Produção de Energia e gestão florestal

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Produção de Energia e Gestão Florestal Acabado o Verão fica-nos, nos últimos anos, um gosto amargo que é consequência da enorme catástrofe nacional que são os incêndios que devastam o país de norte a sul, com enormes prejuízos. Estes prejuízos são de vária ordem. Prejuízos humanos e sociais, devidos à perda de vidas humanas e ao considerável número de desalojados e de pessoas que, embora não sendo desalojadas, acabam por sofrer danos materiais que as deixam numa situação crítica de sobrevivência. Prejuízos materiais, devidos à enorme

Custódio Dias (Director)

editorial

quantidade de madeira queimada, de plantações e bens móveis e imóveis destruídos, de rebanhos perdidos e, finalmente, de infra-estruturas (de energia, de telecomunicações, de comunicação viária e ferroviária, etc.) afectadas. Por último e não menos importante, são os prejuízos ambientais. Embora, curiosamente, este tipo de perdas não seja muito referido, o facto é que os incêndios dão origem à emanação de enormes quantidades de

(através do abate e venda de árvores) quando era necessário

monóxido de carbono e outros gases nocivos, à destruição

obter liquidez financeira de uma forma rápida. Simultaneamente,

de ecossistemas, por morte dos animais e destruição do seu

essa agricultura valorizava, de uma forma natural, os subprodutos

habitat, isto para já não falar da perda de enormes áreas

florestais. As ervas e os arbustos eram arrancadas para forrar

verdes, que contribuem para o equilíbrio ambiental e que,

os aposentos dos animais (constituindo posteriormente adubos

assim, deixam de existir.

naturais), as árvores inadequadas eram cortadas para obter lenha para o fogão, etc. A gestão da floresta fazia-se, assim,

De facto, se atendermos ao que referi anteriormente,

de uma forma natural.

rapidamente concluímos que a sociedade portuguesa terá de muito rapidamente mudar o rumo dos acontecimentos,

A agricultura industrial que actualmente se pratica veio alterar

sob pena de se estar a auto-destruir. Sem querer discutir

completamente esta situação e os subprodutos florestais

aqui a origem dos incêndios (natural, acidental, ou criminosa),

deixaram de ser valorizados e, por isso, deixou de se fazer a

um facto é indiscutível, Portugal deixou há muito tempo

sua gestão, votando a floresta praticamente ao abandono.

de fazer a gestão da floresta e isso, quer queiramos ou não, potencia a ignição e a propagação dos fogos.

É, assim, urgente arranjar formas de valorizar os subprodutos florestais, para que os proprietários das florestas tenham,

A floresta, tal como qualquer outro sistema de produção,

de novo, incentivo para fazer a sua gestão. É aqui que a

tem produtos (árvores de determinadas espécies e com

produção de energia eléctrica pode ter um papel decisivo.

determinadas características, animais para caça, oxigénio,

Tal como já acontece com a valorização dos resíduos urbanos

etc.) e subprodutos (ervas e arbustos, árvores de espécies

e de alguns resíduos industriais, que são aproveitados para

ou com características inadequadas, parasitas, etc.). Da

a produção de energia eléctrica, também os resíduos florestais

mesma forma, para que a actividade produtiva seja

podem ter uma utilização similar, sendo assim valorizados.

equilibrada, haverá que gerir de uma forma eficiente os

As autarquias devem ter um papel fundamental neste

produtos e os subprodutos.

processo, constituindo empresas intermunicipais que se encarregarão de estudar a situação das suas regiões,

Na agricultura tradicional, dita de subsistência, que era

relativamente aos resíduos florestais e outros, e de

praticada há algumas décadas atrás, a floresta constituía

desenvolver projectos que visem a valorização daqueles

uma espécie de aplicação financeira a prazo, à qual se recorria

através da produção de energia eléctrica.


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