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Figura 56: Corte Esquemático Parte
04
"Se a vida, como disse Vinicius de Morais, é a arte do encontro, a cidade é o cenário desse encontro(...)" LERNER 2013
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06
Monografia apresentada ao curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Católica de Pernambuco pela aluna Cinthia Nery de Oliveira orientado pelo professor Ricardo Pessoa de Melo como requisito parcial obrigatório para obtenção do título de Bacharel em Arquitetura e Urbanismo.
RECIFE, 2019
08
Agradeço à Vida e a todos que passaram ou estão na
minha
Lista de Figuras
Figura 01: Vista aérea dos Bairros de Santo Antônio e São José, Recife, 2018 (Fonte: Domínio publico)..................................................................................................................................10/11
Figura 02: Vila Imperial no ano de 2019, Recife (Fonte: Acervo pessoal).....................................................................................................................................12/13/ 64/65
Figura 03: Imagem do bairro de São José no séc. XIX (Fonte: http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/. Acesso em 10 Nov 2019).....................25
Figura 04: Projeto de fortificação da vila do Recife e da ilha de Antônio Vaz dos engenheiros Pieter van
Bueren e Andreas Drewisch (Fonte: Atlas Histórico Cartográfico do Recife, 1988).........................................................................27
Figura 05: Esquema teórico da expansão do Recife (Fonte: Ulhôa Cintra, 1943)..............................................................................................................................27
Figura 06: Vista aérea do bairro de São José atualmente, ano de 2018 (Fonte: Google Earth 2018. Acesso em: 08 de Nov 2019)....................................................................28
Figura 07: Foto da situação atual da Vila Imperial no bairro de São José (Fonte: Acervo pessoal)...............................29
Figura 08: Diagramas mostrando duas quadras iguais e com a mesma quantidade de área construída, a primeira aos moldes do PDCR 2018 e a segunda aos moldes do urbanismo sustentável (Fonte: própria autora)......................................................................................................................................35
Figura 09: Diagrama mostrando o conceito de renovação urbana (Fonte: própria autora)......................................................................................................................................36
Figura 10: Foto da favela de Jardim Edite antes da intervenção (Fonte: http://www.extatico.com.br. Acesso em 16 de Nov. 2019)................................................45
Figura 11: Foto do complexo Jardim Edite após a intervenção (Fonte: http://www.archdaily.com.br. Acesso em 16 de Nov. 2019).............................................45
Figura 12: Perspectiva mostrando os diversos usos dos volumes (Fonte: http://www.archdaily.com.br. Acesso em 16 de Nov. 2019)..............................................46
Figura 13: Diagrama dos tipos propostos pelo Projeto Jardim Edite (Fonte: própria autora)......................................................................................................................................46
Figura 14: Parque Biblioteca España em destaque na paisagem de Medellín, Colômbia (Fonte: http://www.archdaily.com.br. Acesso em 16 de Nov. 2019).............................................48 10
Figura 15: Teleféricos em Medellín, CO (Fonte: http://www.archdaily.com.br. Acesso em 16 de Nov. 2019)...............................................49 Figura 16: Mapa do Recife dividido entre suas Regiões Político Administrativas (Fonte:Prefeitura do Recife. Disponível em: http://www2.recife.pe.gov.br/. Acesso em: 08 Nov 2019)..................................................................................................................................51 Figura 17: Vista aérea do bairro de São José atualmente, ano de 2018 (Fonte: Google Earth 2018. Acesso em: 08 Nov 2019)..........................................................................52 Figura 18: Vista aérea da porção leste do bairro de São José (Fonte: Google Earth 2018. Acesso em: 09 Nov 2019)..........................................................................53 Figura 19: Vista aérea da porção oeste do bairro de São José no ano de 2018 (Fonte: Google Earth 2018. Acesso em: 09 Nov 2019)..........................................................................54 Figura 20: Exemplo de área com baixa permeabilidade visual e física (Fonte: Acervo pessoal)....................................................................................................................................54 Figura 21: Sobrados abandonados na R. Imperial (Fonte: Acervo pessoal)....................................................................................................................................54 Figura 22: Gráfico feito autora que mostra os 6 bairros da RPA 1 com maior e menor média habitantes por hectare e o bairro de São José (Fonte: http://www2.recife.pe.gov.br/. Acesso em: 09 Nov 2019)...................................................55 Figura 23: Lote vazio apropriado pelos antigos moradores do Coque (Fonte: Google Earth 2018. Acesso em: 09 Nov 2019)..........................................................................57 Figura 24: Início da ocupação das terras que hoje seria a Vila Imperial, ano de 2013 (Fonte: Acervo de Moises do Coque)............................................................................................................57 Figura 25: Ocupação da Vila Imperial nos dias atuais, novembro de 2019 (Fonte: Acervo pessoal)....................................................................................................................................58 Figura 26: Diagrama representando a padronização adotada (Fonte: própria autora).....................................................................................................................................58 Figura 27: Diagrama representando como o lote foi ocupado (Fonte: própria autora).....................................................................................................................................58 Figura 28: Crianças (e adultos) brincado na rua por falta de melhor local (Fonte: Acervo pessoal)....................................................................................................................................59
Figura 29: Vendinha da Dona Maria, Vila Imperial (Fonte: Acervo pessoal)......................................................................................................................................59 Figura 30: Conjunto de fotos representando a Vila Imperial nos seu primeiros meses e após 2 anos de instalação (Fonte: Acervo de Moises do Coque e Acervo pessoal).........................................................................60 Figura 31: Foto da fachada da sede da Sociedade de Moagens do Café (Fonte: Acervo pessoal)......................................................................................................................................61 Figura 32: Vista aérea do trilho (trecho entre as estações Largo da Paz e Joana Bezerra (Fonte: Google Earth 2008)..............................................................................................................................61 Figura 33: Vista aérea do conjunto de galpões e edifícios industriais Fonte: Google Earth 2008)................................................................................................................................62 Figura 34: Vista aérea do quadrante a ser intervido (Fonte: Google Earth 2018)...............................................................................................................................63 Figura 35: Mapa de Nolli (Fonte: própria autora).......................................................................................................................................64/65 Figura 36: Mapa de Nolli subdivididos nas áreas citadas (Fonte: própria autora).......................................................................................................................................66 Figura 37: Mapa de Vazios (Fonte: própria autora).......................................................................................................................................68/69 Figura 38: Mapa de Diretrizes de Conservação (Fonte: Própria autora).......................................................................................................................................75 Figura 39: Conjunto de edifícios da antiga Sociedade de Moagens do Café como exemplo de edifício com valor histórico/arquitetônico (Fonte: Google Earth 2018)...............................................................................................................................83 Figura 40: Edifício representando o tipo de edifício não-viável (Fonte: Google Earth 2018)...............................................................................................................................83 Figura 41: Edifício representando o tipo de edifício mal conservado (Fonte: Google Earth 2018)...............................................................................................................................83 Figura 42: Construções como exemplo de edifícios consolidados (Fonte: Google Earth 2018)...............................................................................................................................84
Figura 43: Mapa de usos (Fonte: Própria autora)......................................................................................................................................89 Figura 44: Mapa de Diretrizes de Uso (Fonte: Própria autora)......................................................................................................................................91 Figura 45: Mapa de gabarito (Fonte: Própria autora)......................................................................................................................................95 Figura 46: Mapa de diretrizes de ocupação (Fonte: Própria autora).......................................................................................................................................97 Figura 47: Mapa de orientação de vias e locação das áreas verdes existentes (Fonte: Própria autora)......................................................................................................................................101 Figura 48: Mapa de focos de encontro de pessoas (Fonte: Própria autora)......................................................................................................................................105 Figura 49: Mapa de vias e foco de pessoas (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................109 Figura 50: Diagramas representando as fases de estudo (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................113 Figura 51: Planta Conceito de Locação e Coberta (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................119 Figura 52: Planta Conceito Pavimento Térreo (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................121 Figura 53: Planta Conceito Segundo Pavimento (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................123 Figura 54: Planta Conceito Quinto Pavimento (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................125 Figura 55: Corte Esquemático (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................127 Figura 56: Corte Esquemático Parte 2 (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................129 Figura 57: Proposta de Fachada (Fonte: Própria autora).....................................................................................................................................131
Figura 58: Vista das quadras esportivas e piscina coberta Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................133 Figura 59: Vista da Travessa do Gáspar Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................133 Figura 60: Vista aérea galpões Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................134/135 Figura 61: Vista da Rua Lorenço de Sá Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................136 Figura 62: Vista de uma das área de permanência dos galpões Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................136 Figura 63: Vista da interseção da Rua Lorenço de Sá com a Tv. do Gáspar Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................137 Figura 64: Vista de um dos espaços verdes da quadra da Rua Lorenço de Sá Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................137 Figura 65: Vista aérea do bloco misto localizado entre a Rua Lorenço de Sá e Tv. do Gáspar Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................138/139 Figura 66: Vista aérea do lado oeste da gleba - Rua Imperial Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................140 Figura 67: Vista do bloco misto localizado entre a Rua Lorenço de Sá e Tv. do Gáspar Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................140 Figura 69: Vista aérea da gleba Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................141 Figura 70: Vista da fachada do complexo cultural e do edf. misto - Tv. do Gáspar Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................142 Figura 71: Vista aérea de parte do complexo - Rua Imperial Fonte: Própria autora..............................................................................................................................................142
15
SUMÁRIO
PARTE I
t
1. INTRODUÇÃO..................................................................................18 2. OBJETO E TEMA.............................................................................20 3. NARRATIVA.....................................................................................21 3.1 Cidades tradicionais e Cidades modernas 3.2 Bairro de São José 4. JUSTIFICATIVA...............................................................................24 4.1 A importância do plajenamento urbano 4.2 O desenvolvimento do Recife 4.3 Bairro de São José e sua zona industrial 4.4 O Bairro Atual 5. OBJETIVOS.....................................................................................29 5.1 Objetivo geral 5.2 Objetivos específicos 6. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS........................................30 6.1 Etapas do estudo 7. CONCEITUAÇÃO TEMÁTICA.........................................................32 7.1 Aspectos da Legislação Urbana da Cidade do Recife: análise e crítica 7.2 Conceitos Básicos 7.3 Resumo dos conceitos básicos 7.4 Urbanismo Sustentável: análise e conceitos 8. ESTUDOS DE CASO........................................................................42 8.1 Projeto Jardim Edite, São Paulo 8.2 Cidade de Medellín, Colômbia 9. ANALISE DO TERRITÓRIO...........................................................49 9.1 Leitura do território 9.2 Análise dos mapas
PARTE II
10. PROPOSTA.................................................................................70 10.1 Diretrizes projetuais Urbano Arquitetônicas 10.2 O Projeto 10.3 Perspectivas
11. CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................143
12. LISTA DE REFERÊNCIA.........................................................144
parte I
1introdução
Esta é a primeira etapa de duas do estudo de uma intervenção urbana em nível revitalizador e renovador em um determinado polígono do bairro de São José.
Ao se transitar pela Rua Imperial, é possível notar o quanto ela precisa de atenção, a área como um todo carece de um bom ambiente urbano. Os moradores tomam as calçadas para ter um espaço de convivência por causa da sua falta, crianças brincam nas ruas pela falta de um lugar para elas jogarem. Mesmo a área sendo bem suprida de vazios, eles não são destinados a usos dos moradores. Sua grande maioria dão terrenos privado sub ou não utilizados sem serventia à sociedade.
