TEATRO UNIVERSITÁRIO DO PORTO APRESENTA
palestra-perfomance-oficina
O QUE VEM DEPOIS
conceito e direção artística
Hilda de Paulo
DA ESPERANÇA?
apresentações 31 de março --> 03 de abril quinta a sábado às 21h --> domingo às 19h (com LGP) mala voadora Rua do Almada 277 Porto
NOTAS SOBRE A PALESTRA-PERFORMANCE-OFICINA “O QUE VEM DEPOIS DA ESPERANÇA?”
visibilidade, empoderamento, sentimento de pertença e representatividade TRANS* em Portugal, a palestra-performance-oficina “O Que Vem Depois da Esperança?” reflete criticamente sobre como as corpas das pessoas fora da norma imposta de sexo-gênero-desejo foram construídas e representadas midiaticamente através dos tempos no imaginário de Portugal. Sendo uma produção do Teatro Universitário do Porto, essa palestraperformance-oficina conta com a direção artística da artista transfeminista Hilda de Paulo, assistência, cenografia e direção de arte de Tales Frey, suporte de pesquisa do Arquivo Gis e textos de Ave Terrena, e, em cada sessão frequentada, um Certificado de Frequência é atribuído. As histórias que serviram de inspiração para a elaboração desta criação, além das próprias histórias de cada integrante da equipe (considerando as identificações e estranhamentos) são múltiplas e fazem parte do Arquivo Gis, o qual foi organizado e tem sido permanentemente atualizado por Hilda de Paulo, com intuito de conhecer e, principalmente, de trazer à luz as representações das pessoas TRANS* de Portugal. Esse levantamento de informações busca honrar a obstinação das pessoas que sempre foram injustamente estigmatizadas na nossa cultura tão cisheterocentrada e, também, propõe resgatar as suas transcestralidades num movimento oposto ao da História sempre escrita com H maiúsculo. A partir de uma reconhecida minusculinidade perante ao sistema hegemônico, entre rebarbas e migalhas de sobrevivência atiradas a esmo para as pessoas TRANS* nas últimas décadas, Hilda de Paulo reuniu artigos jornalísticos, entrevistas de televisão, documentos históricos, livros biográficos e autobiográficos num arquivo chamado Gis, que faz femenagem a travesti brasileira Gisberta Salce.
É preciso ter
m busca de
Maíra Freitas [1]
mas ter esperança do verbo esperançar. Porque tem gente que tem esperança do verbo esperar. E esperança do verbo esperar não é esperança, é espera. Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo. -- Paulo Freire A palestra-performance-oficina, com direção e dramaturgia da artista brasileira Hilda de Paulo, corporificada pelo elenco do Teatro Universitário do Porto, lança uma pergunta perturbadora: o que vem depois da esperança? Perturbadora por ser uma oferenda dada com espelho que devolve a nossa justa imagem de sociedade pretensamente democrática onde somente alguns têm garantidos seus direitos civis e políticos, onde nem todas somos cidadãs. Escrevo daqui, do Brasil, terra onde tudo que se planta dá: desigualdade social; genocídio do povo negro e indígena; índices recordes de transfeminício; fome; um estupro oficialmente reportado a cada dez minutos – sendo três deles de crianças e vulneráveis; desmatamento galopante; agrotóxicos em todas as mesas; corrupção. E, também, brota nessa terra resistência, coletividade, aquilombamento, queerlombismo, essas ervas que a colonialidade do poder teima em chamar de daninhas e que aprendemos a cultivar desde que as primeiras caravelas chegaram. O Brasil espoliado de ontem entrega generosamente mentes brilhantes para o Portugal de hoje, há que se reconhecer os saberes do sul global que lutam diariamente por espaços de visibilidade no Velho Mundo contemporâneo. Há que se interromper o epistemicídio que vigora desde o período colonial. Penso que a esperança nasce do medo, da injustiça e da violência. De um gesto transgressor em meio à espera por tempos melhores, por um outubro em brasa vermelha, por uma terra outra que se faça aqui nesse mesmo chão. A esperança ganha corpo com palavra, a palavra é pensamento corporificado e de banal não possui nada. Nomear personalidades invisibilizadas, contar suas histórias, dar a ver a intelectualidade e saberes de uma comunidade estruturalmente colocada como subalterna. “Nomear a norma” [2], aquele lugar ocupado como verdadeiro, imarcável, suposto grau zero da existência humana a quem tudo pertence e todas as estruturas do Estado se voltam para proteger e manter vivo. Nomear a cisgeneridade [3], aqueles sujeitos que ocupam um lugar de identificação e/ou obediência ao gênero que lhes foi atribuído ao nascer a partir da leitura biológica e genitalocêntrica, nos termos de Lara Crespo. Nomear
