Fanzine Lattes n.2

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LATTES Fanzine do Programa de Pós-Graduação em Educação da UECE

N.2 - 2015.1


FANZINE LATTES Número 2 - 2015.1 Produção Editorial Cláudia Sales de Alcântara Organizadores Cláudia Sales de Alcântara Isabel Maria Sabino de Farias Maria Socorro Lucena Lima Projeto gráfico Cláudia Sales de Alcântara

SUMÁRIO Mas, o que é fanzine.............................................................................. 06 Cláudia Sales de Alcântara Tirando... .................................................................................................08 Produção coletiva Formação de professores: reflexões mediadas por história em quadrinhos .............................................................................................10 Tânia Maria de Sousa França Para além do recurso didático: uma postura metodológica de “colabor-ação” pedagógica.........................................................................14 Maria Socorro Lucena de Lima Tirando... .................................................................................................18 Produção coletiva Ensino-aprendizagem no cotidiano educacional: história em quadrinhos ou quadrinhos em história?.............................................20 Manuela Fonseca Grangeiro História em quadrinhos ou quadrinhos em história?........................23 Manuela Fonseca Grangeiro


Caro leit@r, Você possui em suas mãos o segundo exemplar do Fanzine Lattes, uma publicação que reúne os trabalhos dos alun@s de mestrado e doutorado do Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da Universidade Estadual do Ceará (UECE), matriculados no Seminário temático Charge, cartum e HQ como recurso didático no processo de ensino-aprendizagem, ministrado pelas professoras Maria Socorro Lucena Lima e Cláudia Sales de Alcântara. Este seminário, de 06 encontros, tem por objetivo compreender os quadrinhos enquanto uma linguagem com características próprias e que estabelece interfaces com a educação, possibilitando assim que os interessados ampliem seus conhecimentos em relação a esta produção; e também: ü Apresentar os recursos gráficos envolvidos na constituição dos quadrinhos; ü Discutir as contribuições e limites das histórias em quadrinhos na educação; ü Possibilitar a utilização das histórias em quadrinhos na sala de aula; ü Analisar pesquisas e projetos de extensão existentes que envolvem histórias em quadrinhos. O final de cada encontro culminava com uma oficina de produção de quadrinhos para sintetizar as aprendizagens do seminário. Foram realizados trabalhos de desenhos, colagens, tirinhas, etc. O material produzido nas oficinas pelos alun@s e professoras no decorrer dos encontros compõe o fanzine (uma produção independente) que está em suas mãos, sendo este também o produto final da disciplina. Esperamos que você goste e sinta-se convidado a fazer parte dos próximos seminários. Boa leitura, As organizadoras


Autores Maria Socorro Lucena Lima: Doutora (2001) e Pós-doutora (2007) em Educação pela Universidade de São Paulo. Pertence ao Programa de PósGraduação em Educação (PPGE) da Universidade Estadual do Ceará, como professora e pesquisadora. Cláudia Sales de Alcântara: Mestre (2008) e doutora (2013) em Educação Brasileira, pela Universidade Federal do Ceará.

Atualmente é pós-

doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará. Ana Carolina Costa Pereira: Mestre em Educação Matemática pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (2005) e doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (2010). Atualmente é professora Adjunta da Universidade Estadual do Ceará. Antônio Dário Lopes Júnior: Psicólogo, mestrando em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. Membro do Núcleo de Psicologia Social e do Trabalho, Laboratório de Psicanálise e da Liga de Direitos Humanos. Cláudio César Torquato Rocha: Doutorando e Mestre em Educação pela Universidade Estadual do Ceará (2013). Atua como Professor no Ensino Médio e no Ensino Superior. Membro do Grupo de Pesquisa Educação, Cultura Escolar e Sociedade (EDUCAS/UECE), onde desenvolve estudos sobre formação e saberes docente. Dayslania Fernandes Ribeiro: Graduada em Pedagogia e Letras e atualmente mestranda em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. Professora especialista da Secretaria da Educação do Ceará. Rivanildo Barbosa da Silva: Mestre em Educação Brasileira (2014) e licenciando em Pedagogia pela Universidade Federal do Ceará; licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual do Ceará (2011). Atualmente é professor de Ciências e Biologia.


