrasileira.org.br
Coprodução
WIDEBRASIL COMUNICAÇÃO INTEGRADA www.widebrasil.com
LUNETA COMUNICAÇÃO E EDITORA www.editoraluneta.com.br
Instituição parceira
INSTITUTO CASA DO CHORO www.casadochoro.com.br Editor Ricardo Da Fonseca, MTb 36583/RJ Jornalista Responsável Felipe Lucena Conselho Editorial Abdallah Harati, Afonso Machado, Aurélie Tyszblat, Barão do Pandeiro, Carlos Almada, Felipe Lucena, Joel Nascimento, Jorge Cardoso, Luciana Rabello, Marcílio Lopes, Maurício Carrilho, Pedro Aragão e Ricardo Da Fonseca. Redação Alex Campos, Felipe Lucena, Miro Lopes e Ricardo Da Fonseca Projeto Gráfico R. Gatto Recorte de Imagens Adriane Lima Agradecimentos Carla Assis, Escola Portátil de Música, Hamilton de Holanda, Isaías do Bandolim, José de Almeida do Amaral Junior, Marcos Portinari, Mika Kaurismäki, Mônica Salmaso, Museu Villa-Lobos, New York Times, Paulo Senise, Luperce Miranda Filho (in memoriam), Quequê Medeiros (in memoriam). Revisão de Texto Leonardo Legey Fotografia Ale Kali, Felipe Lucena, Grégory Massat, Humberto Souza, Marcos Portinari, Yesser Oliveira e YKO Photo. A revista Choro Carioca, é uma publicação do Instituto Cultura Brasileira, coproduzido pela WideBrasil Comunicação Integrada Ltda e pela Luneta Comunicação e Editora Ltda. As opiniões emitidas nas entrevistas concedidas e os textos assinados são de responsabilidade de seus autores, não refletindo, necessariamente, a posição da revista Choro Carioca, dos seus editores e anunciantes. É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte. Agosto de 2015 - Edição exclusivamente eletrônica
Estamos apresentando a todos vocês, a edição de lançamento da revista Choro Carioca. Para todos nós, que estamos envolvidos em sua produção, esse é um momento de muita satisfação porque ultrapassamos uma etapa essencial da produção jornalística: a sua finalização e disponibilização ao leitor - esse, o principal elemento de todo processo editorial e de comunicação. Nosso objetivo ao produzir essa publicação, voltada exclusivamente para o choro, é oferecer informações leves e palatáveis a todas as pessoas, especialmente às que queiram conhecer melhor parte desse universo. Não é uma revista feita somente para quem gosta desse gênero musical. Ao contrário, nosso foco principal são todos que gostam de música: os que já conhecem e apreciam o gênero, os que não tiveram oportunidades de conhecê-lo e os que, por terem ideias préconcebidas a respeito dele, não tiveram interesse em conhecê-lo melhor. Vamos mostrar, ao longo das edições, e na voz de pessoas honradas e de credibilidade, que o choro não é uma música para intelectuais ou experts em teoria e prática musical. Talvez a sua execução exija um pouco mais de conhecimento e habilidade do que alguns outros gêneros, mas para o ouvinte, música deve ser classificada por “gosto ou não gosto”, “quero ouvir agora ou não”. Imputar à arte valores nos parece inadequado. A arte é a externalização de uma mensagem dada por artistas. Só isso. Ou tudo isso! Mas não podemos desconsiderar que a próprio forma das pessoas se relacionaram com a arte mudou bastante. Hoje, mais do que nunca, a prática artística não é um privilégio de “escolhidos”. Todos podem tocar algum intrumento ou cantar - externalizando “o que tem a dizer” através da arte. O que pretendemos, então, com essa publicação e seus canais de suporte - Youtube, Twitter, Facebook e website - é oferecer mais um elemento de descobertas agradáveis. Quem se beneficiar e tiver interesse em gradativamente mergulhar nesse universo, encontrará nos nossos canais de apoio bastante material para se divertir, como sugestões de CDs e DVDs para audição, entrevistas com figuras agradáveis, agenda de apresentações, além de partituras com tablaturas, aulas em vídeo, sugestões de livros, entre outras coisas. Assim, queremos acreditar, que sob a perspectiva da comunicação, cumprimos o importante papel de divulgar e promover o choro, contribuindo na formação de plateia e de futuros praticantes - profissionais ou não. Nossa torcida é para que vocês apreciem o resultado de nosso trabalho, que foi materializado nessa edição de lançamento. Sejam bem vindos e boa leitura. Choro Carioca
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MONICA SALMASO RICARDO DA FONSECA
Focada, também, na realização e promoção do choro cantado, a revista Choro Carioca foi até São Paulo para entrevistar Mônica Salmaso, uma das grandes intérpretes da atual música produzida no Brasil. Mônica, que iniciou a carreira em 1989, já gravou, entre parcerias e carreira solo, 16 discos e conquistou diversos prêmios de relevante importância. O último deles foi pelo disco “O Corpo de Baile”, lançado no ano passado e vencedor do concurso “Governador do Estado de São Paulo Para a Cultura”, na categoria música, pelo voto popular. Salmaso falou à Choro Carioca sobre sua vida, carreira, ideias e outros assuntos que você confere na entrevista abaixo.
