Claro! Fim

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Claro! novembro 2017

FIM


O ÚLTIMO A

SAIR

Desde que passamos pelo processo seletivo excludente da USP, apagamos as luzes. A luz da promessa de um futuro brilhante. Da meritocracia. Do acesso aos melhores professores e pesquisadores do país. Dos mais dedicados alunos. Das festas no campus. Do espaço de convivência. Do debate político produtivo. Da relação valiosa entre funcionários, docentes e alunos. Da permanência dos que, ao contrário da maioria aqui, não são filhos de famílias abastadas. E começamos a apagar as luzes da graduação de jornalismo. Esse Claro!, o último de 2017, por pouco não foi o último a ser materializado nas páginas impressas por questões burocráticas. E acendeu, para nós, uma luz de emergência.

FOTO: Álvaro Logullo DIAGRAMAÇÃO: Nara Siqueira TEXTO: Diego Smirne e Natália Belizario EXPEDIENTE ECA-USP Diretor Eduardo Henrique Soares Monteiro Departamento de Jornalismo e Editoração Chefe Dennis de Oliveira REDAÇÃO Professora Responsável Eun Yung Park Editores de Conteúdo Diego Smirne e Natália Belizario Diretora de Arte Carina Brito Ilustrador Carla Camila Garcia Editora de Fotografia Álvaro Logullo Redes Sociais e Editor Online Nelson Niero Repórteres Online Laís Ribeiro e Vinícius Bernardes Vídeo Fernanda Giacomassi e Victória Damasceno Teaser Carolina Monteiro Diagramadores Amanda Panteri, Catarina Ferreira, Giuliana Viggiano, Leticia Fuentes, Mateus Feitosa e Nara Siqueira Repórteres Carina Brito, Carolina Marins, Gabriel de Campos, Diogo Magri, João Almeida, José Paulo Mendes, Leticia Fuentes, Marcos Hermanson, Mariana Gonçalves, Mariana Mallet e Vinícius Sayão Revisora Regina Santana Making Of Leornardo Mastelini Endereço Av. Prof. Lúcio Martins Rodrigues, 443, bloco A. Cidade Universitária, São Paulo - SP CEP: 05508-900 Telefone: (11) 3091-4211 O suplemento Claro! é produzido pelos alunos do 6º semestre do curso de Jornalismo, como parte da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso - Tiragem 8000 exemplares.


Não. Não. NÃO! EU AINDA NÃO CONSIGO ACREDITAR QUE ELE TERMINOU COMIGO. E por Whatsapp ainda! Já faz 24 horas que eu li aquela mensagem que estraçalhou o meu coração e ainda não consigo acreditar. Nem sair da minha cama. Comer? Pra que? É impossível terminar de ver Stranger Things porque a gente tinha combinado de ver juntos e dói demais assistir sem ele. Como eu vou saber o que acontece no último episódio?? Mas tem alguma coisa de errado comigo que não tem como ter sido causada apenas pelo término. Eu tenho certeza de que estou doente porque não é possível que essa dor que eu esteja sentindo seja normal. Vou pedir para a minha mãe me levar ao médico quando ela chegar em casa. Meus amigos ficaram tristes quando levaram um fora mas eu tenho certeza de que o meu caso é mais grave e eu preciso de um diagnóstico antes que seja tarde. Tenho que me distrair da saudade que estou sentindo. Acho que vou ouvir música. Eu que sempre achei que os cantores sertanejos exageravam nas letras e agora me pergunto se eles se inspiraram em mim para compô-las! A Marília Mendonça está certa: sem você a vida não continua. E agora, como eu faço para continuar? Não dá! É o fim. Ah, não. E aqui, no Facebook? Todo mundo vai ver que não estou mais em um relacionamento sério. O que vou falar? Não posso dizer que ele terminou comigo. Imagina, levar um pé na bunda. Vou falar que foi de comum acordo, aham, mesmo sabendo que eu nunca terminaria com ele. Mas ele fez isso comigo. Como assim o amor acabou? O amor não era eterno? Meus amigos dizem que estou exagerando, que isso é “normal” para um fim de relacionamento. Ainda dizem que até Fátima Bernardes e William Bonner terminaram em 2016 e hoje estão ótimos. “Ano novo vida nova”, falam. Mas será que eles não entendem? Não vêem que eu não vou ficar bem? Nem daqui um milhão de anos? Perdê-lo foi pior do que tudo que poderia acontecer, pior do que final de novela. Seria melhor se o mundo tivesse acabado de uma vez! Sem ele, não existe final feliz. E não é drama.

