4ª Edição da newsletter do CIPA |Mensal | Fevereiro 2014
Afurada | Âncora de Identidades Centro Interpretativo do Património da Afurada
Nesta 4ª edição da newsletter do CIPA, apresentamos uma das maiores riquezas do nosso espólio, as peças doadas pelas gentes da Afurada. Com a abertura do Centro Interpretativo do Património da Afurada, surgiu a oportunidade de perpetuar as memórias desta comunidade. Conscientes dessa responsabilidade, abrimos as portas a todos os artefactos e histórias que nos queiram ser legados. Desta forma, procuramos enriquecer o nosso espaço, não apenas com objetos mas acima de tudo com as histórias que eles carregam. O CIPA, além de recolher as peças doadas, procura realizar entrevistas a vários indivíduos da comunidade, com temáticas alargadas que visem o local, a tradição e o quotidiano que está associado à Afurada. Esta é uma responsabilidade que o CIPA assume, em colaboração permanente com o meio envolvente, por forma a reunir um vasto conjunto de informações que posteriormente permitirá a transmissão de conhecimentos sobre a identidade e origens da Afurada. Ao longo desta edição poderá encontrar uma abordagem ao panorama nacional sobre as doações (de) em contexto museológico e ainda uma reflexão sobre a preservação das materialidades por dois restauradores/ conservadores que trabalharam diretamente com o CIPA. Deixamos um especial agradecimento a todos os que nos ajudam a crescer!
«É de elogiar Centros como este que mantêm as recordações presentes» Testemunho de Augusto Barros | livro de honra do CIPA, acessível a todos
Património(s) 2
Retratos da história 3
Divulgação 4
Património(s) Reservamos esta página a algumas considerações cientícas sobre a temática que dá o mote à edição.
A realidade das doações O caso do CIPA
Abrindo espaço a uma reexão sobre a importância das doações em contexto museológico, iremos reetir de que forma estas entidades as deverão tratar, colocando o CIPA como ponto referência. Referimo-nos a núcleos que têm o seu campo de ação direcionado para as raízes históricas e identitárias do lugar onde se inserem, das gentes e dos seus modos de vida tradicional por forma a se tornarem âncoras de memória. As novas exigências contemporâneas, às quais os museus têm de dar resposta como a acelerada alteração dos hábitos de vida e uma eventual perda de identidade cultural, obriga a que o museu assuma um papel de destaque na recolha das heranças comunitárias e as possa transmitir aos seus visitantes. Pode então dizer-se que a museologia passa a ser entendida como o estudo da relação que se estabelece entre o Homem/sujeito e o Objeto/Bem Cultural num Espaço/ Cenário, que a conduz a uma nova forma de entender, estudar e dinamizar a documentação. Este Objeto que adquire a categoria de Bem cultural não pode existir de forma isolada mas acima de tudo, relacionar-se com o contexto e ser acompanhado da sua história, para desta forma melhor transmitir o que seria a sua função passada. Qual será então a melhor forma de chegar até ao visitante? De certo deverá entender-se que este não é um mero observador mas sim alguém que se interroga sobre a presença de determinado objeto e que se questiona sobre qual terá sido a razão da sua existência e posterior musealização. Embora não dispensem um enquadramento teórico, as peças com as mais variadas formas e funções, cronologias e materiais, ganham força pela forma direta como comunicam e pela possibilidade de as tocar. Por outro lado, sente-se o orgulho de quem doa os seus bens com o intuito de contribuir para a divulgação da sua terra, no fundo da sua história.
Um equipamento cultural com as características do Centro Interpretativo do Património da Afurada, não poderá ignorar toda a sua envolvente, terá necessariamente de ver nela o seu impulsionador. Consciente desta mais-valia de poder contar com um património vivo, em constante regeneração, o CIPA abriu a porta a todos os que com ele quiserem colaborar. No ano de 2014 foi aberta uma exposição que pretende narrar uma história que vai gradualmente sendo escrita em cada entrega e colaboração conferindo maior riqueza e profundidade ao seu acervo. Não signica que estejamos a caminhar para o encontro do passado, mas sim projetar para memórias futuras uma história rica em valor patrimonial. Neste espaço existe a informação e a reexão onde o visitante se depara com o belo, antigo, histórico e memorial desta localidade piscatória. Dado o valor que está inerente a estas peças, são prestados todos os c u i d a d o s n a s u a c o n s e r va ç ã o . Respeitando a autenticidade dos materiais, uma equipa especializada efetua um tratamento conservativo, sem alterar as marcas que a utilização e o tempo lhes conferiu, honrando desta forma o simbolismo que a mesma tinha para o seu proprietário.