Durante os anos 70 e 80, houve um descaso maçivo em relação à planejamento urbano em vários países, inclusive no Brasil. O planejamento urbano sempre vinha como consequênia de outras decisões e isso acabou por afetar a qualidade de vida das populações. Diante disso,vários urbanistas iniciaram uma série de discussões e ideias para melhorar a vida da sociedade, sem que se danificasse o planeta Terra. Princípios como o de Douglas Farr sobre urbanismo sustentável e discussões de Jan Gehl sobre como arquitetura afeta a vida das pessoas foram cruciais para o entendimento que hoje temos sobre arquitetura e urbanismo. expressão artística, cultural, intelectual e de lazer.
A metodologia aplicada ao trabalho é pesquisa bibliográfica, entrevista, estudo de caso e coleta de dados, sendo assim, ele é do tipo exploratório. Será realizado, no segundo volume desse trabalho, um processo projetual em escala de anteprojeto.
A pesquisa bibliográfica Coleta de dados Analise de estudos de caso Leitura do território Elaboração de Diretrizes Projetuais
Citando GEHL (2010):
“Todos devem ter direito a espaços abertos, facilmente acessíveis, tanto quanto têm direito à água tratada. Todos devem ter a possibilidade de ver uma árvore de sua janela, ou de sentarse em um banco de praça, perto de sua casa, com um espaço para crianças, ou de caminha até um parque em dez minutos. Bairros bem planejados inspiram os moradores, ao passo que comunidades mal planejandas brutalizam seus cidadões” Jan Gehl (2010)
Com esse trabalho, pretende-se colaborar para que os moradores da Vila Imperial se sintam inspirados. Fazê-los vistos e ouvidos. Para que todos possam usufruir de espaços de qualidade.
2objeto e tema
Desenho Urbano renovador e revitalizador de um determinado polígono do bairro de São José visando
atingir positivamente os seus vazios urbanos e o assentamento informal
Vila Imperial.
Tema: Intervenção em Vazios Urbanos em um polígono do bairro de São José
QUAL tipo de objeto será proposto?
Pensou-se que seria pertinente para a área um desenho urbano constituído por moradias populares, comércios, serviços, espaços públicos de qualidade e equipamentos educacionais, culturais e de lazer que incentivasse a vida do espaço, valorizando e nutrindo a área.
A implantação de moradias populares se faz necessário porque os moradores dessa porção do bairro vivem em más condições de moradia e saneamento básico e possuem, em sua maioria baixo capital.
A proposta de implementação de equipamentos educacionais, culturais e de lazer surgiu da necessidade de melhoria de tais equipamentos. Eles apresentam más condições e necessitam ser expandidos.
3narrativa
3.1 Cidades tradicionais e cidades modernas
setorização e também é exemplo de como, nos dias atuais, tal decisão não mais se sustenta.
Cidades históricas do mundo, como Roma, Grécia, Barcelona, Londres, foram criadas e desenvolvidas colocando as pessoas como seu ponto focal colocando em primeiro lugar o bem-estar dos que utilizavam daquele espaço. Essa concepção mudou com o pensamento maquinário do modernismo.
O advento da revolução industrial e seu impacto no território das cidades gerou reflexões sobre o papel das cidades e assim gerou-se propostas de novas urbanizações. O modernismo foi uma dessas correntes que se dedicou a discutir novos caminhos das cidades. Como consequência dessas discussões, algumas cidades passaram a ser tratadas como máquinas e a sua função social se enfraqueceu. A cidade se setorizou. Essa divisão trouxe consequências que somente foram ser sentidas décadas depois, já no final dos anos 70 e começo dos anos 80 (GEHL, 2010). A cidade que é referência no mundo inteiro como a primeira cidade completamente projetada aos moldes modernos é alvo de discussões à várias décadas. O carro passou a ser o protagonista nas ruas, o que acabou por afastar as pessoas delas. É difício ver transeuntes pelas principais vias de Brasília, a infraestrutura da cidade não foi pensada para eles. Calçadas ao seu redor e faixa de pedestres são escassas.
Finalmente, após anos de cidades direcionadas ao transporte individual, pessoas se tornaram mais ativas nas reivindicações de uma cidade voltada para elas, essas lutas nos trazem aos dias atuais.
Hoje é entendido que pessoas nas ruas trazem vigilância social, enriquecem o espaço e suas conexões, dificultam ações de violência nas ruas e excitam o comércio e o serviço. Hoje sabe-se que a função da cidade está no encontro das pessoas e no fornecer espaços urbanos de qualidade para elas viverem em
conjunto (GEHL, 2010).
No Brasil, estudos sobre urbanismo e seu impacto na sociedade vêm sendo realizados em todas as regiões e ações baseados nesses estudos vêm tomando cada vez mais força.
A cidade do Recife, aonde estão localizadas as glebas a serem intervindas, iniciou o seu planejamento urbanístico no século XVII, quando os moldes de cidades ainda eram tradicionais. Porém, ao longo do tempo a cidade sofreu transformações. Durante os anos 60 e 70, Recife passou por reformas urbanas que resultaram na cidade de hoje, porém, parte da cidade histórica foi mantida, derivando em uma cidade em que pode ser encontrado ambos traçados histórico e moderno.
O bairro de São José é um dos bairros do Recife em que tais tranformações podem ser facilmente percebidas
A história do bairro de São José se mistura com a da cidade do Recife, pois foi da antiga Ilha de Antônio Vaz, atuais bairros de Santo Antônio e São José, juntamente com o Bairro do Recife que o desenvolvimento do Recife procedeu. Segundo Amelia Reynaldo (2008), foi durante o começo do século século XVII que os primeiros portugueses efetivamente tomaram as terras, hoje conhecidas como Bairro do Recife, e começaram a ocupação do Recife. Um porto foi construído para a carga dos navios de açúcar que iam para a Europa e galpões foram construídos ao seu redor para o armazenamento do produto.
3.2 Bairro de São José
Em 1630 houve a invasão holandesa, culminando na expulsão dos portugueses das terras recifenses. Com a presença dos holandeses, Recife se expandiu para o continente. Em 1644 conclui-se a primeira ponte do Recife que liga o bairro do Recife à Ilha de Antônio Vaz, iniciando a tentativa do processo de urbanização holandesa.
Após 24 anos de dominação holandesa, os portugueses tomaram as terras novamente. Recife já havia crescido significavelmente. Mais de 8 mil habitantes estavam distribuídos em sobrados, com comércio no térreo e residências burguesas nos demais pavimentos, no bairro do Recife. Mais ao sul, a Ilha de Antônio Vaz era uma importante zona comercial e residencial.
Após a reconquista pelos portugueses a Ilha de Antônio Vaz passou a ser denominada de Santo Antônio e São José, se subdividindo em duas regiões, sendo a primeira região mais
comercial e a segunda mais residencial.
São José ainda era um bairro pequeno, comparado a sua extensão atual. Suas terras serviam principalmente para plantio de canade-açúcar e moradia dos trabalhadores da área (ver figura 03). Atualmente, o bairro de São José abriga desde comunidades de baixa renda e antigas áreas industriais a antigos sobrados e centros comerciais.
Sua composição é rica em detalhes que vão da sua arquitetura aos usos, pessoas e espaços.
Figura 03: Imagem do bairro de São José no séc. XIX Fonte: Acervo Fundaj
4justificativa do tema
4.1 A Importância do planejamento urbano
Esse capítulo abordará a justificativa do porque da escolha do tema e do objeto para esse estudo.
As cidades vem crescendo mais a cada ano, porém, principalmente nos último 70 anos, cidades como por exemplo São Paulo, Tóquio ganharam um número considerável de habitantes. A cidade de São Paulo cresceu de 2,1 milhões de habitantes no ano de 1950 para 12,1 milhões, crescendo 576%, e a cidade de Tóquio em 1950 possuía 6,2 milhões de habitantes e em 2019 possui 37 milhões habitantes. E esses números tendem a aumentar.
Entretanto, como essas cidades estão planejando manter todas essas pessoas em seus territórios é a principal pergunta.
Esse crescimento acelerado das cidades acabou por desencadear vários problemas e afetou, principalmente, na qualidade de vida dos cidadãos. Para tentar diminuir tais impactos e melhorar a vida dos que usufruem dos espaços, é necessário um novo planejamento de modelo estratégico detalhado para as cidades. Planejamentos que tenham como objetivo dimuir os danos causados pelo crescimento desordenado e assegurar o funcionamento da cidade de forma ustentável e harmonioso com a natureza. 4.2 O Desenvolvimento do Recife
Recife é um assentamento datado do século XVI. A Cidade se inciou com um porto e alguns galpões no atual Bairro do Recife. A primeira tentativa de desenvolver um projeto urbano ocorreu quando os holandeses conquistaram as terras recifenses no séc. XVI. Recife cresceu rapidamente por causa do porto, do movimento gerado pela invasão e pela migração de parte da população olindense (REYNALDO, 2013).
Por necessidade de mais terras, a cidade começou a se expandir em direção a outra ilha, onde atualmente são encontrados os bairros de Santo Antônio e São José, no séc. XVIII, a Ilha de Antônio Vaz (ver figura 04).
Figura 04: Projeto de fortificação da Vila do Recife e da ilha de Antônio Vaz dos engenheiros Pieter van Bueren e Andreas Drewisch Fonte: Atlas Histórico Cartográfico do Recife, 1988
A expansão da Cidade se iniciou através de pontes que ligavam as ilhas ao continente, inicialmente tomado por plantações de canade-açúcar e poucas construções. Em sua expansão, seu traçado começa a ser irregular com ruas estreitas, refletindo o traçado português (REYNALDO, 2013).
Quem permaneceu na ilha do Bairro do Recife eram donos de comércio e donos de plantações. Grande parte da população de baixa renda se estabilizou em áreas indesejadas pelos mais ricos: as terras alagadas e de difícil acesso (BARBOSA, 2010). O crescimento da Cidade se deu de forma radial (ver figura 05), tendo como centro o Bairro do Recife. A remodelação do Porto e o planejamento do saneamento feitos por Alfredo Lisboa, iniciado em 1909, possuem papel fundamental no desenvolvimento do Recife. Eles deram mais oportunidade de uma melhor cidade para os imigrantes, impulsionaram as áreas emergentes e chamaram a atenção dos que queria e/ou necessitaam de terras.
Pescadores locais e suas famílias necessitavam de moradia, consequentemente houve um aumento significativo de habitações naquela região a partir do final do século XX (BARBOSA, 2010). Enquanto isso, indústrias precisavam de um local estrategicamente pensado para a saída de seus produtos para o interior do estado e do país, uma das rota estratégica encontradas foi a Rua Imperial.
Figura 05: Esquema teórico da expansão do Recife Fonte: Ulhôa Cintra, 1943
4.3 A zona industrial do Bairro de São José
Esses fatores favoreceram a formação da comunidade do Coque e da área industrial do bairro de São José, que um dia foi a área industrial mais importante da cidade.
Hoje, o deslocamento do porto para Suape e a abertura de novos eixos de conexão com outros estados brasileiros, culminou no deslocamento das indústrias para o interior do estado. O território passou a ter muitos resquícios de grandes equipamentos urbanos dos tempos industriais. Diversos galpões e construções sub ou não utilizados encontramse no local, tornando tais áreas estério, sem uso, como pode ser visto na figura 06, mais adiante é mostrado um mapa com os vazios da área estudada e suas classificações.
Hoje são grandes áreas de vazios urbanos estéreis.