Choro Carioca – Vivemos em uma cultura de criação de ídolos e personalidades e a arte é principal fonte desses ídolos. Como intérprete e musicista, como analisa essa questão da idolatria aos artistas? Você tem ídolos? Monica Salmaso – Sim, Eu tenho ídolos. Me emociono com pessoas que fazem as coisas com paixão. Meus ídolos são assim. Meus heróis não são necessariamente ligados às artes, porque entendo que ser um herói tem menos a ver com o que você faz e mais a ver com a maneira como você faz. A vida faz mais sentido se você fizer as coisas com entrega. Estar inteiro onde estiver. Isso me emociona. Isso caracteriza meus ídolos ou heróis, como queira chamar. É muito legal – e muito emocionante – ver pessoas fazendo o que se propõem a fazer com alma, por inteiro. E você não precisa ser artista para ser pleno. A minha utopia é que todo mundo, independentemente do que faça, viva assim, com amor pelo que faz. Gosto de lembrar o filme dinamarquês “A festa de Babette”, que retrata de uma forma bem poética a entrega de um ser humano ao que faz e as consequências positivas disso. É mágico o envolvimento de Babette durante os preparativos para o jantar que se propôs a fazer em comemoração aos 100 anos do pai das suas patroas. A forma como ela prepara a cerimônia... Babette está plena. Está fazendo as coisas de uma forma tão intensa que aquele jantar modifica as pessoas que lá estavam tornando-as plenas naquele momento. É isso que faz alguém se tornar herói. Ser pleno. O problema dessa cultura de criação de ídolos nas artes é que as pessoas estão construindo dentro de si uma certeza, equivocada, de que suas profissões não são importantes. O ci22 Choro Choro Carioca Carioca
dadão vai trabalhar tendo a certeza (falsa) de que o que faz não tem o menor valor, que importante mesmo é o que os artistas fazem, o que as pessoas que aparecem na TV fazem – isso sim é importante. Não deve ser assim. Cada um de nós deveria enxergar no seu trabalho o local onde deve realizar seu ofício com honra e plenitude. Por inteiro, buscando ser útil e fazer a diferença naquele ambiente. E nós, quando olhamos cada profissional que realiza seu trabalho com honra e plenitude, devemos ver um indivíduo digno de admiração – um ídolo. Choro Carioca – Qual a sua relação com o choro? Acredita que o choro precisa ser popularizado? Monica Salmaso – Eu nunca refleti muito sobre isso. Eu não sou uma profunda conhecedora do choro, mas, claro, como artista, convivo com o gênero. Tenho pessoas próximas a mim que são de fato entendedoras do choro. Têm pessoas do Rio de Janeiro, das quais me aproximei para me aprofundar mais, conhecer o que eles estavam fazendo, como o pessoal da gravadora Acari, da Escola Portátil de Música – que desenvolve uma iniciativa cultural genial. Não sei em que momento o choro se colocou ou foi colocado como elitista. O choro, assim como o jazz, tem uma coisa do virtuosismo, do improviso. E esse aspecto, talvez, atraia mais quem é do meio musical. O cara que pratica passa a admirar aquele músico, composição ou forma de tocar, porque é algo que ele compreende e que ele tem afinidade, muitas vezes porque faz ou almeja fazer aquilo. Acho que tem esse lado do choro que é meio isso: não dá para ser plenamente degustado por quem não tem conhecimento técnico musical. Todo choro pode despertar o interesse em qualquer um, inclusive o leigo. E isso