Geovanio Carlos Bezerra Rodrigues: Mestrando do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará. É Bolsista de formação acadêmica FUNCAP. Possui licenciatura em História pela Universidade Federal do Ceará (2010). Hugo de Melo Rodrigues: Mestrando em Educação pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Graduação em História e Teatro pela Universidade Regional do Cariri - URCA. Membro do Instituto Cultural do Vale Caririense - ICVC; Instituto Cultural do Cariri - ICC; Sociedade dos Poetas de Barbalha e Conselho Estadual da Cultura - Ceará. Karla Karine Nascimento Fahel Evangelista: Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará. Bolsista CAPES de Pós-Graduação. Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará. Manuela Fonsêca Grangeiro: Doutoranda e mestre em Educação pela Universidade Estadual do Ceará. Bacharel em Direito pela Universidade de Fortaleza e graduada no Programa Especial de Formação Pedagógica Esquema I, pela Universidade Estadual do Ceará. Maria Virginia Tavares Cruz: Mestranda em Educação, graduada em Enfermagem e Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Professora, coordenadora de polo de apoio presencial da Universidade Aberta do Brasil - UAB e do Centro Vocacional - CVT de Beberibe - Instituto Centro de Ensino Tecnológico. Sônia Maria Soares de Oliveira: Mestranda em Educação e graduada em História (2006) pela Universidade Estadual do Ceará. Atua como professora da Educação Básica na rede estadual de ensino desde 2001 lecionando a disciplina de História no ensino médio. Tania Maria de Sousa França: Doutoranda e mestre em Educação pela Universidade Estadual do Ceará - UECE. Graduada em Serviço Social pela UECE e Pedagogia pela Universidade Metodista de São Paulo - UMESP


MAS, O QUE É FANZINE??? Cláudia Sales de Alcântara Fanzine é toda publicação feita pelo fã. Vem da contração de duas palavras inglesas e significa literalmente 'revista do fã' (fanatic magazine). É uma publicação marginal (à margem da sociedade) despretensiosa, eventualmente sofisticada no aspecto gráfico, livre de preconceitos, que engloba todo o tipo de temas, com especial incidência em histórias em quadrinhos, ficção científica, poesia, música, feminismo, cinema, jogos de computador e videogame, etc. Este veículo se disseminou de tal forma que hoje empregamos o termo fanzine a todo tipo de publicação que tenha caráter amador, que seja feita sem intenção de lucro, pela simples paixão pelo assunto enfocado. Utiliza-se de colagens, desenhos feitos à mão e de muita criatividade para criar o formato desejado, chegando a possuírem uma aparência poluída. Suas principais características são: tiragens modestas, distribuição gratuita e dirigida a um determinado círculo de pessoas e lugares, divulgação de ideias próprias do editor, temática livre e sem compromisso com ideologias oficiais. Aliás, essa é a sua principal característica, são veículos de opinião "extraoficial". Por "extraoficial" entende-se tudo aquilo que não está comprometido com empresas, organizações, governos ou instituições, daí sua característica marginal. Nesse sentido, poderíamos até dizer que os fanzines estão a favor da "desorganização", da difusão desordenada da informação, sem formatos preestabelecidos ou manuais de redação e estilo, mas sem deixar de possuir uma organização própria,

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com temas, público, linguagem e táticas de publicação que poderíamos denominar de “cultura do fanzine”, cultura essa alternativa. Assim, são fanzines as publicações que trazem textos diversos, histórias em quadrinhos do editor e dos leitores, reprodução de histórias em quadrinhos antigas, poesias, divulgação de bandas independentes, contos, colagens, experimentações gráficas, enfim, tudo que o editor julgar interessante. São distribuídos gratuitamente ou, no máximo, pede-se uma contribuição voluntária para ajudar nas cópias do original. Este fanzine tem o objetivo de divulgar as atividades XVII Encontro Nacional de Didática e Prática de Ensino – ENDIPE e do Programa de PósGraduação em Educação da Universidade Estadual do Ceará. Para aqueles que nunca estiveram em Fortaleza, também trazemos sugestões de locais para comer e se divertir. Espero que esta iniciativa possa ser uma inspiração para que outras pessoas (e porque não pesquisadores) divulguem suas ideias (e porque não pesquisas) de forma mais leve alcançando, inclusive, a sociedade extra acadêmica.