os transfóbicos, nomear os masculinistas, nomear os racistas, nomear os xenofóbicos. Essas nomeações fazem parte do processo de semeadura por terras onde violências cisheteronormativas (aquelas imputadas à corpas que não obecedem às normas de gênero e sexualidade) não encontrem terreno fértil e morram à míngua de suas próprias covardias. O texto dramatúrgico de Hilda de Paulo e Ave Terrena abandona a espera e se vale da esperança enquanto ato, como nos ensinou Paulo Freire, o patrono da educação brasileira que na atualidade política de nossa terra é alvo de escárnio e desprezo. O ato de contar estórias sobre aquelas que foram arrancadas da História é gesto de coragem e reparação. É marcar a importância da representatividade, com artistas dissidentes de gênero dando voz e corpo a personagens que partilham de seus marcadores identitários, combatendo diretamente o transfake – termo cunhado pela atriz brasileira Renata Carvalho, em aproximação ao termo blackface.
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E, talvez, o desejo maior dessas corpas falantes que estiveram no palco seja o de construir democracia para todes a partir da educação. Se o Teatro Experimental do Negro, fundado pelo teórico, artista e político afrobrasileiro Abdias Nascimento em 1944, partiu do desejo de alfabetizar, capacitar profissionalmente e fomentar crítica social, também há em “O que vem depois da esperança?” o desejo de partilhar conhecimento através das artes do corpo, cumprindo o projeto político-pedagógico sonhado por Paul Preciado com as multidões queer. Educar para levantar corpos e mentes derrubados pelo coma ciscolonial, aquele que a colonialidade do poder criou: lastro normativo e repressivo do período colonial que impera nos arranjos políticos e societários pelo sistema-mundo afora e que ensinou formas de ser restritas às experiências generificadas. É preciso desnaturalizar a cultura, entender seu contorno arranjado, fabulado, fabricado e que somente se coloca como norma aquela – a cultura – que teve ou tem poder de dominar e corrigir qualquer traço de desvio da norma. Eu, mulher-cisgênera-brasileira-parda-mãe-solo-lésbica-trabalhadora-da-arte-e-da-educação, precisei me educar para compreender que os marcadores sociais da diferença [4] contornam e limitam a trajetória, os acessos, as possibilidades de uma vida plena em direito. Enquanto mulher cisgênera me vejo diretamente implicada com o caráter educativo da palestraperformance-oficina “O que vem depois da esperança?”, sou aluna. E agradeço à chance de conhecer, doze anos depois de partir de Portugal, algumas das biografias de pessoas trans que viveram no chão daí. “O que vem depois da esperança?” é uma horta cheia de sementes generosamente plantadas, que saibamos cultivar e multiplicar território onde democracia signifique direito à vida digna para toda corpa. O que se encontra depois da esperança não é terra situada após o cabo, é corpo. E corpo não é território para grileiros se apossarem.
NOTAS [1] Maíra Freitas (1985, Campinas-SP, Brasil) é artista, pesquisadora, curadora e arte-educadora. Também mulher cisgênera, parda, lésbica e mãe solo. Sua pesquisa poética parte do desejo de criticizar as relações entre cultura e natureza e desdobra-se em múltiplas linguagens, passando pela arte do vídeo, fotografia, pintura expandida, instalação e arte têxtil. Doutoranda em Artes Visuais (Unicamp), dedica-se ao estudo das artes do vídeo e suas relações com gênero, sexualidade e racialidade. [2] “Nomear a norma” é a primeira lição da artista e teórica brasileira Jota Mombaça em seu fundamental texto “Rumo a uma redistribuição desobediente de gênero e anticolonial da violência!”. [3] Para aprofundar a compreensão sobre a categoria cisgeneridade, as produções teóricas da pesquisadora em linguística Beatriz Pagliarini Bagagli são fundamentais. [4] Para aprofundar estudos sobre diferença – conceito de base filosófica derridiano – e identidade, os estudos das teóricas brasileiras Guacira Lopes Louro e Tomaz Tadeu da Silva são grandes contributos.
