A REVISTA SOBRE BRASILEIROS QUE MORAM NOS
QUATRO CANTOS DO MUNDO
Edição
especial Janeiro 2015
Bailarinos -1-
“Só a bailarina que não tem. Medo de subir, gente. Medo de cair, gente. Medo de vertigem.” (Chico Buarque)
Le Sacre, Ballett de John Meier Foto: Holger Badekow Foto: Cristina Francisco -2-
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A REVISTA DIGITAL SOBRE BRASILEIROS QUE MORAM NOS
Bailarinos em destaque 10 Thiago Bordin 20 Leslie Heylmann 30 Winnie Dias 38 Mariana Zanotto Men 48 Silvano Ballone
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QUATRO CANTOS DO MUNDO
Mariana Zanotto Men fotografada por Silvano Ballone
Expediente
Diretora de arte e redação Claudia Bömmels Editora de conteúdo Cristina Francisco Revisão Maria da Graça Ferreira Leal Fotógrafos Silvano Ballone, Cristina Francisco Colaboradores desta edição Thiago Bordin, Leslie Heylmann, Winnie Dias, Mariana Zanotto Men, Marie-Luise von Kunowski
Contato brasileirosmundoafora@gmx.net
brasileiros-mundo-afora.com -5-
Leslie Heylmann
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Hamburg Ballett e Brasileiros Mundo Afora Texto: Cristina Francisco | Foto: Silvano Ballone
Tudo começou na passagem do ano 2011, quando, depois de abrir o tarô para saber como seria o novo ano, me pus a fazer a lista de resoluções, desejos e coisas que deveriam acontecer. Inspirada pela carta central do jogo, a bailarina da carta do mundo, escrevi que eu iria pelo menos quatro vezes ao balé naquele ano, mesmo que sozinha. Gosto muito de balé e me sentia frustrada por nunca conseguir marcar com alguém que me acompanhasse. Sem falar na antecedência necessária para se comprar ingressos. Quem é que sabe com certeza o que vai fazer daqui a seis meses? E o universo deve realmente conspirar, quando formulamos claramente os nossos desejos. Logo no início do ano, a bailarina Mariana Zanotto Men apresentou-se na comunidade digital de brasileiros em Hamburgo, na Alemanha. Ela, como solista da companhia de balé Hamburg Ballett, de John Neumeier, poderia conseguir ingressos com desconto para aqueles que se interessassem e quisessem assistir aos espetáculos nos quais ela se apresentava. E imaginem quem quis! Morte em Veneza foi o primeiro de uma série de balés maravilhosos e o início de uma amizade muito especial. Através dela conheci os demais brasileiros do Hamburg Ballett: Thiago Bordin, Leslie Heylmann e Winnie Dias. Também o bailarino e fotógrafo suíço-italiano Silvano Ballone. Impossível citar todos os papéis em que os vi e me encantei. Não tem como não sentir orgulho do talento e da dedicação dos bailarinos a essa arte, que exige muitas horas de aulas, ensaios e uma agenda cheia de apresentações e turnês mundo afora. Conspiração cósmica também em 2013, quando conheci Claudia Bömmels e seu projeto Brasileiros Mundo Afora. Conversando pela internet, tivemos a ideia de perguntar a Silvano Ballone e aos bailarinos se eles tinham interesse em fazer uma edição sobre o balé brasileiro na Alemanha. Silvano é um grande amigo do quarteto brasileiro e tem um estilo singular de captar imagens de forma sensível e encantadora. Poucas semanas depois, iniciamos o projeto com muito entusiasmo, mesmo sem que todos se conhecessem pessoalmente. Para a Brasileiros Mundo Afora, Silvano fotografou seus amigos em um dia de treino e documentou momentos especiais neste ensaio exclusivo. Contamos também com a colaboração de Marie-Luise von Kunowski, uma grande fã do balé. E aqui está o resultado do nosso trabalho: uma edição muito especial feita por pessoas que vivem em diferentes pontos do mundo e que descobriram o prazer de realizar este projeto em comum. Esta é a essência da Brasileiros Mundo Afora. Cristina Francisco