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Tirando... Exercício de criar histórias a partir dos desenhos de tirinhas já publicadas. Descreva suas férias.

Vaaalha! Só isso!

Tirinha do Calvin reescrita por Dário Júnior (mestrando PPGE/UECE) O que senhora acha de fazer mestrado na UECE?

Não é pra nós, ‘reles’ mortais! É para os nerds!

Mas eu tô fazendo...

Tirinha do Dr. Pepper reescrita por Maria Virgínia Tavares (mestrando PPGE/UECE)

Finalmente terminei!

O PC desligou!!!

O arquivo foi salvo...

Em branco! Eu quebro!

Tirinha do PHD Comics reescrita por Rivanildo Barbosa (Aluno especial PPGE/UECE)

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Diga algo importante c/ a letra P!

Ai, ai, ai... Lá vem ele...

Publicação Qualis A!

Eu sabia! Todos só pensam nisso!

Tirinha da Mafalda reescrita por Karla Karine Evangelista (mestrando PPGE/UECE)

Professora! Qual é a raiz quadrada de 12342?

O importante é saber usar a matemática no dia-a-dia!

Poxa! Quando a gente quer parecer inteligente a professora diz isso...

Tirinha do Calvin reescrita por Dayslânia Fernandes (mestrando PPGE/UECE)

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FORMAÇÃO DE PROFESSORES: REFLEXÕES MEDIADAS POR HISTÓRIA EM QUADRINHOS Tânia Maria de Sousa França Para realizar uma síntese reflexiva sobre essa temática vou usar como metodologia o método (con)texto de letramento múltiplos produzindo um texto-sentido, tendo como base a leitura dos artigos: Histórias em quadrinhos no processo de aprendizado: da teoria à prática, A formação do professor e as histórias em quadrinhos na sala de aula, O uso de quadrinhos no ensino da matemática: um ensaio com alunos de licenciatura em matemática da UECE e A documentação sobre histórias em quadrinhos: a contribuição do Diretório Geral de Histórias em Quadrinhos no Brasil. Produzir um texto-sentido corresponde dizer dos sentimentos após a leitura do texto, podendo usar as mais diversas linguagens, como afirma Cavalcante Júnior (2001, p.52) ”neles são registrados os sentimentos e reflexões dos alunos, suas indagações, seus desejos de mudança, suas inseguranças, suas certezas, seus amores e desamores pelos fenômenos sociais presentes em nossa cultura, pelo ser humano e pela vida que os cerca”. Então a pergunta que deflagra a escrita de um texto-sentido é: O que senti ao ler o texto? Nesse momento faço-me a pergunta: O que senti ao ler os textos já mencionados? Diante das reflexões dos autores, primeiramente, veio o sentimento de alegria por está diante de algo conhecido, familiar. Sentimento esse que me reportou para a década de 1990, trazendo da memória os ensaios que fazia das histórias em quadrinhos como recurso mediador de reflexões na formação de professores, tanto em conteúdos específicos como gerais e nas várias áreas do conhecimento. Daí o título para esse texto-sentido. -10-


Neste período fazia parte de um grupo interdisciplinar denominado GEPAP/OfinArtes, que pesquisava metodologias ativas com a finalidade de facilitar o processo ensino/aprendizagem. Como não lembrar o “Não cabeu” do Chico Bento, fazendo-nos pensar sobre o sentido dos exercícios repetitivos. E a produção de massa de modelar caseira, com as professoras da educação infantil, com a ajuda do menino maluquinho? O diálogo com a Mafalda, através das suas tirinhas, nos fazia refletir sobre vários aspectos do cotidiano escolar. Colecionar tirinhas separá-las por assunto, montar cartelas era um exercício que permitia além de produzir meus recursos didáticos conhecer a linguagem dos quadrinhos, como defendem Santos e Verqueiro (2012). O conhecer permite que o professor/formador utilize com mais propriedade esse recurso. Sobre isso Santos e Vergueiro ( 2012) apoiados em Ramos afirmam […] ler quadrinhos é ler sua linguagem, tanto em seu aspecto verbal quanto visual (ou não verbal)”, ressaltando, ainda, que dominar essa linguagem, “[…] mesmo que em seus conceitos mais básicos, é condição para a plena compreensão da história e para a aplicação dos quadrinhos em sala de aula e em pesquisas científicas sobre o assunto.