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Retratos da História Contando com a colaboração de várias pessoas, destinamos este espaço a uma opinião ou trabalho cientico a título pessoal.
Conservação | Margarida e Alexandre Morais A entrada de objetos com vários anos de u t i l i z a ç ã o l e va n ta p r o b l e m a s d e conservação, podendo em alguns casos contaminar outras peças. Sendo esta edição dedicada às doações, contamos com a colaboração de Margarida Morais e Alexandre Morais, dois conservadores que colaboraram com o CIPA.
‘No trabalho que desenvolvemos para o CIPA,realizamos a conservação e restauro das peças pertencentes ao seu acervo. A ação baseou-se no critério de conservação, com o principio da intervenção mínima. Isto signica que agimos de forma a manter a história das peças, a sua patine, e o desgaste do tempo para conservar a sua originalidade, contudo travando o processo de deterioração assim como a remoção de gorduras, sujidades e elementos estranhos que aceleravam a processo de degradação deste espólio. De modo geral pode dizer-se que alguns materiais se foram conservando ao longo dos anos, da forma possível, embora nem sempre nas melhores condições. A manutenção destas peças cou a cargo dos seus doadores ao longo dos tempos. Gentes ligadas a elas e que como ninguém conhecem a sua História, pois vivenciaram-na. A toda esta gente temos de agradecer pela colaboração prestada na identicação de todo o espólio, fator este que se revelou fundamental para a própria intervenção nas peças.
Ainda em relação à intervenção, todas as técnicas utilizadas respeitam o princípio da reversibilidade, assim como um critério seletivo na escolha de m at e r i a i s a d e q ua d o s pa ra a desinfestação, consolidação e limpeza de cada um dos objectos, respeitando as matérias primas e zelando pela sua preservação acima de tudo. Finalizados os trabalhos por agora, gostaríamos de agradecer todo o apoio disponibilizado pelos colaboradores do CIPA, Cátia Oliveira, Isabel Pinto e Fernando Duarte, assim como o empenho na realização destes trabalhos por parte do arquiteto Francisco Saraiva que disponibilizou e garantiu o necessário para a execução da obra desde o inicio. Margarida Morais Alexandre morais “O restauro deve dirigir-se ao restabelecimento da unidade potencial da Obra de Arte, sempre que isto seja possível, sem cometer uma falsicação artística ou histórica sem apagar as marcas históricas da passagem da Obra de Arte pelo tempo” (Teoria do Restauro, Cesare Brandi)
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Divulgação Objeto do mês | Rádio Sendo o mote desta edição as doações, a peça em destaque deste mês não podia deixar de ser um dos objetos gentilmente doados pela comunidade da Afurada. Neste caso, pertencente a Ermelinda Crespo, este rádio, transcende a sua materialidade através das horas de a n g ú s t i a e d e s a ss o ss e g o q u e representou para a sua proprietária. Em entrevista, a Dona Ermelinda relatou-nos que por várias ocasiões passava noites com o equipamento ligado para receber informações de alto-mar. A sua utilização não se resume à preocupação com o bem estar dos pescadores, mas também com questões práticas. Era através destas comunicações que
em terra, as vendedeiras sabiam as quantidades de pescado e a hora de chegada para poderem organizar o seu tempo. servindo-se deste rádio, a Dona Ermelinda organizava os seus horários. Explicou-nos ‘muitas vezes levantava-me às quatro, cinco horas da manhã, deixava as batatas a cozer e ia para o rio lavar, depois regressar a casa, acordar os miúdos e ir para o porto (de pesca) esperar o barco do meu marido [...]’. Assim se reconhece o valor que estes objetos representam para o CIPA. Além de toda a beleza estética que a peça possui, permite-nos transmitir aos visitantes o quotidiano desta povoação, reforçando o compromisso pedagógico do CIPA.
Pedra furada > Furada > Afurada | 28/02 - 30/05 Inaugurada no dia 28 de fevereiro, a mais recente exposição do CIPA, conta com um colectivo de autores que apresenta a sua visão sobre a Afurada. “o nome da exposição remete para a formação do nome da localidade, ou melhor da comunidade, da Afurada. Desde o mito da pedra furada, local que os homens assumiram como lugar d e c u lt o e a o q u a l d i r i g i r a m peregrinações, passando para a Furada e terminando em Afurada. Claro que, como diz o povo ‘quem conta um conto, acrescenta um ponto” A direção da Escola de Artes Plásticas – Utopia.
Tema da próxima edição: Afurada e as suas industrias
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