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Winnie Dias -8-
Bailarinos brasileiros encantam a Alemanha Texto: Claudia Bömmels
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Foto: Silvano Ballone
Dançar balé profissionalmente é o sonho de muitas crianças e adolescentes no Brasil. Também é uma arte que fascina milhões de pessoas mundo afora. Os bailarinos brasileiros Thiago Bordin, Leslie Heylmann, Winnie Dias e Mariana Zanotto Men realizaram esse sonho e já dividiram o palco, nas mais diversas formações, dançando na conceituada companhia de balé alemã Hamburg Ballett (Balé de Hamburgo), onde se conheceram. O americano John Neumeier, que teve uma carreira de sucesso como bailarino, é hoje coreógrafo e diretor do Hamburg Ballett, tendo centenas de coreografias de sua autoria encenadas pelo Balé de Hamburgo. Em 2011, John Neumeier realizou o sonho de fundar o Bundesjugendballett (Balé Jovem Nacional da Alemanha), um espaço de criação contemporânea, onde jovens coreógrafos e também os próprios dançarinos têm a oportunidade de criar novas peças. Entre elas, a peça Verbunden (Ligados), criada por Thiago Bordin. O Balé Jovem Nacional da Alemanha apresentou, em maio deste ano, essa coreografia ao som de Bachianas Brasileiras N.º 5, de Heitor Villa-Lobos, em um espetáculo no Rio de Janeiro, que marcou o encerramento da Temporada Alemanha+Brasil 2013-2014. Novos caminhos Muitos bailarinos dançam durante muitos anos na mesma companhia de balé, mas às vezes é preciso seguir novos caminhos. Assim, Thiago, que dançava em Hamburgo desde 2001, iniciou há alguns meses uma nova carreira na Holanda, em uma das principais companhias de dança contemporânea do mundo, a Nederlands DansTheater. Mariana também decidiu mudar a sua rota, voltando para o Brasil no final de 2013, após dançar durante 12 anos no Balé de Hamburgo. Thiago, Leslie, Winnie e Mariana fizeram carreira no exterior e falam abertamente, em entrevista exclusiva para a Brasileiros Mundo Afora, sobre a vida dedicada à dança, seus sucessos e as dificuldades como bailarinos vivendo e dançando longe de casa.
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Thiago Entrevista: Claudia Bömmels | Fotos: Silvano Ballone
Bordin
Thiago Bordin é paulista, tem 31 anos e reside no exterior desde 1999. Com dois anos, ele já sabia que queria ser bailarino e dança desde os cinco anos de idade. Atualmente mora na Holanda, onde faz parte da companhia Nederlands Dans Theater (NDT).
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esde os dois anos de idade eu já dizia para minha mãe que queria ser ‘baaalarino’(risos). Danço desde os cinco anos, mas comecei minha carreira profissional com 17. O ensino normal de balé dura de 8 a 10 anos. Eu treino intensivamente desde criança, e isso já me causou alguns problemas físicos, mas tento ver de forma positiva, pois através deles aprendo cada vez mais sobre meu corpo.
Ao longo dos anos, tive muitas experiências marcantes, não conseguiria escolher uma só. Um momento especial é toda vez que escuto a orquestra antes da cortina do palco se abrir. Um dos lados difíceis da minha profissão é a grande discriminação no Brasil quanto à profissão de bailarino. A vida de quem dança é uma realidade dura. Muitos iniciam seus estudos, mas poucos conseguem na verdade atingir suas metas ou mesmo ser contratado por uma companhia profissional. Você quer ser bailarino? Corra atrás do seu sonho, trabalhe muito, com respeito e humildade, que você chega lá. Nada de tão bom vem sem sacrifícios. Hoje meu sonho é ser coreógrafo, ter a minha própria companhia. E ainda quero ser pai. - 12 -
Thiago Bordin e Winnie Dias em um dia de ensaio. - 13 -
“Corra atrás do seu sonho, trabalhe muito, com respeito e humildade, que você chega lá.”