Figura 06: Vista aérea de parte do bairro de São José atualmente, ano de 2018 Fonte: Google Earth 2018 Esse território é conhecido pelos recifenses como uma área com pobreza e carente em instrumentos básicos para uma boa qualidade de vida. Nele se encontra uma das comunidades mais conhecidas do Recife, o Coque. Outra comunidade mais recente e menor também se encontra nessa área, a Vila Imperial.
Os vazios industriais citados são fatores de potencialidade da área, como Nuno Portas (2000) expressa, assim como as terras hoje habitadas pela Vila Imperial.
Esse território é conhecido pelos recifenses como uma área com pobreza e carente em instrumentos básicos para uma boa qualidade de vida. Nele se encontra uma das comunidades mais conhecidas do Recife, o Coque. Outra comunidade mais recente e menor também se encontra nessa área, a Vila Imperial.
Os vazios industriais citados são fatores de potencialidade da área, como Nuno Portas (2000) expressa, assim como as terras hoje habitadas pela Vila Imperial.
Tendo em vista que tais vazios são elementos potenciadores na atual paisagem urbana do bairro (PORTAS 2000), esse trabalho parte do princípio que eles possam ser renovados
e/ou requalificados visando o uso destinado à população da cidade do Recife, sendo o enfoque principal atender as necessidades urbanas dos moradores da comunidade da Vila Imperial.
Por vários anos, o bairro de São José se encontra em um processo de evasão de habitantes. Uma grande parte dos habitantes da região se encontram na sua porção oeste, aonde se encontra os vazios urbanos industriais citados anteriormente.
Porém, as circunstâncias em que tais moradias se encontram estão distantes de uma situação digna e humana. (ver figura 07)
4.4 O bairro atual
Figura 07: Foto da situação atual da Vila Imperial no bairro de São José Fonte: Acervo pessoal Sem água encanada, esgoto tratado ou eletricidade regularizada, os moradores não possuem condições de moradia mínima.
POR QUE É
NECESSÁRIO UM NOVO CENÁRIO DE ENCONTROS NA R. IMPERIAL ?
Já foi comprovado por vários pesquisadores da área de urbanismo a importância de se planejar o espaço e de forma sustentável, Jan Gehl, Jeff Speck e Douglas Farr são alguns deles. O bem estar da população está diretamente relacionada à cidade em que vivem e todos tem direito à cidade de qualidade. Quando se planeja o espaço, entende-se as relações entre pessoas e entre pessoas e espaço, podendo assim, propor soluções democráticas e justas para todos.
Além do planejamento urbano ser fundamental para assegurar o bem estar do cidadão, é necessário um novo cenário de encontros no bairro de São José por ele não ser tão imponente e significativo quanto pode. É necessário uma intervenção nele por faltar habitações sociais próximas ao centro do Recife. É necessário um novo desenho urbano por se tratar de um polígono desprovido de uma boa arquitetura urbana e social. É necessário um novo cenário de encontros na Rua Imperial por se tratar de uma área que já possui encontros, porém não há espaço para que eles se acomodem.
5objetivos 5.1
Objetivo Geral
Desenvolver um desenho urbano revitalizador e renovador para vazios urbanos da comunidade da Vila Imperial e seu entorno
5.2
Objetivos Específicos
Viabilizar a melhoria da qualidade de vida dos moradores da área a ser estudada
Estudar métodos de pesquisa e projeto eficazes em relação a arquitetura urbana
Analisar as problemáticas do bairro a fim de encontrar soluções viáveis
Ajudar a demonstrar soluções viáveis e palpáveis para problemas comuns de comunidades carentes do Recife
Contribuir com o estudo de solução de problemas urbanos nas áreas vulneráveis da Cidade do Recife
Sirva de estímulo para outras iniciativas semelhantes
6processos metodológicos
6.1 Etapas do estudo
Neste capítulo é explanado a metodologia e procedimentos adotados para o desenvolvimento do presente trabalho.
Para o desenvolvimento de trabalhos científicos é necessário um conjunto de etapas metodológicas fundamentais. As etapas aqui apresentadas tem como objetivo dar suporte ao tema e objetos adotados, bem como nortear o estudo sobre eles e sobre a área. Esse trabalho é composta por pesquisa bibliográfica, entrevista, estudo de caso e coleta de dados, sendo assim, ele é do tipo exploratório.
Pesquisa Bibliográfica
A pesquisa bibliográfica é realizada a partir do levantamento de livros, artigos e pesquisas científicos bem como artigos eletrônicos sobre o tema aqui abordado. Os título utilizados nesse trabalho foram: sustentável
Cidade Caminhável de Jeff Speck
(2015) sobre a importância de se ter uma cidade projetada colocando o ser humano como ponto focal
Do Cheio Para o Vazio de Claudia Souza (2010), Do Vazio ao Cheio de Nuno Portas e Vazios urbanos: perspectivas contemporâneas, de Andrea Borde (2006)
para o estudo e definição de vazio urbano
Origem da expansão do Recife, de Amelia Reynaldo e Paulo Reynaldo Maia
Alves (2013) para o embasamento teórico sobre a história do Recife e do território a ser estudado
Carta de Lisboa de 1995 para a definição dos conceitos de Revitalização e Renovação
Diretrizes urbano arquitetônicas para o Centro Expandido Continental do
Recife, do Plano Centro Cidadão para o estudo de como elaborar diretrizes urbano arquitetônicas
Urbanismo Sustentável de Douglas
Farr (2013) sobre como projetar em nível urbano a partir dos conceitos de urbanismo
Coleta de Dados
A coleta de dados é necessária para o entendimento do território. Os dados estatísticos da Prefeitura do Recife sobre a densidade habitacional do bairro de São José reafirmam a necessidade de implantação do objeto urbano arquitetônico já citado. A coleta de dados foi feita pelo site da Prefeitura do Recife.
Estudo de Caso
O estudo de caso é caracterizada pelo estudo aprofundado de um objeto de carater arquitetônico e/ou urbano visa a compreenção de soluções arquitetônicas, urbanas e paisagísticas de uma construção ou intervenção. Têm-se como objetivos o estudo de caso:
I - Fornecer embasamento projetual sobre o tema urbanísmo sustentável II - Dar auxílio no entendimento e na proposta do programa da área III - Auxiliar na solução volumétria e de implantação do objeto
Foram escolhidos os projetos Jardim Edite e a intervenção urbana da cidade de Medellín, Colômbia. urbanas e arquitetônicas da área de interesse da autora através de pesquisas, visitações e entrevistas com os moradores.
Compreender a história e morfotipologia do território;
Analisar o território a partir de seus aspéctos morfotipológicos e gabarito.
Elaboração de Diretrizes Projetais
Consiste na transformação das informações recolhidas do referencial teórico, do território e dos estudos de caso em possíveis direcionamentos e critérios para a elaboração do projeto apresentado no volume 2 desse trabalho.
7conceituação temática
O atual capítulo trata dos conceitos, pesquisas e discussões importantes que foram tomados como referência para a execução desse trabalho.
O Plano Diretor da Cidade do Recife 2008 (PDCR 2008) é um documento que contém o conjunto de parâmetros urbanos que norteia as dinâmicas e as construções formais da cidade.
Muitos se tem discutido sobre o PDCR no ano atual de 2019, ano em que ele passa por modificações. Uma das questões que se muito discute sobre o Plano Diretor atual é que ele individualiza o lote, colocando-o como o protagonista da cidade. Ele possui como principal características ser pontual e direto na questão do lote por mais olha os parâmetros de construção do lote, recuos mínimos e limites de gabarito, taxa de solo natural. Um exemplo dessa visão focal no lote que pode ser citado é a Lei de Uso e Ocupação do Solo, a LUOS, um instrumento de política urbana que regula como as construções do Recife serão executadas.
Uma dos primeiros aspectos que chama atenção sobre o LUOS é a obrigatoriedade que ele demanda de os edifícios terem recuos, limitando a cidade a um tipo apenas de implantação, o tipo edifício solto no lote.
E nos últimos 50 anos a cidade tem sido fruto de legislações que regulam o lote como objeto individual. O resultado é a cidade que pode ser vista hoje com muros com 3 metros de altura que separam usuários de pedestres, a vida nas ruas é limitada por causa da falta de mix de usos nos edifícios, principalmente no pavimento térreo, resultando no aumento da criminalidade e violência. Assim como espaços verdes ociosos dentro do lote sem efetivos benefícios sociais e ambientais e gabaritos intimidadores para transeuntes são algumas das várias sequelas de uma cidade que tem uma legislação com essa configuração individualista.
7.1 Aspectos da Legislação Urbana da Cidade do Recife: análise e crítica
de alta densidade com altura elevada. A tendências das grandes cidade é verticalizar suas construções, porém, nas últimas décadas, a Cidade do Recife vem sofrendo um processo de verticalização desenfreiada e apoiada pelo Plano Diretor. Quando é colocado um coeficiente de utilização para cada lote individualmente, a tendência é que essa verticalização seja maior. Enquanto que se o mesmo coeficiente fosse adotado para todo a quadra, a mesma quantidade de área que foi construída nos lotes da quadra poderia ser distribuída de forma mais horizontal, diversificando as construções em gabarito, forma, etc. Ver figura 08 para comparação. Se houvesse uma regulamentação para a quadra como um todo em relação a, por exemplo, densidade construtiva, habitacional e populacional, prédios pódio e torres, tipologias no mínimo questionáveis para uma cidade sustentável e democrática seriam dificilmente aprovados para construção. Lamentavelmente, tais tipologias são bastante comuns na paisagem urbana atual recifense e, inclusive, para muitos recifenses, são retratos de progresso e modernidade.
É importante ressaltar, primeiramente, que no ano atual de 2019, o PDCR está passando por mudanças e está sendo aberto ao público vários workshops e reuniões sobre suas modificações.
Em segundo lugar, é impressindível a resalva que não é de interesse da autora utilizar os parâmetros definidos pelo Plano Diretor de Recife 2008 como base para o seu projeto. A autora optou por basear seu projeto em estudos que conduziriam para um resultado mais benéfico para a sociedade recifense. A exemplo dos estudos do arquiteto e urbanista Douglas Farr, Jan Gehl e Jeff Speck.
Figura 08: Diagramas mostrando duas quadras iguais com a mesma quantidade de área construída, a primeira aos moldes do PDCR 2018 e a segunda aos moldes do urbanismo sustentável Fonte: própria autora
Figura 09: Diagrama mostrando o conceito de renovação urbana Fonte: própria autora
Tais estudos já foram citados no processo metodológico e serão melhor explanados a seguir.
As principais diferenças entre os parâmetros do PDCR e os parâmetros determinados pela autora se encontra mais adiante.
Para concluir, o que se pode observar sobre a atual visão do PDCR 2008 é que ele mais encara a cidade como terrenos individuais que não causam impacto no todo. Com o PDCR de 2008 olhavasse o umbigo, o lote individual, com as modificações de 2019 está se olhando para a barriga, áreas, porém ainda é necessário que o Governo olhe o corpo inteiro, a cidade, como colocou a mestre em urbanismo Clarissa Duarte em uma das palestras sobre as modificações do Plano. Assim, possa ser que mais desenhos urbanos que beneficiam à todos possam ser propostos.
Quando se desenvolve um novo plano ou desenho urbano é necessário uma estrutura muito bem desenvolvida de etapas e caminhos a serem seguidos que podem culminar em um resultado satisfatório.
