claro! Proibido

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Pense na vida como uma estrada longa. Sinuosa e bifurcada como se tivesse sido projetada a partir de um punhado de barbantes jogado no chão por uma criança. Com muitos caminhos e muitas variáveis, cada quilômetro desse percurso traz suas particularidades. Mas tem uma coisa que a gente consegue perceber em todo metro desse emaranhado de vida: os nós, que te impedem de passar, de ver, de ouvir, de ser. Proibido. E de repente, com uma placa aqui, outra ali, com um grito de ‘não’, com um olhar repreensivo, ou com um dedo na cara, os caminhos e as escolhas já não parecem mais tão bonitos e diversos. É a lei que te proíbe de fumar o que quer fumar e de ouvir a música que quer ouvir. É a moral que te proíbe de amar quem você ama, e de ser quem você é. É a política que não quer que você saiba como as coisas são. É a sociedade que não quer que você, mulher, se descubra. O que é proibido? Por quê? Como? A quem interessa fazer que todos sigam o mesmo curso no barbante? Qual é a questão? É proibido ser diferente? É proibido ser? Vivemos cercados de tantas proibições que mal percebemos o quanto elas ditam nossas vidas.

TEXTO: DADO NOGUEIRA E GUSTAVO DRULLIS FOTO: BRENO DEOLINDO ARTE: FREDY ALEXANDRAKIS DIAGRAMAÇÃO: JOÃO V. ESCOVAR

Nós proibidos

EXPEDIENTE ECA-USP Diretor: Eduardo Henrique Soares Monteiro Departamento de Jornalismo e Editoração Chefe: Dennis de Oliveira REDAÇÃO Professora Responsável: Eun Yung Park Editores de Conteúdo: Dado Nogueira e Gustavo Drullis Diretora de Arte: Mariana Rudzinski Ilustradores: Daniel Miyazato e Fredy Alexandrakis Editor de Fotografia: Breno Deolindo Redes Sociais e Editor Online: André Siqueira Repórteres Online: Ana Carolina Harada, Carolina Unzelte e Rafael Castino Diagramadores: Aline Melo, Ian Alves, João Victor Escovar, Laila Mouallem, Matheus Lopes e Rafael Popp Repórteres: Ana Carolina Aires, Beatriz Arruda, Camila Freitas, Ingrid Luisa, Iolanda Paz, Liz Dórea, Natan Novelli Tu, Pedro Graminha, Taís Ilhéu Souza e Victória Martins Videorreportagem: Claire Carvalho Castelano e Giovanna Querido Making Of: Isabel Marchenta Teaser: Luís Henrique Franco Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, bloco A, Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900 Telefone: (11) 3091-4211 O suplemento claro! é produzido pelos alunos do 5º semestre do curso de Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso - Tiragem: 6400 exemplares


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acesso

N E G A D O Parece que vivemos em um eterno “Erro 403”. Quando algo limita o nosso acesso no ciberespaço e somos impedidos de acessar uma URL – seja lá por qual motivo – já gera uma sensação bem frustrante, imagine na vida real. E a resposta é agressiva, “Forbidden. You don’t have permission to access”. Quem me proíbe? Por que ficam ditando regras para o meu acesso? E no mundo tangível, essas proibições são bem piores. Se prestarmos atenção no dia a dia, os servidores que nos negam passagem estão por todo lugar, e eles ditam exatamente para onde querem que cada um de nós vá.

TEXTO: INGRID LUISA DIAGRAMAÇÃO: JOÃO VICTOR ESCOVAR

Mas não é como se eu quisesse passar as férias na Coreia do Norte. Não consigo estacionar o carro! Por dois retornos seguidos fui proibida. Quando finalmente consegui, o cara do carro de trás fez o retorno errado e quase bateu em mim. Essas proibições todas não eram para “melhorar o fluxo”? Mas não acabou aí.

Ao chegar no meu prédio, fui barrada na porta de trás, “moradores só pela frente”. A catraca me impediu de entrar com minha mala e eu ainda não podia subir com ela no elevador social, só no de serviço. Finalmente em casa, fui impedida de tirar o lixo porque o caminhão já tinha passado. Cansada, o vizinho não parava de ouvir uma música muito alta que estava estourando meus miolos! Ele sabe que a essa hora é proibido, não?

