RIO DE JANEIRO - JANEIRO/ABRIL 2015 - ANO XV - nº 67
A tEntAtiVA dE ExtERMÍniO dA JUVEntUdE nEGRA nO RiO dE JAnEiRO!
COnFiRA O RAiO x dA SitUAÇÃO dE RiSCO EnVOLVEndO A JUVEntUdE FAVELAdA!
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Teatro transforma jovens
Soluções para o crack
Combatendo a dengue
O talento favelado em campo
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Falando sobre crack 4
Artigo
11 Cultura
22 Coquetel
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Moradia
12 Capa
23 O Cidadão Ilustrado
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Entrevista
17 Geral
24 Memória da Maré
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Comunicação
18 Saúde
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Perfil
20 Esporte
10 Cidadania
Jornal o Cidadão 2
21 Rascunho
Expediente Direção do Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré (Ceasm): Antonio Carlos Pinto Vieira, Ana Cristina Moura Marinho, Lourenço Cezar da Silva, Luis Antonio de Oliveira, Maristela do Nascimento Klem e Vanessa Maria da Silva Borba. Jornalista Responsável e Coordenação: Tati Alvarenga (Mtb. 35820RJ) Editora e Revisão: Carolina Vaz Administração e Projetos: Tati Alvarenga Reportagem: Gizele Martins, Eliano Félix, Thaís Cavalcante, Tati Alvarenga, Valdirene Militão, Lucas Pessoa e Jamie Duncan Colaboraram nesta edição: Miriane da Costa Peregrino, Eunice Muruet e Carlos Santos Charges: Jhenri Projeto Gráfico: Artur Romeu e Evlen Lauer Diagramação: José Henrique (Jhenri) e Bruno Ventura Foto de Capa: José Lucena
Editorial Temos como principal assunto, nesta edição, aquilo que vivemos aqui na Maré há muitos meses: essa “segurança” violenta, da intervenção militar, das mortes não explicadas. Percebemos que a violência do Estado, pelas mãos da polícia militar e do exército, tem seu alvo preferido: o jovem negro favelado. Isso está em números, em fatos e em falas de moradores de favela em várias partes da cidade. A principal causa dessa violência é a “guerra às drogas”, a qual atrai o foco das forças de segurança, portanto um debate importante que trazemos é o da legalização dessas substâncias. Tudo isso está na nossa matéria principal, sobre o genocídio da juventude negra. Em 2014 o jornal O Cidadão completou 15 anos, e relatamos aqui a diferença desta mídia para as comerciais: o respeito pela favela, por seus moradores, suas lutas e histórias. Pois também somos mareenses, também lutamos. A mídia comunitária é resistência e memória. Na editoria Comunicação, registramos exatamente a dificuldade em realizar esse tipo de comunicação, enquanto não temos incentivos do poder público e sofremos repressão e censura. E por falar em poder público, você já pensou no tratamento adequado que se deve dar a usuários de crack? Entrevistamos uma psicóloga a respeito disso. Outra questão de saúde que registramos aqui é sobre a dengue: cientistas desenvolveram um novo método de combater a doença, mas é necessária a colaboração de todos nos cuidados diários. Nesta edição, tivemos a colaboração de Miriane Peregrino, educadora do Museu da Maré, que nos traz relatos a respeito da roda de leitura que acontece no museu sobre as obras de Carolina Maria de Jesus. Mas memória não está só no passado distante: nosso comunicador Jamie Duncan entrevistou Ítala Isis, ex-professora na Maré, sobre o Movimento Cidades (in)Visíveis e seu método de buscar histórias do nosso bairro. Nossa jornalista Tati Alvarenga fez o perfil de um morador da Maré inusitado: o papagaio Dudu, do Morro do Timbau. Outro nome daqui que se destaca nessa edição é o atacante Waldir da Silva Filho, morador do Piscinão de Ramos, que competiu no Campeonato Carioca. Em Cultura, registramos o Centro do Teatro do Oprimido, presente na Maré há mais de 17 anos, o qual une arte à conscientização da população local. O jornalista Eliano Félix traz a realidade da favela Mac Laren, talvez a mais pobre da Maré, onde se mora em barracos de madeira e a água vem de um único cano, para todos. Quer mandar sua opinião, enviar sugestões, ou escrever artigos? Fale conosco no facebook (fb.com/jornalocidadao.comcom) ou por e-mail: jornaldamare@gmail.com
Impressão: Ediouro Tiragem: 20 mil exemplares
Eles Leem
Contatos: E-mail: jornaldamare@gmail.com Site: http://jornalocidadao.net/ Endereço: Praça dos Caetés, 7 Morro do Timbau, Conjunto de Favelas da Maré. Telefone: (21) 2561- 4604 Errata: Na edição 66 a matéria entitulada Pré - vestibular do Ceasm: Quase mil aprovados em 16 anos, página 17, foi escrita pela jornalista Tati Alvarenga.
Lin Lima, morador de Niterói.
Mateus Frazão, aluno do III Curso de Comunicação do O Cidadão.
Artigo
Memória e resistência Jornal O Cidadão completa 15 anos de comunicação comunitária Por Gizele Martins
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temos que colocar em prática o respeito pelos moradores. Relatamos a emoção, a alegria, o orgulho, a tristeza e a experiência deles. Contamos a própria história e a realidade deles. A confiança precisa ser real. O Jornal serve para valorizar e colocar em pauta aquilo que os grandes meios não mostram sobre nós. É por isso que defendemos a ideia de que somos sim mareenses, favelados, parte desta cidade e não margem. Nessa sociedade de muros invisíveis dividida entre ricos e pobres, somos criminalizados por nossa cultura popular, por nossa fala, cor da pele, escolaridade e forma de nos vestir. Na comunicação comunitária, a ideia é colocar em pauta
tudo aquilo que valorizamos tanto na favela: nossa alegria e cultura. É mostrar que a luta (pela moradia, pela música popular, pela água, pela comida, pela circulação dos correios em nossas ruas) deve ser valorizada a cada dia. É relatar ainda que podemos melhorar cada vez mais este local que construímos e juntos mostrar também que a nossa luta vale muito a pena e que a palavra “resistir” nunca saiu e não deve sair de moda. Ou seja, a comunicação comunitária – do O Cidadão – é memória da resistência favelada mareense. É guardar com muito orgulho toda essa luta que a gente faz há anos em nossas moradas. Viva a comunicação comunitária! Viva a resistência popular! Ilustração: Jéssica
azer comunicação comunitária não é algo tão simples, são inúmeros os detalhes para fazer um jornal comunitário como O Cidadão que circula há 15 anos no Conjunto de Favelas da Maré, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O cuidado com as palavras, fotos e charges são mais que necessários já que temos compromisso com a Maré: onde o jornal circula e a maioria da equipe mora. O Cidadão é diferente da mídia tradicional. As grandes empresas não têm compromisso com suas fontes e leitores. Elas só querem vender produtos e reproduzir preconceitos de uma sociedade machista, racista e excludente. Na comunicação comunitária
Jornal o Cidadão 4
Moradia
Você conhece a MacLaren? Mais de 30 famílias vivem em situação desumana na Maré e estão com medo de serem removidas Por Eliano Félix
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ituada entre a Vila do Pinheiro e o Morro do Timbau, ao lado da ponte de acesso à Ilha do Fundão, existe uma pequena favela, chamada Mac Laren, nome esse dado devido a um antigo estaleiro que funcionava ali. Há mais de dez anos, cerca de 30 famílias vivem nessa localidade numa realidade degradante e desumana. Para muitos, pode ser difícil imaginar que nos dias atuais ainda existam pessoas vivendo em barracos de madeira, ainda mais no Rio de Janeiro, cidade que recebe bilhões em investimentos para a Copa do Mundo e Olimpíadas, mas deixa a desejar nas obras de infraestrutura. Na Mac Laren, não existe fornecimento de energia elétrica, nem encanamento de água e esgoto. A única fonte de água para os moradores vem de um único cano, e ela é utilizada para beber, tomar banho, lavar roupa e louça. Mesmo assim, não é garantia de ser potável. “Havia conseguido um emprego, já estava trabalhando há cinco meses, mas, após pegar uma bactéria intestinal, acredito que tenha sido por conta da água, acabei perdendo o emprego, e hoje estou desempregada”, contou Quívia Pamela, 24 anos, auxiliar de serviços gerais. Quando cai uma chuva mais forte, o valão, localizado ao lado da favela, enche e invade os barracos. Quando anoitece, na hora de dormir, ninguém fica tranqui-
lo, o local é infestado por ratos, baratas e lacraias, e as crianças que vivem ali são as mais afetadas. Várias sofrem com diarreia e dor de barriga.