A partir dos estudos de caso presentes nesse trabalho e da bibliografia já citada, foram extraídos conceitos importantes para o entendimento das diretrizes citadas mais a frente. Conceitos como revitalização e renovação, arquitetura urbana e vazios urbanos foram alguns deles. 7.2 Conceitos básicos
Os conceitos de requalificação e renovação urbana aqui explanados encontram-se na Carta de Lisboa, que diz: “a) Renovação Urbana Acção que implica a demolição das estruturas morfológicas e tipológicas existentes numa área urbana degradada e a sua consequente substituição por um novo padrão urbano, com novas edificações (construídas seguindo tipologias arquitectónicas contemporâneas), atribuindo uma nova estrutura funcional a essa área. Hoje estas estratégias desenvolvem-se sobre tecidos urbanos degradados aos quais não se reconhece valor como patrimônio arquitectónico ou conjunto urbano a preservar (ver figura 09).
b) Reabilitação urbana É uma estratégia de gestão urbana que procura requalificar a cidade existente através de intervenções múltiplas destinadas a valorizar as potencialidades sociais, econômicas e funcionais a fim de melhorar a qualidade de vida das populações residentes; isso exige o melhoramento das condições físicas do parque construído pela sua reabilitação e instalação de equipamentos, infra-estruturas, espaços públicos, mantendo a identidade e as características da área da cidade a que dizem respeito.” (CARTA DE LISBOA, 1995)
Ambos conceitos serão utilizados na proposta, pois a área possui diversos vazios urbanos como galpões e resquícios de indústrias,. Portanto, será necessário reabilitar tais vazios e demolir parte dos volumes ociosos e/ou denificados em demasiado, assim, renovando a área.
Como citado, a intervenção será realizada também em vazios urbanos que por definição de Nuno Portas (2000) em sua tese chamada Vazios Urbanos e o Planejamento das Cidades (Caderno Nº 2):
“Vazio urbano é uma expressão com alguma ambigüidade: até porque a terra pode não estar literalmente vazia mas encontrar-se simplesmente desvalorizada com potencialidade de reutilização para outros destinos, mais ou menos cheios... No sentido mais geral denota áreas encravadas na cidade consolidada, podendo fazer esquecer outros “vazios”, menos valorizáveis, os das periferias incompletas ou fragmentadas, cujo aproveitamento poderá ser decisivo para reurbanizar ou revitalizar essa cidadeoutra..” (PORTAS, 2000)
O que é importante ressaltar nesse texto de Portas é que ele deixa explícito que vazios podem ser interpretrados como positivos ou negativos, dependendo de quem os vê. Em relação aos vazios existentes no território analisado, a autora os analisou como potenciadores para a paisagem urbana, como Portas coloca em sua publicação Vazios Urbanos e o Planejamento das Cidades Caderno Nº 2 - Ano 2000. Com um estudo focado e direcionado para a área, é possível a sua revitalização.
Ainda como definições importantes para o entendimento desse trabalho estão as definições de quadra aberta, gentrificação e de espaços abertos por SOUZA (2010): espaços urbanos desocupados, desafetados e subutilizados.
Aqui estão suas definições: o Espaço urbano desocupado é, como o próprio nome apresenta, um espaço sem ocupação física, construtivamente vazio; o Espaço urbano desafetado é o espaço edificado, porém seu uso foi extinto, por qualquer motivo, “Estes espaços permanecem no tempo e no espaço e remetem para memórias através da suapresença física” (SOUZA, 2010) e o Espaço urbano subutilizado é aquele que tem edifício e uso, porém, ambos possuem potencialidade que anda não foram completamente exploradas.
Essas definições serão usadas para classificar os vazios existentes na área em análise, para, posteriormente, haver uma analise mais crítica do tipo de uso que irá ser implantado.
Gentrificação veio da inglês gentry que designa pessoas da alta classe, ligadas à nobreza. Esse termo se aplica quando há uma revitalização na área motivada, normalmente, pelo poder privado resultando em um benefício para os mais ricos, e não há benefícios para a população que reside no local. Geralmente esse processo acontece em bairros de classe média baixa ou classe baixa, melhorias são feitas no local que não condizem com a população que lá vive, pois o objetivo é chamar pessoas de classes mais altas para viverem lá. Isso resulta em uma mudança de classe que lá vive, não de forma voluntária.
É importante o estudo cuidadoso da área para que esse fenômeno não aconteça. O objetivo é beneficiar os moradores locais e consequentemente a população recifense como um todo.
Outro conceito importante a er entendido é o de quadra aberta, estudado e defendido por Christian de Portzamparc nos anos 70. Portzamparc defende que há uma terceira era das cidades, que é uma conciliação das duas outras eras, a das ruas-corredor das cidades tradicionais e os edifícios de uso autônomo das cidades modernas. A ideia era que a quadra fosse também de uso público, com interligação entre as ruas públicas da cidade e as quadras, porém com controle e independência dos edifícios construídos nelas.
e conjunto da malha ubana com seus usos compartilhados é algo que é possível na cidade, porém, como ainda se é pensado na cidade como lotes únicos e individuais. Essa ideia de quadra como objeto principal do planejamento da cidade ainda não conseguiu ter seu lugar nas discussões urbanísticas.
Como falado no subcapítulo 7.1, a discussão do planejamento urbano é crucial para a constituição da unidade da cidade e o seu entendimento como um organismo vivo e interligado.
Por último, o entendimento do conceito de Arquitetura Urbana. “Arquitetura urbana, por sua vez, é uma edificação ou conjunto delas com a capacidade de transmitir ao cidadão no espaço público o sentimento de interação e integração com os espaços privados e o contexto existente.” Este conceito parte da consideração simultânea de características como a permeabilidade (física e visual), a proximidade (entre as edificações e as ruas e das edificações entre si - densidade), proporcionalidade (das edificações com o entorno e dessas com a escala humana), a variedade (de formas, usos e usuários ) e a viabilidade (urbana e econômica) (DUARTE, 2014). da cidade para o seu entendimento amplo, contemplando vários aspéctos da construção em si e de como a construção impacta no cenário urbano como um todo. O que condiz diretamente com a ideia do planejamento urbano.
7.3
Resumo dos Conceitos básicos
Arquitetura urbana (...) é uma edificação ou conjunto delas com a capacidade de transmitir ao cidadão no espaço público o sentimento de interação e integração com os espaços privados e o contexto existente
quadra aberta quadras com ruas-corredores que se interligam com as ruas da cidade e edifícios autônomos (PORTZAMPARC, 1976)
renovação demolição das estruturas existentes numa área urbana degradada e a sua consequente substituição por novas edificações contemporâneas, atribuindo uma nova estrutura funcional a essa área. (CARTA DE LISBOA Reabilitação urbana Intervenções multiplas em nível urbano destinadas a melhorar a qualidade de vida da população buscando suas potencialidades. (CARTA DE LISBOA)
vazios urbanos áreas sem edificação e áreas com edifícios sub ou não utilizados (PORTAS, Nuno 2000)
caminhabilidade “é uma qualidade do lugar. O caminho que permite ao pedestre uma boa acessibilidade às diferentes partes da cidade, garantido às crianças, aos idosos, às pessoas com dificuldades de locomoção e a todos” (GHIDINI, Roberto 2010)
Espaço urbano desocupado é um espaço sem ocupação física, construtivamente vazio
Espaço urbano desafetado é o espaço edificado porém seu uso, ou qualquer outro, foi extinto
gentrificação processo de expulção dos mais pobres por consequência de um enobrecimento ou elitização de uma área por uma valorização do espaço Espaço urbano subutilizado é aquele que tem edifício e uso, porém, há uma possibilidade maior de ambos que ainda não foi explorado (SOUZA,2010)
7.4 Urbanismo Sustentável: análise e conceitos
Em tempos atuais se faz cada vez mais necessário a busca pela sustentabilidade, sendo ela o único meio para equilibrar a existência do ser humano no planeta Terra. Sustentabilidade pode ser definida como conjunto de ações e atividades humanas que visam suprir as necessidades da existência humana sem comprometer gerações futuras a partir do menor impacto possível ao planeta. Deve-se planejar de forma inteligente os recursos limitados do planeta que são fundamentais para a sobrevivência da raça humana para que no futuro eles não sejam extintos.
Um tipo de planejamento que deve ser feito e é o papel do arquiteto e urbanista, como consta no livro Urbanismo Sutentável de Douglas Farr (2013), é o planejamento urbano, que tem como definição: planejamento do ambiente urbano preexistente ou não a partir da criação e desenvolvimento de programas e serviços que visam sua melhoria, porém não necessariamente esses serviços e programas terão como base o desenvolvimento sustentável. Ainda citando FARR (2013), em seu livro há 4 conceitos importantes que merecem atenção e analise, são eles:
Completude: um bairro ou cidade é completo em relação ao uso dos edifícios e tipos diferentes de moradia, abrangendo todas as classes e suas necessidades. Um bairro ser completo significa que os cidadãos têm a possibilidade de realizar suas tarefas diárias a pé ou de transporte público, o que auxilia, também, na conectividade
Conectividade: uma gama de opções de transporte de boa qualidade, além de uma boa infraestrutura tanto para automóveis quanto para o pedestre. Quando o bairro é conectado, aumenta o interesse do cidadão de explorá-lo
“O arquiteto e urbanista tem a importante função de manutenção do meio ambiente, pois as principais ocasionadoras da crise ambiental da atualidade são as cidades, que vem crescendo de forma desenfreada e irresponsável. ” (FARR, 2008)
Biofilia: promover a qualidade ambiental da área pela preservação e manutenção de ambientes naturais, tais como canais, rios, nascentes, parques e praças.
Compacidade: não adianta o bairro ter completude se tudo é longe, isso também desestimula o pedestre. Quando há uma fachada ativa e em sequência, o pedestre tende a passar por toda a rua e consequentemente por outra e assim por diante.
A partir desses quatro conceitos, Farr (2013) aborda diretrizes que as mesclam e geram ações que conduzem a cidade ao objetivo de ser sustentável, por esse motivo, é necessário a explanação também dessas diretrizes, chamadas por Farr (2008) de os 10 princípios do crescimento urbano inteligente.
I - “Crie uma gama de oportunidades e escolhas de habitação”, significando que para se ter uma cidade sustentável é necessário que todas as classes da sociedade detenham o direito de moradia, e para que isso seja alcançado é necessário que se tenha uma boa variedade tipos habitacionais. II - “Crie bairros nos quais se possa caminhar”, ele será alcançado a partir da caminhabilidade, com calçadas de boa qualidade, bon uso do térreo, boa distribuição e oportunidade de transporte, etc.
III - “Estimule a colaboração da comunidade e dos envolvidos” para se criar o senso de pertencimento dos moradores para com o lugar, o que fortalece o vínculo entre eles e, conseguentemente, os moradores irão cuidar mais do lugar e gostar de morar lá.
IV - “Promova lugares diferentes e interessantes com um forte senso de lugar” como já citado, é importante fazer com que o cidadão se “sinta em casa” na própria cidade. Fazer com que os espaços obtenham características da cultura local é imprecindível para uma cidade sustentável.
V - “Faça decisões de urbanização previsíveis, justas e econômicas” por justificativa de tornar a arquitetura e o urbanístico o mais acessível a todos.
VI - “misture os usos do solo” para trazer a vitalidade do local para térreo, dinamizando a área e excitando a economia local.
