Dossier: qualidade
“a segurança é uma preocupação crescente da sociedade”
Ricardo Fernandes, atual Diretor
venções realizadas respeitem os requisitos
do Departamento de Informação,
essenciais de segurança estabelecidos na
Desenvolvimento e Assuntos
Diretiva 95/16/CE e assegurem as carate-
Europeus do Instituto Português da
rísticas da qualidade do serviço.
Qualidade, falou à revista “Elevare” sobre a nova legislação e requisitos
No entanto a certificação, em si mesma,
relacionadas com a qualidade, e o seu
pode não ser suficiente para atingir os ob-
contributo para a sustentabilidade
jetivos de reconhecimento propostos. É
económica e segurança dos
aconselhável que seja uma certificação
utilizadores dos elevadores e
acreditada, isto é, que a empresa seja cer-
ascensores.
tificada por um organismo de certificação acreditado pela entidade nacional de acreditação, o IPAC, para a atividade e domínio da certificação em que atua.
Revista Elevare (RE): Tendo em conta que
económico, da competição que referi ante-
a revisão do Decreto-Lei n.º 320/2002
riormente, garantindo que a otimização de
aponta para a certificação do sistema
RE: E relativamente à obrigatoriedade de
custos não diminui a competência técnica,
de gestão da qualidade das empresas de
acreditação das Entidades Inspetoras para
nem compromete a confiança na execução
manutenção e para a acreditação como
poderem exercer a sua atividade?
das atividades que estão acreditadas. Para
organismo de inspeção por parte das enti-
RF: Sou da opinião que poderá vir a colma-
concluir, gostaria de referir que a acredi-
dades inspetoras, como vê esta situação:
tar alguma falta de acompanhamento das
tação das EI traz vantagens, vindo servir
uma ameaça ou uma oportunidade para as
atividades destas entidades. Também nesta
essencialmente para ganhar e transmitir
empresas?
área de atividade existe uma forte concor-
confiança na execução das atividades téc-
Ricardo Fernandes (RF): É sem dúvida uma
rência no mercado. A pressão dos custos
nicas de inspeção, ao confirmar a existência
oportunidade. Será um contributo para a
pode levar à procura de profissionais mais
de um nível de competência técnica mínimo,
melhoria das operações das Empresas de
baratos, menos especializados e mais ge-
reconhecido.
Manutenção de Ascensores (EMA) e para a
neralistas, que focam a sua atuação em
credibilidade das inspeções efetuadas pelas
aspetos mais administrativos não essen-
Entidades Inspetoras (EI), a bem da seguran-
ciais, diminuição da duração e do rigor das
RE: Tudo isto tendo como objetivo funda-
ça de todos os utilizadores. Não só para os
inspeções, em suma, subtraindo valor às
mental garantir a máxima segurança dos
ascensores das nossas casas, como sobre-
inspeções e falta de credibilidade.
utilizadores dos elevadores? RF: Sim, claro. A segurança é uma preocu-
tudo para o caso dos ascensores, escadas e tapetes de serviço público, que têm um uso
A acreditação é o procedimento através
pação crescente da sociedade atual, reco-
intensivo em estações, metros, aeroportos,
do qual o IPAC avalia e reconhece a com-
nhecida e aceite como tal por todos nós,
espaços comerciais, e outros.
petência técnica de uma entidade para
designadamente pela própria Comissão
efetuar a atividade. O referencial para a
Europeia e pelas autoridades públicas dos
Na minha perspetiva o estabelecimento da
acreditação das EI é a NP EN ISO/IEC 17020
vários países.
obrigatoriedade da certificação das EMA
para organismos de inspeção. Pode-se di-
contribui para criar os controlos necessá-
zer que a acreditação vai funcionar como
Repare que a manutenção e as inspeções
rios a montante, garantindo que as inter-
uma espécie de regulador técnico, mas não
são, hoje em dia, exercidas por várias em-
32
elevare
Dossier: qualidade são qualidade-preço, infelizmente ainda é
vamente ao tempo que pode demorar a
bilização dos documentos normativos en-
o preço que decide muitas vezes. Na ma-
edição da versão em português de uma
viados pelas CT, e que depois de uma verifi-
nutenção de elevadores isto pode tornar-
Norma Europeia EN, é preciso esclarecer
cação técnica normativa são preparados e
-se desastroso, pois os custos escondidos
que não se trata de uma mera tradução
editados pelo IPQ.
da não-qualidade do serviço prestado vão
linguística. Tem de ser analisada pelos pe-
manifestar-se mais cedo ou mais tarde.
ritos no âmbito das Comissões Técnicas
Reportando-me ao ano passado posso di-
Felizmente que se vai assistindo a uma exi-
de Normalização (CT) e deverá haver cui-
zer-lhe, por exemplo, que a meta proposta
gência crescente do consumidor, sendo que
dados, nomeadamente quanto à lingua-
para o tempo médio de edição era de 50
hoje a decisão consciente é tomada tendo
gem técnica e terminologia e às práticas
dias úteis e conseguiu-se superar o objeti-
em conta simultaneamente os dois fatores
desenvolvidas no país.
vo com uma realização de 48,26 dias úteis.
que referi.