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Brasileiros entre sĂ: Thiago Bordin e Mariana Zanotto Men.
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Thiago Bordin e Leslie Heylmann. - 18 -
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Leslie Heylmann
Entrevista: Claudia Bömmels | Fotos: Silvano Ballone
Leslie Heylmann, 35 anos, natural de São Leopoldo, no Rio Grande do Sul, mora desde 1996 na Alemanha. Ela começou a dançar balé aos quatro anos de idade e se define como uma mulher realizada, pessoalmente e como profissional.
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om quatro anos de idade, iniciei no Ballet Sinos, a escola de balé da minha mãe, em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Profissionalmente, comecei a dançar com 17 anos, em 1996, quando participei do Seminário Internacional de Dança de Brasília. Eu ganhei a medalha de prata (não houve ouro nesse ano) e uma bolsa de estudos na Palucca Schule Dresden, na Alemanha. Sem ter muito tempo para decidir, eu resolvi aceitar o desafio e me mudei para o país. Depois de dois anos na escola, fui contratada em 1998 pelo Semperoper Dresden, um dos teatros mais famosos da Alemanha, e comecei a trabalhar profissionalmente. Nesse mesmo ano, voltei ao Seminário de Brasília só por diversão e ganhei então a medalha de ouro. Dançar balé profissionalmente não consiste em fazer somente um curso. Balé é uma opção de vida. Na escola de dança, você aprende desde cedo disciplina e a se esforçar muito. Aqui na Alemanha, a maioria das grandes escolas tem um internato; se você deseja ser uma bailarina profissional, você já começa desde criança a ter aulas de balé todos os dias da semana. Às vezes o dia inteiro ou ao menos todas as tardes, ja que pelas manhãs as crianças precisam terminar de cursar a escola normal. O tempo de formação para se tornar um profissional em balé depende de vários fatores: com que idade o bailarino começou a dançar, o nível de aprendizagem e sobretudo o talento natural. Mas o quanto antes se começa, mais chances se têm, já que o corpo de uma criança de seis, sete anos ainda é bem moldável. Naturalmente que existem (raras) exceções de bailarinas que começaram mais tarde, já quase na ado-lescência, mas é muito difícil, principalmente para as meninas. Os rapazes podem até começar mais tarde, pois a constituição do corpo masculino é diferente e as exigências são outras. Eu diria que, para se tornar uma bailarina profissional, são necessários no mínimo oito anos de uma boa escola. No Brasil, já ouvi várias vezes pessoas admiradas que me paguem para dançar. Ao contrário do que muitos pensam, não é fácil ser bailarina. Com apenas 17 anos, eu saí do meu país, onde infelizmente não há lugar para essa arte, deixei minha família para trás e fui morar do outro lado do mundo. Mas sair do Brasil não é garantia de sucesso, pois existem muito mais bailarinos que ofertas de trabalho, principalmente para as meninas. Eu tive a sorte de começar minha carreira profissional em uma grande companhia. Hoje sou primeira bailarina no Hamburg Ballett e muito grata por tudo o que alcancei. Mas - 22 -
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Leslie em um dia de ensaio em Hamburgo.
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“Pessoalmente eu não poderia estar mais feliz. Casei-me ano passado e sou uma mulher realizada.”
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Leslie fazendo uma pausa.