VII - “Preserve espaços abertos, áreas rurais e ambientes em situação crítica”, esse princípios está diretamente ligado à biofilia e a preservação da identidade local.
VIII - “Proporcione uma variedade de escolhas de transporte” para democratizar os meios de transporta, ofertando a todos o direito de ir e vir.
IX - “Reforce e direcione a urbanização para comunidades existentes” tendo em mente que as comunidades existentes requerem mais urgência do que o projeto de novas comunidades.
X - “Tire proveito do projeto de construções compactas” tendo como objetivo principal atingir o coeficiente mínimo de habitações por hectare que é entorno de 100 hab./hectare, pois Douglas Farr aborda que para se ter uma cidade sustentável é necessário que se tenha 300 habitantes por hectare, suponde que cada habitação more 3 pessoas, aos moldes atuais, obtería-se 100 hab./hec.
Esses 10 princípios exploram tanto a construção em si como seu uso, forma e tipo, ocupação do solo, etc, expondo a coexistência deles para uma cidade sustentável, democrátrica e planejada com e para pessoas. Eles serviram de base para as diretrizes tomadas sobre a futura itervenção estudada.
8
Estudos de Caso
Neste capítulo serão abordados os estudos de caso analisados para dar suporte à proposta a ser apresentada.
Os estudos de caso aqui apresentados foram selecionados por terem alguma afinidade com o tema “desenhos urbanos em áreas carentes e de classe média” e com as palavras-chave vazios urbanos, requalificação, renovação.
Fez-se necessário um critério de analise para uma melhor compreenção e apreensão dos aspectos positivos e negativos de cada projeto explorado aqui. Tais estudos foram analisados sobre a ótica dos atributos temáticos discutidos no capítulo anterior.
8.1
PROJETO JARDIM EDITE, SP
Renovação da favela de Jardim Edite, São Paulo, Brasil - Escritórios H+F Arquitetos e MMBB Arquitetos
A comunidade de Jardim Edite estava localizada em um setor estratégico em crescimento de serviços e financeiro do estado de São Paulo. No seu entorno, várias torres modernas estavam sendo erguindas e quem estava a habitá-las eram pessoas de classe média a alta (ver figura 10).
A Prefeitura de São Paulo tomou a iniciativa de renovar a comunidade afim de, segundo a própria Prefeitura, melhorar a qualidade de vida daquelas pessoas e aquecer o setor com usos voltados tanto para os moradores quanto para os usuários da região (ver figura 11).
Figura 10: foto da favela de Jardim Edite antes da intervenção Fonte: Site Extático Segundo o próprios arquitetos criadores do projeto, para a melhor integração do novo equipamento na paisagem se fez necessário sua verticalização, resultando em duas torres com 17 pavimentos cada e uma base com 7 pavimentos que supre algumas das necessidades da comunidade e do entorno.
Houve-se a iniciativa de promover habitações de interesse sociais para suprir a quantidade de moradores da comunidade e na base do edifícios foram propostos creche, restaurate escola e posto de saúde, usos que foram escolhidos segundo as necessidades dos moradores e da região (ver figura 12).
Figura 11: foto do complexo Jardim Edite após a intervenção Fonte: Site Archdaily
Figura 12: Perspectiva mostrando os diversos usos dos volumes Fonte: Site Archdaily O que é interessante nesse projeto é como a Prefeitura renovou a área com olhar preocupado com a gentrificação. As necessidades dos moradores foram atendidas para que eles se sentissem pertencentes ao local mesmo após a intervenção.
Sua forma se mistura bem ao seu cenário. Por a região já ter a tendência de se verticalizar, o uso consciente dessa característica pode trazer benefícios para o cidadão. A partir da junção de dois tipos arquitetônicos simples, a torre e a base como é demonstrado na figura 13, o volume como o todo ficou atrativo sem se salientar como uma habitação de cunho social. Há uma boa permeabilidade no espaço e ainda sim, há segurança para os moradores na questão de a entrada para as habitações ser mais inclusa no edifício.
VOLUME TIPO TORRE
VOLUME TIPO BASE
Figura 13: Diagrama dos tipos propostos pelo Projeto Jardim Edite Fonte: própria autora
Ainda que a exacerbação do uso da verticalidade não seja bem visto aos olhos do urbanismo sustentável, nesse projeto, esse recurso foi utilizado de forma estratégica, a verticalização dos edifícios habitacionais fez com que eles não se perdessem na paisagem, se misturando com os edifícios vizinhos.
É interessante de se analisar, também, como a solução de um desenho unificado de duas quadras facilitou a arrumação do espaço e a dinâmica entre eles. A coerência da fachada, de gabarito e de usos foi conquistada, também, pelo desenho planejado do conjunto, e não do lote individual.
As relações dos espaços públicos com edifícios privados e a solução que os arquitetos deram ao uso simultâneo desses dois objetos de caráter distintos foram muito bem executados. Os usos públicos como creche, restaurante-escola e unidade de saúde foram posicionadas no pavimento térreo e tratadas com materiais de acabamentos diferentes das unidades habitacionais, dando identidade própria a elas. As áreas de condomínio que são semi-públicas, se concentraram no segundo pavimento, obtendo um caráter mais privado, porém ainda sendo aberta a todos que moram lá. As torres de habitações e os demais pavimentos dos blocos mais baixos possuem entrada exclusiva para os moradores, o que aumenta a segurança.
Área passível de gentrificação foi renovada atendendo às suas necessidades
Reintegração dos moradores à área
Implantação dos usos priorizando as necessidades dos moradores da antiga comunidade
8.2
PARTE I_Volume 2 MEDELLÍN, COLÔMBIA (COL)
Estratégias de Medellín para se tornar a cidade mais inovadora de 2019
Medellín é uma cidade na Colômbia que durante as décadas de 80 e 90 foi considerada a cidade mais violenta do mundo. Assim como vários lugares do mundo, a guerra era traçada diariamente entre traficante e Estado. Era violência versus violência. Outros aspectos como problemas ambientais, desemprego e corrupção também preocupavam os moradores e autoridades. Hoje, no ano de 2019, Medellín é considerada a cidade mais inovadora do mundo, os índices de homicídios caíram de 395 homicídios a cada 100 mil habitantes nos anos 90 para 90 homicídios a cada 100 mil habitantes no ano de 2018. São dados impressinantes para 30 anos de mudanças. Mas o que foi feito na prática para que Medellín se transformasse tão efetivamente?
Durante a palestra “Medellín e as inovações urbanas”, no Instituto Fernand Braudel (SP), no dia 28 de Março desse ano, o ex-prefeito da cidade Aníbal Gaviria expôs sua opinião quanto a isso: “As ferramentas-chaves que utilizamos para atacar os problemas de Medellín foram uma educação, simples e eficiente, e o espaço público como chave para transformação.” Na sequência dos governos dos anos 2000 até os dias atuais, medidas relacionadas à educação e ao urbanismo foram formuladas para o combate à violência, o que para Gaviria a negligência dessas duas áreas era a principal questão que fomentava a violência.
Afim de transformar a realidade dos moradores de Medellín, os governos em gestão começaram a investir em escolas de qualidade, trazer novos sentidos para os espaços públicos em partes periféricas, mobilidade, etc. O que acabaria por tornar a cidade mais educada e, consequentemente, menos violenta (ver figura 14).
Figura 14: Parque Biblioteca España em destaque na paisagem de Medellín, Colômbia Fonte: Site da Archdaily Brasil
Medellín é um modelo de como e por que atuar em áreas carentes e violentas. Os instrumentos que os governos de vários anos se utilizaram podem ser adaptados para outras realidades de forma simple.
Uma das diretrizes da tranformação urbana que ocorreu lá era ressignificar espaços. É de extrema importância o respeito pelo território, seus habitantes e seus saberes, e o governo de Medellín entendeu isso. O Estado soube aplicar suas intervenções incluindo a populaçao, com respeito à sua identidade. Identidade alinhado à beleza foi o diferencial desse projeto. “Nossas ruas, universidades e escolas são bonitas. É a ética da estética. Fazemos concursos nacionais e internacionais convidando arquitetos para que essa ética na estética contribua para atacar a desigualdade. Por que se faz coisas bonitas para áreas mais ricas, que supostamente as podem pagar, e coisas feias para as áreas de periferia?”, questiona o ex-prefeito. Não é apenas a questão do direito à escolas, universidades e habitações, é, também, a questão do direito à uma escola, universidade e habitação bonitas.
Neste projeto, praticamente todos o conceitos de FARR (2008) foram atendidos. A completude foi atingida com a implantação de novos usos estrategicamente pensados espalhados pela cidade. A conectividade foi atendida quando houve um maçivo invertimento no transporte público, nos não motorizados e nas calçadas. Também houve intervimento para a criação de bondes e teleféricos que ligavam a cidade alta à cidade baixa, facilitando o tráfego dos cidadãos (ver figura 15).
Figura 15: Teleféricos em Medellín, CO Fonte: Site da Archdaily Brasil
A biofilia foi atendida a partir da criação de novos parques e praças pela cidade, proximando o ser humano da natureza. O último deasfio que os governantes tem é a compacidade de Medellín. A Prefeitura ainda não construiu novas habitações na área. Na situação atual da cidade, não podemos afirmar que ela possui uma compacidade desejável aos moldes de Farr (2008).
Em conclusão, o projeto urbano para a cidade de Medellín não aconteceu de um dia para o outro. Primeiramente, houve a gana de mudança, tanto por parte dos moradores quanto do Estado. Depois houve um planejamento exaustivo que sempre respeitou as preexistências e a identidade local, ouvindo os apelos e necessidades da população e a deixando ter voz ativa nas decisões, e por último, houveram ações efetivas que, por mais de 20 anos mudaram o cenário de violência e desordem da cidade para um espaço que é, hoje, um exemplo para o mundo inteiro.
Esse estudo de caso é de extrema importância para a proposta a ser apresentada no segundo volume desse trabalho por possuir vários princípios que podem ser adotados a ele, principalmente o de ressignificação dos espaços, não necessariamente públicos. Por a área estudada ser um grande aglomerado de carcaças industriais, uma das diretrizes citadas é dar um novo significado a tais vazios, mudando seu uso.
Sua função em relação ao seu conceito norteou algumas diretrizes mais a frente melhor explanadas. Três dos quatro pilares desse projeto: educação, o maior dos investimentos; presença do Estado na periferia e espaços públicos ressignificados se fizeram de fundamental importância para o desenvolvimento do futuro projeto por se tratarem de conceitos muito bem desenvolvidos e adaptáveis à realidade brasileira e do bairro.
Novos usos dados a equipamentos sub ou não utilizados
Reintegração da cidade com medidas públicas humanas
Utilização da educação e da arquitetura como principais instrumentos potencializadores
Transformação física do espaço juntamente com tranformação educacional, resultando em transformação social
9
UM NOVO CENÁRIO DE ENCONTROS NA IMPERIALAnálise do Território
O atual capítulo explorará as várias características do território o qual será o objeto de intervenção da autora, neste caso, o lado oeste do bairro de São José, em Recife, Pernambuco.
9.1 Leitura do território
Os lotes a serem intervidos se localizam no bairro de São José, Região Político Administrativa I (RPA 1) (ver figura 16), na Cidade do Recife, Pernambuco. O bairro de São José carrega a história de Recife. A colonização pernambucana se inicou pelo Bairro do Recife e se expandiu para a Iha de Antônio Vaz onde atualmente se localizam o bairro de Santo Antônio e São José.