Fotos: Eliano Félix
À espera de uma solução Segundo Róbson Borges de Moura, 39 anos, vigilante, morador mais antigo da Mac Laren e representante dos moradores, todos já fizeram cadastramento junto ao Centro de Referência da Assistência Social Nelson Mandela (Cras) e à Secretaria Municipal de Assistência Social (SMAS). Mas até agora nada foi feito por eles. Róbson nos contou como é
viver ali: “parece que estamos vivendo numa caverna, ninguém sabe que existimos”. Segundo Elisabete Figueiredo, assistente social que acompanha a situação dos moradores da Mac Laren, tudo que cabe ao Cras Nelson Mandela tem sido feito. Ela afirma: “No início de 2011, fizemos relatórios de todos os moradores, com a situação individual de cada um, na época, todos foram inscritos no programa de habitação Minha Casa, Minha Vida. Fizemos também o programa de proteção especial e proteção básica, onde realizamos a retirada de documentos pessoais, inclusão escolar e qualificação profissional, entre outros. Toda a documentação em relação à moradia foi encaminhada à SMH.” Moradores afirmam terem medo de serem desalojados, nenhum deles tem um outro local para morar. A situação dessas mais de 30 famílias é desumana e cada um deles cobra há anos melhorias para o local, ou que pelo menos eles sejam realocados para um local próximo de onde já moram e com melhores condições de vida. Pois é inaceitável que vivam ainda nestas condições. *O jornal O Cidadão entrou em contato com a SMH, mas em resposta via e-mail disseram que quem cuida do cadastro dos moradores é a SMDS (Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social). Entramos em contato com a SMDS, porém, até o término dessa matéria não obtivemos resposta. Jornal o Cidadão 5
Entrevista
Roda de leitura no Museu Debate sobre as obras da escritora Carolina Maria de Jesus
Foto: Adrielly Ribas
Por Miriane da Costa Peregrino
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figura da mulher, pobre, negra, favelada, catadora de papel que virou escritora não saía da minha cabeça desde as aulas do mestrado em Literatura Brasileira na UERJ. Quando comecei a trabalhar no Museu da Maré, encontrei a oportunidade de dialogar sobre o passado e o presente da história da formação das favelas através dos livros dessa escritora, a Carolina Maria de Jesus. A figura histórica da favela da
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Maré, Dona Orosina Vieira, nascida no interior de Minas Gerais, me fez encontrar os primeiros pontos em comum entre Carolina e muitas mulheres pobres e faveladas do Rio de Janeiro. Foi assim que nasceu a roda de leitura que ocorre no Museu da Maré desde 2013 e contribui para formação pedagógica dos bolsistas do Museu – adolescentes entre 16 e 18 anos, moradores de diversas Favelas da Maré. Em roda lemos Quarto de
Despejo: diário de uma favelada (1960), Casa de Alvenaria: diário de uma ex-favelada (1961) e estamos finalizando Diário de Bitita (1982). O ato de ler, como já apontou Paulo Freire, é transformador. E ler Carolina é ler poesia em forma de prosa, é ler história e sociologia em literatura, é conhecer a realidade brasileira e entender como se forma a nossa identidade no meio de tantas desigualdades e injustiças sociais.
Entrevista
RAÍZA BARROS NASCIMENTO, Baixa do Sapateiro, 17 anos
MATHEUS FRAZÃO DE ALMEIDA SILVA, Vila do João, 17 anos Carolina se entusiasma muito ao falar de datas comemorativas, como o Dia das Mães e também no dia da Abolição. As chuvas ultimamente têm atrapalhado Maria de Jesus a catar papel, e ainda no dia 13 de Maio ela termina de escrever parte do seu diário da seguinte forma: “E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava contra a escravatura atual – a fome!”.
Achei muito interessante a forma que foi escrita o livro. Ela faz relatos dos dias dela, e isso prende muito a atenção. Fico imaginando cenas das histórias narradas, sem falar dos nomes das pessoas que na maioria das vezes ela fala completos. E o ponto de vista dela sobre coisas e pessoas também é importante, a forma de como ela vê as coisas, é completamente diferente da maioria das mulheres daquele época.
ALAN DA SILVA LIRA, Vila dos Pinheiros, 18 anos
JOYCE RODRIGUES DE OLIVEIRA, Nova Holanda, 17 anos
Carolina vivia dia por dia sempre fazendo algo para ganhar um trocado pra sustentar seus filhos. A fome é muito presente na vida dela, cada alimento é como se fosse uma coisa rara, como se fosse ouro.
Apesar do seu pouco estudo, Carolina Maria de Jesus decidiu romper as barreiras do analfabetismo escrevendo o dia-a-dia de sua vida sofrida. Gostei muito e estou ansiosa para ler o livro “Casa de Alvenaria” que é a continuação do livro “Quarto de Despejo” que é diário de uma favelada, e o livro “Casa de Alvenaria” é o diário de uma ex-favelada.
ALINE DE MOURA E SILVA, São Bento, 17 anos Imagino o sofrimento de Carolina, andando descalça na lama, catando papel nas ruas, lutando para ter o que comer, lutando para viver. A favela é como um campo de batalha, onde ela tem que enfrentar a fome, as constantes brigas e desavenças entre os vizinhos, as doenças e a pobreza que resulta de uma guerra.