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TEXTO: Carina Brito e LetIcia Fuentes DIAGRAMAÇÃO: Nara Siqueira

claro! Novembro 2017


doença pronta para desembarcar Cidades brasileiras enfretam o retorno de doenças “extintas” Um post recente num grupo do Facebook exibe o link para a manchete: “Criança tem paralisia após tomar vacina contra pólio em MG”. Quem mostra é a administradora do grupo, Iolanda Santos*, dedicada a “desmistificar” a vacinação nas redes sociais. “Você sabe o que realmente é a poliomielite?”, pergunta. “Será que as vacinas acabaram mesmo com as doenças?”. A provocação é em referência à erradicação da paralisia infantil no Brasil, que data de 1990, segundo o Ministério da Saúde. Caracterizada pela flacidez muscular e paralisia motora, a poliomielite é uma doença que traz sequelas permanentes. Altamente transmissível, no passado fez epidemias no Brasil e no mundo. A reportagem trazida por Iolanda, sobre um caso de 2011, alertava para a suspeita de um bebê ter contraído paralisia pós-vacinal, evento que acontece a cada 2,3 milhões de doses, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS). Grupos antivacinistas, geralmente formados por chefes de família, têm justamente este medo: o de que os componentes das vacinas (agentes infecciosos ou substâncias químicas), ao invés de proteger, provoquem reações adversas ou a própria doença que tentam evitar. Segundo a infectologista e integrante do comitê de imunizações da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), Rosana Richtmann, graças à vacinação, o Brasil combateu doenças como a pólio e a varíola, e todos devem tomar as doses necessárias. “As pessoas se enganam se acham que vão proteger suas crianças se não as vacinarem”, diz a pediatra e imunologista Kelly Oliveira. Durante a infância, a imunidade e o sistema de defesa ainda estão em for-

mação, e apenas as vacinas podem preveni-las contra algumas doenças. “Por isso são tantas doses no início da vida.” “A gente tem dados, sim, mostrando que algumas vacinas têm mais chance de causar evento adverso”, conta Richtmann. Mas as complicações são leves e temporárias, com sintomas como febre e dor no corpo. Já as histórias do Facebook – onde se mostram crianças com hemorragias ou membros amputados – não têm confirmação na literatura médica. No caso do “efeito” do autismo, frequentemente citado entre antivacinistas, a pediatra reforça: é mentira. “Se está erradicada, por que precisamos vacinar contra a paralisia?”, questiona uma mãe na internet. Richtmann diz que é preciso que toda a população esteja vacinada para que o vírus deixe de circular. “Tem gente que não se vacina e, para justificar, diz que antigamente não era assim”, completa Oliveira. “Mas o mundo de hoje é outro.” A erradicação também pode não ser o fim da história. Segundo a OMS, apesar do êxito das políticas de prevenção nas Américas, a poliomielite ainda existe no Paquistão, Afeganistão e Nigéria. “Como temos voos entre os países, ainda existe o risco de reintrodução do vírus”, afirma Richtmann. Apesar de remota, a possibilidade é um alerta para os profissionais de saúde, dada a gravidade da doença. “Se a gente diminuir nossas coberturas vacinais, se deixar de fazer os reforços… O vírus não está erradicado no mundo.” *Nome fictício.

