GUIA PRÁTICO PARA FAZER SEUS PRÓPRIOS FILMES + CONHEÇA OS FILMES FEITOS EM CONTAGEM
FIlmes Feitos à mão Fazendo um FIlme quadro a quadro
Olá leitor, Já pensou como são feitos os filmes? E que tal fazer um? Este livreto vem com dicas simples para te ajudar a fazer o seu próprio filme com o que tem em mãos. Com o objetivo de incentivar a produção de filmes amadores e independentes, este volume contém dicas sobre como começar a fazer um filme de forma simples, sem dinheiro, sem curso, e até mesmo sem equipamento. Quem não tem um amigo ou parente que possa emprestar uma câmera ou um celular que filma, não é mesmo? Este livreto foi idealizado pelo projeto Cine Sem Churumelas por acreditar na importância da produção audiovisual caseira. É começando a filmar na sua casa e seus amigos que nascem os grandes cineastas. E mesmo para aqueles que não almejam chegar às telonas fazer um filme é uma ótima maneira de compartilhar histórias com amigos e se expressar. Neste volume falaremos sobre stop motion! Achamos importante expor um pouco sobre esta técnica por ela representar o fundamento do pensamento do cinema e a primeira forma como ele apareceu no mundo! Além disso, muitas vezes temos que lidar com pouca estrutura para uma produção e trabalhamos sozinhos ao fazer um filme. No entanto, esta técnica pode ajudar a simplificar a gravação e a edição de seus filmes. Para isso, daremos informações, dicas e sugestões para a produção do stop motion, além de contar brevemente a história desta prática e mostrar alguns elementos técnicos comuns na gravação.Também conta com uma entrevista com Linconl Thuner e Franciele Rodrigues, cineastas e artistas da cidade de Contagem, que compartilham ao final do livreto um pouco sobre o processo de criação deles. A equipe 2016
COMEÇANDO A FAZER Stop motion é uma técnica tão usada que temos quase certeza que você conhece, ou que já viu. Grandes estúdios cinematográficos a usam em suas produções, mas também é muito comum em criações de pessoas como eu e você. Aqui, vamos falar sobre a técnica e deixar algumas dicas para que sua veia cinematográfica venha à tona. Então mãos à obra!
UM STOp MOTION!
VOCÊ VAI PRECISAR DE: 1- Câmera fotográfica; 2- Monopé, tripé, cadeira, livro ou qualquer outra maneira para deixar a câmera estável; 3- Objetos, materiais ou pessoas que estarão em cena; 4- Cenário; 5- Programa de edição de vídeo ou programa específico para editar stop motion (existem programas de computador e aplicativos de celular que são feitos especialmente para criar filmes em stop motion, mas você não é obrigado a utilizá-los, pois tudo pode ser feito em programas comuns de edição de vídeos).
Stop Motion: o que é, e como surgiu? O Stop Motion é uma técnica de animação em que o realizador fotografa objetos, desenhos, pessoas e espaços de forma sequencial, e cria uma ilusão de movimento através da junção dessas fotografias numa linha do tempo. Essas fotografias são chamadas de quadros e normalmente são tiradas de um mesmo ponto, com o objeto sofrendo uma leve mudança de lugar, afinal é isso que dá a ideia de movimento. Na criação de um stop motion primeiro são produzidas as imagens e depois durante a edição incluímos a banda sonora do filme, que pode ser feita com sons e/ou uma música. O nome stop motion vem do inglês e em tradução livre significa ‘‘movimento parado’’. Podemos dizer que a história do cinema começa junto à fotografia, no início do século XIX, quando cientistas físico-químicos sonhavam em registrar imagens sem a necessidade da pintura. Mas o que isso tem a ver com o cinema? E o stop Motion? Calma, vamos do começo! A história do cinema está muito ligada a tudo isso pois o seu princípio fundamental é a imagem em movimento. Essas imagens são uma ilusão de ótica obtida através da junção de várias fotografias em sequência. Além disso, os primeiros registros cinematográficos tem tudo a ver com o stop motion, técnica que foi desenvolvida entre o fim do século XIX e o começo do século XX. Há muito pouco tempo, não é mesmo?
