claro! Místico

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DESMISTIFIQUE SEU OLHAR TEXTO: IOLANDA PAZ E LAILA MOUALLEM DIAGRAMAÇÃO: PEDRO GRAMINHA FOTO: CAMILLA FREITAS

Quem nunca se questionou se há algo além do que podemos ver, ouvir e tocar? Mesmo o mais cético sabe que vivemos em um mundo que compartilha espaço com o místico. As velas ao nosso redor nos lembram das diferentes crenças que podem simbolizar e, assim, dos mistérios que carregam. Nesta edição do claro!, olhamos o “místico” como aquilo que não parece seguir leis naturais ou físicas – é o sobrenatural, o religioso, o espiritual. O termo aqui não é entendido como pejorativo: seu significado, na verdade, pode abranger desde crenças menos hegemônicas até as religiões mais estabelecidas. Seu teor negativo só está nos olhos de quem vê e, por isso, propomos diferentes olhares: o que descobre, o que desmistifica e o que se identifica. Se as crenças menos difundidas são costumeiramente alvo de preconceito, o claro! deste mês quis trazer ao centro o que é tratado como periférico. É por esse motivo que não abordamos as religiões mais conhecidas pela maioria das pessoas – apesar de serem tão místicas quanto. Também não se trata de uma apologia ao místico (ou muito menos de uma tentativa de prová-lo). Talvez você já tenha se deparado com o que está nas próximas páginas, mas aqui propomos um diálogo com esses temas que nos circundam, mas que muitas vezes são encarados com descrédito. Acenda uma vela e boa leitura!

Expediente ECA-USP Diretor: Eduardo Henrique Soares Monteiro Departamento de Jornalismo e Editoração Chefe: Dennis de Oliveira REDAÇÃO Professora Responsável: Eun Yung Park Editores de Conteúdo: Iolanda Paz e Laila Mouallem Diretora de Arte: Isabel Marchenta Ilustradores: Carolina Unzelte e Daniel Miyazato Editora de Fotografia: Camilla Freitas Redes Sociais e Editora Online: Ana Harada Repórteres Online: Fredy Alexandrakis, Rafael Battaglia e Taís Ilhéu Diagramadores: Ana Aires, Claire Castelano, Dado Nogueira, Ingrid Luisa, Pedro Graminha e Vic Martins Repórteres: Aline Melo, André Siqueira, Breno Deolindo, Giovanna Querido, Gustavo Drullis, Ian Alves, João Victor Escovar, Liz Dórea, Matheus Lopes e Rafael Castino Videorreportagem: Luís Henrique Franco e Natan Novelli Tu Teaser: Mariana Rudzinski Making Of: Beatriz Arruda Endereço: Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, bloco A, Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900 Telefone: (11) 3091-4211 O suplemento claro! é produzido pelos alunos do 5º semestre do curso de Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso - Tiragem: 6400 exemplares


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Pio rezou s u a s primeiras ave-marias e pai-nossos aos sete anos, em uma tentativa, desesperado para salvar a avó, que bem velhinha, havia de partir minutos após. Pegou raiva da ave-maria e começou a fazer sua própria oração. Em datas especiais, sempre dava certo e ele ganhava o brinquedo que queria. Até o momento em que o pai ficou desempregado e os presentes começaram a minguar. No campeonato da escola, ganhou uma folha da sorte de um colega. Colocou na chuteira antes do jogo e fez um gol. Usou até a par tida final, quando sua mãe resolveu limpar o calçado. Perdeu-se a folha. Pio fez dois gols e foi campeão.

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A mãe de Pio tentava de todo jeito conseguir um emprego para seu marido. Ia à missa, à taróloga e entregava currículos. Até que ele conseguiu um trabalho que pagava bem pouco. A família era grata por ter o que comer, só não sabia a quem agradecer. Quando jovem descobriu que tudo isso era mentira. Pastor queria poder. Astrólogos eram charlatões. Gurus eram loucos. E todos encontravam multidões suficientemente ingênuas para lhes dar respaldo e dinheiro. Pessoas fracas e fúteis, que não conseguiam saber lidar com o desconhecido da morte e o vazio de sentido da vida. Pio não. Pio era inteligente e agora só iria ser guiado pela razão. Se apaixonou. Pensava nela todos os dias, a toda hora. Mas era tímido. Não sabia conquistar, nem demonstrar interesse. Até que viu o anúncio que trazia a amada em apenas três dias. Os sentimentos e hormônios gritaram mais forte. Cumpriu o ritual à risca. No terceiro dia, ela beijou seu melhor amigo. Desprezou o místico. Passou a acreditar apenas no que era real, como o trabalho duro. Seu túmulo era o único do cemitério sem nenhum símbolo. Morreu com a certeza de que as dores, os amores, as angústias e os êxtases que viveu não tinham nenhuma explicação. Um cético de grande fé. ATO AZ MIY