Texto: mariana gonçalves Diagramação: Amanda panteri



O Fim está [sempre] próximo Texto: Carolina Marins Arte e diagramação: Leticia Fuentes

Em milhões de anos de existência da humanidade, a sociedade, a ciência e a tecnologia evoluiu de uma forma que constantemente nos perguntamos: onde iremos parar? Sem saber o que reserva o futuro, o ser humano procura possíveis sinais do seu fim. A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos, o crescimento do extremismo político, aprovação do casamento gay, podem parecer presságios de que “o fim está próximo” para alguns, tão próximo quanto esteve há milhares de anos. Segundo João Paulo Pimenta, historiador pela Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP, a espera pelo fim dos tempos surgiu junto com a religião. “Durante séculos a humanidade se pergunta qual o seu rumo e dentro dessa questão a ideia de fim do mundo surgiu de forma espontânea”, explica. Nossa atual visão de que o fim do mundo será trágico está diretamente relacionada com a maneira como enxergamos o tempo. As primeiras teorias sobre o fim não eram tão negativas como as atuais. As religiões antigas possuíam uma concepção cíclica do tempo, ou seja, tudo tinha um começo, um fim e um recomeço, que se repetiria eternamente. O hinduísmo é um exemplo de religião cujo tempo é cíclico. A ideia linear do tempo, portanto, começo, meio e fim, surgiu na Pérsia, entre os séculos X e V a.C. no Mazdaísmo, que acreditava que o oceano seria coberto por lava e metal, onde só os justos atravessariam. É dessa visão do tempo e do fim que surge o conceito do Juízo Final, presente no cristianismo, judaísmo e islamismo. O apocalipse seria uma forma de purificar o mundo das maldades da humanidade. A partir do momento que o tempo passa a ser linear, o fim torna-se o final absoluto, sem recomeços. O futuro, então, se torna incerto e, portanto, amedrontador. Dessa forma, as antigas teorias sobre o fim dos tempos ganham um novo contexto, muito mais catastrófico. Nasce a ideia de que o fim será sanguinário, sofrido e em massa. Ainda há uma forte presença da moral em teorias religiosas, como as evangélicas, de que os pecadores irão sofrer. Porém, o apelo atual está muito mais ligado à desastres naturais, humanos e astronômicos, como o aquecimento global, uma guerra nuclear ou a morte do Sol, cuja verossimilhança científica convence. Segundo Pimenta, enquanto o futuro for um mistério, especulações sobre o fim irão existir, com teorias semelhantes às antigas. Enquanto isso, continuaremos nos perguntando, sendo alimentados por centenas de obras de ficção-científica: quando e como será o “próximo” fim do mundo?

FonteS:

ELIADE, Mircea. O sagrado e o profano. Martins Fontes, Rio de Janeiro - 2012 Filmes: “2012”; “Interestelar”; “Núcleo - missão ao centro da Terra”; “O dia depois de amanhã”; “Independence Day”; “Armageddon”; “Contágio”; “Impacto Profundo” Páginas online: http://bit.ly/2iGWjPl


Claro! Novembro 2017

memórias de uma velha tartaruga Texto: Marcos Hermanson Arte e diagramação: Leticia Fuentes