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Mas as dificuldades nunca acabam. Você precisa se manter em forma sempre e lutar com muitos imprevistos, como lesões. Até agora eu tive somente uma fratura no pé, e foi necessário parar durante seis meses. O corpo é o nosso instrumento de trabalho, como um atleta ou um jogador de futebol, com a diferença que eles ganham uma quantia astronômica, se comparada com o nosso salário. A carga horária de um bailarino profissional é bastante puxada. Nós trabalhamos de segunda a sábado, entre 10 e 18 horas. À noite temos cerca de 120 espetáculos por temporada, também nos domingos. Final de semana é algo que eu desconheço, e durante a temporada trabalhamos literalmente dia e noite. É difícil encontrar um parceiro que aceite esse estilo de vida. Eu tenho sorte do meu marido fazer parte da diretoria da companhia e entender a minha situação. Mas, apesar de tudo, eu amo dançar e não poderia ter escolhido profissão melhor! Tem que ser assim: ou você ama, ou você desiste. É muito desgastante e às vezes dolorido, mas não existe maior recompensa que estar no palco e receber o aplauso do teatro lotado. Esse é um elixir de vida! A carreira de bailarina chega ao fim por volta dos 40 anos, mas tudo é relativo e existem as exceções. Nós temos um colega de 45 anos que ainda dá um show de dança e Alessandra Ferri, uma excelente bailarina italiana super em forma, que acabou de anunciar seu comeback aos palcos com 50 anos! A bailarina e coreógrafa francesa Sylvie Guillem, de 49 anos, é outro exemplo de que tudo é possível. Eu já vivi muitos momentos inesquecíveis na minha carreira, mas existem coisas que ficam gravadas na memória para sempre. Como o meu primeiro papel principal em Sonhos de Uma Noite de Verão, de John Neumeier, em 2002. Naquela época, eu ainda dançava em Dresden como semissolista (bailarino que acompanha o solista) e nunca imaginaria que um dia John Neumeier seria meu diretor. Eu também amo dançar a Louise em O Quebra-Nozes. Esse papel é magnífico e extremamente exigente no que diz respeito à técnica clássica. Eu dancei esse papel pela primeira vez em 2003 e continuo dançando até hoje. A diferença é que, 11 anos depois e com (muito) mais experiência, eu tenho mais liberdade para desfrutar cada passo, mas o respeito e o friozinho na barriga antes de começar o espetáculo continuam. Existem balés que exigem tudo da primeira bailarina e de todo o grupo, como, por exemplo, em Sacre, de John Neumeier. Eu faço o último solo, sou a escolhida para ‘dançar até morrer’. É uma experiência avassaladora. Se alguém viesse assistir aos ensaios, diria que eu sou masoquista ou algo parecido. Você tem que se entregar totalmente à dança para no final do balé fazer esse solo de sete minutos. Quando acaba, você não consegue nem levantar mais do chão. Mas aí é que está: alguns chamariam essa dor e exaustão de pior experiência, mas eu amo dançar esse balé. Não há nada como a sensação quando você ‘morre’ no final, é absoluto êxtase. É quando eu me sinto mais viva. Na verdade, são tantos balés e papéis lindos que eu tive a chance de dançar que eu me sinto realizada profissionalmente. Um dia eu ainda gostaria de interpretar a Marguerite Gautier na Dama das Camélias, de John Neumeier. Eu acho que toda bailarina aqui e em outras companhias do mundo sonham em dançar esse papel. Quem sabe um dia... Pessoalmente eu não poderia estar mais feliz. Casei-me ano passado e sou uma mulher realizada.
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Winnie Dias
Entrevista: Claudia Bömmels | Fotos: Silvano Ballone
Winnie Dias Pinto tem 23 anos, é natural de Belo Horizonte, Minas Gerais, e mora no exterior desde 2008. Aos cinco anos, ela começou a dançar balé por vontade própria e não parou mais. Hoje ela dança no Balé de Hamburgo na Alemanha.
