Aspectos do desenvolvimento da Rede Nacional de Transporte de Energia Eléctrica face às energias renováveis e ao MIBEL A Directiva Europeia 2001/77/CE para as energias renováveis estabeleceu para Portugal, no horizonte de 2010, o objectivo de 39% da energia eléctrica produzida ser de origem renovável (este valor engloba também a produção das grandes centrais hídricas, com uma previsão de potência instalada nesse horizonte na casa dos 5000 MW). Para o cumprimento do objectivo dos 39%, a maior fatia de crescimento será realizada através da componente de energia eólica, a qual deverá passar dos 404 MW instalados em finais de 2004, para um número da ordem dos 5000 MW até 2013. Admite-se, hoje, que o ano de 2012 seja aquele em que a energia com carácter de intermitência, que é apanágio das renováveis, se aproxime dos 30% do consumo na Península Ibérica, valor que é recomendado como um limite de segurança de abastecimento para um Sistema Eléctrico. A tecnologia, no entanto, evoluirá, e hoje começa a falar-se em grandes pilhas, capazes de armazenar quantidades significativas de energia, que os produtores poderão vir a instalar nos seus parques eólicos tornando-os quase equivalentes às centrais clássicas. Se tal acontecer, como se espera, o paradigma das renováveis será alterado e a energia eléctrica obtida a partir delas acabará por ser vendável nos mercados diários, intradiários ou a prazo. Em Portugal, cerca de 85% do consumo de electricidade situa-se numa faixa litoral entre Braga e Setúbal e na costa algarvia. Até ao advento da energia eólica ser usada para produzir electricidade a uma escala significativa, a Rede Nacional de Transporte de Energia Eléctrica, de que a REN Rede Eléctrica Nacional, S.A. é a concessionária, foi projectada tendo por base a grande produção térmica, maioritariamente, localizada na metade centro e sul do país e as grandes hídricas no norte. Os estudos levados a cabo sobre o potencial eólico do país mostram que o mesmo se encontra, fundamentalmente, nas zonas do interior norte e centro do país. Este facto conduziu à necessidade de repensar a Rede de Transporte de forma a acomodar, também, os elevados fluxos de energia proveniente desta fonte renovável, desde regiões com pequena densidade populacional, onde vai sendo produzida, até aos locais de consumo. A REN, na sua obrigação institucional de disponibilizar uma infraestrutura que não condicione o normal desenvolvimento do Sistema Eléctrico Nacional, cedo lançou diversos programas de estudo de redes, em que envolveu universidades portuguesas e entidades internacionais de investigação e desenvolvimento, do qual resultou a elaboração de um plano específico para o desenvolvimento da rede de transporte por causa desta nova componente das energias renováveis. Este plano inclui a criação de um conjunto de novas subestações e linhas, cobrindo várias áreas do país. Mas as preocupações de desenvolvimento sustentável por que a REN se pauta, levam-na, como será natural, a procurar rentabilizar os activos já construídos minimizando o impacte de novas linhas de muito alta tensão na paisagem. Sendo certo que o nível de 400 kV é aquele que tem maior capacidade de transporte de energia, o plano prevê que a nova produção seja conduzida para os pontos mais próximos onde este nível já exista evitando a saturação de elementos de rede nos níveis de tensão inferiores.
Dito de outro modo, a recolha, por grandes zonas, da energia eléctrica produzida a partir do vento é feita com base em linhas e subestações de 150 kV e 220 kV, existentes, a reforçar ou a construir. Estas linhas darão, por fim, acesso a subestações onde existe a tensão de 400 kV por onde se deseja que a energia siga o seu percurso até às zonas de consumo.
REN - Rede Eléctrica Nacional De acordo com as leis da Física, a electricidade nem sempre seguirá o caminho que conduz à optimização dos recursos e à melhor solução ambiental. Haverá tendência para que algumas linhas entrem em sobrecarga, o que obrigaria a construir novas, ao lado, enquanto, próximas, poderão estar outras, folgadas. A REN decidiu, então, e após estudos económicos aturados, com envolvimento de fabricantes de equipamento, instalar nalgumas das suas subestações transformadores desfasadores entre o nível de 400 kV e os de 220 kV ou150 kV, conforme os locais onde estão ou vierem a ser instalados. A ideia, em português corrente, será de dispor, em pontos estratégicos, de dispositivos que sugando a energia para uma dada subestação ajudem a melhor a distribuir pelas linhas existentes. Notar-se-á, da leitura deste parágrafo, que se gasta num equipamento mas se economiza no ambiente, ao não o poluir visualmente com uma nova linha, e nos prazos, pois aquela demoraria muito mais tempo a ser licenciada do que a compra e instalação de um transformador numa subestação existente. A toda esta problemática não é estranho o MIBEL, Mercado Ibérico da Electricidade. Portugal e Espanha continuam a trabalhar nos diversos aspectos com ele relacionados, em particular, no da evolução das redes de transporte dos dois países. Assim, em 2009 haverá mais uma ligação com Espanha no nível de tensão de 400 kV, na zona do Douro Internacional e no horizonte de 2010, mais duas, uma no Alto Minho e outra no Algarve. Estas novas linhas serão importantes para manter e, mesmo, aumentar a actual capacidade de trocas comerciais entre os dois países. Em particular, a ligação no Alto Minho aumentará, significativamente a capacidade de importação por parte de Portugal. De qualquer modo, se Portugal e Espanha já são hoje um exemplo de dois países interligados, naquela altura ter-se-ão ultrapassado ainda mais as recomendações de Bruxelas nesta matéria. Mas mais importante do que isso é o aumento que aquelas interligações virão a dar à segurança de abastecimento em Portugal e Espanha. A REN, que vem investindo, desde 2001, cerca de 120 milhões de euros por ano, vai passar aquele valor para 160 milhões de euros com o objectivo de adequar a Rede, de que é concessionária, às necessidades do país, sendo a maior parte desta verba atribuível às razões invocadas neste documento. A REN está convicta de que Portugal vai continuar a dispor de uma Rede de Transporte ao nível das melhores da Europa. Esteve, como empresa fundamental para o desenvolvimento do país, sempre consciente dos desafios e preparou-se, a tempo, princípio que prosseguirá para que as luzes nunca se apaguem nos lares e nas empresas portuguesas .