Nas formações que ministrava as HQs eram utilizadas para gerar reflexões de um determinado assunto, mas também oportunizava o professor manusear com esse recurso, com essa linguagem, percebendo todo o seu potencial por meio do seu aspecto icônico, ou seja, pela diversidade de expressão (texto verbal, vários tipos de balões com significados diferentes, metáforas visuais, onomatopeias). Porque como disseram os autores lidos ainda é escassa a formação do professor nesta linguagem. O sentimento de alegria também se deu por estarmos discutindo as HQs como possibilidades pedagógicas em um programa de pós-graduação com foco na formação de professor. -11-


Outro sentimento aflorado com a leitura dos textos foi de curiosidade gerando muitas descobertas e ampliação dos meus conhecimentos sobre a relação das HQs e a educação. Foi interessante saber que ao mesmo tempo em que ensaiava o uso dos quadrinhos na formação de professores era o período que também se refletia sobre isso de forma mais ampla e as HQs entravam nas escolas, nas salas de aula diminuindo o pré-conceito a esse tipo de linguagem. Perceber as HQs na sua amplitude de possibilidades e complexidade, ratificando algumas recomendações tão importantes como: ter esse tipo de leitura na escola não implica no uso e nem de forma correta; o cuidado na adequação para as diversas faixas etárias; que o quadrinho não substitui o texto literário é mais uma forma de apresentar a história e que para o professor utilizar como recurso didático precisa conhecer essa linguagem em todos seus aspectos, para que possa ter o resultado desejado no processo ensino/aprendizagem. Encerro esse texto-sentido provocando o leitor/professor a pensar sobre a sua relação com as HQs, antes mesmo de usá-la como recurso didático, com as perguntas: Qual o meu vínculo com as HQs? Que imagens afloram quando penso em HQs? O que sinto quando leio uma HQ?

1 CAVALCANTE JÚNIOR, F.S. por uma escola do sujeito: o método (con)texto de letramento múltiplos. Fortaleza: edições Demócrito Rocha, 2001 2 GEPAP – Grupo de estudo, pesquisa e ação pedagógica, gestado e gerido pela OfinArtes, uma instituição de formação de professor e mediadora de processos educativos. -12-



PARA ALÉM DO RECURSO DIDÁTICO: UMA POSTURA METODOLÓGICA DE “CO-LABOR-AÇÃO” PEDAGÓGICA Vou ficar mais um pouquinho para ver se eu aprendo alguma coisa nessa parte do caminho. (Talita Ruiz) Maria Socorro Lucena Lima

É possível tornar a sala de aula, um espaço de encontro, onde os professores e alunos possam aprender mais um pouquinho, as coisas que gosta, de forma diferente da convencional? Será que nessa parte do caminho, que se chama sala de aula, a gente consegue resgatar a alegria de estar juntos, de aprender e ensinar, desenhar e criar? Mas isso não seria “coisa” de criança? Não seria tecnicismo? Pensando nestas questões é que trago esta reflexão no sentido de reparar, ou seja, “olhar de novo” para a aula, tentando estabelecer uma relação de beleza, de afetividade, de co-labor-ação. Assim, peço ajuda aos estudiosos, que pesquisam na direção indicada para me situar neste debate e entrar na conversa sobre este tema. VOU FICAR MAIS UM POUQUINHO COM AS COISAS QUE EU GOSTO A estrofe da canção de Talita Ruiz, anotada como epígrafe deste texto me traz a lembrança um tipo de desenho, que eu chamo de “arte clandestina”. Ela se esconde nas páginas finais dos cadernos dos alunos. São rabiscos geralmente feitos na hora da aula, depois de um tempo de explicação do professor, ou de um debate de se reveza entre dois ou três interlocutores que dominam a matéria, que está sendo estudada.

