Brasileiros Mundo Afora N° 04 - DEZEMBRO 2013

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A REVISTA DIGITAL SOBRE BRASILEIROS QUE MORAM NOS

QUATRO CANTOS DO MUNDO

N° 04 - DEZEMBRO 2013

Bê Ignacio em entrevista

Ex

Profissão

das


Expediente

Diretora de arte e redação: Claudia Bömmels Editora de conteúdo: Vanessa Bueno Colunistas: Lila Rosana, Erica Palmeira, Gê Eggmann, Vanessa Bueno Convidados desta edição: Alessandra Marchi Carrasco, Ana Paula Risson, Bê Ignacio, Camila Furtado, Camilla Kafino, Carolina Leal, Christine Marote, Cintia Moneró, Cristina Francisco, Danielle Cassar, Ernesto Coimbra, Genésio Filho, Juliana Cristine, Juliane Rosas, Karen Hägele, Laís Brandão Machado, Lívia Lima, Lorena Ribeiro Bärschneider, Luciana Almeida Tub, Maria de Fatima Alencar Viana, Marcia Ciarini, Maricélia Wiesböck, Marina Wentzel, Michel Zylberberg, Miriam Naef, Natalia Junqueira de Mattos, Neuza Guerreiro de Carvalho, Paloma Varón, Sandra Kautto, Silvana Hleap, Tatiane Borges Schindler Fotos: Holger Hage


A REVISTA DIGITAL SOBRE BRASILEIROS QUE MORAM NOS

QUATRO CANTOS DO MUNDO

REPORTAGENS EM DESTAQUE 23 Fotografando pimpolhos Duas fotógrafas brasileiras compatilham conosco suas melhores imagens

37 Profissão expatriadas Quinze brasileiras falam sobre suas trajetórias profissionais

38 Bê Ignacio Cantora brasileira faz sucesso mundo afora

97 Especial Dezembro Mundo Afora

79 Reconhecimento de diplomas brasileiros na Alemanha A advogada Laís Brandão Machado fala sobre o assunto

82 De moto pela América do sul O fotógrafo profissional, Genésio Filho, rodou de moto pela América do Sul e compartilha suas melhores imagens

94 Vovó Neuza Muito mais que uma blogueira

Foto da capa: Holger Hage


Reinventar-se é uma expressão muito comum entre expatriados, afinal não existe palavra melhor que explique o que fazemos profissionalmente quando mudamos de país. Poucos conseguem praticar as profissões que exerciam no Brasil, quando chegam ao exterior. A grande maioria reinventa-se, começa do zero, estudando muito e trabalhando dobrado. A falta de informação correta sobre as profissões no novo país, condições financeiras ruins, dificuldades com a língua e a cultura são alguns aspectos que fazem com que muitos de nós acabem desistindo no meio do caminho. Alguns voltam desiludidos para o Brasil, outros contentam-se com profissões e empregos bem abaixo da sua capacidade. Esta edição nós dedicamos às histórias de sucesso! Convidamos 15 mulheres fortes, lutadoras e vencedoras para compartilharem suas trajetórias profissionais. São histórias inspiradoras, que mostram que existem muitos caminhos e formas de reinventar-se. Ser feliz com uma nova profissão, ou com a mesma, no exterior, é possível! Eu me formei no Brasil em administração de empresas e moro fora do país há 20 anos. Nesse meio tempo me reinventei várias vezes. Começei na Suiça, em 1994, como vendedora de brinquedos, sem praticamente falar nada da língua local. Estudei o alemão até a exaustão e, um ano depois, consegui um estágio em um banco em Zurique, onde permaneci por sete anos. Inquieta, me aventurei depois, durante quase 10 anos, como designer de joias. Tive uma loja e expus o meu trabalho em feiras mundo afora. Me realizei criando colares e pulseiras e aprendi muito sendo autônoma. Foi um tempo ótimo, mas que chegou ao fim quando o meu amor e inspiração pelo trabalho acabaram. Reinventar-se de novo! Quem já fez isso, sabe como esse processo é exaustivo. Algumas perguntas precisam ser respondidas: ● O que eu quero fazer? ● Preciso estudar novamente? ● Será que o mercado de trabalho precisa de profissionais nesta área? ● Será que sou velha demais para recomeçar?


Aqui estre nós…

Sinceramente, não tenho respostas prontas para essas perguntas. Muitas vezes no sentimos corajosos, inteligentes e invencíves. Outras, pequenos, incapazes e, talvez, até mesmo velhos. Ser um expatriado bem-sucedido no exterior significa trabalhar muito, também em si mesmo: aprender a língua, integrar-se na nova cultura, fazer amizades com nativos e acreditar no próprio potencial. Há um ano criei a revista digital Brasileiros Mundo Afora com o objetivo de contar histórias interessantes e emocionantes que acontecem todos os dias nos quatro cantos do mundo. Foi por causa dessa atividade que consegui meu atual emprego em Berlim, onde atuo em uma redação online, lado a lado com alemães bem mais novos que eu e aqui estudados. Para mim, uma vitória pessoal! As entrevistadas desta edição contam, de forma sincera, sobre as suas trajetórias profissionais. Sem esconder as dificuldades, mostram que, com força de vontade e criatividade, é possível adaptar-se a novas situações. Suas experiências como expatriadas são prova de que ser bem-sucedido e feliz profissionalmente no exterior é uma realidade. Ficou inspirado e também tem algo para contar sobre a sua trajetória profissional no exterior? Dicas úteis para outros expatriados? Compartilhe conosco! Beijos

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Claudia Boömmels Diretora de arte e redação

www.brasileiros-mundo-afora.com

Estamos comemorando

1 ano de Brasileiros Mundo Afora Obrigada por nos acompanhar!


"Quero fotografar assim como quando ando de bicicleta. Que seja algo natural, quase instintivo. Quero continuar aprendendo a cada clique. Quero voltar aos destinos pelos quais passei anos atrás e trazer na bagagem belos registros, além de novas lembranças. A fotografia agora faz parte de mim, está conectada ao meu olhar." Michel Zylberberg Acompanhe o trabalho de

aqui:


Momento mรกgico


Texto: Alessandra Marchi Carrasco | Foto: Miriam Naef

| Ilustração: Claudia Bömmels

Ao me tornar uma estrangeira, acabei me deparando com a necessidade de me definir enquanto brasileira. De uma forma ou de outra, acho que todas as pessoas que deixam seu país para morar em um lugar diferente, com outros costumes, outra língua e outro clima, sentem em algum momento o peso de pertencer a outro local ou mesmo de não pertencer a canto nenhum. Por mais que o novo país te acolha e que você descubra as maravilhas de conhecer outra cultura e aprender uma nova forma de viver, você nunca pertencerá totalmente àquele lugar. Seu país de origem também não é mais a sua casa, pois seus hábitos mudaram, seu estilo de vida agora é outro. A adaptação ao novo ambiente é sempre dolorosa, seja pela dificuldade linguística, pelas diferenças culturais e comportamentais, ou até mesmo por causa do clima. No começo há um acúmulo de perrengues, frustrações e desencantos. Passada esta fase, a ambientação ao novo lar e as suas oportunidades torna-se natural para quem, com determinação, resolveu ficar e ser um "estrangeiro adaptado" . Recomeçar, ou reinventar-se é maravilhoso e desesperador ao mesmo tempo, todas as possibilidades estão abertas, contudo não há mais certezas ou confortos.


Ponto de vista

O estrangeiro tem que trabalhar dobrado para se provar capaz e, ainda, precisa aprender a nova língua para interagir plenamente no novo lugar. Cada um tem a sua própria maneira de lidar com essa situação e de vencer os desafios impostos pela nova realidade.

Bolha Brasileira Nós brasileiros temos uma certa facilidade de nos adaptar e de criar novas oportunidades e soluções. Temos esse "jogo de cintura" e com nosso "jeitinho” acabamos muitas vezes por conquistar nosso espaço e o respeito do nativos do local. Felizmente, a maioria dos brasileiros que tenho conhecido no exterior são pessoas talentosas e que encontraram uma forma bem sucedida de lidar e aproveitar o que o novo ambiente tem a oferecer. Existem também aquelas pessoas que criam uma "bolha brasileira" no novo país, sendo assim não aprendem a língua do local ou fazem amizade com os estrangeiros. Essas pequenas "ilhas brasileiras" são verdadeiros paraísos no qual você pode encontrar conforto e partilhar suas dificuldades em lidar com a nova cultura que se apresenta à sua frente. Você tem liberdade para se expressar na sua melhor maneira e na sua língua sem medo de ser mal interpretado pela diferença cultural. Eu mesma, confesso, de certa forma vivo transitando entre estas bolhas, e, no começo, foi realmente incrível ter um pedacinho do Brasil no meu novo e estranho lar. Minhas queridas amigas brasileiras me ajudaram muito na árdua adaptação e sempre ofereceram a compreensão esperada quando a frieza europeia congelava meu simpático sorriso brasileiro. Isto transformou a transição em algo menos doloroso para mim. Contudo, com o passar do tempo, comecei a perceber que era muito limitador e empobrecedor não me expor a típica vida austríaca. Resolvi me dar a chance de aprender um pouco com estas pessoas tão diferentes e desafiadoras, que falam essa língua incompreensível e que soava, para mim, dura e fria: a língua alemã. Comecei a me questionar sobre qual seria o segredo para a completa adaptação. Seria, talvez, abandonar de vez nossa cultura e costumes e imergir de corpo e alma no novo país? Algumas pessoas fazem isso, afastam-se dos brasileiros e evitam falar português. Assumem com certa timidez o status de brasileiro e discretamente mantêm um ou outro amigo brasileiro na sua lista de contatos, só por precaução, nunca se sabe. Criticar excessivamente o Brasil ou esquecer-se completamente das dificuldades que a vida lá traz, parece dividir boa parte dos expatriados, o que acredito ser muito normal.

Será o Brasil tão afetuoso quando comparado à Áustria ou à Alemanha? Será que realmente somos tão mais simpáticos e prestativos? Ou será que nossa "desorganização" não contém também uma dose de eficiência e flexibilidade? A individualidade europeia muitas vezes torna a adaptação penosa e demorada. Mas isso não precisa ser visto como falta de simpatia ou humanidade, eles são apenas diferentes. Quem conseguir vencer essa barreira, tenho certeza, encontrará amigos sinceros e leais, porém não necessariamente do jeito brasileiro. No meio de tantas maneiras de se inserir na nossa cultura e tantas formas de lidar com a própria nacionalidade e patriotismo, acabei por me ver como uma militante da "brasilidade" fora do Brasil, seja por meio das minhas aulas de português, da literatura ou dos filmes.


Desde que cheguei em Salzburg e agora em Berlin tento sempre estabelecer uma ponte entre aquilo que eu sou e tenho de bom para oferecer, enquanto brasileira, e aquilo que venho aprendendo com os austríacos e os alemães. Adaptando-me, por um lado, e me redescobrindo por outro. Para mim, tentar encontrar o equilíbrio entre estas diferentes culturas é a melhor forma de lidar com elas. Adoro falar português e ter contato com os outros brasileiros que aqui estão, mas também adoro aprender alemão e descobrir o que eu posso melhorar.