Olá. Meu nome é George e eu sou o último membro da minha espécie ainda a habitar o planeta. Tenho 112 anos, e com esses olhos de tartaruga já vi muita coisa. Quando mãe tartaruga me deu à luz, ainda havia muitos de nós, os Chelonoidis abingdonii, mas isso mudou muito. Os humanos que chegaram às ilhas Galápagos -- primeiro os pescadores, depois os cientistas, como aquele tal de Darwin -- vieram a achar nossa carne muito macia, esse foi nosso azar. Sempre levamos a vida em paz, devagar, e isso também deixou as coisas mais fáceis pra eles na hora de nos capturar. Éramos muitos, e hoje somos muito poucos. Mas agora não adianta chorar. A vida seguiu, apesar de ela já não fazer mais tanto sentido como antes. É muito difícil viver por conta própria, sabe? Sem ninguém com quem conversar, sem uma companheira ou uma prole pra chamar de sua. Era 1971, e havia um americano que não estava metido e nem se interessava pela tal Guerra do Vietnã. Esse homem era Joseph Vagvolgyi. Como seus colegas biólogos, ele achava que os nossos haviam todos desaparecido, mas ainda restava a mim. Quando me encontrou, fui levado até um centro de pesquisa, e ali pude conviver com outros quelônios gigantes como eu. Bem, não era como se fossem da minha espécie, mas já era algo. É engraçado. Os humanos que por tanto tempo nos devoraram, agora pareciam muito preocupados comigo, críticos à voracidade de seus antepassados, mas talvez já fosse tarde demais. Como tentei explicar a eles várias vezes, minhas articulações já não são as mesmas, e meu sex appeal também não. Então quando trouxeram Lucy e Lupita da ilha de Volcano, demorou vários anos para acasalarmos. Quando isso finalmente aconteceu, os ovos que fizemos foram inférteis. Eu, que tenho 100 anos sobre o casco, sofri como se fosse uma tartaruga bebê. Depois esqueci essas ideias malucas dos humanos de “perpetuar a minha espécie” e me dediquei a uma vida tranquila. Ouvia as notícias do mundo lá fora através de meu cuidador, o Seu Fausto, e pensava que afinal de contas o homem não tinha mudado tanto assim. Era um belo dia de sol -- 24 de junho de 2012, para ser preciso -- e eu aquecia minhas rugas sobre as pedras. De repente me bateu vontade de beber água. Arrastava minhas grandes patas com calma, até aquela pequena fonte ladeada de pedras, quando minha visão ficou turva e eu senti meu corpo esmorecer, tombando no chão tranquilamente. Aqui jaz George, o último dos quelônios gigantes da ilha de Pina (1900-2012)

Colaboraram:

Franco Souza, biólogo e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS)

Fontes:

Páginas online: http://bit.ly/2mpxT1H; https://glo.bo/2AH4ZfG; http://bit.ly/2iWMtJ8

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'onde o tempo não tem pressa' Maria do Rosário Sosa, 53 anos, é dona da Pousada Sol de Verão, localizada no pacato vilarejo do litoral da Bahia. Maria cresceu no estado e hoje vive lá com o marido, irmã e duas primas. Mas ali, pouco tem ficado nos últimos anos. Viajar o mundo tem sido sua rotina. Depois de 44 países e quatro continentes, a próxima de suas paradas é na antiga cidade Inca de Machu Picchu. Apesar de nunca ter visitado o lugar, já o conhece. Falou sobre ele nas muitas aulas que lecionou em uma vida que ficou no passado, e já não existe mais. Sosa, como era chamada pelos alunos, deixou Salvador ainda no ensino médio, finalizado em São Paulo, que se tornou sua casa por mais de duas décadas. Formou-se em história em 1987, aos vinte e três anos, quando, por necessidade, teve de abrir mão do sonho de seguir profissão na área, e ser historiadora, para ingressar no mundo pedagógico. Por dois anos, rodou por escolas menores, enquanto tinha como principal sustento as aulas particulares. Foi quando, em 1989, entrou no Colégio Santa Marcelina, bastante conhecido no lado oeste da capital paulista, à época com quase 1500 alunos, dos quais 350 sob sua tutela no ensino de História. Professora de todo o ensino médio, tornou-se uma referência entre a docência, o que lhe garantiu, doze anos depois, o cargo de coordenadora da matéria no colégio, onde ficaria até março de 2011. Neste período, Sosa viu e agiu contra diversas mudanças que acabariam por minar a credibilidade de outrora do colégio. Mas contra a mudança daquele ano, ela nada pode fazer. O novo corpo administrativo integrou o Santa Marcelina a uma rede nacional, responsável por instaurar novos padrões de uniforme, conduta em sala de aula e, claro, do quadro de professores. Os mais antigos foram demitidos, e assim, Sosa deixava o lugar onde havia construído sua carreira por vinte e dois anos. Bateu à porta de outros colégios, arriscou tentar em cursinhos, mas o alto salário pretendido era um empecilho aos empregadores. Depois de quase um ano tentando, veio o ostracismo, acompanhado por um sentimento de impotência, que a fazia duvidar da sua mais íntima capacidade. As manhãs não eram mais diante dos quase cinquenta alunos de cada sala, mas bem longe deles. E foi nesse distanciamento que ela percebeu: aquela estrada que se acabava, abria ao lado um novo caminho. Um novo velho caminho. Ela deu voz a um de seus mais antigos desejos, soterrado pela profissão que aprendeu a amar. Desde 2012, Cumuruxatiba, “onde o tempo não tem pressa, e a preguiça é mais gostosa”, é sua nova casa, e dela fez sua porta para o mundo. Atualmente está no Equador, onde deve ficar até desembarcar no Peru. Hoje, retomou um velho sonho: vive a história com os próprios olhos.

