UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA ISABELLE LAMPE KOWALSKI
ECODESIGN: PROJETO DE PRODUTO FEITO A PARTIR DO RESテ好UO DA PORCELANA
Florianテウpolis 2010
ISABELLE LAMPE KOWALSKI
ECODESIGN: PROJETO DE PRODUTO FEITO A PARTIR DO RESÍDUO DA PORCELANA
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Design da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Design.
Orientador: Prof. Tiago A. da Cruz
Florianópolis 2010
A todos que acreditam que homem e natureza podem conviver de maneira equilibrada e sustentรกvel.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que me guia para a direção certa da vida. Aos meus pais, Sérgio e Heidi, pelo amor, apoio e dedicação na minha formação. Às minhas irmãs, Priscila e Caroline, pelo apoio e convivência. Ao Rafael Rodriguez, pessoa especial que apóia e valoriza o meu trabalho. Aos professores que contribuíram para a minha formação acadêmica, em especial ao meu orientador, Tiago A. da Cruz, que me auxiliou para que o projeto se concretizasse. Aos professores Cesar P. Azevedo, Célio Teodorico dos Santos e Isabela Sielski, que ajudaram na elaboração de testes e protótipos. Aos meus amigos da faculdade, que tornaram a jornada acadêmica bem divertida. E a todos que colaboraram para a realização do trabalho: amigos, especialistas, professores e funcionários da universidade.
“... Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram e, quando chegar a vez de morrerem, possam morrer felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas sim fizeram o melhor que puderam...” (Baden-Powell, fundador do Escotismo).
RESUMO
Este Trabalho de Conclusão de Curso apresenta o desenvolvimento de um produto feito a partir de resíduo industrial de porcelana, da fábrica Porcelana Schmidt, localizada em Pomerode, SC. O projeto é orientado pelos conceitos de Ecodesign e Design para a Sustentabilidade. O trabalho apresenta a realização de testes com os resíduos para a escolha de um material que possa compor o objeto, além de uma pesquisa de mercado e de concorrentes. O produto desenvolvido é um porta-velas, feito a partir de cacos de porcelana e resina. Tem caráter comercial, utilitário e decorativo, possui conceito de objeto simples, funcional e modular, é viável comercialmente.
Palavras-chave: Ecodesign. Resíduo. Porcelana. Sustentabilidade. Schmidt. Portavela.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Etapas da metodologia. ............................................................................ 22 Figura 2 – Metaprojeto e projeto no processo de design. ......................................... 23 Figura 3 – Ventilador Spirit. ....................................................................................... 28 Figura 4 – Ecoconcepção. ......................................................................................... 30 Figura 5 – Pisa-livros e cabos de talheres feitos com resto de couro. ...................... 38 Figura 6 – Cerâmicas cunani, encontradas por Emílio Goeldi................................... 41 Figura 7 – Fluxograma do processo de fabricação da porcelana. ............................. 47 Figura 8 – Coleção Schmidt Plus. ............................................................................. 52 Figura 9 – Coleção Schmidt Gold. ............................................................................. 52 Figura 10 – Coleção Schmidt Prática. ....................................................................... 53 Figura 11 – Coleção Schmidt Classic. ....................................................................... 53 Figura 12 – Coleção Schmidt Trend. ......................................................................... 54 Figura 13 – Coleção Schmidt Styllo. ......................................................................... 54 Figura 14 – Coleção Schmidt Figuras. ...................................................................... 55 Figura 15 – Coleção Schmidt Mesa Brasileira........................................................... 55 Figura 16 – Coleção Schmidt Porcelana Branca. ...................................................... 56 Figura 17 – Coleção Schmidt Colours. ...................................................................... 56 Figura 18 – Coleção Schmidt Duo............................................................................. 57 Figura 19 – Coleção Schmidt Xícaras Pampa. .......................................................... 57 Figura 20 – Linha Profissional. .................................................................................. 58 Figura 21 – Principais setores cerâmicos, matérias-primas utilizadas e características do processo de fabricação. ....................................................................................... 59 Figura 22 – Localização das indústrias de cerâmica branca e de revestimento no Sul e Sudeste do Brasil. .................................................................................................. 60 Figura 23 – Publicidade da Oxford Porcelanas. ........................................................ 63 Figura 24 – Produtos Oxford Porcelanas. ................................................................. 63 Figura 25 – Produtos Germer Porcelanas Finas. ...................................................... 64 Figura 26 – Produtos Pozzani. .................................................................................. 65 Figura 27 – Produtos Del Porto. ................................................................................ 67 Figura 28 – Publicidade Del Porto. ............................................................................ 67
Figura 29 – Castiçal Porcelana Schmidt. .................................................................. 72 Figura 30 – Linha do tempo, porta-vela. .................................................................... 75 Figura 31 – Imagens de porta-velas. ......................................................................... 77 Figura 32 – "Double" Candle Holder. ........................................................................ 78 Figura 33 – Advent Candelstick................................................................................. 78 Figura 34 – Candeeiro Jigsaw. .................................................................................. 79 Figura 35 – Porta-vela. .............................................................................................. 79 Figura 36 – Two way candle holder. .......................................................................... 80 Figura 37 – Pino de sustentação para a vela. ........................................................... 80 Figura 38 – Porta-vela. .............................................................................................. 81 Figura 39 – Porta-vela Little Joseph. ......................................................................... 81 Figura 40 – Quarter Candle Holder. .......................................................................... 87 Figura 41 – Ambiente com lareira. ............................................................................ 88 Figura 42 – Taças Attitude. ....................................................................................... 89 Figura 43 – Peça Restart........................................................................................... 90 Figura 44 – Taça Particles......................................................................................... 90 Figura 45 – Relógio feito com células de dinheiro. .................................................... 91 Figura 46 – Luminária de Porcelana e papel reciclado. ............................................ 91 Figura 47 – Objetos de Massimiliano Adami. ............................................................ 92 Figura 48 – Tigelas de porcelana e vidro. ................................................................. 93 Figura 49 – Tipos de iluminação. .............................................................................. 94 Figura 50 – Imagens de Porta-vela. .......................................................................... 95 Figura 51 – Painel estilo de vida. .............................................................................. 98 Figura 52 – Painel expressão do produto. ................................................................. 99 Figura 53 – Painel tema visual. ............................................................................... 100 Figura 54 – Depósito do primeiro resíduo, massa pastosa. .................................... 104 Figura 55 – Depósito de cacos de biscoito. ............................................................. 104 Figura 56 – Cacos de porcelana. ............................................................................ 105 Figura 57 – Quebrando a porcelana........................................................................ 106 Figura 58 – Materiais para quebrar e separar os cacos. ......................................... 106 Figura 59 – Peneirando os cacos. ........................................................................... 107 Figura 60 – Aplicação do verniz sobre os cacos. .................................................... 108 Figura 61 – Amostra com cacos de biscoito, verniz e corante em pó. .................... 109 Figura 62 – Resultado da amostra A. ...................................................................... 109
Figura 63 – Amostra B. ........................................................................................... 110 Figura 64 – Resultado da Amostra B. ..................................................................... 110 Figura 65 – Amostra C. ........................................................................................... 111 Figura 66 – Amostra C. ........................................................................................... 111 Figura 67 – Amostra D. ........................................................................................... 112 Figura 68 – Resultados da amostra D. .................................................................... 113 Figura 69 – Amostra resina e cacos. ....................................................................... 114 Figura 70 – Geração de alternativas. ...................................................................... 115 Figura 71 – Geração de alternativas 2. ................................................................... 116 Figura 72 – Modelos em Poliuretano e massinha. .................................................. 117 Figura 73 – Alternativas “infinito”. ............................................................................ 118 Figura 74 – Modelo B. ............................................................................................. 119 Figura 75 – Modelo C. ............................................................................................. 120 Figura 76 – Molde e contramolde. ........................................................................... 121 Figura 77 – Molde da alternativa B.......................................................................... 121 Figura 78 – Mudança da posição dos orifícios. ....................................................... 122 Figura 79 – Desenho da peça em diferentes posições de uso. ............................... 122 Figura 80 – Detalhe das arestas. ............................................................................ 123 Figura 81 – Velas. ................................................................................................... 124 Figura 82 – Velas para castiçal. .............................................................................. 125 Figura 83 – Velas Flutuantes................................................................................... 125 Figura 84 – Desenho técnico................................................................................... 126 Figura 85 – Confecção do Mock-up. ....................................................................... 128 Figura 86 – Preparo do Molde 1. ............................................................................. 129 Figura 87 – Preparo da resina. ................................................................................ 130 Figura 88 – Imagens do teste do material. .............................................................. 131 Figura 89 – Molde e contramolde. ........................................................................... 132 Figura 90 – Preparo da peça em resina. ................................................................. 132 Figura 91 – Porta-vela em uso. ............................................................................... 133 Figura 92 – Teste com os materiais. ....................................................................... 134 Figura 93 – Teste com resina colorida. ................................................................... 134 Figura 94 – Sentido de direção do objeto. ............................................................... 135 Figura 95 – Sentido de direção do objeto, base menor. .......................................... 135 Figura 96 – Velas em uso........................................................................................ 136
Figura 97 – Mesa com o produto em uso. ............................................................... 137 Figura 98 – Velas flutuantes. ................................................................................... 137 Figura 99 – Modelos de uso. ................................................................................... 138 Figura 100 – Maneiras de uso. ................................................................................ 139 Figura 101 – Análise de pegas do objeto. ............................................................... 140 Figura 102 – Embalagem da Linha Schmidt Duo .................................................... 141 Figura 103 – Moinho da empresa, ao fundo da imagem. ........................................ 143 Figura 104 – Logo Porcelana Schmidt .................................................................... 144 Figura 105 – Peça de resina e cacos de resina. ..................................................... 145 Figura 106 – Porta-vela em um dos ambientes de uso. .......................................... 147
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Gráfico realizado com dados da ocasião de compra. ............................. 69 Gráfico 2 – Gráfico pontuação................................................................................... 72
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Estratégias de redução e exemplos. ....................................................... 31 Tabela 2 – Estratégias de extensão de vida. ............................................................ 32 Tabela 3 – Tabela de tempo de decomposição dos materiais jogados nos rios, nos lagos, nas florestas e no mar. ................................................................................... 34 Tabela 4 – Presença do lixo. ..................................................................................... 35 Tabela 5 – Lista dos produtos com sua pontuação. .................................................. 71 Tabela 6 – Matriz de características. ....................................................................... 102
LISTA DE SIGLAS
ABTN – Associação Brasileira de Normas Técnicas IFSC – Instituto Federal de Santa Catarina MDF – Medium Density Fiferbord NBR – Norma Brasileira Regulamentadora TCC – Trabalho de Conclusão de Curso UNISUL – Universidade do Sul de Santa Catarina
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 18 1.1 OBJETIVOS ...................................................................................................... 18 1.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 19 1.1.2 Objetivos Específicos ................................................................................... 19 1.2 JUSTIFICATIVA................................................................................................. 20 1.3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO ............................................................... 20 1.3.1 Metodologia de projeto ................................................................................. 22 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................... 24 2.1 ASPECTOS AMBIENTAIS ................................................................................ 24 2.2 DESIGN ............................................................................................................. 25 2.3 ECODESIGN ..................................................................................................... 27 2.4 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ............................................................ 28 2.5 DESIGN PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL ............................... 29 2.6 PRODUTOS SUSTENTÁVEIS .......................................................................... 30 2.7 RESÍDUO .......................................................................................................... 33 2.7.1 Resíduo industrial ......................................................................................... 37 2.8 CERÂMICA ........................................................................................................ 39 2.8.1 A cerâmica no período industrial................................................................. 42 3 METAPROJETO .................................................................................................. 44 3.1 ENTRADA ......................................................................................................... 44 3.1.1 Briefing........................................................................................................... 44 3.1.2 Análise do problema ..................................................................................... 45 3.1.2.1 Processo de produção .................................................................................. 45 3.1.2.2 Resíduos da indústria Porcelana Schmidt .................................................... 48 3.1.3 Conceito do projeto ...................................................................................... 49 3.2 PESQUISA CONTEXTUAL ............................................................................... 49 3.2.1 Empresa ......................................................................................................... 50 3.2.1.1 História da empresa ...................................................................................... 50 3.2.1.2 Produtos ....................................................................................................... 50 3.2.1.2.1 Linha doméstica ......................................................................................... 51
15 3.2.1.2.2 Coleção Schmidt Plus ................................................................................ 51 3.2.1.2.3 Coleção Schmidt Gold ................................................................................ 52 3.2.1.2.4 Coleção Schmidt Prática ............................................................................ 52 3.2.1.2.5 Coleção Schmidt Classic ............................................................................ 53 3.2.1.2.6 Coleção Schmidt Trend .............................................................................. 53 3.2.1.2.7 Coleção Schmidt Styllo .............................................................................. 54 3.2.1.2.8 Coleção Schmidt Figuras ........................................................................... 54 3.2.1.2.9 Coleção Schmidt Mesa Brasileira............................................................... 55 3.2.1.2.10 Coleção Schmidt Porcelana Branca ....................................................... 55 3.2.1.2.11 Coleção Schmidt Colours ....................................................................... 56 3.2.1.2.12 Coleção Schmidt Duo ............................................................................ 56 3.2.1.2.13 Coleção Schmidt Pampa ........................................................................ 57 3.2.1.2.14 Linha Profissional ................................................................................... 57 3.2.2 Mercado ......................................................................................................... 58 3.2.2.1 Análise do setor ............................................................................................ 58 3.2.2.2 Análise Mercadológica .................................................................................. 61 3.2.2.2.1 Oxford Porcelanas...................................................................................... 61 3.2.2.2.2 Germer ....................................................................................................... 63 3.2.2.2.3 Pozzani ...................................................................................................... 65 3.2.2.2.4 Del Porto .................................................................................................... 66 3.2.2.3 Aplicação de questionário ............................................................................. 68 3.2.2.4 Definição do produto ..................................................................................... 70 3.2.2.5 Diferencial competitivo .................................................................................. 72 3.2.3 Produto .......................................................................................................... 73 3.2.3.1 Análise diacrônica (histórica) ........................................................................ 74 3.2.3.2 Análise sincrônica (concorrentes) ................................................................. 75 3.2.3.3 Análise estrutural (materiais e processos) .................................................... 76 3.2.3.4 Análise morfológica ...................................................................................... 76 3.2.3.5 Análise funcional........................................................................................... 77 3.2.3.6 Mapeamento do ciclo de vida ....................................................................... 82 3.2.4 Usuário ........................................................................................................... 82 3.2.4.1 Pesquisa etnográfica .................................................................................... 83 3.2.4.2 Análise de contextos de uso ......................................................................... 84 3.2.4.3 Análise dos processos de aquisição ............................................................. 84
16 3.2.4.4 Registro das atividades da tarefa ................................................................. 85 3.2.4.5 Fatores ergonômicos básicos ....................................................................... 85 3.3 PESQUISA ABERTA ......................................................................................... 86 3.3.1 Estudo de estímulos ..................................................................................... 86 3.3.2 Escolha de setores de referência ................................................................ 87 3.3.3 Sistemas | cases similares de outros setores ............................................ 88 3.3.3.1 Spal .............................................................................................................. 88 3.3.3.2 Outros objetos .............................................................................................. 91 3.3.4 Possíveis materiais ....................................................................................... 93 3.3.5 Busca de analogias e metáforas .................................................................. 94 3.3.6 Análise de tendências................................................................................... 95 3.3.7 Construção de cenários de projeto ............................................................. 96 4 SÍNTESE .............................................................................................................. 97 4.1 SISTEMATIZAÇÃO ........................................................................................... 97 4.1.1 Painéis visuais .............................................................................................. 97 4.1.1.1 Estilo de vida ................................................................................................ 97 4.1.1.2 Expressão do produto ................................................................................... 98 4.1.1.3 Tema visual .................................................................................................. 99 4.1.2 Ênfase projetual .......................................................................................... 100 4.1.2.1 Design para sustentabilidade...................................................................... 101 4.1.3 Conceito de design ..................................................................................... 101 5 PROJETO .......................................................................................................... 103 5.1 GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS ..................................................................... 103 5.1.1 Testes dos materiais ................................................................................... 103 5.1.1.1 Preparação dos cacos de porcelana .......................................................... 105 5.1.1.2 Testes com a utilização de forno ................................................................ 107 5.1.1.3 Testes sem o uso do forno ......................................................................... 113 5.1.2 Roughs, sketchs.......................................................................................... 115 5.1.3 Modelos de estudo ...................................................................................... 117 5.1.4 Escolha da alternativa ................................................................................ 120 5.2 FINALIZAÇÃO ................................................................................................. 123 5.2.1 Detalhamento .............................................................................................. 123 5.2.2 Desenho técnico.......................................................................................... 126 5.2.3 Prototipagem ............................................................................................... 127
17 5.2.3.1 Confecção do Mock-up ............................................................................... 127 5.2.3.2 Confecção do Molde ................................................................................... 128 5.2.4 Memorial descritivo..................................................................................... 134 5.2.4.1 Função estético-formal ............................................................................... 135 5.2.4.2 Função simbólica ........................................................................................ 136 5.2.4.3 Função de uso ............................................................................................ 138 5.2.4.4 Função ergonômica .................................................................................... 139 5.2.4.5 Função técnica ........................................................................................... 140 5.2.4.5.1 Sistema construtivo .................................................................................. 141 5.2.4.5.2 Materiais ................................................................................................... 141 5.2.4.5.3 Processos e fabricação ............................................................................ 142 5.2.4.6 Função informacional ................................................................................. 143 5.2.4.7 Função de marketing .................................................................................. 144 5.2.4.8 Função ecológica ........................................................................................ 144 5.3 AVALIAÇÃO .................................................................................................... 145 5.3.1 Diferencial e inovação ................................................................................ 146 5.3.2 Resultado ..................................................................................................... 146 5.4 CONCLUSÃO .................................................................................................. 147 REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 150 APÊNDICES ........................................................................................................... 156 APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO ........................................................................... 157 APÊNDICE B – MATRIZ PARA SELEÇÃO DO PRODUTO .................................. 158 APÊNDICE C – DESENHO TÉCNICO ................................................................... 159
18 1
INTRODUÇÃO
Os produtos denominados ecologicamente corretos caracterizam uma nova idéia de produtos utilizada pelas empresas. Fabricados a partir de materiais menos poluentes, recicláveis, ou resíduos de outros processos produtivos, contribuem para a sustentabilidade ambiental. Essa linha de produtos atrai o consumidor preocupado com a questão ambiental e oferece às empresas reconhecimento por colaborar nesse aspecto. A indústria Porcelana Schmidt, localizada na cidade de Pomerode, Santa Catarina, produz porcelana fina de mesa para uso domiciliar e empresarial. O diferencial da empresa é o alto padrão de qualidade nos produtos. No processo de fabricação da porcelana, há resíduos, efluentes e emissões que são eliminados. Os resíduos de porcelana eliminados pela indústria são de três tipos: uma massa pastosa, o biscoito e a porcelana; que são destinados a aterros sanitários pagos pela empresa. O presente Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) propõe o uso do resíduo da empresa para a elaboração de um produto, este deverá possuir o mesmo contexto da empresa, podendo ser produzido e comercializado pelos canais de distribuição que possui. Este projeto insere-se em uma das ramificações do design, o ecodesign, cujo objetivo consiste em projetar produtos e serviços seguindo critérios ecológicos. Segundo Manzini (2002, p.17), “ecodesign é um modelo ´projetual´ ou de projeto (design), orientado por critérios ecológicos”.
1.1
OBJETIVOS
O trabalho apresenta um objetivo principal e objetivos específicos que irão delimitar a pesquisa
19 1.1.1 Objetivo Geral
O trabalho tem como objetivo criar um projeto de produto fabricado a partir de um ou mais resíduos industriais produzidos pela indústria Porcelana Schmidt. A empresa poderá ser beneficiada com a proposta de um produto a ser fabricado conforme sua capacidade produtiva e a ser comercializado através dos canais de distribuição que já possui.
1.1.2 Objetivos Específicos
Identificar as possibilidades que os resíduos oferecem para ser transformados em uma nova matéria prima.
Testar materiais e avaliar qualidade, resistência, durabilidade, e aplicabilidade para um produto.
Possibilitar que a empresa entre em um novo mercado, o dos produtos ecologicamente corretos.
Diminuir o impacto ambiental causado com o não reaproveitamento do resíduo.
Avaliar a importância da produção do produto para a empresa.
Analisar ganhos e perdas que a empresa pode adquirir com o produto.