Conheça mais: Brinquedos Ópticos O stop motion se desenvolveu a partir de alguns avanços na pesquisa científica sobre a ótica, área que estudava os efeitos e as possibilidades visuais no século XIX. Eram comuns naquela época algumas máquinas simples chamadas Brinquedos Ópticos. Nesses brinquedos havia uma sequência de desenhos que, montados dentro de estruturas giratórias, passavam rapidamente diante de nossos olhos, criando a ilusão do movimento. Eram utilizadas representações de pessoas, animais e objetos que executavam movimentos repetitivos: assim as pessoas se divertiam vendo aquele curioso efeito. Em seguida foi desenvolvida a possibilidade de encadear cenas e mostrar não mais somente uma ação, mas
uma história com começo, meio e fim, que eram projetadas em uma tela ou parede. Estava criado, afinal, o Teatro Óptico, o princípio da animação! A partir daí, pessoas interessadas em teatro e no trabalho com a visualidade, puderam pesquisar as possibilidades da imagem em movimento. Sendo primeiramente através de imagens bidimensionais - desenhos, e, mais tarde, devido às novas invenções relacionadas com a fotografia - objetos e pessoas.
Uma breve história do cinema Muito animados com as novidades da época, os irmão Lumière inventaram o cinematógrafo em 1895. Tal aparelho permitia registar uma série de fotogramas (o que chamamos hoje de frames) em uma película fotográfica que, em seguida, era projetada em uma tela ou parede. A película cinematográfica é um rolo feito com uma película semitransparente que permitia o registro de imagens em sequência: os fotogramas. Diferente do papel fotográfico, essa película possui uma qualidade de transparência, permitindo que, com um ponto de luz direcionado, fosse feita projeção do seu conteúdo. Esse aparelho era ao mesmo tempo uma máquina de filmar e um projetor de cinema. Outro colaborador importante foi Georges Méliès, ilusionista e mágico francês. Contemporâneo aos irmãos Lumière, já trabalhava com efeitos óticos de animação em suas apresentações. Méliès tinha uma mente muito criativa e já trabalhava com o pensamento do teatro e do ilusionismo, e utilizando dessas ferramentas foi o primeiro que explorou as possibilidades do cinema utilizando o cinematógrafo de formas muito interessantes. Ele é reconhecido como o primeiro a criar efeitos especiais no cinema. Fez mais de 500 filmes, e construiu o primeiro estúdio cinematográfico do mundo. O seu filme mais conhecido se chama “Viagem à Lua”, de 1902, o qual ficou muito famoso justamente pelos seus efeitos especiais, que, inclusive, foram criados com a técnica do stop motion. A partir daí, e por um longo tempo na história, a técnica stop motion continuou sendo usada por diretores para criar os efeitos especiais pois não havia a tecnologia dos computadores, assim, os cineastas recorriam à movimentação quadro a quadro. Um exemplo disso eram os filmes com robôs e monstros animados.
Viu como na história do cinema o stop motion teve, e ainda tem, um papel muito importante?
Tipos de stop motion Desenho (Animação) Nessa técnica utilizamos desenhos feitos em papel, onde a movimentação acontece através de pequenas mudanças a cada desenho. Como vimos, essa foi a primeira forma de criar um filme quadro a quadro, e tem sua origem nos Brinquedos Ópticos. O processo do desenho é muito divertido e você vai precisar de muito papel! Para facilitar o processo de criação do movimento nos desenhos você pode utilizar uma mesa de luz. Ela vai te ajudar porque a luz cria um efeito de transparência no papel, assim você vai poder visualizar o que foi desenhado no quadro anterior, continuando o processo de onde parou. Para construir sua mesa de luz você só vai precisar de uma lâmpada que não esquente, um vidro plano e uma caixa. Basta você colocar a luz dentro da caixa e o vidro por cima da parte aberta da caixa. Além disso, você também pode usar o acetato (transparência), que é muito usado para criar o cenário onde a história irá acontecer. Ele serve para você não ter que desenhar o mesmo cenário várias vezes. Vamos dar um exemplo: em uma cena a personagem apresentará uma dança em um teatro. Para filma-lo vamos desenhar o cenário (o teatro) em um acetato, e todos os movimentos do bailarino em papéis brancos comuns quadro a quadro. Dessa forma poderemos colocar o acetato por cima de cada quadro feito em papel branco. Atualmente as animações que vemos não usam a técnica do desenho em papel. Elas são animações desenhadas e animadas através de programas de computador. Mas a animação feita à mão é uma técnica muito interessante pois dá um estilo diferente para o filme. O artista Francis Alÿs usou essa técnica no vídeo “Bolero”, você pode ver para se inspirar!