Um dia. Basta prestar atenção em um dia. Placas de trânsito, “regras” de condomínio, lugares reservados, acessos restritos a várias portas. As proibições nos podam e nos salvam. Mas é bem estranho parar para pensar em todas elas. Pare, ande, vire, siga. Role, deite, finja de morto. Somos nós mesmos que decidimos para onde queremos ir? “Está trancado, não pode entrar”. “Sem senha não passa”. “Pagou a taxa?”. “Faz parte do grupo?”. “É fechado para convidados”. “Desculpe, sem exceções. Ordens são ordens”. Fico imaginando a situação hipotética em que pudéssemos ter acesso a todos os lugares.

Que a falta de transporte público em certas áreas não escancarasse que lá não é um lugar para todos. Que não me impedissem de entrar por estar com a “roupa errada”. Que pudéssemos ir para onde quisermos e ser quem quisermos. Não é proibido proibir. Aliás, tenho que parar por aqui porque o diagramador me proibiu de ultrapassar o número de caracteres.

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O uso de entorpecentes no Brasil é regido pela chamada Lei de Drogas, de 2016, que regula tudo o que envolve essas substâncias. A lei prevê punições tanto para usuários quanto para traficantes. As penas para o tráfico variam de cinco a quinze anos de prisão, e os que são enquadrados como usuários assinam um termo e prestam serviços à comunidade. Segundo Ricardo Nemes, advogado da Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas, do Rio de Janeiro, o Estado gasta cerca de R$ 2 mil cada vez que penaliza um usuário.

A produtividade policial, no entanto, é avaliada de acordo com o número de prisões e apreensões realizadas.

Maria Gorete de Jesus, uma das responsáveis pela pesquisa Prisão provisória e lei de drogas, realizada em 2011 no Núcleo de Violência da USP, destaca que um elemento importante é a narrativa policial, que muitas vezes constrói a imagem do traficante perante o juíz. Os depoimentos dos policiais dificilmente são questionados, já que supostamente não teriam razões para mentir.

desconsiderando uma rede de distribuição e circulação que vai além das “biqueiras”. Enquanto o policiamento se atém apenas a elas, a superlotação dos presídios continua a ser uma realidade. “A gente se sente enxugando gelo”, ouviu a pesquisadora repetidas vezes de policiais civis e militares. “Ou seja, até quem está atuando nessa engrenagem repressiva compreende que seu papel não tem sido efetivo”.

Segundo o estudo, além da maioria apreendida ter sido classificada como parda ou negra (59%), e de baixo poder aquisitivo — uma vez que recorreram à defensoria pública —, a maior parte das ocorrências se dá em áreas da periferia. As apreensões quase sempre acontecem em patrulha e não é possível mensurar se todas as regiões da cidade contam com o mesmo policiamento e fiscalização. Um dado disponibilizado pela Secretaria de Para além do gasto que representa Segurança Pública do Estado de São aos cofres públicos, há uma outra in- Paulo revela que enquanto nas regicongruência muito maior envolvendo ões mais pobres da cidade a maioria a Lei: ela não determina com precisão das apreensões são enquadradas o que difere o usuário e o traficante. A como tráfico, nas regiões nobres decisão fica a cargo de interpretação acontece justamente o oposto. judicial, que considera aspectos como Para Maria Gorete, a concepção do a quantidade da substância apreendi- tráfico enquanto localizado e caracda, o local, se o suspeito tinha dinhei- terístico das periferias impede que ro em espécie e outras circunstâncias ele seja tratado como a sofisticada sociais e pessoais. atividade econômica que de fato é,