Ele possui uma área de 326 hectare² direcionada leste/oeste do Estado de Pernambuco (ver figura 17). A população do bairro chegou a 8.688 habitantes segundo o censo do IBGE de 2010, resultando em 26,65 habitantes por hectare.
Por ser parte de uma ilha, seus limites são todos corpos d’água. Sua porção sul se conecta a Bacia Portuária de Recife e Bacia do Pina, sua porção norte ao Rio Capibaribe. Ao leste está o oceano Atlântico e a oeste está o Braço Morto do Rio Capibaribe.
Sua arquitetura e traçado nos remonta a um século histórico de ocupação portuguesa e holandesa. Porém, há um contraste nesse bairro que poucas pessoas veêm entre seu lado leste e oeste.
O lado leste, aonde se encontra o mercado de São José, possui uma arquitetura colonial de sobrados e um traçado clássico português (ver figura 18), porém também há traços do modernismo recifense. A Av. Dantas Barreto, eixo que corta boa parte do bairro, é um eixo importante da cidade e foi um dos principais marcos do modernismo pernambucano. Esse eixo se distingue de qualquer outra via de sua área por ser larga e linear, se sobresaindo do traçado urbano tradicional com ruas estreitas e curtas.
Boa Vista
Soledade Bairro do Recife
Ilha do Retiro
Ilha do Leite
Ilha Joana Bezerra Coelhos Santo Antônio
SÃO JOSÉ
Afogados
Cabanga N
Seu lado oeste possui uma mescla entre edifícios industriais o século XX e sobrados históricos (ver figura 19). Possui ambas características moderna e tradicional.
As modernas são quadras e lotes grandes, vias largas, como a Avenida Sul, continuação da Av. Dantas Barreto, e a R. imperial. Essa rota, Av. Sul/Dantas Barreto era a rota principal de saída e entrada de mercadorias para o interior do estado no final dos anos 90 e começo dos anos 2000, porém, com a saída das indústrias dessa região, ela é principalmente usada para quem deseja chegar à zona oeste de Recife, à Jaboatão Velho e à outros estados do Brasil. E as tradicionais são quadras pequenas com predominância de sobrados e ruelas (ver figura 19). É provável que toda a área, no começo do século XX fosse tomada pela tipologia urbano-arquitetônica tradicional portuguesa, porém, foram destruídas e foi colocado seu lugar galpões e indústrias.
Mesmo sendo de uso mais industrial e comercial, uma porção da área se contrasta por incluir a Comunidade do Coque e Vila Imperial. O Coque, assim como o lado leste de São José, possui também lotes estreitos e casas contínuas, sem recuos laterais. Isso é decorrência da iniciativa de aproveitamento máximo dos espaços e lotes. Mesmo que a ocupação das construções e ruas dos dois lados do bairro possa ser simliar, os motivos pelos quais os edifícios do Coque e Vila Imperial são colados muro com muro e se encontrem no paramentro da calçada igual à ocupação histórica do bairro são completamente distintos.
A zona oeste, onde a intervenção foi prevista pela autora desse trabalho, possui um caráter residencial e industrial. Boa parte desses edifícios industriais está desativado e mudou para outros lugares do Estado de Pernambuco. O que restou foi a carcaça desses massivos equipamentos urbanos.
Lado leste de São José
Figura 18: Vista aérea da porção leste do bairro de São José Fonte: Google Earth 2018
Lado oeste de São José
Figura 19: Vista aérea da porção oeste do bairro de São José no ano de 2018 Fonte: Google Earth 2018
Com grandes lotes e poucas subdivisões, a porção oeste possui um traçado com amplas quadras, porém com baixíssima permeabilidade, tanto visual quanto física (ver figura 20).
Figura 20: Exemplo de área com baixa permeabilidade visual e física Fonte: Acervo pessoal Grandes muros foram elevados para proteger os galpões, os sobrados que lá existem estão abandonados e/ou subutilizados (ver figura 21).
Figura 21: Sobrados abandonados na R. Imperial Fonte: Acervo pessoal
Em boa parte da região, por se tratar de um assentamento informal, as leis expressas no PDCR não são rigorozamente aplicadas. As casas ocupam, na maioria delas, 100% do lote e se verticalizam a medida que a família cresce. Ainda que se pense no lote individual, nas comunidades citadas o senso de coletividade é forte. Se for de necessidade da comunidade e a maioria concordar, lotes serão transformados em escolas ou praças. Eles olham para os problemas da comunidade e se organizam para que possa haver melhoria.
Aplicando princípio de densidade ao território
Douglas Farr (2013), através do livro Urbanismo Sustentável mostrou diretrizes para direcionar bairros e cidades à sustentabilidade. Um desses princípios é o da densidade, populacional e construtiva. Ele diz que é o tema principal para se obter um urbanismo sustentável. Segundo o autor, é necessário que haja 300 habitantes por hectare para que o bairro possa ter uma boa compacidade populacional, densidade em relação a habitantes.
O bairro em questão apresentou no ano de 2010, segundo o IBGE 2010, um número total
200 n médio de hab/ hec
Coelhos
178,51 de 8.886 habitantes distribuídos em uma área de 326 hectares. Isso nos informa que há 26,62 hab./hec. Por finalidade de comparação, o bairro mais adensado da RPA 1 é o Coelhos, com 178,51 hab./hec. (ver figura 22). Em média, a RPA 1 possui 60,23 hab./ hec., o que é o dobro da média do bairro estudado. Aos moldes de Farr (2008), São José está muitolonge de ser sustentável. A realidade é que é necessário mais de 10 vezes o número atual para que esse bairro seja considerado sustentável, considerando apenas adensamento populacional. Tais dados indicam que é necessário a implantação de mais moradias no bairro e que seja insentivado o adensamento populacional para edificíos existentes.
150 Ilha Joana Bezerra
144,85
100
50 Boa Vista
84,15
25 12 Bairro do Recife 2,23 Paissandu
14,70 Santo Antonio 3,53 São José
6 26,226,2
Visão geral da área
Carências
áreas de lazer organização do áreas para espaço manifestações culturais áreas para manifestações intelectuais
Preexistência
esqueleto de indústrias lotes abandonados
vazios urbanos
Local
perto da estação de metrô Joana Bezerra
perto de um importantes vias ( av. sul e rua imperial) perto do centro da cidade
Pontos Positivos
projetos iniciados pelos moradores
vontade de melhoria por parte dos residentes diversos lotes livres
forte identidade local
A Vila Imperial
Vila Imperial, uma pequena comunidade isolada do resto da sociedade. Fechada por um portão e contida dentro de um lote que estão lutando para ser regulado perante o governo.
A história da Vila, assentamento informal com apenas 6 anos de existência, vem sendo construída em meio a muitos desafios. A necessidade da criação da Vila Imperial veio da luta entre moradores e representantes do Coque contra donos da empresa que ocupava os lotes adjacentes ao terreno vazio, um antigo terreno da linha ferroviária do Recife. O lote em que atualmente se enconta a Vila (ver figura 23) pertencia à União, portanto, lote público.
Figura 23: Lote vazio apropriado pelos antigos moradores do Coque Fonte: Google Earth 2018 Ao mesmo tempo que a comunidade do Coque estava se expandindo e não havia mais terreno e condições para novas famílias, havia esse terreno livre público disponível. O lider da comunidade do Coque Loro do Coque decidiu se movimentar e movimentar umas famílias para tomar o terreno antes que o dono da empresa ao lado conseguisse fazer antes deles. A solução foi construir improvisadamente barracos e começar uma nova favela ali mesmo, para que as pessoas que morassem de aluguel no Coque conseguissem ter um pedaço de terra para elas (ver figura 24).
Figura 24: Início da ocupação das terras que hoje seria a Vila Imperial, ano de 2013 Fonte: Acervo de Moises do Coque
Com a tomada das terras, começou-se um movimento para a sua regulamentação. Hoje o povo da Vila está morando de forma precária, sem saniamento básico e coleta de lixo. Algumas visitas do governo foram para vacinar as crianças e certificar se não havia focos de dengue no local, porém, ainda não há nenhuma medida ligada ao Estado para beneficiar a população local.
Mesmo que tenha sido uma invasão, Loro fez questão que fosse organizada. Foi-se pedido que as casas que fossem sendo construídas ficassem niveladas com as casas vizinhas, ajudando na continuidade e fluidez das fachadas de ambos os lados (ver figura 25).
Figura 25: Ocupação da Vila Imperial nos dias atuais, novembro de 2019 Fonte: Acervo pessoal Para a construção das casas houve-se uma padronização de 7 metros de fachada e 12 metros de profundidade com uma via central que dividiria o lote em suas massas construídas (ver figuras 26 e 27).
3m
12m
7m
Figura 26: Diagrama representando a padronização adotada Fonte: Própria autora 6m
Figura 27: Diagrama representando como o lote foi ocupado Fonte: Própria autora
Na Vila, existem entorno de 200 habitações que vivem cerca de 4 pessoas em cada habitação, o mais comum na comunidade é a familia composta por um casal, pai e mãe, e 2 filhos. O que dá uma média de 800 pessoas habitando uma área de 1000 metros quadrados, mais ou menos.
As atividades de lazer são feitas lá mesmo na rua da comunidade (ver figura 28). As crianças em seus tempos livres se reunem na rua para brincar de ciranda ou jogar bola. Ainda não há um local adequado para que elas se expressem e brinquem.
Figura 28: Crianças (e adultos) brincado na rua por falta de melhor local Fonte: Acervo pessoal
Ainda na comunidade há já uma primeira ideia de comércio e serviços. Há 2 “vendinhas” e 1 mercadinho e um mecânico. O interessante a ser ressaltado sobre isso é que a economia dentro do bairro já está começando a ser gerada por eles mesmo, com uma simples venda de dudu e geladinho os moradores já conseguem uma renda, extra ou principal com a ajuda da própria comunidade (ver figura 29).
Figura 29: Vendinha da Dona Maria, Vila Imperial Fonte: Acervo pessoal
Foram entre 2 e 3 anos para a instalação efetiva dos moradores. Hoje eles lutam para ter acesso à água encanada, energia e já entraram com pedido na justiça pela legalização da terra, segundo Louro do Coque, o líderda comunidade. Adiante pode-se observar a evolução da comunidade na figura 30.
HOJE 2019
Figura 30: Conjunto de fotos representando a Vila Imperial nos seu primeiros meses e apos 2 anos de instalação *Fonte: Acervo de Moises do Coque **Fonte: Acervo pessoal
O polígono específico escolhido
O território que foi escolhido para sofrer a intervenção agrupa tanto a Vila Imperial quanto a indústria vizinha, antiga Sociedade de Moagens do Café (ver figura 31), e outros galpões e fábricas ao redor da Sociedade . A área possui aproximadamente 9,2 hectares. A figura 34 mostra a área total.
Figura 31: Foto da fachada da sede da Sociedade de Moagens do Café Fonte: Acervo pessoal
Esse polígono se originou, primeiramente, da dimensão da atuação que a autora pretendia intervir e conseguiria se ater durante o período da monografia. Segundo, a dimensão da área atende bem aos usos pensados por ela. Terceiro, é uma região que necessita de um cuidado e atenção maior do que está sendo oferecido à ela. E, além desses pontos, essa parte da cidade é um ponto estratégico e importante para a cidade. A Rua Imperial é o eixo principal que liga a zona central do Recife à Jaboatão Velho e ao subúrbio oeste da cidade.