Foto: Leonore Arnold

Considero-me afortunada, porque aqui posso ter um pouco dos dois: trazer um pouco do Brasil para a Europa e levar um pouco da Europa para o meu Brasil.

Alessandra Marchi Carrasco nasceu há 30 anos em Sorocaba, São Paulo. No Brasil ela cursou a Faculdade de Letras Português e Grego e fez mestrado em História da Filosofia Antiga, ambos na Universidade de São Paulo. Alessandra morou na Áustria durante dois anos e vive na Alemanha há seis meses. Além de ser professora de português para estrangeiros, ela é escritora e estuda cinema em Berlim, na Met film School e Deutsche Pop. Acabou de terminar o seu primeiro curta-metragem e teve seu terceiro conto publicado. www.pontodoautor.com.br/clec/autores.asp


Blogosfera

Cinco blogs e sites que gostamos de acompanhar

O mundo segundo os Brasileiros Site reúne vídeos do programa O Mundo Segundo os Brasileiros, que vai ao ar todas as segundas-feiras, pela Rede Bandeirantes, no Brasil. Para quem está fora da terrinha o endereço online é uma boa opção. A proposta é apresentar cidades e países mundo afora, do ponto de vista dos brasileiros lá residentes. Vale a pena conferir! entretenimento.band.uol.com.br/omundosegundoosbrasileiros

Colagem Luciana Misura escreve e abre espaço para brasileiros convidados, que contam sobre a vida no exterior. Além disso, ela apresenta dicas de viagens com crianças. Um blog com muitas informações úteis e textos cheios de estilo. Natural do Rio de Janeiro, Luciana atualmente mora com a família em Austin, Texas. Se interessou? Clica aí: luciana.misura.org

Hong Kong - Docking in a New Harbour Espaço onde a Júlia conta como é viver em Hong Kong. De forma divertida e bemhumorada, ela introduz o leitor na exótica cultura chinesa. Quer saber mais sobre a China? Leia em: livehongkong.blogspot.de

Casal sem vergonha Como o nome sugere, o site é feito por um casal paulista sem papas na língua. Eme Viegas e Jaque Barbosa abordam todo o tipo de assunto em uma relação a dois. Falam de temas polêmicos e tabus de cara limpa e direto ao ponto. O blog é tão apreciado que já atingiu a marca de 500 mil fãs no Facebook. Ficou curioso? Confira aqui: www.casalsemvergonha.com.br

Destemperados É uma uma rede de caçadores de experiências gastronômicas pelo Brasil e países como a Argentina e o Uruguai. Denominados Food Hunters, os colaboradores, que são meros apreciadores da boa mesa, relatam as descobertas culunárias de suas regiões. Tem também a versão para crianças, o Destemperadinhos. Com cerca de 100 hunters o site está aberto a novos contatos. Tem dica para passar? Escreve para lá: www.destemperados.com.br


Do lado de cá Vanessa Bueno é jornalista e expatriada. Mora na Alemanha há um ano e escreve sobre a vida fora do Brasil, com a participação especial de nossos leitores.

Terra da batata Nas minhas primeiras férias do lado de cá, quando eu ainda nem pensava em me mudar, resolvi dizer para o meu marido, na época namorado, que queria experimentar pratos típicos. O que aconteceu foi que provei vários tipos de salsichas e cortes diversos de carne de porco, sempre acompanhados de alguma preparação de batata. Um dia tive que perguntar: - Por que afinal de contas se come tanta batata por aqui? Não escapa nem um diazinho para o arroz? Foi então que ele me contou sobre o Fritz. Lá pelos anos 1700 a população alemã sofria com os invernos rigorosos e quase não tinha o que comer, já que o plantio de grãos não vingava no clima austero. As mortes por fome eram muitas e foi então que o rei Frederico II, conhecido popularmente por Fritz, decidiu distribuir a batata e instruções de plantio para os agricultores. Na época, a iguaria havia chegado à Europa trazida pelos espanhóis da América do Sul, mais exatamente da Cordilheira dos Andes. Reza a lenda que no começo a planta da batata era usada apenas como decoração, porque dá flores lindas. Somente com a crise e a escassez de recursos é que os europeus decidiram experimentá-la. Mas os agricultores da Alemanha não receberam a novidade muito bem. Provaram a batata e acharam-na pouco saborosa, recusando-se assim a iniciar seu cultivo. O rei então lançou mão de uma estratégia que mudou para sempre a relação dos alemães com o tubérculo. Ele ordenou a seus soldados que passassem a vigiar sua plantação. O fato chamou a atenção dos agricultores, que julgaram a batata algo de extremo valor. Na calada da noite, então, eles começaram a furtar a plantação do rei. Claro que as ordens eram de que os soldados não reagissem. A ação, associada às campanhas do rei de que batata era consumida pela nobreza, fez com que os agricultores e o povo acreditassem que se tratava verdadeiramente de uma iguaria. Daí para a frente surgiram mais e mais receitas deliciosas e a Alemanha ficou conhecida como terra da batata. Uma preparação inclusive é bem famosa no sul do Brasil, para onde as famílias alemães migraram nos anos 1800: É a salada de batata, tradicionalmente feita com maionese, mas que possui versão mais leve somente com vinagre azeite e salsinha.


Fotos:Wikipedia

Flor de batata Salada de batata

Pão de batata

Ah, agora também me lembrei que tem uma cidade de colonização alemã, lá no Rio Grande do Sul, minha terra, que realiza anualmente a Kartoffelfest (Festa da Batata). Neste dia, em Santa Maria do Herval, pode-se provar de tudo: pão de batata, doce de batata, sopa de batata, bolo de batata… e é tudo uma delícia! Com tudo isso, só me resta dizer uma coisa: Aplausos para o Fritz!

Perguntamos aos brasileiros mundo afora como é a relação deles com a culinária do novo país. Dá uma olhada no que descobrimos: "Tem muita coisa na culinária inglesa que é estranha para mim. Comer bacon, ovo, cogumelo, salsicha, tomate e feijão no café da manhã, por exemplo. Mas tem algo que gosto muito para acompanhar o meu café da tarde: é um doce chamado Scones. Uma mistura de biscoito com pão, que servem com geléia e um creme tipo nata. É delicioso." Kellen Venske, natural de Blumenau, mora atualmente em Londres, Inglaterra.

"Sou apaixonada pelo chicken biryiani, que é um arroz com frango bem temperado à base de manteiga. O prato come-se juntamente com o roti ou o naan, pães indianos, e o paneer masala, que é um queijo tipo ricota acompanhado de um molho temperado." Anelise Cornely, natural de Porto Alegre, morou três anos e meio na Índia.

"Há muita comida exótica, saborosa e estranha por aqui. Devido as minhas alergias, não como frutos do mar, carne de porco e comida apimentada, ítens básicos da culinária de Cingapura. Minha comida favorita é o chicken rice, frango com arroz. Comidas que os locais amam são o Chili Crab e uma fruta de sabor e gosto estranho chamada Durian. Cozinhar em Cingapura custa caro, muito mais do que se comer fora, afinal tudo por aqui é produto de importação." Juliana Cristine, natural de Curitiba, mora atualmente em Cingapura.


Cozinhandoem Bali Uma aula de culinária e cultura em Bali Texto: Camilla Kafino | Fotos: Arquivo pessoal

Eu e o Denis, meu marido, viajamos em maio desse ano pela Ásia. Durante a nossa estada em Bali, na Indonésia, aproveitamos para participar de uma aula de culinária e cultura. Tudo começou com uma visita do nosso grupo de 10 pessoas ao mercado de Ubud, onde a guia nos deu diversas explicações sobre a religião e o modo de vida dos balineses. Ela também nos apresentou a diversas frutas locais, como a deliciosa mangostin, uma fruta tropical original da Ásia, de casca grossa e roxa. Ela é da mesma família do brasileirinho bacuri e possui um sabor muito único, mais doce do que ácido, uma delícia.


Também conhecemos diversos temperos e verduras. As cores do mercado, assim como os rostos das pessoas que por alí circulavam nos encantaram. Saindo de lá, recebemos diversas explicações sobre as variedades do arroz, irrigação e restrições de construção nas áreas de plantio. Seguimos para uma plantação do grão, que é uma das coisas mais importantes na vida de uma família balinesa. O arroz está presente em todas as refeições da família (do café da manhã ao jantar). O consumo é tão grande, que inviabilza exportar o produto, mesmo com a imensa produção local. Tudo é produzido para consumo próprio, além de ser usado como oferenda para as divindades.


Seguimos então para a casa onde começou a nossa aventura no fogão. Todos do grupo tiveram a chance de participar, cortando os ingredientes, usando o pilão, enfim, colocando a "mão na massa". Nós cozinhamos um total de oito pratos. A entrada foi uma sopa de vegetais e cogumelos chamada Kuah Wong. Já a refeição principal era composta de seis pratos. Entre eles Be Siap Mesanten, frango ao curry de coco, Sate Siap, espetinho de frango e Gado Gado, vegetais ao molho de amendoim. A sobremesa, Kolak Pisang, foram bananas cozidas em calda de açúcar de palma. Se alguém tiver algum tipo de restrição alimentar, basta avisar que será dada uma atenção especial aos ingredientes que irão para o seu prato. Houve versão vegetariana e sem glútem de todos os pratos!

Além de saborear o delicioso almoço que nós mesmos preparamos, fizemos amigos. Aprender a cozinhar nos ajudou muito a compreender melhor a cultura balinesa que é tão diferente da nossa. Foi uma experiência inesquecível! Ficou interessado? Agende diretamente no site do Paon Bali Cooking Class - Ubud, Bali. Nós pagamos, em maio desse ano, o equivalente a 35 dólares por pessoa ou IDR 350.000,00 (moeda local). O valor inclui o transporte de ida e volta do seu hotel dentro da região de Ubud.

Camilla Kafino é geóloga e mora em Brasília com o marido Denis. No blog Ensaios de Viagem ela escreve sobre suas aventuras. Ensaiosdeviagem.com | www.facebook.com/EnsaiosdeViagem | twitter @camsk | instagram@camsk



Carolina Leal embarcou, em 2010, para o Canadá para estudar inglês. Voltou cheia de histórias para contar e reconectada com sua essência. Uma amizade iniciada em Vancouver a despertou para o México, país que virou fonte de seus estudos como doutoranda de antropologia. A seguir, ela nos conta os melhores momentos dessa aventura.