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ESCRITO NAS ESTRELAS TEXTO: ALINE MELO DIAGRAMAÇÃO: INGRID LUISA ARTE: CAROLINA UNZELTE E ALINE MELO

São Paulo. 15/02/1995. 21h30. Sempre me dão um horário red São Paulo. 15/02/1995. 21h30. Sempre me dão um horário redondo. A realidade é que quase ninguém sabe precisar ao certo o horário em que veio ao mundo. Entre “à noite” e “21h30”, aceito de bom grado um horário aproximado, mesmo que alguns minutos possam fazer diferença. Com apenas essas três informações, posso reconstruir o céu no momento exato de um nascimento e, a partir daí, buscar entender a energia que emanava dele e como ela pode repercutir na trajetória daquele, então, recém-nascido. O que antes era feito a mão, utilizando inúmeros logaritmos para precisar a posição dos astros e das constelações do zodíaco em relação à Terra, hoje um software relativamente simples calcula em segundos. Meu verdadeiro trabalho reside, então, na interpretação. O mapa astral, como foi batizado, é dividido em 12 fatias idênticas, referentes aos 12 signos. Eles simbolizam todo o conhecimento astrológico e representam diferentes formas de expressão da consciência, influenciando todos os outros componentes do mapa. A posição dos astros também é determinante. O mais importante é o Sol, quem define o signo da pessoa e, por consequência, parte significativa da sua personalidade. Já a Lua e os outros oito planetas do Sistema Solar se encontram dispostos pelo mapa, sob a influência dos signos, agregando diferentes sentidos conforme as casas nas quais se encontram. Essas 12 casas são divisões celestes vistas do local de nascimento. No que tange à interpretação, elas correspondem aos setores da vida, como trabalho, família e relacionamentos. Sabendo o signo que rege cada uma e os planetas que ali se encontram, posso definir as dificuldades e vantagens que se manifestarão em cada esfera da sua vida. Parece complexo, e é mesmo. É a conjunção de todos esses fatores que dita a energia cósmica atrelada à vida de uma pessoa. O mapa astral não é uma sentença definitiva, mas um leque de possibilidades do destino individual, do qual somente a própria pessoa pode escolher o que viver. E que melhor maneira de escolher do que conhecendo todas as possibilidades?


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COLABORAÇÃO: Leo Pires – Astrólogo Masumi Suginoshita – Astróloga

A ORBITA DO SEU TEXTO: BRENO DEOLINDO DIAGRAMAÇÃO: INGRID LUISA ARTE: CAROLINA UNZELTE E MARIANA RUDZINSKI

DIA-A-DIA

“Em um site qualquer, você lê: “Touro: você pode se encontrar numa situação na qual esteja com muita liberdade para agir, mas em que se sente simultaneamente preso”. Você não acredita muito, mas aquilo desperta a sua curiosidade.

Aquele texto na internet se orienta pela quadratura que Urano está formando com Marte, uma das configurações que os astros podem assumir: “É um ângulo de 90º entre eles, que é uma energia negativa”, explica o astrólogo Leo Pires.

Touro está entre as doze constelações que compõem o zodíaco da astrologia grega, estudo dos astros que também possui suas versões em outras culturas milenares, como a egípcia e a chinesa. O horóscopo, uma de suas aplicações, analisa os tipos de energia que as pessoas da Terra receberão a partir do posicionamento dos planetas, e qual será o reflexo delas em seu cotidiano.

Leo conta que horóscopos diários costumam ser mais precisos que os anuais ou mensais, já que esses precisam levar em conta todos os reposicionamentos dos planetas que acontecerão durante o período analisado.

