#EuDivulgo Natureza
Venha participar Todos podem!
“É proibido fotografar” A gestão dos parques brasileiros ignora os milhares de fotógrafos de natureza amadores e a divulgação das redes sociais Em diversos parques é comum uma pessoa com câmera grande ser proibida de fotografar
Set/15
Cartazes lançados em jun/2014, para a campanha “Se foto bonita divulga, por que os parques dificultam?” http://virtude-ag.com/liberdade/
Uma das panfletagens divulgadas no Facebook
Há anos os birdwatchers e fotógrafos, especialmente os da AFNatura, têm lutado pelo direito de fotografar e divulgar. Em julho de 2015 uma das panfletagens de fotógrafos amadores chamou a atenção do presidente do ICMBio, o sr. Cláudio Maretti, que abriu um canal de comunicação no próprio Facebook. Esta revista traz a síntese dos principais argumentos. Os trechos em verde são transcrições de alguns depoimentos das 140 pessoas que se manifestaram no post do sr. Maretti. Os trechos em roxo são comentários feitos por birdwatchers em outras esferas de discussão.
A gestão dos parques brasileiros não reconhece o poder que a população tem de valorizar, promover e proteger uma área natural. Em geral somos tolerados, tratados com distanciamento, ou hostilizados, tratados como infratores por princípio. Agora há indícios de mudanças. Nos dias 23 e 25 de setembro de 2015 ICMBio e Fundação Florestal farão reuniões com amigos da natureza. Nossa expectativa é que comecem as mudanças na relação com as pessoas. Os países que têm sucesso na gestão das suas áreas naturais tratam a população como aliados, conseguem atrair ou criar grupos de colaboradores, e sabem que quanto mais gente visitando e divulgando, melhor para o parque.
É proibido fotografar e divulgar a natureza brasileira O país com a maior biodiversidade do planeta tem pouquíssimas publicações e documentários sobre seu maior tesouro. Se não bastasse o descaso federal, a gestão dos parques públicos inibe o envolvimento da população. Não há sequer uma página sobre fotografia nos sites das autarquias. A Instrução Normativa do ICMBio enfatiza as restrições e taxas, e a Portaria da Fundação Florestal só fala de controle, taxas e obrigações. Dentro dos parques muitas pessoas são proibidas de fotografar com base no tamanho da câmera.
Por que as pessoas são proibidas de fotografar em parques públicos? “Seu equipamento é profissional e você não pode fotografar sem autorização”
Em geral esta é a abordagem dos seguranças. E engana-se quem acha que é um problema de empresa terceirizada: em vários casos, são os funcionários dos parques que mandam os seguranças abordarem pessoas com câmeras maiores do que compactas. Mesmo quando o segurança fala de forma polida, a sensação é sempre de profundo desgosto.
“[E preciso] revisão dessa prática tão equivocada de se proibir fotografia em unidades de conservação, baseado no tamanho do equipamento. Já fui proibido de fotografar, nesse tipo de local, simplesmente pelo tamanho da lente, que na cabeça do segurança me classificava como profissional. Oxalá fosse assim!! Sou somente um amante da natureza que adora fotografia e nunca obtive lucro com uma foto que seja. Mesmo que fosse profissional, qual o crime a se cometer??”
“Adoro e quero sempre estar em contato com a natureza, tenho orgulho do meu país e quero mostrá-lo para o mundo! Nosso país é maravilhoso! E por conta do meu amor pela fotografia, mais de aves, tive a oportunidade e o prazer de conhecer lugares que nunca imaginaria existir. O que mais gosto é de poder fotografar e me sinto muito bem fazendo isso.
Fico triste quando sou abordada por seguranças perguntando se tenho autorização para fotografar nos locais, muitas vezes mais de uma vez por manhã. A natureza é um patrimônio público e merece ser mostrada!”
“Até hoje não tive muitos problemas com a questão que se discute aqui, mas os poucos que tive me deixaram extremamente angustiado e, ao mesmo tempo, revoltado por ter me sentido um criminoso quando o que eu estava fazendo não era nada mais do que praticar um hobby extremamente saudável e que deveria ser muito incentivado pelos gestores públicos deste país”. “Presenciei no Parque do Povo e no Jardim Botânico de SP, algumas pessoas desejarem tirar fotos e serem repreendidas por seguranças despreparados e sem discernimento... chega a ser uma situação no mínimo ridícula e constrangedora.”
“Temos debatido muito essa questão da proibição da fotografia em UC, onde muita vezes somos barrados por ingenuidade ou desconhecimento da lei por parte das pessoas que nos permitem o ingresso. Julgam-nos profissionais simplesmente analisando o porte do equipamento, que todos sabem, a maioria de nós usa equipamento potente por conta da complexidade das fotos de aves. Investimos muito dinheiro nesse hobby e poucos ganham alguma coisa com isso. É muito constrangedor saber que nos países vizinhos (Peru, Uruguai e Argentina) somos bem recebidos e contamos com estrutura para exercer esse hobby sem restrição, e em muitos lugares no nosso País, somos barrados, mal-tratados e muitas vezes humilhados, quando não, sujeitos a uma imensa burocracia que acaba com o prazer de fotografar.”
A Lei 9.985 de 18 de julho de 2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC e definiu que uma das finalidades dos parques é turismo ecológico e recreação em contato com a natureza. Não existe turismo sem fotografia. Isso vale para parques nacionais, municipais, estaduais. Veja ao lado a referência.
“Não há proibição alguma em se fotografar dentro de parques. Ao contrário, a atividade é uma daquelas para as quais os parques são criados: turismo ecológico. Isso está claro na Lei 9.985 de 18 de julho de 2000, que instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC, onde vários critérios são estabelecidos, e que valem para todas as unidades de conservação. No Art. 4o parágrafo XII ‘favorecer condições e promover a educação e interpretação ambiental, a recreação em contato com a natureza e o turismo ecológico;’. No Art. 11o, que define especificamente sobre parques, está lá escrito: ‘O parque... tem como objetivo básico... o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico.’ Essa característica, definida pelo SNUC, vale para todos os parques, independentes de serem federais, estaduais ou municipais. A regra é a mesma pra todos. Hoje em dia, não faz sentido imaginar turismo ecológico sem fotografia, seja com que equipamento for”
“A fotografia com fins comerciais depende de autorização da unidade gestora do parque, e isso também tá definido em lei. O absurdo, nesse caso, se resume em deduzir que um visitante que queira entrar com equipamento que parece ser mais caro só pode ser um profissional e, portanto, vai entrar na unidade com intenção de fazer fotos comerciais. Eles não se importam que um visitante tire fotos, desde que seja com máquinas compactas ou celulares”.