Stop motion de massinha (claymation) No cinema é muito comum utilizar massa de modelar para criação de bonecos, devido a facilidade de manipulação do material. Uma dica para você que quer fazer o claymation é colocar uma estrutura
de arame dentro do personagem, o que irá facilitar a manipulação das esculturas, experimente! Você tem habilidade com modelagem? Então não perca tempo e explore esse material que dá várias possibilidades para criar personagens e efeitos. Mas não fique restrito a criação de personagens, a massinha é um material com grande potencial plástico, você pode usá-la para criar um lago, areia movediça, uma gosma sinistra e tantas outras formas. Se inspire vendo esses filmes e seriados: ‘’Mary and Max’’, ‘’Pingu’’, ‘’Zeca e Joca’’, ‘’Plonsters’’ e ‘’Wallace e Gromit’’.
Pixilation O pixilation utiliza pessoas para criar a movimentação quadro a quadro. Os movimentos dos atores vivos são registrados através de fotografias, criando uma sequência de animação. Essa técnica pode criar efeitos muito legais, por exemplo permite uma movimentação no personagem que não existe na vida real. Vamos testar: Convide um amigo ou parente para participar de uma filmagem. Nela, vocês irão fazer uma sequência em que alguém se movimenta parado, ou seja, sem dar passos. Não se assuste, isso pode ser feito com o stop motion, veja: tire a primeira foto do ator parado em algum local, em seguida peça para que ele dê um passo para o lado, e tire uma nova foto nesse novo local. Faça isso quantas vezes quiser e para qualquer direção. Quando unir a sequência de fotografias no programa de edição você vai ver uma pessoa que anda sem movimentar as pernas, como se ela estivesse deslizando.
Stop motion com objetos Se você não tem habilidades para modelagem e desenho, e muito menos atores para participar do seu filme, não há nada a temer! Você pode usar os objetos da sua casa, da sua escola ou de outros lugares para criar o seu stop motion. Eles podem compor o cenário e também podem ser animados. Use a sua imaginação, o princípio do quadro a quadro continua valendo. Você pode ver vários exemplos de stop motion com objetos nos filmes de Jan Švankmajer (é verdade, é um nome bem estranho, mas vale a pena conhecer!).
Vamos experimentar! Nada melhor que ver acontecer na prática, então vamos dar algumas dicas para você experimentar e a partir daí fazer suas criações!
Um bicho-objeto Para começar escolha um objeto, explore os movimentos dele, quais partes nele se mexem e em qual posição ele fica estável. Depois de um tempo explorando os movimentos, escolha um lugar em sua casa, posicione a câmera e registre o movimento do objeto quadro a quadro passeando por este lugar.
Luva de Massinha Que tal misturar stop motion de massinha com a técnica pixilation? Você vai precisar de muita massinha, e uma pessoa. Cubra a mão da pessoa com a massinha criando uma luva, aos poucos vá tirando a massinha e registrando os quadros. Experimente também fazer esse processo em outros lugares do corpo da pessoa, como uma máscara. Pode ficar bem legal.