Mosaicos de experiências Texto: Carolina Leal | Fotos: Arquivo pessoal

S

ou uma versão às avessas de Comer, Rezar e Amar. Sem o tempo (e bolso) disponíveis, como da autora deste maravilhoso livro, me definiria mais como estudar, me conhecer e reinventar. Brincadeiras à parte, foi uma desilusão profissional somada ao sonho de estudar mais o inglês que fizeram com que, em 2010, eu partisse para Vancouver, Canadá. No entanto, esta experiência de três meses me proporcionou muito mais que a fluência da língua, com consequências que impactam, ainda hoje, minha maneira de viver. Além dos amigos e lugares que conheci, o mais revelador deste processo foi me reconectar com os meus reais interesses, com a minha essência. Do que gosto e quero preservar junto à mim e do que deveria deixar para trás, como pesos que levamos muitas vezes e nem sabemos o porquê… ou simplesmente o porquê de determinadas escolhas – que à primeira vista parecem óbvias e de enorme êxito, mas que mostram que estamos nadando conforme a maré. Percebi, na verdade, que prefiro ir contra à maré. Para atingir este nível de reflexão, tive de abrir mão de alguns paradigmas. Para aproveitar as novas experiências que se descortinavam era necessário me perguntar antes de qualquer coisa: Por que não? E, a partir deste simples questionamento, vivenciei momentos maravilhosos e outros engraçados, como fazer uma excursão às Montanhas Rochosas, com direito à cantoria e churrasquinho de marshmallow, saltar de bungee jump ou contracenar diversos filmes de qualidade prá lá de duvidosa! O fato de estar rodeada de gerações mais novas também ajudou a ser mais relax e resgatar um espírito adolescente, no sentido de "resgatar" um início da própria caminhada. Tais elementos me permitiram, assim, a tomar algumas decisões: a vida como executiva numa grande empresa não era mais um ideal. Me sentia realizada como professora – atividade que voltei a exercer, mesmo que ganhasse muito menos por isso. Decidi regressar aos estudos e fazer o doutorado em uma outra área de conhecimento, a antropologia, e abrir minha própria empresa. Em 2011, uma das amigas que conheci no Canadá, a mexicana Lula, me convidou para passar férias com a família em seu país. Ao retornar da viagem, a orientadora da minha tese me falou sobre um livro redigido por uma autoridade mexicana na área em que estudo. Foi como uma mágica que me colocou em contato com essa acadêmica e depois de um período pude retornar ao país, agora como estudantevisitante na modalidade do doutorado sanduíche, vinculada ao CIESAS, um centro de referência em estudos na área de antropologia social.


Lá fiz trabalho de campo, entrevistando pessoas e acompanhando a rotina de uma tenda do Mercado de Abastos, em Guadalajara. Vivi quase nove meses na cidade, num apartamento JK sem qualquer conforto. Sem carro, ia a pé ou com uma bicicleta para a faculdade e o que podia economizava para viajar. Conheci lugares lindos, como Cancun, Los Cabos, San Miguel de Allende e visitei também os Estados Unidos. Nestas viagens, era comum me hospedar via sistema airbnb – em que se aluga ou se fica na residência das pessoas, mais barato do que em um hotel. Foi a primeira vez que morei sozinha. No começo era difícil estar longe da minha família e de casa, mas contei com a ajuda de pessoas muito especiais, como a Esperanza, esposa de um dos meus professores, que me acolheu e depois virou quase uma "mama" para mim. Minha amizade com a Lula tornou-se uma "irmandade" e sua linda família tornou-se também a minha família. Um final de semana por mês conseguia visitá-la – o que me ajudava na adaptação de viver no exterior. Pouco a pouco fui construindo minha própria rede de amigos, em especial as colegas Karolina e Liliana, que fizeram com que eu sentisse que o exterior fosse o Brasil. Na verdade, eu estava era em casa! Uma das melhores sensações que tive nesse tempo foi certa vez que retornei de uma das viagens e Liliana me esperava com os seus filhos no aeroporto. Ver eles felizes me chamando foi indescritível: me senti parte desse lugar, me senti mexicana. O processo reflexivo, que iniciou-se lá em 2010, foi o que me possibilitou alcançar essas conquistas. Com elas aprendi ainda que é possível ser feliz com muito pouco. O que conta, no final de tudo, são esses mosaicos de experiências, as amizades, os novos conhecimentos, os desafios vencidos. Quer riqueza maior?

Carolina Leal é jornalista e mestre em comunicação social. Doutoranda em ciências sociais, concluiu recentemente etapa de doutorado-sanduíche no CIESAS, em Guadalajara/México, onde morou por nove meses. Registra passagem como gerente de comunicação e marketing de importantes organizações do Rio Grande do Sul na área financeira e da saúde. Atualmente é professora para a discipina de Marketing na Faccat (Faculdades Integradas de Taquara - RS). Além disso, mantém a empresa Emana Comunicação, focada em branded content, assessoria editorial e consultoria. Suas aventuras pelo mundo ela conta no blog Territórios, do qual é colaboradora. www.emanacom.com | www.territorios.com.br


"O que conta, no final de tudo, sĂŁo esses mosaicos de experiĂŞncias, as amizades, os novos conhecimentos, os desafios vencidos. Quer riqueza maior?"



Fotografando crianças Fotografar crianças é maravilhoso, divertido e encantador. Mas também é um exercício de paciência. É preciso, principalmente, respeitar o tempo da criança para se obter bons resultados e para que a sessão fotográfica não se torne um evento estressante. Duas fotógrafas brasileiras, que moram no exterior, compartilharam conosco algumas de suas fotos mais bonitas. As duas fotografam com paixão as filhas e outros pimpolhos.



Pimpolhos atrav茅s das lentes da fot贸grafa brasileira Tatiane Borges Schindler






A carioca Tatiane Borges Schindler tem 27 anos e vive há quarto na Alemanha, país para o qual se mudou por amor. Dessa união nasceu Sophie, um dos seus motivos preferidos para fotografar. Tatiane estudou enfermagem no Brasil, mas não deu continuidade à profissão, por não conseguir lidar com a perda. Na Alemanha, encara uma rotina puxada, exercendo vários papéis: ela é mãe, trabalha durante meio turno em um laboratório e nos finais de semana é fotógrafa, profissão pela qual se apaixonou. Para conciliar a vida profissional com a familiar, conta com a ajuda indispensável do seu marido.

www.tatiborges-schindlerfotografia.com




Bella

Izabella

atrav茅s das lentes da fot贸grafa brasileira Danielle Cassar




Danielle Cassar, paulista de 26 anos, vive há três em Malta, país de origem do marido. Izabella sua filha de três anos, é a inspiração para suas fotos. Danielle estudou três anos direito no Brasil e durante esse tempo foi assistente jurídica. Interrompeu o curso para fazer um intercâmbio na Irlanda, uma decisão que mudou sua vida completamente , pois lá conheceu seu marido maltês. Em Malta, ela se divide entre cuidar da casa, da filha e do marido, gerenciar um apartamento de temporada e fotografar aos finais de semana. A paixão pela fotografia Danielle descobriu durante a gravidez. danicassarphotography.blogspot.de


Profissão expatriadas

que moram nos quatro cantos do mundo, falam sobre suas trajetórias profissionais e dão dicas para quem está se mudando agora para o exterior.



No ritmo de

Entrevista: Claudia Bömmels

| Fotos: Holger Hage

onheci a Bê Ignacio por acaso, quando uma leitora me indicou o seu show, que estava acontecendo em Berlim. As nossas agendas não combinaram para marcar uma entrevista pessoalmente, mas eu fui no show. Depois de dançar no balanço de sua música, que é uma mistura gostosa de vários rítmos, me deparei, na conversa rápida que tivemos atrás do palco, com uma pessoa de extrema simpatia e simplicidade. Nos despedimos com a promessa de que ela me contaria sobre a sua trajetória profissional aqui na Alemanha. Aí está!

C

Betina Ignacio, ou simplesmente Bê, tem 35 anos, é filha de mãe alemã e pai brasileiro e lançou seu quarto CD, Índia Urbana, em julho desse ano. Antes de decidir mudar-se para a Alemanha, para cursar uma concorrida faculdade de música em Stuttgart, ela estudou teatro no Brasil. Também fez parte de um coral, participando de várias turnês pelo país. Ela formou-se há seis anos em música e está sempre se reciclando. Conforme conta, no meio artístico é preciso continuamente estudar e se aperfeiçoar. Índia Urbana é um CD que chama atenção já pela capa, mostrando Bê pintada de índia na Avenida Paulista, palco de muitas manifestações na cidade de São Paulo. "O índio se pinta tanto para a guerra quanto para a festa. Quando fiz as fotos, lembrei muito dos caras-pintadas pedindo o impeachment do Collor. Algum tempo depois, as manifestações começaram a tomar conta do Brasil e todo o conceito do disco fez ainda mais sentido", contou em entrevista ao jornal alemão Deutsche Welle.

Ingressando no mercado de trabalho alemão "Acho que sempre é difícil ingressar no mercado de trabalho. Também como cantora. Tanto no Brasil como na Alemanha, precisa-se de um tempo para se fazer bons contatos, ter a banda certa. No meu caso, depois de dois anos no mercado, as coisas começaram a andar melhor. Hoje estou muito satisfeita. As pessoas já conhecem o meu trabalho e não recebo mais perguntas do tipo ‘Você canta música brasileira? Tipo Salsa e Merengue?’ Desde quando salsa e merengue vêm do Brasil? Tive que aprender que as pessoas aqui não sabem distinguir muito bem os diferentes rítmos. Para eles, música latina é tudo a mesma coisa.


"Chegava para fazer o show e o organizador do evento olhava para mim e perguntava ‘Ué, onde está o seu biquini? E as penas?’ Viva os clichês! Ficava chocadíssima."




"Indiferente da profissão, é super importante vivenciar outra cultura. A possibilidade de ver o próprio país de um outro ângulo vale ouro."



Outro problema que tive no início foi: chegava em algum lugar para fazer o show e o organizador do evento olhava para mim e perguntava ‘Ué, onde está o seu biquini? E as penas?’ Viva os clichês! Ficava chocadíssima."

Diferenças entre o Brasil e a Alemanha "Eu só posso falar do que vejo e vivencio quando estou no Brasil. Com certeza é difícil generalizar qualquer coisa na minha área. Mas no Brasil, hoje em dia, os artistas tem mais apoio do Governo. Acho isso ótimo. Aqui na Europa realmente tem que se lutar bastante para se conseguir viver da música. Acho que no Brasil as coisas estão mudando nesse sentido. Mesmo artistas que não tem nome conseguem sobreviver sem ter que trabalhar em outro ramo." Quando perguntei sobre a rotina de trabalho, a resposta foi de que não há rotina fixa. Algumas vezes ela está compondo e arranjando músicas novas, outras está no estúdio gravando ou ensaiando com os músicos, fazendo shows ou trabalhando no escritório. "Grande parte de meu trabalho significa viajar", contou Bê. Para quem está começando uma nova carreira, ela diz: "Acho super importante, em primeiro lugar, observar como as coisas andam. No Brasil, por exemplo, é normal uma banda profissional ter roadies a acompanhando. Eles são profissionais que coordenam tudo o que diz respeito ao som e à iluminação de palco. Já vivenciei músicos brasileiros na Europa que não sabiam montar os próprios instrumentos no palco. Aqui na Europa, só os grandes nomes contratam roadies. A coisa mais normal é você saber montar o próprio instrumento." E completa: "Em geral e indiferente da profissão, é super importante viajar e trabalhar em outro país e vivenciar outra cultura. Nem sempre é fácil, mas a riqueza em vivências e a possibilidade de ver o próprio país de outra forma, de um outro ângulo vale ouro." www.be-musica.com | www.youtube.com/user/Ignaciochannel | www.facebook.com/BeMusica

Onde Bê Ignacio estudou música? Envie a resposta para brasileirosmundoafora@gmx.net

e concorra a um dos 5 CD’s da Bê Ignacio.