“Interessante essa ‘dedução’ por parte dos fiscais e porteiros. Já que você tem o recurso pra cometer o delito, eles partem do pressuposto que você vai cometê-lo, então proíbem logo na entrada. Isso me lembra aquele texto irônico da mulher que estava com varas e molinetes no barco e foi acusada de pescar em lugar proibido. Ela disse que não estava pescando. Mas o guarda disse que ela estava com todo o equipamento pra isso, mesmo que não estivesse usando, e que iria multá-la por isso. Então ela disse que ia acusar o guarda de estupro. Ele argumentou que não tinha feito nada com ela. E ela rebateu da mesma forma, que ele tinha todo o equipamento pra isso”.
Robson Czaban Cabur茅-da-amaz么nia, Glaucidium hardyi, Amazonian Pygmy-Owl
Qualquer pessoa com um mínimo de informação sabe que é absurdo achar que a posse de uma câmera grande significa que a pessoa é fotógrafo profissional (ou achar que alguém com um celular ou uma compacta não pode fazer fotos comerciais). Qualquer pessoa com um mínimo de conexão com a realidade sabe que quanto mais fotos circulando, melhor para a divulgação de um lugar. Ao restringir, taxar, complicar, proibir, os gestores estão dizendo “não me importo com a explosão das câmeras digitais, ou os 90 milhões de usuários do Facebook. Não me importo com a divulgação da natureza brasileira”
Alguns parques têm gestores esclarecidos que incentivam a fotografia. Outros variam entre ignorar a fotografia e as redes sociais, a complicar tudo, como exigir que para tirar fotos de natureza, a pessoa vá até o parque para retirar uma autorização que valerá apenas para o dia seguinte, e se quiser fotografar de novo, precisa pedir nova autorização. “Não faz sentido restringir a visitação dos observadores da natureza. Ao menos no Parque Nacional da Serra do Cipó incentivamos fortemente essa visitação. Que visitem o Parque com equipamentos de primeira linha (ou com máquinas modestas), mas que o visitem com sua imensa sede de conhecimento e com sua grande vontade de colaborar com a conservação!”
Claudia Komesu
A maioria dos birdwatchers só tira fotos e não deixa mais do que pegadas. As fotos contribuem para a ciência cidadã, para a divulgação, e em alguns casos ajudam a evitar a destruição do lugar.
“Eu colaboro com o MMA, Ibama, ICMBio e muitos órgãos ambientais de todo o País há mais de 30 anos. E sempre vi uma relação harmônica entre esses órgãos e as pessoas que realmente estão interessadas em promover a conservação da natureza. Asseguro: não há segmento mais eficiente e ativo nesse aspecto do que observadores e fotógrafos de aves. Infelizmente, de um tempo para cá, começaram a surgir regras e mais regras que apenas têm tolhido a prática e seu desenvolvimento na esfera nacional. Não entendo os porquês disso tudo. Imagens de nossa biodiversidade têm papel excepcional para a educação e são mecanismos excepcionais para a conservação.”
Quando falamos dessas situações de pessoas sendo proibidas de fotografar, alguns supõem que é um problema de leis antiquadas, mas não é. O Decreto Estadual 25.341/1986, que rege os parques estaduais diz: “As atividades desenvolvidas ao ar livre, passeios, caminhadas, escaladas, contemplação, filmagens, fotografia, piqueniques, acampamentos e similares devem ser permitidos e incentivados, desde que se realizem sem perturbar o ambiente natural e sem desvirtuar as finalidades dos Parques Estaduais”.
A Portaria da Fundação Florestal, a FF 175, publicada em 2012 diz: “Art. 13o – A utilização de imagens das Unidades de Conservação sem a devida autorização ou em desacordo com os termos da autorização concedida, configura além de infração administrativa, crime ambiental com base nos artigos 40 c/c 52 e 68 da Lei no 9605 de 12 de fevereiro de 1998, e portanto seu infrator fica sujeito às penalidades cabíveis.”
O Decreto de 1986 era um texto a favor do cidadão. A Portaria de 2012, assinada pelo sr. Olavo Reino Francisco, não tem menção positiva à população. Só fala de cobrança de taxas, infrações, obrigações de ceder material. A portaria FF175/2012 é tão desumana, que chega a ser compreensível que funcionários dos parques estaduais digam pras pessoas “proibido publicar no Facebook”, ou obriguem as pessoas a assinarem dois formulários quando elas dizem que vão fazer divulgação do parque num blog, ou informem por telefone que se você quer fotografar natureza precisa chegar tal horário, conversar com fulano, e a autorização poderá ser concedida, ou não, você só descobrirá na hora.
“Afastar-nos do nosso direito inalienável de frequentar as UC é, além de um anacronismo inaceitável, uma medida burra, ao transformar um aliado na luta pela preservação num espectador alheio e frustrado”. “(as) mídias sociais que diariamente nos bombardeiam com milhões de fotos belíssimas (muitas feitas em celulares). Interessante notar que a maioria esmagadora dessas imagens que nos chegam são de locais e parques de fora do nosso país, tão rico em diversidade e beleza.”
“No mundo todo os parques modelo de gestão são exatamente aqueles onde há uma integração grande com a população. (...) Fotografar a fauna e flora não oferece quase impacto algum, gera renda local (guias, pousadas, restaurantes), gera orgulho local, e propaga o conhecimento daquela UC. Só se preserva aquilo que se conhece, e nisso os fotógrafos, especialmente os profissionais, têm papel fundamental.”
“Sou coordenador do maior site brasileiro sobre mergulho, o Brasil Mergulho, e tenho contato com vários fotógrafos e cinegrafistas em todo o Brasil. Já lidei com o ICMBio várias vezes, participo de um grupo de conservação da Laje de Santos em SP e tenho alguns amigos gestores nesta entidade. A experiência me mostrou que essas tentativas de proibição de captação de imagens vêm afastando as pessoas da natureza, fazendo com que muitas acabem perdendo seu interesse no assunto e, pior, divulgando ainda menos a necessidade de conservação das áreas. Tenho vários exemplos aqui no Brasil...”
Robson Czaban Claudia Komesu Pica-pau-lindo, Celeus spectabilis, Rufous-headed Woodpecker
Um vazio cultural Quantos livros e documentários sobre a natureza brasileira, parques nacionais, estaduais e municipais você já viu? Não é só uma questão de interesse: se você pesquisar na Livraria Cultura, Amazon, Google, verá que um dos motivos para lembrar de poucos ou nenhum título é o fato de existirem pouquíssimas publicações ou documentários sobre o país com a maior biodiversidade do planeta. A valorização da natureza nunca foi foco do governo federal. O desinteresse é compreensível dada a importância econômica do agronegócio. Entretanto, a cada ano aumenta a quantidade de brasileiros que entendem como o modelo brasileiro está errado.