ode a artista
brasileira, imigrante e travesti Hilda de Paulo falar? Transcrição da fala de Hilda de Paulo de sua participação na mesa on-line “Balada de Gisberta” no Festival de Poesia de Lisboa no dia 15 de setembro de 2021. No ano passado, fui extremamente atacada por apontar um flagrante apego CIScolonial por parte de muita gente numa tal homenagem supostamente pública a Gisberta Salce. Fui atacada no Facebook por um perfil de uma ativista trans portuguesa defendendo cisgeneridade e transfake, que dizia que me ensinaria a ser artista enquanto afirmava que não tenho bons modos. Numa outra situação, e ainda sobre o meu posicionamento com relação à equivocada homenagem, fui também chamada de má pesquisadora por um homem cis gay português que sempre está por aí a falar pelas pessoas TRANS* [1]. Isso porque minha pesquisa diverge da dele e, para ele, parece ser inaceitável que uma travesti imigrante – ainda mais vinda de uma ex-colônia de Portugal – tenha a possibilidade de verbalizar pensamentos. A quem subestima o conhecimento vindo de uma travesti imigrante, posso explicar didaticamente e com “bons modos” algumas noções basilares para colaborar em pesquisas inquestionavelmente truncadas. Na dissertação “O Nome no Casamento e a Igualdade Jurídica dos Cônjuges sob o Enfoque do Estado do Direito e dos Valores Democráticos” [2], a autora Letícia Franco diz que atualmente “Júnior” – uma adjunção ao nome – é aceito em Portugal, constando na lista de nomes autorizados a registro, e explica que os vocábulos “Filho”, “Neto” ou “Sobrinho” não constam mais na mencionada lista. A palavra “Júnior”, então, passou a ser admitida em segundo lugar e apenas se o primeiro nome for igual ao do pai, ou seja, o uso da palavra “Júnior” nos casos de identidade de nomes completos entre pai e filho. E acredito que essa utilização recente em Portugal aconteça por conta do crescimento cada vez mais da comunidade brasileira aqui. Já no Brasil, a palavra “agnome” é utilizada para denominar a partícula atribuída à pessoa a fim de diferenciá-la de parentes que tenham o mesmo nome completo, ou seja, o mesmo pronome e sobrenome, devendo constituir a última parte do nome e assim constar no registro de nascimento. São exemplos de agnomes no Brasil: Júnior, Filho, Neto, Sobrinho. E o agnome não é previsto em lei no Brasil, mas sua existência é reconhecida tanto pela doutrina quanto pela jurisprudência e é de conhecimento geral o registro de agnomes para brasileiros nos Cartórios de Registro Civil das Pessoas Naturais. Dito tudo isso, vimos a utilização do agnome (no Brasil) e da adjunção ao nome (em Portugal) Júnior na esfera jurídica.