é ótimo, verdadeiro. Mas essa mesma música traz significados e desperta interesses mais profundos para esses caras que conhecem música. Não sei dizer, em termos de cultura local, o que aconteceu aqui no Brasil para que o choro perdesse o espaço de uma música popular. Talvez, em algum momento, tenha sido rotulado pela indústria fonográfica brasileira como um gênero sem características para ser popular. Ou talvez as pessoas tenham relegado o choro a uma prateleira de música intelectualizada... É muito difícil enfrentar os rótulos e os preconceitos das pessoas. Meu trabalho, para alguns, é considerado elitista. Mas meu trabalho não é elitista. Ele tem qualidade. Em nosso trabalho, todos nos doamos por inteiro: produtores, arranjadores, músicos, equipe técnica, eu... E o resultado disso não é uma música elitista. É uma música de qualidade. Mas pessoas e críticos podem me rotular como uma artista elitista. O que não sou. Canto para todo mundo. Meu show é aberto a todos, de todas as classes e culturas, e o preço dos CDs e dos ingressos são compatíveis com a realidade brasileira. Para você ter uma ideia, o ingresso no show que realizei no Sesc São Caetano custou R$ 30,00 o ingresso e R$ 15,00 meia entrada. O Show de lançamento do meu novo projeto, o “Corpo de baile”, que foi realizado nos dias 27 e 28 de abril no Tearo Alfa, tem os ingressos a R$ 40,00 e R$ 20,00 (meia entrada). Isso é ser elitista? Em relação ao choro, penso que ele também enfrenta esses rótulos que segregam. Mas tem, também, a história do espaço da música instrumental no Brasil. Nossa cultura ainda resiste à música totalmente instrumental. É uma característica do nosso país. Nosso gosto musical está muito associado a vozes, letras, cantores... Isso, certamente, também interfere na hora de se conquistar espaços novos. Basta observar que muitos dos choros que são bem aceitos – e muito bem aceitos – pelo público, são aqueles cantados. A letra no choro seria um facilitador. O brasileiro é musical e gosta de canção. Historicamente, somos bons em fazer letras. Talvez esse possa ser um caminho para a popularização – que não significa vulgarização – do choro no Brasil: investir parte dos esforços no choro cantado. Por que não? É uma reflexão. Choro Carioca – Existem correntes no universo do choro que não recebem bem a ideia de uso da voz em execuções chorísticas. O que pensa dessas ideologias a respeito da forma de se tocar um gênero musical? Monica Salmaso – É verdade. Tem muita gente que não gosta de voz em choro. E isso acontece, também, na música erudita. Penso que qualquer amarração é uma bobagem – e uma amarra. E na arte, uma amarra nunca pode ser boa, mesmo quando essa exigência é feita com a melhor das intenções. Será sempre danosa, especialmente para quem as cria. Ela vai amarrando, amarrando, e chega um momento em que tudo é só uma amarra e a arte já se perdeu. É importante ficarmos atentos às armadilhas que nossas crenças podem construir para nós. A arte basta a si só e não depende de rótulos e amarras: existem grandes artistas de todos os jeitos. Quem separa e quem mistura gêneros, quem estudou e quem não estudou, quem canta e quem não canta. Defender com rigidez algum posicionamento pode acabar virando uma prisão. Choro Carioca
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Choro Carioca – O choro é um gênero musical nascido e amadurecido no Brasil, sendo hoje tocado em diversas partes do mundo. Como você vê a questão do choro na preparação de um repertório de intérpretes e músicos brasileiros? Monica Salmaso – Acho importante que intérpretes no período que estão escolhendo seus repertórios tenham a mente receptiva para as mais variadas composições, dos mais variados gêneros. Lógico que isso não se aplica aos casos em que o artista está desenvolvendo um trabalho focado em algo já bem definido, que o limitará em termos de repertório. Acho importante podermos, como artista, oferecer ao público um cardápio variado de composições. Nem que seja o repertório da sua apresentação em público, e que não será levado para o estúdio. Eu me enquadro nesse caso: em meus CDs, nunca gravei choro. Mas sempre canto alguns choros em shows, assim como sambas... O público gosta disso. Ele gosta de reconhecer músicas que trazem algum significado pessoal, histórico, mas gostam, também, de serem apresentados a composições de qualidade de gêneros que não estão