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Comunicação
Lutar também é comunicar
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legalizadas ou não, radio web e em debates sobre democratização dos meios de comunicação e direitos humanos. Essas e outras formas de serviço público, compartilhamento de informação e formação política ocorre de maneira horizontal. O comunicador do Portal Viva Rocinha Michel Silva, de 20 anos, é um exemplo de morador que sente necessidade em aprender com o jornalismo comunitário e até de resolver todos os proble-
Foto: Naldinho Lourenço
comunicação comunitária, realizada e consumida por moradores e moradoras de favelas de todo o país, tem incluído em suas pautas a violação de direitos humanos. Após a entrada da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), política de segurança que controla o território favelado, o trabalho dos comunicadores locais foi dificultado. A opressão para controlar ou até impedir a veiculação de reais acontecimentos ocorre apenas com os comunicadores da comunidade. Equipes de emissoras famosas têm liberdade e acesso para invadir o dia a dia e veicular notícias sensacionalistas sobre o pobre, negro e favelado. Ano passado, o fotógrafo e morador do Conjunto de Favelas da Maré Naldinho Lourenço, de 31 anos, foi revistado pelo Exército e Polícia Federal e impedido de registrar uma operação na favela Vila do João, na Maré. As fotos, mesmo sendo do celular, foram apagadas pelas autoridades sem motivo aparente. O fotógrafo publicou tal abuso em sua rede social, trazendo assim o questionamento da censura dentro de favelas pós-UPP. A mídia comercial, que obtém maior atenção em todos os meios de comunicação, não se iguala à forma democrática das favelas de fazer comunicação. O propósito político, social, moral, cultural e histórico não é o mesmo. A partilha comunitária da história local e cultural é acessível e sem fins lucrativos. A comunicação comunitária acontece atualmente em redes sociais, portais de notícias, jornais impressos, cursos populares, rádios comunitárias
mas escrevendo. “O conteúdo das mídias comunitárias é um importante instrumento de documentação local. O morador fica sabendo sobre obras, projetos sociais e histórias”, afirma Michel. Por ser sem fins lucrativos, esse jornalismo também possui dificuldades. “A falta de financiamento é a maior dificuldade, além da ausência de respostas de órgãos do Governo”, conclui. Informando sobre acontecimentos diários, as mídias locais encon-
tram uma nova forma de atuar e conviver com a luta do funcionamento regular e político. Segundo a pesquisa “Direito à comunicação e justiça racial”, realizada em 2014 pelo Observatório de Favelas, na região Metropolitana: atualmente não há no Brasil, política pública ou programas de fomento destinados especificamente ao estímulo da comunicação alternativa. A Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República (Secom) concentra 70% do dinheiro em publicidade do governo federal em apenas 10 veículos de comunicação. A importância da democratização da comunicação é ligada diretamente à liberdade e ao direito que todo cidadão tem de consumir, produzir e compartilhar a informação que lhe interessar. A resistência para manter a identidade para o povo que a mídia comercial trata como marginalizado é diária. O argentino Nacho Lemus, 31 anos, mora no Rio de Janeiro, conhece a realidade das favelas e contou como o assunto é tratado lá fora: “Para a grande mídia mundial, pobre no Brasil é objeto de consumo: o tratamento é cínico, a favela é o que foi a selva amazónica faz décadas, para aqueles que comerciam a informação. A população sempre é envolvida no show da violência, narcotráfico e consumo de drogas, isso desperta o olho da mídia internacional para denunciar as desigualdades sociais”, afirma Nacho, jornalista que passou a entender melhor como a comunicação comunitária é feita ao se aproximar de meios alternativos de fazer informação.
Perfil
Dudu: O papagaio Mareense
Foto: Tati Alvarenga
Por Tati Alvarenga
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sonho da dona é levar o animal no programa da apresentadora Ana Maria Braga para que Dudu e Louro José possam se conhecer. Quem sabe esta matéria dá uma forcinha? Por ser evangélica, ensinou várias músicas e corinhos da igreja ao animal. Como consequência dos ensinamentos, Dudu
Foto: Tati Alvarenga
lisama Lourdes da Silva é conhecida no Morro do Timbáu – RJ como dona Lili. Moradora da Maré há 45 anos, chegou aos 12 anos com a família de Pernambuco e não pretende se mudar. É costureira aposentada. Na vida, não conseguiu vencer a burocracia do sistema para adotar uma criança por ser solteira. Mas, em 28 de outubro de 1998, ganhou de um amigo o presente que mudaria sua vida. Hoje com 16 anos, Dudu (nome dado em homenagem a uma criança muito educada da vizinhança, hoje com 23 anos) tinha 3 meses quando foi entregue a dona Lili, comia papinha no bico, sempre foi manso e logo virou o xodó da dona. Já é tradição ser comemorado o aniversário de Dudu ao longo desses anos. Em 2014 a festa será exatamente no dia 28 de outubro, uma segunda-feira e, o Jornal O Cidadão foi convidado para o evento. O
repete palavras, como “Glória a Deus”, canta corinho, auau, cocó, chama Dick (cachorro que tinha na vizinhança), mas após um intenso tiroteio na rua nunca mais cantou o corinho que diz “Vai Abalar quando Jesus voltar, vai abalar”. Sobre isso, dona Lili afirma: “O forte estrondo pode ser o motivo”. Com exceção dos cultos na igreja, Dudu passeia com a sua dona em vários lugares, inclusive no supermercado, onde adora provar queijo prato. Porém sem exageros, pois aos 16 anos, por recomendação da veterinária, mantém uma dieta balanceada comendo sementes de girassol, milho, goiaba e banana. Os vizinhos conhecem dona Lili e Dudu e apoiam a comemoração do aniversário dele todos os anos. “Já conheço o Dudu há 15 anos, ajudei na realização do aniversário de 15 anos do Dudu financeiramente”, conta entusiasmada Maria da Silva, moradora da Vila Monteiro.
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Cidadania
Troca um café por uma palavrinha sobre a Maré? Por Jamie Duncan
Entrevista com Ítala Isis - Ex-professora de desenho e artes visuais do Complexo da Maré. Atualmente faz performance em espaços públicos de territórios do Rio de Janeiro e de outros estados, através do Movimento Cidades (in)Visíveis.
O Cidadão – O que é o Movimento Cidades (in)Visíveis? Que relação tem com a Maré? Ítala – O Movimento Cidades (in)Visíveis surgiu como uma forma de resistência às mazelas do cotidiano através de performances, intervenções e outras ações artísticas. Com o tempo, transformou-se numa oportunidade de criar no limite entre arte e política: grafitar, dançar, conversar, tudo pode virar arte. No fundo, é minha maneira de amar essa cidade. Esse amor eu aprendi na prática, convivendo com moradores de bairros como a Maré. De fato, na Maré conquistei uma profunda formação política, como professora de desenho, dando aula em escolas na Nova Holanda, Vila do Pinheiro, Baixa do Sapateiro, entre outras. Convivi com a dor e a alegria de quem tem essa história de plantar seu direito a cidade no dia a dia.
Foto: Cristina Froment
O Cidadão – Qual é a ação artística que o Movimento Cidades (in)Visíveis trará para Maré? Ítala – A ação chama-se “Troco refresco/café por uma palavra sobre a cidade”. Dois artistas saem pelas ruas com aventais trocando café ou refresco por uma palavrinha sobre o bairro. O comentário é registrado com um gravador e passa por uma edição para virar poesia sonora. Depois a gente vai mostrar esse trabalho para os moradores em espaços culturais na Maré.