Avaliar a viabilidade econômica do projeto para a aplicação na indústria.
20 1.2
JUSTIFICATIVA
O trabalho permitiu à empresa entrar no mercado de produtos ecologicamente corretos, obtendo, assim, reconhecimento por se preocupar com os resíduos que produz. Por se tratar de um problema real de uma empresa, o trabalho tornou-se valorizado pela possibilidade de aplicação do projeto. Empresa e estudante foram, assim, beneficiados com o trabalho proposto. Por ser um trabalho experimental, os testes para a procura da solução do resíduo permitiram à estudante adquirir e aprofundar os conhecimentos nas áreas de produção, de materiais e de design; além de exercitar os conteúdos adquiridos no decorrer do curso de graduação. A utilização do resíduo de porcelana é pouco explorada, pois a preocupação sócio-ambiental aliada a um rendimento econômico ainda é um conceito pouco compreendido devido à cultura capitalista. Dessa maneira, o produto desenvolvido mostrou a viabilidade dessa aliança.
1.3
PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
A metodologia do projeto iniciou com uma pesquisa bibliográfica nas áreas de ecodesign, resíduos e cerâmica. Ezio Manzini, Victor Papanek são referências na área de ecodesign a serem citadas. Conteúdos sobre porcelana e matérias-primas foram pesquisados em livros do tema, artigos publicados, sites de indústrias, entre outros. Foram realizadas visitas técnicas na indústria para observar o processo de fabricação dos produtos e quais máquinas e ferramentas utilizadas. Além da possibilidade de realizar testes com os materiais na própria indústria, em laboratórios da UNISUL e outras universidades. As visitas foram registradas e transcritas ao TCC (Trabalho de Conclusão de Curso), através de fotografias e desenhos, para melhor compreensão do leitor.
21 Trata-se de um estudo experimental, nele, o estudante interfere e influencia a pesquisa. Assim, foi verificado os efeitos dessa intervenção. Para Fachin (1993, p.47): Denomina-se método experimental aquele em que as variáveis são manipuladas de maneira preestabelecida e seus efeitos suficientemente controlados e conhecidos pelo pesquisador, para observação do estudo.
Realizou-se a pesquisa aplicada, que utiliza o conhecimento de pesquisa básica e a tecnologia para se obter aplicações básicas como produtos ou processos. No desenvolvimento do material, a realização de testes foi essencial para a busca de um material de qualidade para o desenvolvimento do produto. A pesquisa teve caráter exploratório, pois coleta dados e informações sobre os resultados dos materiais testados. A experimentação é o estudo de um fenômeno provocado artificialmente no sentido de verificar uma hipótese. Ao contrário do observador que não deve ter idéias pré-concebidas do fato observado, pois tem um papel passivo no processo, o experimentador vai ser acima de tudo o elemento ativo, isto é, agirá e reagirá ante os fenômenos a serem verificados, conforme a hipótese. (PARRA FILHOS, 2002, p. 69)
As hipóteses para a realização dos testes são a queima para os resíduos eliminados ou a adição a outros materiais. Poderão ser avaliadas sua textura, coloração, porosidade e aplicabilidade para o desenvolvimento do produto Estas pesquisas têm como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Pode-se dizer que estas pesquisas têm como objetivo principal o aprimoramento de idéias ou a descoberta de intuições. Seu planejamento é, portanto, bastante flexível, de modo que possibilite a consideração dos mais variados aspectos relativos ao fato estudado, na maioria dos casos, essas pesquisas envolvem: a) levantamento bibliográfico; b) entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisando; e c) análise de exemplos que “estimulem a compreensão”. (SELLTZ et al. apud GIL, 1991, p. 45)
As amostras para a realização dos testes são os três tipos de resíduos de porcelana já descritos anteriormente. A pesquisa bibliográfica e os testes com os materiais ajudaram a desenvolver o produto seguindo métodos projetuais de design com foco no desenvolvimento sustentável.
22 1.3.1 Metodologia de projeto
As metodologias de projeto de design existentes possuem diferentes caminhos para se chegar a um produto final. Cada uma possui uma abordagem dentro da sua linha de pesquisa. Umas propõem o produto como a solução de problemas, outras estão voltadas para a necessidade do usuário ou do mercado. Bernsen (1995) refere-se ao design como um processo. Iniciando com a definição de um propósito e seguindo através de uma série de questões e respostas para se chegar a uma solução. A metodologia elaborada por Vieira (2009) foi usada neste trabalho, ela é composta por etapas de metodologias com ênfases diversas, propondo um produto orientado para o mercado e centrado no usuário. Possui etapas em que se permite desenvolver o produto de maneira sustentável. Está dividida em três fases: metaprojeto, síntese e projeto, conforme mostra a figura a seguir:
Figura 1 – Etapas da metodologia. Fonte: VIEIRA (2009)
Metaprojeto é a fase em que se detalha o problema de projeto, aprofundando o conhecimento teórico sobre o produto proposto, o mercado, a empresa e o usuário. Síntese é a etapa onde se reúne todas as informações obtidas nas pesquisas. Propõe a criação de painéis visuais, delimita-se a ênfase projetual e o conceito de design.
23 A fase de projeto é a etapa criativa, onde serão realizadas as gerações de alternativas para o produto, escolha da melhor alternativa, detalhamento e testes com modelos. O quadro a seguir mostra todas as etapas e os itens que as caracterizam:
Figura 2 – Metaprojeto e projeto no processo de design. Fonte: VIEIRA (2009)
Como a metodologia pode ser utilizada para projetos diversos, alguns itens não foram realizados devido não se aplicar no projeto em questão ou no presente relatório do projeto foram descritos em conjunto com outro item.
24
2
REVISÃO DE LITERATURA
O trabalho apresenta primeiramente uma revisão bibliográfica sobre os principais
pontos
do
trabalho:
aspectos
ambientais,
design,
ecodesign,
desenvolvimento sustentável, design para o desenvolvimento sustentável, produtos sustentáveis, resíduos e cerâmica.
2.1
ASPECTOS AMBIENTAIS
Os problemas ambientais, decorrentes principalmente da revolução industrial, vêm aumentando gradativamente no mundo. Dentre eles estão: poluição, efeito estufa, esgotamento dos recursos naturais, produção excessiva de lixo, toxinas no ar, água e solo. A revolução industrial iniciou-se na Inglaterra, entre os séculos XIII e XIX. A mecanização da produção gerou aumento de produção e diminuição de custos, tornando os produtos acessíveis a todas as classes da sociedade. (DENIS, 2004). A indústria até então não questionava os efeitos ao meio-ambiente causados pela intensa produção, e se os recursos energéticos e as matérias-primas poderiam se esgotar. Segundo Kazazian (2005, p. 23), “é durante os anos 1970 que o consumo humano de recursos naturais começa a ultrapassar as capacidades biológicas da terra”. Denis (2000, p. 214) completa que “o meio empresarial foi obrigado a reconhecer que as matérias-primas naturais não eram inesgotáveis”. No final da década de 60, vários livros e escritos apareceram relacionando a poluição existente com a aceleração industrial. Os movimentos ambientalistas surgiram em resposta ao ataque ambiental. (DENIS, 2004). Alternativas como reciclar, reutilizar e reduzir surgiram para minimizar esses impactos.
25 Pertier (2009, p.12) afirma que “não é mais tempo de se perguntar o que é preciso fazer, é preciso agir de modo sustentável. Devemos nos comprometer com o bom caminho, evitando cometer os mesmos erros e reinventando o que já foi feito.” Há várias maneiras de reverter esses problemas ambientais. A população pode mudar hábitos que de alguma maneira prejudicam o meio ambiente ou empresas podem criar produtos mais sustentáveis, que necessitam de menos energia para funcionar ou que não se tornam obsoletos de maneira tão rápida.
2.2
DESIGN
Uma das causas dos problemas ambientais terem se intensificado foi a revolução industrial. Todos os objetos passaram por um desenvolvimento, uma evolução durante os séculos, influenciados pela inovação das máquinas, indústrias, comércio, materiais, tecnologia, cultura e moda. Os produtos passaram a representar bens de consumo essenciais para a vida das pessoas. A criação de novos produtos ou serviços depende de uma área chamada design. Design é a área destinada a projetar objetos ou serviços para a solução de problemas. Segundo Löbach (2000, p.16), “o conceito de design compreende a concretização de uma idéia em forma de projetos ou modelos, mediante a construção e configuração resultando em um produto industrial passível de produção em série.” A palavra inglesa design vem do latim disegno que significa designar, indicar, representar, marcar, ordenar. Niemeyer (1997) complementa que design significa projeto, configuração, distinguindo-se da palavra drawing – desenho, representação de formas por meio de linha e sombra. Esta distinção também ocorre no idioma espanhol, diseño para a atividade projetual e tribujo para a realização manual. O design industrial tem o objetivo de criar produtos na escala industrial; forma, função, processos de produção, mercado, lucro, forma de venda são alguns itens analisados na construção de produtos. Conforme afirma Löbach (2000):
26 Design é a ferramenta com a qual se pode contar para a melhoria do padrão de qualidade dos produtos em geral. É no design que todas as qualidades desejadas são planejadas, concebidas, especificadas e determinadas para o produto, amarradas a sua natureza tecnológica e aos demais processos que fazem parte de sua produção.
Um projeto de design passa por várias etapas a fim de solucionar um problema, Bernsen (1995) afirma que design é um processo, iniciado com a definição de um propósito e avançando através de uma série de questões e respostas no sentido de uma solução. Podemos citar varias áreas de atuação do design: produtos, embalagens, gráfico, serviços, moda, interiores, web design, têxtil, softwares, ecodesign. Assim como, Manzini (2002) escreve que o termo design diz respeito ao conjunto de atividades projetuais que compreende desde o projeto territorial, também o projeto gráfico, passando ainda pelo projeto de arquitetura até os bens de consumo. O design faz parte no dia-a-dia das pessoas, interfere no modo como elas vivem. Está presente em pequenos ou grandes objetos; produtos duráveis ou que seguem a moda. Forty (2007, p.12) escreve que: Longe de ser uma atividade artística neutra e inofensiva, o design, por sua própria natureza, provoca efeitos muito mais duradouros do que os produtos efêmeros da mídia porque pode dar formas tangíveis e permanentes às idéias sobre quem somos e como devemos nos comportar.
Além de influenciar o comportamento das pessoas, os produtos podem se tornar obsoletos rapidamente por influência da moda, das novas tecnologias e materiais criados. O consumismo tem se tornado um grande problema na sociedade atual. O consumidor satisfeito é aquele que consegue realizar uma tarefa com tal produto comprado. O design serve para que essa ligação entre produto e ação ocorra.
27 2.3
ECODESIGN
Além do design, há o ecodesign que está inserido nele. Projetar aqueles objetos usados pelos consumidores satisfeitos e que, de alguma forma, não causam tanto impacto ao meio ambiente. O ecodesign é a área do design que em que se projetam produtosserviços fundamentados nas questões ambientais, promovendo o desenvolvimento sustentável e a gestão ambiental. Kazazian (2005, p.36) define o ecodesign como uma ecoconcepção: ...uma abordagem que consiste em reduzir os impactos de um produto, ao mesmo tempo em que conserva sua qualidade de uso (funcionalidade, desempenho), para melhorar a qualidade de vida dos usuários de hoje e de amanhã.
Filksen (1996) apud Borchart et al (2009) define que ecodesign é uma técnica de projeto de produto em que os usuais objetivos de projeto, tais como desempenho, custo da manufatura e confiabilidade, surgem conjuntamente com objetivos ambientais, tais como redução de riscos ambientais, redução do uso de recursos naturais, aumento da eficiência energética e da reciclagem. Um exemplo de produto de ecodesign é o ventilador Spirit, objeto que possui somente duas pás foi inspirado na hélice dos aviões e tem a finalidade de aproveitar o máximo da aerodinâmica. O modelo é composto de quatro peças injetadas em policarbonato, a maioria dos ventiladores possui sete peças. O desenho permite um desempenho de 30% superior a média, com ótima resistência e permite integração com o lustre (acessório opcional). Os outros ventiladores possuem três ou mais pás de madeira e a carcaça de ferro, o que gera baixa ventilação e um aumento no rendimento, pelo material não ser leve. Material resistente, alto rendimento, facilidade em montar, facilidade de produção em série tornam o ventilador Spirit (ver figura 3) um ótimo exemplo de um projeto de ecodesign.
28
Figura 3 – Ventilador Spirit. Fonte: Rede Design Brasil (2010).
2.4
DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O desenvolvimento sustentável surge como alternativa para se conciliar desenvolvimento econômico e social da população com preservação do meio ambiente. Manzini (2002) cita alguns requisitos para que essa mudança ocorra: dar preferência ao uso de recursos renováveis; otimizar o emprego de recursos não renováveis, não acumular lixo em lugares que o ecossistema não seja capaz de renaturalizar (fazer retornar às substancias minerais
e concentrações originais);
permitir que todos os indivíduos possam respeitar os limites de seu espaço ambiental. Conforme Manzini (2002) a mudança para uma sociedade sustentável, em que seja possível viver melhor consumindo e produzindo menos, já começou. Essa transição será um grande processo de inovação social, cultural, e tecnológica que dependerá de todos os setores da sociedade, sendo ela rica ou pobre. A promoção do desenvolvimento sustentável cabe a qualquer área de atuação profissional. Bonsiepe (1997, p.90) afirma que: Hoje, nenhuma profissão pode ignorar os seguintes problemas: poluição, exploração de recursos naturais, crescimento da população, proteção das
29 espécies, perturbação do equilíbrio ecológico, efeitos da própria atuação profissional sobre o meio ambiente.
Para Papanek (1995) a ecologia e o equilíbrio ambiental estão ligados à vida humana na terra, o desenvolvimento de produtos, utensílios, máquinas influencia direta e profundamente sobre a ecologia. A resposta do design deve ser positiva e unificadora; deve ser a ponte entre as necessidades humanas, a cultura e a ecologia. Os danos ao ambiente podem acontecer em diversas fases de um produto: desde a escolha dos materiais, os processos de fabricação, a embalagem, o próprio produto, seu transporte, e seu descarte. A nossa contribuição para a melhoria do meio ambiente pode ser feita enquanto
designer,
projetando
produtos/serviços
sustentáveis
ou
enquanto
consumidor, comprando e consumindo de maneira consciente. Conforme Papanek (1995, p.160) diz: As eventuais conseqüências daquilo que inventamos, projetamos, fazemos, compramos e usamos resultam todas na diminuição dos recursos, nos fatores de poluição e no aquecimento global do planeta.
2.5
DESIGN PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
O desenvolvimento de produtos sustentáveis avalia os possíveis impactos ambientais que o produto pode causar e busca minimizá-los. Segundo Manzini (2002, p. 23): Propor o desenvolvimento do design para a sustentabilidade significa, portanto, promover a capacidade do sistema produtivo de responder à procura social de bem-estar utilizando uma quantidade de recursos ambientais drasticamente inferior aos níveis atualmente praticados.
Manzini (2007) cita onde o design para o desenvolvimento sustentável pode atuar: promovendo a qualidade ambiental dos produtos e dos serviços, colaborando com as empresas nas possíveis estratégias de desenvolvimento de produtos eco-eficientes, ou promovendo soluções que tornem um estilo de vida mais sustentável, atuando nas soluções dos problemas da sociedade contemporânea.
30 Alternativas para o desenvolvimento de projetos sustentáveis podem ser embasados nos seguintes itens: projetar o ciclo de vida do produto, minimizar os recursos, escolher recursos e processos de baixo impacto ambiental, otimizar a vida dos produtos, estender a vida dos materiais e facilitar a reciclagem.
2.6
PRODUTOS SUSTENTÁVEIS
A preocupação com o desenvolvimento e criação de produtos voltados para o desenvolvimento sustentável surge em resposta à demanda de consumidores preocupados e sensibilizados com a questão ambiental. Os produtos sustentáveis são desenvolvidos com o objetivo de gerarem o mínimo de impacto ao meio ambiente durante o seu ciclo de vida. Pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte são fases do ciclo de vida de um produto, caracterizados com a adição e a eliminação de materiais e energia (INPUT e OUTPUT). O quadro a seguir, feito por Kazazian (2005), mostra algumas mudanças que podem ser feitas durante as etapas do ciclo de vida para que o produto se torne sustentável:
Figura 4 – Ecoconcepção. Fonte: Kazazian (2005).
31
Os produtos sustentáveis podem seguir estratégias de redução e/ou de extensão de vida do produto. O designer é o principal responsável pela concepção de novos produtos. Ao projetar produtos sustentáveis, o designer deve primeiramente identificar os possíveis impactos que o produto pode gerar e avaliar os custos sociais, ambientais e econômicos para depois definir as estratégias projetuais. O quadro a seguir mostra alguns exemplos de como o produto pode reduzir os impactos ambientais e como prolongar o seu ciclo de vida: Tabela 1 – Estratégias de redução e exemplos.
Fonte: Ramos (2001).
32 Tabela 2 – Estratégias de extensão de vida.
Fonte: Ramos (2001).
Sobre a relação entre o ecodesign e as empresas, Kazazian (2005, p.36) afirma que: As empresas encontram na ecologia um fator de inovações que as ajudam a reposicionar suas estratégias, às quais associam o respeito pelo meio ambiente. Assim, o ecodesign representa uma oportunidade para o desenvolvimento de uma nova oferta, que, finalmente, constituirá talvez uma vantagem concorrencial.
Uma grande tendência de mercado é a adoção de uma postura mais sustentável nas empresas, através do: desenvolvimento de produtos / serviços, forma de produção, redução das emissões de poluentes, redução do consumo de recursos energéticos. Para Vercalsteren (2001) apud Borchart et al (2009), empresas consideram o ecodesign como um meio para preservar não apenas o ambiente, mas também a competitividade e a imagem pública. O desenvolvimento de produtos sustentáveis exige um maior investimento em pesquisas de materiais, produtos, mercados, tecnologia. Podendo assim, possuir um valor agregado maior e se destacar entre os concorrentes. Kazazian (2005)
33 escreve que a exigência ambiental estimula a criatividade e pode originar maiores evoluções nos produtos, funções, materiais, tecnologias e usos.
2.7
RESÍDUO
Uma das estratégias utilizadas no ecodesign é a redução de resíduos, como mostra a tabela 1, podem-se utilizar materiais recicláveis, não-tóxicos, provenientes de fontes abundantes. O projeto estuda a possibilidade de utilizar o resíduo industrial da porcelana que não é aproveitado pela indústria. Diminuindo, assim, o impacto ambiental. Serão explanados, nesse capítulo, alguns dos resíduos existentes em nosso meio e sua destinação. Os produtos que consumimos podem ser divididos em bens de consumo e bens duráveis. Bens de consumo são produtos que possuem um único uso, seu impacto maior é durante a fase de produção e eliminação, exemplos: alimentos, jornais, embalagens. Bens duráveis podem ser utilizados mais de uma vez, necessitam de recursos (energia e materiais) para que seu funcionamento ou limpeza ocorra, como por exemplo: roupas, eletrodomésticos, móveis. Quando tais produtos não estão mais em uso, são jogados fora, transformando-se em resíduos, popularmente chamado de lixo. Os materiais passam pela decomposição, processo natural de reutilização da matéria. O tempo de decomposição varia para cada material, e depende também do local depositado (solo, mar) e das temperaturas do ambiente. A natureza é eficiente na decomposição dos materiais, mas o homem tem criado materiais que podem levar centenas a milhares de anos para se decomporem, como o metal, vidro, plástico. A tabela elaborada por Ziraldo em conjunto com a revista Náutica, relaciona o tempo estimado de decomposição desses materiais jogados em rios, lagos, florestas e mar:
34 Tabela 3 – Tabela de tempo de decomposição dos materiais jogados nos rios, nos lagos, nas florestas e no mar.
Fonte: Náutica (2008).