habituados a ouvir. Choro Carioca – O universo musical é bastante competitivo. Não é simples nem fácil conquistar um espaço junto ao público e à mídia – de massa ou segmentada. No entanto, vez por outra, esse mesmo mercado acolhe artistas de qualidade questionável, em contraponto com alguns artistas de altíssima qualidade que ficam relegados a pequenos guetos e não conseguem deslanchar sua carreira, no sentido de não conquistarem um reconhecimento do público, não conseguirem uma agenda intensa de apresentações etc... É a injustiça da vida? Monica Salmaso – Não vejo com bons olhos as comparações. Especialmente as que tratam de comparar escolhas e caminhos. O seu caminho é seu caminho: ele é resultado das suas escolhas. E as suas escolhas não são o que você inventou, mas são decisões a partir das coisas que surgiram para você. Abrir comparações de qualquer coisa com qualquer coisa é uma máquina de infelicidade. Não há porque comparar histórias. Tudo depende do que é sua expectativa. Eu gosto de ter consciência das minhas coisas – não gosto de não entender o que aconteceu, de ficar nesse limbo de ‘ah, eu deveria ter sido tal coisa... Eu queria ter sido uma fulana de tal’. Conheci muitas pessoas que trabalham com música que pensam assim. Desenvolvem um trabalho artístico tão legal, mas não valorizam o que fazem porque queriam ser outra coisa e por isso carregam consigo uma amargura. Muitas vezes vi artistas seguindo por esse caminho e pensei: ‘Por que que essa pessoa está assim, nessa amargura com a carreira dela? Ela fez umas coisas tão bacanas’. Assistir situações como essa me davam a certeza de que não queria – e não quero – isso para mim. Eu tenho muito bem resolvida essa questão. Eu quero chegar ao futuro, olhar para trás e dizer algo do tipo: 4 Choro Carioca 4 Choro Carioca
‘fui uma cantora, que teve esse tamanho, esse tanto de reconhecimento, e que sabia que era isso mesmo que esperava, que naquele momento foi o melhor que podia ter porque nas minhas escolhas algumas coisas entraram e outras não...” Eu tenho isso muito claro. Eu não quero me ver amargurada lá na frente. E tenho, hoje, a plena consciência de que viver do que faço no Brasil de hoje é um privilégio - uma vitória. Choro Carioca – Esse “privilégio” que você diz ter, muita gente nova o está buscando – com trabalho e responsabilidade –, conquistar. Há um caminho certo a ser seguido para esses jovens que almejam construir uma carreira sólida? Monica Salmaso – Eu não posso falar, jamais, para ninguém o que é e o que não é, porque eu não sei. Não dá para dar esse tipo de conselho. Eu não sei o que virá pela frente. Eu só sei o que passou. Mas o que virá pela frente ninguém sabe. Uma coisa que eu sei, sempre soube, é que a cada escolha que a gente faz as oportunidades aparecem. A gente não fabrica oportunidades, a gente faz escolhas. Então, você se coloca em uma coisa – qualquer que seja ela – e essa coisa, com o tempo, vai começar a te colocar frente a frente com algumas oportunidades. Nós não sabemos quando as oportunidades irão pintar. Você age, plantando coisas e de acordo com as limitações que envolvem sua vida – pode ser em termos de dinheiro, tempo, etc... Nesse processo, as oportunidades irão surgir. Pequena, média ou grande, as oportunidades chegam. Caminho, cada um faz o seu. Não existe uma forma. Mas se é para defender uma teoria generalizável, eu acho que é ter a certeza de que quando você está procurando fazer um negócio