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O Cidadão – Você já fez essa ação em outros lugares? Teve algum tema? Ítala – Fizemos essa ação no bairro da Lapa, em três horários diferentes, pela manhã, à tarde e a noite. Colhemos cerca de setenta comentários. Depois, fizemos também durante o Ocupa Lapa, movimento de ocupação artística que já tá na sua quarta edição, realizado por moradores, frequentadores e trabalhadores da área artística da Lapa. Na ocasião, nos interessou escutar sobre o programa “Lapa Presente”, implementado pelo Governo do Estado com o intuito de diminuir a violência no local. Queríamos saber qual era a visão dos moradores e frequentadores da Lapa sobre um programa que não ouviu essa população. Procuramos vozes que tradicionalmente ficam invisíveis, como a da população de rua, travestis, camelôs, etc. Pode ter certeza que tiveram muito o que falar. O Cidadão – E na Maré, o que interessa? Ítala – Trabalhei cinco anos na Maré, mas reconheço que mudou muito. Aliás, a cidade inteira mudou muito. Uma questão que me interessa é a maneira como os moradores em situação de rua convivem com o bairro. Como veem o lugar. Como são vistos pelos moradores mais antigos.
Cultura
Teatro transforma jovens Oficinas de teatro misturam o lúdico e o cotidiano na favela Por Thais Cavalcante e Jamie Duncan
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Centro de Teatro do Oprimido (TO) tem uma trajetória de 28 anos. Na Maré, ele atua há mais de 17 anos e colabora com a formação de grupos jovens de teatro. O Centro mantém parceria com escolas, organizações e instituições locais, criando uma rede de construção de conhecimento. O conceito “oprimido” – popularizado pelo educador Paulo Freire – foi resgatado justamente para refletir a situação do oprimido e identificar também seu opressor. Ao pensar a desigualdade social, este conceito é essencial para transformar os jovens criticamente. Carina Ricardo, 18 anos, moradora da Maré, participa das oficinas semanais desde pequena. “O Teatro do Oprimido é uma metodologia muito importante porque fala sobre teatro político, as coisas que acontecem no dia a dia, procura questionar as pessoas e o que elas vivem. O que acontece todos os dias que elas não reparam, que elas deixam despercebido. Para mim, isso é muito importante porque quem é da comunidade sofre muito preconceito. A gente já cresce meio que acostumado com essa opressão que vem da gente, que vem da sociedade, e volta na força maior que é o Estado. Então é bom para gente enxergar para poder lutar contra. Para transformar nosso jeito de viver, o mundo, e transformar o jeito da sociedade que nos vê aqui também. A gente ensaia para ver o mundo, para ver aqui dentro.”
Foto: Jamie Duncan
Para que o oprimido saia da condição em que se encontra, é necessário que ele tenha senso crítico e não aceite passivamente a falsa generosidade de seu opressor. Que ele se liberte de maneira consciente e saiba do seu valor como cidadão, não se sentindo menor do que aquele que o oprime. Isso remete à situação vivenciada hoje por todos os 132 mil moradores da Maré. A ocupação militar mascarada de segurança pública pelo estado do Rio de Janeiro para o controle de território e dos moradores. Com os educadores e sabendo dessa opressão, podemos diminuir os efeitos de uma educação que massacra as massas populares. Entrevistamos também Monique Rodrigues, socióloga, mestranda em Sociologia e em Direito pela UFF. Ela hoje é curinga do Centro do Teatro do Oprimido (TO), tendo iniciado num grupo popular de Teatro do Oprimido aos 13 anos. Os Curingas do TO são os especialistas no método e facilitadores das oficinas. Segundo Monique, o método defende a ideia de que qualquer pessoa é um artista em potencial, mas temos que tomar consciência disso. O método trabalha de três formas: palavra, imagem e som. Através da relação do corpo com essas expressões, os jovens alcançam lugares que apenas a palavra não alcançaria. O processo com o grupo da Maré começa com contação de história, com o
objetivo final de criar uma cena. No método, eles utilizam o conhecimento da vida e do lugar como conteúdo principal para exercícios teatrais. Uma parte importante desse método é o chamado teatro-fórum. Através desse dispositivo, o público é chamado a participar diretamente da cena. Dessa forma, o teatro-fórum, além de levantar possibilidades para a cena, promove uma conversa que vai além do grupo, alcançando toda a comunidade, criando exercícios de protagonismo e uma rede de políticas para a juventude. As oficinas do Centro do Teatro do Oprimido acontecem com patrocínio do Programa da Petrobras Socioambiental, em quatro polos: Museu da Maré, Observatório das Favelas, Marcílio Dias e Piscinão de Ramos. As oficinas são gratuitas, voltadas para jovens moradores da Maré na faixa etária de 15 a 29 anos. Para mais informações acesse o link: www.ctorio.org.br
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Capa
#Genocídio do jovem n
Confira em detalhes esta vergonha nacional e quais as
Foto: Matias Maxx
Por Tati Alvarenga
Policiais em confronto com bandidos na favela. Cena comum para os moradores
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om base em dados divulgados no “Mapa da violência: Os jovens do Brasil, 2014”, vamos analisar uma triste e revoltante realidade. A principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no nosso país é o homicídio. Dados do Ministério da Saúde, responsável pelo Mapa, mostram que mais da metade dos 56.337 Jornal o Cidadão 12
mortos por homicídios, em 2012, no Brasil, eram jovens (30.072, equivalente a 53,37%), dos quais 77% negros (pretos e pardos) e 93,30% do sexo masculino. Parece piada de mau gosto. Mas o Brasil é o país onde mais existem mortes no mundo. De acordo com a pesquisa de 1980 a 2012, ou seja, em 32 anos, a taxa
de homicídios aumentou 148,5%. Totalizou mais de um milhão e duzentas mil vítimas. Estes números ultrapassam as estimativas de regiões que vivem em conflito de guerra. Podemos destacar Iraque, Afeganistão, Sudão e Paquistão. Nestes países, entre 2004 e 2007 houve 170 mil mortes, e no Brasil, no mesmo período, 192 mil.
m negro! Até quando?
is as chances desta realidade mudar
“82 jovens mortos por dia ou 7 a cada 2 horas” De acordo com a pesquisa feita pela Unesco (Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a Cultura) em parceira com o Governo Federal, em 2012 a maioria das mortes de jovens entre 15 e 29 anos foi por homicídio. Os jovens correspondem a 27% da população brasileira. Por ano 30 mil jovens morrem vítimas de homicídio. Isto corresponde a 82 jovens por dia ou sete a cada duas horas. A cada dois dias é como se caíssem dois aviões só com jovens de 15 a 29 anos na tripulação. Entre estes dados apenas 5 a 8% são levados a julgamento na justiça.