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A tecnologia tem sido apontada como um caminho inovador que poderia solucionar as possíveis distorções pedagógicas e envolver os alunos de diferentes níveis de ensino. Da mesma forma que a falta de envolvimento dos alunos com a aula, ainda persiste, igualmente permanece em muitos dos Planos de Ensino dos professores, a nomenclatura trazida do tecnicismo da década de 1970, tais como as estratégias de aprendizagem ou dos recursos didáticos, entre outros. As pesquisas de Feldman (2001), em seu livro intitulado: Ajudar a Ensinar: relações entre Didática e Ensino, afirma que uma nova descrição da atividade dos professores não gera por si própria ima intervenção pedagógica. No entanto, acredita que um programa reflexivo, pautado na prática docente como um todo promova novas construções mentais podem se reverter em novos princípios e ações pedagógicas. O practium, tal como foi descrito por Schön, recupera, no meu entender, essas peculiaridades que podem ser redefinidas, agora em termos vygostskianos, como uma zona de interação em que se cria um espaço de reconstrução guiada pela experiência. Não se trata de uma “alternativa metodológica” o estabelecimento de um enfoque instrumental para abordar alguns dos problemas relacionados com a intenção de ajudar a ensinar. Na verdade, é o que se pode chamar de um princípio de procedimento. (FELDMAN, 2001 p. 110-111).

Há, portanto uma postura metodológica criada e recriada a partir do diálogo entre professor e aluno que promove um processo criativo, capaz de mobilizar a dimensão estética da competência. Rios 2010, explica que a competência docente, ou seja, um trabalho da melhor qualidade precisa de quatro dimensões: técnica, política, ética e estética.

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As perguntas sobre saber e ensinar nos remetia a algumas hipóteses: ainda falamos muito sobre o que sabemos e fazemos pouco para saber mais; a pesquisa é um caminho para aproximar saberes de maneira dialógica. (FRANCO, 2012 p. 104)

Uma postura metodológica sedimentada no diálogo, na construção do conhecimento coletivo inclui as diferentes linguagens da arte, da cultura e da tecnologia. Esta vivencia de apoio à aprendizagem situada no fazer e refazer a pratica docente está no eixo da pratica reflexiva capaz de fazer da docência um ponto de partida e de chagada para novas possibilidades formativas tanto do ensino como da pesquisa como do professor e dos alunos. Fazer a docência é viver em estado de formação contínua, diferentes experiências que vão compondo o cotidiano passam a integrar um universo de possibilidades que podem ser usados em situações de aprendizagem na sala de aula.

FELDMAN, Daniel. Ajudar a ensinar: relações entre didática e ensino; trad. Valério Campos. Porto Alegre: ARTMED Editora, 2001. FRANCO, Maria Amélia Santoro. Práticas pedagógicas nas múltiplas redes educativas. In.: LIBANEO, José Carlos; ALVES, Nilda (Orgs.). Tema de Pedagogia: diálogos entre didática e currículo. São Paulo: Cortez, 2012. p. 169 – 188. RIOS, Terezinha Azerêdo. Ampliar o diálogo de saberes para a docência. In: FRANCO, Maria Amélia Santoro; PIMENTA, Selma Garrido. (Orgs.). Didática: embates contemporâneos. São Paulo: Loyola, 2010. p. 101-131. -16-


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Tirando... Exercício de criar histórias a partir dos desenhos de tirinhas já publicadas. Profa, por que você não usa HQs?

Não dá pra aprender matemática com HQs!

Acho que não é o que as crianças pensam!

Tirinha do Calvin reescrita por Rivanildo Barbosa (mestrando PPGE/UECE)

1ª Semana Chamada p/ publicação!

2ª Semana

3ª Semana

Não vou consegui!

Adiaram os prazos!

4ª Semana Não consegui de novooo!!!

Tirinha do PHD Comics reescrita por Hugo Rodrigues (mestrando PPGE/UECE)

Quem quer ser professor?

Deus me livre! Ninguém merece...