TEXTO: TAÍS ILHÉU DIAGRAMAÇÃO: RAFAEL BATTAGLIA


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Eu quero o Pancadão agora! TEXTO: CAMILLA FREITAS DIAGRAMAÇÃO: RAFAEL BATTAGLIA Sabadão, zona sul, Heliópolis. Helipa. Pancadão do Bonde 3. Pancadão. Tem maluco subindo de tudo quanto é lado. Mano da leste, mina da sul. Um fervo. De gente, de quente. Quase duas mil. E mais de oito em lucro. Dinheiro pesado. Pode? “O bagulho é louco.” É Ranger, Veloster, Evoque. Só nave. XJ e Meiota, tudo passando no grau. “Tem motos e carros furtados desfilando.” E a molecada na rua. Só menor, de menor. Seu lazer. “Ficava ansioso a semana inteira pra ir pro funk.” Pancadão. É na rua. Estreita, na espreita, apertada, nos becos. Onde o coro come. Balinha, marola, doce, lança. “Venda de droga é o que mais tem.” Pancadão. Depois da boca, só beijo. Sexo quente. No quente. Som. “A música é mais forte que religião.” Som. “As pessoas não conseguem dormir.” Abre o porta-malas, luz, treme, dança. Bunda desce, sobe. Sarra. “É um misto de emoções.” Com uma bala na boca e outra no cano. Na mão o copo. Red Label, Absolut. Gelinho de coco. Encarou? Atirou. “Você vai, fica meio cabreiro, não fica tranquilo.” Uns mano bem louco pagando de malandrão. “Tem história de assédio.” Pancadão. Se chamar gambé, nem tem resenha. “O cara reclamou do baile pra polícia. Botaram fogo no carro dele.” Pancadão. Se a PM chega, acaba. Vaza. Vem quebrando todo mundo na borrachada. Não tem homem nem mulher. “Como se fosse um bando de marginal reunido.” Pode? Sob gás sobe o estalo. “Xingamento, corre corre. Quem fica pra trás é pisoteado. É um inferno.” Pancadão. “A polícia não vai tratar o favelado bem, entendeu?” Pancadão. A lei quer proibir. “Bem radical.” Pancadão. Tem galera que quer proibir. “Gosto muito, mas sei la, concordaria se proibissem.” Pancadão. O sexo. Pode? As crianças. Pode? As drogas. Pode? Os bailes… “Tem que acabar com essa merda de baile funk.” Os bailes. “Tem que ser banido.” Os bailes. “Prejudica muito a população.” Os bailes. “Não trazem benefício nenhum”. A música. Sério, a música? Essa música de malandro não rola!


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sob a névoa do tabu Fui à sauna. O cheiro do eucalipto ardendo só não supera o calor trocado dos corpos. Homens enfileirados uns em cima dos outros. Rostos ocultados pela névoa. Névoa que esconde também o pudor de cada um. De que forma me defronto mais com a nudez? Estando nu, ou falando sobre? Em tempos em que as pessoas assumem personas na internet, imaginei poder lidar facilmente com a segunda. Mas me engano: minha nudez ficou presa a um espaço-tempo. Já minha descrição, viverá até essa página esmorecer. Ainda, nada é pior do que a pressão social. O corpo, na Antiguidade exposto até em competições esportivas, tornou-se, por interdições religiosas, animalesco e vergonhoso. Em outras palavras, proibido. Curioso. Obrigaram a me vestir pelo civilizado, mas o encontrei de forma mais sincera pelado. Um senhor, com seus 60 anos, se aproxima: “Vem sempre aqui?”. Era minha primeira vez numa sauna. Foi reconhecer a fachada que meu coração disparou. Nunca tive pudor em andar nu em família. O que nesses homens era diferente? “Aqui parece as saunas finlandesas originais, bem CALMAS”. Ele estava enrolado numa toalha branca, e o volume se fazia numa trouxa. Vários homens entravam e saíam da sala. Alguns nus, outros com a mesma trouxa. Uns ao relento, outros com mais reserva. Censurava-me contra o animalesco? Ainda que isso fosse verdade, a naturalidade das conversas que ali aconteciam afastava qualquer impressão de libido alheio. Calmas?, questionei. “Certas conversas que não poderia ter no trabalho, aqui posso… com as mesmas pessoas”. ‘Civilizado’, diriam. “Aqui me dispo de corpo e alma”. Censurava-me contra o vergonhoso? Sob a luz da ducha, vi estrias no senhor. Eu, com as minhas. Pois é, já é senso comum pensar que nus, somos todos iguais, mas vou além: seja na transa, na admiração ou nas marcas, a nudez aproxima. texto: NATAN NOVELLI TU FOTO: LIZ DÓREA arte e diagramação: laila mouallem