Se solte no desenho Pegue um material de desenho: papel, lápis, giz de cera, canetinha ou guache. Posicione a câmera e comece um desenho sem pretensão de criar uma figura. Enquanto você desenha vá fotografando a cada mudança, sobreponha cores, linhas, formas, rabiscos, e tudo que vier à mente. Depois coloque seus arquivos registrados em um programa de edição e adicione uma trilha sonora legal.
Cortando uma cenoura Comece escolhendo um bom lugar para filmar em sua cozinha. Pegue uma cenoura para cortar e a cada corte registre um quadro. No programa de edição inverta a sequência das imagens para criar um efeito em que a cenoura vai aparecer juntando os pedaços. Ao final insira uma trilha para deixar seu experimento mais divertido. Você pode experimentar também com outros legumes e frutas.
Durante os registros se cometer um erro é só apagar o quadro que acabou de produzir, reorganizar a cena, e tirar outra foto.
JAN Å VANKMAJER CINEASTA CHECO
Dicas MOVEU E SAIU DO LUGAR? Relaxa! Aproveite o momento para trocar de enquadramento. Imagine que você ainda está começando a fotografar de um ângulo específico e não tem muitos frames,e caso ocorra de encostar na câmera mudando o enquadramento, tente posicioná-la mais próximo ao lugar que estava e continue seu filme. Às vezes na produção independente temos que aceitar algumas “imperfeições”. Se queremos arriscar e experimentar nossos filmes poderão ficar bem originais.
ILUMINAÇÃO
Para garantir uma boa iluminação, e que a luz seja a mesma do começo ao fim, consiga uma lâmpada, ou duas. Tente também bloquear a luminosidade externa usando cortinas ou persianas. Mas se você vai filmar em ambiente aberto onde não tem como controlar a luz, aceite as alterações no seu filme. O grupo Blublu cria animações quadro a quadro surpreendentes em lugares abertos onde a luz muda constantemente.
MATERIAIS SUPORTE
Se algum objeto estiver instável, cole-o com alguma fita como a dupla-face, massa adesiva ou qualquer coisa que não deixe que se mexa facilmente; utilize linha de anzol, que é transparente, para pendurar objetos e criar o efeito como se estivessem voando. Esse processo fica mais fácil com duas pessoas, enquanto uma fotógrafa a outra realiza os pequenos movimentos.
DUPLIQUE OS QUADROS
Essa técnica serve para que as cenas não sejam tão rápidas. Se você duplica um quadro seu stop motion terá um ritmo ligeiramente mais lento. Fazendo assim, a cena fica mais natural e sua animação será menos frenética e mais confortável para os olhos. Como regra geral, atenha-se a uma ou duas cópias de cada quadro. De vez em quando, coloque de seis a oito cópias entre os movimentos para que um objeto pause antes de mudar de direção ou começar um novo movimento
FPS?
Utilize menos quadros por segundo (fps) , os vídeos usam 30 fps e fazer isso em Stop Motion dará um bom trabalho. Tente usar 12 fps ou 15 fps, é um bom número para criar um movimento!