Acho que eu serei um bom professor!

Qualquer um pode ser um professor!

Tirinha da Mafalda reescrita por Maria Virgínia Tavares (mestrando PPGE/UECE)

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Na Guerra Civil a senhora tá Calvin, a Guera Civil blá, do lado do Capitão America blá, blá, blá, blá, blá, blá, ou do Homem de Ferro? blá, blá, blá, ...

Sim professora... mas e o Capitão América e o Homem de Ferro?

Tirinha do Calvin reescrita por Dário Junior (mestrando PPGE/UECE) A Cláudia quer um artigo científico. Agora é moda esse negócio de artigo!

É porque ela não tem mais 5 disciplinas, nem trabalho fora da UECE!

Por que escrever? Eu só quero o meu certificado para trabalhar!

Tirinha do Dr. Pepper reescrita por Cláudio César Rocha (doutorando PPGE/UECE)

Escreva uma redação.

Ihh! Será que podia desenhar?

Tirinha do Calvin reescrita por Karla Karine Evangelista (mestrando PPGE/UECE)

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ENSINO-APRENDIZAGEM NO COTIDIANO EDUCACIONAL: HISTÓRIA EM QUADRINHOS OU QUADRINHOS EM HISTÓRIA?

Manuela Fonseca Grangeiro A relação ensino-aprendizagem é um assunto que permeia as discussões sobre o cotidiano educacional nas mais diversas instâncias de ensino: Educação Básica e Educação Superior. Como o professor desenvolve suas práticas em sala de aula de modo que alcance o melhor rendimento do aluno? Essa pergunta não quer calar. Ela sempre está presente quando o tema é ensino-aprendizagem. Nessa relação muitas abordagens metodológicas, paradigmas educacionais, práticas, reflexões enfim têm contribuído para que o professor se aproprie de instrumentos pedagógicos que facilitem e estreitem essa relação em sala de aula de modo que desperte uma maior participação do aluno na compreensão não só do conteúdo pelo conteúdo, mas do conteúdo contextualizado com a realidade de uma prática profissional. É nesse contexto que muitos profissionais da educação têm feito uso de instrumentos diversos. A arte tem contribuído na mediação dessa relação ensino-aprendizagem de lodo lúdico e prazeroso para o aluno. Dentre os diversos instrumentos artísticos como música, filme, trabalhos manuais, desenho, fotografia, teatro e, neste texto, o destaque é para a História em Quadrinhos (HQ). Há algum tempo tem se buscado quebrar a resistência dos educadores com relação a utilização das HQs no âmbito educacional em todos os níveis. Desde a década de 1990 essa aproximação tem se fortalecido, alcançando maior força nos últimos dez anos, inclusive com a menção nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) e da compra e distribuição, por meio do Programa Nacional Biblioteca na Escola (PNBE) (SANTOS e VERGUEIRO, 2012). Porém é preciso ter cuidado para que o uso do quadrinho esteja relacionado com o conteúdo trabalhado para não

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se tornar o uso indiferenciado, descontextualizado, para não reforçar essa crença de que é um instrumento meramente lúdico e sem importância. Ao contrário, as HQs devem ser pensadas e produzidas com um objetivo definido, mesmo aquelas que entram na categoria de mero entretenimento sem uma relação direta com um conhecimento específico, mas também, existem as que têm um objetivo de formação sendo necessário uma seleção que contemple essa finalidade. Por definição, segundo Costa (2010, p. 02): [...] as Histórias em Quadrinhos são sequências de imagens em quadros criados proporcionalmente, retratando pequenas histórias, acompanhadas por balões que representam diálogos de personagens, de modo a favorecer a sua compreensão. As Tirinhas em Quadrinhos são pequenas histórias, contadas em três ou quatro quadros, narrando histórias dos mais variados gêneros e estilos.