uma estrada

pro ibi da para chamar de se d x i l ua

a d e

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Da soleira do primeiro beijo ao abismo do primeiro sexo, ninguém percorre a mesma estrada. Mas há uma encruzilhada que intercepta todas as rotas: o destino final. Mais cedo ou mais tarde, cada um acaba descobrindo como conduzir a própria travessia à autoconsciência. Eu sabia qual era a minha desde os sete. Mas me neguei a acreditar nela. Errada, absurda, imoral, proibida. Diante de minha sina, paralisei. De medo, fugi ao mapa. E, por anos a fio, fui sendo qualquer coisa que não eu. Há quem se dê ligeiro com as máscaras e consiga gastar a vida inteira sem se importar com sua estranha aderência na carne. Mas hora vem em que elas inevitavelmente arrebentam. Até porque é impossível mentir para si mesmo. E só eu sei o quanto tentei. O quanto pelejei para me inventar noutra. Noutra que coubesse. Noutra que não perigasse, para existir, perder-se: dos amigos, da família, da vontade de viver. Mas o que suportei por teimosia, meu corpo negou. Comprimiu, sangrou. Como dissesse, intransigente: “a mim não me engano e, da verdade, não abro. Nem que para isso eu lhe arrebente a bexiga e o peito. Lhe deixo as pernas para dar meia-volta.” E dei. Daria ainda se não quisesse. Surreal se não desse. Será justo me julgar por ter tentado? Fiz o que fiz para pertencer. Mas, não, alguma coisa sempre me faltaria. Alguma coisa sempre me doeria. Porque para caber, só se eu me arrancasse ainda mais pedaços. De fora e de dentro. Mas depois de tanto sangue já derramado, a ânsia de sobreviver dispara. Era então hora de resgatar a estrada proibida nos dutos secos de minha vagina. Como a própria sexualidade, pronunciada na resistência de meu corpo, o instinto pela vida é um dado biológico e age segundo sua própria autodeterminação. Por isso, não poderia jamais impedi-lo. Não importa o que fizesse. Na iminência de ser violentado, o instinto, em nome de meu direito primário de existir, proclama seu ultimato: autoconsciência ou morte. Essa crônica foi produzida a partir de relatos de Vanessa R. e Melina M., além da colaboração do psicólogo e especialista em educação sexual, Paulo Rennes.

TEXTO E FOTO: liz dórea arte e diagramação: laila mouallem


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Arte proibida não,

pervertida! Prova de que a sociedade brasileira está evoluindo é o boicote à “Queermuseu”. Sob o disfarce de “diversidade sexual”, a exposição fazia apologia explícita à pedofilia, zoofilia e putaria. Falta de respeito e sacanagem que, na verdade, é antiga: de tempos em tempos ataca as belas artes.

“O Juízo Final”. Michelangelo (1536-1541)

“Urinol”. Marcel Duchamp (1917)

NÃO

COLABORARAM: CAUÊ ALVES: coordenador do curso “Arte: História, Crítica e Curadoria” da PUC-SP FELIPE MARTINEZ: doutorando e mestre em História da Arte pela Unicamp; professor no MAM-SP “Almoço na Relva”. Édouard Manet (1862-1863)

“A Origem do Mundo”. Gustave Courbet (1866)

TEXTO: IOLANDA PAZ DIAGRAMAÇÃO: MATHEUS LOPES E FREDY ALEXANDRAKIS ILUSTRAÇÕES: DANIEL MIYAZATO E FREDY ALEXANDRAKIS

Michelangelo, por exemplo, deve ter achado que estava na Grécia Antiga quando pintou o altar da Capela Sistina: 391 peladões! Os fiéis nunca ouviriam a palavra do santo padre com tantas indecências sobre suas cabeças. Amém que o incentivo a orgias acabou anos depois, com as partes cobertas por outro artista. Graças à Igreja Católica, a arte ganhou belos padrões morais e as baixarias do paganismo foram proibidas. Só que o século XIX resolveu se rebelar e, com o “modernismo”, vieram as trevas. No mundo Pós-Revolução Francesa, Manet não retratou uma deusa Vênus nua: pintou logo uma vagabunda pelada no mundo real. Por pura piedade, “Almoço na Relva” foi para o “Salão dos Recusados”. E não vou nem comentar a vergonha que sinto de “A Origem do Mundo” (uma vagina exposta sem rodeios – nem depilações). O imbecil do Duchamp piorou as coisas, como se o mundo já não estivesse perdido o suficiente. Achou que estava inventando moda, “expandindo os limites da arte”, mas teria passado menos vergonha se tivesse seguido um manual claro do que é arte. Pelo menos o lixo do urinol não foi aceito. Esses pseudovanguardistas ignorantes me dirão que a função da arte é gerar debate… Ela não tem que questionar nada, nem incomodar. Isso tudo só é ruim para a sanidade – afinal, tem que ser louco para gostar de refletir sobre o que está vendo. Mas concordarei com os modernistas em um ponto: a arte mexe com a cabeça das pessoas, dá até medo. Por isso não podemos deixar aberrações serem representadas – nem vistas. Quando não são, aos poucos vão deixando de existir, como as bizarrices da “Queermuseu”. Para denunciar aquelas obras satânicas, os liberais do MBL fizeram uma campanha nas redes sociais. A população brasileira nem precisou olhálas com calma: pouco pensou, pouco se contaminou. A arte é como a política. Sorte que temos gente de bem para nos guiar. Obrigada, tecnologia, pela facilidade!