Imagine o céu como se fosse um círculo, divida-o em doze partes e atribua cada fatia a um signo. Inserindo os planetas nesse plano, você terá a base para a confecção de um horóscopo.

A astróloga Masumi Suginoshita, autora do horóscopo no site, não vê as energias dos astros como previsões. Então, pode até ser que o texto adivinhe o que acontecerá em seu dia, mas ela propõe que você encare isso como material para uma reflexão sobre si mesmo. Portanto, não se desespere com a quadratura que está no céu, taurino. Ela é passageira, já que os planetas estão sempre


06 claro! - junho 2018

ORIXAS: REGENTES DAS ENERGIAS Embora cultuem diversas divindades, a umbanda e o candomblé, religiões de matriz africana, são monoteístas, pois acreditam na existência de um único Deus, Olorum, o criador de todas as coisas. No Brasil, cada uma delas se inseriu de uma forma distinta. Apesar das singularidades de uma e de outra, há um ponto convergente a se destacar: o culto aos orixás, divindades africanas que são fonte das energias e características emanadas por Olorum. É por isso que há um forte paralelo entre essas religiões e os elementos da natureza.

Iansã Cuida da alma dos mortos. Sensual, nervoso, solidário e carismático

Ogum O orixá ferreiro, quetorna o trabalho proveitoso. Guerreiro solidário, leal e ambicioso

No candomblé, doze são cultuados: Exu, Ogum, Oxóssi, Obaluaê, Oxum, Iansã, Ossaim, Nanã, Oxumaré, Iemanjá, Xangô e Oxalá. Na umbanda, há as figuras de Logunã, Orô Iná, Omulu e Obá, orixás não cultuados no candomblé. Além disso, Exu tem a função de ser o mensageiro, sem o qual nada se transmite.

Omulu Estabiliza o ser e permite sua evolução em paz e equilíbrio

Iemanjá Mãe de todos os orixás. Protetora, criativa e conselheira Oxum Reina sobre as águas doces dos rios, sobre o Amor intimidade e beleza

TEXTO: ANDRÉ SIQUEIRA E MATHEUS CARDOSO DIAGRAMAÇÃO: DADO NOGUEIRA ARTE: DANIEL MYIAZATO E CAROLINA UNZELTE

Obaluaê Orixá da cura, da saúde e da transformação

Oxumaré Orixá do arco-íris. Liga o céu à terra e é o símbolo da continuidade e permanência

Nanã Orixá mais velh primeira de to humanidad


junho 2018 - claro! 07 Oxalá Criador dos seres humanos. Justiceiro, agitado e sensível Logunã Orixá do tempo, ordenadora cósmica da fé. Introvertida, simpática e observadora

Fé (Oxalá e Logunã) Amor (Oxum e Oxumaré)

A Teoria Clássica das Sete Linhas da Umbanda Sete Tronos de Deus, cada um composto por um orixá masculino e um feminino, enaltecem qualidades de Olorum, o Criador.

Justiça (Xangô e Orô Iná) Lei (Ogum e Iansã) Evolução (Obaluaê e Nanã) Geração (Iemanjá e Omulu), Conhecimento (Oxóssi e Obá). As coroas na umbanda A vida de um devoto é regida por uma coroa, composta por três orixás. A partir desta tríade que é possível traçar e identificar as características do umbandista no dia-a-dia.

Exu O mensageiro entre homens e orixás Mundano e malicioso

Ossain Orixá das folhas sagradas e dar ervas medicinais

Oxóssi Orixá da caça, animais, florestas e do sustento

Orixás do Candomblé brasileiro Originalmente, são 200 orixás africanos, mas o número foi reduzido por conta das adaptações à sociedade brasileira. Segundo o Babalorixá – Pai de Santo – Luciano Ty Ode, alguns não são mais cultuados por conta da falta de raízes no Brasil, mas, sobretudo, por conta da ausência de ervas, muito utilizadas nos

ha, ãe oda a de Obá Aquietadora dos seres humanos. Pune o mau uso dos conhecimentos Xangô Orixá da justiça, dos raios e dos trovões. Castiga mentirosos e protege juízes.