que tem a ver com você, a única coisa que você deve saber dizer a cada escolha é o que você não quer diante daquela situação. Pois o que você quer é mais flexível, você pode inventar um caminho – uma coisa que ainda não existe pode surgir... Choro Carioca – Brecht foi um dos grandes defensores de uma arte politizada, e do papel da produção artística como meio de conscientização e, consequentemente, transformação da sociedade. Para você, qual o papel da sua arte? O que te motiva a ser artista? Monica Salmaso – Nem sempre nossas escolhas são inteiramente nossas. Situações, pessoas, interferências inesperadas surgem e nos direcionam para caminhos que nem sempre havíamos pensado em escolher. O fato é que sou cantora e penso que com a minha arte alcanço pessoas e transmito a elas uma mensagem. Hoje tenho claro que o que pretendo com a minha música, em termos “políticos”, é alcançar as pessoas que assistem uma apresentação minha (ou que ouvem um trabalho meu) e que elas pensem algo do tipo: ‘Nossa! Que bonito! Isso aí me emocionou. Que legal! Essa pessoa, normal, ser humano, que tem dois braços e duas pernas como eu, vai lá e canta e faz esse negócio bonito. Quando eu chegar ao meu escritório eu vou fazer um negócio bonito, também.’ Não sei se isso vai acontecer. Pode
parecer presunção, mas não é. Acho que a arte e a forma como você a transmite aos outros é capaz de fazer esse convite a cada indivíduo que compõe uma plateia. Eu estou a fim de motivar as pessoas que me ouvem a crescer, mas se ela quer ou não, se ela vai se contagiar ou não com isso, não depende de mim. Faço o que penso ser o que devo fazer.
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Embaixador do Choro RICARDO DA FONSECA
Quando se fala em instrumentista versátil e requisitado pelos mais importantes músicos do país, o brasiliense Hamilton de Holanda é “o cara”. Tendo a felicidade de crescer em um ambiente musical, ele se seduziu pela arte da música e mergulhou fundo, dedicando-se aos estudos teóricos e à prática do instrumento que se tornou um cúmplice indispensável - o bandolim. Portador de uma técnica apurada e um swing característico, além de entreter e levar arte aos mais variados cantos do mundo, Hamilton é um dos principais promotores do choro no Brasil e no exterior.
profissional e educacional há bastante tempo, através do Clube do Choro e da Escola do Choro. O Rio de Janeiro é o berço, então sempre será um ótimo lugar, apesar da concorrência de outros gêneros. E Paris, o cara sabendo trabalhar, pode ser melhor do que as duas juntas. A França, como país, te dá mais condições sociais de trabalho e o público em geral adora música brasileira. Sabendo disso, vem as características de clima, de moradia, de outras coisas também muito importantes na vida de uma pessoa, por isso que digo que o melhor lugar é aquele que você escolher. E tem mais, a partir de escolhida a cidade, o mundo é a nossa casa, como trabalho, penso CC — Você morou na França e hoje sempre no Brasil e no mundo. vive no Brasil. Qual o melhor lugar para se viver de choro? E como CC — Você é bacharel em composiclassificaria as características e pe- ção pela UnB. Hoje, depois de toda culiaridades do Choro tocado nes- a sua vivência no mercado da música e do choro, considera de muita ses países que morou? Hamilton de Holanda — Na ver- importância que jovens músicos indade eu já morei em Brasília, em vistam seu tempo em uma prepaParis e hoje moro no Rio. Acho ração acadêmica ou dá para levar que o melhor lugar para se viver a profissão aprendendo na prática de choro é aquele que você es- do dia a dia? colher. Talvez Brasília tenha uma Hamilton de Holanda — Essa pervantagem por ter um movimento gunta é quase uma provocação, Choro Carioca — Você começou a carreira muito cedo. Desde quando o choro entrou na sua vida? Hamilton de Holanda — Desde sempre. Quando nasci, meu pai já tocava violão. Nessa época o que ele mais tocava era Bossa Nova, mas o Choro já estava por perto também. O envolvimento definitivo foi em Brasília, quando eu tinha cinco anos. Nessa época, os amigos de música de meu pai eram do Clube do Choro e, naturalmente, a partir do momento que começamos a tocar (eu com 5 anos e meu irmão Fernando César com 11), já participávamos das rodas de Sábado à tarde no Clube do Choro de Brasília.