China na minha vida A professora Christine Marote era funcionária pública e atuava como chefe do Departamento de Cultura, em Praia Grande, São Paulo. Há cinco anos, ela mudou-se com a família para China, onde trabalha assessorando brasileiros que estão de mudança ou apenas visitando o país. Ela escreve profissionalmente no blog China na minha vida e atua também como palestrante. Foto: Arquivo pessoal


u não escolhi morar na China, sempre digo que a China me escolheu (risos). A minha nova opção profissional também foi quase por acaso. Quando percebi, já estava nela. Em 2009, escrevia alguns e-mails para amigos contando o que acontecia por aqui. Praticamente todos diziam que eu precisava escrever um blog, que eu contava as coisas de forma divertida e que seria um sucesso. Então, em 2010, após quase dois anos sem ir ao Brasil, fomos visitar a minha família, que organizou uma festa e convidou mais de 120 pessoas que mantinham contato conosco. Foi demais! Fizemos muitas fotos, rimos bastante, nos abraçamos e choramos de alegria. E no final foi isso que me deu coragem de voltar e mudar de rumo. Percebemos que temos amigos e pessoas queridas que nos acompanharão durante a vida, não importando quão distante fisicamente possamos estar.

E

Voltei para China cheia de entusiasmo, de esperança, realmente renovada. Um mês depois comecei o blog China na minha vida e desde 2012, ele tem um foco profissional. Eu procuro postar duas a três vezes por semana no blog e atualizo a página do Facebook duas vezes por dia. Além de preparar artigos para outros blogs e sites que me convidam a escrever, também sou colaboradora fixa do Brasileiras pelo mundo. Para me inteirar da cultura chinesa e para melhorar meu inglês eu fiz um MBA* sobre a influência da cultura nos negócios na China, na Shanghai Jiaotong University. O que me dá mais prazer na minha nova atuação de dar suporte a pessoas que estão mudando ou visitando a China é o contato com as pessoas. Sou pedagoga de formação, mas trabalhei muito tempo com eventos e cultura. Outra coisa que me fascina é poder abrir portas, mostrar algo meio místico como a China, compartilhar as minhas experiências e perceber que muitas vezes isso pode mudar a vida de alguém. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? Acho que uma coisa é básica para quem muda de país, em especial a mulher que deixa sua carreira no Brasil: mantenha o foco no futuro e procure tornar seu tempo útil, seja investindo na antiga ou na nova profissão. Talvez sendo voluntária, buscando cursos ou viajando para conhecer o novo local onde vive. Por mais difícil que possa parecer, é importante interagir com a sociedade onde está vivendo. Sempre busquei muito inspirações nos textos que me dizem algo. Na época da mudança, me deparei com uma frase que compartilho aqui com as pessoas que estão nesse mesmo barco. Espero que toque o coração de muitos e que traga a mesma força que me trouxe naquele momento: "Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos." www.chinanaminhavida.com | www.facebook.com/ChinaNaMinhaVidaBlog | twitter.com/christinemarote | www.brasileiraspelomundo.com

* MBA: Mestre em Administração de Negócios


Fotos: Hardy Müller

Uma bióloga brincando na Alemanha Cristina Francisco mora há quase 18 anos fora do Brasil. Formada em biologia, optou pela profissão de Tagesmutter, atividade qualificada na Alemanha voltada aos cuidados de crianças pequenas. Fotos: Hardy Müller


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uando eu cheguei aqui na Alemanha, não foi possível ingressar no mercado de trabalho como bióloga. Há 18 anos atrás a situação para profissionais estrangeiros era bem diferente da atual. O meu diploma não foi reconhecido, mesmo com anos de experiência e trabalhos publicados em revistas científicas reconhecidas. Eu tive então que frequentar a universidade e fazer um novo diploma chamado DiplomBiologin/Hauptfach Naturschutz. No Brasil eu havia trabalhado em consultoria ambiental. Participei da avaliação de impacto ambiental de grandes projetos como as hidrelétricas de Samuel, Manso e Corumbá II, projetos de irrigação e estradas. Foi em uma época em que o Brasil estava mudando politicamente e estes grandes projetos eram financiados por instituições internacionais. Além disso, o Banco Mundial estava recebendo muitas críticas por financiar a destruição ambiental na sua ajuda ao desenvolvimento. Sem financiamento, os grandes projetos pararam e as equipes de meio ambiente das consultoras foram desfeitas. Na época a minha irmã, que veio para Hamburgo como Au-pair, casou-se e ficou na Alemanha. Ela estava esperando o segundo filho e sugeriu que eu viesse para ajudar e aprender a língua. Quando eu cheguei não falava alemão, então as opções de trabalho não eram muitas. Como eu tenho muito jeito com criança, comecei cuidando do meu afilhado e a partir daí surgiram outras famílias, onde eu fazia babysitting. Enquanto eu frequentava a universidade, os trabalhos que eu fazia sempre tiveram a ver com crianças. Quando me graduei, procurei um emprego como bióloga durante um ano, sem sucesso. Por outro lado, eu recebia cada vez melhores propostas para cuidar das crianças, realmente empregada e com uma remuneração até melhor do que nas ofertas na área de biologia. Resolvi então desistir da profissão de bióloga para abraçar a atividade de Tagesmutter*. Depois de algum tempo já trabalhando, fiz a qualificação para Tagesmutter em 2007, que é oferecida pelo BASFI - Behörde für Arbeit, Soziales, Familie und Integration, uma secretaria ligada à assuntos sociais, inclusive os da família. Também foi necessário concluir o curso de primeiro socorros para crianças. Além disso, preciso cursar 18 horas de atualização a cada dois anos. Eu trabalho com crianças de todas as idades, mas tenho especilização para trabalhar com pequenos de até três anos. Eu gosto muito e é bem divertido. Cada dia tem uma coisa nova e posso usar a minha criatividade. O trabalho gira em torno das necessidades e dos interesses das crianças. Basicamente passo o dia brincando. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? Se você vier para a Alemanha, o fundamental é falar bem o idioma e verificar quais são as exigências em termos de certificados. Aqui realmente o que conta é o papel.

* Tagesmutter é uma profissão qualificada voltada aos cuidados de crianças pequenas.


Maricélia

Wiesböck

Fotógrafa premiada na Alemanha Maricélia Wiesböck nasceu na Bahia, cresceu em São Paulo e mora há 17 anos no exterior. No Brasil ela exercia a profissão de secretária. Na Alemanha é uma fotógrafa de sucesso. Em 2011, venceu o concurso da revista internacional Dein Blick, com o tema estampa.


Foto: Mike Gallo


Foto: Stephan Gelbmann

"Foi mesmo pela fotografia que me apaixonei e escolhi para exercer como profiss達o."


À esquerda: Fotografia com a qual Maricélia concorreu e ganhou o primeiro lugar no concurso da revista internacional Dein Blick em outubro de 2011.

Foto: Suzanne Niederhof

À direita: Fotografia de Maricélia ilustra o cartaz da exposição no Fichtelgebirgsmuseum na Alemanha, sobre os 200 anos da história do casamento, em maio de 2010.


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uando cheguei na Alemanha estudei durante três anos tradução no Sprachen & Dolmetscher Institut em Munique. No primeiro ano estudei o idioma. O segundo e terceiro ano eram direcionados à formação de Europakorrespondentin – Correspondente na Europa. Os correspondentes tem uma ampla área de atuação, podendo trabalhar com o setor de importação e exportação da empresa, sendo responsáveis pela correspondência comercial em línguas estrangeiras ou atuando como intérpretes durante as negociações. Apesar de ser um curso interessante, foi mesmo pela fotografia que me apaixonei e escolhi para exercer como profissão. Tudo começou como um hobby. Eu era fotógrafa amadora e sempre gostei muito de fotografar estilos na rua - street photography. Mas um dia fiz algumas fotos do bebê de uma amiga, ela revelou as fotos e espalhou pela casa em porta-retratos. Suas amigas viram as fotos e interessaram-se em saber quem era a fotógrafa. Assim começou a propaganda boca a boca e eu resolvi seguir essa profissão maravilhosa. Trabalho fotografando casamentos e crianças há 11 anos e moda há três. Para me aperfeiçoar, fiz vários cursos de fotografia, de Artdirector e Fotodesign.

É um pouco difícil definir a minha rotina de trabalho. Tenho dois filhos e, por isso, não trabalho nem todos os dias, nem o dia inteiro. Também não tenho tempo para fotografar mais de um cliente por dia, porque estou sempre ocupando o meu tempo com as crianças. Quando é possível procuro agendar sessões de fotos sempre nas terças e quartas-feiras. Também procuro fazer as fotografias infantis sempre no período da manhã. Cada sessão dura cerca de uma hora.

Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? Analise com muita atenção a situação social, econômica e financeira do país para onde pretende emigrar. Analise também com sinceridade a sua própria situação financeira antes de dar um passo definitivo. Procure estudar a língua do país onde quer morar. Analise se a sua profissão é necessária e adequada à realidade do novo país. Por fim, se deseja continuar na antiga profissão, viaje bem preparado. Assim será mais fácil fazer um curso de aperfeiçoamento e ter sucesso.

www.maricelia.com | www.facebook.com/MariceliaWiesbockKinderfotografie | www.the-look.org/blog/


Foto: Maricélia Wiesböck


Fotos: Arquivo pessoal

Marina Wentzel, 32 anos, formou-se em jornalismo no Brasil e saiu pelo mundo. Desde 2010 mora na Tailândia com o marido e os filhos, mas já passou por Hong Kong, Turquia, Inglaterra e Alemanha. Atualmente é correspondente internacional para o sudeste da Ásia e repórter freelancer da BBC Brasil. Cursou mestrado em Relações Internacionais e Estudos Europeus pela Universidade do Bósforo, em Istambul, mas foram os estágios internacionais que lhe trouxeram oportunidades.