Orô Iná Não é uma orixá singular. Associada aos mortos, ao vento e ao fogo. Purifica os vícios emocionais, alimenta as faculdades mentais


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REPÓRTER: LIZ DÓREA DIAGRAMAÇÃO: VICTÓRIA MARTINS FOTO: CAMILLA FREITAS

MACUMBA NUNCA SE DEU COM O SILENCIO Antes de polêmica, fazia barulho. Como bom instrumento musical que é. Tente ouvir seu baque africano: soa igual a um reco-reco. Depois, bote na boca e rache em duas: Ma-kômba. Ma-cumba. Minha cesta. Mas não qualquer uma. Pra virar presente de santo, é preciso que tenha qualquer coisa de mágica. Aí, pronto. Já se sabe quando o alvoroço começa. Acredite, faz tempo. Mas bote tempo nisso que esse furdunço é muito velho. Tá pra lá da Reforma Protestante. Desde que o Iluminismo, que torcia o nariz para tudo o que não era científico, cravou pés no velho continente. A fé cristã ocidental, por sua vez, impregnada por esse jeito europeu de ver mundo, tratou de julgar inferior todo sistema de crença que ousasse se meter com deus pela magia. Misture isso a um punhado de racismo e já se tem a receita do porquê tanta macumba, preta de nascença, é malquista nas encruzilhadas brasileiras. Pobre balaio sagrado. Quantos espíritos positivistas lhe esbarram o caminho sem compreender o seu mistério? Quantos tão logo não o viram e, sem perguntar a que se destinava, amaldiçoaram-no? Na mais amena das hipóteses, foi reduzido a uma farsa de charlatão. No mais frequentes dos casos, suportou ser chamado de cria do demônio. E acabar chutado. Tantas vezes que, de tão calejado, talvez nem se espante mais. Se ao menos percebessem que entre o dendê de uma cesta mágica e a água benta de uma missa sacra há bem menos coisas do que supõe a nossa vã filosofia! Se ao menos soubessem que quem no chão deita um despacho, repleto de elementos simbólicos, quer nada, senão alimentar os seus próprios deuses. Para que enfim estes, entre Exus e Oxuns que vagam sobre a terra como módulos de energia da natureza, sejam nutridos e, assim, possam devolver a oferta com prosperidade, saúde, paz, pureza de espírito, equilíbrio e axé. Axé: em idioma africano, força, energia vital. Em português, também dá nome a um ritmo de música baiana. Macumba, afinal de contas, nunca se deu com o silêncio. COLABORARAM: RICARDO ARAGÃO, ANTROPÓLOGO E BABALORIXÁ; TATO MAIUOLO, BABALORIXA; RONILDA IYAKEMI, IALORIXÁ


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REPÓRTER: RAFAEL CASTINO FOTO: CAMILLA FREITAS DIAGRAMAÇÃO: VICTÓRIA MARTINS

COTIDIANO SIMPATICO Acorda! Com o pé direito, sai da cama e, sem escalas, chega na cozinha. Numa leiteira, ferve a água do café, na outra, ferve água com arruda, alecrim e guiné. Come uma torrada com manteiga, enquanto prepara seu banho de defesa. Atrás, na mesa, uma bonita maçã vermelha com cravos — perfeitamente espetados — que é para trazer amor. Lembra das palavras da avó: “Simpatia é energia, é força das cores, dos animais, dos objetos e da natureza., mas sem fé não se conquista nada.” O pensamento positivo é essencial nas receitas passadas. Já no banheiro, escova os dentes e liga o chuveiro. Toma sua ducha matinal, observando no ralo pequenos fragmentos de sal — é sal grosso, do banho da noite anterior, do banho de descarrego. Desliga o chuveiro. Pega a água com ervas — já deu tempo de esfriar — joga no corpo. Na frente, nos lados e atrás, mas sempre abaixo do pescoço. É a proteção necessária para a semana. Se seca. De toalha chega ao quarto. Cueca, jeans, meia e sapato. Escolhe uma camisa branca, para passar o dia em paz. “Mas hoje eu tenho a reunião com os acionistas…”, pensa. Tira tudo e se troca de novo — a cueca amarela da sorte sempre foi eficaz. Coloca o celular no bolso direito, pega a carteira e põe no esquerdo — com uma folha de louro e a nota de um dólar dentro, que é para “chamar” dinheiro. No chaveiro do carro, uma figa; no de casa, olho grego. Abre a porta, mas antes, fecha a janela. Aproveita e acende uma vela, que é símbolo de luz, ilumina os caminhos. A brisa forte que enrola e bagunça o sino dos ventos anuncia que a chuva deve chegar a qualquer momento — e ninguém quer a casa encharcada. Novamente, com o pé direito, sai de casa. O pé direito é tradição romana, milenar. Sabendo que em latim esquerda é sinônimo para sinistro, é melhor garantir quando for sair ou entrar em algum lugar. Chama o elevador, espera chegar no sétimo andar. Na garagem, desliga o alarme e abre seu carro. Confere o relógio, postado no braço esquerdo junto às suas fitinhas do Senhor do Bonfim. Olha no retrovisor para fazer a manobra, tem muito patuá pendurado. É pé de coelho, ferradura, trevo de quatro folhas e sapinho da fortuna. Tudo conservado com muita energia, que é pra trazer sorte, proteção, dinheiro e começar muito bem mais um dia. COLABOROU: MARIA ITÁLIA, CONSULTORA BRASILEIRA DO PROGRAMA “PARANORMAIIS”


