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formação
eletrotecnia båsica instalaçþes elÊtricas de baixa tensão JosÊ V. C. Matias Licenciado em Engenharia EletrotÊcnica (IST) Professor do Ensino Secundårio TÊcnico Autor de livros tÊcnico-didåticos de eletricidade e eletrónica
Neste nĂşmero da revista “o electricistaâ€? abordamos o tema ‘Aparelhos de proteção’: tipos de defeitos ou anomalias, proteção contra sobreintensidade, utilizando corta-circuitos fusĂveis. SĂŁo tambĂŠm apresentadas as tabelas normalizadas com as correntes estipuladas dos corta-circuitos fusĂveis. No prĂłximo nĂşmero, abordaremos entĂŁo o disjuntor magnetotĂŠrmico como elemento de proteção contra sobreintensidades. (continuação da edição anterior)
15.5. Aparelhos de proteção
radas defeitos, Ă exceção da sobrecarga que ĂŠ uma ocorrĂŞncia anĂłmala do circuito. Ao conjunto das sobrecargas e curtos-circuitos ĂŠ usual chamar-se de sobreintensidades, visto em ambos os casos ultrapassarem as correntes estipuladas (valores nominais) dos aparelhos. As RTIEBT rente de valor superior ao da corrente estipulada dos aparelhos de proteção instalados. Qualquer uma das ocorrĂŞncias referidas (sobrecargas e curtos-circuitos) correspondem a regimes anormais de funcionamento; como tal, hĂĄ que evitĂĄ-los ou reduzir os seus efeitos. sobrecarga como uma sobreintensidade que ocorre num circuito, na ausĂŞncia de um defeito elĂŠtrico. Ocorre uma sobrecarga num motor quando, por exemplo, se exerce sobre o veio do motor um esforço superior ao nominal, o que obriga o motor a ‘pedir’ Ă rede um excesso de corrente. Ocorre uma sobrecarga numa canalização elĂŠtrica quando estĂŁo ligados a essa canalização simultaneamente diversos recetores cuja intensidade total pedida excede o valor da intensidade mĂĄxima admissĂvel pela canalização.
Um curto-circuito Ê uma sobreintensidade resultante de um defeito de impedância desprezåvel entre condutores ativos que apresentam, em serviço normal, uma diferença de potencial. Um curto-circuito ocorre quando hå, por defeito, uma ligação direta entre a fase e o neutro, entre duas fases ou entre o positivo e o negativo, o que implica uma subida exagerada da intensidade de corrente no circuito (Figura 22). As correntes de fuga são correntes que saem dos condutores ativos (fases e neutro), percorrendo os invólucros condutores dos equipamentos, sendo conduzidas para a terra pelos condutores de proteção. Estas correntes originam tensþes de contacto Uc entre o invólucro dos equipamentos e a terra, bem como tensþes de passo U p entre o elÊtrodo de terra e os pontos à sua volta à distância de um passo humano. Qualquer uma destas duas tensþes pode ser perigosa valores respetivos ultrapassem determinados valores. As sobretensþes (excesso de tensão) podem ser de origem externa (descargas atmosfÊricas nas linhas) ou de origem interna
15.5.1. Tipos de defeitos ou anomalias Os aparelhos de proteção têm como função proteger todos os elementos constituintes de um circuito elÊtrico ou de uma instalação elÊtrica contra os diferentes tipos de defeitos, avarias ou anomalias que podem ocorrer. Os principais tipos de defeitos e anomalias que podem ocorrer num circuito são: 1. Sobrecargas; 2. Curtos-circuitos; 3. Correntes de fuga; 4. Sobretensþes; 5. Faltas de tensão; 6. Subtensþes. À luz das RTIEBT (Regras TÊcnicas de Instalaçþes ElÊtricas de Baixa Tensão), todas as ocorrências indicadas acima são considewww.oelectricista.pt o electricista 41
F
A A
+ Icc
R
R
Icc = 1 kA – B Figura 22 Curto-circuito entre os pontos A e B; a corrente atinge uma intensidade elevada (neste caso, 1 kA), durante este curto-circuito.
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formação ĂŠ mais elevado em B. Na verdade, o fusĂvel nĂŁo tem apenas uma curva, mas duas curvas que delimitam a sua zona de funcionamento. O ponto de funcionamento do fusĂvel situar-se-ĂĄ no interior, entre as duas curvas. Quanto Ă rapidez de atuação, existem fundamentalmente dois tipos de fusĂveis: o fusĂvel de ação lenta – tipo gG – e o fusĂvel de ação rĂĄpida – tipo aM. O fusĂvel gG ĂŠ utilizado geralmente na proteção contra sobrecargas, embora tambĂŠm possa proteger o circuito contra curtos-circuitos. O fusĂvel aM ĂŠ utilizado apenas na proteção contra curtoscircuitos. Como se sabe, os aparelhos de proteção devem proteger recetores e canalizaçþes porque estes tĂŞm uma temperatura mĂĄxima ! integridade. Isto ĂŠ, recetores e canalizaçþes suportam excessos de corrente durante tempos tanto mais curtos quanto mais elevados forem esses excessos. ' * corrente estipulada IN de um fusĂvel como o valor da corrente para o qual o fusĂvel nĂŁo atua. Para os fusĂveis gG * & / Corrente convencional de funcionamento I2 como o valor de corrente para o qual o fusĂvel deve atuar durante o tempo convencional. / Corrente convencional de nĂŁo-funcionamento Inf como o valor de corrente para o qual o fusĂvel deve atuar antes de expirar o tempo convencional. As correntes convencionais e os tempos convencionais sĂŁo estabelecidos pela Norma EN 60269-2 e sĂŁo aqui reproduzidos nos Quadros 22 e 23.