ENTREVISTA COM FRANCIELE RODRIGUES A Franciele Rodrigues sempre nos surpreendeu com suas produções. Durantes alguns meses ela aceitou e participou do desafio de fazer um filme por mês. Seus filmes possuem muito cuidado estético e, ao longo do tempo, foram ganhando mais força. As histórias tomaram conta da nossa atenção. Ela sabe colocar intenção nos seus filmes, e na sua entrevista conta um pouquinho sobre sua maneira de produzir. CSC: Porque você faz filmes? Como começou a fazer filmes? Franciele:Faço filmes puramente por diversão, a câmera é um brinquedo mágico! Comecei a fazer filmes no Cine Sem Churumelas! <3 Sempre gostei de filmar coisas aleatórias, principalmente para guardar os momentos de uma forma mais “viva”, mas não me imaginava fazendo filmes e nem sabia que gostava disso. Porém descobri a proposta do Cine e achei genial, e, ao aceitar o desafio, fiquei viciada em fazer filmes. Como já disse, o desafio do Cine foi a primeira motivação. Hoje em dia tenho uma coleção de significados que me motivam, como a minha auto expressão através das mensagens que passo nos roteiros, no meu olhar através da filmagem e a sensação de estar fazendo algo que ultrapassa as limitações do tempo e da matéria com a magia da câmera. CSC: Como você se organiza para fazer seus filmes? Franciele:Desconheço organização para qualquer coisa, e apesar de querer muito começar a aplicá-la na produção dos filmes, até hoje tudo o que eu fiz foi bem bagunçado. Tenho a ideia, não anoto, aí um dia qualquer que estou de bobeira em casa lembro daquilo, pego a câmera e saio pra filmar. CSC: Como é seu processo criativo?Como surgem suas ideias? Franciele: Surgem muitas ideias quando estou tranquila, fazendo tarefas que não exigem muito trabalho mental, caminhando ou em
estado meditativo. Se acho que vale a pena, viajo naquilo e vou montando na minha cabeça mesmo, até ter um roteiro completo. Muitas vezes eu acabo não completando mentalmente e deixo rolar na hora da filmagem. CSC: Como é fazer filmes em que você atua? Franciele:É incrível porque me sinto mais livre ainda para criar e gosto muito de ser filmada! CSC: Como você lida com a produção? Locações, câmeras, objetos de cena, etc? Franciele: Nunca fiz grandes produções que exigissem locações ou algo do tipo, tudo até hoje foi feito de forma bem simples e independente com câmera própria e objetos de cena do meu quarto. CSC: O que você falaria para alguém que está fazendo seu primeiro filme? Alguma dica? Franciele: Vai lá e faz com o que você tem em mãos, os empecilhos são apenas mentais! CSC: Indique um filme e conte porque ele foi importante para você? Franciele: ‘’A Excentrica Familia de Antonia’’ da diretora Marleen Gorris. Ele mostra a força e amor das mulheres nas mais diversas situações, que são bases muito importantes para mim. Também passa uma mensagem muito bonita de coletividade e de apreciação dos ciclos da vida através de um roteiro e fotografia incríveis.
ENTREVISTA COM LINCONL THUNER O jovem Linconl Thuner é um dos realizadores que participou do Cine Sem Churumelas e aceitou o desafio: fazer um filme por mês. Acompanhamos de perto o amadurecimento da sua produção. CSC: Por que você faz filmes? Linconl: Faço filmes porque sinto que estou próximo do que quero expressar. Fazer filmes me dá quase que o infinito de possibilidades para poder criar e me expressar, O meu disparador para fazer o primeiro filme, foi a vontade de fazer um acontecimento e o Cine Sem Churumelas, um projeto de amigos, me deu esse espaço. Foi a vontade de “causar” alguma sensação durante a apresentação que me incentivou a sair na rua e produzir um filme. A proposta deste primeiro filme se resumia em, basicamente, gravar a minha ida e entrega de uma correspondência a casa de alguns dos organizadores do projeto, sem que eles soubessem. Fora das câmeras, durante a semana, antes do Cine Sem Churumelas acontecer, eles encontrariam uma carta em seus correios escrita: Cine Sem Churumelas. Eles se perguntariam de onde veio aquilo e o que queria dizer aquele papel misterioso. Toda essa história teve seu desfecho com os organizadores vendo as cenas projetadas nos panos mostrando alguém fazendo as cartas, indo até suas casas e colocando-as nas caixinhas de correio. CSC: Como você se organiza para fazer seus filmes? Linconl: Cara, uma bagunça, não sei se dá para chamar de organização. De algum jeito as coisas se desfecham por meio de um acaso, movido pela vontade de tornar visível as ideias da cachola. Mas sei que isso é algo que vai se lapidando com a prática. Como por exemplo: quando uma produção é de mais de um eu, ou seja, coletiva. Aí a organização acaba realmente acontecendo pelos compromissos que firmamos e a necessidade de alinhar horários, etc. E isso é bom, pois há um estímulo que vem dos outros, as ideias se desenvolvem e se transformam dentro de diferentes mentes, aprimorando a obra. Mas quanto a mim, ao produzir solo abre um grande buraco negro que cospe coisas sei lá de quando em quando. Hehehe! CSC: Como é seu processo criativo? Como surgem suas ideias? Linconl: Elas vão se desenvolvendo de acordo com as vivências e as loucuras. Tipo, até hoje eu nunca parei e sentei pra pensar em criar algo, as novas ideias vem enquanto outras estão acontecendo. Às vezes as ideias surgem quando estou tranquilo em meio às coisas e informações, e acabo tendo um devaneio de pensamentos, criando ideias, questionamentos e conclusões.
