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A Fisioterapia como coadjuvante no

A Fisioterapia como coadjuvante no tratamento da Doença de Parkinson

Gabriela Martins Fisioterapeuta, pós-graduanda em Fisioterapia Geriátrica e Gerontológica pela Universidade Federal de Minas Gerais

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Geralmente, ao acordarmos, levantamo-nos, fazemos as nossas necessidades fisiológicas, tomamos café e em muitas vezes já o fazemos automaticamente devido aos deveres do dia a dia. Porém, quando a pessoa tem a Doença de Parkinson, essas tarefas são bem mais comprometidas. O corpo não responde como deveria, rigidez ao ao tentar movimentar-se, movimentos mais lentos, desequilíbrio, o tremor por vezes dificulta o simples acto de segurar um copo e uma dor difusa por vezes acompanhada por cãimbras. Se não conhece, possivelmente em breve irá conhecer alguém com pelo menos uma dessas características.

A Doença de Parkinson é uma doença neurodegenerativa crónica progressiva que afeta o sistema nervoso, caracterizada pela perda de neurónios dopaminérgicos (os que produzem a dopamina) da via nigroestriatal, a sua dimunuição é em cerca de 70% quando a doença se manifesta, já a sua prevalência mundial é de 150 a 300 por 1 milhão de habitantes, o que equivale de 2% a 3% em pessoas acima de 65 anos, podendo chegar a 5% da população acima de 85 anos, principalmente com o atual crescimento populacional de idosos (geralmente os mais acometidos), mas também, em alguns adultos jovens[1].

A marcha é um dos sintomas motores mais acometidos E é caracterizada pela redução de velocidade e da dificuldade de realizar os movimentos, geralmente acompanhado de episódios do congelamento, freezing ou marcha festinada[2]. A marcha é frequentemente realizada simultaneamente com outras tarefas cognitivas ou motoras, ou seja, em dupla tarefa (DT). A DT é a associação entre os sistemas cognitivo e motor, sendo caracterizada como a realização de uma tarefa primária que é o fator principal da atenção, e uma tarefa secundaria, ambas realizadas ao mesmo tempo[3]. É suposto que indivíduos com Parkinson apresentem mais dificulda

© Impact Photography/Shutterstock.com © freepik

de em realizar DT que indivíduos sem esta condição. No entanto, esta questão precisa ainda de ser investigada, pois pode ter implicações na reabilitação destes indivíduos.

O portador da Doença de Parkinson possui sintomas motores e não motores. Como motores podemos observar o caminhar com passos mais curtos e rastejantes, acinesia ou bradicinesia (perda da capacidade de movimentar os músculos por conta própria ou movimentos mais lentos, como por exemplo a diminuição do balançar dos braços), derigidez muscular ou hipertonia plastica, tremor de repouso, instabilidade postural e quedas. O diagnóstico é clinico onde deve ser acompanhado por um neurologista especialista em distúrbio do movimento, já que não existe um exame específico que a confirme[2].

Existem também os sintomas não-motores como a diminuição do tamanho da letra (ao escrever, a micrografia), dificuldade de falar (afasia), dificuldade de engolir (disfagia), distúrbios respiratórios, dificuldade de iniciar os movimentos, transtornos do sono, constipação, sialorréia (salivação), dor difusa, impotência sexual, incontinência urinária, diminuição da olfato (hiposmia), alucinações, ansiedade e depressão, (este um dos mais prejudiciais)[2].

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) é de fundamental importância o tratamento multidisciplinar com psicólogos, fonoaudiólogos, terapeuta ocupacional, nutricionista, acupunturista, entre outros. Neste artigo será ressaltado a importância da fisioterapia. A avaliação fisioterapeutica tem como finalidade identificar as limitações do paciente para assim promover uma melhora na mobilidade, força muscular, controlo postural, equilíbrio, marcha, transferências, condicionamento físico, redução da dor, prevenir contraturas, do medo de cair, contraturas, entre outros, o seu objetivo é diminuir a gravidade dos sintomas, auxiliar na melhoria da qualidade de vida da pessoa com Doença de Parkinson, dos seus familiares e cuidadores, e assim minimizar demais complicações que a doença possa ocasionar[1].