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muito boa. É claro que o músico (ou o ser humano) que consegue ter tempo para estudar, sempre pode estar mais preparado para as situações profissionais durante a vida. Acho de extrema importância termos tempo para a preparação acadêmica e mesmo depois de terminada, continuar estudando, em busca de aperfeiçoamento musical e profissional. O autodidatismo só funciona para os grandes gênios, que mesmo assim, encontram uma maneira de estar sempre em evolução. Acho que o jeitinho brasileiro só dá certo se você também tiver uma base de estudo como sustentação, daí nossa improvisação é infalível. CC — Apesar de ter um histórico profissional semelhante a diversos outros músicos brasileiros, inclusive no que se refere à formação profissional e acadêmica, você passou a ser um artista muito valorizado e requisitado, inclusive para gravações e participação de shows de muitos músicos de grande repercussão. Você saberia pontuar em que momento você deixou de ser mais um bom (ou excelente) músico e instrumentista graduado e com formação musical “desde o berço”
para se tornar o que é hoje, em termos de repercussão e produção artística? Como isso ocorreu? Hamilton de Holanda — Eu não sei te dizer exatamente quando foi essa ‘virada’ como você afirma porque sempre tive contato com grandes músicos. Mas, com certeza, a parceria artística com meu produtor Marcos Portinari foi fundamental para essa abertura de mercado.
cional. Me sinto um embaixador da Música do Brasil e como sou nato no Choro, ele também é divulgado e degustado no exterior. CC — Sob a perspectiva de alguém com uma grande vivência profissional o que deve ser feito para que o Choro, um estilo musical brasileiríssimo, se torne mais acessível e popular ao músico e público brasilei-
ro e estrangeiro? Você vê alguma CC — Essa sua entrada no “mains- iniciativa que “transnacionalize” a tream” musical, tocando com artis- prática do choro? tas de grande popularidade (Zélia Hamilton de Holanda — Acho que Duncan, Beth Carvalho, etc.) gerou a principal é se deixar misturar. algum resultado positivo para a Não sou a favor do oba-oba despromoção do choro? Quais? medido, mas durante muito tempo Hamilton de Holanda — Um deles o gênero se isolou. O Choro tem é que a imprensa sempre quando que se comunicar mais com o Jazz, fala em mim, fala no gênero. São por exemplo. São gêneros irmãos, centenas de citações - existe uma que nasceram em países diferentes valorização do gênero. Acho tam- e, creio eu, a partir da Bossa Nova, bém que os jovens se inspiram a se distanciaram. Acrescentaria tocar um instrumento do choro, aos conjuntos regionais tradicioou mesmo músicos de outros gê- nais um baixo acústico. Acho que neros colocam em seu repertório essa mudança traria um impacto músicas de Pixinguinha, Jacob, positivo, parece pouco, mais em etc, inspirados no meu trabalho. termos de sonoridade, colocaria o Sem falar na valorização interna- Choro mais perto do público em
geral. Poderia falar mais uma porção de ações internacionais, como por exemplo o disco Mundo de Pixinguinha. Acho que não tem nada mais efetivo para a “transnacionalização” do Choro do que músicos estrangeiros curtirem e tocarem nossa música, como já fazem com Tom Jobim, por exemplo.
CC — A revista “Choro Carioca” integra outras ações que visam promover com regularidade o Choro tanto para artistas quanto para público, inclusive internacionalmente. Em 2015 lançaremos a versão em inglês e em francês do livro “A Estrutura do Choro”, de Carlos Almada. Qual a sua avaliação dessa iniciativa - de criar uma revista focada exclusivamente em choro? Hamilton de Holanda — Eu acho fantástico, vocês estão de parabéns. Espero que a Revista tenha vida longa e que possa efetivamente ajudar na divulgação do nosso Choro, para especialistas, mas, principalmente, para o público em geral e para o mundo. Choro Carioca
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