Texto: GABRIEL DE CAMPOS FOTO: PIXABAY diagramação: CATARINA FERREIRA


claro! novembro 2017

Janeiro de 2017

Diário de Batatais

ESPORTES

Equipe conquista incrível vice-campeonato

Um círculo no meio do campo, formado por torcedores, jogadores e diretores, agradece pela glória conquistada. O motivo do agradecimento está no meio da roda: um troféu. A cena, ocorrida em Batatais, a 355 km da capital São Paulo, é comum após a vitória de um time de futebol na final de um campeonato. Um aspecto, entretanto, chama a atenção em toda aquela comemoração. O troféu é de prata - a cor do segundo lugar.

contribuído para tudo aquilo. Ainda assim, estava muito animado pela equipe”.

Enquanto Maurício controlava a expectativa no hotel onde o time estava hospedado, na capital, Bruno se dirigia a São Paulo com a caravana que havia saído de Batatais na manhã do dia da final. “Fomos em seis ônibus e alguns carros”, conta. Chegar ao Pacaembu e encher um setor das arquibancadas parecia inimaginável para a torcida de um Conhecer o Batatais FC ajuda no entendimento do con- clube tão pouco conhecido. “Ali, caímos na realidade e entexto. Com 98 anos de história, a equipe não possui uma tendemos o que aquilo significava”, reforça Bruno. E, quanestrutura que rivalize sequer com outros times do inte- do a bola rolou, o time grande, empurrado pela tradição de rior. Em 2017, porém, o Batatais se sagrou vice-campeão títulos e por milhares de torcedores no estádio, teve dificulda Copa São Paulo de Futebol Júnior, a competição mais dades frente àqueles meninos do interior. importante da categoria sub-20 no Brasil. “Foi tudo lindo, Bruno resume, orgulhoso: “A determinação de cada atlenunca vai sair da minha cabeça”, comenta Bruno de Paula, ta nos impressionou”. Por isso, o resultado, 2x1 para o Comembro de uma torcida organizada do time que acomparinthians, pouco importou. O que se viu após o apito final nhou toda a campanha. foi uma festa de ambos os lados. Para Maurício, a chateação Dos 120 clubes que iniciaram a competição, Batatais e de não poder ajudar os companheiros ou mostrar seu fuCorinthians chegaram à final, no dia 25 de janeiro, no Pa- tebol em rede nacional desapareceu após o jogo. “Não tecaembu. Maurício Kem, volante do Batatais, mal conse- nho nem palavras para descrever uma felicidade tão grande guia acreditar no que estava vivendo: “Era um sonho meu quanto a que senti naquela hora”, disse. Após a partida, eles de muito tempo atrás”. Maurício, por conta de um cartão voltaram com os ônibus para Batatais e encerraram a festa amarelo na semifinal, não pôde enfrentar o Corinthians, no campo do time, com a roda de agradecimento. Naquele mesmo tendo sido titular a competição inteira. “O que dia, a medalha de prata, cujo clichê é ser símbolo de uma mais me chateou foi não ter jogado a final, mesmo tendo derrota, teve um valor dourado.

