8ª Edição da newsletter do CIPA |Mensal | junho 2015
Afurada | Âncora de Identidades Centro Interpretativo do Património da Afurada
No mês em que têm lugar as Festas em Honra de s. Pedro da Afurada, o CIPA não poderia ser alheio ao acontecimento. Desta forma a 8ª Edição de Newsletter procura enaltecer as festividades e a estreita relação que existe para com a comunidade. Quem conhece as peculiares características da festa em honra do patrono, as formas de financiamento, o desejo de afirmação pessoal e comunitária, a religiosidade muito própria, compreende a quase obrigação de participação na festa, momento mais alto e rico da comunidade. Assim, ao longo das rubricas que compõem esta publicação irá encontrar uma justificação histórica das festividades bem como algumas curiosidades da edição deste ano.
VIVA O NOSSO S. PEDRO! Frase repetido ao longo do cortejo religioso
Património(s) 2
Retratos da história 3
Divulgação 4
Património(s) Reservamos esta página a algumas considerações cientícas sobre a temática que dá o mote à edição.
O espírito bairrista reinventa-se! partido das decorações luminosas e da agitação que se faz sentir, para demonstrar a sua forma de partilhar experiências, por norma à porta das habitações onde o setor feminino passa grande parte do dia. Inclusive, no seu quotidiano se pode observar que muitas das tarefas são executadas nesses locais, como a confeção dos alimentos e as próprias refeições. Esta ocorrência é evidenciada nos dias em que a comunidade se encontra a honrar o seu patrono. Pontuado por vários estabelecimentos comerciais, que se dedicam à restauração, o espaço público da Afurada ganha novos equipamentos espalhados porta a porta. É comum observarem-se os típicos fogareiros, dispostos pelos passeios, acompanhados por mesas, onde a família se junta nas horas das refeições. Trata-se de uma transformação efémera do espaço que se repete todos os anos, numa deslocação para fora de portas um convívio que é valorizado e partilhado não só com os familiares mas também com os que visitam a Afurada. Este bairrismo é de tal forma aceite pelos visitantes que serve como fator potenciador das festas. Ao m de uma semana agitada, com um cartaz forte no que diz respeito a espetáculos musicais e demonstrações folclóricas, seguese um imponente espetáculo pirotécnico visto pelas duas margens do Rio Douro. E por m o ponto alto, a procissão em honra de S. Pedro. Este é o momento mais emotivo vivido ao longo da festa. O momento em que se enaltece a fé, a crença e a vontade de car sob a proteção de S. Pedro. Um cortejo religioso sai para as ruas, onde cerca de 40 andores, devidamente adornados com ores naturais e tecidos, deslam em ombros pelas ruas coloridas e preenchidas da localidade. O segredo das Festas de S. Pedo da Afurada passa pela devoção que esta gente sente pelo seu orago. E quanto menos produtiva é a faina, mais as pessoas se agarram a ele.
A Comunidade piscatória da Afurada é um lugar onde as raízes históricas se encontram presentes tanto nas manifestações como no imaginário e nos traços identitários das suas gentes e dos seus modos de vida tradicional, ligados ao rio Douro e à pesca, constituindo uma das suas manifestações mais emblemáticas as sempre muito concorridas Festas de São Pedro da Afurada. A festividade existe não só como marca identitária das gentes da Afurada, no que à sua alegria diz respeito, mas a razão da sua existência recai sobre o traço mais forte desta comunidade. A sua localização virada à foz do rio Douro obrigou esta população a retirar da atividade piscatória o seu sustento. E sendo esta atividade sujeita a vários riscos, o ser humano procura auxiliar-se na sua fé e é neste contexto que surgem as Festas de S. Pedro da Afurada. A grande devoção que esta população tem S. Pedro revê-se numa imponente celebração como forma de agradecimento pela proteção e pelas graças que ao longo do ano recebem. Esta devoção é recorrente na zona do Litoral Norte, sendo o orago de mais de trinta igrejas entre o Douro e o Mondego, e cerca de 100 em todo o país, como por exemplo em Espinho e na Póvoa do Varzim. É característico das gentes da Afurada saber receber, e as Festas são um dos pontos altos ao longo do ano. É nesta altura que as ruas se enchem de visitantes e moradores, que partilham histórias, numa interação cultural saudável. Apesar de ser uma festividade que tem na sua essência a religiosidade, a vertente profana tem uma forte presença ao longo dos 11 dias de duração da manifestação. É composta de um conjunto de atividades, animações e degustações que atraem vários visitantes ao local. Ao longo do ano, os habitantes da Afurada já fazem grande parte da sua socialização nas ruas. O espaço público na Afurada é encarado como uma extensão da casa, onde as pessoas diariamente mantêm diálogos com os mais variados temas. Nestes dias tiram
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Retratos da História Contando com a colaboração de várias pessoas, destinamos este espaço a uma opinião ou trabalho cientico a título pessoal.