“Muito mais impactante do que clics de fotógrafos (mesmo em uma eventual demasia) é a total apatia da população civil ante os avanços criminosos da bancada ruralista que pouco a pouco destrói a legislação de proteção ambiental e que mira o desmonte da regulamentação de várias UCs. E tal apatia é alimentada pela falta de informação. A divulgação ampla, geral e irrestrita de nossas maravilhas naturais protegidas em Parques Nacionais, entre outros, pode ser uma forma de sacudir muitos apáticos, e quem sabe enchêlos de paixão por nosso patrimônio natural, e de motivação para ajudar em sua proteção.”
“Sabemos que não há interesse no governo em fortalecer a gestão ambiental no país, ao contrário, é agressão atrás de agressão, então afastar pessoas dos parques é uma forma de colaborar com quem deseja a extinção de muitos deles. Gente ligada a empreiteiras adoraria a extinção dos parques na Amazônia, o povo do agronegócio sonha com toda a soja que poderiam plantar sobre os parques do Cerrado e os mineradores torcem para o esquartejamento do Serra da Canastra. Sem contar os demais”.
As autarquias proíbem e inibem a divulgação da natureza brasileira Quando você planeja uma viagem para outro país, encontra facilmente muitas imagens e referências sobre os locais mais famosos. No caso do Brasil, um dos maiores bancos de imagem do mundo diz que não pode aceitar fotos dos parques nacionais brasileiros, nem mesmo para uso editorial: Brazil National Parks Content which has been shot in Brazil National Parks are unacceptable for editorial or commercial use without permission from IBAMA* Some of these parks include: • • • • • • •
Brasilia National Park Iguacu National Park Tijuca National Park (including Pedra da Gávea) Serra dos Orgaos Aparados da Serra Jardim Botanico Chapada Diamantina National Park
http://www.shutterstock.com/blog/contributorresources/legal/stock-photo-restrictions/
[*o correto seria ICMBio]
A postura de buscar controle total e o máximo de taxas impede o florescimento de qualquer iniciativa de divulgação e de trabalho em parceria com a população.
O Brasil tem milhares de fotógrafos amadores. Com incentivo e parceria, os gestores poderiam ter essas pessoas como grandes aliados na divulgação dos parques. Em vez disso, os fotógrafos são tratados ou como um visitante comum (e não alguém com potencial para ser um multiplicador), ou como infratores por princípio.
Obs: Apesar da orientação oficial da Shutterstock, em 11/09/15 vimos que há diversos vídeos feitos em parques nacionais brasileiros, à venda, entre US$ 19 a US$ 79. Pesquise brazilian national parks.
Temos enfrentado a maior crise hídrica da historia brasileira. Há fatores climáticos com diversas variáveis, mas ficou impossível negar que o problema foi acentuado pelo desmatamento. Gestores e população sabem que o desmatamento traz diversas consequências graves, mas quantas pessoas estão dispostas a lutar pela preservação do meio ambiente?
Como se importar com algo que você nem sabe que existe? O engajamento por uma causa depende de muitos fatores. Quando a pessoa decide se engajar costuma ser uma decisão motivada por um forte caráter emocional. Muitos voluntários de associações passaram pela doença ou foram vítimas da violência e injustiça que essas associações combatem. No caso do meio ambiente, como a destruição da natureza deixa de ser apenas mais uma das coisas erradas no mundo para ser algo que você está disposto a doar dinheiro, agir, defender?
“Enquanto a paixão pela fotografia de natureza, em especial das aves, não havia entrado na minha vida eu mal prestava atenção nos problemas para a preservação das nossa biodiversidade. Simplesmente, era algo que não fazia parte do meu dia a dia! Isso mudou radicalmente a partir do momento em que a fotografia e observação das aves passou a ser um hobby associado ao convívio com a natureza. Passei a prestar atenção nos assuntos correlatos, na conservação das florestas e de nossa enorme biodiversidade. Mais do que isso, passei a fazer palestras em parques municipais da cidade do Rio de Janeiro sobre observação de aves, onde na parte introdutória chamo atenção para a importância da preservação de nossas matas e o papel de destaque que o observador de aves passa a ter nessa ação em prol da natureza.”
Há pelo menos uma forma infalível: você se apaixona pela natureza Por algum motivo você começa a fazer cada vez mais passeios em meio à natureza, seja para caminhar, escalar, fotografar, pedalar, observar. Não acontece com todo mundo, mas várias pessoas se enamoram pelo o que veem. O ambiente não é apenas uma forma de conseguir um troféu, uma meta, uma foto curtível, mais um check pra lista de aves que você já viu: você entende que aquele lugar está cheio de vida e beleza. Passa a prestar atenção nas notícias, denúncias. E entende que a situação brasileira é péssima e cada vez pior, e que se não agirmos a natureza continuará sendo destruída na taxa de dezenas de milhares de quilômetros quadrados. http://www.oeco.org.br/noticias/28238-brasil-perdeu5-2-milhoes-de-hectares-de-unidades-de-conservacao/
“Uma das razões que fez eu me apaixonar pela biologia foram as fotos de gente como Araquém Alcântara, Haroldo Palo, entre outros. Algumas imagens estão na minha memória há décadas, e meu desejo era buscar cada uma delas. Algumas eu já tiquei na minha lista. Mas essa lista de imagens precisa ser renovada para que as novas gerações sejam seduzidas da mesma forma que eu fui.”
“Tenho compartilhado fotografias da natureza em prol da saúde das pessoas e como forma de resgatar algo que nos seres humanos temos perdido a cada dia que é um profundo e respeitoso contato com a natureza. Quanto mais restringirmos, mais contribuímos para esse afastamento e talvez um dia, seja tarde demais para revertermos esse quadro.”
“Acho que o fotógrafo de aves hoje acaba desempenhando um papel de ‘cientista cidadão’ ao divulgar e incentivar a preservação da natureza através da documentação das maravilhas que ainda podemos encontrar em nossas matas. São as imagens e os vídeos que acabam ‘puxando’ muitas pessoas em prol da conservação, à medida em que se encantam com os animais e a flora. Não faz o menor sentido burocratizar uma atividade que, respeitando a natureza, não gera impacto ambiental e ainda ajuda a atrair mais pessoas para o ‘time’ da conservação. Imagina se o Brasil fosse um país com milhões de observadores de aves, como é a Inglaterra?”
“Há que se pensar em soluções criativas para a educação ambiental, colocar fotógrafos como parceiros das UCs ministrando cursos de fotografia e promovendo o espírito de preservação, desenvolver atividades educativas com público jovem usando inclusive a fotografia profissional e amadora como motivadores desse processo. Isso é tão óbvio que frequentemente surge entre amigos meus fotógrafos a indagação sobre os verdadeiros motivos dessas restrições.”