Texto: DIOGO MAGRI

foto: maurício kem diagramação CATARINA FERREIRA

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Zeca e Rui estão tentando encontrar Ritinha - “Nasci para viver presa!” Geisa tem sua grande oportunidade no UFC - “It´s time!” E Bibi decide confessar seu crime - “Fui eu que incendiei o restaurante.” - “Então você está presa!” Amanhã, último capítulo de “A Força do Querer”. A novela sempre fez parte da vida do brasileiro, com a televisão ocupando o lugar principal na sala. Sempre foi um ritual das famílias acompanhar, após o jantar, a vida de intrigas, aventuras e amores das personagens. A TV ditava tendências e provocava grandes polêmicas nacionais ao falar de aborto, sexualidade, Aids, drogas, reforma agrária e outros. E o final de uma trama sempre causou grande expectativa, quando no sofá era discutido quem ia ficar com a mocinha, o que ia acontecer com o galã, ou como o vilão ia morrer. O último capítulo de Roque Santeiro parou o país em 1986, e a audiência de 67 pontos nunca foi superada. O final é importante, mas a professora Esther Imperio Hamburger, do Departamento de Cinema, Rádio e Televisão da ECA, lembra que é mais interessante para o autor adaptar o roteiro durante a trama. O fim não é necessariamente o que se espera e o que importa é a busca de interlocução, adequação e suspense. “No final, o autor pode até surpreender porque o público já chegou até ali e não haverá nada depois”, afirma. Nos anos 90, a discussão familiar em volta da TV ficou morna, com a TV a cabo, aparelhos nos quartos e os computadores pessoais. Foi assim até a chegada das telas gigantes, em meados de 2005, com modelos de mais de 40 polegadas e alta definição, quando voltou a reinar nas salas, fina e elegante, um objeto de desejo. Passou a ser não apenas uma TV, mas uma central multimídia online. O fim de uma novela, principalmente da TV Globo, continua despertando muito interesse, mas precisa competir com os elementos fora do canal. O telespectador ainda fica no sofá, mas de olho no celular e na internet, onde comenta tudo em tempo real. Se uma personagem agrada ou não, logo as redes mostram; se algo foi engraçado, rapidamente vira “meme”; se a trama vai ficando ruim, mais pessoas se conectam para reclamar. Muitos também telefonam para a emissora todos os dias, dando palpites e perguntando até a marca de esmalte da atriz. Seja como for, a novela pode ter um último capítulo, mas a discussão, real ou virtual, não.

Novela na vida real

texto : João paulo Almeida arte: Carla Camila fotografia: Álvaro Logullo Neto diagramação: Mateus Feitosa


claro! novembro 2017

Viveram felizes para sempre Você é feliz? Ah, a felicidade está sempre em jogo! Novelas, filmes e livros, todos com tramas diferentes, tentando alcançar um único objetivo: o final feliz. Mas, afinal, o que é essa tão cobiçada felicidade que a humanidade busca ininterruptamente? Alguns dizem que ser feliz é não ser infeliz - leia-se razoavelmente satisfeito - em nenhum aspecto da vida. Muitos filósofos também já bateram na mesma tecla que hoje insisto em bater. Schopenhauer, por exemplo, concluiu que a felicidade plena era inconcebível: buscá-la é o mesmo que evitar infelicidades. Claro, sabemos que o alemão era pessimista, mas, será que ele está tão errado assim? É engraçado como a felicidade conduz os homens. Até Harvard estuda a felicidade! Para os cientistas norte-americanos, as pessoas infelizes são as que pensam muito sobre a felicidade. Acredite se quiser, mas um estudo feito por eles indicou que as pessoas mais felizes eram as que aproveitavam o momento, sem estar com a mente em outra preocupação. Então toda aquela história de carpe diem (aproveite o dia), que era moda tatuar, nos anos 90, é verdade? Vamos olhar por outro lado então. Bertrand Russell dizia que, para alcançar a felicidade, era preciso desapegar-se dos egocentrismos, focar-se nos aspectos externos da vida: os relacionamentos, o trabalho, as sensações. E se juntarmos tudo? Temos aqui que felicidade é não ser infeliz em nenhuma área da vida; é evitar as infelicidades; é aproveitar o momento; e desapegar do egocentrismo. Ora, se você não é infeliz com nada na sua vida, você tem evitado o que te deixa infeliz, certo? E se você tem evitado o que te deixa infeliz, por exemplo, deixou de trabalhar aos finais de semana, você aproveita mais o que te deixa feliz, como passar um tempo com entes queridos. E se você aproveita mais os seus momentos, você desapegou do egocentrismo que te faz procurar a felicidade plena incansavelmente: você saiu de dentro de si. O leitor vai me questionar: como isso se aplica no mundo real? Afinal, esses são pensamentos de filósofos. Mas, engana-se quem acha que essa conclusão é exclusiva dos pensadores. Outro dia mesmo, um senhor sentou-se ao meu lado no metrô, puxando conversa. Eis que aproveito e lanço a pergunta - inconveniente - se ele é feliz. Seu Jorge gastou muito tempo atrás da felicidade: passou fome, trabalhou de domingo a domingo. E, então, com setenta e muitos anos, ele enxerga que os seus momentos de verdadeira felicidade foram quando não estava em busca da mesma. Ora, o que um velho qualquer tem a ver? Pense comigo: para alcançar a felicidade, ele trabalhou incessavelmente, deixou de fazer o que queria. Mas, quando nem sequer pensou nela, estava feliz. Então, depois de tudo isso, eu venho tentar te convencer que eles estão falando basicamente a mesma coisa, de maneiras diferentes? Não, afinal, não existe fórmula para a felicidade. Enfim, chega de martelar sobre ela. Hoje o dia está lindo.