As barreiras
O polígono abrange, também, uma parte dos trilhos de metrô entre as estações Largo da Paz e Joana Bezerra, o que acaba por ser uma barreira visual e física. É clara a distinção entre os lados do trilho e como ele causou uma ruptura na quadra (ver figura 32).
Além do trilho, outra barreira existente é o aglomeado de galpões e grandes construções presentes no local. Alguns deles não possuem uso ou estão subutilizados, o que resulta em uma barreira tanto física quanto visual (ver figura 33).
Figura 32: Vista aérea do trilho (trecho entre as estações Largo da Paz e Joana Bezerra Fonte: Google Earth 2008
Figura 33: Vista aérea do conjunto de galpões e edifícios industriais Fonte: Google Earth 2008
A gleba adotada é localizada na esquina da Rua Imperial com a Rua Lorenço de Sá, tais ruas servirão como acesso para o conjunto de edifícios propostos.
Mais adiante na parte II desse volume se é tratada a maneira que a autora optou para lidar com tais barreiras.
9.2 Análise dos mapas
Estação Joana Bezerra
N Figura 31: Mapa de Nolli
Antiga linha férrea de Recife
Mapa de Nolli (figura-fundo)
Esse mapa figura-fundo tem a finalidade de demonstrar graficamente a massa construída versus vazios, que podem variar entre parques, praças, estacionamentos, ruas, avenidas.
O que pode ser retirado desse mapa é que existem três regiões com implantações e dimensões de edifícios completamente diferentes.
A primeira situando-se acima da estação Joana Bezerra, a comunidade do Coque, com pequenas manchas construídas e muito próximas umas as outras, não obstante, é possível perceber que há dois tipos de construção nessa região, uma com implantação mais ortogonal e outra ocupação mais livre, caracterizando um assentamento construído pelo governo para parte daqueles moradores e um assentamento informal.
A segunda se situa entre a estação e a antiga linha férrea onde pode-se notar um mix de tipos construtivos maior. Ao centro do mapa tem-se massas densas com grandes dimensões, caracterizando a ocupação industrial da área.
LEGENDA
Figura 35: Mapa de Nolli Fonte: Própria autora
Ao lado esquerdo e direito é possível notar que as massas passam a ser menores, tipificando construções habitacionais informais.
E a terceira abaixo da linha férrea possui dois tipos de implantação, a ortogonal, mais ao centro, e a mais livre ao lado esquedo e direito da ortogonal. É possível perceber que houve um início da tentativa de regulação do espaço, criando habiações formais e ordenada. Ver figura 36 para melhor compreenção das divisões.
1ª área
2ª área
3ª área
ILHA JOANA BEZERRA
N
POLÍGONO DE INTERVENÇÃO
SÃO JOSÉ
SÃO JOSÉ
CABANGA Definições aqui mostradas foram descritas no capítulo 7 Conceituação Temática.
Ao analisar o mapa de vazios, foi possível chegar a conclusão de que a área em análise possui em média 60% de área ocupada e MAPA DE VAZIOS 40% de área com algum tipo de espaço urbano não ocupado.
O que também pode ser pontuado desse mapa é a quantidade de espaços urbanos subutilizados da área. Mais de 50% dos espaços urbanos não ocupados são subutlizados e possuem potencial para ocupações melhor planejadas. O polígono definido para a intervenção se encontra nessa área.
LEGENDA:
LEGENDA:
Espaço Urbano Desocupado
Espaço Urbano Desocupado
Espaço Urbano DesafetadoEspaço Urbano Desafetado
Espaço Urbano Subutilizado
Espaço Urbano Subutilizado
Ocupado
OcupadoEm construção
Áreas verdes (públicas e privadas)
Em construção
Áreas verdes (públicas e privadas)
Figura 03: Vila Imperial no ano de 2019, Recife Fonte: Acervo pessoal
parte II
10proposta
Esse capítulo abordará a proposta urbano-arquitetônica para a gleba adotada. A proposta aqui apresentada é um reflexo dos estudos apresentados anteriormente juntamente com as diretrizes propostas para a área.
10.1 Diretrizes projetuais Urbano Arquitetônicas
No atual capítulo serão apresentadas as diretrizes que nortearão o projeto a ser aprofundado no volume 2 desse trabalho. 2_ Estimular a multifunionalidade dos
espaços, e consequentimente fomentar a economia local através da implantação de novas áreas com comércio e serviço, pensados através da necessidade dos habitantes da região;
3_ Propor áreas verdes e/ou de
convivência para promover biofilia;
4_ Propor novos usos aos vazios industriais e resignificá-los;
As diretrizes aqui apresentadas foram desenvolvidas a partir do estudo da área de maneira integrada. Questões socio espaciais, econômicas e históricas foram levadas em consideração na sua proposta. Foi-se pensado em diretrizes de cunho arquitetônico e urbanistico para a revitalização da área: 5_ Preservar a memória e a identidade local;
6_ Assegurar a caminhabilidade do local;
7_ Abrir novas vias;
8_ Estudar os edifícios existentes na
1_ Promover o adensamento habitacional e populacional através da
Implantação de novas habitações de caráter social, resultando no maior adensamento do bairro; área de intervenção que são passíveis de permanência;
Parâmetros projetuais propostos versus parâmetros do PDCR 2008
Assim como explicado anteriormente no subcapítulo 7.1, a autora optou por não utilizar os parâmetros estabelecidos pelo Plano Diretor da Cidade do Recife 2008 por não condizer com parâmetros de uma cidade sustentável e justa. Ao invés disso, ela tomou alguns desses parâmetros como pontos de início,para aperfeiçoá-los.
Portanto, é essencial apresentar aqui a comparação dos parâmetros adotados pela autora e os parâmetros estabelecidos pelo PDCR 2008 afim de tornar mais claro suas diferenças. Ao lado, conta um quadro comparativo entre eles.
A zona da cidade a ser intervinda é, segundo o PDCR 2008, é uma Zona de Ambiente Construído Moderado (ZAC Moderada). Isso indica que a zona é favorável ao adensamento construtivo: “incentivar o padrão de adensamento construtivo, adotando-se potenciais adequados ao equilíbrio da paisagem e à infra-estrutura;” (PDCR,2008). Isso nos indica que os parâmetros estabelecidos serão direcionados à construção em si de cada lote.
Parâmetros do PDCR 2008
• Taxa de solo natural: 25% (da área do lote) • Coeficiente de utilização (µ): 3,00 • Af = Afi + (n-4) 0,25;
Al = Ali + (n-4) 0,25;
Afu = Al e Afi = 5,00 m; Ali = 3,00 m; Afu = Al. Sendo: n = Número de pavimentos; Af = Afastamento frontal; Al = Afastamento lateral; Afi = Afastamento frontal inicial; Ali = Afastamento lateral inicial; e, Afu = Afastamento de fundos • manter área de ajardinamento localizada no afastamento frontal para os edifícios destinados à habitação multifamiliar e não habitacional, devendo obedecer aos seguintes critérios: 1. A área de ajardinamento estará obrigatoriamente localizada no afastamento frontal o qual deverá apresentar no mínimo 70% de sua superfície tratada com vegetação; e, 2. Serão admitidos elementos divisórios no paramento, desde que atendam a uma altura máxima de 3,00m (três metros) e tenham pelo menos 70% de sua superfície vazada, assegurando a integração visual entre o espaço do logradouro e o interior do terreno. • Os parâmetros de estacionamento foram sintetizados no quadro apresentado a seguir. *obs: foram analisados aqui os parâmetros de estacionamento dos usos que se encontram no programa de usos do projeto, afim de deixar esse quadro mais sucinto.
Quadro de parâmetros para estacionamento
Categorias de Usos e Atividades Urbanas Unidades Corredor de Transporte Urbano Secundário
1. Uso Habitacional (habitação multifamiliar acima de 4 unidades) Até 40 m² Acima de 40 m² até 80 m2 Acima de 80m2até 150 m² Acima de 150 m²até 250 m² Acima de 250 m² 1v/ unidade 1v/unidade 2v/unidade 3v/unidade 3v / unidade
2. Comércio Varejista 2.1Conjuntos de Lojas e/ ou de Salas Comerciais
3. Serviços de Educação 3.1 Creche, Pré-escolar, Escolas de 1º grau, Escolas de 2º grau Até 2 Pav. Acima de 2 Pav até 6 Pav. Acima de 6 Pav. 1v / 30m² 1v / 40m² 1v / 50m²
1v / 50m²
3.2 Academia de Ginástica, Centro de Cultura Física, Escola de Dança e Música e Cursos Especializados e similares 1v / 40m²
4. Serviços de Saúde 4.1 Ambulatórios, Laboratórios,Consultórios, Clínicas, Maternidades, Hospitais Gerais e Especializados *Até 2 Pav. *Acima de 2 Pav até 6 Pav. *Acima de 6 Pav. 1v / 30m² 1v / 40m² 1v / 50m²
Parâmetros propostos
• Taxa de solo natural: 20% (da área da quadra) que deve apresentar no mínimo 80% de sua superfície tratada com vegetação; • Coeficiente de utilização (µ) (mínimo): 3,00 • Coeficiente de utilização (µ) (máximo): 4,00 • Haver distânciamento mínimo e máxim entre edifícios, promovendo a proximidade entre eles. • Afastamento edifício-calçada (até 3 pav.): nulo, se o térreo possuir uso diferente de habitação; se o uso térreo for habitação, o afastamente deverá ser dado pela fórmula
Af = Afi + (n-4) 0,25 • Afastamento edifício-calçada (a partir do 3 pavimento): Af = Afi + (n-4) 0,25, sendo
Afi = 5,00 m • Todas as fachadas dos edifícios tem que ser tratadas como “frontal”, portanto devem ser igualmente pensadas e estudadas para atender positivamente a relação entre ela e o transeunte. • Não há obrigatoriedade de área de ajardinagem, porém, há incentivos para áreas destinadas à horta • Serão permintidos elementos divisórios no paramento desde que assegurem a permeabilidade visual entre o espaço
público e o privado • É obrigatório a disposição de estacionamento, sendo ele rotativo e que detenha de estacionamento para bicicletas/ skate, motos e carros. *obs: será proposto insentivos para os moradores que decidirem por não utilizar a vaga de estacionamento;
A principal diferença entre os parâmetros construtivos do PDCR (2008) e os da autora é que os primeiros se limitam e são moldados sempre para o lote individual, desconsiderando o conjunto. Já os segundos parâmetros entendem que a quadra é como um organismo organizado e os lotes são partes articuladas e articuláveis para a execução de um conjunto. Acredita-se que direcionando os parâmetros para um âmbito maior, como a quadra e/ou o bairro, a dinâmica, coerência entre espaços e democracia do ambiente serão mais facilmente atingidos.
Justificando os parâmetros propostos
Foi-se compreendido que a taxa de solo natural seria melhor aplicada para a quadra do que para o lote, assim permanecendo 20% da área, agora sendo ela da quadra, sem construção, para permitir a drenagem do solo.
Entendeu-se que era necessário parâmetros que indicassem a distância mínima e máxima entre edifícios, desse modo estimulando a proximidade entre eles, característica importante para manter ma cidade densa.
Os parâmetros de afastametno frontal, lateral e de fundo foram mudados para afastamento edifício-calçada e afastamento entre edifícios, deixando claro, assim, que todas as fachadas devem ser tratadas como “frontais” e pensadas com a mesma importância. Ainda pensou-se em afastamento edifício-calçada nulo para edifícios com térreo ativo, com lojas e serviços, para aproximá-lo do transeunte, estimulando a proximidade entre eles.