Por exemplo, no Wikipédia, a página do verbete da travesti brasileira “Gisberta Salce” [3] foi criada no dia 22 de março de 2021 e consta erroneamente que Júnior é apelido. Como historiadora da arte, interessa-me muito conhecer a produção de várias artistas em torno da imagem da Gisberta, porque há a criação de uma iconografia que infelizmente ainda não é articulada e estudada, portanto, há um vasto conjunto de imagens na construção da Gisberta, ou melhor, das Gisbertas. E, no ponto “2.2. Inspiração para artistas”, nesta página do verbete da Gisberta, noto desde a escolha até o destaque dado apenas a obras produzidas por artistas cisgêneros. Vemos aqui a velha e manjada representação da visibilidade travesti e transexual pela cisgeneridade. Além disso, nesta tal página, incomoda-me também a falta de informações sobre as polêmicas em torno de determinadas obras como, por exemplo, a acusação de TRANSFAKE direcionada à peça “Gisberta” encabeçada pelo ator cisgênero brasileiro Luis Lobianco, entre outras controvérsias. E, então, para falar desse agnome Júnior e elucidar pontos importantes para essas pessoas cisgêneras que subestimam pesquisadoras TRANS*, eu quero apresentar aqui a minha leitura TRANScentrada do ponto “2.5. Rua Gisberta Salce Júnior” da página do verbete da Gisberta no Wikipédia. O projeto surge por conta de uma proposição anterior chamada “Viver a Rua” [4], que está apresentada nessa referida página com erros e imprecisões, onde está omitido inclusive o nome do propositor Joshua Sofaer, um artista cis britânico. “Viver a Rua” foi um projeto de arte participativa criado em 2010 por esse artista, com coprodução do Núcleo de Experimentação Coreográfica do Porto (NEC), juntamente com o Festival Internacional de Teatro de Expressão Ibérica (FITEI). O projeto consistia na escolha de uma pessoa que fosse merecedora de ter o seu nome perpetuado como uma rua da cidade do Porto. O projeto afirmava-se como uma homenagem pública que tornaria a pessoa escolhida em “símbolo do cidadão”. Foram selecionados cinco nomes para a comissão de toponímia da cidade do Porto, que poderia escolher apenas um nome como vencedor do concurso. Os cinco nomes escolhidos foram: o de Gisberta Salce, o de David Sobral, o de Maria Natália da Silva Gandra, o de Jorge Vasques e o de António Nicolau D’Almeida. O último foi o nome escolhido como o símbolo do cidadão. O António Nicolau foi o fundador e primeiro presidente do Futebol Clube do Porto. Então, no ano seguinte, em 2011, foi divulgado o nome dele na edição seguinte do FITEI. E o que me chama atenção nesse projeto é o seguinte comentário do júri sobre a nomeação da Gisberta: “esta foi uma das escolhas do júri porque condena um ato bárbaro que ocorreu na cidade do Porto, não tendo como objetivo a homenagem da pessoa em si, mas a condenação da violência e da injustiça nas suas mais variadas formas.”
E O QUE É NÃO TER COMO OBJETIVO A HOMENAGEM PARA A PESSOA EM SI? A intenção de nomear uma rua com o nome da Gisberta Salce foi resgatada em 2019 pela artista cisgênera, portuguesa e branca, Sara Barros Leitão. Resumidamente, em seu espetáculo “Todos os Dias me Sujo de Coisas Eternas”, a atriz pediu a todas e todos espectadoras(es) que assinassem uma carta com o objetivo de atribuir a alguma rua da cidade do Porto o nome da Gisberta. Em março de 2020, ela encaminhou a proposta à comissão de toponímia da cidade do Porto e só recebeu um e-mail de resposta automática a esse pedido. Em 2021, a comissão de organização da Marcha de Orgulho LGBT Porto com outras entidades se associa a atriz cisgênera numa jornada lançando uma petição on-line.
projeto homonacionalista, nacionaliza a Gisberta como uma portuguesa e não reflete sobre a complexidade do Júnior no Brasil, porque, afinal, a Gisberta também era brasileira e isso deve ser levado em consideração. Então, qual é a vivência TRANS* brasileira não cisgenerificada que permeia nesse projeto para insistir na presença do Júnior que vem de um ecoamento do nome morto da Gisberta? Ou melhor, qual é a cidade do Porto que vai se dar o processo de construção do nome da Gisberta por ela própria? Numa cidade do Porto em que não havia uma lei de autodeterminação de gênero, onde ela tinha que sobreviver na oscilação do uso do nome morto com o nome social. Aqui estamos diante de uma proposição estética que parte de um lugar CIScentrado para dar visibilidade para considerações de terceiros (entrevistados) e não à produção da Gisberta (da pessoa em si) enquanto construtora da própria forma de se apresentar no mundo.
Algumas pessoas esperaram minha opinião expressa a respeito do agnome Júnior presente nessa proposição estética para o espaço público. Esperaram isso por conta de uma longa reflexão que eu faço sobre o agnome Júnior a partir da minha obra “Eu Gisberta” (2015) [5]. Mas eu fiquei em silêncio por um bom tempo até ler uma infeliz declaração do Filipe Gaspar, da Marcha do Orgulho do Porto, na matéria jornalística “Gisberta, a transgênero brasileira que pode virar nome de rua em Portugal” [6], escrita por Adriana Negreiros e publicada no dia 21 de maio de 2021, no Tab Uol: “Quem era próximo a ela informa que se apresentava como Gisberta Salce Júnior. Consideramos importante sua própria autodeterminação, mas reconhecemos que há uma questão ideológica a ser discutida”.