texto : Mariana Mallet arte: Carla Camila diagramação: Mateus Feitosa

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O FIM QUE TODOS ESPERAMOS Texto: José Paulo Mendes Diagramação: Giuliana Viggiano

Olho para o relógio. Ainda faltam dez minutos. Mas parece que faltavam onze há meia hora. Não aguento mais esperar, só quero que o relógio atravesse o ponteiro da meia noite para ver o céu iluminado de várias cores. Começo a olhar em volta e ver minha família. Percebo que não estou sozinho nos meus pensamentos de pessoa ansiosa. Até aquele meu tio mais calmo não para de olhar para o pulso e conferir o relógio. Será que agora a aposentadoria dele sai? Minha mãe, que até há pouco não saía da cozinha, levando e trazendo comida, não se mexe mais. Colocou a roupa branca especial, separada exatamente para essa noite. Meu irmão vai prestar vestibular para medicina daqui uns dias. É a quinta vez que ele tenta. Nem para a festa veio. Meu avô, que já estaria dormindo faz tempo, está acordado e também um pouco ansioso, mesmo já tendo passado por essa situação tantas vezes, mas esse ano é diferente, depois de 64 reveillons junto da vovó, ele agora está sozinho. Tranquilo mesmo, só o Pedro, mas com três meses ninguém é muito preocupado com nada. O pai do Pedro, meu outro tio, tão cético e afastado dessas coisas da família, agora está aqui, produzi-

do com uma das roupas que mais atraem superstições. A expressão no rosto é de quem não aguenta mais esperar. Ele precisa de um emprego para sustentar a criança. O maior barulho que sobrou é o da televisão. Ou no máximo da criançada correndo lá no fundo, ainda sem entender muito o que está acontecendo. Faz bem refletir nos momentos finais, por isso que essa família, que fala, fala e fala ainda mais, está tão quieta há tanto tempo. O Pedro começa a chorar e causa um barulho que rompe o silêncio. Basta isso para todo mundo esquecer um pouco o que se passava, mas logo tudo termina e o menino se abraça à mãe. E o choro que termina parece acalmar todo mundo. Como se as coisas ruins fossem embora com ele durante a virada do ano. Dizem que existe uma mágica na noite do ano novo: assim que os ponteiros do relógio marcam meia noite, todos ganhamos um novo começo! Eu não sei quanto a você, mas eu não acredito nessas coisas. Se bem que meus tios, minha mãe, meu avô e talvez até eu poderíamos aproveitar bastante um novo começo! Saberemos em dez...


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