Os filhos de birdwatchers aprendem desde cedo a valorizar a natureza. Foto feita em uma das Passarinhadas de Apoio ao Tanqu達.
Acreditamos que não está longe o fim da proibição à fotografia de natureza. Entretanto isso não é suficiente, não queremos apenas ser tolerados.
A natureza sofre com as políticas públicas que a cada ano diminuem as verbas de investimento nos parques, e vão destruindo os próprios parques. O único caminho possível para preservar a natureza é se unir à população, criar envolvimento emocional, fazer as pessoas gostarem dos parques e se importarem com eles.
“Em Manaus temos o triste exemplo do Parque Estadual Sumaúma. O parque fica no meio da área mais populosa da cidade, o bairro Cidade Nova. Antigamente o parque foi invadido por casas irregulares do lado direito. Ninguém teve que sair. Todas as invasões ainda estão lá. Recentemente, uma parte do lado norte foi desmatada para a construção de um shopping. E agora, o lado esquerdo será todo derrubado para a expansão de uma grande avenida. Aos poucos, o parque vai sendo cortado, ficando cada vez menor. Isso poderia ser evitado se a população que frequentasse o parque se mobilizasse no sentido de não permitir a sua destruição. Mas, para isso, o parque deveria ter um grande número de frequentadores. Só que não tem. E não tem porque o parque não recebe recursos. Fica a maior parte do tempo fechado para reformas que nunca começam ou nunca terminam (...) Quando participei de uma das reuniões em que se debatia a questão de se diminuir a área do parque para a expansão da avenida, um dos argumentos que escutei, favorável à avenida, era que esta iria trazer muitos benefícios a toda a população, e o parque, ao contrário, não era frequentado pelos moradores locais. Se essa linha de raciocínio for predominante, quanto menos gente frequentar um parque, mais fácil acabar com ele”.
“Em parques que são sucesso de público, como Itatiaia, Iguaçu, ou a Água Mineral em Brasília (PN de Brasília), é muito difícil que o governo consiga aprovar qualquer coisa que vá de encontro à manutenção dessas unidades. A gritaria é geral. A população rapidamente se mobiliza para evitar o dano ao parque. Cada frequentador é um defensor em potencial daquela área. E, dentre esses frequentadores, o pior tipo é aquele mais esclarecido, que pode divulgar pra todo mundo as belezas dos parques, através das fotos tiradas de seus equipamentos ditos profissionais. E que vai divulgar na imprensa, na Internet, nas redes sociais, todo crime que for praticado lá dentro, ou mesmo no entorno”.
“A fotografia da natureza, no seu sentido mais amplo, possui um poder magnético sobre a alma das pessoas e tem muito a oferecer para o Brasil e para os brasileiros; nossos parques são um patrimônio que possuímos mas que ainda desperdiçamos seu potencial na burocracia, na falta de informação ou vontade política.”
“Trabalho com turismo de base comunitária junto a população do entorno do PESM em Ubatuba. Utilizando a observação de aves numa comunidade tradicional conseguimos transformar caçadores em fotógrafos e guias exemplares. Aprendi com eles o que passei a chamar de inclusão ambiental. Hoje são defensores e multiplicadores da preservação e valorização da natureza”.
Claudia Komesu O Tanquã, em Piracicaba SP, já teria sido destruído se não fosse a mobilização pública, apoiada pela circulação de muitas fotos feitas no local
Claudia Komesu Quanto mais gente andando nos parques, mais fotos, mais divulgação, mais visitas. Além de menos caçadores e menos palimiteiros
Somos a favor do uso público dos parques O presente texto tem foco no birdwatching, mas somos a favor da participação de todos os amante da natureza, Quanto mais gente nos parques, maior a valorização do meio ambiente. Lemos as notícias sobre a Transcarioca, e a quantidade de voluntários que apareceram no dia do mutirão para demarcação das trilhas, em 2014, (eram esperadas 300 pessoas, apareceram mil). Sem nem precisar mencionar casos de outros países, esse evento prova o que é possível conseguir quando as pessoas são tratadas como parceiros. http://www.oeco.org.br/pedro-da-cunha-emenezes/29138-trilha-transcarioca-umtrabalho-de-muitos/
“Chama o povo pra dentro das UCs! Coloca todo mundo pra conversar e vamos planejar a minimização dos potenciais impactos dessas atividades, rotacionar trilhas, determinar capacidade de carga, estabelecer calendário de atividades, etc. Eu troco fácil um caçador ou um palmiteiro por 100 montanhistas - na hora! Que nossos parques façam jus ao nome: parque. Que recebam montanhistas, observadores de aves, canoistas/ rafting, mergulhadores e até mesmo pessoal de mountain bike pode ter espaço se for bem planejado!”
“Fotógrafos da natureza também são ‘fiscais ambientais’, não se esqueçam! Em primeiro lugar essa atividade é por amor à natureza, e quem ama, protege... Bem como outros grupos, como espeleólogos amadores, montanhistas, caiaqueiros...”
Somos a favor do fim das restrições aos fotógrafos de natureza profissionais A grande maioria dos birdwatchers são amadores que nunca terão qualquer lucro com a atividade. Mas defendemos o fim das restrições à fotografia comercial, ou melhor, no mínimo que fique bem clara a diferença entre trabalho editorial e publicitário. No caso de gravação de um comercial de uma empresa como a Jeep faz sentido haver cobranças de taxas. Mas os regulamentos atuais tentam cobrir qualquer atividade que envolva dinheiro, mesmo a venda de uma foto, mesmo a publicação de um livro. Essa postura é um grande desincentivo à divulgação dos parques, tanto que o resultado é este vazio cultural.
“O ponto que talvez seja mais polêmico é sobre o uso das fotografias e das taxas. Creio que em publicações editoriais, revistas, livros de arte, livros didáticos, jornais e uso na internet a publicação deveria ser livre de qualquer taxa ou autorização, pois os valores recebidos muitas vezes não pagam as despesas da produção ou as viagens são custeadas com recursos de projetos sempre deficitários e com um esforço de anos para serem viabilizados. Em muitos casos as fotografias são baixadas automaticamente de bancos de imagem e o fotógrafo só irá saber do uso em relatórios mensais. Fica inviável pedir autorização para cada publicação. Outro fato importante a ser levado em conta é a divulgação das UCs sem custo algum para o governo. Levando em consideração que as publicações são caras e empresas pagam para assessorias um bom recurso para terem seus nomes vinculados na mídia. Os resultados são medidos em cm2. O custo de uma matéria espontânea tem um valor ainda maior por não ter um caráter oficial. Olhando por este ângulo o ICMBio está na realidade economizando um valor substancial com a área editorial.“
“Vou tentar explicar que existe uma distância quase infinita entre a fotografia editorial e publicitária, e isso parece que não é percebido por autoridades. Apenas para exemplificar, se uma foto editorial vale 50 reais, a mesma fotografia na publicidade pode valer 10.000 reais. Parece que pensam que fotógrafos editoriais ganham como publicitários, rios de dinheiro. Estamos é atolados nas margens e bancos de areia do jornalismo atual, profissão que está sendo destruída pela era digital e web. Por causa disso, a fotografia editorial, como profissão, está quase morta - ou já morreu. Com a fotografia digital, todos são fotógrafos amadores e profissionais ao mesmo tempo.”