Os clássicos em quadrinhos podem contribuir com essa formação, desde que passe por essa avaliação por parte do professor, mas o aluno pode ser estimulado a produzir individual ou coletivamente. Essa participação pode ser um estímulo para a compreensão sobre determinada área do conhecimento. A vantagem que as HQs apresenta é a possibilidade de utilizar não só a linguagem verbal, como também a linguagem visual, sendo por muitas vezes o balão “o ícone de intersecção entre palavra e imagem, que gera a compreensão das histórias em quadrinhos na sua completude” (PESSOA e UTSUMI, 2009, p. 1). Para o professor fica o desafio de melhor utilizar esse instrumento no seu ambiente de sala de aula, ressaltando a importância do professor ser coerente com o seu papel social de formação. É claro que para que essa utilização seja concretizada se faz necessário um conhecimento prévio por parte do professor sobre o processo de produção de uma HQ e o seu significado naquele conteúdo específico. Por isso acredito, seguindo o pensamento de alguns autores que a História em Quadrinhos tem uma constituição interdisciplinar, podendo ser utilizada nas mais diversas áreas do conhecimento

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como Matemática, Língua Portuguesa, História, Ciências, etc. Hoje já existem estudos sobre a produção em quadrinhos, inclusive com acervos em Bibliotecas nas Instituições de Educação Básica e de Ensino Superior, no sentido de disponibilizar material que pode auxiliar o aluno na apropriação de conteúdos diversos. Essa abertura põe por terra o estereótipo de que as HQs estão apenas inseridas no universo lúdico da literatura infantil (PESSOA e UTSUMI, 2009). E estimulam a “imaginação e a criatividade e, fundamentalmente, despertam o interesse pela leitura e a escrita, contribuindo para a produção de textos, além de ser um ótimo recurso” (COSTA, 2010, p. 01). Esse recurso hoje utilizado em diversas áreas, são produções em formato de revistas, álbuns ou tiras em jornais ou fanzines (VERGUEIRO e GOLDENBAUM, 2003). É salutar o destaque hoje dado a produção de História em Quadrinhos no contexto de aprendizagem para que se possa mudar a ótica de enquadrinhar as histórias dos mais diversos conteúdos e áreas de conhecimento tendo como foco central a produção ou seleção de um instrumento que possa viabilizar um melhor aprendizado do aluno, seja em qualquer esfera educacional (Básica ou Superior).

COSTA, Ana Carolina. O uso de quadrinhos no ensino da Matemática: um ensaio com alunos de licenciatura em matemática da UECE. X Encontro Nacional de Educação Matemática: Educação Matemática, Cultura e Diversidade. Salvador: 2010. PESSOA, A. R.; UTSUMI, L. M. S. A formação do professor e as Histórias em Quadrinhos na sala de aula. Revista Academos. Vol. V. Nº 5 – Competências, criatividade e sustentabilidade, p. 01-13. Jul-Dez, 2009. SANTOS, Roberto E.; VERGUEIRO, Waldomiro. Histórias em Quadrinhos no processo de aprendizado: da teoria à prática. ECCOS – Revista Científica. Nº 27, p. 81-95, jan/abr. São Paulo: 2012. VERGUEIRO, Waldomiro; GOLDENBAUM, Jean. A documentação sobre histórias em quadrinhos: a contribuição do Diretório Geral de Histórias em Quadrinhos no Brasil. INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. XXVI Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. Belo Horizonte: 2003.

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HISTÓRIA EM QUADRINHOS OU QUADRINHOS EM HISTÓRIA?

Manuela Fonseca Grangeiro

Histórias em quadrinhos são desafios Lúdicos e imaginários tecidos com fios De traço em traço, de cor em cor Muitas aprendizagens com amor. Em sala de aula pode aprender No balão a comunicação fazer A imagem pode facilitar O que a linguagem oral não consegue 'falar' Cada quadrinho uma expressão A criatividade dá asas à imaginação Em qualquer idade podemos compor Da História em Quadrinhos dispor Na Matemática, na Ciência, no Português Na Geografia, Pedagogia, depende do freguês Qualquer história podemos 'enquadrinhar' Para o nosso aluno logo apresentar Melhor rendimento certamente vai ter Se contextualizado a HQ estiver Na Educação Básica ou no Ensino Superior A História em Quadrinhos pode compor A lista dos instrumentos e metodologias Que na sala de aula viram magias Finalizando uma disciplina com louvor Encantando a vida do professor.



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