Corrente estipulada
Corrente convencional de nĂŁo funcionamento
Corrente convencional de funcionamento
Inf
I2
1,5 Ă— In 1,5 Ă— In 1,25 Ă— In
2,1 Ă— In 1,9 Ă— In 1,6 Ă— In
In
AtĂŠ 4 A 4 A < In H JK In > 16 A
Quadro 22 CaraterĂsticas dos fusĂveis gG.
Corrente estipulada
Tempo convencional
In
(t)
AtĂŠ 63 A 63 A < In H JKW 160 A < In H XWW In > 400 A
1h 2h 3h 4h
Quadro 23 Tempos convencionais dos fusĂveis gG. www.oelectricista.pt o electricista 41
Qual o significado destes valores? Por exemplo, um fusĂvel com In = 10 A deverĂĄ suportar, sem fundir, uma corrente de 15 A (1,5 Ă&#x2014; In) durante o tempo convencional que ĂŠ 1 h (para fusĂveis atĂŠ 63 A) e se for percorrido por uma corrente de 19 A (1,9 Ă&#x2014; In) deverĂĄ fundir antes de expirar o tempo convencional de 1 h. Do Quadro 22, substituindo In pelos valores normalizados dos fusĂveis, obtemos o Quadro 24, jĂĄ com os valores explicitados de In, Inf e I2.
2
t 1
B
A t1
I1
I2
I
Figura 25 1 - Curva do fusĂvel; 2 - Curva de fadiga tĂŠrmica da canalização; A - Ponto de funcionamento estĂĄvel do circuito; P - Ponto a partir do qual o fusĂvel
Corrente estipulada
In
2 4 6 8 10 12 16 20 25 32 40 50 63 80 100 125 ...
Corrente convencional de nĂŁo funcionamento
Corrente convencional de funcionamento
Inf
I2
3 6 9 12 15 18 24 25 31 40 50 63 79 100 125 156 â&#x20AC;Ś
4 8 11 15 19 23 30 32 40 51 64 80 101 128 160 200 â&#x20AC;Ś
Quadro 24 CaraterĂsticas dos fusĂveis gG.
7 ! 8 < < correntes convencionais nem tempos convencionais, visto que nĂŁo protegem contra sobrecargas. O menor valor que um fusĂvel aM deve cortar ĂŠ de 4 Ă&#x2014; In. Os valores usuais das correntes estipuladas destes fusĂveis sĂŁo: 10 A, 16 A, 20 A, 25 A, 32 A, 40 A, 63 A, 80 A, 100 A, 125 A, entre outros. Na Figura 25 representamos aquilo a que se chama - â&#x20AC;&#x2DC;curva de fadiga tĂŠrmicaâ&#x20AC;&#x2122; de uma canalização, juntamente com a â&#x20AC;&#x2DC;curva caraterĂsticaâ&#x20AC;&#x2122; de um fusĂvel. O que se pretende ĂŠ que o ĂłrgĂŁo de proteção atue bastante antes da canalização atingir qualquer ponto da sua curva de fadiga tĂŠrmica. Por exemplo, se A fosse o â&#x20AC;&#x2DC;ponto de funcionamentoâ&#x20AC;&#x2122; do circuito, obviamente que nem a canalização atingiria o seu ponto de fadiga tĂŠrmica, nem o fusĂvel iria atuar. SĂł * % ? mica vai depender do valor da temperatura atingida e esta vai depender nĂŁo sĂł do valor da intensidade como do tempo de exposição. Recorde-se que a quantidade de calor libertada, responsĂĄvel pelo aumento de temperatura, ĂŠ dada por Q = 0,24 RI2 t.
jå não protege a canalização.
Quanto Ă constituição, existem diversos tipos de fusĂveis: tipo rolo ou rolha, tipo cartucho e tipo cilĂndrico. Antigamente, utilizava-se muito o fusĂvel tipo Gardy que ainda pode ser encontrado nas instalaçþes elĂŠtricas mais antigas. O fusĂvel de rolo contĂŠm no seu interior ! " rior com a tampa e na parte inferior com um contacto metĂĄlico. A Figura 26 sugere os trĂŞs elementos que irĂŁo formar um sĂł bloco. A tampa vai enroscar na peça (suporte) inferior, ! # $ condutores sĂŁo ligados exteriormente, por intermĂŠdio de parafusos de aperto. Os fusĂveis do tipo cartucho sĂŁo consti ! % dentro de uma câmara constituĂda por um material isolante, na qual se encontra areia de quartzo com o objetivo de favorecer a extinção do arco elĂŠtrico, no caso de curto-circuito. Estes fusĂveis tĂŞm normalmente um elevado poder de corte.
Figura 26 FusĂvel de cartucho A.P.C., em corte: 1 - Elemento fusĂvel&
% poder de corte; 2 - InvĂłlucro: deve ser muito sĂłlido que suporta choques tĂŠrmicos e eletrodinâmicos muito grandes, no corte; 3 - Areia: o seu papel ĂŠ o de arrefecer o arco; 4 - Ligação do elemento fusĂvel com as facas; 5 - Facas: estas peças asseguram a ligação elĂŠtrica com o suporte, o qual estabelece a continuidade do circuito elĂŠtrico; 6 SĂstema de deteção de fusĂŁo (sinalizador ou percutor).
O fusĂvel tipo cilĂndrico ĂŠ muito usado em tensĂľes reduzidas, mas tambĂŠm em Baixa TensĂŁo e MĂŠdia TensĂŁo. Em circuitos trifĂĄsicos ou monofĂĄsicos coloca-se um fusĂvel por fase, excluindo o condutor neutro. (continua na prĂłxima edição)