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TEXTO: VICTÓRIA MARTINS DIAGRAMAÇÃO: MATHEUS LOPES CARDOSO FOTOS: BRENO D EOLINDO

De um se - ele só gundo para o ut n l e i t o re s ã o é e x a t a m e ro , u m l i v ro é .“ nte aqu p i l o q u e ro i b i d o . M a s e s f o rç o É u m m e c a n oq i a s lg d m o re p re s s i v o u n s g o s t a r i a u e fe z o l i v ro em Ant e ‘policiar’ o pensam ? m ro q ento,” r ue, apesar de de ver na m Nada polícia pologia pela ã esume UFRJ, política o i neficaz dos co Lu do Rio , d e J a n m p e s q u i s a s c i a n a L o m b a reve l a u m e i ro . o b re l i v r O Segu ro s a p r d o , d o u t o r a ndo Se eendid xo, de S Libroru os pela imo m Index n Prohibitorum ne de Beauvo , editad ir, é um ão op ex uma ve está sozinho rdade, t na cens ela Igreja Cató emplo - entro ud u ura reli li Bruno F giosa: s ca entre 1559 para o Index eitler, p o o que contr e a r e n o diga se dades ju do as r 1966. M fessor us eli de d a ção qu aicas também História na U dogmas pode giões express s o e de pr õ N s e c I e s de o F r ntrolav ESP. E proib oibiç em país es com ão. Outro títu am livros, ma le comenta qu ido, explica o lo emb foi jura lemátic s mais a nível e as comunido de m Índia, Paquis o de reco t ã orte pe m lo Aiato o e África do é Os Versos S Sul e cu atânico endalá Khom Líderes s jo eini, do , de Esta Irã islâm autor, Salman banido do, par circulaç R t ic ic ushdie, ão de c o. onteúd ularmente os isso ap os, se e sobera arece n nos ste a dos dit atoriais censura régia s não os inter , também po d essam , pr do Bras e a Dita politica em impedir a il colôn dura M incipalmente m ia ilit oE en ,s queima dos, em ar de 1964, em stado Novo d egundo Feitle te. Por aqui, r e , e nos a silencia que vár Getúlio p r os dis mbos “para c ios volu V a r g as (193 eríoombate sidente m e s f 7 o s polític r ram ap 1946) re os”, con sobretudo as Mas ne ideias d endidos e até forme e m mes e xplica L mo Neles, p ombard esquerda e ode ent os períodos d o . ra e trária a os cost r em cena a m mocráticos e sca um o Lolita, d e Vladim es de um loca ral, evocada q pam da cens ura lite ua l ou pod na Fran ir rária. ça em 1 Nabokov, po e influe ndo alguma t e r exem n 956, en m c ia á t r ic n a é con plo, foi egativa tre outr banido m os país Nem B na Ingla ente um gru es, por ranca d p te o. obscen e Neve blioteca idade e rra em 1955 escapo escolar e p e u dofilia. : em 20 lente ao do 16, um nosso M Catar pelo C e x e onselho ilustraç mplar f inistério õe oi S ideias s s ‘indecentes da Educação) upremo de Ed retirado de um ’. , u egue. R esta sa Enquanto isso após um pai a cação (órgão a biber ond e legar q , o cerc ue ele c quivae - e se eamen t o o à livre - ele va n i parar. circulaç tinha ão de

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pra te proibir... TEXTO: ANA CAROLINA AIRES ARTE: DANIEL MIYAZATO DIAGRAMAÇÃO: ALINE MELO