“Ao contrário do que pensam alguns gestores, o profissional de fotografia de natureza não é rico e as vezes até passa por dificuldades”.
“Todo dia fico pensando como seria maravilhoso para o Brasil se ao invés de usar drogas, álcool e fazer besteiras nas ruas, os nossos jovens tivessem outras paixões como a observação e fotografia da natureza. (...) Por favor, não deixe que a burocracia que emperra este país também crie suas raízes neste segmento! A divulgação da nossa fauna e flora através de lindas imagens compartilhadas na internet ou mesmo publicadas em revistas e livros SÓ traz benefícios para o futuro dessa nação”.
“Assim como eu cresci encantado com a nossa natureza colecionando álbuns de figurinhas de animais e lendo revistas sobre o tema, nossos jovens também podem ter essa mesma vivência e, quem sabe, fazer um pouquinho mais para salvar nossa tão ameaçada biodiversidade. Falo isso não apenas como "birder" e fotógrafo, mas também como professor. Além do mais, como já foi dito, a fotografia é uma GRANDE aliada da ciência, no momento em que ajuda na divulgação científica e ampliação do conhecimento sobre biogeografia, ecologia, etc. Enfim, apenas desejo que os Senhores que estão no poder público repensem essa questão, ou então discutam ainda mais para conseguirmos chegar a um consenso. Nossa natureza agradece!”
Fernando ClaudiaCarvalho Komesu CorruĂra-do-campo na Flona Floresta Nacional de BrasĂlia DF, guiado por Jonatas Rocha e em companhia do Grupo Observaves, em 19/01/2014
Fatos sobre os quais não pairam dúvidas 1. Fotografia divulga, promove, registra, denuncia, mobiliza. 2. Fotos compartilhadas nas redes sociais circulam entre milhares de pessoas e são capazes de criar interesse e engajamento. 3. Quanto mais fotos, mais divulgação para um local. 4. Uma pessoa não pode ser discriminada pelo tamanho da câmera. A posse de um equipamento que parece ser caro não significa que ela é um profissional.
5. Quanto mais bonita a foto, mais atenção chama. Não faz o menor sentido taxar os profissionais ou pessoas com equipamentos mais potentes. 6. Vender foto ou fazer um livro que divulga o local não pode ser uma atividade taxada como é agora. A cobrança de taxas só faz sentido para gravação de comerciais, filmes, e outras grandes ações publicitárias.
Claudia Komesu Periquito-rico Brotogeris tirica na saudosa RPPN Guainumbi em São Luís do Paraitinga – SP, um dos locais que incentivou em muitos o amor pela natureza
Agradecemos à SAVE Brasil e ao Wikiaves pelo apoio público à liberdade para fotografar e divulgar a natureza brasileira
“A SAVE Brasil (Sociedade para Conservação das Aves do Brasil) gostaria de parabenizar o sr. Cláudio Maretti por abrir o diálogo sobre este assunto tão importante tanto para a conservação das aves quanto para as áreas naturais. A observação de aves vem crescendo muito nos últimos 10 anos. Atualmente estima-se que existam 30 mil observadores de aves no Brasil, sendo em sua maioria pessoas que tem como hobby a fotografia de aves e que disponibilizam as mesmas na plataforma web WikiAves. Vale destacar, que esses registros fotográficos estão contribuindo com o conhecimento científico sobre as aves brasileiras e sendo utilizados inclusive pelo ICMBio durante oficinas de avaliação do status de espécies de aves ameaçadas. Além disso, as fotografias podem ajudar a gerar listas de aves para determinadas UCs e auxiliar com o conhecimento ornitológico das unidades. (Declaração da SAVE Brasil – continua)
A fotografia também tem um papel muito importante para divulgar tanto as aves quanto as unidades de conservação, despertando o interesse da população para conhecer as áreas naturais. Estamos enfrentando um momento crítico com a crise da biodiversidade e um dos grandes fatores contribuintes é a falta de conexão entre as pessoas e a natureza, fazendo com que elas não consigam compreender a importância da conservação das áreas naturais. As aves aliadas à fotografia têm sido uma fonte de inspiração para reconectar as pessoas com a natureza. (Declaração da SAVE Brasil – continua)
No Brasil temos diversos casos de pessoas que não tinham ligação nenhuma com meio ambiente e, através da fotografia de aves, se tornaram atuantes defensores da conservação das espécies e seus habitats. Um caso emblemático é a grande mobilização dos observadores de aves contrária às obras da barragem de Santa Maria da Serra que causará o alagamento do bairro Tanquã (conhecido como “Pantanal Paulista”) no município de Piracicaba, interior de São Paulo. Inclusive, os dados que embasaram a nota técnica enviada ao Ministério Público relatando a importância da área para a avifauna foram levantados por observadores de aves. (Declaração da SAVE Brasil – continua)
Entendemos que uma das preocupações com relação aos observadores de aves fotógrafos é o uso abusivo do playback, que em alguns casos e para determinadas espécies realmente pode ser danoso. No entanto, não acreditamos que a proibição seja o caminho, mas sim campanhas educativas sobre o correto uso do equipamento. (Declaração da SAVE Brasil – continua)
A SAVE Brasil defende que os observadores de aves devem ser vistos e tratados como importantes aliados para a conservação. Ter os observadores como parceiros das Unidades de Conservação pode trazer inúmeros benefícios, como a divulgação das belezas naturais do local e a geração de renda para as comunidades locais e para a própria UC. Os observadores/fotógrafos também contribuem com o conhecimento ornitológico que pode auxiliar em questões de manejo da UC, já que as aves são ótimas indicadoras da qualidade ambiental. Os observadores de aves são um dos maiores aliados na valorização, defesa e disseminação do rico patrimônio natural Brasileiro.