E a perspetiva é de vir a melhorar ainda Como é sabido o IPQ, enquanto Organismo
mais, com a implementação do Projeto
Mas assiste-se cada vez mais a uma cons-
Nacional de Normalização (ONN), tem orien-
PROQUAL, que tem como objetivo a análise
ciencialização para a problemática da quali-
tado a sua atuação pelo princípio da descen-
e a reorganização de toda a atividade do
dade dos produtos e/ou serviços, a preser-
tralização em Organismos de Normalização
IPQ, com particular enfoque nos proces-
vação do ambiente, as condições do local
Setorial (ONS), do apoio ao funcionamento
sos diretamente centrados no cliente, com
de trabalho e o contributo para a sociedade.
das CT, aproximando as atividades norma-
incidência ao nível das competências fun-
Do lado das empresas estas têm de estar
tivas dos seus mais diretos interessados,
damentais do IPQ, que constituem as suas
atentas. Quem não estiver, arrisca-se a não
estimulando a definição de prioridades
principais áreas de atividade, a Metrologia
sobreviver, como já disse antes. O desafio
setoriais de normalização por parte dos
e a Normalização, sem descurar, também,
está em conseguir gerir corretamente os
agentes económicos e sociais nacionais. A
as restantes áreas relacionadas com a
custos, considerando a qualidade, o am-
rede compreende atualmente 55 ONS, 164
promoção da Qualidade e com os Assun-
biente e a segurança, sem afetar a rentabili-
Comissões Técnicas constituídas por cerca
tos Europeus.
dade da empresa.
de 3.400 peritos. Para o caso vertente das Normas que referiu, foram elaboradas pela
Concretamente no domínio da atividade nor-
Penso que o desenvolvimento e implemen-
CT 63 no âmbito do ONS, que é a DGEG. O
mativa, os efeitos esperados são significati-
tação de sistemas integrados de gestão da
acervo normativo nacional a 31 de dezem-
vos, sendo de sublinhar a inclusão de uma
qualidade, ambiente e segurança, será uma
bro de 2011 era de cerca de 22.000 Normas,
plataforma colaborativa que suporte todo o
aposta que as organizações terão que fazer
das quais 5.000 em português.
fluxo de informação trocada entre os milha-
num futuro próximo, para garantir a quali-
res de intervenientes nacionais no processo
dade dos seus produtos e serviços, a pre-
Quero acrescentar ainda que o IPQ tem vin-
normativo. Também é de salientar a criação
servação do meio ambiente e a segurança e
do a fazer um enorme esforço no sentido
de uma biblioteca digital associada a um sis-
o bem-estar dos seus trabalhadores, o que
de promover a criação de novas CT e dina-
tema de controlo de acessos remotos, des-
se enquadra na sua responsabilidade social,
mizar os trabalhos das já existentes, no que
tinado a disponibilizar um serviço automá-
dando assim um contributo relevante para
se refere à tradução de Normas e tornando
tico de informação normativa por perfil de
a sociedade com a criação de emprego e
cada vez mais eficiente e célere a disponi-
destinatário.
riqueza.
RE: Os regulamentos nacionais de segurança de ascensores Elétricos e Hidráu-
NOTA BIOGRÁFICA
licos são, respetivamente, as Normas NPEN 81-1 e NPEN 81-2. Constata-se que
57 anos de idade, tem desenvolvido a sua atividade profissional na área da Qualidade e dos conceitos
quando há alterações às normas e en-
que lhe estão associados. Desempenhou diversos cargos como técnico e como dirigente em vários
quanto não há a versão em português te-
organismos da administração pública. Atualmente é Diretor do Departamento de Informação, Desen-
mos um regulamento nacional em língua
volvimento e Assuntos Europeus do Instituto Português da Qualidade (IPQ). Licenciado em Engenhar-
estrangeira. Que comentário faz a esta
ia Mecânica (IST); Pós-Graduação em Engenharia da Qualidade (UNL-ISQ); Pós-Graduação em Gestão
situação.
Empresarial (ISCTE-INDEG); Mestrado em Gestão da Qualidade, parte curricular terminada (Univer-
RF: Começo por afirmar que ambas as
sidade Aberta). Vogal das Comissões Técnicas de Normalização, CT 80 - Gestão da Qualidade e da
Normas estão já traduzidas para portu-
CT 164 – Responsabilidade Social das Empresas. Avaliador do Prémio de Excelência PEX/SPQ, As-
guês. De facto a legislação aplicável faz
sessor Training Course da European Foundation for Quality Management ( EFQM – 2005). Docente
referência direta às Normas NP EN 81-1
universitário. Tem elaborado trabalhos e estudos, publicado artigos em revistas e boletins da espe-
e NP EN 81-2, que constituem os regula-
cialidade e apresentado comunicações em Congressos, Colóquios, Seminários e Conferências, sobre
mentos de segurança para os ascensores
temas da “Gestão da Qualidade”, da “Gestão Ambiental” e da “Segurança e Saúde no Trabalho”; “Audi-
elétricos e ascensores hidráulicos, res-
torias da Qualidade e Ambiente”; da “Responsabilidade Social” e do “Desenvolvimento Sustentável”.
petivamente. Em segundo lugar, e relati-
34
elevare