Senhora Estrela do Mar valorização do andor. Com o avançar dos anos os resultados iam diminuindo cruzando-se por vezes com algum conito o que levou ao termino desta recolha de fundos, cando como única responsável pela manutenção da imagem. conta-nos que a preocupação não acontece apenas em dias de festa, revelando que durante todo o ano garante a sua decoração e iluminação no interior da igreja. O seu empenho nesta devoção é de tal forma visível que já foi responsável pelo restauro da imagem após um incêndio que danicou parte da escultura. Quando a Senhora Estrela do Mar percorre as ruas da Afurada apresenta-se a todos com vestes realizadas propositadamente para o acontecimento, diferente das que enverga durante o ano. Estas vestes caracterizam-se pela cor branca com detalhes bordados em dourado, conferindo o brilho e riqueza da simbologia do ouro. Também a procura do brilho é perceptível na grande estrela revestida de espelhos que pertence a esta imagem, que quando no interior do templo religioso se ilumina. A cabeleira, já substituída devido ao desgaste pelo passar dos anos, representa a ajuda comunitária que se vive na Afurada, sendo resultado de um donativo feito por terceiros. Todas estas ações por parte de moradores locais, que participam ativamente na vida religiosa são reveladoras do sentido de pertença que a comunidade tem relativamente às festividades.
Nesta rubrica que por norma relata a história daqueles que pertencem à comunidade e têm no seu relato parte da memória coletiva, o CIPA entendeu nesta edição, traçar aquele que tem sido o percurso da imagem da Senhora Estrela do Mar. A devoção à Estrela do Mar remete a nossa análise ao início das viagens de afuradenses para terras da Terra Nova. No seio da comunidade existem relatos de uma singela festividade em sua homenagem, feita pelos homens da pesca do bacalhau e seus familiares. Chegados da temporada de pesc a, estes emigrantes realizavam um cortejo solene pela Afurada de baixo como forma de agradecimento pelo bom retorno para junta das suas famílias e terra querida, a Afurada. Na igreja da Afurada assume local de destaque, localizando-se num nicho lateral devidamente adornado e iluminado. Destaca-se também por ser a única imagem em madeira presente no corpo da igreja e designada de imagem de roca ou imagem de vestir, pelos trajes em tecido que enverga. No seu tratamento escultórico apenas são trabalhadas as partes que caram visíveis como o rosto mãos e pés, sendo que o tronco da imagem se destina a car coberto por tecido, em muitos casos executado propositadamente. Em algumas situações, deparamo-nos com estas imagens a serem cobertas por vistosos vestidos doados por determinados indivíduos como forma de agradecimento por graças obtidas. Também na cabeleira se denotam diferenças relativamente a outras imagens, sendo de cabelo verdadeiro. Sendo certo que neste caso a tradição já não é o que era, não existindo nos dias de hoje qualquer festividade destinada à senhora Estrela do Mar, esta continua a sair no cortejo solene em honra do patrono da freguesia S.Pedro. A Dona Linda Valentim e a sua família são os principais responsáveis pela presença regular da imagem nas ruas da comunidade e pela manutenção anual a que obriga. Na véspera da procissão deste ano de 2015, quando se procedia à decoração do andor com arranjos orais relatou-nos o que tem sido a sua experiência ao longo dos anos, não escondendo alguns contratempos que foram surgindo. A grande devoção à Estrela do Mar prendese com a presença do seu marido na pesca do bacalhau. Desde a primeira experiência como responsável pela imagem não mais se afastou deste papel. Em anos passados, exercia junto daqueles que partiam para a pesca do bacalhau um peditório por altura das festas para que todos contribuíssem para a
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Divulgação Objeto do mês | Barca da pregação Nesta edição da newsletter o C I PA d e s ta c a a B a r c a d a Pregação como objeto do mês. Não sendo uma peça do espólio do CIPA, a Barca encontra-se durante todo o ano no corredor c e n t ra l d a s i n s ta l a ç õ e s , recebendo e dando as boas vindas aos visitantes. O momento de exceção vive-se nos dias das festividades locais, quando a embarcação é levada em braços pelos homens do mar para o porto de pesca. Assume maior destaque quando no m do cortejo religioso o pároco se dirige à população e de lá dá a bênção às embarcações. Este é uma réplica dedigna de uma caíca afuradense, construída pelos irmãos Carlos e Afonso Marques.
‘ Janela da Identidade’ | Um trabalho partilhado
Passado um mês do início da exposição “Janela de Identidades”, o moral de memórias que ocupa uma das paredes da sala de exposições temporárias representa para todos os que connosco queiram colaborar uma tela por terminar. A qualquer momento poderá contribuir com imagens alusivas às Festas de S. Pedro da Afurada. O número de imagens e memórias expostas tem vindo a aumentar, faça também parte.
Tema da próxima edição: Afurada - A representação do pitoresco CIPA | 4