Entre a realidade e a impunidade Enquanto este texto é redigido, tiros são ouvidos, lágrimas de dor, tristeza e impotência escorrem em gotas, em pingos no rosto de algum pai, alguma mãe, que sofre a perda do filho assas-
sinado ou atingido por uma bala perdida. O ambiente é em casa, na rua, no campinho de futebol, escola, beco ou viela da Maré. A mesma situação se repete em outra favela na qual a rotina de violência extrema e violações dos direitos humanos prevalece. Consequência: moradores indefesos querem gritar, mas para quem ouvir? A vontade de chorar vem, mas para quem consolar? O jornal O Cidadão traz nesta edição a necessidade de manter o direito à vida da juventude negra, pobre e favelada. Com o único objetivo de sempre. Informar você, leitor ou leitora, o que acontece no conjunto de favelas da Maré. E tentar a difícil tarefa de retratar, para os que não vivem em um território dominado pelo medo e a impunidade, o que a mídia tradicional oculta em suas reportagens. Crianças mareenses dividem espaço nas ruas com tanques de guerra desde 05 de abril de 2014 e segundo o Secretário de Segurança Pública do Estado do Rio de Janeiro, José Mariano Beltrame, “esta é a melhor forma de combater o crime na região e trazer a paz”. Porém para quem vive a realidade, caminhando nas ruas, o cenário demonstra uma situação caótica. Não é normal um território ser pacificado às custas de uma guerra declarada. A brincadei-
ra nas ruas é interrompida ou por um tiroteio ou para permitir a passagem de um tanque de guerra. Após isso o jogo recomeça. Algo está errado. E não é referente à ortografia ou gramática. A questão da segurança pública está absolutamente errada, mas de acordo com o Governo do Estado do RJ e a Presidência da República a situação está sob controle. “Os movimentos juvenis e movimentos negros vêm tentando enfrentar este genocídio fazendo incidência política, exigindo políticas públicas para as juventudes negras e pobres não de cunho de controle, mas que possam oportunizar a construção de autonomia e emancipação pautadas no fim do racismo institucional. O governo, a partir da pressão desses movimentos e de uma advertência do Sistema Interamericano de Direitos Humanos, arregaçou as mangas e lançou o Plano Juventude Viva em 2010”, afirma Fransérgio Goulart, consultor em Políticas de Juventudes, Desenvolvimento Comunitário e Direitos Humanos. Porém, o plano não enfrenta o problema principal segundo a maioria dos movimentos sociais, que é a mortalidade. “É um plano de Prevenção à Violência, um bom avanço, mas não enfrenta outro fator importante: a mortalidade das mulheres jovens negras e pobres”. conclui. Jornal o Cidadão 13
#O que eles pensam a respeito? Nossa repórter Thaís Cavalcante entrevistou alguns jovens. A ideia é saber a opinião e visão crítica desta galera a respeito da violência que vitimiza a juventude favelada. Todos responderam às mesmas perguntas: 1. Em termos de preconceito, você acha que o jovem negro sofre mais do que o branco na favela? 2. Já foi vítima de racismo por morar em favela? 3. Existe uma estimativa de 80 jovens negros mortos por dia no Brasil. Você tinha conhecimento deste dado? 4. Para você o racismo tem solução? De que forma pode acabar?
Os negros sofrem mais preconceito do que os brancos. Já fui vítima de racismo por morar na favela. Não sabia que mais de 80 jovens eram assassinados por serem negros e além do mais não faço a mínima ideia de como acabar com o racismo no Brasil. André Luis da Silva Bezerra, 24 anos. Vendedor. Morador do Parque União – Maré. Etnia: indígena.
“Já fui vítima de racismo por morar na favela”. Jornal o Cidadão 14
Quando o jovem branco está fora de sua comunidade as oportunidades não lhe são negadas pela cor de sua pele. Desta forma, tem acesso a estudo e trabalho. Muito diferente do que acontece com o jovem negro. Algumas correspondências não chegam na minha casa e já fui orientada a usar um novo endereço para conseguir emprego pois não aceitariam área de risco. No lançamento da campanha Jovem Negro Vivo tive a informação da quantidade de jovens negros mortos por homicídio. Mas antes disso, acompanhado o que acontece em diversas comunidades, o jovem negro é a maior vítima desse sistema que exclui e extermina. O racismo infelizmente não vai acabar. Mas penso ser necessário criar políticas públicas eficientes para melhorar o acesso ao ensino de qualidade e à qualidade de vida da população negra para que todos tenham a mesma oportunidade. E que haja punição severa aos que cometem crime de racismo.
Acredito que os jovens negros sofrem mais preconceito do que os brancos. Não só na favela como em todo território da cidade. Já sofri e sofro discriminação por ser moradora de favela. Acredito que o negro sofre mais que o branco na favela e em todo território da cidade. Acredito que por ser branca, isso ocorra de forma velada. Já aconteceu de eu estar num lugar e as pessoas tecerem críticas à favela e aos favelados, sem saber que eu era moradora de um desses espaços populares. Na ocasião, as pessoas se referiam aos favelados como “neguinhos e neguinhas”. Sabia do genocídio contra o povo negro, mas sem informação do quantitativo. É realmente alarmante! Penso que o processo de desconstrução do racismo seja gradual. Ele requer conscientização, reflexão e informação. Um passo importante foi a lei que instituiu o ensino da história do povo negro nas escolas. Penso que a educação e o diálogo sejam o caminho. Isto inclui as políticas de cota.
Josélia Oliveira, 35 anos. Atleta. Moradora da favela do Sapo em Senador Camará. Etnia: Negra.
Ligia Felix Silva, 29 anos. Assistente Social. Moradora do Fogo Cruzado - Maré. Etnia: Branca.
O jovem negro é nitidamente criminalizado pela polícia, a maioria das pessoas que são revistadas na favela onde moro são homens negros. Não tenho conhecimento dos números, mas acredito que todos os dias cidadãos negros são vítimas de preconceito e de violência apenas pela cor da sua pele. Um princípio de mudança pode ser através de uma reforma na educação do país. Debates públicos nas escolas, universidades e meios de comunicação de massa sobre o tema. Para que enfim haja uma desconstrução de valores racistas na sociedade. Com leis mais severas que criminalizem o racismo, etc.
Lana de Souza, 25 anos. Produtora do Coletivo Papo Reto e Estudante de Comunicação Social. Moradora do Conjunto de favelas do Alemão. Etnia: negra.
Foto: Moacyr Lopes Jr.
Gabriel Loiola, 21 anos. Estudante. Morador da Fazendinha no Conjunto de favelas do Alemão. Etnia: negro.
De maneira geral o negro sofre mais do que o branco. Na favela não seria muito diferente. Morar na favela nunca foi um problema. Eu quando mais jovem, para conseguir emprego, dizia que morava em Ramos, o Alemão só era revelado depois da vaga conquistada. Hoje, apesar de tudo, não me envergonho de morar aqui. Sinceramente não vejo fim para o racismo e para o preconceito de uma maneira geral. A luta não pode acabar, mas não consigo ver um mundo diferente.
Esta imagem foi registrada em São Paulo na década de 90 a imagem fala por si. Policial militar agarra menor na rua Amaral Gurgel, no centro de São Paulo
@Ficanaatividademorador.com
Em tempos de violência, muitos coletivos e movimentos ligados à juventude usam as redes sociais como forma de manter identidade própria e de comunicar aos moradores o que ocorre na favela praticamente em tempo real. A necessidade de fazer uma comunicação que crie um elo de identidade local vem se fortalecendo pela falta de representação na mídia formal que trata de forma estereotipada o povo negro, pobre e favelado. Para muitos a favela é lugar de bandidos e vagabundos que só querem dinheiro fácil e ter energia às custas de ligações diretas do poste. Tudo isso devido à maneira preconceituosa como a mídia retrata as pessoas da favela em suas matérias jornalísticas, novelas e reportagens. Embora o acesso a internet na Maré seja muito fraco, muitos moradores ficam informados dos acontecimentos locais devido a perfis no Facebook como Maré Vive, O Cidadão Comunicação Comunitária, A Maré Vê, Lona Cultural da Maré e Museu da Maré. Dos citados, podemos destacar o Maré Vive, criado após a invasão militar no conjunto de favelas, que denuncia abusos cometidos por militares após a ocupação. A página já tem cerca 30 mil curtidas e já teve postagens com mais de 50 mil visualizações. A feliz conquista podemos associar justamente ao fato do elo de identidade, ou seja, a página diz o que o morador precisa saber. É um verdadeiro desabafo. Um canal de denúncia, informação e compartilhamento de quem sente na pele a mesma realidade de um local militarizado e palco Jornal o Cidadão 15
Capa de absurdos diários contra o morador. Seja através de denuncias, informativos, vídeos engraçados ou informes culturais, os comunicadores da Maré já aprenderam com muitos ativistas, alguns oriundos das jornadas de junho de 2013, que a internet é um meio de comunicação onde as informações são passadas de forma direta sem tanta manipulação como na TV.