10 TEXTO: IAN ALVES

Puxo assunto com uma moça que parece estar à toa. Ela me explica que a Cabala – ou Kabbalah, tanto faz – não é uma religião, mas sim uma sabedoria. E que as pessoas que frequentam o Centro não são fiéis, mas sim estudantes da Cabala, que a aprendem por meio do Zohar, um conjunto de escritos de interpretação do Torá, livro sagrado judaico. Apesar dos fortes vínculos com o judaísmo, mais de 90% dos estudantes do Kabbalah Centre são de outras religiões. Então vou até a recepção e, por 36 reais, me inscrevo em um evento que vai acontecer na mesma noite, que celebra a Lua Nova de Gêmeos e revela o que eles chamam de “segredos” desse novo ciclo. A astrologia kabbalística se baseia no calendário hebraico (lunissolar),

?

No princípio, são as portas. O paredão de 12 colunas de vidro escurecido, que formam a parte da frente do Centro, me diz mais pra ir embora do que me convida pra entrar. Mesmo assim, sigo em frente. Por dentro, o Kabbalah Centre é tão misterioso e imponente quanto é por fora: a meia iluminação aponta para livros e porta-retratos pelas estantes de madeira; e o granito brilhante cobre o piso do local.

VOCE CONSEGUE VER?

DIAGRAMAÇÃO: CLAIRE CASTELANO

e não no gregoriano (solar), então algumas datas são diferentes da astrologia que costumamos ler. Mas esse é só um evento disperso: os iniciantes do Centro costumam fazer um curso de 10 aulas, cada uma com 1h30, que custa entre 391 e 491 reais. A parte mais interessante da noite é quando a segunda palestrante entra. Conforme ela comanda a plateia, que agora tem seus olhos fechados, uma energia diferente se instala na sala. Ela nos fala para visualizar algum problema de nossa vida – enxergá-lo em nossa frente, fora de nosso corpo. Entender sua forma, cor, cheiro e como ele nos faz nos sentir. “Você consegue ver?”. Depois de poucos instantes, me sinto em controle sobre aquele problema. Sinto que ele é menor do que eu e entendo que eu posso decidir o impacto que ele terá sobre mim. Ao sair, tento me convencer de que aquela sensação nasceu, tão somente, das palavras da palestrante, da forma como ela conduziu as coisas. No fundo, sei que não foi só isso. Mas lembro de minha condição de leigo e paro de tentar racionalizar algo que não se explica com a razão.


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Carolina Alves da Silva, 23 anos, morena, franja curta e piercing no septo. Estudante de biblioteconomia. Bruxa wicca.