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eixar o Brasil foi uma escolha difícil no começo, pois nunca sabemos como será a adaptação no exterior. A saudade sempre está presente e às vezes bate uma solidão, mas a descoberta constante de coisas novas é uma sensação que compensa tudo. Acredito que trabalhar no exterior ensina as pessoas a serem mais adaptáveis, proativas, independentes e disciplinadas. Em Londres, aprendi a ética do trabalho inglesa. Em Hong Kong, senti muito orgulho ao ser aceita no seleto e prestigioso Clube dos Correspondentes Internacionais da cidade. Na Tailândia, conheci o poder da gentileza. Repetir "com licença", "obrigado", "me desculpe" e "por favor" com gratidão, retorna como bênção na vida da gente. Todos esses ensinamentos fazem parte da pessoa que sou hoje e foi um privilégio poder ter aprendido tudo isso através da experiência de viver em tantos lugares diferentes. Minha rotina é acordar cedo, mandar meus filhos para a escola, ler os jornais e revistas e fazer contatos com as minhas fontes. Às vezes, almoço no Clube dos Correspondentes Internacionais. No começo da tarde mando para Londres as sugestões de pauta. Eles me retornam com pedidos e eu vou executar a matéria com entrega para o mesmo dia ou na manhã seguinte. O que mais me dá prazer na minha profissão é contar e ouvir boas histórias, bem como ter a oportunidade de viajar e conhecer novas culturas, aspectos que me levaram ao jornalismo. Por natureza, sou muito curiosa e eclética. Posso escrever sobre uma crise diplomática hoje e sobre esporte ou arte contemporânea amanhã. Busco ter liberdade para explorar várias linhas. É a diversidade o que mais me atrai e, na posição de correspondente internacional, tenho o espaço para poder explorar isso. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? Estude o idioma e adote uma postura séria e infalível. Trabalhe com comprometimento e dedicação. Faça acontecer! Seu esforço será recompensado.


Fotos: Arquivo pessoal

De cleaner à empresária na Austrália

Marcia Ciarini tem 34 anos e mora no exterior há quase seis. No Brasil ela era administradora de comércio exterior. Em Sydney, na Austrália, tem uma empresa de limpeza.

u me mudei do Brasil afim de buscar crescimento pessoal e profissional. Adquiri muito conhecimento na parte pessoal e mudei completamente minha atuação profissional. Continuo sendo administradora, mas em um ramo bem diferente do qual eu atuava no Brasil.

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Ingressar no mercado de trabalho aqui na Austrália não foi fácil, pois o país é bem diferente do Brasil. Além disso, eu não conhecia muitas pessoas e não era fluente no inglês. Foi como renascer aos 28 anos. É preciso ter a mente aberta e muita força de vontade. Fiz muitos contatos e, ao invés de preencher meu currículo, passei a ser um "currículo ambulante". Em cada conversa entre os colegas de escola e amigos de amigos, me apresentava apontando todas as minhas qualidades, inclusive aquelas que eu nunca pensei em falar, como: minhas roupas são organizadas, não gosto de sujeira, sei lavar pratos, sou educada e assim por diante. Dessa forma surgiu o primeiro emprego de cleaner*, acompanhado de outro emprego de garçonete, para trabalhar em eventos. Cleaner não é uma profissão que eu escolhi, na verdade. Eu comecei a trabalhar nela devido a necessidade de ganhar dinheiro para me sustentar. Posteriormente a escolha foi minha de continuar e crescer na nova profissão. Hoje tenho uma empresa que presta serviços de limpeza em geral. Eu gosto muito do meu trabalho. Gosto de ver a reação das pessoas quando o trabalho é bem feito. Gosto também de ajudar quem, assim como eu, precisa de uma primeira oportunidade no início da nova jornada em um outro país.

*cleaner: faxineira


Fotos: Arquivo pessoal

Eu não tenho uma rotina de trabalho fixa. Sempre tem algo diferente para se fazer, um problema para resolver, um cliente para visitar. Mas, basicamente, existe um plano mensal que as cleaners seguem. Nele consta quais são os clientes do dia, horários e tempo de serviço, afinal tempo é dinheiro! Também trabalham para mim outras pessoas com um cliente fixo, como escolas, por exemplo. Na maior parte do tempo, eu organizo os clientes e as cleaners. Mas se preciso colocar "a mão na massa" eu vou, sem problemas! Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? Informe-se antes de se mudar para um novo país e utilize essa ferramenta maravilhosa chamada Facebook. Eu já respondi várias dúvidas de estudantes e acredito que assim muitas pessoas param para pensar e pesquisar melhor, antes de tomar uma atitude de que possam se arrepender mais tarde. Não viaje pensando que tudo será diferente, lindo e que você vai resolver todos seus

Meu conselho? Abra os olhos para novas oportunidades. Eu acredito que a Austrália é um país onde há muito o que fazer. Mas o que você fizer, que seja bem feito, pois de gente que faz por fazer todo lugar está cheio.


Uma advogada nos EUA Cintia Moneró é formada em Direito e trabalhou, antes de se mudar para os Estados Unidos, como advogada contratada da UNESCO, em São Paulo. Atualmente ministra aulas de alfabetização infantil em português e está aperfeicoando a língua inglesa para frequentar cursos na área de direito no país.

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Foto: Roberta Duarte

eu nome é Cintia Moneró, sou advogada com pós-graduação em Direito Previdenciário e, desde 2010, moro com a minha família nos Estados Unidos (EUA). Daqui eu administro um grupo no Facebook chamado Clube das Brasileiras no Texas, onde falamos sobre o nosso dia a dia no país, sobre os nossos filhos e tentamos nos ajudar e apoiar ao máximo. Um dos pontos em comum entre nós é a dificuldade de retornar à vida profissional. Esse é um tema que mexe muito com a autoestima de muitas mulheres, que se vêem recomeçando profissionalmente, tendo que percorrer, muitas vezes, um longo caminho.


Minha história assemelha-se a de muitas outras brasileiras que moram no exterior. Eu nunca tinha estudado inglês no Brasil. Estudei somente o francês, minha língua preferida. Cheguei aqui falando praticamente nada. Após os seis primeiros meses nos EUA, eu engravidei. A maternidade sempre foi o meu maior sonho e, por isso, eu mergulhei profundamente neste universo maravilhoso e novo de ser mãe. Consequentemente nao tive também tempo para mais nada. Mas, entre as noites maldormidas e as mamadas, consegui voltar a fazer algumas aulas de inglês. Meu objetivo é fazer um curso de paralegal, ou assistente legal, que dura dois anos. Um assistente legal trabalha como assessor do advogado, com funções de extrema importância para o sucesso do escritório de advocacia, porém, não podem prestar consultas ou assinar petições. Penso que esse curso é uma excelente forma de introdução e conhecimento do direito nos EUA, além de ser uma boa porta de entrada para o mundo da advocacia. Os dois maiores desafios, na minha opinião, são o idioma e a dificuldade de validar o diploma brasileiro. Além disso, os cursos de pós-graduação também são caros. O de direito custa por volta de 60 mil dólares e o curso de paralegal em torno de 7 a 15 mil. Para se fazer uma pós-graduação, é necessária a aprovação no exame de inglês do TOEFL. Esse teste avalia sua capacidade de usar e compreender o inglês no nível universitário. Avalia também sua capacidade de combinar compreensão oral, leitura, expressão oral e escrita para realizar tarefas acadêmicas. A nota mínima solicitada varia de acordo com a universidade. Com a aprovação no TOEFL e uma análise da documentação da graduação cursada no Brasil, é possível se matricular em uma pós-graduação de direito por aqui. Após o término do curso, será então possível validar o diploma brasileiro. A próxima etapa é a aprovação no Bar Exam, equivalente ao exame da Ordem dos Advogados no Brasil. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior?

É muito trabalho, independente da escolha que você fizer, e é difícil recomeçar. Mas, com determinação, tudo é possível.


Foto: Arquivo pessoal

Uma executiva na Alemanha Camila Furtado mora há oito anos fora do Brasil, onde se formou em publicidade. Atualmente está na Alemanha com a família e em licença-maternidade. No blog Tudo sobre minha mãe, ela escreve sobre os desafios de mulheres que, como ela, vivem e criam seus filhos no exterior. Camila era executiva no Brasil e, para se recolocar no mercado de trabalho alemão da melhor forma possível, encarou um curso de MBA - Mestre em Administração de Negócios - na Alemanha, estando grávida e com um filho de colo.


eu nome é Camila Furtado, tenho 38 anos e aqui na Alemanha trabalhei até pouco tempo atrás para uma agência de cooperação internacional. Ingressar no mercado de trabalho alemão não foi difícil pra mim. Meu diploma foi reconhecido e eu fiz um curso de MBA na conceituada universidade alemã Leuphana University Lüneburg. Não teria sido necessário fazer esse curso para trabalhar, mas tenho a impresssão que fui levada mais a sério com o diploma alemão.

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No começo enfrentei muitas dificuldades com o idioma. Eu não sabia falar alemão, trabalhava em inglês, espanhol e português, fazendo contatos com pessoas do mundo inteiro e principalmente da América Latina, onde meus projetos se concentravam. Mas as reuniões internas e os contato com os colegas aconteciam em alemão. Várias vezes me vi sentada numa mesa de reuniões sem entender quase nada. Eu me sentia muito mal. Também estranhei muito a cultura corporativa alemã, que é bem diferente e muito mais hierárquica do que no Brasil, pelo menos onde eu trabalhei. No geral, acho que os brasileiros levam as coisas com mais leveza, mas trabalham muito mais horas que os alemães. Aqui eles passam o dia inteiro estressados, mas quando chega a hora de ir para casa ninguém quer nem saber. Não tem muito aquela mentalidade "escrava" do Brasil. Para os alemães, o trabalho é tão importante quanto o tempo livre. Em termos de remuneração e, dependendo do cargo, penso que no Brasil se ganha melhor, mas se gasta muito com a vida cara. Na Alemanha você ganha menos, mas os impostos voltam em forma de serviços públicos eficientes. Então você paga pouco por saúde, educação e lazer. No final, acho que dá no mesmo. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? Eu aprendi muito trabalhando aqui. Quando mudamos de país, passamos muito tempo tentando nos reinventar, tentando encontrar e entender quem é aquela nova pessoa. É um momento de muita reflexão, de olhar para si mesmo sob uma nova ótica. Eu acabei indo pelo mesmo caminho que seguia no Brasil, mas se alguém quer tentar algo novo, a mudança de país pode ser super favorável. Já que tem tanta coisa mudando, então aproveite o embalo.

Quando mudamos de país, mudamos também a lente com que estamos acostumados a ver o mundo. Talvez com essas novas lentes seja possível enxergar coisas na vida profissional antes nunca percebidas. www.facebook.com/tudosobreminhamae | www.facebook.com/tudosobreminhamae


Fotos: Arquivo pessoal

Juliana Cristine da Silva tem 29 anos e mora há 21 meses em Cingapura. No Brasil ela era supervisora de assistência técnica em uma empresa de automação industrial. Em Cingapura, é atendente de call center em uma empresa alemã e acaba de conseguir a renovação de contrato e visto de trabalho para mais dois anos no país. Muito feliz com a conquista, ela conta a seguir sobre sua experiência no país, que é considerado um dos "Tigres Asiáticos".* * grupo de países com alto nível de crescimento econômico.