É preciso conversar sobre drogas.
# Regulamentar para mudar O combate às drogas ilícitas já existe há décadas no país e fez milhares de vítimas, tanto por parte da polícia como por parte dos traficantes. Como promulgadores e defensores dos direitos humanos defendemos a ideologia de prevenção, e não de atrito, violência, que consequentemente gera mortes! Já há alguns anos o assunto da legalização de drogas como maconha, cocaína e heroína é discutido no Brasil de forma muito singela, ou seja, quase sem eco para a sociedade. Com a legalização do plantio, distribuição e consumo da Maconha no Uruguai pelo Presidente Mujica Salinas em 10 de dezembro de 2013, o assunto vem ganhando Jornal o Cidadão 16
destaque na sociedade brasileira principalmente por entidades como o LEAP (em português significa: Associação dos Agentes da Lei Contra a Proibição) e coletivos como o Desentorpecendo a Razão (DAR). Ambos são favoráveis à legalização das drogas como principal forma de diminuir a violência principalmente nas favelas do Rio de Janeiro. O Leap – Rio de Janeiro contém em sua equipe nomes de peso como o delegado da Polícia Civil Orlando Zaccone, o coronel e ex- chefe da PMERJ Jorge da Silva e Maria Lúcia Karam, juíza aposentada. Quando falamos no assunto da legalização sempre vem a dúvida referente ao sistema de saúde. Como pode haver liberação de drogas pesadas com um sistema público de saúde falido? Quem dará suporte para um suposto surto de jovens precisando de atendimento médico após uma overdose? Esses questionamentos fazem parte de discussões frequentes entre os movimentos que apoiam a legalização e o delegado Orlando Zaccone em entrevista para o videomaker Rafucko, resumiu de forma brilhante esta questão: “o país que sofre os maiores danos com a proibição. Deve ser o país que está mais preparado para rever esta política”. Somente reforçamos que legalizar não é uma liberação irresponsável e inconsequente. O objetivo é haver controle da comercialização das substâncias em questão, de acordo com entidades como LEAP RJ e coletivo DAR. Quando tocamos neste assunto raramente levamos em consideração a droga lícita que mais gera mortes no mundo. Segundo uma pesquisa elaborada por especialistas da University of South Wales (Sydney
– Austrália), o álcool causa nove vezes mais mortes do que as drogas consideradas ilícitas. Analisando de forma global, de acordo com a pesquisa, “as substâncias proibidas matam 250 mil pessoas, enquanto álcool e tabaco matam 2,25 milhões e 5,1 milhões, respectivamente”. Segundo a pesquisa cerca de 200 milhões de pessoas fazem uso de drogas ilícitas no mundo. Este dado não é contabilizado em relatórios da Organização das Nações Unidas (ONU), o que dificulta o trabalho de organizações a favor da legalização. Comparando com a nossa realidade: se o álcool no Brasil fosse proibido o dono da Ambev seria o maior traficante do país. O que podemos ter certeza é de que existe um lucro financeiro com a proibição das drogas. Estudos do Fundo Monetário Internacional (FMI) apontam o mercado de drogas proibidas como uma forte potência financeira. O mercado vira fonte de capital para bancos, uma vez que estes passam a ser a principal fonte de armazenamento dos valores lucrados. Isto torna mais claro que existe um interesse muito forte na proibição que gera milhões em dinheiro, e estes não estão nas favelas. Por este motivo temos que investir mais em políticas publicas para esclarecimento e informação da população, pois ser a favor da legalização não significa ser a favor do consumo de drogas. E está claro que enquanto houver lucro para os tubarões do mercado financeiro com a venda e trafico das drogas, sempre haverá sangue inocente derramado nas ruas e vielas das favelas. Sigamos na luta a favor do melhor para o direito à vida e à liberdade!
Geral
Falando sobre o crack Por Thaís Cavalcante
O cidadão - o crack deve ser tratado como problema de segurança pública ou saúde pública? Adnéia - De saúde pública. Quando uma pessoa fica doente por causa da dependência química, as partes biológica e psicológica estão afetadas e as relações sociais também. Só a intervenção policial não vai dar conta dessas três dimensões, então nós temos que ter atividades que possam suprir em todos os aspectos psicossociais do ser humano. Atividades sociais, de suporte psicológico e que possam ajudar a vencer a dependência química. O que é o “projeto crack é possível vencer”? Adnéia - É um projeto do governo federal que auxilia o governo municipal na questão do crack e do seu impacto. Ele é dividido em eixos, o que participo é o eixo autoridade, que prevê curso de capacitação para policiais militares, civis e guardas municipais. Para que os profissionais de segurança possam atuar nas áreas de uso da droga com equipamentos que o governo oferece. Quando o município adere ao programa, ele tem que estar nas conformidades, oferecer o espaço e diagnosticar a área de atuação. O Governo entra com câmeras de monito-
ramento e em Caxias teremos duas bases móveis. Atuamos com foco na prevenção, tendo cursos à distância para as autoridades de segurança. Nos outros dois eixos, assistência e saúde, temos a implantação dos CAPSAD e o Centro POP focado na população de rua. Por que é importante investir nas ações e equipamentos para lidar com os dependentes? Adnéia - Os equipamentos dão um suporte para as autoridades entenderem a dinâmica, acaba sendo um fator de proteção local, atuando de uma forma mais eficaz. Nas bases móveis, por exemplo, temos um alcance muito longo de captura de imagem para identificar de onde surge a venda da droga. QUAL A IMPORTÂNCIA DESSE TIPO DE INICIATIVA? Adnéia - Trabalho com prevenção há 20 anos, observando os fatores de risco e atuo em cima de um diagnóstico. Mas sei que muitos municípios ainda estão muito lá atrás, inventando coisas. No Curso de Convivência e Segurança Cidadã que fiz, por exemplo, me apropriei mais da ideia, ampliou minha visão. Além de ajudar a trabalhar a atuação nas políticas públicas.
O projeto tem dado resultado? Adnéia - Em Caxias eu percebo, sem pesquisas, que o crescimento de pessoas envolvidas com o crack continua e as políticas não estão dando conta. Porque não basta uma intervenção específica naquele local. Temos que pensar em algo para atingir a raiz da história. Que ações estamos fazendo antes da pessoa se envolver com drogas? Que ações estamos fazendo para o jovem, o adolescente e as crianças entrarem nisso? É um problema de base. O que interfere muito nisso é a descontinuidade. Se hoje um prefeito, por exemplo, vê como positiva a ação, o próximo pode parar de fazer funcionar e os gestores não prosseguem com aquilo. Então não dá tempo daquilo funcionar, da criança ter uma proteção maior para chegar na adolescência equilibrada. A descontinuidade é um problema no país com relação aos programas de prevenção. Foto: Agência Brasil
Entrevistamos Adnéia Trupati, psicóloga e diretora de formação e capacitação na Secretaria de Políticas de Segurança em Duque de Caxias com foco na prevenção do crack.