UMA BRUXA SOLITARIA TEXTO: GIOVANNA QUERIDO DIAGRAMAÇÃO: CLAIRE CASTELANO FOTO: CAMILLA FREITAS

Mesmo dentro da igreja evangélica – que frequentou com sua mãe durante cerca de 16 anos –, uma ideia, um instinto, meio sem sentido, já ecoava na sua mente: quero ser bruxa. Como boa filha dos anos 90, bruxaria era cultura pop, era assistir Jovens Bruxas, Magia Sedução e ler a revista Witch. Para muitos, parava quando se desligava o controle remoto, mas a curiosidade de Carol era maior. Aos 13 anos ela se matriculou em um curso pago e online da Caverna da Bruxa. Muito diferente de brincar de Harry Potter, durante 12 módulos, ela pôde aprender um pouco mais sobre a religião neo-pagã, Wicca. Popularizada nos 80, pelo britânico Gerald Gardner, surgiu da necessidade de abranger e diferenciá-la da bruxaria tradicional, que remonta à Idade Média, mas não se encaixava mais com o mundo moderno. Com o curso, Carol aprendeu que nem todas as wiccanas são iguais. Assim como em muitas religiões, existem inúmeras tradições, ou seja, grupos unidos por princípios, práticas mágicas e linhagens ancestrais em comum. E a Carol faz parte da denominada Eclética, justamente por fundir várias tradições, como Celta, Alexandrina e Tradicional. Apesar de existir alguns fundamentos – como o dogma da arte: “Faça o que quiser, desde que não faça mal a nada, nem ninguém” e os festivais sazonais, conhecidos como Sabbats –, não existe uma “bíblia” ou um jeito único e correto de seguir a religião. Para a Carol, você cria sua magia. Quando o Sol atinge o maior grau de afastamento angular do equador, nos solstícios, Carol senta no chão do seu quarto, pega seu cristal, acende um incenso, uma vela e começa um ritual. Não, ela não vai transformar machos escrotos em sapos. Para Carol, ser bruxa é antes de mais nada se autoconhecer. Essa transformação muito mais psicológica e espiritual começa pelo simples ato de olhar para si mesmo.


12 claro! - junho 2018

A CURA ATRAVES DA ENERGIA TEXTO: GUSTAVO DRULLIS DIAGRAMAÇÃO: ANA CAROLINA AIRES ARTE: DANIEL MIYAZATO

Mais utilizado como tratamento para doenças, o Reiki é uma prática terapêutica que envolve a manipulação da energia universal de vida, ou reiki. Ele atua de forma a equilibrar o corpo como um todo, no emocional, físico, mental e espiritual. Para isso, basta que alguém se torne um canal e, com as mãos, faça fluir reiki através de uma pessoa – ou de algo. Batemos um papo holístico com Gilberto Falchi, Mestre Reiki desde 1996, para você entender um pouco mais sobre essa energia vital:

Quais são os efeitos do Reiki em quem o recebe? O Reiki não vai te dar o que você quer, mas sim o que você precisa, da forma correta e no tempo certo. Para o Reiki, não existe um limite, ele pode atuar em todos os níveis e para qualquer problema, embora nem todo mundo vá alcançar essa cura plena. Como a minha mestra dizia, “o Reiki está para todo mundo, mas nem todo mundo está para o Reiki”. Você tem que realmente dar uma abertura.

Que sensações uma pessoa pode ter ao receber Reiki? E o terapeuta? Durante uma aplicação, o receptor pode sentir calor, frio, arrepios, choquinhos, ter a sensação de expansão, leveza, de flutuar. Ele também pode chorar, lembrar-se do passado, sentir vir à tona mágoas, ou acessar o seu lado mais espiritual. Mas nem sempre essas percepções são relatadas. O terapeuta também pode ter essas sensações, sentir as suas mãos formigarem, ficarem expandidas, como se houvesse um buraco na palma da mão ou vendo [o Reiki] sair das mãos.

O terapeuta Reiki pode sentir o que a pessoa está sentindo durante um tratamento? Dependendo da sensibilidade do terapeuta, ele pode detectar nele a mesma dor do outro, porque nós somos apenas um energeticamente falando, mas não quer dizer que estou percebendo a sua dor. Na verdade, a sua dor despertou a minha.

O Reiki pode ser feito à distância? Sim! Não importa onde a pessoa esteja, desde que ela permita e se coloque receptiva para receber o Reiki, na sintonia e em um momento determinado. Nós pedimos os seus dados pessoais para que, no horário combinado, o terapeuta consiga levar o Reiki até a pessoa a distância.


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