CSC: Como é fazer filmes em que você atua? Linconl: Muito tenso. Por um lado você já sabe o tipo de personalidade e hábito que o personagem deve incorporar em sua atuação, de outro há uma auto-cobrança pesada na performance de sua própria atuação. Nunca está bom e você acha que não é bom o suficiente para isso, terminando por seguir insatisfeito. Acabo atuando por não saber selecionar um ator que conseguiria, digamos que, entender por telepatia as ideais e fazer download da atuação do personagem. Por fim, é muito bom rever os filmes em que atuei por conta própria, relembrar as soluções, os porquês, as tentativas, a ousadia de atuar sem saber, e por fim vislumbrar o resultado inusitado. CSC: Quais foram os maiores desafios na produção dos seus filmes? Linconl: Equipamento e insegurança, acho que mais por insegurança, porque acabo ficando incerto em relação a produção e me sinto sem incentivo por temer jogar tempo fora depois de ver o resultado do filme. Mas considerar que nem sempre haverá um resultado, e vislumbrar acima de tudo os aprendizados e superar os desafios, resolve. CSC: O que você falaria para alguém que está fazendo seu primeiro filme? Alguma dica? Linconl: Cara, você é uma unidade única diante do todo, não se deixe levar pela maré, nade sempre contra a corrente da tendência, não se desestimule, nem deixe te desestimularem, foque no que quer como resultado e no impacto que quer causar ao meio. Enfim, apenas produza com toda sua força de vontade, sonhe com o resultado, questione e explore-o ao máximo, se não tentar o impossível estará apenas repetindo. CSC: Indique um filme e conte porque ele foi importante para você? Linconl: Indicarei três que me vieram na mente: ‘’Donnie Darko’’ e ‘’O Bom, O Mal e O Feio’’ e ‘’Akira’’, pois eles me levaram a reflexões tanto pessoais cotidianas, existencialistas, quanto cinematográficas. Falando um pouco de “Donnie Darko”, ele trás uma linda narrativa e uma linearidade que te deixa confuso quanto ao tempo do filme.Te prende até o final e te faz revê-lo, isso se quiser entendê-lo por completo. E se isso não é inspirador, eu não sei mais o que é. “O bom O mal e O feio”, porque sempre gostei de velho oeste, sabe? É estranho pensar que ainda vivemos em um faroeste onde só as estruturas e os figurinos que mudaram. Isso te mostra o lado mais extremo do ser-humano por um gole de vida, ou mais um dia. Te traz uma sensação de como as coisas podem estar extremas, e, ainda assim, terem desfechos gloriosos. “Akira”, o que dizer? Está aí um filme que te deixa voado uns dois dias, com cenas fortes e questionamentos para todo o “resto”, pensando no seu existir.
História do Cine Sem Churumelas e outras balelas O Cine Sem Churumelas surgiu em 2014, organizado por Dayane Gomes, Débora Arau e Jonas Filho. A ideia desde o início foi exibir filmes independentes e amadores em locais públicos. Para ninguém ficar de fora todos os filmes recebidos são exibidos sem seleção (desde que de faixa etária livre), como um incentivo à produção audiovisual independente da cidade. Durante o primeiro ano aconteceu uma exibição por mês na praça da Jabuticaba, em Contagem. O formato das exibições é bem simples: um lençol branco é estendido na praça, ou quadra, ou onde der. Projetor ligado, som na caixa e pronto: uma exibição de filmes começa para quem quiser chegar e curtir! Tudo muito simples e, claro, sem churumelas. Hoje, o projeto é organizado por Dayane Gomes e Jonas Filho, e conta com um acervo que inclui filmes de vários temas, formatos e estilos. O Cine Sem Churumelas continua com a mesma proposta, porém, as exibições que aconteciam sempre no mesmo local, agora são itinerantes.