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uando perdi meu emprego em Curitiba, em dezembro de 2010, cheguei à conclusão que estava na hora de finalmente fazer o que sempre quis: me aventurar pelo mundo. Então parti para minha primeira experiência no exterior: consegui um trabalho em um navio de cruzeiros viajando pela Europa. Quando voltei ao Brasil, depois de sete meses, inesperadamente uma grande amiga me indicou para uma vaga de trabalho em Cingapura. Sem pensar muito fiz a entrevista via skype e 10 dias depois estava me mudando para a Ásia. Ainda me lembro do dia em que cheguei aqui, há quase dois anos, sozinha sem conhecer ninguém e sem saber o que teria pela frente. O fato de ter sido contratada no Brasil e já vir com o visto de trabalho pré-aprovado facilitou muito.

Eu não pensei muito na mudança de profissão quando recebi a proposta para trabalhar como atendente de call center. Aceitei o trabalho pela oportunidade de ter essa experiência na Ásia. Sempre trabalhei de alguma forma com prestação de serviços e isso me ajudou muito. Penso que o maior desafio que encontrei foi o horário de trabalho. No início foi muito dificíl a adaptação, principalmente porque trabalho de madrugada e atendo em três idiomas, já que meu foco são os clientes espalhados por toda a América. Outro desafio diário é trabalhar com uma equipe asiática. Ela é composta básicamente por filipinos, que têm uma postura profissional e forma de trabalho muito diferentes da nossa. Meu horário de trabalho, dependendo da escala, costuma ser das nove da noite às seis da manhã, horário de Cingapura. O meu dia a dia é com horário invertido: as sete da manhã quando chego em casa, é como se fosse o meu jantar. Vou para aula de yoga, corro em algum parque ou escrevo para o meu blog Ju em Cingapura e para o blog onde sou colaboradora o Brasileiras Pelo Mundo. Geralmente de manhã também é quando falo com a família e os amigos no Brasil. Que conselho daria para quem está se mudando agora para o exterior? O mais importante é estar aberto a novas experiências, à troca de cultura, e à interação com a comunidade local e estrangeira do lugar, pois o restante é adaptável. Acho legal também buscar pela comunidade brasileira local. Aqui ela é muito grande e faz toda a diferença ter alguém que fala o mesmo o idioma e esta passando muitas vezes pelas mesmas dificuldades que você. Eu recomendo o Internations, que é um grupo excelente. Posso dizer que a decisão de morar fora do Brasil, com certeza, foi a melhor decisão que tomei até hoje. E vir para Cingapura então, superou todas as expectativas que eu tinha. Aqui descobri a paixão por escrever e compartilhar minhas aventuras. Meu blog é hoje referência para muitas pessoas que tem vontade de vir para cá, seja a passeio ou para trabalhar. Hoje ele conta com mais de 13 mil visitantes, o que me rendeu a oportunidade de escrever para o blog Brasileiras pelo Mundo, além de participar do programa de TV O Mundo Segundo os Brasileiros. Acho que tudo isso tem sido muito válido, apesar de que nem tudo é uma maravilha. O fato de estar longe de casa e da família também não ajuda. Tive dificuldades por aqui, mas estes obstáculos fazem parte do meu crescimento e possibilitam novas mudanças, seja como pessoa ou como profissional. www.juemcingapura.blogspot.sg | www.brasileiraspelomundo.com


Foto: Arquivo pessoal

Foto: Arquivo pessoal

Uma cirurgiã-dentista na Alemanha A goiana Lorena Ribeiro Bärschneider tem 39 anos e é cirurgiãdentista. Casada com um alemão, morou alguns anos no Brasil, até decidir mudar-se para a Alemanha com o marido há dois anos. Persistente, ela luta para exercer a profissão que ama no país que escolheu para viver.


u e meu marido estávamos cansados de morar em São Paulo e achamos que seria uma boa ideia mudarmos para Goiânia, minha cidade natal no Brasil. Moramos lá um ano, mas ele não se adaptou muito bem. Ao invés de voltarmos para São Paulo, resolvemos morar na Alemanha.

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Ingressar no mercado de trabalho alemão foi muito difícil para mim. Primeiro precisei estudar alemão até atingir o nível intermediário - que é o exigido para atuar na minha área. Antes eu nunca havia tido contato com a língua. Depois precisei encontrar uma vaga como dentista contratada, pois somente depois de ter um emprego foi que eu pude apresentar minha documentação junto ao órgão controlador da odontologia, do estado que moro. Assim pude obter a licença para atuar como dentista. Encontrar essa vaga na minha região não foi fácil, pois as clínicas preferem sempre quem já tenha feito a Approbation, prova de proficiência para poder exercer a profissão no país. A Approbation não é exclusividade para estrangeiros. Os cirurgiões-dentistas formados na Alemanha também são obrigados a fazê-la em até dois anos após a conclusão do curso. Como ainda não fiz essa prova, meu diploma é aceito, sem ainda ser reconhecido totalmente. Eu comecei a trabalhar em abril de 2013, quando completei um ano e meio na Alemanha. Há dois meses trabalho em outra clínica na minha cidade, onde começo às oito horas da manhã, faço uma pausa de três horas para o almoço e termino às 18 horas. Às sextas-feiras trabalhamos sem pausa até às 14 horas. O número de pacientes por dia varia de acordo com o tratamento que eu indicar. Se houver emergências que me façam passar do horário, eu e a auxiliar de consultório recebemos hora-extra. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? Acho importante se informar corretamente sobre como funciona para trabalhar na sua profissão e, principalmente, ficar bem atento ao tipo de informação que recebe. Muitas pessoas por obterem informações erradas e confusas perdem a esperança e acabam não indo em frente. Eu mesma ouvi vários relatos de que jamais conseguiria atuar na minha área aqui na Alemanha. Ao pesquisar como e porque algumas conseguiam e outras não, eu percebi que as leis aqui estão sempre mudando. Algumas vezes eles dificultam para o estrangeiro, outras vezes facilitam. Isso acontece conforme a necessidade tanto do mercado profissional quanto do econômico e até mesmo conforme os acordos políticos entre os países. Até eu conseguir realmente atuar, não tinha certeza se seria possível.

Por isso, eu digo: não desista antes de realmente tentar. Tentou e não deu certo? Siga com o plano B.


Foto: Arquivo pessoal

Uma contadora na Suiça Miriam Naef tem 38 anos e mora há 10 anos no exterior. No Brasil ela cursou contabilidade e depois de formada resolveu morar na Suiça, país onde ela vive com a família. Lá ela trabalha há sete anos em um hospital, fazendo parte da equipe de roomservice* .


ogo que cheguei na Suiça percebi que trabalhar na minha área de formação seria difícil, a língua era e ainda é uma barreira. O alemão do dia a dia se aprende com esforço, mas aprender leis, termos contábeis em uma língua estranha é uma tarefa que exige muito tempo e dedicação. Como queria ter filhos, achei difícil conciliar as duas coisas e resolvi fazer um curso para cuidar de idosos. Em 2006, encontrei o meu atual emprego no hospital.

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A melhor parte do meu trabalho é lidar com pessoas. O nosso setor no hospital é responsável pela a alimentação dos pacientes. Todos os dias temos que visitá-los para sabermos o que eles querem comer, de acordo com as dietas de cada um. São muitas pessoas diferentes, jovens, adultos, alguns gravemente doentes ou outros que ficam apenas por alguns dias e voltam saudáveis para casa. Também adoro saber sobre os alimentos, combinar os acompanhamentos e oferecer ao paciente sempre o melhor que temos a oferecer. Esse não é o emprego dos meus sonhos, mas sinto que contribuo de alguma forma para o bem-estar das pessoas que realmente estão em uma situação delicada, e isso é enriquecedor. Eu tenho dois filhos, de quatro e seis anos, e por isso trabalho apenas 40% da carga horária. Os dias que eu trabalho variam de acordo com o plano mensal que determina as escalações da equipe. Pode acontecer de eu trabalhar durante 15 dias seguidos e depois ter folga. Também trabalho em dois fins de semana por mês. Como tudo, esse modelo de trabalho também tem seus pontos positivos e negativos. A maior vantagem é certamente que eu preciso me preocupar menos com a organização do cuidado das crianças, já que eles ficam com o pai nos finais de semana. Isso faz com que o relacionamento entre o meu marido e os meus filhos se intensifique, já que estou fora. Também gosto muito da flexibilidade com o plano de trabalho. Posso tirar folga quando preciso, trocar dias de trabalho com as colegas, ser substituída quando surge algo inesperado. A grande desvantagem é que sobra menos tempo para os programas em familía no final de semana, que é o tempo livre do meu marido em casa. A minha rotina de trabalho é mais ou menos assim: pela manhã combino os cárdapios com os pacientes, sirvo chá ou outras bebidas, controlo o quarto para que a toalha de mesa, os guardanapos e tudo o mais esteja limpo. Sirvo as refeições, retiro as bandejas para mandar para cozinha e leio os e-mails com atenção. Caso haja mudanças de dietas dos pacientes, documentamos tudo no computador, para que todas as pessoas da equipe estejam sempre a par da situação. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? A primeira coisa a fazer é aprender a língua o mais rápido e melhor possível. Depois decidir se quer exercer a profissão antiga ou aprender uma nova. De acordo com o caso, é preciso estudar, estudar e estudar. Também recomendo que a pessoa tente se integrar, conhecer pessoas novas, pois muitos empregos você consegue por indicação, como foi no meu caso. *serviço de quarto


Fotos: Arquivo pessoal

Advogando na Alemanha e Brasil Laís Brandão Machado, 46 anos, nasceu e cresceu em São Paulo. Há 20 anos decidiu passar uma temporada na Alemanha para aprender a língua. De volta ao Brasil, formouse em direito na Universidade de São Paulo, fez o exame da OAB e mudou-se definitivamente para as terras germânicas. Advogada nos dois países, mantém escritórios em Darmstadt, Alemanha, e em São Paulo, capital.


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ngressar no mercado de trabalho alemão foi muito difícil, pois meu diploma não é reconhecido aqui. O estudo do direito está ligado às regras de um determinado país, por isso, precisei ingressar novamente na universidade.

Estudei direito em Frankfurt, depois fiz o primeiro exame de ordem e esperei mais um ano até receber a vaga de estágio, que era obrigatório na época em que fiz meu mestrado em Direito de Nacionalidades. Então fiz cerca de dois anos e meio de estágio, para posteriormente fazer o segundo exame de ordem. Ao todo foram nove anos de formação. Atuo desde 1993 no Brasil e desde 2003 na Alemanha. Se quisesse advogar em outro país, não teria meus dois diplomas reconhecidos. Seria preciso estudar novamente. Em São Paulo trabalho com minha irmã, que também é advogada e tem seu próprio escritório. Em alguns casos atuamos juntas, em outros atuamos separadamente. Quando é preciso, viajo ao Brasil para atender os clientes de lá. Trabalho com direito civil, empresarial, de família e sucessões e direito do estrangeiro. Posso dizer que meus clientes estão divididos entre brasileiros e alemães (pessoa física ou jurídica), residentes ou com sede na Alemanha ou no Brasil, e também estrangeiros de diversas nacionalidades residentes na Alemanha. Além disso, presto consulta jurídica na Universidade de Darmstadt e na Escola Superior de Darmstadt aos estudantes alemães e estrangeiros, por isso acabo assumindo causas universitárias também. Minha rotina de trabalho é intensa. Trabalho todos os dias de 10 a 12 horas e, muitas vezes, também nos finais de semana. Em termos de remuneração, parece-me que no Brasil um advogado pode ganhar muito mais dinheiro que um advogado alemão para o mesmo serviço. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? Traga todos os documentos brasileiros com reconhecimento de firma, traduzidos e legalizados no Consulado do país para onde for emigrar. Também as traduções devem ser legalizadas pelo Consulado respectivo. Antes de sair do Brasil, informese sobre a profissão no país para onde irá se mudar. Também procure um trabalho já do Brasil, mandando currículos.