Como estratégia de tratamento os exercícios fisioterapêuticos devem incluir:

Exercícios: » Alongamentos globais; » Fortalecimento com carga progressiva e aumento de números de repetições/séries » (Respeitando sempre o limite do indivíduo); » Transferências, equilíbrio, proprioceção e treino de marcha, com estímulo das pistas externas; » Treinar em situações com os sintomas motores na fase on e off da medicação em pistas auditivas (sons) para o aumento da velocidade da marcha e visuais para um maior comprimento de passo; » Prevenir as quedas; » Amplitude de movimento; flexibilidade, mobilidade (dissociação de escapular e cintura pélvica, como por exemplo exercícios de ponte, quatro apoios); » Dinâmicos associados as atividades diárias (como por exemplo exercícios funcionais sentar-se e levantar, circuitos); » Coordenação motora; » Exercícios respiratórios para diminuir o padrão de respiração restritivo; » Relaxamento;

Orientar em adaptações funcionais (calçado, altura da cadeira, uso de bengalas e ou andadores) Musculação, hidroterapia, acupuntura, caminhadas, pilates, realidade virtual, boxe, tai chi chuan, dança entre outros.

É de fundamental importância a parte cognitiva e motora serem trabalhadas, pois são necessárias nas tarefas diárias, auxiliando assim ao máximo na independência nas atividades da vida diária da pessoa com Doença de Parkinson. A reabilitação deve ser associada ao tratamento farmacológico, onde é primordial que o doente mantenha a ingestão das medicações no horário determinado [1] e respeitar o período onde deve se evitar o consumo de proteínas 1 hora antes ou 1 hora após a medicação para uma melhor absorcão deste no organismo. No tratamento fisioterapêutico devem ser incluídos programas de exercícios tanto preventivos, corretivos, e compensatórios[3], estimular a manutenção da postura adequada e inspecionar o indivíduo em aferição da pressão arterial, saturação, frequência cardíaca, respiratória e temperatura são também fundamentais.

Os instrumentos geralmente utilizados para as atividades de reabilitação são: faixas elásticas, halteres, caneleiras, bambolês, argolas, cones, escadas de agilidade e rampas, bolas, bastões, bicicletas ergométricas, colchonetes para exercícios no solo, jogos de realidade virtual, entre outros. De acordo com o Guide to Physical Therapist Practice devem ser incluídos como objetivos da fisioterapia[3]: » Aumentar a habilidade para realizar as atividades os cuidados pessoais de e das atividades de vida diária; » Melhorar os desempenhos nas tarefas físicas e demais atividades; » Reduzir a incapacidade ocasionada pela doença; » Orientações com a pessoa com Doença de Parkinson, familiares e cuidadores com conscientização da doença, prognóstico e resultado do tratamento;

Figura 2. Pacientes a realizar atividades na ASPARGMIG. Arquivo pessoal. Figura 3. Paciente realizando atividades na ASPARGMIG. Arquivo pessoal.

Diminuição da intensidade por assistência; Melhoria da capacidade de tratar os próprios sintomas; Favorecer a ter hábitos saudáveis; Diminuição dos riscos de comprometimento secundário; Manter a integridade e mobilidade das articulações; Aumento de força, resistência, potência da musculatura, capacidade aeróbica e resistência física; Melhorar função motora e controlo da postura, marcha, locomoção e equilíbrio; Aumento do conhecimento do indivíduo sobre a realização das atividades e preservar a energia; Diminuir o stress e favorecer a parte psicológica tanto no indivíduo com Parkinson como nos seus familiares e cuidadores[3].

Cada indivíduo é único, com características diferentes mesmo com a mesma doença, por isso o tratamento fisioterapêutico deve ocorrer precocemente e de acordo com as necessidades e questionamentos do paciente, pois irá auxiliar na prevenção de demais complicações que a Doença de Parkinson ocasiona, auxiliando assim na melhoria da capacidade motora e na sua funcionalidade. As orientações sobre como é a doença, tanto ao doente como aos familiares e cuidadores é de extrema importância para que se obtenham bons resultados[3].

Referências bibliográficas 1. Daniela Cristina Carvalho de Abreu, Flavia Doná. Tratamento Fisioterapêutico na pessoa idosa com a Doença de Parkinson. In: Patrícia Moesch, Gustavo Nines Pereira, Ângelo Jose Goncalves Bós.- Fisioterapia em Gerontologia.- 1 ed.- Rio de Janeiro: Rubio 2018. Capítulo 15, p. 169-182. 2. Capato TTC, Domingos JMM, Almeida LRS. Versão em Português da Diretriz Europeia de Fisioterapia para a Doença de Parkinson. São Paulo: Omnifarma; 2015. 3. Susan B.O’Sullivan, Doenca de Parkinson. In: Susan B.O’Sullivan,Thomas J.Schmitz. Fisioterapia Avaliacao e Tratamento. 4- ed- São Paulo: Manole 2004. Capítulo 23, p.747-773.

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