Filmes ao pé das jabuticabas Jonas Filho Essa história começa na época que o Cine Sem Churumelas acontecia na Praça da Jabuticaba, toda primeira sexta-feira do mês, às 20 horas. Nesse início do projeto, lançamos um desafio; fazer um filme por mês. Esse desafio era para todos
que desejassem fazer filmes. A convocação era feita via facebook, divulgada na página do Cine Sem Churumelas e espalhada por todo canto. Desde o começo torcemos para que mais pessoas aceitassem o desafio, mas sabíamos que poderíamos ser os únicos a entrar na brincadeira. O lado bom disso tudo é que não ficamos sós. Por sorte, por destino, os jovens Franciele Rodrigues e Linconl Thuner aceitaram nosso desafio e chegaram com tudo, trazendo suas produções no melhor estilo “faça filmes com o que você tem”. E foi com essa poderosa parceria que o Cine Sem Churumelas deu seus primeiros passos. Os dois parceiros nunca falharam, todo mês os dois exibiam novos filmes, iam cumprindo o desafio. Fomos acompanhando a evolução das suas produções todo mês. Os filmes iam se tornando melhores a cada exibição, exploravam estéticas, formatos e temas variados. Ficávamos ansiosos para ver o que eles fariam para a próxima edição. E sempre ficávamos surpresos. E eles continuaram conosco. Depois de pouco tempo de participação Francielle e Linconl já nos acompanhavam pelas exibições, sempre ajudando, apoiando e divulgando. Amigos e companheiros na arte e na vida. Por eles nutrimos muita gratidão e o desejo de parcerias vindouras. O Cine Sem Churumelas não existiria sem a contribuição de pessoas assim, que não se deixam vencer pelas dificuldades, que rompem com as imposições comerciais do audiovisual e mostram suas ideias e criações. E você, já pensou em fazer um filme por mês?
Lugares de distribuição Loja de Instrumentos Musicais Rua Gasolina n °60 - loja 04 - Petrolândia Mundial Tec Rua Refinaria União n °38 - Petrolândia Academia Dragão Vermelho Rua Refinaria Duque de Caxias n °289 - Petrolândia Loja de Xerox Praça Irmã Maria Paula n °25 - Petrolândia (praça principal do petrolândia) Salão do Mauro Rua Benzina n °193 - Petrolândia Loja Master Av Tropical n°1048 - Tropical Centro Artístico Unificado Attitude Rua Dezenove n°138 - Tropical Projet Cartuchos e Papelaria Rua José Olinto Fontes n°218 - Eldorado Farmácia Droga Campos Av José Faria da Rocha n°5700 - Loja 01 - Eldorado Loja da Marilita Av José Faria da Rocha n°5357 - Eldorado
EDITORA Dayane Gomes TEXTOS Dayane Gomes, Renan Bolcont PROJETO GRÁFICO Dayane Gomes ILUSTRAÇÕES Dayane Gomes REVISÃO DO TEXTO José Junior PRODUÇÃO Jonas Filho ASSESSORIA DE IMPRENSA Renan Bolcont ORGANIZAÇÃO CINE SEM CHURUMELAS TIRAGEM 400 EXEMPLARES ANO 2016
O Cine Sem Churumelas apresenta o manual FILMES FEITOS À MÃO, para ajudar você a fazer um filme. Ao todo são cinco edições do livreto, distribuídos gratuitamente, em cada edição abordando um elemento diferente da produção audiovisual. Os livretos estão disponíveis em diversos locais na regional Petrolândia e em outros pontos pela cidade de Contagem. Fique atento e garanta o seu. Distribuição gratuita.
PROJETO PATROCINADO PELO FUNDO MUNICIPAL DE INCENTIVO À CULTURA DE CONTAGEM Realização