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Ensaios diรกrios fazem parte da rotina de Winnie. - 32 -
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u comecei a dançar balé aos cinco anos de idade e aos oito comecei um curso profissionalizante para crianças e jovens entre 10 e 15 anos no CEFAR, Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Para tornarse uma bailarina profissional, estuda-se em média 10 anos, dependendo da pessoa e também da escola. Onde eu estudei, o curso dura 10 anos, começandose aos oito anos de idade. Até 2008, eu também frequentei a Compasso Academia de Dança com uma bolsa de estudos que ganhei da Lúcia Viera. Eu cursava as duas escolas quando comecei a participar de concursos e, em julho de 2008, com 17 anos, recebi uma bolsa dos diretores Birgit Keil e Vladimir Klos, de Mannheim, para estudar na Alemanha. Meu primeiro trabalho em uma companhia profissional foi aos 18 anos no Staatsballett Karlsruhe.
Com o passar do tempo, as expectativas quanto à profissão vão aumentando, mas também novas oportunidades vão aparecendo. Eu já tive momentos de sonho no palco, como quando dancei Symphony in C,de George Balanchine, com o Staatsballett Karlsruhe. Ou a coreografia de Bernstein Dances, que amei dançar, já fazendo parte do Balé Jovem Nacional da Alemanha, em uma gala para o nosso diretor John Neumeier, em São Petersburgo, na Rússia. Hoje danço no Hamburg Ballett e posso dizer que, quando você encontra a companhia de que você gosta e que tenha uma boa conexão com o diretor, a busca chega ao fim. Ser bailarino envolve muita paixão e quem tem paixão pela dança um dia chega aonde deseja. Até hoje, já passei por algumas companhias, muitas audições. Além da dedicação e esforço, é importante você estar no lugar certo, na hora certa. A minha rotina geralmente começa com aulas de manhã e ensaios até às 17h30, com uma hora de intervalo para o almoço. A maior dificuldade para mim é estar longe do meu país, da minha família e dos amigos no Brasil. Infelizmente o mercado de trabalho para bailarinos no nosso país ainda não é bom, e a maioria de nós vai para o exterior em busca de melhores oportunidades. Até hoje não tive nenhuma experiência ruim marcante. Como em toda profissão, na nossa também existe competição, mas nada comparado com muitos filmes que contam as histórias sobre o balé de forma bem mais dramática do que na realidade. Um tema bastante abordado é o tempo de carreira de um bailarino, por exemplo. Isso varia muito de pessoa para pessoa, dependendo de fatores no início da carreira, se você se machucou muito, se teve que fazer operações. Muitas bailarinas escolhem parar de dançar depois de terem filhos ou para engravidar. Mas conheço bailarinos que ainda dançam com até mais de 45 anos! Uma coisa de que os bailarinos têm pavor é de se machucar e não poder dançar. Eu já rompi parcialmente um ligamento quando estava no palco e não consegui terminar o espetáculo, fui direto para o hospital. Também quebrei meu dedo do pé três dias antes de uma estréia, nada muito sério, mas, para um bailarino, o mundo acaba! No momento, estou vendo meus sonhos se realizarem, pois nunca esperava chegar até aqui. Lembro do meu primeiro espetáculo, Préludes CV, com o Hamburg Ballett, quando tive a chance de dançar uma parte como solista. Quando terminou a apresentação, pensei que um ano antes eu nem imaginava que estaria ali agradecendo os aplausos ao lado de primeiros bailarinos maravilhosos. Então vou aproveitar o momento e mais para frente penso nos próximos sonhos. - 33 -
“A maior dificuldade para mim é estar longe do meu país, da minha família e dos amigos no Brasil.”
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Os ensaios para os espetáculos de balé são intensos.
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Mariana
Zanotto Men
Entrevista: Claudia Bömmels | Fotos: Silvano Ballone
Mariana Zanotto Men, tem 32 anos e é natural de Itápolis, São Paulo. Após dançar durante 12 anos na companhia Hamburg Ballett, na Alemanha, ela retornou ao Brasil em 2013 para começar uma nova vida.
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Vida de bailarina: muita dedicação e disciplina.