Colocamos-nos à disposição para contribuir com a discussão. Cordialmente, Equipe da SAVE Brasil”
Claudia Komesu
Uma imagem vale mais do que mil palavras. Fotos aumentam o interesse pelo local. Qual o sentido de restringir a fotografia? Gavi達o-real Harpia harpyja, Parauapebas - PA
Reinaldo Guedes Sou fundador e administrador do site WikiAves, a maior comunidade online de observadores de aves brasileiros e segundo site mais acessado no mundo no segmento. Há dois anos, em parceria com a Fundação Boticário e a SAVE Brasil, criamos uma funcionalidade no site com os limites territoriais das Unidades de Conservação segundo os dados do próprio ICMBio. Exibimos as áreas das UCs em um mapa interativo com o objetivo de chamar a atenção dos usuários e INCENTIVAR os observadores a CONHECER e VISITAR as UCs, esse foi o objetivo principal do projeto. Paralelamente, criamos uma página para cada UC (Exemplo:http://www.wikiaves.com.br/ areas:pn_itatiaia:inicio) e passamos a contabilizar os registros dos observadores feitos nestas áreas, trazendo estatísticas de número de espécies, lista de espécies, número de observadores, etc.
Vejo que alguns gestores do ICMBio estão caminhando no sentido oposto e não enxergam as vantagens de incentivar a fotografia nestes locais. Para se ter uma ideia da relevância da fotografia da natureza, repare que o WikiAves foi citado em DIVERSAS espécies da última Lista Espécies Ameaçadas do ICMBio (Exemplo:http://www.icmbio.gov. br/.../lista.../5724-especie-5724.html). O que mostra que o ICMBio já está se beneficiando dos dados gerados pela ciência cidadã, que no Brasil se projeta principalmente através da fotografia. Além dessa lista, existem diversas outras publicações científicas se beneficiando dos dados gerados pelos fotógrafos/ observadores, alguns deles podem ser encontrados nas páginas de retrospectiva do WikiAves. Somente de 2013 a 2014 foram 26 publicações que tomamos conhecimento. Aqueles que ainda acham que a fotografia da natureza deve ser restringida devem conhecer esses dados e repensarem sua postura. http://www.wikiaves.com.br
Nossos objetivos 1 – Fim das restrições e proibições à fotografia de natureza. Sabemos que os parques precisam ter regulamentos, e não achamos que as pessoas podem fazer o que quiserem, na hora que quiserem. Mas acreditamos que foi possível explicar o quanto as restrições à fotografia de natureza prejudicam a própria natureza. 2 – Pedimos página nos sites das autarquias dizendo que a fotografia de natureza é bem-vinda e não há mais discriminação contra o equipamento. Sabemos que há dificuldades com budget, mas imaginamos que uma nova página no site é algo com custos muito baixos.
3 – Pedimos o fim da abordagem feita por seguranças, mesmo em parques municipais que têm fotógrafos de books. Não vamos opinar sobre quais devem ser as regras para os fotógrafos de books (o correto é que eles se manifestem e dialoguem com os gestores), só queríamos dizer que é extremamente fácil discernir um fotógrafo de natureza de um fotógrafo de book. Portanto não há motivo para um fotógrafo de natureza ser abordado por um segurança. Enquanto as pessoas continuarem sendo tratadas dessa forma, será difícil desenvolver laços com os parques.
4 – Início de uma mudança cultural: queremos que os gestores reconheçam que é preciso se unir à população. Sabemos que não é um pedido simples ou fácil, mas não vemos outro caminho possível. Os parques precisam de mais visitação, mais divulgação, mais gente para se apaixonar pela natureza e lutar pela preservação. Ou é isso, ou vamos continuar tendo milhões de hectares desafetados, fim da zona de amortecimento, mineração dentro dos parques, a cada ano menos verbas de investimento na estrutura dos parques e para fiscalização contra desmatamento, palmiteiros e caçadores.
5 – A boa vontade em atrair mais birdwatchers e fotógrafos de aves para os parques seria uma demonstração importante do início da mudança cultural. Vários parques abrem às 8h, mas têm seguranças 24h. Se o gestor tiver boa vontade, é possível fazer um acordo para que os seguranças do parque permitam que as pessoas entrem mais cedo. Se houver questão de compra de ingresso e ainda não estiver implantada a sugestão de passe anual, a pessoa pode pagar o ingresso na saída.
6 – Reconhecimento que o pagamento de taxas só faz sentido para a fotografia publicitária, como em situações de gravação de comercial de grandes empresas. Pequenos documentários, livros, venda de fotos, cartaz, criação de brinquedos, jogos, camiseta, são atividades que não deveriam sofrer taxas. Criem uma política que incentive as pessoas a apresentarem o projeto ao parque, e eventualmente firmar uma parceria para a produção e venda do produto. Mas deixem para trás essa redação e postura de controle total, que acaba com qualquer iniciativa.
7 – O uso do playback não é um consenso nem entre os birdwatchers. Mas esperamos que ele não seja proibido. Não existem estudos que comprovem que playback faz mal às aves, e as decisões de uma autoridade deveriam sempre se basear em conhecimento. Devemos conversar sobre as formas de usar o playback, mas não podemos ignorar o quanto ele atrai iniciantes. Uma das autoridades ornitológicas dos Estados Unidos defende a ideia de que o playback talvez cause menos impacto do que uma pessoa sentada quieta esperando a ave aparecer
http://www.sibleyguides.com/2011/0 4/the-proper-use-of-playback-inbirding/
8 – Muitas pessoas não gostam da ideia de comedouros com frutas ou bebedouros para beija-flores. Mas gostaríamos que os gestores considerassem quantas pessoas poderiam se apaixonar pela natureza, ao ver com os próprios olhos e de perto belezas que elas nem imaginavam existir. As plantas atrativas são o cenário ideal, mas para um iniciante, nada como ver as aves no limpo, de perto, em comedouros. Bebedouros higienizados não causam mal a beija-flores, e no caso dos comedouros, qual a diferença entre comer banana ou mamão direto da árvore ou numa tábua de madeira?
Graças aos bebedouros de água com açúcar
Nossas expectativas Vários gestores das Unidades de Conservação Federal são pessoas esclarecidas, a favor da divulgação da natureza e de atrair mais pessoas para os parques. Talvez a mudança cultural para se aproximar da população não seja tão difícil. O ICMBio já teve um diretor que era extremamente favorável ao uso público dos parques, o sr. Pedro Menezes, que não por acaso está envolvido na criação da Transcarioca. Esperamos também que o ICMBio atenda aos pedidos da AFNatura para que nossa natureza possa se beneficiar do talento dos fotógrafos profissionais.