Polícia Civil e Secretaria Municipal de Assistência Social recolhem usuários de crack. Jornal o Cidadão 17
Saúde
Combatendo a dengue Fiocruz realiza testes para controlar a doença Por Eliano Félix
rói (Jurujuba). As equipes estão conduzindo estudo para futuros testes com a soltura de mosquitos Aedes Aegypti “vacinados”. Vale ressaltar que o mosquito transmissor da dengue vive e se reproduz dentro das nossas casas. Do ovo até o mosquito adulto são aproximadamente 7 a 10 dias. É importante destacar que o controle da dengue também depende de educação e de consciência sobre cidadania. O mosquito que nasce no meu quintal pode ser o responsável pela transmissão da doença ao meu vizinho. E vice-versa.
PREVINA-SE Foto: Reprodução
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ma das doenças que tem preocupado não só os moradores da Maré mas do país inteiro é a dengue. Por isso, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) está realizando um método de vacinação do mosquito de dengue utilizado em outros países para imunizar o mosquito Aedes Aegypti, transmissor da doença. Trazido ao Brasil pela Fiocruz, o projeto “Eliminar a dengue: Desafio Brasil” usa uma bactéria chamada Wolbachia para bloquear a transmissão do vírus da dengue pelo mosquito Aedes Aegypti de forma natural e autossustentável. Esse método foi aplicado em países como Austrália, Vietnã, Indonésia e agora, Brasil. “A pesquisa demonstrou em laboratório que quando é introduzida no Aedes Aegypti, a bactéria
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Wolbachia, presente em 70% dos insetos na natureza, atua como uma ‘vacina’ para o mosquito, bloqueando a multiplicação do vírus dentro do inseto. Com isso, a transmissão da doença é impedida. A Wolbachia é uma bactéria intracelular e não existem evidências de qualquer risco para a saúde humana ou para o ambiente”, disse o pesquisador Luciano Moreira, líder do projeto.
Como anda a pesquisa Atualmente, equipes atuam em quatro localidades nas cidades do Rio de Janeiro (Vila Valqueire, Grajaú e Tubiacanga) e em Nite-
Alguns cuidados básicos em relação aos reservatórios de água são fundamentais para o controle do Aedes Aegypti: tampar bem caixas e tonéis de água, desentupir ralos e calhas que possam acumular água, jogar fora pneus velhos, evitar deixar garrafas e recipientes que possam acumular água da chuva em área descoberta e virá-los de cabeça para baixo, eliminar pratinhos com água em baixo dos vasos de planta. Por isso, é fundamental a mobilização popular na limpeza dos criadouros. Assim, é possível interferir no desenvolvimento do vetor, impedindo que ovos e larvas se transformem em adultos.
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Esporte
Jogando com o talento favelado Morador Waldir representa a Maré no Campeonato Carioca Por Eliano Félix e Valdirene Militão
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Brasil é reconhecido mundialmente como o país do futebol. Quando criança, a maioria dos meninos ganham uma bola de futebol como primeiro presente. Seja ela de meia, de plástico ou a tradicional dente de leite, essa relação de intimidade com a “redondinha” fez com que o futebol se transformasse na Jornal o Cidadão 20
paixão nacional dos brasileiros. Na favela também não é diferente. Aliás, alguns dos principais jogadores do futebol brasileiro deram seus primeiros chutes nos campinhos de favela. Em 2014, no Campeonato Carioca de Futebol, a equipe do Macaé Esporte Futebol Clube contou em seu elenco profissional com
um atacante que é morador da Maré. Waldir da Silva Filho, 23 anos, é jogador e morador da Praia de Ramos (Piscinão). Assim como a maioria das histórias de quem começa no mundo da bola, Waldir teve início aos seis anos de idade na escolinha do Olaria Atlético Clube. “O que fez me interessar pelo futebol foi a vontade e o desejo de realizar o sonho dos meus pais que queriam me ver jogando profissionalmente. Hoje, graças a Deus, vivo somente do futebol”, conta. Apesar de bem jovem, Waldir já tem alguma experiência no futebol. No seu currículo já constam clubes como Olaria, Goiás, Belenenses (Portugal), Madureira, Macaé, onde marcou cinco gols no campeonato carioca de 2014, e atualmente no Sampaio Correia. Durante a disputa do Carioca, Waldir recebeu proposta do clube chinês Qingdao Jonoon FC. Porém, a negociação não avançou. No mês de abril de 2014, o Sampaio Corrêa Futebol Clube, time do Maranhão, contratou Waldir para disputar o campeonato brasileiro da série B. Waldir conta que seu sonho é ver sua família vivendo bem e poder atuar em uma grande equipe. Para quem está começando no futebol, deixa um recado. “É preciso ter paciência, porque nem todos, infelizmente, vão conseguir chegar a ser um jogador profissional. Vida de jogador no começo é muito difícil, mas enquanto houver força, nunca desista!”
Rascunho MEU CORPO É O PODER Joana Ribeiro
Dicas da Vovó
Tem que ser linda, mãe, profissional, boa filha, boa esposa e amante fatal Celulites e estrias? Aberração total. Veja a mulher da revista e seja igual! Porra, na moral, parem com esse papo! Deixe quieto meus culotes, meus mamilos nem tão rosados, minha cintura nem tão afinada assim. Com pelos, gordurinha e peito caído. sou mulher perfeita, pelo menos pra mim. Meu corpo a mim pertence, é bom começar a entender não é por que transo contigo, que ele pertence a você! (...) Se não tá ligado, roupa não quer dizer nada. infelizmente, lá no oriente o que mais tem é mulher de burca sendo violentada. Sonho com o dia que seremos libertas dessas escravidões, desses padrões dessas prisões Liberdade sexual, liberdade corporal e liberdade social! Chega dessa hierarquia de gêneros, tudo tão desigual padrões de beleza, tudo tão artificial. Quero liberdade sim, sou igual a você respeito e igualdade, é difícil de entender?
Como organizar coisas no armário de cozinha Guarde na sua cozinha apenas o que for realmente importante. Não adianta acumular copos, vasilhas ou panelas que não são usados, porque eles vão apenas bagunçar seu armário. Faça uma seleção e doe o que não quiser mais guardar. Separe: em uma parte, guarde copos e em outra, os pratos. Num outro lugar, guarde as panelas. Se não tiver espaço para guardar as tampas em cima das panelas, coloque em uma caixa organizadora dentro do armário para deixar arrumadas. As panelas e talheres podem ficar perto do fogão e os copos, xícaras e canecas podem ficar perto da geladeira.
Coloque os temperos e mantimentos, como arroz, feijão ou farinha, em potes de vidro ou plástico, com tampa. Guarde-os em prateleiras ou dentro do armário, se tiver espaço. O que já estiver aberto não deve ficar na embalagem original, que pode atrair insetos e não mantém os alimentos frescos e secos. Guarde em vasilhas com tampa. Seguindo essas dicas de como organizar a cozinha e como organizar a geladeira, sua casa vai ficar sempre organizada e cozinhar vai se tornar uma atividade cada vez mais agradável!
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CAÇA-PALAVRAS
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Procure e marque, no diagrama de letras, as palavras em destaque no texto.