Além disso, procure aprender a língua do país de destino antes de sair do Brasil, pois sem ela é praticamente impossível trabalhar. E-Mail: lais2000@gmx.de | www.rechtsanwaeltin-lais.de


Foto: Arquivo pessoal

Juliane atravessa o continente para trabalhar A jornalista Juliane Rosas, de 34 anos, mudou-se para a Turquia por amor. Casada com o turco Nida Köse, mora em Istambul há um ano. Aproveitando uma oportunidade, começou a trabalhar com turismo, área em que nunca havia trabalhado antes.

a Turquia, se você não é fluente na língua turca, não existem muitas opções. Aqui você pode trabalhar como professora de português ou de inglês para crianças ou com turismo, falando na sua língua nativa, em inglês e espanhol. Quando cheguei, pensei que não conseguiria nunca encontrar um emprego. Meu inglês é péssimo, mas meu turco é razoavél, já que me comunico com meu marido somente nesse idioma. Mesmo assim ainda preciso aprender muito.

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No início fiquei perdida sem saber por onde começar. Foi quando uma amiga turca que conheci no Brasil me indicou uma agência de turismo. Fui para a entrevista, consegui o emprego, mas fiquei apenas cinco meses, já que não me adaptei ao sistema da empresa. Depois disso fiquei em casa durante um mês, fiz alguns artesanatos, mas os turcos não dão muito valor para produtos nesse estilo. Achei que iria demorar muito para encontrar outro emprego, mas logo ví um anúncio em uma comunidade virtual de brasileiros que vivem na Turquia. Fiz a entrevista em turco e consegui o trabalho, onde estou há cinco meses. Nesta segunda agência ainda sinto algumas dificuldades devido a minha falta de conhecimento sobre o ramo turístico, mas estou aprendendo mais a cada dia. A minha rotina de trabalho é bem interessante: eu moro na parte asiática de Istambul e trabalho na parte europeia. Eu realmente atravesso o continente para trabalhar. Acordo às 5:40 da manhã, pego o ônibus para a estação do metrô, levando cerca de 15 minutos para chegar lá. O metrô me leva em 35 minutos ao bairro Kadikoy, onde pode-se embarcar nos barcos a motor, ou vapor, que fazem a travessia do Bósforo que divide a cidade em dois continentes. Essa é a hora mais relaxante do trajeto. O caminho é lindo e dura 20 minutos. É quando aproveito o tempo para tomar chá e admirar a paisagem da antiga Constantinopla. Chego do outro lado, pego mais um ônibus e em 20 minutos estou enfim no meu trabalho. Tenho uma hora de almoço. Ao todo eu utilizo oito conduções por dia, entre ônibus, metrô e barco. Para quem estava acostumada no Brasil a ir para o trabalho de moto, chegar em 10 minutos e ter duas horas de almoço em casa, não é fácil.

Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? O meu conselho para quem pensa em trabalhar no exterior é que estude muito a língua do país escolhido. Aqui na Turquia não é muito fácil, pois as opções não são tão diversificadas, e às vezes, é necessário se submeter a salários baixos. Além disso, temos que lidar com problemas de locomoção, conseguir se adaptar à cultura do país e da empresa, além de aprender novas regras. É preciso ter muita determinação e sorte. Não posso dizer que é fácil, mas a experiência que estou tendo está sendo muito válida. Aprender tudo novamente como uma criança, se redescobrir, descobrir cada pedacinho do novo lugar e valorizar cada momento... isso não tem preço!


Foto: Arquivo pessoal

Uma psicóloga na França Natalia Junqueira de Mattos é mineira, de Belo Horizonte, tem 31 anos, e mora na França desde 2010. No Brasil ela era psicóloga, profissão que exerce também no novo país. Além disso, escreve no seu blog Destino Provence, sobre suas aventuras e experiências.


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ós não escolhemos o nosso destino, ele foi determinado em função do trabalho do meu marido, que fazia parte de um programa de expatriação na empresa onde trabalha. A sorte nos trouxe para França.

Para me inscrever no mestrado, precisei primeiro aprender francês durante um ano e atestar o nível de proficiência necessário, certificado pelo Ministério da Educação francês. Depois de obter o diploma, me inscrevi para a seleção no mestrado. No início do processo, fui informada que precisaria validar a graduação para que pudesse exercer minha profissão aqui. A organização do ensino superior na França é diferente do Brasil, e por isso o diploma não é exatamente equivalente e precisa ser validado. Mas não são todas as profissões que necessitam de validação. Apresentei os documentos exigidos a qualquer estrangeiro que queira se inscrever em uma universidade francesa, e ainda passei por um júri composto por um professor de cada departamento do curso de psicologia. Eles me questionaram sobre a minha formação no Brasil e experiência profissional, assim como projetos profissionais futuros. Quando passei pelo júri de validação, me disseram que eu poderia me inscrever no último ano do mestrado, ou seja, cursaria só um ano e em seguida teria meu diploma validado. Optei por começar do primeiro ano por dois motivos: não sabia se um ano só contaria como mestrado no Brasil, além disso, não sentia segurança no domínio do francês para me lançar logo no último ano, tendo que efetuar um longo estágio em uma clínica. Acabei saindo no lucro. No Brasil, me formei no início de 2009 e atuei durante um ano. Por aqui, abri meu consultório em outubro desse ano. A minha rotina de trabalho atualmente consiste em construir rede de relacionamentos e clientela, além de ter paciência para obter pacientes. Também continuo procurando emprego em instituições como hospitais ou associações. Em meu país, trabalhei em áreas diferentes, recursos humanos e psicologia clínica. Aqui na França, na área da saúde, encontrei, infelizmente, mais semelhanças do que diferenças. A verba da saúde é a primeira a ser sacrificada, triste realidade em ambos os países.

Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? No caso da psicologia, que a validação do diploma é necessária, acho importante entrar em contato com os professores da universidade onde pretende estudar, buscar saber quais são suas áreas de interesse em pesquisa e ler muito, mas muito mesmo sobre o assunto, nas revistas científicas. É importante construir uma rede de relacionamentos de trabalho. Isso é uma tarefa de formiguinha, todo dia um pouco, e requer muita paciência. As oportunidades são poucas e construir clientela é difícil tanto no Brasil como no exterior. A experiência anterior conta na hora de procurar estágio, mas uma vez conseguido o diploma, começa-se da estaca zero mesmo. www.destinoprovence.com


De professora a assistente social na Alemanha

Maria de Fatima Alencar Viana era professora de inglês no Brasil. Há nove anos morando no exterior, atua como assistente social de um Conselho de Menores, na Alemanha.

u me mudei para a Alemanha por causa de um relacionamento. Meu ex-namorado era alemão e nos conhecemos no Brasil, onde ele realizava estágio em uma empresa alemã. Com ele mantive um relacionamento de cinco anos à distância. Ao terminar a universidade na Alemanha, ele foi trabalhar no Brasil, onde vivemos mais cinco anos juntos. Depois disso, a empresa onde ele trabalhava o enviou de volta ao seu país natal e eu vim junto. O relacionamento não seguiu, mas eu acabei ficando aqui nas gélidas terras germânicas.

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Ingressar no mercado de trabalho em um país estrangeiro é sempre muito dificil. Se a pessoa não domina o idioma, tornase algo quase impossível. Portanto, o meu primeiro objetivo ao chegar foi aprender o bendito alemão. No início trabalhei como hostess em feiras. O fato de se tratar de um público internacional e de eu falar inglês, português e espanhol fluentemente ajudou bastante. Quando já falava um pouco mais o alemão, entrei em uma empresa de seguros, cuja função era dar assistência aos segurados alemães que encontravam-se hospitalizados no exterior e solicitavam o retorno imediato ao país. Mais uma vez o fato de falar outros idiomas me ajudou muito. Foto: Arquivo pessoal


Mas a verdade é que profissionalmente eu comecei tudo do zero. Fiz uma nova universidade e atuo na área de assistência social há cinco anos. Uma das coisas que me fascina na Alemanha é a relação entre chefes e subordinados no trabalho. Aqui chefe não é um deus, portanto pode receber um não como resposta de um subordinado. Na minha primeira experiência profissional lembro-me que ficava de boca aberta ao ver a reação das funcionárias quando o chefe aparecia com mais trabalho. Elas falavam "im Moment geht nicht " (no momento não tenho tempo). O chefe então dava meia volta sem questionar e retornava mais tarde. Eu trabalhei em outras três empresas, e o relacionamento entre chefes e subordinados não era diferente. A pausa dos funcionários, seja para tomar um café ou para fumar um cigarro, é sagrada. Eu costumo brincar que mesmo se a Chanceler alemã Angela Merkel aparecesse e solicitasse ajuda de algum deles, a resposta seria clara: "depois, agora estou na pausa". No Brasil, ouvi várias vezes pessoas que ocupavam cargos de gerência dizerem que não frequentavam os happy hours para manter distância dos subordinados. Outra diferença notável é que no trabalho não existe a expressão "deixa pra lá ou para amanhã". Tudo é anotado, conversado, planejado e apurado. Eu trabalho diretamente com diversas repartições públicas e seria um sonho se algum dia tivéssemos no Brasil tanta eficiência e respeito ao cidadão como nos orgãos públicos daqui. Só não pode-se confundir cordialidade com simpatia. O funcionário público alemão é tudo menos simpático. Mas de uma coisa você pode ter certeza: o seu problema será solucionado. Uma das primeiras recomendações que faço quando inicio o trabalho com uma família estrangeira é que não adianta omitir fatos ou vir com aquela velha história de que não recebeu o documento ou que não sabia. É só uma questão de tempo e tudo será descoberto. Se a pessoa, por exemplo, recebeu um Euro indevidamente terá que devolvê-lo. Como trabalho diretamente com o tema educação aqui, me choca o pouco contato que os pais que trabalham fora têm com seus filhos no Brasil. Costumo dizer, que nos grandes centros do país, a educação dos filhos está terceirizada. Os pais levam os filhos dormindo para as escolinhas e os trazem para casa também dormindo. Aqui as crianças ficam no máximo até às 17 horas nas escolinhas. Muitos pais podem optar por uma carga horária de trabalho flexível. A maioria das minhas colegas, que são mães, trabalha entre 20 e 30 horas por semana. Outra diferença grande é a forma como as crianças dos dois países lidam com regras. A criança alemã aprende desde pequena que na vida existem direitos e deveres. Ela aprende a desenvolver uma rotina familiar e a reconhecer o seu papel dentro da família.