“Olha o carro do ovo passando. Ovo direto da granja. Dez reais é a cartela com 30 ovos. Ovos branquinhos, ovos que a galinha chorou! Olha o carro...” Quem nunca acordou ao som do carro do ovo? Existem centenas deles espalhados pelas ruas e esquinas do Brasil. O vereador do Recife, Romero Albuquerque, incomodado com um que passa logo cedo perto de sua casa em Boa Viagem, propôs recentemente um projeto de lei que visa proibir esses carros. Os ouvidos de muitos agradeceriam. Já existem tantas proibições consideradas “malucas” propostas nos municípios, que essa nem seria tanto assim. Reginaldo Balão, advogado especialista em direito processual civil, entende que o processo legislativo deve ser levado a sério e não deve ser regido por interesses individuais. Em Santa Bárbara d’Oeste, cidade do interior de São Paulo, foi aprovada, em 2015, a lei ordinária nº 3.791 que passou a proibir a implantação de chips e dispositivos eletrônicos no corpo humano, por esses serem considerados a “marca da besta”. Proposta pelo vereador Carlos Fontes, do PSD, o texto da lei não tem nada a ver com teorias relacionadas a série Black Mirror, da Netflix, e é embasado, na verdade, em passagens bíblicas. A intenção endo é impedir que uma ordem satânica seja capaz de rastrear as pessoas. Para Balão, uma proposta de lei não deve levar em conta teorias formuladas por uma “mente genial” em particular. Infelizmente, essa prerrogativa nem sempre é respeitada e gasta-se tempo e energia em votações de leis sem real utilidade pública. Apesar dos Estados e Municípios terem autonomia para propor suas próprias leis que atendam às particularidades de cada região, essas devem estar em concordância com os códigos de instância superior, como a Constituição Federal. E a justificativa para a proibição da implantação de chips em humanos desrespeita um pilar importante dela: o Estado laico. Brasil afora, encontramos outros projetos de leis que ferem liberdades individuais e mostram-se absurdos, como tentativas de proibir judicialmente a ocorrência de enchentes. No Recife, projetos de leis importantes que buscam proibir mais de 24h corridas de plantão médico, por exemplo, seguem em trâmite na Câmara Municipal com passos de tartaruga. Enquanto isso, mais um carro do ovo passa divulgando seu produto para a clientela e, na mesma Câmara Municipal, um vereador gasta seu seus argumentos porque está cansado de ser acordado de manhã pelo anúncio de som que passa em sua rua.


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nem o céu é o limite TEXTO: PEDRO GRAMINHA ARTE: DANIEL MIYAZATO DIAGRAMAÇÃO: ALINE MELO

Não, você não leu errado o parágrafo ao lado. É tanta lei que até a chuva forte foi proibida. Isso foi em Aparecida do Norte, em 2007, a 167 km de São Paulo.

do Governo Federal - o político simplesmente decidiu proibir a venda de camisinhas e anticoncepcionais. Revoltada, a população protestou e a lei caiu em 24h.

Claro que tudo não passou de uma provocação do prefeito de Aparecida, José Luís Rodrigues, também conhecido como “Zé Louquinho”, após ter sido criticado pelas fortes enchentes que tomaram a cidade no ano anterior. Mesmo assim, o projeto de lei foi proposto e gerou muita polêmica.

Mas não ache que são só nos municípios que essas leis peculiares surgem não. O Governo Federal também é um importante celeiro para a imaginação dos políticos. Inclusive, um dos casos mais famosos quando se pensa em absurdos legislativos é a Lei de Contravenções Penais que, em um de seus artigos, prevê penas de quinze dias a três meses de prisão para indivíduos “entregues à ociosidade”. Tal medida ficou conhecida como “lei da vadiagem”, sendo muito usada durante a ditadura, em especial para criminalizar negros e pobres caso não pudessem comprovar trabalho ou estivessem em lugares “indevidos” a sua classe social.