O lixo orgânico caracteriza-se por ser de material natural, biodegradável, pode ser decomposto por microorganismos. E o lixo inorgânico é todo material não biodegradável, demoram a se decompor na natureza, e, são produzidos pelo homem (como plástico, metal, borracha). Além dessa divisão, os resíduos são classificados de acordo com sua origem: doméstico, hospitalar, industrial e agrícola. O resíduo doméstico é caracterizado por resíduos sólidos: orgânicos e inorgânicos. Essa separação pode ser realizada e encaminhada para coleta seletiva com destino do lixo orgânico para aterros ou compostagem e o lixo inorgânico para a reciclagem. O lixo hospitalar é o resíduo em estado sólido, semi-sólido e líquido que pode estar contaminado ou infectado. Necessita de cuidado especial no acondicionamento, manipulação e disposição final. O resíduo industrial pode ser sólido, liquido e gasoso. O tipo de lixo varia de acordo com a indústria que o produz, pode possuir materiais tóxicos, ou restos de
35 materiais descartados no processo industrial. O destino inadequado desse lixo pode causar a poluição do solo, água e ar. O resíduo agrícola vem de atividades agrícolas e pecuárias. Pode ser caracterizados por restos de embalagens de agrotóxicos, adubos, rações, resto de colheita, dejetos da criação de animais. No Brasil, 52,8% do lixo não recebe tratamento adequado. Segundo o IBGE, 30,5% do volume de lixo coletado em 2000 foi encaminhado para os lixões, e 22,3% para aterros controlados, com altos riscos de contaminação para o homem e para o meio ambiente. A grande quantidade de lixo produzida atualmente é um dos principais problemas que a sociedade enfrenta. Os problemas podem estar relacionados à disponibilidade de espaços para a sua eliminação, contaminação do solo e lençóis freáticos, odores, riscos de explosões e o transporte dos lixos. A tabela a seguir elaborada por Manzini (2002) detalha causas (diretas e indiretas), agentes, impactos e efeitos da presença do lixo na sociedade. Tabela 4 – Presença do lixo.
Fonte: Manzini (2002).
É necessário se pensar desde a produção de lixo até a sua destinação, para haver propostas de diminuição dos impactos ambientais e sociais.
36 A reciclagem é o processo de recuperação que permite que os materiais voltem a sua composição original e possam ser utilizados como matéria-prima de outros produtos. É uma alternativa para diminuir o volume de lixo gerado e minimizar o uso de recursos renováveis. Para que a reciclagem ocorra, o lixo deve ser separado de acordo com seu material: plástico, metal, vidro, papel; essa é a divisão mais utilizada. Os materiais devem estar limpos, pois a presença de sujeira, como restos de alimentos, pode dificultar o processo de reciclagem. Existem cooperativas de catadores de material reciclado que recolhem esse material, separam e vendem para empresas que reciclam. No caso de alguns plásticos e latas de alumínio as embalagens podem ser compactadas para diminuir o tamanho e facilitar o transporte. A compostagem é realizada com resíduos orgânicos de origem vegetal ou animal, exemplos: restos de comida, madeira, folhas, sementes. A decomposição desses materiais é realizada por minhocas, larvas e transformada em adubo orgânico, ideal para a saúde das plantas e solo. Para que ocorra a reciclagem e a compostagem, os resíduos devem ser separados de acordo com seu material: resíduo orgânico, plástico, papel, lata e vidro. A incineração, mais adequada para o lixo hospitalar, transforma o resíduo em material inerte. Reduz o volume do material e o risco de poluição do solo. O procedimento requer o uso de filtros nos incineradores para que os gases nocivos não poluam o ar. Aterros sanitários são grandes terrenos onde o lixo é depositado.É feito de modo que o lixo não tenha contato com o ar e o solo, utiliza-se mantas isolantes, dutos para captação de gases (como gases dióxido de carbono e metano) e sistema para captação do chorume (líquido gerado pela decomposição do lixo, altamente tóxico). O biogás é um biocombustível, produzido a partir da mistura gasosa de metano e dióxido de carbono. A produção do biogás pode ocorrer naturalmente por meio da ação de bactérias em materiais orgânicos (lixo doméstico orgânico, resíduos industriais de origem vegetal, esterco de animal).
37 2.7.1 Resíduo industrial
Nas indústrias, durante o processo de produção, podem ocorrer perdas de material, denominado resíduo industrial ou energia. O resíduo industrial pode vir a causar danos ao meio ambiente quando não é realizado seu destino adequado. Os resíduos podem conter materiais tóxicos que, em contato com a água, o ar e a terra, podem contaminar o meio ambiente e prejudicar os seres-vivos que vivem nele. O resíduo industrial pode estar em estado sólido, líquido ou gasoso. Segundo a NBR 10.004 (Associação Brasileira de Normas Técnicas, 1987) os tipos de resíduos são classificados em: Perigosos – aqueles que possuem algum risco ao meio ambiente ou a saúde humana. Podendo ser: inflamável, corrosivo, radiativo, tóxico ou patogênico. Não-inertes
–
podem
ter
propriedades
como:
combustibilidade,
biodegradabilidade ou solubilidade em água. Inertes – resíduos que não são decompostos facilmente, como é o caso de tijolos, rochas, vidros, certos plásticos e borrachas. O principal destino do resíduo industrial é o aterro sanitário. A indústria alimentícia pode gerar resíduos orgânicos que sejam possíveis de realizar a compostagem ou a fabricação de ração animal. O lixo tóxico de indústrias pode ser incinerado a fim de não contaminar o meio ambiente. Uma das possibilidades de uso desse resíduo é que ele seja reintroduzido no processo de algum produto, como uma nova matéria-prima ou uma nova fonte de energia. Isso faz com que o ciclo de vida dos materiais se estenda, Manzini (2002, p. 211) explica que: “estender a vida dos materiais significa fazê-los viver por mais tempo do que duram os produtos que esses materiais estão compondo.” A utilização do resíduo industrial para formar um novo produto pode reduzir o uso de aterros sanitários, proteger o meio ambiente e a saúde humana, conservar os recursos naturais já que se reduz a necessidade de matérias-primas virgens e do gasto de energia. Os resíduos presentes na indústria de porcelana são resíduos préconsumo, aqueles que foram eliminados no processo de produção. E há a
38 possibilidade de criar algum produto a partir dele, estendendo a vida desse material, e conseqüentemente diminuindo a quantidade de lixo que a empresa produz. No livro Arquitetura e Design, Victor Papanek mostra exemplos de produtos que inventou com a reutilização de restos de couros de uma fábrica da Polônia. Os materiais eram jogados fora por serem relativamente pequenos para a confecção de um produto. O designer estudou a possibilidade de criar algo com o resíduo. Com os pedaços maiores de couro, projetou um “pisa-livros” (conforme mostra a imagem a seguir), ideal para as pessoas que gostam de ler enquanto comem. E ainda aproveitou os pedaços menores para confeccionar cabos para talheres, que poderiam auxiliar pessoas com as mãos deformadas, proporcionando independência e auto-estima. Os produtos além de serem ecológicos, poderiam resolver problemas de desempenho e psicologia.
Figura 5 – Pisa-livros e cabos de talheres feitos com resto de couro. Fonte: Papanek (1995).
39
Assim como os exemplos, existem vários outros produtos no mercado elaborados com algum tipo de resíduo. Os produtos sustentáveis vêm aos poucos ganhando espaço no mercado.
2.8
CERÂMICA
Como o trabalho proposto será desenvolvido a partir de resíduos industriais de porcelana, foi incluído um capítulo sobre o material, cerâmica, para se obter uma melhor compreensão da história, características principais e curiosidades. Segundo Pileggi (1958) a palavra grega cerâmica – “keramos” significa argila, a cerâmica que veio da terra, não é de ninguém, pertence a todos. Durante a história do mundo, os povos criaram objetos cerâmicos. Elementos de decoração, tipos de barros, processos de fabricação, tipos de objetos, cores utilizadas, são analisados em objetos cerâmicos para distinguir os povos que viveram na terra. A cerâmica é o objeto de maior representação da cultura estética do povo que a fabrica. (PILEGGI, 1958). O homem conhece a cerâmica desde a pré historia, após a descoberta do fogo. Presume-se que ela foi descoberta por acaso pelo homem ao perceber que certo tipo de terra que estava ao redor do fogo endurecia, e o material não se alterava quando em contato com a água. Logo passou a modelar objetos com essa terra, formando objetos de arte ou de uso doméstico. (PILEGGI, 1958); (GABBAI, 1987).
Outra hipótese seria de um incêndio que havia queimado uma cesta
revestida de barro, transformando-a em um vaso duro e resistente. (CARDOSO, 19-). O historiador Dr. E. F. Brancante apud Pileggi (1958) apresenta um dado curioso: presumindo que a mulher, entretida na criação da prole e da vida em cavernas, teve a iniciativa de fabricar vasilhames de cerâmica indispensáveis à conservação da água e ao resguardo dos alimentos, já que os homens trabalhavam na busca de alimentos. Tais peças apresentavam desenhos, na sua maioria zoomórficos, que revelavam a importância da caça para a sobrevivência, e que continham também um sentimento precoce de decoração.
40 As hipóteses descritas acima são feitas a partir de descobrimentos arqueológicos, pois não há nenhum testemunho escrito sobre a arte da cerâmica. No ocidente, pode-se destacar os povos antigos, antes de Cristo, de Creta, Grécia e Roma. Em Creta surgiu a primeira cerâmica pintada, foram eles que adotaram o torno máquina que gira a peça em torno de um eixo, para a confecção das peças, e, também a invenção de um tipo de esmalte de grande efeito e brilho. (PILEGGI, 1958). As peças gregas possuíam figuras mitológicas e disputas esportivas, feitas em verniz ou relevo, negras ou coloridas intensamente.
E os romanos
possuíam peças muito brilhantes, de coloração vermelha ou preta. (PILEGGI, 1958). No oriente, é a China que possui uma rica história da cerâmica. Durante diversas dinastias não recebia influencia externa, utilizavam costumes e símbolos próprios.Fizeram cerâmicas transparentes, translúcidas, opacas (depois chamadas de porcelana), com a utilização de esmaltes de tons variados. O costume de tomar chá, datado em meados do século VIII, favoreceu a manufatura de xícaras de porcelana translúcida. (PILEGGI, 1958). A verdadeira porcelana se fez cozinhando um mistura de caulim e pedras da china (feldspato especial) a uma temperatura de 1250°C a 1300°C, o resultado foi uma porcelana de aspecto vítreo e mais resistente. (COOPER, 1981). Os indianos utilizavam esmalte colorido para revestir os monumentos, palácios e templos. Sua porcelana possui influência pérsia e são de dois tipos: azul e policrômicas. (PILEGGI, 1958). A cerâmica japonesa foi bastante influenciada pela China, nos elementos decorativos e modos de fabricação. As cerâmicas conhecidas de “Shino”, do século XV a XIX, eram simples e de formas irregulares, mas se destacavam pelo colorido dos vernizes, de tons azul-celeste, castanho e vermelho. (PILEGGI, 1958). Os ladrilhos, esmaltados em cores vivas e variadas, feitos pelos árabes foram a principal influência para o desenvolvimento de azulejos e mosaicos cerâmicos dos povos da península ibérica. (PILEGGI, 1958). Na América, o trabalho com a cerâmica também foi desenvolvido e possuía características dos povos que aqui existiram. Incas, astecas, maias faziam uma cerâmica de rara beleza e com alto grau de civilização. O povo inca possuía peças com perfeita noção de consistência estética e conceito de um povo
41 inteligente, vivo e cheio de estilo artístico Os astecas influenciados pelos maias possuíam peças coloridas. (PILEGGI, 1958). A cerâmica dos primitivos indígenas mexicanos revela conceitos violentos, complexos, místicos. A explicação para tais temas seria a busca de originalidade, uma revolução estética através dos desenhos. Mas depois do século VI as peças passaram a possuir uma atmosfera mais suave. (PILEGGI). No Brasil, as tribos indígenas fabricavam vasilhames em forma de frutos e ídolos, vasos, panelas. Todas as peças apresentam grande semelhança com as da América Central e Antilhas. (PILEGGI, 1958). A cerâmica Marajoara (norte do Brasil) é valiosa pela técnica e perfeição das peças. As decorações, feitas em relevo, possuíam formas geométricas e desenhos lineares. As representações humanas e animais se pareciam com caricaturas, provavelmente retratando a fisionomia das máscaras humanas. Foram encontrados urnas funerárias, vasos, tangas, objetos religiosos, figuras humanas e animais. (CAPUCCI, 1987) A cerâmica de Cunani, região do Amapá, apresenta ornamentação viva e estilizada, com predomínio da cor. A forma dos objetos varia bastante. A decoração era feita em relevo com desenhos em gregas (forma contínua), desenho escalar, quadrículos, em vírgulas e o desenho tri linear. (CAPUCCI, 1987).
Figura 6 – Cerâmicas cunani, encontradas por Emílio Goeldi. Fonte: Goeldi (1900).
42
Entre os gregos, tanto os oleiros quanto os decoradores eram homens. Em tribos do Brasil, como urubu, tribo do Maranhão, a cerâmica é uma tarefa masculina, quando querem fazer cerâmica, isolam-se na floresta para não serem observados. No interior do Brasil, a maioria dos oleiros são homens e cabem às mulheres a decoração.
2.8.1 A cerâmica no período industrial
A história da cerâmica também está ligada à história das indústrias. Antes do século XVIII, a cerâmica era vista como uma arte, depois passou a ser um produto industrial. (GABBAI, 1987). Assim, muitos ceramistas começaram a produzir peças em escala industrial, aprimorando as técnicas, como a substituição de esmaltes pintados à mão por decalques, formas de produção e vendas. A primeira fabrica de porcelana foi aberta em Meissen (Alemanha), no ano de 1907, devido à descoberta de grandes jazidas de caolim. (PADILLA, 1997). Na Europa, principalmente na Inglaterra, a industrialização de artigos de cerâmica aumentou durante o século XVIII devido à popularidade do chá, e também porque a expansão colonial criava mercados além-mar. O chá era servido em jogos de porcelana, o material era adequado para suportar o calor da bebida e facilitar o usuário de manusear. (FORTY, 2007). O costume de beber chá com amigos foi introduzido na corte inglesa pela princesa de Portugal Catarina de Bragança, casada com o inglês Carlos II, em 1662. No inicio do século XIX, o chá da tarde era um evento para todas as classes e idades, onde se reuniam os amigos para conversar e se divertir. (PETTIGREW, 1999) O grande ceramista inglês Josiah Wedwood, aumentou os negócios após vender suas peças por encomenda. Possuía vitrines com amostras dos produtos, catálogos com fotos das peças e tipos de decoração. Assim o cliente podia fazer os pedidos dos produtos direto à fábrica, e Wedwood não tinha o risco de perder dinheiro com produtos fabricados que não eram vendidos. (FORTY, 2007).
43 Durante o período neoclássico, séc. XVIII, as cerâmicas de Wedgwood sofreram influência nas formas e desenhos de decalques utilizados. Artigos ornamentais eram os mais fabricados: vasos, urnas, estatuetas, camafeus, placas de cerâmica, além de louças do dia-a-dia. A forma delicada, com coloração natural, e aparência clássica convincente requeria muitos experimentos e tempo para que a peça pudesse ser criada. Todo esse trabalho de criação de novas técnicas, novos vidrados e biscoitos eram o principal objetivo para Wedgwood. Os seus sócios cuidavam da parte empresarial e comercial do produto, divulgando de forma convincente que as técnicas e os materiais novos continuavam com boa qualidade e tinham referências originais da arte antiga. (FORTY, 2007). No Brasil, o período colonial e imperial foi marcado pela produção de louças de barro, e vasos de olaria. A argila encontrada aqui era abundante e de boa qualidade. Após a abertura dos portos, o comércio marítimo facilitou a importação de porcelanas chinesas, inglesas, francesas e de outros países da Europa. (PILEGGI, 1958); (GABBAI, 1987). Com a vinda dos imigrantes europeus, a indústria de porcelana se desenvolveu. Eles trouxeram a técnica e experiência de trabalhar com o material e aqui encontraram matéria-prima abundante para a sua confecção. (GABBAI, 1987). A indústria de cerâmica no Brasil iniciou no sudeste do país e contou com a ajuda de técnicos italianos. No início foi necessária a importação de alguns tipos de matérias-prima, mas logo foram encontradas jazidas naturais no país. (PILEGGI, 1958). Hoje o país conta com importantes indústrias de cerâmica, nas áreas de revestimentos, tijolos, louça sanitária, isoladores elétricos, louças de porcelana, produzidas para o mercado nacional e internacional.
44
3
METAPROJETO
A primeira etapa do projeto consiste na análise do problema de projeto e realização de todas as pesquisas pertinentes ao problema definido.
3.1
ENTRADA
Entrada é a fase inicial do projeto, é composto por: briefing, análise do problema de projeto, e definição do conceito do projeto.
3.1.1 Briefing
O briefing foi realizado com o objetivo de buscar uma empresa que produza um resíduo industrial que seja possível de ser utilizado para o desenvolvimento de um novo produto. Após o contato com a indústria Porcelana Schmidt, obteve-se os seguintes pontos relevantes ao projeto:
quais são os resíduos que a empresa gera;
qual é o seu descarte;
como é o processo de produção da porcelana.
Avaliou-se o interesse da empresa em produzir um produto com esse material, e já qualificado os tipos de resíduo. Foi questionado se a empresa possuía algum trabalho social ou ambiental. Sobre o primeiro, a empresa não possui nenhum tipo de trabalho social, e na parte ambiental ela possui áreas de reflorestamento, o uso de gás natural e reutilização da água no processo de produção.
45 Um dos requisitos do projeto estabeleceu que o produto venha a ser comercializado pelos canais de distribuição da empresa e produzido por ela.
3.1.2 Análise do problema
O resíduo da indústria Porcelana Schmidt é visto no trabalho como um problema, nessa etapa podemos entender como é o processo de fabricação da porcelana e quais são os resíduos eliminados.
3.1.2.1
Processo de produção
A porcelana é altamente vitrificada, de porosidade nula e, após a sua alta cozedura, fica translúcida. (FRIGOLA, 2002). As matérias-primas utilizadas na fabricação das porcelanas da marca Schmidt são: caulim, areia de quartzo, dolomita, argila, feldspato, talco, alumina, calcita, frita e magnesita. São naturais e encontrados na crosta terrestre, obtidas de diversas regiões do Brasil. Os componentes são misturados à água por meio de um cilindro com seixos, obtendo-se um material chamado barbotina. A massa passa por processos de filtragem para eliminar a água excedente e retirar os elementos metálicos. As massas pastosas são modeladas por meio de tornos e as líquidas, são adicionadas em moldes de gesso. A secagem prévia é realizada antes da queima porque a evaporação rápida da água provoca fendas e deformações, inutilizando as peças. A primeira cozedura chama-se chacotagem e é feita em temperatura reduzida (900ºC), obtendo-se o biscoito. Depois é aplicado o vidrado, superfície que impermeabiliza a peça, criando uma superfície dura, lisa e resistente A segunda queima é realizada a uma temperatura que varia de 1400 ºC a 1500 ºC. Pode haver uma terceira queima dependendo da decoração utilizada. (CARDOSO, [19--]).
46 O fluxograma a seguir mostra o processo de produção completo da porcelana com a identificação dos inputs e output, materiais e energia utilizada no processo (INPUT) e a eliminação de lixos e emissões de poluentes no ar, água e terra (OUTPUT). (MANZINI, 2002).
47
Figura 7 – Fluxograma do processo de fabricação da porcelana. Fonte:
Fluxograma
elaborado
a
partir
dos
sites
<http://www.abceram.org.br/asp/fg05.asp>; <http://www.crq4.org.br/downloads/ceramica.pdf>. Acesso em: 23 jan. 2010.
pesquisados
48 3.1.2.2
Resíduos da indústria Porcelana Schmidt
Os resíduos de porcelana eliminados no processo de produção da indústria Porcelana Schmidt são três: massa pastosa, biscoito (massa base) e porcelana. Há também o descarte de peças refratárias e moldes de gesso. Os três resíduos de porcelana eliminados na produção são inertes ao meio ambiente, os cacos de porcelana ou biscoito não triturados podem rasgar a manta de impermeabilização dos aterros sanitários. A quantidade de material que não é aproveitada pela indústria é significativa e a possibilidade de reutilizar esse material geraria um lucro adicional à empresa, além de diminuir os custos com o descarte. São constantes a adição e remoção de água no processo de fabricação da cerâmica. Toda a água suja eliminada do processo passa por um decantador que separa o liquido do sólido, a marcação A (figura 7) refere-se à massa pastosa eliminada. É o primeiro resíduo eliminado e não pode continuar no processo por conter substâncias que descaracterizam o produto final. Após a primeira queima, as peças, agora chamados de biscoitos, passam por um processo de seleção para verificar trincas, quebras, diferença de coloração e porosidade. Peças que possuem defeitos são eliminadas do processo. O terceiro resíduo é a porcelana, que também é eliminada por conter defeitos de fabricação. Durante o processo das duas queimas, pode acontecer das peças trincarem, quebrarem ou possuírem alguma diferença de porosidade ou coloração. A marcação B e C mostra no fluxograma a etapa que é realizada a seleção e separação das peças defeituosas. A marcação C, localizada em duas vezes no fluxograma, indica que a decoração pode acontecer com ou sem a queima do decalque. Essas peças não podem seguir o processo de produção. Os biscoitos selecionados na marcação B podem ser triturados e reinseridos na composição da massa cerâmica (40%), e o restante é descartado para aterros ou para a utilização de calçamento e nivelamento de terreno.