No caso dos parques estaduais e municipais, apesar de também haver gestores esclarecidos que incentivam a fotografia e a visitação, há diversos relatos da absurda proibição de fotografar natureza. Essas atitudes, e várias frases burocráticas que ouvimos, combinam com a FF 175/2012. Esperávamos uma luta difícil com as unidades estaduais, mas para nossa surpresa, a Ouvidoria da Fundação Florestal deu uma resposta extremamente positiva:
“Agradecemos o envio de sua mensagem e desde já sinalizamos que as considerações feitas são pertinentes, provocando uma reflexão institucional sobre o assunto; Com o intuito de termos um alinhamento da questão em todas as Unidades de Conservação (UCs) gerenciadas pela Fundação Florestal no Estado de São Paulo, estamos interagindo com os Gestores de UCs que tem uma abordagem diferenciada sobre o tema e orientam seus colaboradores (monitores e vigilantes) para que não só permitam a entrada dos observadores de aves com seus equipamentos, mas também indiquem os melhores locais dentro da Unidade para observação de determinadas espécies, respeitando os documentos de gestão e o zoneamento da unidade. Citamos como exemplo o Núcleo Caraguatatuba do Parque Estadual da Serra do Mar e o Parque Estadual de Intervales; Como resultado da interação supracitada organizaremos uma proposta de ordenamento da atividade de observação de aves, bem como identificaremos as orientações necessárias às equipes técnicas das diferentes UCs geridas pela Fundação Florestal, para o melhor aproveitamento possível desta atividade Att, Erika Faccin Casari Ouvidora ouvidoria@fflorestal.sp.gov.br”
Os representantes do ICMBio e da Fundação Florestal planejam fazer reuniões com os birdwatchers agora em setembro. A Fundação Florestal, por meio do sr. Carlos Eduardo Beduschi, nos disse que assumiu o compromisso de iniciar até o final do ano um processo de mudanças. Sabemos que há forças contrárias, mas temos esperança de que os gestores esclarecidos, que sabem que é preciso se unir à população para cuidar da natureza, conseguirão vencer com o apoio de todos nós. Para se manter a par do assunto, cadastre-se no grupo “(Não) É proibido fotografar” https://www.facebook.com/groups/7952334604 95803/
“Será que proibir fotografia e desincentivar o uso público dos parques é apenas uma simples interpretação errada da lei ? Se for (e eu espero que sim), bastaria uma série de conversas entre as partes. O bom senso irá prevalecer, a lei será cumprida, e poderemos percorrer as trilhas em paz. Mas, se não for, se o objetivo por trás é nos fazer ir embora e procurar outro lugar, pra que a área verde seja apenas uma “poupança” para futuras negociações políticas, sem visitantes esclarecidos e com poder de fogo, então essa briga vai longe, e está só começando”.
Fernando Carvalho Ariramba-de-cauda-ruiva, Galbula ruficauda, Rufous-tailed Jacamar. No Parque Nacional de Brasília-DF, que nós, que moramos aqui desde de quase sempre, chamamos de Água Mineral.
Adendo: algumas ideias para o debate sobre playback O playback e a nossa presença no meio ambiente causam distúrbios na natureza. Entretanto, acreditamos que homem e natureza precisam encontrar uma forma de conviver. A natureza intocada, sem a presença de pessoas, corre o grande risco de ser destruída sem que ninguém saiba ou se importe. É preciso achar um caminho em que as pessoas se encantem com a natureza, queiram sempre fazer passeios nos parques, e ao mesmo tempo minimizem os distúrbios que nossa presença causa. Somos contra a proibição absoluta do playback. Além de nenhum estudo científico ter conseguido provar que ele faz mal às aves, o playback permite que as pessoas vejam de perto aves que de outra forma não veriam, ou veriam apenas como um ponto distante. Observar um animal silvestre de perto é uma das principais formas de se encantar e se tornar um defensor da natureza. Qual o risco do playback? O receio no uso do playback é que ele interrompa a rotina das aves a ponto de colocar em risco sua sobrevivência. Mas isso é uma especulação que nunca foi provada. As pessoas que passarinham há anos e usam playback sabem que o comportamento mais comum é a ave aparecer, dar uma olhada em volta, e sumir. Ou então aparecer, mas logo perder o interesse na gravação e passar a buscar insetos ou frutinhas, ali, à vista de todos. Às vezes a ave some, você toca o playback de novo, ela volta, mas a aparição é mais fugaz ainda.
ideias para o debate sobre playback Os birdwatchers que usam playback sabem que em geral, a primeira vez que a ave aparece é o momento em que ela vai se mostrar mais. As aves logo perdem o interesse na gravação. Nos poucos casos em que a ave não perde o interesse na gravação em alguns minutos, o birdwatcher consciente para de tocar e se afasta do local. Em locais com alto índice de visita de birdwatchers com playback, como em alguns lugares de Manaus, as pessoas dizem “nem adianta tocar playback aqui”. As aves não se interessam mais, não aparecem mais. É uma demonstração de que o playback não coloca em risco a sobrevivência das aves. Se o playback fosse prejudicial, nesses locais com alto índice de pessoas usando playback as aves seriam avistadas sempre, cada vez mais esquálidas e fracas, porque não fazem nada na vida a não ser atender ao chamado da gravação. Em vez disso, o que está comprovado é que elas aprenderam a identificar o som da gravação e simplesmente não aparecem. Um estudo feito no Equador, publicado em 2013, mostra a mesma coisa: aves que vão perdendo o interesse no playback, e uma das espécies chegou a fazer ninho perto de um dos locais em que se tocava o playback. http://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371 /journal.pone.0077902 Há birdwatchers que não usam o playback, ou usam muito pouco, mesmo sabendo que teriam muito mais fotos se usassem. Para algumas pessoas, é um prazer maior encontrar a ave ao acaso, ou ficar esperando a aparição das aves em frente a uma árvore com frutas, flores, ou áreas com água. Mas ninguém discorda que para um iniciante, o playback parece uma caixinha mágica, e que é improvável um iniciante ter a paciência que um veterano tem.
ideias para o debate sobre playback Não há estudo que comprove que o playback faz mal. Entretanto, há situações delicadas em que deveríamos nos esforçar para diminuir ao máximo nossa interferência no ambiente. Aves com filhotes, aves ameaçadas de extinção são casos especiais, e hoje a comunidade tem debatido o assunto. Alguns defendem a proibição de usar o playback perto de ninhos. Pais procurando comida pros filhotes têm um trabalho insano, nesse caso devemos perturbar o mínimo. Uma ave ameaçada como um patomergulhão com filhotes deve ter o máximo de sossego possível. A comunidade de birdwatchers brasileiros é muito recente, ainda mais comparando aos birdwatchers no resto do mundo. Além de recente, temos uma característica única: não há outro país em que o principal acessório é a câmera e não o binóculo. No mundo todo, a maioria dos birdwatchers associa a atividade com um bom grau de competição, listas, metas e objetivos. As pessoas gostam de fazer listas das aves vistas em sua vida toda (sua Life List, de onde vem o termo lifer para a ave que você vê pela primeira vez), também fazem listas anuais, sazonais, regionais, e alguns até fazem listas das aves vistas na TV.
