Lições de electricidade - capítulo II - corrente contínua - 8.ª parte

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FORMAÇÃO

revista técnico-profissional

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o electricista

Jorge Castilho Cabrita, Engenheiro Electrotécnico (IST)/ Professor do Ensino Secundário

lições

LIÇÕES DE ELECTRICIDADE

{CAPITULO II · corrente contínua Jorge Castilho Cabrita, Engenheiro Electrotécnico (IST)/ Professor do Ensino Secundário

OITAVA PARTE

Termoelectricidade - 3ª parte: efeitos Seebeck, Peltier, Thomson ; figura de mérito; Ioffe - semicondutores ; aplicações.

No artigo de hoje continua-se o sub-capítulo sobre Termoelectricidade, desta vez dedicado ao efeito Seebeck. Os efeitos Peltier e Thomson e aplicações destes efeitos, com referência às contribuições de Altenkirch e Ioffe serão tratados noutro artigo. (Algumas demonstrações matemáticas foram incluídas em rodapé. A continuidade de leitura do texto não será afectada se não for lida alguma destas demonstrações).

23› EFEITO TERMOELÉCTRICO. EFEITO SEEBECK O efeito Seebeck consiste na geração de uma f.e.m. num circuito constituído por dois metais ou semicondutores diferentes quando as junções de ligação dos dois materiais estão a temperaturas diferentes. Este efeito foi descoberto em 1821 pelo físico estónio Thomas Johann Seebeck1 (1770-1831), embora não tenha compreendido o seu funcionamento2 que seria explicado por Thomson (Lord Kelvin)3 trinta anos depois, em 1857.

T2). Os iões positivos ficam em excesso na extremidade quente e os electrões ficam em excesso na extremidade fria. Forma-se assim um campo eléctrico dirigido da extremidade quente para a extremidade fria.

Figura 53 · Transferência de calor

23.1› EFEITO TERMOELÉCTRICO. EFEITO SEEBECK Para compreender este fenómeno comecemos por analisar o que se passa num condutor aquecido numa das suas extremidades. Nos átomos dos condutores existe um certo número de electrões livres à temperatura ambiente. Estes electrões são livres porque se encontravam fracamente ligados aos átomos a que pertenciam e adquiriram do ambiente energia suficiente para se libertarem, transformando os átomos em iões positivos que se mantêm fixos na estrutura cristalina (figura 53). Os electrões que se encontram na extremidade aquecida (temperatura T1) recebem energia térmica adicional, aumentando a velocidade, o que provoca a sua difusão para a extremidade não aquecida (temperatura

O aumento do excesso de electrões na extremidade fria provoca uma repulsão sobre novos electrões originários da extremidade aquecida. Para manter a diferença de temperaturas, é necessário arrefecer a extremidade fria enquanto a outra extremidade continua a ser aquecida. Numa secção transversal do condutor o número de electrões deslocando-se num sentido torna-se igual ao número de electrões deslocando-se em sentido contrário, o que conduz ao estabelecimento de um equilíbrio dinâmico no movimento de electrões. Deixará de haver corrente média na secção transversal. Apesar de o número de electrões que se deslocam num sentido ser igual ao número que se desloca no sentido oposto, a condução de energia térmica da extremidade quente para

a fria e, consequentemente, o gradiente de temperaturas (diferença de temperaturas entre dois pontos ao longo do condutor), mantém-se porque a velocidade dos electrões que se deslocam da extremidade quente para a fria é maior que a dos que se deslocam da extremidade fria para a quente. Se a extremidade fria for arrefecida enquanto a extremidade quente for aquecida, a f.e.m. entre as extremidades mantém-se, apesar de não haver transferência de carga eléctrica média através de qualquer secção transversal do condutor. Este conjunto de fenómenos é conhecido por efeito termoeléctrico. Havendo um gradiente de temperaturas ao longo do condutor, entre dois pontos próximos com diferença de temperaturas dT haverá uma diferença de potencial dV (figura 54).

Figura 54 · Coeficiente de Seebeck 1 Ver rubrica "Notas biográficas": Seebeck 2 Seebeck pensou que a diferença de temperaturas produzia directamente um campo magnético, quando, na realidade, produz uma f.e.m.. 3 Nota biográfica sobre Thomson (Kelvin) a publicar nesta revista.


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