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omecei a dançar balé aos cinco anos de idade, depois de ter assistido a uma apresentação de dança e me apaixonar por um cavalinho azul, um dos personagens daquela noite. Eu ficava imitando os passos dele e, assim, meus pais decidiram me colocar em uma escolinha de balé da cidade.
O balé exige muitos anos e tempo de dedicação. Desde meus 12 anos de idade, me privei de muitas coisas na minha vida pessoal para me empenhar no balé. Eu treinava até aos sábados e domingos. O balé é assim, quanto maior a dedicação, maior a exigência, então a busca pelo limite do quanto se pode alcançar através dos movimentos e da interpretação acaba tornando-se um combustível desta caminhada. Eu estudei em várias escolas de balé até conseguir um contrato. Mas a formação de um bailarino nunca cessa. Ele está em constante crescimento até o último dia que sobe em um palco.
Eu nunca imaginei que eu fosse dançar profissionalmente e que o sonho de fazer parte de uma companhia de balé um dia se tornaria realidade. Acredito que as oportunidades foram aparecendo devido ao meu amor e à minha entrega total à dança. Foi quando eu estava na Escola da Ópera de Viena e me chamaram para fazer parte do corpo de baile do Lago dos Cisnes da companhia da Ópera, que as minhas expectativas começaram a se concretizar. No momento em que me vi maquiada e vestida de cisne e que a orquestra começou a tocar alguns segundos antes de eu entrar no palco, meu coração bateu mais forte e me deu forças para dar um grande passo: conquistar minha carreira de bailarina profissional. Entre os momentos mais bonitos que me foram proporcionados posso citar o papel de Marie, que interpretei em O Quebra-Nozes. Nessa história, dancei o papel principal representando uma garotinha que sonhava em ser bailarina e, em seu sonho, ela conheceu o mundo do balé com a ajuda de seu professor, que a guiava pelos ensaios e pelas diversas histórias do repertório da dança clássica. Senti nesse papel que não estava interpretando, mas sim vivendo a minha história, o meu sonho. A pior experiência que eu vivi foi quando me machuquei pela primeira vez. Aconteceu exatamente algumas semanas antes de dançar pela primeira vez Marie, o papel citado acima. Não imaginava que ficar longe dos palcos naquela época me deixaria tão ansiosa e me daria tanta força para me recuperar. Consegui em 10 dias voltar a colocar as sapatilhas de ponta e preparar-me para O Quebra-Nozes. De modo geral, pode-se dizer que as dificuldades que um bailarino enfrenta não diferem muito das demais profissões. Elas estão no dia a dia, entre o cansaço, dores, competitividade entre colegas, a busca por um crescimento. Pessoalmente, a minha maior dificuldade foi enfrentar a saudade que eu sentia de minha família. Sou filha única e sempre fui muito ligada a meus pais e a Deus. Minhas constantes orações me levavam para mais perto deles. Sempre acreditei que no mundo há lugar para todos. Temos que seguir nossos próprios caminhos e nosso coração, mas disciplina e dedicação são requisitos necessários para uma carreira de sucesso como bailarina. Muitos filmes e documentários sobre balé mostram uma vida de sacrifícios, e essa é a realidade que eu vivi. Me dediquei de corpo e alma ao balé e, muitas vezes, treinava até sem me alimentar. Dançava em dias de Natal, Ano Novo, Páscoa, e em muitos outros dias que, normalmente, celebramos ao lado da família. Em 2013, eu voltei para o Brasil. Meu sonho hoje é construir uma família e com ela viver novos sonhos.
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Mariana como Marie em O Quebra-Nozes.
Mariana concentrada durante um ensaio. - 44 -
“Meu sonho hoje é construir uma família e com ela viver novos sonhos.”