No entanto, essa não foi a única vez que Zé Louquinho fez barulho com suas propostas. Entre suas façanhas, criou projetos proibindo o uso de minissaias e bermudas na época da quaresma - a cidade é um importante centro da fé cristã no país -, o que foi derrubado na Câmara. Além disso, conseguiu colocar dois cachorrões de guarda no cemitério da cidade para evitar furtos e vandalismos. Carismático, o prefeito guarda até hoje um séquito de apoiadores em Aparecida, com direto a grupo no Facebook intitulado “Amigos do Zé Louquinho”. Mas a pequena cidade do interior de São Paulo não é o único canto do Brasil que foi palco de leis excêntricas. Em 1997, na cidade de Pouso Alegre, Minas Gerais, um projeto de lei estipulava multas de até R$100 para faixas e banners com erros de português e R$500 para outdoors que desrespeitaçem a norma culta. Já pensou? Outro caso famoso foi a ideia do prefeito Élcio Berti, de Bocaiúva do Sul, Paraná, também em 1997. Preocupado com as baixas taxas de natalidade do município - o que diminuiria o repasse de verbas

Por mais “inusitadas” que todas essas leis sejam, há limites para que uma lei seja aprovada. O que garante serem criadas ou não é o bom senso mesmo. A partir do momento que são propostas, devem ser analisadas para ver se não violam nenhum princípio da Constituição e se não interferem em nenhum outro projeto em tramitação. Depois são votadas na câmara e aprovadas pelo poder executivo. É um processo que pode levar poucos meses ou vários anos, ainda mais com a quantidade de lei que é votada todo dia. FONTES Câmara Municipal do Recife, Câmara Municipal de Santa Bárbara d’Oeste, Câmara Municipal de São Paulo, Planalto.gov.br

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SE TOCA TEXTO: BEATRIZ ARRUDA ARTE E DIAGRAMAÇÃO: IAN ALVES FOTO: BRENO DEOLINDO

Em uma ida ao ginecologista, a professora Ana Paula, de 30 anos, foi aconselhada a conhecer melhor sua vagina através do toque e a vergonha que a tomou foi tão grande que nunca mais voltou. “Achava

Conversas sobre sexo não ocorreram na

zia sexo com meu ex-marido porque

que seria tachada de louca se me tocas-

casa de Ana, e na escola não ultrapassa-

era obrigada a fazer, para ter filhos mes-

se e gostasse”. Ela não é a única que se

vam as questões anatômicas. Segundo

mo. Era mecânico”, conta Ana Paula.

priva da masturbação. Segundo a pesqui-

Carolina Ambrogini, ginecologista e uma

sa Mosaico 2.0 do Programa de Estudos

das fundadoras do Projeto Afrodite (cen-

Na década de 60, a revolução sexual come-

em Sexualidade (ProSex) do Hospital das

tro de sexualidade feminina da UNIFESP),

çou a mudar o cenário. Baruch ressalta, no

Clínicas, de 2016, 40% das mulheres não

para além do desconhecimento, o deses-

entanto, que algo tão enraizado demora a

se masturbam com frequência e, dessas,

tímulo da mulher ao toque acontece desde

ser desconstruído. O ponto de virada para

19,5% nunca experimentaram a prática.

cedo. Quando a menina é flagrada tocando

Ana Paula foi quando entrou em um novo

seu órgão sexual, a frase “tira a mão daí”

relacionamento e teve a curiosidade des-

O medo de Ana Paula de gostar da tal da

é uma certeza, enquanto o mesmo gesto

pertada pela literatura erótica. Porém, mes-

siririca era o mesmo da sociedade, igreja

reproduzido por garotos é acompanha-

mo em 2018, a liberdade sexual não chegou

e medicina, instituições que tiveram papel

do de “brincadeiras” sobre seu desempe-

para todas. “A mentalidade de que a mulher

importante na repressão da sexualidade

nho sexual futuro: “Esse vai dar trabalho”.

é desejada mais do que ser desejante ainda está presente. Elas precisam despertar para

feminina. Lígia Baruch, psicóloga e autora do livro “Uma revolução silenciosa: A sexu-

Ambrogini afirma também que “a mas-

o fato de que são donas dos seus próprios

alidade em mulheres maduras”, explica que

turbação é um grande exercício da sexu-

corpos”. E ser dona do próprio corpo pas-

o prazer da mulher preocupava por estar li-

alidade” e seu desestímulo pode resultar

sa pelo aprendizado de ter prazer sozinha.

gado à vazão dos desejos sexuais, que po-

na inexistência de prazer e, até mesmo,

deriam resultar em maior independência.

desprazer nas experiências sexuais. “Fa-

Por isso, Ana Paula, não tira a mão daí.


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