49 A porcelana branca descartada na marcação C é triturada formando um pó cuja uma pequena parte será reutilizada no processo de fabricação da refratários e o resto descartado para aterros. Os moldes de gesso e as peças refratárias utilizados nos fornos também são descartados. Esses materiais perdem sua qualidade após uma quantidade incerta de queimas feitas e devem serem trocados para não danificarem os produtos. Os gessos são vendidos e os refratários são depositados em aterros. Todos os resíduos são transportados por caminhões. A empresa não possui dados da quantidade de material que é descartado e nem dos gastos com o descarte, transporte e locação de aterros.
3.1.3 Conceito do projeto
O projeto consiste em criar um produto a partir do resíduo da indústria Porcelana Schmidt. Minimizando, assim, os possíveis danos que seriam causados ao meio ambiente e gerando um lucro adicional à empresa. O projeto levará em consideração o mercado que a empresa atual, seus consumidores, seu processo de fabricação e características funcionais e estéticas.
3.2
PESQUISA CONTEXTUAL
Esta é a etapa de pesquisa e coleta de dados, todos relativos ao contexto do projeto. Empresa, produto, usuário e mercado serão pesquisados para a elaboração do trabalho.
50 3.2.1 Empresa
A empresa Porcelana Schmidt foi escolhida por causa da sua fácil localização; de possuir resíduos que poderiam ser mais bem utilizados. A empresa se mostrou aberta para a realização do projeto, e disposta a fornecer os resíduos e conteúdos necessários para a elaboração do projeto.
3.2.1.1
História da empresa
Fritz Erwin Schmidt, após estudar na Alemanha os processos cerâmicos com o grés fino, um tipo de barro cerâmico, fundou a Porcelanas Mauá/SP no ano de 1937. Dois anos mais tarde sairia da empresa e fundaria a Porcelana Schmidt em Pomerode/SC. “Em poucos anos de atividade, a empresa teve acentuado crescimento, motivado pela moderna tecnologia e aumento de sua capacidade produtiva e vendas, já naquele período pós-guerra.” Wikipédia (2010). Em 1972, a empresa Porcelana Schmidt, Pomerode/SC fundiu-se com outras duas empresas de porcelana localizadas em Mauá/SP e Campo Largo/PR. Atualmente, ela é a maior fabricante da América Latina e detém aproximadamente 50% do mercado brasileiro de porcelana fina de mesa.
Possui grande
reconhecimento nacional pelo alto padrão de qualidade nos produtos desenvolvidos.
3.2.1.2
Produtos
Os produtos da Porcelana Schmidt são principalmente louças, com poucas peças decorativas na linha de produção. A linha casa possui grande variedade de produtos destinados ao uso domiciliar; e, a linha hotel possui louças destinadas a hotéis e restaurantes. O público-alvo da empresa é a Classe A e B.
51 A empresa vende para todo o Brasil, e principalmente para o estado de São Paulo, já exportaram para países como Argentina e Itália. O produto que mais vende é a linha Pomerode, contendo xícaras e pratos. O custo é o principal obstáculo para o desenvolvimento de novos produtos. Devem ser feitos os moldes das novas peças e as queimas, necessitando de material e energia, tendo o risco das peças não serem aprovadas pelo cliente. O consumidor procura produtos de louça para presentes de casamento, bodas e uso próprio. A unidade de Pomerode produz cerca de 630.000 peças/mês e a de Campo Largo 800.000 peças/mês. As matérias-primas são transportadas de caminhão das minas até as unidades para a indústria por caminhão e provenientes de diferentes estados brasileiros, como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Ceará.
3.2.1.2.1 Linha doméstica
A linha de porcelana doméstica está classificada em diferentes linhas de produtos, desde o mais sofisticado até os mais simples. Compõem-se de jogos de pratos, xícaras, pires, complementos para a cozinha, ou, de jogos completos de cozinha (açucareiro, bule, cafeteira, leiteira, manteigueira, prato fundo, prato raso, prato raso, prato raso, saladeira, travessa rasa, sopeira, xícara café com pé, pires, xícara chá com pé, pires).
3.2.1.2.2 Coleção Schmidt Plus
São produtos que possuem gravações a ouro, tintas e cores especiais, compõe-se de porcelana nobres e exclusivas.
52
Figura 8 – Coleção Schmidt Plus. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.3 Coleção Schmidt Gold
Linha clássica que permanece sempre atual. As várias linhas que compõem a coleção diferenciam-se nos grafismos utilizados na decoração, além de formatos diferenciados: flores, cores sóbrias, filetes em ouro e prata.
Figura 9 – Coleção Schmidt Gold. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.4 Coleção Schmidt Prática
53 Linha que possibilita o uso diário, resistente ao uso em lava-louças e microondas, mantém a sua decoração intacta.
Figura 10 – Coleção Schmidt Prática. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.5 Coleção Schmidt Classic
Possui jogos com variadas decorações. O diferencial dessa coleção é o preço mais acessível.
Figura 11 – Coleção Schmidt Classic. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.6 Coleção Schmidt Trend
54 Linha que possui referências da moda como cores, grafismos e formatos.
Figura 12 – Coleção Schmidt Trend. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.7 Coleção Schmidt Styllo
Linha que possui peças com grafismos modernos.
Figura 13 – Coleção Schmidt Styllo. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.8 Coleção Schmidt Figuras
55 Linha que possui artigos de decoração, como figuras humanas e animais. E também umas bolas de tamanhos variados. São feitas em porcelana branca sem a aplicação de decalque.
Figura 14 – Coleção Schmidt Figuras. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.9 Coleção Schmidt Mesa Brasileira
Linha que caracteriza alguns pratos da culinária brasileira, como o churrasco e a feijoada.
Figura 15 – Coleção Schmidt Mesa Brasileira. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.10
Coleção Schmidt Porcelana Branca
56 Linha sem decalque, a decoração é feita em auto-relevo na própria porcelana. A linha Pomerode está dentro dessa coleção, é o produto campeão de vendas, referência da marca Schmidt (peça da segunda ilustração).
Figura 16 – Coleção Schmidt Porcelana Branca. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.11
Coleção Schmidt Colours
Linha de xícaras de café com coloração na alça e no interior da peça.
Figura 17 – Coleção Schmidt Colours. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.12
Coleção Schmidt Duo
57 Linha ideal para presentear alguém, contém um jogo com duas ou uma única peça da mesma linha. Xícaras com pires, pratos, tigelas ou travessa.
Figura 18 – Coleção Schmidt Duo. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.13
Coleção Schmidt Pampa
Linha de xícaras de café e pires com desenhos de flores.
Figura 19 – Coleção Schmidt Xícaras Pampa. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.1.2.14
Linha Profissional
58 Linha destinada ao uso profissional, em restaurantes, bares, hotéis. É toda branca, sem a adição de decalques e decoração. Possui formatos variados para cada item da linha. É composta por pratos, pires, travessas, xícaras, canecas, tigelas, potes, bules, jarras, açucareiros, vasos, cinzeiro, manteigueira, cafeteira, leiteira, assadeira, copo para ovo, artigo de decoração.
Figura 20 – Linha Profissional. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
3.2.2 Mercado
A análise do mercado é feita para mostrar como é o mercado que a empresa Porcelana Schmidt está inserida, quais são os seus concorrentes. É nessa etapa também em que foi definido qual o produto a ser elaborado com o resíduo da empresa.
3.2.2.1
Análise do setor
A indústria brasileira de cerâmica brasileira tem se destacado no mercado nacional e internacional devido à abundância de matéria-prima natural encontrada
59 no país, as fontes alternativas de energia e a disponibilidade de tecnologia. Possui participação de 1% no PIB (Produto Interno Bruto). As empresas dos diversos segmentos cerâmicos possuem níveis de qualidade mundial apreciável em relação à quantidade exportada. O setor industrial cerâmico pode ser dividido pela característica da massa base: cerâmica vermelha, cerâmica branca, revestimentos, refratários, isolantes, especiais, cimento e vidro. O quadro a seguir mostra os produtos, matérias-primas, processos de conformação e temperatura utilizada na queima de cada grupo cerâmico:
Figura 21 – Principais setores cerâmicos, matérias-primas utilizadas e características do processo de fabricação. Fonte: Revista Cerâmica Industrial (2010).
A cerâmica branca pode ser dividida em sub-setores: porcelana, grés e faiança. A diferença baseia-se no teor em peso da água absorvida pelo corpo cerâmico, garantindo às peças de porcelana porosidade próxima a zero, peças feitas em grés possuem materiais de baixíssima absorção (0,5% e 3%), e peças de faiança possuem uma porosidade maior (superior a 3%) e são menos resistentes. Até 1999, a indústria de cerâmica de louça de mesa fora bastante afetada devido à abertura de mercado e à política cambial brasileira, o que inviabilizou as
60 exportações e tornava os produtos importados, principalmente os asiáticos, mais baratos. Acarretando o fechamento de algumas indústrias no país e a diminuição da produção em outras. (Associação Brasileira de Cerâmica, 2010). A indústria de cerâmica de mesa é uma das mais tradicionais do país e possui boa aceitação no mercado internacional. Segundo dados de 2003 levantados pela ABC (Associação Brasileira de Cerâmica) hoje o Brasil conta com 200 empresas que produzem louça de mesa, com uma produção de 134.000.000 peças/ano e um faturamento de US$70 milhões. Os principais pólos industriais de cerâmica branca e de revestimentos do sul e sudeste do Brasil estão ilustrados no mapa a seguir. Podemos verificar que as indústrias de porcelana de louça estão localizadas em Porto Alegre (RS), norte de Santa Catarina, Campo Largo (PR), São Paulo e sul de Minas.
Figura 22 – Localização das indústrias de cerâmica branca e de revestimento no Sul e Sudeste do Brasil. Fonte: Revista Cerâmica Industrial (2001).
61
A região Sul e Sudeste são as que mais possuem densidade demográfica, onde possuem maior atividade industrial, melhor infra-estrutura e melhor distribuição de renda. A concentração das industrias de cerâmica nessas regiões facilitam o acesso das matérias-primas, energia, centros de pesquisa, universidade e escolas técnicas. (Associação Brasileira de Cerâmica, 2010). O grupo Schmidt possui unidades nessas regiões, especificamente nos estados de Santa Catarina, Paraná e São Paulo. Além dos pontos citados acima, a localização facilita a distribuição dos produtos a todos os estados brasileiros. Seus produtos possuem grande reconhecimento nacional, principalmente pela qualidade das peças produzidas.
3.2.2.2
Análise Mercadológica
Foi realizada uma pesquisa de mercado entre os principais concorrentes diretos da Porcelana Schmidt. Foram analisados os produtos, foco empresarial, os pontos de vendas, países destinados à exportação, publicidade e responsabilidade com o meio ambiente. As empresas Oxford Porcelanas, Pozzani, Polovi, Delporto são os concorrentes citados pela Porcelana Schmidt que foram pesquisados. Os dados da pesquisa foram retirados de sites das próprias empresas e entrevistas feitas via email ou telefone.
3.2.2.2.1 Oxford Porcelanas
A empresa Oxford, situada na cidade de São Bento do Sul | SC, cria produtos de cerâmica de mesa desde 1953. Este ano a Oxford muda sua marca para Oxford Porcelanas visando conquistar o mercado de porcelanas de mesa doméstica. Com a criação de novos produtos, catálogos e embalagens, a empresa
62 visa oferecer produtos com melhor acabamento, mais resistentes e bonitos. A qualidade nos produtos é o seu principal foco e defende que o preço não é fator determinante de escolha do consumidor. O público-alvo da empresa são mulheres de 18 a 55 anos, os seus produtos agradam todos os estilos. Os produtos de porcelana da empresa são divididos por coleções. Podese separar os produtos por linha branca, decorada e gourmet. Além de peças de porcelana, há produtos para consultórios odontológicos e taças de cristal. O produto principal da empresa é a Linha Quartier, com pratos quadrados brancos ou decorados. Os principais pontos de venda são grandes redes, varejo e lojas de presentes. Atendem todo o Brasil e exportam para mais de 90 países. A porcelana e ultraporcelana é o diferencial competitivo de seus produtos. Toda a linha de porcelana de mesa possui jogos de jantar, café, sushi, bules, travessas, tigelas entre outros objetos. A empresa também trabalha com algumas peças decorativas, como cofres, relógios, porta-guardanapo. A linha Gourmet é direcionada a bares, hotéis e restaurantes, com produtos feitos de ultraporcelana, material que dá mais resistência às peças. A linha odonto possui peças para consultórios odontológicos, como cubas, potes e bandejas, com resistente acabamento, decoração exclusiva e variada. Em diversas ações da empresa, a Oxford pratica o respeito à natureza. A empresa possui áreas de recuperação do meio ambiente, um sistema de tratamento de efluentes, reciclagem da água, destino adequado dos resíduos, uso de embalagens recicláveis e busca de autonomia no suprimento de matérias-primas. Sucata de materiais refratários, gesso, papel, papelão são comercializados para reciclagem, resíduos de cerâmica são colocados em aterros ou aplicados em drenagem. As áreas em que são retiradas as argilas para a confecção dos produtos são localizadas perto da cidade de São Bento do Sul, facilitando e economizando no transporte. A empresa utiliza o gás natural, fonte de energia limpa, na queima dos produtos. O principal meio de divulgação de seus produtos são revistas de moda, casa e decoração, nacionais ou internacionais.
63
Figura 23 – Publicidade da Oxford Porcelanas. Fonte: Oxford (2010).
Figura 24 – Produtos Oxford Porcelanas. Fonte: Oxford (2010).
3.2.2.2.2 Germer
Fundado na cidade de Timbó\SC em 1950 como uma empresa de lançadeiras, peças de teares e máquinas de costura. Passou a produzir porcelanas
64 em 1969, e, anos mais tarde, ao adquirir o controle acionário da Polovi S.A., mudouse para a cidade de Campo Largo, PR, conhecida como “Cidade da Louça”. A empresa Germer vende seus produtos para todo o território nacional, países do MERCOSUL, Estados Unidos e Europa, principalmente Inglaterra, Alemanha, Suíça e Dinamarca. Seus produtos são divididos na linha decorada, branca, linha Chef Gourmet, e, produtos personalizados para indústrias e propagandas publicitárias. A linha Chef Gourmet visa atingir um público novo, os profissionais de gastronomia, que se preocupam com a apresentação dos pratos elaborados. Consiste em peças em miniaturas, com formatos variados, caçarolas e travessas para Buffet, estas, com peças modulares. Enfatizam nas vendas e catálogos que seus produtos são atóxicos, resistentes e possuem absorção de umidade próxima a zero, características ideais para o uso em hospitais e restaurantes. Possuem áreas de reflorestamento para suprir as necessidades de geração de gás, obtido pela combustão da lenha.
Figura 25 – Produtos Germer Porcelanas Finas. Fonte: Germer (2010).
65 3.2.2.2.3 Pozzani
A fábrica Pozzani iniciou em 1932, em Jundiaí / SP, com a produção de velas para filtros cerâmicos. Anos depois, passou a produzir também peças de porcelana. Possui produtos de porcelana de mesa: canecas, xícaras de café, açucareiros, aparelhos de jantar, jarras, bules, e outros. Linha de travessas e assadeiras refratárias. Peças brancas ou coloridas. Com decorações variadas, do clássico ao moderno, e, também possui peças com decorações infantis. Os produtos promocionais e personalizados são feitos para empresas que querem colocar sua publicidade em peças de porcelana, como xícaras, canecas, pratos, e utensílios de uso na empresa. Outro ramo da empresa é a produção de velas cerâmicas e produtos para purificação de água. A empresa vende para todos os estados brasileiros e exporta para mais de 50 países.
Figura 26 – Produtos Pozzani. Fonte: Pozzani (2010).
66 3.2.2.2.4 Del Porto
A empresa Porcelanas Del Porto Ltda surgiu em 2005 com a aquisição das Porcelanas Vista Alegre Brasil localizada na cidade de Eldourado do Sul, região metropolitana de Porto alegre/RS. Produzem porcelanas finas de mesa com qualidade e inovação, resistentes e duráveis. Seus produtos são resultados de uma intensa análise de mercado, e fazem referências às tendências mundiais da moda, design, arquitetura e decoração. A linha de porcelanas é chamada Viva Porcelanas. Possui produtos para os mais variados gostos, com peças sóbrias ou alegres e vibrantes. A maioria dos pratos produzidos são redondos, somente uma linha possui formas orgânicas. A publicidade dos produtos Del Porto é feita através de jornais da região de Porto Alegre (RS) e revistas nacionais especializadas em moda, decoração, culinária e personalidades. Parte do resíduo industrial como o caco cerâmico são reaproveitados na composição da massa cerâmica, a água utilizada é reciclada no processo fabril, e possui um sistema de captação da água da chuva.
67
Figura 27 â&#x20AC;&#x201C; Produtos Del Porto. Fonte: Del Porto (2010).
Figura 28 â&#x20AC;&#x201C; Publicidade Del Porto. Fonte: Del Porto (2010).
68 3.2.2.3
Aplicação de questionário
A aplicação de um questionário (Anexo A) é um meio de visualizar o mercado que o produto está inserido para facilitar a definição do produto a ser desenvolvido, um produto que atende a esse mercado, aos consumidores e a empresa. Foi realizada uma pesquisa em 15 pontos de venda de porcelanas na cidade de Florianópolis para verificar quais os produtos feitos de porcelana que são vendidos, o que é encontrado nas lojas, qual a principal ocasião que o cliente compra um jogo de louça, e se as lojas possuem produtos sustentáveis. A
maioria
das
lojas
pesquisadas
comercializam
presentes para
casamento, objetos de decoração, móveis. Somente duas lojas eram especializadas em ferramentas e objetos para construção, como puxadores de portas. Os produtos encontrados nas lojas eram: jogos completos de louças, louças avulsas, jogos de panela, faqueiros, utensílios de cozinha, potes plásticos, travessas, cristais, lixeiras, artigos para banheiro, artigos de decoração, como vasos, quadros, relógios, porta-retrato, algumas possuíam moveis e cadeiras. Os produtos feitos de porcelana encontrados nas lojas eram: louças em geral, porta-mantimento, artigos para banheiro como saboneteira, pote para escova de dente, pote para sabonete liquido, vasos, petisqueira, castiçal, cinzeiro, portaguardanapo, cofres, relógios, peças decorativas como figuras humanas, animais, vaso, abajur. As marcas brasileiras encontradas foram: Porcelana Schmidt, Viva (Del Porto), Vista Alegre, Germer, Porto Brasil, Cerâmica Scalla, Cerâmica Suka (peças decorativas). Dentre as lojas pesquisadas, 9 delas vendem porcelanas importadas vindas da França, Argentina, Tailândia e principalmente da China. Apenas três lojas foram encontradas louças da Porcelana Schmidt. O consumidor procura louças de porcelana principalmente para presente de casamento, uso próprio, ou outras ocasiões.
69
Gráfico 1 – Gráfico realizado com dados da ocasião de compra. Fonte: Arquivo Pessoal.
Das quinze lojas, dez apontaram que ao comprar um jogo de louça o cliente escolhe outro item na mesma compra. E esse item pode estar relacionado ao jogo de louça, combinando com estilo ou cor. Os produtos citados foram travessa, complementos de porcelana ou cerâmica, jogos americanos, utensílios de cozinha. Os produtos citados por serem os mais trocados pelos clientes foram: cúpula de abajur, porta-retrato, taças, copos, cristais e relógio. Dez lojas citaram ter produtos sustentáveis a venda, sendo eles: pote de plástico utiliza restos de madeira (linha Bio Coza), vasos de vidro reciclado, peças decorativas feitas em alumínio reciclado, bandejas de madeira, puff feitos com garrafa pet, peças decorativas de madeira, móveis de pinus ou madeira de demolição. Das lojas que possuem produtos sustentáveis, quatro citaram que as pessoas procuram pagar a mais por um produto sustentável, e as outras seis falaram que o consumidor procura o produto mais barato e nem liga se é produzido de maneira sustentável. Também foi constatado que o consumidor verifica a qualidade do produto, e paga mais caro por um produto durável, ou que possua um visual agradável.