Corrida X câncer renal Mais uma boa RAZÃO para começar o esporte: a prática da CORRIDA reduz significativamente as POSSIBILIDADES de uma pessoa desenvolver câncer RENAL. Essa CONCLUSÃO foi divulgada após uma grande PESQUISA realizada pelo MEDICINE & Science in SPORTS & Exercise, ORGANIZAÇÃO de SAÚDE esportiva dos Estados Unidos. Nesse estudo, foram MEDIDOS os NÍVEIS de atividade de mais de 75 mil CORREDORES e 15 mil CAMINHANTES, ao longo de sete anos. Os pesquisadores descobriram que quanto mais corriam MENORES eram as chances de os participantes DESENVOLVEREM a doença. Para aqueles que atingiam 15 km ou mais por semana, a probabilidade de surgimento do CÂNCER caiu para 76%. Hora de botar o pé no asfalto! V A S I U Q S E P E R Q M Z Y
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Receita - Bolo de sorvete por Juliana de Oliveira MIlitão Moradora do Piscinão de Ramos
Calda: 5 colheres de chocolate em pó 7 colheres de água
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Creme 1: 4 gemas 1 lata de leite condensado 1 lata de leite comum Coloque as gemas, o leite condensado e o leite no liquidificador. Coloque a mistura na panela e leve ao fogo. Mexa até virar um mingau. Logo depois coloque a panela em uma bandeja com água fria para esfriar o creme. Creme 2: 4 claras 1 lata de creme de leite 5 colheres de açúcar
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Coloque a clara na batedeira e bata, até virar neve. Adicione o creme de leite e o açúcar e bata de novo até misturar bem. Adicione o creme 1 e bata de novo até ficar bem misturado. Retire a forma do freezer e coloque a mistura. Leve ao freezer e deixe por mais ou menos 24 horas até virar um sorvete. Depois de descansar no freezer desenforme o bolo e este estará pronto para comer!
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Ilustrado FAVELA, NOSSA IDENTIDADE
A SAUDOSA “JOVELINA PEROLA NEGRA”, NO SAMBA SONHO JUVENIL, DESLUMBRAVA POR UM FUTURO FORA DA FAVELA. “...Aspirar ar puro,fresco ar primaveril, abrir a janela ver o mar azul,ver a turma me chamando de garota zona sul, ver a turma me chamando de garota zona sul.” O QUE MUDOU DOS ANOS 80 PARA OS DIAS DE HOJE? POUCA COISA, PORÉM SE JOVELINA VIVESSE NA FAVELA HOJE, TERIA MOTIVOS PARA SE ORGULHAR E LUTAR PARA FAZER O SEU LUGAR SER DIFERENTE
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UM DOS MOTIVOS DO DESEJO DO “SONHO JUVENIL”, ERA A VONTADE DE ESTAR FORA DA FAVELA, POIS NA ÉPOCA EM QUE A MELODIA ENTOAVA NAS RADIOS, O MAU CHEIRO DAS VALAS A CÉU ABERTO, A FALTA D’AGUA E DE SANEAMENTO BASICO, A FALTA DE OPORTUNIDADE E A AUSENCIA DA CIDADANIA (POIS O FAVELADO ERA VISTO COMO “MALFEITOR”) FAZIA COM QUE O POBRE SONHASSE EM VIVER LONGE DO SEU LUGAR.
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MAREZINHO
È ISSO AÍ, JUSTINO! E O MELHOR DE TUDO É QUE VOCÊ ENCONTROU A OPORTUNIDADE, AQUI DENTRO DA NOSSA FAVELA.
FICO PENSANDO...ANTIGAMENTE ,A GENTE TINHA A MAIOR VERGONHA EM DIZER QUE MORAVA AQUI. HOJE, TEMOS O MAIOR ORGULHO, PORQUE PODEMOS CONQUISTAR NOSSO ESPAÇO NA SOCIEDADE, A PARTIR DAQUI!
E QUE ESTAMOS ACIMA DE QUALQUER FILOSOFIA POLITICA.
É...MAS VALE A PENA LEMBRAR QUE TODA ESTA CONQUISTA VEIO DE CADA UM DE NÓS. A FAVELA QUE NÃO TEM ESPAÇO PARA A CIDADANIA, DEVE BRIGAR PELOS SEUS DIREITOS!
POIS O QUE MAIS DESEJAMOS É VIVER
TRANQUILAMENTE NA FAVELA, ONDE NASCEMOS
JHENRI
MAREZINHO, ACABEI DE FAZER UM CURSO DE CAPACITAÇÃO... SE DEUS QUISER, LOGO VOU ARRUMAR UM EMPREGO.
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Ilustração mostrando a presença da mulher na favela, inspirada nas lavadeiras
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Memória
Por que o Museu da Maré é importante? “É importante porque aqui conta a história local que é do bairro da Maré. A história de um povo batalhador, que lutou pra conquistar o que tem hoje. Seus moradores resistiram às remoções, construindo suas próprias casas e seu próprio chão. Muitos moradores que vêm aqui se emocionam quando veem a suas histórias sendo contadas por imagens e objetos, coisas simples, mas que pra elas significam muito, até porque a maioria dos objetos que existem aqui foram os próprios moradores que doaram. Os objetos são exatamente do jeito que eram na época das palafitas.” (Alan Silva de Lira, bolsista FAPERJ) “O Museu da maré e seus projetos são importantes para as 16 comunidades. Eu que sou aluna da Escola Municipal Bahia e gosto muito da biblioteca Elias José. Nela dá pra relaxar e se divertir muito e nos leva para um mundo de magia. No Museu temos cursos e atividades culturais que ajudam muita gente. É um lugar pra aprender e dançar e fazer teatro e muito mais. As pessoas que frequentam o Museu sabem o quanto ele é importante para a vida dos jovens, adolescentes, adultos e idosos, que por aqui passam.” (Gabriele de Oliveira da Silva Correa tem 13 anos e é moradora da comunidade Bento Ribeiro Dantas)
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“O Museu da Maré é importante porque tem atividades divertidas, tem biblioteca para pegarmos livros emprestados. Tem o Museu que conta a nossa história, história de antigamente.” (Alan Vilete da Silva, Comunidade Morro do Timbau) “A importância do Museu da Maré pra mim é que é um lugar muito importante em uma comunidade, porque é um meio de cultura que conta a história deste lugar, que fala como ele era. Além disso, ele tem várias coisas em um lugar só, aqui tem um museu, uma biblioteca que se chama biblioteca Elias José, um lugar onde são exibidas artes e, além disso, têm aulas de hip hop, capoeira, ballet e é por isso que ele é um lugar importante para mim e minha família e ele também fez meu grupo de amigos aumentar”. (Daniel Moreira da Silva Torres)
“É muito importante porque podemos aprender muito com suas oficinas culturais. Aprendemos cidadania, enquanto nossos filhos estão em suas aulas. Estamos sempre em sintonia com as outras oficinas que o Museu oferece. O espaço é muito importante para a comunidade.” (Andréa Cardoso Valença da Silva, Aluna de artesanato) “O Museu da Maré para mim é importante, porque é um lugar que tem a preocupação de zelo, de guardar com carinho arquivos, fotos, peças, utensílios, enfim, tudo que é de suma importância para manter viva a identidade dos moradores da Maré. Mantê-lo aqui é a certeza de saber que um pedaço de minha história estará sempre vivo. E também poder mostrar às minhas filhas um pouco de como foi minha vida no passado.” (Jandir Leite Moreira, professor de artesanato)