E O QUE O FAZ TER TANTA CERTEZA DE QUE GISBERTA USAVA O JÚNIOR POR OPÇÃO? Segundo Leonor Salce, cunhada de Gisberta, depois de um tempo em que Gisberta estava a viver no Porto, ela começou a assinar no feminino. Esse dado está no curta-metragem “A Gis” [7], de 2016, do Thiago Carvalhaes. Também, nesse curta, há o depoimento de Domingues Salce, irmão da Gisberta e casado com a Leonor, dizendo que desconhece a sua assinatura no feminino. Há uma enorme falta de entendimento por parte dessas pessoas que estavam propondo o projeto de rua com o nome da Gisberta, porque falta uma compreensão muito básica sobre o que é um processo de construção de um nome por uma pessoa TRANS*. Além do Júnior estar inteiramente vinculado a uma ordem patriarcal, logo, ao modo capitalista de um nome familiar, ou seja, do patriarca que detêm algum poder, ou ainda, da transferência de poder entre homens, do pai para o filho, esse agnome carrega também toda uma perspectiva CIScolonial. Assim, esse
Então se há uma carta com a assinatura da Gisberta Salce sem o Júnior, por que há de se manter o Júnior nesse projeto mesmo sabendo de toda essa complexidade de sua utilização em 2021? E, sob uma transfobia estrutural, essa CIScolonialidade opera com seu dedo em riste para apontar como “má pesquisadora” quem questiona uma produção de conhecimento antiquado e segue amarrando o contexto patriarcal do Júnior no corpo de uma travesti.
Longe de querer defender o binarismo da não utilização do agnome “Júnior” como regra geral para todas travestis e mulheres trans, essa minha reflexão é somente válida para o caso desta proposição estética que leva o nome da Gisberta. Ressalto isso, porque há sim travestis que usam o Júnior com a consciência da lógica de subversão queer ao patriarcal. Então, não podemos generalizar o não uso desse agnome “Júnior” para todas travestis e mulheres trans. Mas há que se usar o bom senso em torno dessa problemática do Júnior no caso da Gisberta, porque como disse o biógrafo da Clarice Lispector, por vezes, há de se interpretar os fatos porque nem sempre o que se fala bate com os documentos. Questionada, a atriz cisgênera Sara Barros Leitão diz: “se nos chegar a informação que contradiga todas estas pessoas e os seus testemunhos e que demonstre que, de fato, o nome mais justo a pôr era sem o ‘Júnior’, alteraremos de imediato esta proposta. Não pretendemos fazer nenhum braço de ferro com esta questão”. Braço de ferro? Temos que ter a responsabilidade de dialogar com o nosso tempo, mas a CIScolonialidade delirante em crise segue como uma verdadeira piada de mau gosto. Acho que a tal atriz cis não compreendeu que não se trata de uma disputa de saberes, mas sim de um esclarecimento sobre um equívoco evidente, justamente para que um vexame futuro seja evitado. E, no dia 22 de junho de 2021, foi aprovado o projeto na Assembleia Municipal da cidade do Porto em Portugal e o agnome Júnior foi mantido. E muitas vozes TRANS* que estão nesse momento produzindo TRANS*epistemologias nem sequer forma escutadas.
NOTAS [1] O termo “trans*”, com asterisco, é um termo guarda-chuva que “sinaliza a ideia de abarcar uma série de identidades não cisgêneras. De modo particular, as seguintes identidades estão contempladas no termo ‘trans*’: transexuais, mulheres transgêneras, homens transgêneros, transmasculines e pessoas não binárias. Já o termo ‘mulheres trans’ refere-se a mulheres transexuais e mulheres transgêneras. E é importante dizer que apesar do termo ‘travesti’ estar contemplado no termo ‘trans*’, no intuito de reforçar essa identidade de gênero bastante marginalizada socialmente, opto [assim como eu] por geralmente fazer referência à travesti fora do termo guarda-chuva, assumindo, portanto, uma postura política de afirmação das identidades travestis.” Ver em: NASCIMENTO, Letícia. Transfeminismo, São Paulo; Jandaíra, 2021, p. 18-19. [2] Ver em: <https://repositorio.ual.pt/bitstream/11144/4602/1/30%20de%20julho%20de%202019%20 -%20dissertacao%20UAL%20_Let%C3%ADcia.pdf>. Acessado no dia 27 de março de 2022, às 1h29. [3] Ver em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Gisberta_Salce_Júnior>. Acessado no dia 27 de março de 2022, às 1h30.