70 3.2.2.4
Definição do produto
De acordo com a pesquisa feita, foram selecionados alguns objetos para serem analisados e em seguida ser escolhido um para o desenvolvimento do projeto. Foi definido que esse objeto não poderia ser usado em contato direto com o alimento, devido ao material ser desenvolvido a partir de um resíduo e não saber se ele vai ou não contaminar o alimento. Os objetos podem ou não serem usados na mesa junto com a louça. Podem agregar outro material de sustentação ou que necessitem de realizar uma função, como as luminárias necessitam de lâmpadas e componentes elétricos para iluminar. Os itens selecionados foram: descanso de panela, base para copos, porta-vela / castiçal / lamparina, artigos de decoração, luminária, centro de mesa, bandeja, porta-guardanapo (guardanapo de pano), sousplat (prato utilizado debaixo do prato), conjunto para banheiro (saboneteira, pote para escova de dente, pote para sabonete liquido), cofre, caixa, base de abajur, relógio, cinzeiro, portaguardanapo (guardanapo de papel) e vaso. Foi realizada uma matriz para a seleção do produto a ser desenvolvido (anexo B). De acordo com os seguintes critérios:
Quantidade e freqüência que o consumidor utiliza*;
Vendas nas lojas pesquisadas (de decoração);
Freqüência que o consumidor compra;
Necessita de outro componente para funcionar (empresa deve terceirizar, mudar forma de fabricação);
Complexidade no modo de fabricação;
Ciclo de vida do produto*;
Quantidade do item nas lojas pesquisadas;
Necessita de resistência mecânica ou térmica (um estudo aprofundado do material);
Possibilidade de design (criação a partir do resíduo da porcelana)*;
Interesse da empresa em fabricar (encaixa no portfólio da empresa).*
71 Foi estipulado valores para que os critérios de cada item fossem transformados em números e no final serem somados. Os valores foram: 1= Fraco Potencial 3= Médio 5= Alto Potencial Conforme Baxter (1995) a matriz de seleção de oportunidade podem ser ponderadas com pesos, se algum item for mais importante que os outros. Assim, os itens marcados com asterisco (*) possuem peso 2, ou seja, seu resultado é duplicado. Isso porque como o trabalho é um projeto de ecodesign, o ciclo de vida do objeto e a maneira (quantidade) que o usuário utiliza são itens mais importantes. Também são duplicados os valores dos itens: interesse da empresa em produzir e a maior possibilidade de criação a partir do resíduo da porcelana, onde o projeto de design pode ser mais explorado. Podemos visualizar no apêndice B a tabela com os itens e a justificativa de cada nota. A imagem a seguir mostra a lista dos produtos em ordem de pontuação: Tabela 5 – Lista dos produtos com sua pontuação.
Fonte: Arquivo Pessoal.
O gráfico a seguir mostra a linha de pontuação dos dois objetos que receberam maior pontuação entre os 10 critérios analisados.
72 O item escolhido para realizar o projeto foi o porta-vela, possibilitando o estudo de variáveis do objeto como um candeeiro, um castiçal ou um aromatizador. O vaso, item que ficou com a segunda melhor pontuação, é um item que é bastante encontrado no mercado, com muitos modelos, tamanhos e materiais. Essa grande concorrência pode dificultar o projeto.
Gráfico 2 – Gráfico pontuação. Fonte: Arquivo pessoal
3.2.2.5
Diferencial competitivo
Com o porta-velas, a empresa pode conquistar seus clientes com um novo produto. A Porcelanas Schmidt só possui um tipo de porta-velas (figura a seguir) em seu portfólio, e é um objeto que pode ser mais explorado pela empresa.
Figura 29 – Castiçal Porcelana Schmidt. Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
73
É um objeto bastante usado pelo público-alvo da empresa, pode ser adquirido para uso próprio ou como presente para casamento ou datas especiais. Pode ou não ser vendido com as velas, e há a possibilidade da vela ser trocada ou o objeto ser preenchido com mais cera. Garantindo um maior ciclo de vida do produto. O objeto possibilita que a luz seja trabalhada conforme a ocasião que ele é utilizado. O porta-vela é um objeto funcional e decorativo, assim pode decorar mesmo não estando aceso. Um dos diferenciais competitivos do objeto é o material que será utilizado: o resíduo da empresa acrescido ou não de outro material. O projeto permitirá que o objeto obtenha um formato e característica única ao produto, adequando-se a empresa e ao seu público.
3.2.3 Produto
Foi pesquisado sobre a origem da palavra porta-vela, objeto de estudo do projeto, visto que a palavra porta-vela é uma definição popularmente utilizada e não se encontra no dicionário. O dicionário define que castiçal é um utensílio em cuja parte superior há um bocal onde se deposita a vela, já um candelabro é um grande castiçal com ramificações, a cada uma das quais corresponde um foco de luz. As
palavras
castiçal
e
candelabro
remetem
a
objetos antigos,
principalmente na época em que a energia elétrica não existia, e estes objetos eram essenciais para iluminar ambientes. O prefixo “porta” utilizado nas palavras: porta-retrato, porta-malas e portajóias, é definido no dicionário como um elemento designativo de aquilo ou aquele que conduz, reforça ou sustenta. A palavra porta-vela não foi encontrada no dicionário e como já é comumente utilizada com a definição de guardar, acondicionar, ou sustentar uma vela.
74 Como o projeto visiona criar um objeto novo, com uma nova aparência, novo contexto e novo material, foi definido que a melhor palavra a ser utilizada no projeto é aquela comumente conhecida: porta-vela. Além de que a palavra é a utilizada no mercado que define esse objeto. As pesquisas também serão feitas aos objetos similares ao porta-vela: como o candeeiro, que utiliza o álcool como fonte de energia; o castiçal, que permite utilizar velas compridas, ou o aromatizador, que utiliza de aromas para modificar o ambiente. Com as funções de iluminar, aquecer, decorar, perfumar um ambiente.
3.2.3.1
Análise diacrônica (histórica)
O porta-vela foi bastante utilizado nos tempos em que não havia eletricidade, onde as fontes de iluminação eram velas, lamparinas à parafina ou à gás. A primeira lâmpada foi inventada em 1879 por Thomas Edison, mas mesmo assim, após muitas décadas, os castiçais continuavam a ser bastante utilizados. Tambini (1999) descreve que com a popularização da luz elétrica, os castiçais passaram a criar uma atmosfera refinada à mesa de jantar ou foram reservados para propósitos religiosos e cerimoniais. Durante as ultimas décadas, o porta-vela passou a ser utilizado como objeto de decoração, estimulando a criação de novos modelos, com diferentes formatos e com a utilização de materiais inusitados. A imagem a seguir é uma pequena linha do tempo feita com base no livro Design do século (referente ao século XX), de Michael Tambini, com o acréscimo de um exemplo da atualidade.
75
Figura 30 – Linha do tempo, porta-vela. Fonte: Tambini (1999) com modificações.
Pode-se perceber uma evolução na forma, no uso dos materiais e na função dos porta-velas. Um objeto que é bastante utilizado para decorar e modificar ambientes.
3.2.3.2
Análise sincrônica (concorrentes)
Entre os concorrentes da Pocelana Schmidt, nenhum possui porta-vela ou castiçal em sua linha de produtos. No mercado foi percebido uma variedade enorme de modelos de portavelas. Os mais procurados são os feitos de vidro. Há também modelos coloridos ou feitos com mosaico de pedras ou madrepérolas, que destacam em um ambiente.
76 Foram encontrados kits que contêm o porta-vela e as velas, facilitando o consumidor ao comprar o objeto pronto para ser usado. Sendo assim, uma ótima opção para presente.
3.2.3.3
Análise estrutural (materiais e processos)
Os porta-velas podem ser feitos de diferentes materiais: metal (alumínio, prata, fio de cobre, ferro), plástico (resina, acrílico), vidro (reciclado, colorido), madeira, cerâmica, porcelana, mosaico. E diferem o processo de fabricação dependendo de seu material. Podendo ser fundidos, utilizados moldes, soldados, entre outros.
3.2.3.4
Análise morfológica
Quanto ao seu formato, os porta-velas podem ser: planos, redondos, em formato de potes, baixos, altos, pequenos, grandes. O material utilizado pode ser colorido, branco, opaco, transparente, translúcido. A imagem a seguir mostra essa grande variedade de porta-velas existentes no mercado.
77
Figura 31 – Imagens de porta-velas. Fonte: Arquivo Pessoal.
3.2.3.5
Análise funcional
Podem-se citar os tipos de fontes de luz utilizadas em um porta-vela: velas de cera ou álcool (para candeeiro). Utilizam-se velas pequenas, grandes, altas ou baixas, aromáticas, coloridas. Os porta-velas decoram o ambiente durante o dia, e,quando acesos em ambientes escuros, podem mudar completamente a decoração tornando o ambiente aconchegante e romântico. Os objetos podem ser versáteis, que combinam com vários estilos de decorações e são utilizados de maneiras diferentes. A imagem a seguir mostra um castiçal composto de duas peças:
78
Figura 32 – "Double" Candle Holder. Fonte: Emmo Home (2010).
O produto a seguir é composto de quatro peças que podem ser organizadas de diversas maneiras, e as peças juntas formam um cubo simplificando a embalagem.
Figura 33 – Advent Candelstick. Fonte: Form Talk (2010).
A próxima imagem mostra um candeeiro em forma de peça de quebracabeça, que pode ser usado na quantidade que o usuário deseje, compondo uma superfície com os objetos.
79
Figura 34 – Candeeiro Jigsaw. Fonte: Fuat-Luke (2006).
O porta-vela a seguir é composto de três peças que podem ser empilhadas ou usadas separadas.
Figura 35 – Porta-vela. Fonte: Me design Mag (2010).
Assim como, o objeto pode ser projetado para se utilizar diferentes tipos de vela. O designer americano Todd Bracher, projetou um porta-vela que permite utilizar velas de diâmetro maior e velas de diâmetro menor (mais compridas), quando giradas de ponta cabeça.
80
Figura 36 – Two way candle holder. Fonte: Mater Design (2010).
A vela deve ficar fixa no porta-vela que, além de facilitar o transporte, não permitir a queda do objeto aceso. Podemos projetar espaços para possibilitar o encaixe da vela ou a utilização de pinos de sustentação, conforme mostra a ilustração a seguir:
Figura 37 – Pino de sustentação para a vela. Fonte: Emmo Home (2010).
A maneira como o usuário acende a vela também deve ser levada em consideração. Pode-se citar alguns porta-velas com dificuldade em acender a vela: o fósforo não alcança o pavio ou a abertura do porta-vela é pequena. È possível citar um porta-velas projetado para que tal função seja realizada sem problemas: há um pequeno corte na lateral do objeto permitindo que o fósforo passe pela abertura e o usuário consiga acender a vela com mais facilidade.
81
Figura 38 – Porta-vela. Fonte: Me Design Mag (2010).
Há também projetos de porta-velas que quando usados possibilitam uma transformação no objeto. A vela derretida pode fazer parte do objeto.
Figura 39 – Porta-vela Little Joseph. Fonte: Thorsten Vanelten (2010).
Além da decoração, o porta-vela pode permitir uma interação com o usuário, além de funcional.
82 3.2.3.6
Mapeamento do ciclo de vida
O porta-vela pode ser considerado um produto durável. A vela utilizada possui uma vida útil, e pode ser substituída por uma nova quando não acende mais ou seu pavio foi queimado por inteiro. A cera da vela pode ser feita de cera de abelha ou parafina, material derivado do petróleo. É um material que pode ser reutilizado, para reciclar uma vela basta aquecê-la em banho-maria, o material se tornará líquido e poderá ser despejado em uma superfície funda juntamente com um pavio. O porta-vela será elaborado a partir do resíduo da indústria de porcelana, assim pode-se falar que um novo ciclo de vida será criado, pois o material que era descartado se transformará em um novo produto. Pode-se fazer um link com o fluxograma apresentado na página 36, que mostra como é o processo de fabricação da louça de porcelana, os resíduos utilizados serão materiais principais de um novo ciclo de vida.
3.2.4 Usuário
O público-alvo consiste no mesmo da indústria Porcelana Schmidt: em sua maioria mulheres, das classes A e B, que procuram a marca Porcelana Schmidt por causa da qualidade em seus produtos. As peças mais clássicas inseridas na linha branca - Pomerode são as mais procuradas. As novas linhas com formatos e grafismos modernos são mais direcionadas ao público jovem e ligado às tendências da moda. O consumidor adquire o produto para presentear amigos irão casar ou compram para uso pessoal. O público procura praticidade no uso das peças, como aquelas que podem ser usadas em forno de microondas e máquinas de lavar-louças, não danificando as decorações.
83 Também podem ser escolhidas de acordo com a decoração da mesa, peças brancas podem combinar com jogos americanos, porta-guardanapo, vasos. Peças com um tipo de decoração podem ser combinadas com acessórios de cores únicas. O usuário pode utilizar mais de um jogo de louça, variando conforme a ocasião. Mesmo sendo o jogo de louça um produto durável, que deveria ser descartado somente após quebras, foi constatado da pesquisa que alguns usuários trocam suas louças por influencia da moda.
Um novo jogo com formato
diferenciado, como as de formato quadrado, é comprado mesmo não podendo haver necessidade.
3.2.4.1
Pesquisa etnográfica
A pesquisa etnográfica permite estudar a simbologia do objeto em diferentes culturas, e como é essa relação entre usuário e objeto. Com base na antropologia, a cultura das pessoas permite que um objeto tenha significados diferentes para cada povo. Descreve-se nessa etapa algumas simbologias com relação ao porta-vela e à vela. O castiçal, como já foi falado, é um objeto em que as pessoas vêem como uma antiguidade, como a própria palavra remete faz ligação com o passado. Estruturas de ferro com característica pesada que fixam velas compridas e decoram um ambiente mais sombrio. A vela é bastante utilizada em lugares religiosos, como igrejas, santuários, altares. Em diversas religiões ela é utilizada e tem um simbolismo. O uso da vela tem significado que traz alegria e luz à igreja. Na religião católica o tipo da vela e cor utilizada pode simbolizar uma data específicas como é o caso da vela amarela usada durante a semana santa. (KEELER, 2007). A coroa de advento, utilizada em algumas religiões como a católica e luterana, é uma coroa que contém quatro velas, cada uma é acesa nos quatro
84 domingos que antecedem o natal, uma vela a cada domingo, simbolizando o preparo das famílias para o nascimento de Jesus. (ZILLES, 2006). Na religião católica, onde os fiéis se apegam a determinado santo, existe o costume de se acender velas nos altares e perto de imagens de santos, com os pedidos de benção, cura, proteção entre outros. (KEELER, 2007).
3.2.4.2
Análise de contextos de uso
O objeto deve ser de fácil utilização: prático, fácil de manusear, transportar, utilizar, acender a vela, resistente ao calor e a pequenos impactos. Como o público-alvo é caracterizado por pessoas de diferentes idades, elas podem possuir diferentes estilos de decorações em suas casas. Essa variedade de estilo pode definir que o produto seja versátil; sendo assim, preferível projetar um objeto com formas menos arrojadas, com a possibilidade de ser utilizado em vários ambientes e que combinam com o estilo da decoração do local. Deverá ser analisado como será feita a manutenção do objeto: a facilidade na limpeza e a reposição de novas velas ou a possibilidade de acrescentar mais cera no objeto.
3.2.4.3
Análise dos processos de aquisição
Qualquer produto de uma loja pode sofrer interferência quanto ao seu processo de aquisição. Primeiramente podemos citar a localização da loja, se está em um shopping ou é localizada em uma rua, isso acaba influenciando na qualidade do som que a loja possui em seu interior ou no tipo de luz que atuará em sua vitrine. A circulação das pessoas no interior na loja pode ser prevista, por exemplo se o item desejado pelos clientes esteja localizado em um local visível e de
85 fácil acesso. A localização do objeto permite que o cliente caminhe no interior da loja e ao percorrer a loja possa visualizar outros produtos que não conhecia. A loja também pode permitir que o usuário manuseie ou não o produto, se o objeto está ao longe alcance das pessoas ou se está perto. Uma opção para que o porta-vela chame a atenção do cliente é que ele esteja aceso e localizado em uma parte da loja que possua pouca luz, isso permite que o cliente observe como o produto pode ser utilizado. Quanto à embalagem, pode-se analisar como o produto vai ser embalado, se a empresa irá disponibilizar uma embalagem própria ou se a loja deverá se responsabilizar pela embalagem.
3.2.4.4
Registro das atividades da tarefa
O porta-vela permite que a tarefa não seja muito complicada. Apenas ocorre o manuseamento do objeto, posicionando no local desejado, em cima de mesa, banco, cadeira, estante, entre outras superfícies. A ação de acender a vela pode ser feita com o uso de fósforos ou isqueiros. E ao apagar o usuário pode simplesmente assoprar ou colocar algum objeto sobre a chama o qual faça a vela apagar.
3.2.4.5
Fatores ergonômicos básicos
Quanto à função de uso do objeto, o projeto não trará restrições às pessoas que quiserem utilizar o objeto, com isso será levado em consideração as características antropométricas do usuário, idade, experiência anterior, grau de instrução. A segurança do objeto com o usuário é um dos principais fatores ergonômico para um porta-vela, pois o objeto utiliza o fogo em seu uso, assim seu
86 formato não poderá permitir que o objeto caia, tombe, balance. Além de que o usuário deve realizar a tarefa de apagar e acender a vela com segurança. O objeto também não poderá possuir formas pontudas ou elementos que de algum modo possam machucar o usuário. A forma poderá permitir uma facilidade no manuseamento do objeto. No requisito conforto, pode-se observar que o objeto permite tornar o ambiente mais calmo e tranqüilo, portanto não há nenhuma restrição quanto ao objeto contrariar a condição de conforto. O material a ser desenvolvido não poderá se deformar e esquentar quando em contato com o fogo, e também não ser tóxico ou tornar tóxico quando estar próximo de calor. O material também deverá permitir que o objeto seja limpo de alguma forma, ou com água, álcool, detergente.
3.3
PESQUISA ABERTA
A metodologia utilizada possui a fase onde é realizada uma pesquisa aberta, onde fatores e elementos de outras áreas podem servir de suporte para o problema de projeto ser resolvido.
3.3.1 Estudo de estímulos
Pode-se fazer uma ligação com a pesquisa realizada nas lojas na qual o consumidor pode levar outro produto na mesma compra. Mesmo o porta-vela não ter sido citado na pesquisa, é possível relacionar sua compra para presente ou uso próprio. O produto pode ser vendido em peças únicas ou formando um conjunto, além de poder ser vendido junto com a vela.
87 A forma, funcionalidade e vontade de possuir o objeto podem ser motivos para que o consumidor adquira o produto. Também podemos relacionar o estímulo da pessoa querer decorar a casa com outras funções do objeto, uma peça além de decorativa, pode ser utilizada como um jogo que permite a interação entre as pessoas. Os casais podem utilizar o objeto, ao acender velas, e criar um ambiente mais romântico. A versatilidade de um produto também é um fator de decisão de compra, por exemplo, um porta-vela que pode ser mudado o posicionamento da base, transformando o objeto, como mostra a figura abaixo.
Figura 40 – Quarter Candle Holder. Fonte: Emmo Home (2010).
3.3.2 Escolha de setores de referência
Os tipos e formatos de luminárias ou outras fontes de luminosidade poderão auxiliar na elaboração do produto; como as luminárias de luzes difusas, que produzem pouca luminosidade. A lareira, utilizadas em dias frios, é um bom exemplo de um objeto que muda o clima de um ambiente, tanto na temperatura quanto na sensação que pode provocar nas pessoas, como conforto, felicidade, aconchego.
88
Figura 41 – Ambiente com lareira. Fonte: Getty Images (2010).
3.3.3 Sistemas | cases similares de outros setores
A seguir são apresentados alguns produtos de design realizados a partir de resíduos de porcelana e outros materiais. Estes projetos servem como um estudo para as possibilidades do novo material a ser desenvolvido para o porta-vela.
3.3.3.1
Spal
A indústria portuguesa SPAL Porcelanas possui três produtos que são feitos com resíduos da própria empresa. A designer Alda Tomàs desenvolveu as peças para o Remade in Portugal, projeto que incentiva as empresas no desenvolvimento de produtos ecológicos, promovendo a incorporação no seu fabrico de mais de 50% de materiais reciclados.