Sobre os elementos divisórios no paramento, ainda há uma cultura no Recife muito forte de que muro mais nos protegem do que nos despersam e não podemos ignorar tal cultura. O que foi proposto tenta equilibrar a permeabilidade visual, e portanto a vigilância urbana, com tal convicção.
Em relação aos parâmetros de estcionamento, é importante ter-se em mente que o carro é ummeio de locomoção de extrema importância na cidade do Recife e que não pode ser excluído da vida dos cidadãos, por isso sua obrigatoriedade. O que diferencia o parâmetro de estacionamento da autora para o do PDCR 2008 é que para a autora o estacionamento deve ser rotativo e dispor de área para guardar bicicletas e skates, assim, insentivando seus usos.
Diretrizes de Uso Específicas
A proposta de uso é preservar as cascas dos equipamentos industriais e requalificálos com usos necessários da comunidade da Vila Imperial que sejam de cunho social, cultural e educacional. E para o lote que hoje é habitado pelos moradores da Vila, a proposta é a implantação de novos volumes com uso destinado à habitações sociais com térreo ativo. Esse térreo seria composto por comércios e serviços que seriam administrados pelos próprios moradores, gerando renda para eles.
Portanto, os principais usos do solo seriam:
_Volumes futuros mistos no lote que hoje se situa a Vila Imperial. Seu térreo teria usos comercial e de serviço e sua administração seria feita pelos habitantes do edifício e os demais pavimentos seriam destinados à habitações e caráter predominantemente social;
_Espaços verdes próximos às habitações propostas afim de manter a biofilia e a drenagem da região; espaços de exposições, ateliês de arte, dança e música, quadras poliesportivas cobertas, piscinas cobertas, etc.
_Volumes com usos de serviço e comércio existentes seriam mantidos os usos e apenas acrescentados volumes quando necessário.
_Equipamentos industriais vazios ou ociosos obteriam novos usos educacionais, culturais e de lazer como por exemplo: salas de aula,
Quadro resumo Diretrizes e ações Diretrizes de Projeto
2_ Estimular a multifunionalidade dos espaços
3_ Propor áreas verdes e/ou de convivência para promover biofilia
4_ Propor novos usos aos vazios industriais
5_ Preservar a memória e a identidade local
6_ Assegurar a camibilidade do local
7_ Ressignificar os vazios urbanos industriais
Ações a serem tomadas
1_ Implantação de novas habitações de caráter social, resultando no maior adensamento do bairro
2_ Haver térreo ativo nos volumes a propor. Térreo ativo sendo comércio e serviço direcionado às necessidades dos moradores
3_ Implantar praças e pequenas áreas de convivência verdes próximas às habitações e aos equipamentos públicos a serem propostos
4_ Propor nos vazios industriais centros educacionais, culturais e de lazer
5_ Chamar artistas locais para intervir no espaço, seja permanentemente ou não, e não destruir o que os cidadãos consideram como sua identidade
6_ Implantar métodos que impactem positivamente na acessibilidade como rampas de acesso, piso tátil, mobiliários acessíveis, etc
7_ Propor novos usos ligados à cultura, lazer e educação para as construções industrias ociosas
Dados importantes
Área construída
Superfície total da gleba...............92.788 m² (ou 9,2 hectares)
Área construída atual.................34.078 m²
Área a ser mantida.......................19.888 m² (58,3%)
Área a ser demolida........................14.190 m² (41,7 %)
Coeficiente de Utilização(µ) previsto pelo PDCR 2008......................................3,0
Existente População
População atual....................................800 pes.
Habitações atuais.................................200 hab.
Usos e edificações da área
Habitacional......................................4.883,2 m²
Industrial.........................................17.709 m²
Serviço/comércio...........................10.632 m²
Vias públicas........................................854 m²
Equipamentos públicos..........................0 m²
Área verde pública..................................0 m² Proposta População
População ideal para a gleba*....2.760 pes
Habitações a acrescentar**...............500 hab.
Usos e edificações da área
Habitacional....................................45.420,1 m²
Industrial...................................................0 m²
Serviço/comércio..........................42.457 m²
Vias públicas..................................11.918 m²
Equipamentos públicos...............12.158,3 m²
Área verde pública.......................51.520 m²
Coeficiente de Utilização(µ) real.........2,57 Coeficiente de Utilização (µ) proposto.....4,0
*O cálculo utilizado para se chegar à esse número foi baseado no livro de FARR (2013) Urbanismo Sustentável. Nele, consta-se que, para que a quadra seja considerada sustentável, tem que haver 300 habitantes por hectare, aproximadamente. Então o cálculo seria: 9,2 hec x 300= 2.760 pessoas. **O cálculo utilizado para se chegar à esse número foi a média de habitantes por casa atualmente na Vila Imperial. O lider da comunidade apontou, em uma conversa com a autora, que, por casa, comumente vivem 4 pessoas, um casal e duas crianças. Qnt. de habitações ideal é 690.
É importante salientar que a quatidade de habitações necessárias para se chegar na população ideal para a gleba seria de 690 unidades. Entretanto, a gleba possui usos diversificados, variando entre comércio, educacional, cultural e habitacional, e portanto, a área tem que ser compartilhada entre tais usos, restanto uma área reduzida para habitações. Assim, decidiu-se diminuir a quantidade de unidades habitacionais para 500 unidades, como é possível ver no quaro síntese ao lado, e distribuir as 190 restantes nas quadras vizinhas. Já que o gabarito da área é considerado baixo para os princípios de adensamento habitacional e populacional anterior mente descrito, seria de grande importância crescê-lo e aumentar o número de habitações também do entorno.
Critérios de projeto
Para se haver uma coerência no processo dos estudos prévios, dividiu-se a analise da gleba em planos.
Como critério de analise para avaliar quais edificações deverão permanecer, foise pensado um plano de conservação, uso e ocupação do solo. Ele irá conter as diretrizes de conservação, diretrizes de uso e diretrizes de ocupação do solo.
Tais critérios possuem como base as diretrizes do livro Urbanismo Sustentável de Douglas Farr (2008) e o Plano Centro Cidadão: Estudo preliminar de desenho urbano do setor de ensino e conhecimento do Centro Continental do Recife, Vol. 04, publicação feita pela UNICAP em parceria com a Prefeitura do Recife.
As diretrizes de conservação buscam pontuar: 1_Edifícios com valor histórico-arquitetônico: edifícios com valor histórico já registrado pelo governo, como é o caso das IEPs e ZEPH (Zona Especial de Patrimônio Histórico) e edifícios com valor histórico-arquitetônico pontuados pela autora, sendo eles relevantes para a história da sociedade recifense. 2_Edifícios não-viáveis: que não possuem uma arquitetura e estrutura viável para os usos pensados pela autora. 3_Edifícios mal conservados: edifícios com integridade estrutural e física comprometidos. E por último, 4_ Edificações consolidadas: edifícios consolidados são aqueles com grande porte ou que executam e cumprem alguma determinada função.
Vale salietar que a área em questão não possui IEPs e não é uma ZEPH.
As diretrizes de uso são os meios para desenvolver os usos necessitados do território, estudadas levando em consideração a área e seus arredores em um raio de 500 metros. Esse raio foi adotado com base em GEHL (2010) que aponta esse raio como uma estimativa de raio caminhável que uma pessoa estaria disposta a caminhar para executar alguma atividade diária.
As diretrizes de ocupação do solo determinam o tipo de adensamento e o limiar dos edifícios a serem construídos, isto é, o intervalo do gabarito a se implantar, por fragmento de quadra.
Diretrizes de Conservação
Tomando como base a bibliografia desenvolvida pelo Plano Centro Cidadão, foise analisado a área, o que acabou por gerar quatro tipos de conservação como podem ser vistos no mapa de Diretrizes de Conservação figura 38. Tais tipos são:
1_Edifícios com valor histórico-arquitetônico: 1A_ Conjunto de edifícios que retraram a historia local (ver figura 39)
Figura 39: Conjunto de edifícios da antiga Sociedade de Moagens do Café como exemplo de edifício com valor histórico/arquitetônico Fonte: Google Earth 2018
2_Edifícios não-viáveis: 2A_ Edifícios com estrutura ou forma que dificulta a função pensada para a área (ver figura 40)
Figura 40: Edifício representando o tipo de edificio não-viável Fonte: Google Earth 2018
3_ Edifícios mal conservados: construções com estrutura comprometida (ver figura 41)
Figura 41: Edifício representando o tipo de edifício mal conservado Fonte: Google Earth 2018
2_ Edifícios Consolidados: 2A_ Edifícios de grande escala, superiores à 10.000 m² que cumprem sua função de forma satisfatória (ver figura 42)
É importante ressaltar que 56% da área construída atual foi mantida, destinada à usos sociais para a comunidade.
Figura 42: Construções como exemplo de edifícios consolidados Fonte: Google Earth 2018
DIRETRIZES DE CONSERVAÇÃO
0 50 150 DIAGRAMA DE CONSERVAÇÃO
LEGENDA
EDF. CONSOLIDADO (a conservar) EDF. COM VALOR HISTÓRICO-ARQUITETÔNICO (a conservar) EDIFÍCIOS MAL CONSERVADOS (a demolir) EDIFÍCIOS NÃO VIÁVEIS (a demolir)
Figura 38: Mapa de Diretrizes de Conservação Fonte: Própria autora
86
Diretrizes de Uso
Através da análise do mapa de uso, pode-se observar que na gleba estudada há um défit no setor de comércio e serviço e no setor educacional/ cultural. Esse déficit resulta, dentre diversas outras consequencias, uma baixa dinâmica do local. Não há fluxo de pedestres que permite a vigilância social. Portanto, as vias são utilizadas quase exclusivamente por automóveis.
É pertinente notar também que, mesmo que seu entorno seja suprido de habitações, na gleba, isso se limita a uma estreita parte, aonde é localizada a Vila Imperial. O restante da gleba é dotada de vazios construídos e galpões de indústrias e empresas. Mesmo com uma quantidade predominante de habitações, a densidade populacional da área não é satisfatória, segundo os parâmetros de FARR (2013).
De acordo com a identificação dos usos atuais, a área possui uma característica praticamente exclusiva de uso residencial, comumente de baixa renda, característica oposta ao local escolhido.
As propostas lançadas pelas diretrizes de uso trazem consigo a intenção de aumentar a variedade dos usos, aumentar o coeficiente habitacional, e aumentar o número dos edifícios ligados à educação e cultura.
Os usos propostos foram adotados a partir do déficit encontrado na área e da potencialidade do local, sempre levando em consideração o contexto urbano em que a gleba se encontra, a figura 43 mostra tais usos existentes.
Proposta para usos
Misto residencial (térreo ativo + residência)
Misto comercial (térreo ativo + pavimentos com serviço e/ou comércio)
Educacional, cultural e lazer
Programa mínimo
Espaço para lojas e serviços
Habitação
Salas de aula e de artes
Área de exposições
Espaço para unidade de saúde
Ateliês de dança e música
Seis setores foram estabelecidos na gleba afim de se obter um resultado coeso, simples e dinâmico. Esses setores foram divididos em: serviços/ comércio e educacional/cultural, misto (habitação + térreo ativo), setor de parques, lazer e esportes. Tais setores foram descritos na figura 44, traduzidos como diretrizes de uso.