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Palavra de fã… o fascinante mundo do balé Por Marie-Luise von Kunowski
O primeiro espetáculo de balé a que eu assisti aos 11 anos foi Sonho de Uma Noite de Verão, de Shakespeare. A americana Heather Jurgensen dançou os papéis de Hipólita e Titania e rapidamente tornou-se minha primeira bailarina preferida. De vez em quando, meus pais me levavam a um espetáculo de balé, e minha fascinação por esse mundo foi crescendo, apesar de que nunca tive o desejo de ser bailarina. Hoje em dia sou uma grande fã do balé e sempre que posso vou a apresentações da companhia Hamburg Ballett aqui na Alemanha e em outras cidades. É fascinante ver como os bailarinos incorporam, todas as noites, diferentes papéis, de forma autêntica, emocionante e comovente. Eles também interpretam vários personagens em diferentes espetáculos durante a semana. O brasileiro Thiago Bordin, por exemplo, dança em uma noite Nijinsky, em outra interpreta o papel de Armand Duval em Dama das Camélias. Como fã, já vivenciei muitas despedidas. Quando um bailarino encerra sua carreira ativa ou muda para outra companhia, sempre é um pouco triste, especialmente quando são pessoas que eu admiro e que gostaria que ficassem em Hamburgo. Em uma despedida, normalmente os bailarinos podem dançar uma última vez ‘seus’ papéis principais. Não é raro alguns fãs organizarem buquês de flores, para jogar no palco ao final do espetáculo. Quanto mais buquês, melhor! Apesar de toda despedida ter um lado triste, ela também é uma grande oportunidade para novos, jovens bailarinos com grande talento.
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Fotos: Silvano Ballone
Em Hamburgo, existem alguns fãs que estão presentes em quase todas as apresentações, e muitas vezes após o espetáculo podem também cumprimentar os bailarinos. Isso cria uma atmosfera muito familiar, e eles gostam de ouvir dos fãs como foi a sua performance no palco. Me lembro bem de uma fã em particular, uma senhora, de idade avançada, que vinha em quase todas as apresentações e sentava-se sempre na primeira fila. Depois dos espetáculos, ela sempre esperava pelos bailarinos para distribuir chocolates e doces, tornando-se uma das fãs preferidas da companhia de balé em Hamburgo. Um evento muito especial são as performances da companhia em outras cidades, quando alguns fãs têm o privilégio de viajar juntamente com os bailarinos. Uma experiência inesquecível para mim foi a viagem para Viena, na Áustria, em maio de 2014. Eu assisti à Dama das Camélias, quando o brasileiro Thiago Bordin e a francesa Hélène Bouchet dançaram pela última vez juntos. Thiago mudou-se para a Holanda e hoje dança na companhia Nederlands Dans Theater (NDT). No final da apresentação em Viena, encontrei com eles na saída do palco. Ainda estavam emocionados, mas também felizes em terem visto, entre tantos espectadores, rostos familiares de seus fãs. Um deles era o meu. Marie-Luise de Kunowski é alemã, tem 28 anos e trabalha como fonoaudióloga de crianças e adultos na cidade de Hamburgo, na Alemanha.
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Brooklyn Bridge em New York City. Foto: Marcelino Libao
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Foto: Ivan Urban
Silvano Ballone “ Eu nasci e fui criado pelos meus pais italianos em Zurique, Suíça. Aos sete anos, descobri minha paixão pela dança e, desde então, dedico grande parte do meu tempo e vida para seguir a carreira de bailarino profissional. Atualmente vivo em Hamburgo, na Alemanha, e traballho dançando no Balé de Hamburgo, do diretor John Neumeier. Ao longo dos anos, além de treinar o meu físico para seguir a profissão que eu escolhi, também treinei, desenvolvi e apurei o meu olhar através das lentes fotográficas, captando momentos especiais. Na minha profissão, sou rodeado de beleza simples, mundana ou extraordinária. Sou fascinado por fotografia e a utilizo como forma de abrir a minha mente, o meu coração e tentar congelar um pouco tanta beleza a minha volta. Onde eu estou, a minha câmera nunca está muito distante. . .”
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Brasileiros Mundo Afora nas redes sociais:
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