89 Foi feito um contato com a designer e ela informou sobre a maneira que as peças foram produzidas e as dificuldades encontradas durante os projetos. Ela contou com a ajuda do gabinete de qualidade da fábrica, onde especialistas trabalharam na melhor maneira para desenvolver as peças. O conjunto de taças Attitude foi moldado a partir das lamas produzidas na Estação de Tratamento das Águas (processo de reciclagem de águas da fabrica), da sua composição fazem parte restos de porcelana, gesso, vidrados e água. A designer realizou muitos testes para a escolha da melhor “lama”, que apresentava quantidades diferentes de cada material dependendo do dia em que era recolhida. Essa lama é posta em estado liquido para poder ser moldada e preenchida em moldes. A textura feita no interior da peça é resultante da compressão manual de plástico-bolha sobre a pasta crua. A decoração foi feita com o reaproveitamento de restos de decalques.
Figura 42 – Taças Attitude. Fonte: Arquivo Pessoal.
A peça Restart é o resultado da junção de resíduo de porcelana moída (70%) com resina Epoxi. O objeto é constituído de partículas de outras peças, que ao invés de terem terminado o seu percurso, foram destruídas para se formar um novo material.
90
Figura 43 – Peça Restart. Fonte: Arquivo Pessoal.
A taça Particles é feita a partir do reaproveitamento do refugo de porcelana moído (92%), sinterizado a alta temperatura com adição de frita incolor (vidro moído) que une os cacos entre si.
Figura 44 – Taça Particles. Fonte: Arquivo Pessoal.
91 3.3.3.2
Outros objetos
Podemos citar também outros objetos feitos com materiais reciclados, ou reutilizados. O relógio a seguir foi feito com restos de notas de dinheiro japonês moldados com bio plástico, tipo de resina ecológica.
Figura 45 – Relógio feito com células de dinheiro. Fonte: Emmo Home (2010).
A luminária a seguir foi feita com argila de porcelana e papel reciclado. Durante a queima, o papel reciclado misturado à argila queimou-se e se transformou em partes translúcidas em toda a superfície da peça. As fotos mostram a peça em um ambiente claro e acesa em um ambiente escuro:
Figura 46 – Luminária de Porcelana e papel reciclado. Fonte: Bio Me Life Style (2010).
92 O objeto anterior permite visualizar como um material, o papel, misturado à porcelana e em contato com o calor intenso pode ser transformado, e caracterizar um objeto em sua função e forma. Massimiliano Adami, designer italiano, produziu três tipos de objetos com cacos de cerâmica unidos entre si com resina. As duas primeiras peças são luminárias e a terceira, uma tigela.
Figura 47 – Objetos de Massimiliano Adami. Fonte: Proctor (2009).
As tigelas feitas por Misa Tanaka ganhou o segundo lugar de um prêmio de design no Japão. É um exemplo de produto elaborado com a junção de dois materiais: porcelana e vidro.
93
Figura 48 – Tigelas de porcelana e vidro. Fonte: Daily Tonic (2010).
3.3.4 Possíveis materiais
O primeiro resíduo da indústria, a massa pastosa, poderá ser transformado em um novo material, como foi realizado nas taças Attitude de Alda Tomàs. O biscoito e porcelana poderão ser moídos ou quebrados em pedaços (pequenos ou grandes). E adicionados a diferentes materiais tais como: resina epóxi, resina ecológica (uso de plástico reciclado), massa de porcelana, vidro reciclado, vidro moído, vidrado e outros que podem surgir durante as análises do projeto. As várias combinações de materiais serão posteriormente testados e, assim, definido o melhor material para a realização do porta-vela.
94 3.3.5 Busca de analogias e metáforas
Podemos fazer uma análise com os tipos de luminárias existentes, tipos de luz utilizada. A busca de imagens desses objetos, ou de formas da natureza que iluminem.
Figura 49 – Tipos de iluminação. Fonte: Arquivo pessoal.
Podem-se exemplificar alguns objetos na qual a maneira que a vela derrete provoca sensações diversas nas pessoas ou mudam o ambiente, como mostra a imagem A. Na imagem B pode-se perceber como um ambiente fica iluminado com um porta-vela, onde o ambiente onde a vela está acesa pode mudar completamente, permitindo efeitos diversos. As imagens C e D mostram um mesmo porta-vela feito de porcelana, onde o objeto muda completamente quando ele está em uso (aceso em um ambiente escuro) e em um ambiente iluminado.
95
Figura 50 – Imagens de Porta-vela. Fonte: Arquivo pessoal.
3.3.6 Análise de tendências
Pode-se citar como uma tendência, a mudança do perfil do consumidor; Lewis e Bridges (2004) mostra que o novo consumidor busca autenticidade, envolvese freqüentemente, é independente, individual e bem-informado. Toda essa mudança originou após a Segunda Guerra Mundial, e foi acelerada nos anos recentes com a chegada do e-commerce. O consumo em massa está sendo substituído a uma atitude responsável do consumidor, sem interferência de propagandas e ilusões provocadas pela mídia. (LEWIS; BRIDGES, 2004). Podemos também incluir o crescimento da procura por produtos sustentáveis. As pessoas sentem-se responsáveis pelos impactos ambientais causados por suas ações, consumo, lixo, poluição, e optam por esses produtos buscando amenizar sua parcela de culpa nos impactos. Outra questão que se pode incluir no projeto é o envolvimento do consumidor, que busca investir tempo e atenção em uma compra. (LEWIS;
96 BRIDGES, 2004). Ao ser informado das características de um produto, seu desenvolvimento e modo de fabricação, o consumidor sente-se envolvido com o produto e é incentivado a realizar a compra. Isso poderá ser realizado nos locais de venda, o cliente pode ser informado que o produto foi desenvolvido a partir de um material que antes era descartado.
3.3.7 Construção de cenários de projeto
A elaboração de um cenário onde o produto seja utilizado pode ser um jantar à luz de velas. Normalmente feito por casais apaixonados, o jantar iluminado por velas torna o ambiente aconchegante e romântico. Podemos relacionar esse cenário com as próprias louças que a indústria comercializa. Pode ser usado pelo público-alvo da empresa ou também por homens que organizam esses encontros. Bem como, o produto pode ser usado em outros ambientes da casa, como quartos, banheiros e salas.
97 4
SÍNTESE
Esta é a fase onde é sintetizada toda a pesquisa realizada, identificando os principais pontos a ser utilizado no trabalho.
4.1
SISTEMATIZAÇÃO
É a etapa onde se realiza os painéis visuais, define a ênfase projetual e elabora o conceito do produto.
4.1.1 Painéis visuais
Os painéis visuais, citados por Baxter (1995) foram feitos com base na pesquisa bibliográfica, de mercado e pesquisa do público.
4.1.1.1
Estilo de vida
O painel do estilo de vida mostra pessoas que curtem a natureza, momentos especiais com amigos e pessoas amadas. Apreciam culinária, desde a sua preparação até a disposição na mesa, buscam também a decoração como um elemento principal para expor seus gostos, referencias, intimidade, sendo que os detalhes podem conter a diferença e a harmonia do ambiente. Buscam tranqüilidade, paz, amizades, celebrações. Tudo em completa sintonia e equilíbrio; conseguem transformar pequenos momentos em grandes recordações.
Figura 51 – Painel estilo de vida. Fonte: Arquivo Pessoal.
4.1.1.2
Expressão do produto
A partir do painel de estilo de vida pode-se elaborar o painel de expressão do produto onde podemos mostrar, com imagens, as sensações que o novo produto pode representar. Ecológico, tranqüilo, fresco, clean, amigável, passivo, equilibrado, familiar, aconchegante são palavras que se pode descrever com o painel.
Figura 52 – Painel expressão do produto. Fonte: Arquivo Pessoal.
4.1.1.3
Tema visual
Nesse painel, podemos representar, com formas, objetos, cores, materiais, texturas, todas as sensações propostas no painel anterior. Através dessas imagens podem-se elaborar alternativas para o porta-vela.
Figura 53 – Painel tema visual. Fonte: Arquivo Pessoal.
4.1.2 Ênfase projetual
A ênfase projetual é a área definida pelo designer que sustenta o projeto. Como o trabalho propõe a reutilização de um resíduo, a ênfase utilizada é o design para a sustentabilidade.
4.1.2.1
Design para sustentabilidade
O projeto é baseado principalmente na ênfase do design para a sustentabilidade e eco-design, já citados na parte bibliográfica. O porta-vela será fabricado com um material que seria eliminado, criando um novo ciclo de vida para esse material. Durante a fase de geração de alternativas pode-se levar em conta os objetos que facilitam o transporte, utilizam embalagens já criadas pela empresa ou simplificam as embalagens, reduzem o consumo de energia, água e materiais auxiliares. Quanto à forma, pode-se projetar produtos versáteis, modulares e simplificados, nele o consumidor se sente à vontade com o objeto, e pode utilizá-lo da maneira que desejar. Mesmo o projeto ser realizado a partir de resíduo, pode-se levar em consideração como será realizado sua reciclagem e seu descarte no ambiente. Algumas
estratégias
utilizadas
para
a
elaboração
de
produtos
sustentáveis poderão ser utilizadas, como simplificar a forma, agrupar outras funções, evitar peças de grande dimensionamento Manzini (2002) cita alguns itens que podem ser analisados no projeto de produtos sustentáveis: projetar a durabilidade do produto, facilitar a atualização e adaptabilidade (o objeto pode ser adequar a diferentes tipos de vela), facilitar a manutenção (ser fácil de limpar e de retirar a vela), facilitar o reparo, intensificar o uso do objeto (projetando produtos multifuncionais e com funções integradas).
4.1.3 Conceito de design
Embasado em conceitos de ecodesign, o porta-vela permitirá que o resíduo da empresa volte ao processo de produção da empresa, reduzindo o
consumo de matéria-prima. O objeto permitirá que o usuário crie um ambiente diferente. Com uma forma nova, moderna, o porta-vela poderá ter alguma referencia no passado, no mesmo tempo em que a ação de acender uma vela relembra algo do passado. Foi elaborada uma tabela com características que o produto deverá seguir, esta tem com o objetivo de auxiliar na escolha da melhor alternativa gerada. Tabela 6 – Matriz de características. Muito Pouco Médio Pouco Muito Barato X Caro Agressivo X Passivo Clássico X Atual Clean X Sujo Comum X Exclusivo Decorado X Minimal Delicado X Forte Elegante X Desajeitado Feminino X Masculino Formal X Informal Amigável X Irritante Funcional X Inútil Feito à mão X Prod. Em massa Humorado X Sério Complexo X Simples Maduro X Juvenil Reservado X Extravagante Temporário X Permanente Ecológico X Polui Fonte: Arquivo Pessoal.
O conceito do produto é baseado em toda a pesquisa bibliográfica, de mercado, usuário e objetos existentes. Com isso, o objeto deve conter as características funcionais de um porta-vela, com referências em objetos modernos contrastando com os antigos, utilizando um material ecológico. O objeto tem também por objetivo ser um objeto familiar, que possa ser usado para unir pessoas em momentos agradáveis e de comemoração. Também pode transformar o ambiente em que é utilizado.
103 5
PROJETO
Esta é a etapa criativa, onde as alternativas são geradas por meio de esboços, modelos em escala, e realização dos testes com os materiais. Fase onde também irá ser definido o produto, elaborado o seu mock-up e conclusão do trabalho.
5.1
GERAÇÃO DE ALTERNATIVAS
As alternativas foram elaboradas conforme alguns testes realizados com os materiais, e seguindo o conceito definido na fase anterior. Foram elaborados desenhos a mão livre, modelos de massinha, modelos em Poliuretano em escala reduzida e modelos em software 3D (Solid Works). Foram observados os tipos de velas existentes no mercado, e feita uma pesquisa sobre tipos de encaixes possíveis de serem utilizados.
5.1.1 Testes dos materiais
Os três resíduos da indústria citados no inicio do projeto são: massa pastosa, biscoito e porcelana. O primeiro resíduo, proveniente da decantação da água da empresa, possui diferentes componentes e varia de acordo com o dia em que foi coletado, não havendo uma composição certa para a massa. Não foi utilizado esse material para a realização dos testes devido à necessidade de um estudo aprofundado dos componentes, e de conhecimentos da área de engenharia de materiais ou química para analisar e compor fórmulas para a fabricação de materiais.
104
Figura 54 – Depósito do primeiro resíduo, massa pastosa. Fonte: Arquivo Pessoal.
Após a primeira queima da porcelana, obtêm-se peças em seu tamanho e formato real, chamadas de biscoito. Apresenta coloração rosada, opaca; superfície lisa; e é quebradiça, se aplicado certa força sobre ela. São descartadas se possuem falhas, quebras ou rachaduras.
Figura 55 – Depósito de cacos de biscoito. Fonte: Arquivo Pessoal.
A porcelana, também eliminada por haver imperfeições na peça, é dura, resistente, cortante (devido ao verniz possuir silício, componente do vidro), branca, brilhosa, de superfície lisa; quebra se for aplicada uma força (de um martelo) sobre
105 ela, dependendo da espessura da peça a força deve ser maior. Alguns cacos utilizados nos testes possuem decalques coloridos.
Figura 56 – Cacos de porcelana. Fonte: Arquivo Pessoal.
5.1.1.1
Preparação dos cacos de porcelana
O resíduo da porcelana foi quebrado antes de realizar os testes, transformando-os em cacos de diversas granulações. Para isso foi utilizado os chamados EPI´s, Equipamentos de Proteção Individual, como luvas e óculos. Os cacos de porcelana foram quebrados com o auxílio de um martelo, colocados entre panos para impossibilitar que os cacos voassem após a martelada. A cada martelada o caco cortava o pano, no final da etapa o pano ficou inteiro cortado. Um papelão também foi utilizado sob o pano.
106
Figura 57 – Quebrando a porcelana. Fonte: Arquivo Pessoal.
Foi construído 3 peneiras com o uso de telas de fios de alumínio transados e molduras feitas de MDF. As telas são encontradas no mercado e possuem um número que diferenciam o tamanho da malha, foi utilizada a numeração 4, 6 e 8; possuindo respectivamente 2,5mm, 4mm e 6mm de furo.
Figura 58 – Materiais para quebrar e separar os cacos. Fonte: Arquivo Pessoal.
Os cacos picados foram separados por essas peneiras e colocados em diferentes potes.
107
Figura 59 – Peneirando os cacos. Fonte: Arquivo Pessoal.
5.1.1.2
Testes com a utilização de forno
Foi realizado o primeiro teste com três amostras diferentes, realizados com a supervisão da professora de cerâmica Isabela Sielski, no laboratório do IFSC. Os materiais utilizados para a elaboração dos primeiros testes com a utilização de um forno elétrico foram: - Potes de cerâmica; - Caulim; - Caco do biscoito; - Caco de porcelana; - Caco de vidro verde (garrafa). - Verniz para porcelana (usado na indústria); - Corante em pó para vidro; - Alicate para cortar placas de cerâmica (para trabalhos de mosaico); - Martelo; - Luvas;
108 - Forno elétrico utilizado para trabalhos de vidro e cerâmica. Como superfície para a elaboração dos testes foram utilizados potes de cerâmica com a aplicação de caulim dissolvido na água em toda a superfície da peça com o propósito dos componentes não grudarem na peça. As três peças foram colocadas ao forno a 1100 graus C. As três amostras são compostas de: A) Cacos de biscoito + verniz + corante em pó; B) Cacos de porcelana + verniz; C) Vidro (verde) + caco de porcelana. Na amostra A foram cortado os cacos de biscoito com o uso de um alicate para cerâmica, utilizando pedaços de 5 a 10 mm. Estes foram colocados sobre o molde de cerâmica e adicionados o verniz com o auxílio de um pincel, depois foi adicionado o corante em pó de coloração azul. O verniz demorou alguns minutos para secar. O corante em pó foi adicionado para verificar como seria seu comportamento junto do verniz e caco.
Figura 60 – Aplicação do verniz sobre os cacos. Fonte: Arquivo Pessoal.
109
Figura 61 – Amostra com cacos de biscoito, verniz e corante em pó. Fonte: Arquivo Pessoal.
Após a queima, o verniz secou e grudou os pedaços de biscoito que ficaram grudados também na peça de cerâmica. Dessa maneira, o caulim não deu o resultado esperado. Os pedaços embranqueceram e se tornaram brilhosos, o corante em pó somente coloriu onde foi depositado.
Figura 62 – Resultado da amostra A. Fonte: Arquivo Pessoal.
Na amostra B foram utilizados os cacos de porcelana de diferentes tamanhos. Colocados sobre a peça de cerâmica e adicionado o verniz com o auxílio de um pincel (como na amostra A). Também foram colocados três pedaços de caco de vidro verde para ver como o material se comportaria na amostra.
110
Figura 63 – Amostra B. Fonte: Arquivo Pessoal.
O resultado foi parecido com o obtido na amostra A, o verniz derreteu e agregou os cacos e também ficaram grudados à base de cerâmica. Os pedaços de vidro derreteram e ficaram visíveis (por causa de sua coloração verde). Toda a peça ficou brilhosa, mais intensa que a amostra A.
Figura 64 – Resultado da Amostra B. Fonte: Arquivo Pessoal.
A amostra C é composta de cacos de porcelana de tamanhos irregulares, cacos de biscoito e cacos de vidro verde de garrafa. Todos os materiais foram colocados de maneira irregular na peça de cerâmica.
111
Figura 65 – Amostra C. Fonte: Arquivo Pessoal.
Como resultado desse processo, o vidro derreteu e uniu os cacos, que ficaram entre o vidro e sobre a superfície da peça, possibilitando a identificação dos três materiais. Podemos visualizar, na imagem a seguir, que o vidro ficou com aspecto quebradiço em seu interior, mas com uma superfície lisa. O caulim, colocado na superfície da peça de cerâmica com o propósito de separar os materiais da base não apresentou o efeito desejado, todo vidro acabou grudando na peça de cerâmica.
Figura 66 – Amostra C. Fonte: Arquivo Pessoal.
112
O principal erro deste teste foi o uso do caulim para a separação dos componentes à base de cerâmica. Posteriormente foi realizado outro teste (teste D) com o uso do forno, este no laboratório da Unisul, com o vidro e o caco de porcelana. Desta vez foi utilizada uma camada de gesso em pó como separador, a utilização do gesso foi indicada por Jorge Marinho, vidreiro e dono da Oficina do Vidro localizada no bairro Campeche, em Florianópolis. Foram colocados 35 g de vidro verde e 5 g de porcelana de granulação número 6. Foi programado o forno para que atingisse a temperatura de 750°, e permanecesse durante 20 minutos nessa temperatura. Todo o processo levou cerca de 4 horas, e após o resfriamento do forno deu para abrir e verificar o resultado. Foi constatado que nada ocorreu com o vidro, o que levou a realizar novamente o teste com uma temperatura e tempo maior.
Figura 67 – Amostra D. Fonte: Arquivo Pessoal.
Desta vez o forno foi programado para uma temperatura de 810°, com permanência da temperatura em 30 minutos. O processo de queima levou cerca de 5 horas. O resultado foi que o vidro fundiu, mas não totalmente. O gesso utilizado como separador deu resultado positivo e foi possível retirar a peça de vidro da forma refratária. Podemos visualizar nas imagens a seguir como o vidro e os cacos ficaram, onde a parte inferior da peça ficou brilhosa e a parte superior ficou opaca.
113
Figura 68 – Resultados da amostra D. Fonte: Arquivo Pessoal.
Os testes realizados com o vidro obtiveram resultados positivos para o uso dos dois materiais. As dificuldades encontradas foram: saber a temperatura e o tempo ideal pra fundir o vidro. Para o uso do forno a Unisul só permite que o aluno esteja acompanhado de um funcionário da universidade e que ele seja usado em horário de aula, não sendo possível utilizar em períodos noturnos (depois das 22h). O tempo necessário para a realização de um teste, mais de cinco horas, foi a principal dificuldade em realizar os testes com o forno. Também foi necessário sempre esperar o resfriamento do forno para a retirada das peças, o que era realizado no dia seguinte após a queima. A região de Florianópolis não possui nenhuma loja que oferta materiais para a confecção de peças de cerâmica ou vidro. Isso dificultou o acesso a produtos que poderiam ajudar na elaboração dos testes, como o uso de refratários de cerâmica ou componentes utilizados como separador de moldes, como alumina.
5.1.1.3
Testes sem o uso do forno
Nos testes sem o forno foi utilizado os cacos de porcelana e resina poliéster transparente.