ideias para o debate sobre playback O Wikiaves tem um ranking das pessoas com a maior Life List no site, e na home a área de destaque fica para as fotos mais votadas. O ópio da busca pela popularidade e aclamação popular, seja no Wikiaves ou no Facebook, pode levar um birdwatcher a colocar a foto acima da ave. Querer uma foto no limpo, sem galhinhos ou folhas atrapalhando a estética ou tampando partes do corpo da ave pode levar a pessoa a preparar o ambiente: quebrar um galho ou uma folha para que na hora que a ave volte, o local esteja mais limpo. Em casos mais extremos, a pessoa pode pegar um filhote do ninho para poder fotografá-lo de perto. É uma situação muito rara, e quando acontece a pessoa recebe tantas críticas que com certeza nunca mais faz, e provavelmente vai querer apagar a foto para sempre. No Wikiaves os moderadores proíbem fotos e os usuários são incentivados a denunciar fotos que pareçam estar próximas demais das aves, cuja aproximação não combina com o tipo de câmera usado, principalmente se for de ninho ou filhotes. A comunidade de birdwatchers no Brasil é recente, mas vem amadurecendo e tem um grande potencial, talvez o maior potencial do mundo considerando as dimensões do país e o fato de sermos os campeões em biodiversidade.
ideias para o debate sobre playback É verdade que nem todo birdwatcher se torna um defensor da natureza. Mas muitos se tornaram defensores graças ao birdwatching, e num trabalho de formiguinha queremos incutir na jovem comunidade brasileira a ideia de que se você é birdwatcher, se você sai quase todo final de semana para passarinhar, você precisa agir pela preservação da natureza.
Enquanto os parques públicos não tratarem a população como aliados na conservação, fica muito mais difícil convencer as pessoas a doarem dinheiro, trabalharem, promoverem os parques. Um grande número de pessoas visitando um local é a única forma de garantir sua preservação.
Claudia Komesu Saíra-sete-cores. Qual a diferença entre comer mamão no pé, ou de cima de uma tábua? Comedouros tornam a natureza mais concreta.
Participantes da conversa no post do sr. Cláudio Maretti e também participantes ativos do grupo “(Não) É proibido fotografar” Adrian Eisen Rupp Alex Cavati Alexandre Gualhanone Andre Freyesleben Andre Mendes Andrea Ferrari Anelisa Magalhães Anselmo d'Affonseca Beatriz Pires Gomes Bernardo Lacombe Bertrando Campos Carlos Augusto Rizzo Carlos Otávio Gussoni Cassiano Terra Rodrigues Celso Castro Celso Paiva Chris Lisboa Claudia Brasileiro Claudia Komesu Claudio Frateschi Claudio Lopes Clecio Mayrink Clóvise Genilza Cruvinel Daniel Esser
Daniel Mello Daniel Pohl Daniele Bragança Eden Fontes Eduardo Abraços Bluhm Eduardo Franco Eduardo Pegurier Emerson Panis Kaseker Ernesto Godoy Trondle Ernesto Lippmann Estêvão Marchesini Fabiano Ricardo Fazzio Fabio Malerba Fabio Olmos Fernanda Fernandex Fernando Carvalho Fernando Straube Fernando Henrique De Sousa Flávio Sousa Flávio Zen Gabriel Mello Geiser Trivelato Geraldo Pereira Gilberto Sander Müller
Grace T. C. de Seixas Gui Durante Gustavo Massola Gustavo Pedro De Paula Guto Carvalho Hector Bottai Henrique Moreira Iara Reinaldo Ignacio Aronovich Isabel Lira Ivan Cesar Jarbas Mattos Jefferson Bob Jefferson Leite Jefferson Silva Jeiel Carneiro Joao Quental João Souza Joffre Oliveira Jorge Espeschit Jose Carlos Weiss José Francisco Haydu José Truda Palazzo Jr. Juliana Carolina Pissouas Diniz Juliane Tavares Julio Cardoso
Kleber Silveira Lis Leão Lorena Castilho Luccas Longo Luciana Chiyo Luciano Bonatti Regalado Luciano Marra Manequinho Correia Marcel Marcel Marcelo Barreiros Marcelo Camacho Marcia Cunha de Carvalho Marco Cruz Marco Silva Marcos Amend Marcos Araujo Marcos Paiva Marcos Tonizza Maristela Camolesi Martha Argel Mathias Singer Mauricio Merzvinskas Melina Rangel de Andrade
Moisés Perecin Mônica Abreu Nicodemos Rosa Octavio Campos Salles Paulo Fernando Campana Paulo Guerra Pedro Labanca Priscila Couto Rafael Freitag Ralph Antunes Raphael Sombrio Raquel Sousa Reinaldo Guedes Renata Leite Pitman Renato Rizzaro Roberto Negraes Robson Czaban Rodrigo Mayworm Rodrigo Paranhos Faleiro Rodrigo Ribeiro Ronaldo Lebowski Roney Perez Sandro Salomon Sergio Coutinho
Sérgio Salvati Silvia Faustino Linhares Silvio Juraski Sivonei Pompeo Tales Oliver Tatiana Pongiluppi Thelma Gatuzzo Tietta Pivatto Toni Medina Trindade Claudia Uêdson Jorge Araújo Rêgo Ueslei Pedro Leal de Araujo Uruguay Birding Vinicius Ribeiro Pontello Vitor Bernardes Valentini Vitor Piacentini Walther Grube Willian Menq Zé Edu Zig Koch Zuleika Beyruth Guarany
A mudança é difícil no começo, depois se torna um caos, e no final é algo maravilhoso. Robin Sharma http://virtude-ag.com/liberdade
O que é #EuDivulgoNatureza? Quer divulgar uma cidade, uma região, um parque, um bioma, um grupo de animais, uma causa ambiental ou até mesmo uma pousada ou um local turístico que tem vários atrativos pra quem gosta da natureza? Acesse www.virtude-ag.com/eudivulgonatureza. Esta revista eletrônica foi feita a partir de um Powerpoint que usa o recurso do Slide Mestre – o que facilita posicionamento de fotos, mudança de tipo de letra, tamanho, cor. Depois basta salvar como PDF e subir num site gratuito como o ISSU ou o Yumpu. Instruções detalhadas no link acima.
#EuDivulgo Natureza
Venha participar Todos podem!
#EuDivulgoNatureza é uma iniciativa de birdwatchers. Queremos convencer os gestores das Unidades de Conservação que fotografia e divulgação da natureza devem ser incentivas em vez de restringidas, e que a população devia
se sentir bem-vinda nos parques. Em julho de 2015 o presidente do ICMBio abriu um canal de comunicação no Facebook dele: https://www.facebook.com/permalink.php?story_fbid =662011367264759&id=100003677040576.
Entramos em contato com a Fundação Florestal
e há perspectivas de reuniões com representantes da sociedade até setembro, e início de mudanças até o final do ano. Mais informações: http://virtude-ag.com/entendao-debate-com-icmbio-e-fundacao-florestal-ago15-porclaudia-komesu/