[6] Ver em: <https://tab.uol.com.br/noticias/redacao/2021/05/21/gisberta-a-transgenero-brasileira-que-pode-virar-nome-de-rua-em-portugal.htm>. Acessado no dia 27 de março de 2022, às 1h30. [7] Ver em: <https://vimeo.com/210177296>. Acessado no dia 27 de março de 2022, às 1h30.
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o
[5] Ver em: <http://ciaexcessos.com.br/hilda-de-paulo/obras/eu-gisberta/>. cessado no dia 27 de março de 2022, às 1h31.
Ar ru da
[4] Ver em: <https://issuu.com/joshuasofaer/docs/viver_a_rua_press_file>. Acessado no dia 27 de março de 2022, às 1h30.
PROGRAMAÇÃO PARALELA
BLOCO DE NOTAS
O QUE VEM DEPOIS
DA ESPERANÇA?
Conversa pós-palestra-performance-oficina 02 de abril de 2022 | mala voadora, Porto, Portugal | Conversa após a apresentação da palestra-performance-oficina “O Que Vem Depois da Esperança?”.
Lançamento do livro “O Que Vem Depois da Esperança?” Outubro de 2022 | Organizado por Hilda de Paulo, com textos de Amara Moira, Ave Terrena, Caio Jade, Letícia Nascimento, Maíra Freitas e Tales Frey, e entrevista com Tiago Aires Lêdo e outres artistas, e publicado pela Editora Urutau.
FICHA TÉCNICA Conceito, Direção Artística, Encenação, Figurino e Pesquisa: Hilda de Paulo Assistência de Encenação, Direção de Arte e Cenografia: Tales Frey Dramaturgia: Ave Terrena e Hilda de Paulo Interpretação: Bárbara Sá, Gonçalo Albuquerque, Gui Gaspar, Gui Silvestre, Hilda de Paulo e Tiago Aires Lêdo Interpretação com Língua Gestual Portuguesa: Cláudia Braga Texto da Brochura: Hilda de Paulo e Maíra Freitas Luz: Gui Gaspar Técnico de Luz: Pedro Cunha Costureira: Olga Machado Construção da Estrutura do Cenário: Edmilson dos Santos Cabelo: Natacha Cutler Nail Art: Caliente Nail Art Porto Vídeo: Papagaio Loiro Assessoria de Imprensa: Sara Cunha Ilustração: Lino Arruda Participação no Livro: Amara Moira, Ave Terrena, Caio Jade, Hilda de Paulo, Letícia Nascimento, Maíra Freitas, Mariana Duarte, Tales Frey e Tiago Aires Lêdo Design Gráfico e Editorial: Giuliane Sampaio/Cabe Letra Aqui Fotografia: Carlos Campos Residências: CRL-Central Elétrica, mala voadora e Túnel Produção: Miguel Amorim e Rui Resende/Teatro Universitário do Porto Apoio: ArtWorks e Concurso Anual de Apoio à Criação Criatório 2021/ Câmara Municipal do Porto Parceria: Arquivo Gis, Caliente Nail Art Porto, CRL-Central Elétrica, Editora Urutau, mala voadora, Natacha Cutler, Odete Bakery e Túnel Agradecimentos: Aura Fonseca, Bárbara Iara, Carolina Ribeiro, Coletivo Berro, Eduardo Brandão, Fabiano Fernandes, Francisca Marques, Fred Paranhos, Isabeli Santiago, Lila Fadista, Lola Rodrigues e Tânia Dinis
Arquivo Túnel Gis
CRL-Central Elétrica
Natacha Cutler
BLOCO DE NOTAS
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