114 Foi confeccionado molduras de 7X7cm de medida interior por 1 cm de altura com um fundo de MDF para a realização dos testes com a resina. Para o primeiro teste foi utilizado 20g de caco peneirado com a tela número 6, (cacos de + ou - 5 mm), 40ml de resina, 24 gotas de catalisador (3% do volume de resina). A resina foi colocada sobre o caco, adicionou-se o catalisador posteriormente e misturou-se. A resina cobriu todos os cacos.
Figura 69 – Amostra resina e cacos. Fonte: Arquivo Pessoal.
A resina demorou alguns dias para secar e conforme foi secando foi possível perceber que a resina não ficou sobre todos os cacos, que foram localizados nos cantos da moldura ficaram sem resina. O aspecto visual ficou bem interessante, a resina transparente permitiu que todos os cacos fossem visualizados dentro da amostra. A demora para a secagem foi devido ao catalisador não ser misturado totalmente com a resina e os cacos. A sugestão feita por Mariangela, funcionária da SOS Design, empresa que vendeu a resina, foi de misturar a resina junto aos cacos para posteriormente colocar o catalisador e adicionar ao recipiente. Esse teste será realizado junto com o molde do objeto. A dificuldade para realizar os testes com a resina foi saber a quantidade de cacos a utilizar e a maneira como a mistura era feita, além do tempo (úmido e frio) não auxiliou na secagem da resina.
115 5.1.2 Roughs, sketchs
Foram elaborados diversos sketchs (esboços) até se chegar a formatos que se adequariam ao uso do produto e a forma de fabricação. Foram desenhadas as diversas posições que o mesmo produto poderia ser usado, com diferentes tipos de velas e os tipos de encaixes que permitissem que o produto fosse modular.
Figura 70 – Geração de alternativas. Fonte: Arquivo Pessoal.
116
Figura 71 – Geração de alternativas 2. Fonte: Arquivo Pessoal.
Nas alternativas foi preferível trabalhar com peças únicas para facilitar a fabricação, necessitando de um molde fácil de ser trabalhado.
117 5.1.3 Modelos de estudo
Foram elaborados alguns modelos em escala reduzida em poliuretano e massinha escolar para uma melhor visualização dos desenhos feitos. Com os modelos também foi utilizado tipos de cortes e encaixes diferentes para uma análise mais detalhada.
Figura 72 – Modelos em Poliuretano e massinha. Fonte: Arquivo Pessoal.
Alguns modelos foram detalhados em software 3D, Solid Works, para uma melhor visualização de tamanho, tipos de corte e encaixes.
118 O modelo A foi elaborado com base do símbolo de infinito, possibilitando o encaixe das peças pelas arestas lateriais, o modelo foi reproduzido em software 3D, Solid Works, e se pode realizar e observar os diversos cortes para a parte superior do produto. O corte deveria permitir que as duas peças se encaixassem (empilhadas) e para utilizar somente um molde na fabricação elas deveriam ser iguais. O formato de gota não possibilitou que as duas peças fossem idênticas, e por isso a alternativa foi eliminada.
Figura 73 – Alternativas “infinito”. Fonte: Arquivo Pessoal.
O modelo B foi elaborado para a execução no material vidro e caco, o molde facilitaria para a colocação dos cacos pela parte superior e em aquecimento no forno o vidro derreteria, unindo com os cacos de porcelana, que formariam o objeto conforme o molde. Os desenhos em 3D (figura 74) facilitaram a visualização das maneiras de uso assim como o uso dos dois tipos de velas.
119
Figura 74 – Modelo B. Fonte: Arquivo Pessoal.
A modelo C (figura 75) foi mais bem detalhada pelo software 3D para uma melhor visualização de tipos de encaixes e maneiras de uso. Este elaborado para a confecção no material: resina + cacos de porcelana, apresentou uma boa forma estética, e diversas possibilidades de uso. A base redonda superior possui abertura para vela pequena (35mm de diâmetro e 15mm de altura) e a base inferior possui abertura para 3 velas redondas finas e compridas (20mm de diâmetro e 200mm de altura), uso como um castiçal. A parte superior do objeto foi modificada para conter três entradas para encaixe assim como três bases superiores, permitindo que o objeto se mantenha estável quando usado de ponta-cabeça (uso do castiçal).
120
Figura 75 – Modelo C. Fonte: Arquivo Pessoal.
5.1.4 Escolha da alternativa
Das alternativas detalhadas no software 3D, os modelos B e C foram os que melhor deram bons resultados estéticos, de uso, de encaixe. Foi discutido como seria o molde para o modelo C e seu formato necessitaria de uma forma bipartida (dois moldes), tendo a divisão na lateral da peça. E se o modelo B fosse realizado em resina também necessitaria de uma forma bipartida, mas seria realizado o molde da peça inteira até a base maior e o contramolde faria a parte convexa (orifício) da base maior, seria mais fácil a reprodução em séria do modelo B. As ilustrações a seguir mostram o molde e contramolde de uma peça feita em vidro, referente ao modelo B.
121
Figura 76 – Molde e contramolde. Fonte: Lefteri (2007).
Figura 77 – Molde da alternativa B. Fonte: Arquivo Pessoal.
Como a alternativa B poderia ser realizada com as duas possibilidades de materiais: resina + caco; e vidro + caco. Os materiais dos moldes seriam diferentes para cada possibilidade, já que a peça de vidro iria ao forno a altas temperaturas. Para o modelo de resina o molde poderia ser feito de silicone; e para o modelo de vidro o molde poderia ser feito de gesso. Para a industrialização da peça em vidro necessitaria de um estudo mais detalhado quando ao uso do gesso para o molde, que ele pudesse ser utilizado várias vezes; e também saber a quantidade de vidro e porcelana a ser usada; alem de que saber a temperatura e o tempo de queima da peça, principal dificuldade encontrada para realizar os testes. Assim foi definido usar o material resina + caco de porcelana para a confecção da peça. A resina não necessita de nenhum equipamento para que a peça seja formada, somente os moldes da peça. Não necessita de nenhuma queima.
122 Para essa alternativa foi mudada a posição dos orifícios para que a vela menor fosse somente usada na base curva, isso possibilitando que a chama da vela menor não ficasse tão próxima à lateral da peça.
Figura 78 – Mudança da posição dos orifícios. Fonte: Arquivo Pessoal.
Após a realização dessa mudança pode-se observar que a superfície curva também possibilitaria o uso de velas flutuantes, aquelas pequenas velas que bóiam em água. A próxima imagem pode-se visualizar as diversas possibilidades de uso do objeto.
Figura 79 – Desenho da peça em diferentes posições de uso. Fonte: Arquivo Pessoal.
123 5.2
FINALIZAÇÃO
A solução proposta é detalhada nesse capítulo e elaborada o mock-up da peça para realizar as análises das funções do produto.
5.2.1 Detalhamento
Foram modificadas algumas medidas do desenho técnico da peça para a execução do mock-up. As arestas superiores e inferiores deveriam ter no mínimo 10 mm de espessura, isso devido aos cacos poderem cobrir toda a superfície do molde; e também não possibilitar a formação de bolhas, o que torna a peça frágil.
Figura 80 – Detalhe das arestas. Fonte: Arquivo Pessoal.
124 As velas possíveis de serem utilizadas seriam velas redondas de:
35 mm de diâmetro por 17 a 40 mm de altura, no mercado elas são chamadas de velas “Rechaud” ou lamparina;
Figura 81 – Velas. Fonte: Blog Alto Astral Presentes (2010).
20 mm de diâmetro por 180 a 300 mm de altura, essas velas tem a característica de serem finas e compridas comumente usadas em castiçais. No mercado são encontrados tamanho diferentes para essas velas, sem uma medida padrão. Foi definido o tamanho de 20 mm para o orifício onde se colocará a vela. Se no caso o usuário possuir uma vela de diâmetro maior ele poderá desgastar a base da vela com o uso de uma faca, e se ele possuir uma vela de diâmetro menor poderá ser colado uma fita adesiva (fita crepe) na base da vela até chegar à espessura do furo.
125
Figura 82 – Velas para castiçal. Fonte: Velas Glimm (2010).
velas flutuantes de tamanho entre 20 mm e 50 mm. No mercado essas velas não possuem formato ou tamanho padrão, podendo ser utilizada mais de uma unidade no porta-vela.
Figura 83 – Velas Flutuantes. Fonte: Cricca, Arte, Beleza e Estilo (2010).
126 5.2.2 Desenho técnico
O produto porta-velas consiste em duas peças de tamanho e formato idênticos detalhadas no desenho técnico. Cada peça possui o tamanho de Ø145X145X75 mm. O desenho técnico a seguir mostra uma das peças e suas medidas, o desenho em escala real encontra-se no apêndice C.
Figura 84 – Desenho técnico. Fonte: Arquivo Pessoal.
127 5.2.3 Prototipagem
A partir do desenho técnico pode-se realizar a execução da peça, primeiro com a confecção de uma peça piloto, mock-up; depois o molde da peça e finalmente o protótipo, peça em tamanho e material igual ao proposto no projeto.
5.2.3.1
Confecção do Mock-up
O mock-up é um modelo em escala natural (1:1), com material diferente do objeto (LIMA, 2006), serve para verificar o dimensionamento da peça; se a localização de orifícios para as velas estão posicionados de maneira correta; além de realizar avaliações ergonômicas do produto. Para a modelagem do mock-up foi utilizado um bloco de poliuretano, material que permite ser usinado, remover material com ferramentas e maquinários de corte. Foram desenhadas no bloco as vistas inferiores e superiores da peça, foi realizado o corte das partes laterais para que a peça se tornasse um cilindro (com a medida da base maior). Para a conformação da lateral da peça foi utilizado um torno elétrico. A peça gira em torno do eixo principal de rotação da máquina, enquanto uma ferramenta é utilizada para desgastar o material, esta necessita que um operador movimente a ferramenta conforme a silhueta da lateral da peça. Os orifícios das partes superiores e inferiores foram utilizados brocas da mesma medida dos orifícios (20 e 35 mm). As concavidades das bases foram desgastadas com o uso de grosa e lixas. A peça foi aplainada com o uso de uma superfície lisa com uma lixa, realizando o movimento retilíneo da peça em sentido horizontal sobre a lixa. Quando a peça está em seu tamanho e formato certo é passado uma camada de massa plástica para cobrir a superfície irregular que compõe material poliuretano. Após a secagem da massa é lixada toda a peça para torná-la lisa e sem
128 irregularidades. Foi necessário passar mais de uma camada de massa e lixar a peça novamente.
Figura 85 – Confecção do Mock-up. Fonte: Arquivo Pessoal.
5.2.3.2
Confecção do Molde
Foram realizados dois moldes para a confecção do protótipo. O primeiro, descrito a seguir, possuiu erros no processo de confecção da peça no material (resina e cacos); já o segundo, foi elaborado para facilitar o processo de fabricação da peça, principalmente na hora da resina e os cacos serem despejados no molde. Os moldes foram feitos de silicone, e foi utilizada a peça piloto confeccionada em poliuretano. O primeiro molde foi feito em uma caixa de MDF com medidas internas de 18,5X18,5cm. A peça foi grudada na base e colocou-se massinha de modelar até 5 mm acima da peça para dividir o molde em duas partes. Foi elaborado um funil com um encaixe de poliuretano no orifício superior da peça para molde possuir uma abertura onde fosse colocada a resina e os cacos. Na superfície da massinha foi
129 feito furos com o uso de uma chave de fenda para que molde e contramolde pudessem ser posicionados de maneira correta. Em toda a superfície do molde (caixa de MDF e peça de poliuretano) foi passada uma cera para que o silicone não grudasse. O silicone foi preparado com o catalisador e despejado no molde até a altura da caixa. Após a secagem do silicone pode-se retirar o molde da caixa de MDF. Para a confecção do contramolde foi colocado o molde dentro da caixa, agora de ponta-cabeça e o mock-up dentro do molde, para que fosse despejado o silicone dentro. Foram realizados dois furos perto do orifício de entrada da resina, chamados de respiro, para que o ar interno pudesse sair e o material preencher toda a superfície do molde. As imagens a seguir mostram todo o processo de confecção do molde.
Figura 86 – Preparo do Molde 1. Fonte: Arquivo Pessoal.
Para realizar a peça de resina e caco foram encaixados molde e contramolde orientados pelos quatro furos feitos.
130 Foi utilizada 600 ml de resina e 400g de cacos de porcelana, de granulação 8. Foi misturada a resina junto aos cacos e adicionado o catalisador para ocorrer o endurecimento da resina. A mistura foi despejada pelo orifício central, e utilizou-se um pedaço de madeira para empurrar os cacos para dentro do molde. O excesso de resina saiu pelo orifício central e respiros. Esperou-se a resina endurecer para que retirasse a peça do molde.
Figura 87 – Preparo da resina. Fonte: Arquivo Pessoal.
Verificou que a quantidade de cacos colocada foi pequena e a resina também foi pouca. Os cacos ficaram até a metade da peça e a resina não conseguiu formar a parte superior do objeto. A parte lateral inferior ficou deformada devido à resina entrar na parte que molde e contramolde se juntavam. Os furos e respiros ficaram também com excesso de resina. A resina não catalisou de modo correto, necessitando de uma quantidade maior de catalisador Deu para perceber como o material se comportou, os cacos se aglomeraram no fundo da peça e a resina em excesso ficou na parte superior. Os cacos ficaram bem juntos, conseguiu-se realizar o efeito estético desejado. O uso dos cacos de porcelana conseguiu aderir bem a resina e não se formou bolhas entre os materiais.
131
Figura 88 – Imagens do teste do material. Fonte: Arquivo Pessoal.
Elaborou-se um segundo molde para facilitar que a resina e os cacos fossem despejados em toda a superfície do molde. Este molde teria toda a base maior aberta para que o contramolde, que seria somente a parte convexa e orifício da vela de 35mm fosse posicionado sobre a resina. Vejamos a figura que explica melhor o molde: Para a confecção do segundo molde utilizou-se a superfície de uma bacia (não necessitando confeccionar uma caixa de MDF), esta foi colada em uma base de MDF e posicionado 4 arames de 5cm na base para formar os furos que guiarão o contramolde em sua posição. Foi posicionada a peça no centro da bacia com a base maior para baixo, foi passada cera em todo o mock-up e arames; e despejado silicone em toda a peça. O contramolde foi feito somente na parte convexa da base maior, utilizando de duas estruturas de arame. Assim, o contramolde é feito de silicone, mas possui as estruturas de arame para poder ser posicionado de maneira correta no molde.
132
Figura 89 – Molde e contramolde. Fonte: Arquivo Pessoal.
Figura 90 – Preparo da peça em resina. Fonte: Arquivo Pessoal.
133
Somente a aresta da base maior necessitará de ser lixada e polida, para retirar o excesso de resina e nivelar a peça. Como esta parte possui somente resina isso auxiliará no processo. A superfície convexa da base maior necessitará de um jato de areia para retirar as bolhas que podem se formar no processo de mistura. E todo o resto da superfície da peça não necessitará de polimento, somente a aplicação de um verniz incolor para tornar a peça uniforme e sem deformações. Podemos ver que o segundo molde facilita o processo de fabricação da peça em larga escala, e somente o processo de cura da resina que demanda tempo. Um molde pode fazer em média 4 peças por hora. Utilizou-se de 250 a 300 ml de resina poliéster junto a 850 a 900g de cacos de porcelana, dos quais 50g são de granulação 6, e a maioria da granulação maior (peneira número 8).
Figura 91 – Porta-vela em uso. Fonte: Arquivo Pessoal.
O excesso da resina catalisada e dos cacos pode ser despejado em um molde menor para formar outro objeto qualquer, como foi realizado na execução do protótipo. Assim, nenhum material é desperdiçado.
134
Figura 92 – Teste com os materiais. Fonte: Arquivo Pessoal.
Foi realizado outro teste com a adição de pigmento verde na resina, o resultado foi positivo e interessante como ficou os cacos entre a parte colorida.
Figura 93 – Teste com resina colorida. Fonte: Arquivo Pessoal.
5.2.4 Memorial descritivo
Os itens a seguir mostram as análises de função do objeto que compõem o memorial descritivo.
135 5.2.4.1
Função estético-formal
O objeto possui linhas orgânicas, as curvas foram escolhidas para dar a sensação de movimento na peça. O objeto é composto de bases redondas, assim como as velas a serem utilizadas. Quando o objeto está posicionado sob a base maior, utilizando a vela de Ø20 mm, a curva lateral do objeto e a vela fazem alongar o objeto (figura 80).
Figura 94 – Sentido de direção do objeto. Fonte: Arquivo Pessoal.
Quando a peça está apoiada pela base menor, as linhas laterais fazem o objeto expandir para os lados (figura 81), por isso o uso de velas pequenas.
Figura 95 – Sentido de direção do objeto, base menor. Fonte: Arquivo Pessoal.
Equilíbrio, harmonia e simetria são as características escolhidas para compor o porta-vela.
136 Pode-se observar após a confecção da peça em resina e cacos, que a aresta da base maior, com maior quantidade de resina, criou o efeito desejado: o de dispersar a luz da vela. Garantindo um destaque maior para os cacos localizados na superfície do objeto.
Figura 96 – Velas em uso. Fonte: Arquivo Pessoal.
5.2.4.2
Função simbólica
O produto em uso permite ao usuário criar um ambiente aconchegante e diferente. Tranqüilidade, paz, equilíbrio e sintonia podem ser transmitidos aos usuários. Transformando os momentos simples em grandes recordações. A peça desperta interesse dos usuários em saber qual material que a compõe e sobre a possibilidade de se transformar resíduos em novos produtos.
137
Figura 97 – Mesa com o produto em uso. Fonte: Arquivo Pessoal.
A imagem a seguir mostra o uso de água e velas flutuantes.
Figura 98 – Velas flutuantes. Fonte: Arquivo Pessoal.
138 5.2.4.3
Função de uso
A principal função de uso do objeto é acondicionar velas. As funções secundárias, conforme Gomes Filho (2006) diz respeito ao detalhamento das maneiras de uso do objeto, podem ser realizado das seguintes maneiras: 1- Encaixe pelas bases menores, uso da vela de Ø35mm ou velas flutuantes e água; 2- Encaixe empilhado para uso da vela de Ø20mm; 3- Uso das duas peças separadas, vela de Ø20mm; 4- Uso das duas peças separadas, vela de Ø35mm ou velas flutuantes e água.
Figura 99 – Modelos de uso. Fonte: Arquivo Pessoal.
Outra função secundária seria o uso do objeto como elemento decorativo de um ambiente, sendo ele estando em uso (aceso) ou não. A versatilidade do produto permite ao usuário utilizá-lo de forma criativa. As imagens a seguir mostram algumas maneiras de uso do produto.
139
Figura 100 – Maneiras de uso. Fonte: Arquivo Pessoal.
Em relação à conservação do produto, foi pensado na distancia da chama da vela até a superfície do objeto, para que este não fosse danificado pelo calor. Trata-se, assim, um produto que proporciona segurança para ser utilizado, além de não possuir faces cortantes. O produto é fácil de ser limpo, podendo ser realizado com sabão e água ou somente um pano úmido. O excesso de cera que pode se aglomerar na superfície pode ser retirado raspando a cera com alguma ponta de metal, como uma chave, mas deve se ter cuidado para não danificar a superfície da peça.
5.2.4.4
Função ergonômica
A função ergonômica e de uso é realizada para questões de pega, manipulação e transporte do objeto. “A ergonomia objetiva sempre a melhor
140 adequação ou adaptação possível do objeto ao seres vivos em geral.” Gomes apud Gomes Filho (2006, p. 71). O objeto porta-velas não possui complexidade em seu uso, suas formas redondas facilitam o manuseio da peça em qualquer posição que estiver as duas bases, podendo ser realizado com uma ou ambas as mãos. As fotos a seguir mostram como o produto pode ser segurado e transportado.
Figura 101 – Análise de pegas do objeto. Fonte: Arquivo Pessoal.
Para que não ocorra nenhum acidente os objetos devem estar apoiados em superfícies planas, e o usuário deve utilizar velas do tamanho certo, de modo que elas fiquem fixas nos orifícios.
5.2.4.5
Função técnica
A função técnica é constituída por três elementos: sistema construtivo; materiais; e processos e fabricação.
141 5.2.4.5.1 Sistema construtivo
O produto porta-vela é constituído de duas peças, elaboradas com as mesmas formas e mesmos materiais. A Porcelana Schmidt possui uma linha de produtos chamada Schmidt Duo que é composta por peças de 1 a 6 unidades. Toda essa linha possui uma embalagem própria, direcionando o produto para presentear pessoas. Sua embalagem é feita em papel cartonado preto, tampa de plástico transparente e elástico. Como mostra a ilustração a seguir.
Figura 102 – Embalagem da Linha Schmidt Duo Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
Essa será a embalagem a ser utilizada para o produto porta-vela, podendo haver modificações quanto ao tipo de papel a ser utilizado, como um papel reciclado ou de cor clara.
5.2.4.5.2 Materiais
Os materiais a serem utilizados para a elaboração do porta-vela são: - Cacos de porcelana, granulação número 6 e 8; - Resina poliéster transparente.
142 Para cada peça usaria em média 250 ml de resina, e 800g de cacos de porcelana.
5.2.4.5.3 Processos e fabricação
Em relação a sua produção, ela ocorre em um processo simples: depois da porcelana ser transformada em cacos e separada as granulações, a resina é catalisada junto aos cacos e despejada no molde da peça. Após o endurecimento do material, a peça pode ser desmoldada e realizada o acabamento. Assim, é viável sua produção em larga escala e sua utilização comercial para o público de classe A e B. A elaboração das peças requer um espaço da indústria ventilado para que a resina possa ser preparada por um funcionário que tenha conhecimentos do material. As peças piloto e os moldes poderão ser confeccionados pela própria fábrica, já que são eles que elaboram os moldes de todas as peças da sua linha de produção. A indústria possui um moinho (figura 102) que quebra a porcelana até ela virar pó. Para a obtenção dos cacos, a empresa poderia utilizar o mesmo moinho para quebrar a porcelana e separar as granulações dos cacos por peneiras grandes. Também poderá passar por um processo de limpeza dos cacos para a retirada do pó da porcelana, utilizando água ou somente ar.
143
Figura 103 – Moinho da empresa, ao fundo da imagem. Fonte: Arquivo Pessoal.
O investimento por parte da empresa consiste em construir o sistema de peneiras para a separação dos cacos granulados; a confecção de peças piloto e moldes; a construção de um local adequado para a fabricação das peças (preparo da resina); a contratação de uma pessoa capacitada para fabricar as peças. O material necessário para a execução das peças seria a resina poliéster, que poderá ser comprada em grandes quantidades por um preço menor. O custo de confecção da peça descontaria o quanto a empresa paga para descartar o resíduo. No preço final da peça constaria todo o trabalho de execução da peça e confecção do molde, além do valor agregado que o design e o material formam o objeto.
5.2.4.6
Função informacional
Todos os produtos da Porcelana Schmidt possuem o logo carimbado na superfície inferior das peças. Nas duas peças que compõem o produto será colocada a marca da Porcelana Schmidt (ver figura) por meio de serigrafia, e esta poderá ser posicionada no orifício para a vela de 35 mm.
144
Figura 104 – Logo Porcelana Schmidt Fonte: Porcelana Schmidt (2010).
A embalagem do produto deverá conter as informações de uso; tipos de velas possíveis de serem utilizadas; e explicação do material que o compões (reutilização dos cacos da própria linha de produção da indústria).
5.2.4.7
Função de marketing
As pesquisas de mercado elaboradas no início do projeto foram realizadas para que o produto desenvolvido pudesse ser comercializado nas lojas que vendem os produtos da marca Schmidt, lojas de presentes e decoração. O produto poderá ser exposto na loja sem a embalagem, permitindo assim que o cliente manuseie o objeto, e coloque as peças nas possíveis posições de uso. Com o objetivo de atrair o cliente, a loja também poderá colocar velas acesas nas peças, para que o cliente visualize o objeto em uso.
5.2.4.8
Função ecológica
O produto, mesmo sendo produzido a partir de um resíduo industrial, possui um ciclo de vida. Este inicia-se pelo processo de preparo dos cacos; fabricação da peça; transporte; compra pelo usuário; uso do objeto pelo usuário, e descarte.
145 A resina utilizada é um plástico denominado termofixo, que não é possível ser reprocessado depois de ter endurecido, mas há a possibilidade de reaproveitamento do material como o uso de carga no processo de outros objetos. Temos um exemplo da empresa Resina Floripa que efetuaram testes com a adição de caco de resina na elaboração de novas peças, como mostra a próxima figura.
Figura 105 – Peça de resina e cacos de resina. Fonte: Arquivo Pessoal.
O descarte do objeto consiste no reaproveitamento do material para adicionar à carga. O produto, então, reflete um baixo impacto ambiental já que utiliza material residual e reutiliza os próprios resíduos produzidos no processo de produção.
5.3
AVALIAÇÃO
A etapa denominada projeto, descrita na metodologia utilizada, termina com a parte de avaliação, onde o produto elaborado é avaliado e verificado se ouve contexto com todas as etapas do projeto.
146 5.3.1 Diferencial e inovação
A principal diferença e inovação do porta-vela é o material. As pessoas, geralmente, possuem curiosidade, ao verem o objeto, de tocar e sentir o material, que desperta o interesse em saber como a peça foi produzida. A estética que os materiais transmitem ao objeto é de suma importância para que o objeto seja valorizado. No mercado são encontrados poucos porta-velas que atraem o consumidor quanto ao seu material e seu formato. A maioria é usado somente como suporte para a vela. As possibilidades de usos de velas diferentes permitem que o objeto seja usado com mais freqüência, além de ser um objeto decorativo enquanto não está com velas acesas. A versatilidade da forma e do material permite que a peça seja usada em diferentes cômodos da casa; como quarto, banheiro, sala de jantar.
5.3.2 Resultado
A peça possui formato simples, suas curvas dão a sensação de movimento às peças. Como apresentado no painel de expressão do produto (página 105) as imagens que transmitem sensações de tranqüilidade, equilíbrio, familiar, aconchego podem ser representadas no objeto proposto, tanto na característica formal quanto na estética dos materiais utilizados. O produto apresentado possui viabilidade de produção para a indústria. Além da diminuição do resíduo descartado pela empresa. A execução e comercialização da peça permitem que a indústria entre no mercado dos produtos ecologicamente corretos, diminuindo assim o impacto causado no ambiente pelo não aproveitamento do material. O projeto permitiu estudar e testar as possibilidades de união de materiais, reutilizando um resíduo industrial. Pode-se perceber a dificuldade para a realização de testes com os materiais, principalmente com o vidro e os cacos,
147 necessitando de um estudo maior para a realização de testes em fornos industriais. Para os outros resíduos citados, como o primeiro resíduo (massa pastosa), necessitaria de um estudo mais aprofundado, mais adequado para a área de engenharia de materiais. Pode-se perceber que certos tipos de materiais necessitam de moldes de diferentes materiais e maneiras de execução. Durante o processo de confecção dos moldes houve alguns erros para a confecção dos mesmos, o que se tornou um processo de aprendizagem, visto que em nenhuma disciplina do curso de design foi abordado a parte prática de execução de moldes.
Figura 106 – Porta-vela em um dos ambientes de uso. Fonte: Arquivo Pessoal.
5.4
CONCLUSÃO
O presente trabalho teve como principal objetivo dar soluções de design para um dos resíduos industriais gerados pela Porcelana Schmidt. A solução encontrada foi a criação de um produto, um porta-vela, cuja produção em série
148 torna-se viável à empresa e o objeto se adéqua às lojas em que são vendidas as louças da marca Schmidt. O projeto permitiu trabalhar com um cliente real e com um problema real. Os resíduos estão presentes em todas as indústrias e se tornam um problema quando descartados de maneira incorreta. Transformar o resíduo em produtos é um desafio muitas vezes visto como impossível. O descarte acaba sendo uma comodidade para a indústria, pela facilidade em destiná-lo a aterros. A pesquisa de mercado realizada foi de suma importância para a visualização dos pontos de vendas das louças Schmidt e de seus concorrentes, que foram encontrados em lojas não apenas de louças, mas que vendem outros tipos de produtos, principalmente utilitários e decorativos. O público e o motivo da compra de presentes são variados, mas o objeto deve possuir estética agradável para o consumidor realizar a compra. Foi identificado que transformar em uma nova matéria-prima os resíduos industriais de porcelana consiste em trabalho complexo, pois é preciso estudo da composição dos materiais, testes em laboratórios, conhecimentos na área de engenharia de materiais. As possibilidades identificadas nesse trabalho foi o uso do caco de porcelana como um material adicionado a outro. Assim foram testados a porcelana e o biscoito junto ao vidro e ao verniz com o uso do forno, e a porcelana junto à resina, não necessitando do forno. Foi constatado o uso da resina à aplicabilidade para o produto criado. O projeto propõe uma solução para um resíduo transformando-o em uma peça que vai além de sua aparência estética e funcional, possibilitando ao produtor e consumidor voltar-se a formas de consumo preocupadas como o desenvolvimento sustentável. Através do produto, é possível não apenas seu uso e consumo, mas repensar nas relações que são estabelecidas entre produto e suas conseqüências ambientais, sociais, econômicas. Ao incluir essa proposta, a empresa obterá ganhos econômicos, pois o gasto que ela tem com o descarte do resíduo para os aterros, será revertido, em parte, com a produção do produto. Haverá ganhos quanto à imagem da empresa, que irá adquirir uma imagem de preocupação com a sustentabilidade ambiental. Além de possuir um produto inserido na linha de produtos ecologicamente corretos, destacando-se entre os concorrentes.
149 Então, o investimento que a empresa fará para a fabricação da peça caracteriza-se como uma nova possibilidade de lucro. Espera-se que o produto em si aliado a um bom marketing possam garantir a viabilidade econômica de venda. Ressaltando que esta é uma idéia inicial e serve de base para novas criações de outros produtos. Recomenda-se à empresa, caso se interessar, pesquisar sobre a confecção da peça em vidro e cacos e poder efetuar testes na própria indústria. Também é importante efetuar parcerias com universidades para que estudantes possam pesquisar sobre a solução dos outros resíduos da empresa, assim como o reaproveitamento dos materiais e elaboração de novos produtos. Assim, o trabalho do profissional da área de design cada vez mais ganha espaço e reconhecimento através de propostas inovadoras e criativas.
150 REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CERÂMICA. Fluxograma do processo de fabricação da porcelana. Disponível em: <http://www.abceram.org.br/asp/fg05.asp> Acesso em: 3 fev. 2010.
______. Cerâmica no Brasil. Disponível em: <http://www.abceram.org.br/asp/abc_21.asp>. Acesso em 12 abr. 2010).
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10004: resíduos sólidos. Rio de Janeiro, 1987. BAXTER, Mike. Projeto de produto – guia prático para o design e novos produtos. São Paulo: Edgar Blücher, 2003.
BERNSEN, Jens. Design: defina o problema. Florianópolis: SENAI, 1995.
BEVERIDGE, Philippa; DOMÉNECH, Ignasi; PASCUAL, Eva. O vidro: técnicas de trabalho de forno. Barcelona: Editorial Estampa, 2004.
BLOG ALTO ASTRAL PRESENTES. Disponível em: <http://altoastralpresentes.blogspot.com/>. Acesso em: 2 jun. 2010.
BONSIEPE, Gui. Design, do material ao digital. Florianópolis: FIESC/IEL, 1997.
BORCHARDT, Miriam et al. Avaliação da presença dos princípios de ecodesign em uma empresa do setor químico. In: INTERNATIONAL WORKSHOP ADVANCES IN CLEANER PRODUCTION, 2., 2009. São Paulo 2009. Disponível em: <http://www.advancesincleanerproduction.net/second/files/sessoes/5a/5/M.%20Borc hardt%20-%20Resumo%20Exp.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2010.
CAPUCCI, Víctor Zappi. Fragmentos de Cerâmica Brasileira. São Paulo: Ed. Nacional, 1987.
CARDOSO, Armando. Manual de cerâmica. [S.l.]: Bertrand Brasil, [19--].
CHAVARRIA, Joaquim. Moldes. Barcelona, Parramón Ediciones S.A., 1999.
151
COOPER, Emmanuel. História dela cerâmica. Barcelona: Ediciones CEAC, 1981.
CRICCA, ARTE, BELEZA E ESTILO. Disponível em: <http://www.cricca.com.br/galeria/natal.htm>. Acesso em: 2 jun. 2010.
DAILY TONIC. Disponível em: <http://www.dailytonic.com/takaoka-craftscompetition-2009-in-japan/>. Acesso em: 19 abr. 2010.
DEL PORTO. Disponível em <http://www.delporto.com.br>. Acesso em 28 mar. 2010.
DENIS, Rafael Cardoso. Uma Introdução à história do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.
EMMO HOME. Disponível em: <http://www.emmohome.com>. Acesso em: 22 abr. 2010.
FACHIN, Odília. Fundamentos de metodologia. São Paulo: Atlas, 1993.
FRIGOLA, Dolors Rosi. Cerâmica. Lisboa: Editorial Estampa, 2002.
FORM TALK. Disponível em: <http://www.formtalk.se/Candleholder/candleholder.html>. Acesso em: 22 abr. 2010.
FUAD-LUKE, Alastair. Ecodesign, the sourcebook. Estados Unidos: Chronicle Books LLC, 2006.
GABBAI, Miriam B Birmann. Cerâmica. São Paulo: Callis, 1987.
GERMER. Disponível em: <http://www.germerporcelanas.com.br>. Acesso em: 28 mar. 2010.
GETTY IMAGES. Disponível em: <http://www.gettyimages.com/detail/200526579001/Stone>. Acesso em: 30 abr. 2010.
152 GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1987.
GOELDI (1900). Disponível em: <http://scielo.iec.pa.gov.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S198181222009000100007&lng=pt&nrm=isso>. Acesso em: 25 mar. 2010.
GOMES FILHO, João. Ergonomia do objeto: sistema técnico de leitura ergonômica. São Paulo: Escrituras Editora, 2003. ______. Design do objeto: bases conceituais. São Paulo: Escrituras Editora, 2006.
KAZAZIAN, Thierry. Haverá a idade das coisas leves. São Paulo: SENAC, 2005.
KEELER, Helen. 101 coisas que todos deveriam saber sobre o catolicismo: crenças, práticas, costumes e tradições. São Paulo: Pensamento, 2007.
KINDLEIN JÚNIOR, Wilson; PLATCHECK, Elizabeth Regina; CÂNDIDO, Luiz Henrique Alves. Analogia entre as metodologias de desenvolvimento de produtos atuais, incluindo a proposta de uma metodologia com ênfase no ecodesign. In: CONGRESSO INTERNACIONAL DE PESQUISA EM DESIGN, 2., 2003. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://webmail.faac.unesp.br/~paula/Paula/analogia.pdf> Acesso em: 10 mar. 2010.
LEFTERI, Chris. Making it: Manufacturing Techniques for Product Design. Londres: Laurance king Publishing Ltd., 2007.
LEWIS, Dr. David; BRIDGER, Darrem. A alma do novo consumidor. São Paulo, M. Books do Brasil Editora Ltda, 2004.
LIMA, Marco Antonio Magalhães. Introdução aos materiais e processos para Designers. Rio de Janeiro: Editora Ciência Moderna Ltda., 2006.
LÖBACH, Bernd. Design industrial, base para a configuração dos produtos industriais. Rio de Janeiro: Edgar Blücher, 2000.
MANZINI, Ezio; VEZZOLI, Carlo. Design per la sostenibilità ambientale. Itália: Zanicheli, 2007.
153 ______. O desenvolvimento de produtos sustentáveis: os requisitos ambientais dos produtos industriais. São Paulo: EDUSP, 2002. MATER DESIGN. Disponível em: <http://www.materdesign.com/products/living_collection/07_two_way_candleholder.h tml >. Acesso em: 22 abr. 2010.
ME DESIGN MAG. Disponível em: <http://www.medesignmag.com/products/>. Acesso em 29 abr. 2010.
ME LIFE STYLE. Disponível em: <http://www.biomelifestyle.com/browse/living/lighting/large-recycled-lentil-designlamp/>. Acesso em: 18 abr. 2010.
MONTOYA, Carmen Padilla. História de la cerámica: en el Museo Arqueológico Nacional. Madri: Fundacion Caja de Madri, 1997.
NÁUTICA. Revista Náutica n. 208. 2008. Disponível em: <http://www.nautica.com.br/noticias/viewnews.php?nid=ultbce74d4d87a0bae387385 304b41bf5e5&editoria=31>. Acesso em 28 mar. 2010. NIEMEYER, Lucy. Design – origens e instalação. Rio de Janeiro: 2AB, 1997.
OLIVEIRA, Maria Cecília. Guia técnico ambiental da indústria de cerâmicas branca e de revestimentos. São Paulo: CETESB, 2006. Disponível em: <http://www.crq4.org.br/downloads/ceramica.pdf>. Acesso em: 3 fev. 2010.
OXFORD. Disponível em: <http://www.oxfordporcelanas.com.br/>. mar. 2010.
Acesso em: 28
PARRA FILHOS, Domingos. Metodologia científica. São Paulo: Futura. 2002.
PERTIER, Fabrice. Design sustentável: caminhos virtuosos. São Paulo: SENAC, 2009.
PESQUISA EM DESIGN, 2., 2003. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://webmail.faac.unesp.br/~paula/Paula/analogia.pdf> Acesso em: 10 mar. 2010.
PETTIGREW, Jane. Chá. São Paulo: NOBEL, 1999.
154
PILEGGI, Aristides. Cerâmica no Brasil e no mundo. São Paulo: LIVRARIA MARTINS.1958.
PORCELANA SCHMIDT. Disponível em: <http://www.porcelanaschmidt.com.br>. Acesso em: 19 abr. 2010.
POZZANI. Disponível em <http://www.pozzani.com.br>. Acesso em 28 mar. 2010.
PROCTOR, Rebecca. v. Londres: Laurence Kin Publishing Ltd, 2009.
RAMOS, Jaime. Alternativas para o projeto ecológico de produtos. Santa Catarina, 2001. 152f. Tese (Doutorado) – Departamento de Engenharia de Produção, Universidade de Federal de Santa Catarina.
REDE DESIGN BRASIL. Disponível em: <http://www.designbrasil.org.br/portal/empresas/exibir.jhtml?idLayout=1&id=187>. Acesso em: 21 abr. 2010.
REMADE IN PORTUGAL. Disponível em <http://www.remadeinportugal.pt/>. Acesso em: 30 abr. 2010.
REVISTA CERÂMICA INDUSTRIAL, v.6 n.2. mar./abr. 2001. Disponível em: <http://www.ceramicaindustrial.org.br/pdf/v06n02/v6n2_4.pdf> Acesso em 01 abr. 2010.
SPAL. Disponível em <http://www.spal.pt/>. Acesso em: 30 abr. 2010.
TAMBINI, Michael. O design do século. São Paulo, Editora Ática, 1999.
THORSTEN VANELTEN. Disponível em: <http://www.thorstenvanelten.com/products/?company_id=10&product_id=205>. Acesso em: 22 abr. 2010.
VELAS GLIMM. Disponível em: <http://www.velasglimm.com.br/>. Acesso em: 2 jun. 2010.
155 VIEIRA, Gabriel Bergmann Borges. Design e inovação: Projeto orientado para o mercado e centrado no usuário. 2009. Disponível em: <http://convergencias.esart.ipcb.pt/artigo/58> Acesso em: 10 Mar. 2010.
WIKIPÉDIA. Porcelana Schmidt. Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Porcelana_Schmidt>. Acesso em: 3, fev. 2010.
ZILLES, Urbano. Significação dos símbolos cristãos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006.
156
APÊNDICES
157
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO
PESQUISA DE CAMPO Nome da loja: __________________________________________ Localização: __________________________________________ Telefone:
nome:
1-Produtos encontrados na loja:__________________________________________ 2- Produtos feitos de porcelana:__________________________________________
3-Possui jogos de louça: (
)sim
(
)não
Quais são as marcas:_____________________________ 3-Se existe a marca Porcelana Schmidt, qual linha? _____________________________ 4-Para qual ocasião as pessoas procuram comprar um jogo de louça? Aniversário (
)
Sem ocasião especial (
Casamento ( )
)
Uso próprio (
Chá de panela (
)
)
)
outros (
5-Quando os clientes compram louças, escolhem algum item a mais na mesma compra?
(
)sim
(
)não
Qual?_____________________________ E este está relacionado ao jogo de louça? (que combinam, cores,estilo, serão usados no mesmo ambiente) ( 6
)sim Quais
são
(
)não
os
produtos
que
mais
são
trocados
pelos
clientes?
________________________________________________ 7- A loja possui algum produto sustentável? (
)sim
(
)não
Qual?_____________________________
8- As pessoas procuram pagar mais para um produto sustentável? (
)Sim
(
)não
158 APÊNDICE B – MATRIZ PARA SELEÇÃO DO PRODUTO
159 APÊNDICE C – DESENHO TÉCNICO