No meu trabalho, eu encontro muita dificuldade ao tentar implementar essa estrutura em uma família latino-americana. As mães latinas geralmente associam a educação mais regrada à falta de amor e de carinho. Escuto com frequência que uma sociedade cheia de regras robotiza as pessoas. Deve ser por isso que os alemães são mais formais e menos espontâneos, mas a ausência de regras gera, na maioria das vezes, desrespeito ao próximo, mesmo na vida familiar. Se eu não cumpro com os meus deveres, alguém vai ter que fazer por mim e esse alguém será geralmente a pessoa mais sobrecarregada da família: a mãe. Como a desigualdade social no Brasil é muito grande, o contato entre a camada social mais baixa e a mais alta existe praticamente só em forma de prestação de serviços da classe inferior à classe superior. Aqui um motorista de ônibus pode encontrar, por acaso, o seu médico jantando no mesmo restaurante ou de férias na Grécia ou na Espanha. Os filhos desse mesmo motorista frequentam muito provavelmente a mesma escola que os filhos de um diretor de empresa, já que aqui escolas particulares praticamente não existem. Eu trabalho para o conselho de menores e há duas maneiras de chegarmos até as famílias. A mais simples delas é quando as famílias estão sobrecarregadas com questões ligadas à educação dos filhos e solicitam ajuda. A outra possibilidade é através das escolas, creches, pediatras ou denúncias. Geralmente trata-se de suspeitas de que a situação familiar não esta bem estruturada e que crianças ou adolescentes estão sendo negligênciados. O meu papel é, acima de qualquer coisa, garantir o bem estar das crianças e adolescentes. Se for comprovado que eles estão sofrendo abusos ou não estão recebendo os devidos cuidados, eles são retirados imediatamente das famílias. Se a situação não for grave, trabalha-se juntamente com os pais para que seja reestabelecida a harmonia familiar. Que conselho você daria para quem está se mudando para o exterior? A primeira coisa a ser feita é verificar se os diplomas são reconhecidos no país onde você quer morar. Outra coisa muito importante é falar o idioma local. Queridos brasileiros mundo afora: será muito, mas muito mais dificil aprender uma língua estrangeira e se integrar na sociedade, se a preocupação maior for assistir às novelas brasileiras. Conheço casos de mulheres, cujos maridos alemães aprenderam português sem nunca terem morado no Brasil e elas não aprenderam o alemão vivendo aqui. Aprender um idoma exije disciplina e dedicação. Não basta apenas frenquentar a escola de idiomas. Acredito que esse é um ponto fundamental para se conseguir um emprego no exterior. Uma outra recomendação para mulheres que, assim como eu, mudaram de país por um relacionamento amoroso: Tentem construir algo para si, pois em um eventual término, vocês não terão como única escolha a passagem de volta ao Brasil.


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Reconhecimento de diplomas brasileiros na Alemanha Texto: Laís Brandão Machado | Foto: Claudia Bömmels


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O Direito de Ensino ou Educação e o Direito Universitário na Alemanha não são conjuntos de regras federais, mas sim estaduais. Cada Estado-membro alemão faz suas regras sobre os assuntos relativos a escolas, universidades, profissões e outros temas relacionados, que são, naturalmente, bem parecidas umas com as outras, mas não idênticas. Por este motivo, não é possível dizer para um brasileiro procurar o Ministério da Educação e Ciência (MEC, órgão federal) alemão, por exemplo, no Estado-membro onde reside ou residirá, como o mesmo faria no Brasil.

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Na Alemanha, o interessado deve procurar em cada Estado-membro alemão o Ministério da Educação estadual. Dependendo se o estudo ou a formação profissional a ser reconhecido(a) for de uma profissão regulamentada por lei ou não, deve-se procurar o órgão regulador desta profissão e não o Ministério da Educação estadual. É o caso, por exemplo, das profissões liberais como a de advogado, médico, dentista ou farmacêutico. O advogado deve se informar na Ordem dos Advogados (Rechtsanwaltskammer), mas também no Ministério da Justiça, o médico deverá se informar no Conselho Regional de Medicina (Ärztekammer), o dentista no Conselho de Odontologia (Zahnärztekammer) e o farmacêutico no Conselho de Farmácia (Apothekenkammer) do Estado onde vive ou pretende receber o reconhecimento. Para profissões não-regulamentadas não há um órgão específico para o reconhecimento. Com relação a profissões não-regulamentadas por lei como, por exemplo, a de pedreiro, eletricista, pintor, maquiador de artistas, corretor de imóveis, torneiro-mecânico e muitas outras, pode se dizer que estas podem ser exercidas sem qualquer reconhecimento. Existe a possibilidade de pedir um teste de equivalência, mas não é obrigatório para muitas profissões. Para outras, como é o caso de técnico em enfermagem, por exemplo, somente pode-se exercer a profissão na Alemanha após o exame de equivalência. Os brasileiros devem se informar nas câmaras de comércio e também nas secretarias de trabalho da cidade onde residem. Há uma homepage, criada pelo Ministério de Educação e Pesquisa, que fornece muitas informações a respeito: www.anerkennung-in-deutschland.de Em qualquer caso, deve-se sempre recorrer por escrito, já com cópia simples dos documentos que comprovam o estudo realizado ou a profissão adquirida, em algum Ministério Estadual, por exemplo, nos Ministérios da Justiça, da Educação, até o da Ciência e Tecnologia (para Administração) e outros Ministérios, conforme o ramo, mesmo que você vá procurar ao mesmo tempo o reconhecimento em outro órgão ou universidade. É até possível que um brasileiro não receba o reconhecimento em um Estado-membro alemão, mas sim em outro. O órgão do Estado onde se está registrado como residente é o órgão competente, mas, se o pedido de reconhecimento for negado, aconselha-se a mudança de endereço para fazer nova solicitação de reconhecimento em outro Estado-membro. Até universidades diferem umas das outras em suas exigências e reconhecimentos. Existem vários casos de não-reconhecimento de um curso de mestrado em uma universidade, mas de reconhecimento em outra, por exemplo. É possível também que uma universidade não aceite um curso superior brasileiro e outra o aceite.


Por isso, deve-se sempre fazer o pedido de reconhecimento ou se inscrever em duas ou três universidades diferentes ao mesmo tempo. Daí o candidato perceberá as diferentes respostas e poderá decidir o que fazer e por qual universidade optar. No Brasil o ensino fundamental passou de oito para nove anos. Em seguida estuda-se geralmente mais três anos de ensino médio, perfazendo o total de 12 anos escolares. Paralelamente os estados alemães diminuíram um ano do ensino escolar completo (de 13 para 12 anos) que permite a continuidade do estudo em nível superior. Mesmo assim, ainda hoje é exigido dos brasileiros que queiram se inscrever em uma universidade na Alemanha um curso preparatório de um ou dois anos, com matérias escolares para depois poderem estudar o curso superior desejado. Este curso preparatório se faz também na mesma universidade. O brasileiro que já tenha concluído no Brasil um curso superior não necessita fazer este curso, mesmo que pretenda estudar em outra área, que não aquela já concluída no Brasil.

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Todas as universidades alemãs têm uma secretaria de estrangeiros que faz a análise dos documentos do candidato estrangeiro, quando este se inscreve para determinado curso universitário. Tem-se que conhecer bem a língua alemã, que será examinada através de prova de alemão de admissão em universidades para estrangeiros. Também existe a prova de determinação, através da qual é verificada se o candidato precisa ou não fazer o curso pré-universitário por insuficiência de ensino escolar. Através da homepage do DAAD sobre estudar na Alemanha chega-se a muitas informações a este respeito: www.study-in.de/de/studium/voraussetzungen-fuer-ein-studium/

o r c i e l e i s a h r b n s a a h o m n a o c l ip Alem e d R de na

Existe na Alemanha ainda o Zentralstelle für ausländisches Bildungswesen (ZAB) que é o órgão central de educação que examina qualificações estrangeiras na Alemanha. Este órgão está ligado à Secretaria da Conferência/Reunião Permanente dos Ministérios da Educação, dos Estados-membros alemães. No site da Conferência dos Ministérios www.kmk.org/zab/unsere-aufgaben.html

pode-se

obter

mais

informações:

Além disso, ela mantém um banco de dados em outro site com outras informações sobre o reconhecimento de profissões, de formação, de estudos e temas relacionados: anabin.kmk.org/ Por fim pode-se dizer que, para se fazer o reconhecimento de diplomas estrangeiros na Alemanha, o candidato terá que percorrer alguns órgãos até saber exatamente se fez o pedido no órgão certo.

Laís Brandão Machado é advogada brasileira e alemã, com escritórios em Darmstadt, na Alemanha, e em São Paulo, capital. Para saber mais sobre a atuação de Laís na Alemanha e no Brasil acesse: www.rechtsanwaeltin-lais.de


De moto

pela América do Sul Texto: Vanessa Bueno | Fotos: Genésio Filho

Inspirado pelo filme Diários de Motocicleta, do diretor Walter Salles, o fotógrafo profissional, Genésio Filho, rodou com sua moto, sozinho e sem roteiro definido, pela América do Sul. A foto mostra uma travessia da Rota 40, estrada que sai de Alumine, na Argentina, e atravessa a Cordilheira dos Andes até a cidade de Temuco, no Chile.



Genésio ficou na estrada durante cinco meses, entre dezembro de 2007 e maio de 2008, passando por países como Uruguai, Argentina, Chile, Peru e Bolívia. Percorreu 12 mil quilômetros em uma moto de 250 cilindradas. A foto foi feita durante a travessia do deserto de Atacama.



Na estrada: Cruzando o Atacama, no Chile.

Para relembrar: Diários de Motocicleta, lançado em 2004, é um filme baseado em uma história verídica. Che Guevara, que no início dos anos 50 era estudante de medicina, decide sair em viagem de moto pela América do Sul, acompanhado de um amigo. Após oito meses na estrada, porém, a moto quebra e os dois seguem viagem pegando caronas. Juntos, os amigos percorreram 12.425 km, passando por 15 pontos diferentes da América do Sul, entre eles o deserto do Atacama, no Chile.

Você também fez uma viagem ou mudou de país inspirado em algum filme, novela ou seriado? Compartilhe conosco! brasilierosmundoafora@gmx.net


Cotidiano: Moradora da ilha de Amantani (foto ao lado), no lado peruano do Lago Titicaca, a 4100 metros acima do nível do mar. Infraestrutura: Isla flotante de uros, no Peru (foto abaixo). Moradores utilizam a matéria-prima tora tora como base para a ilha, casas, barcos e também para a alimentação.

Genésio Filho é paulistano e fotógrafo profissional. Tendo o fotojornalismo como sua principal atividade, publica regularmente em importantes veículos de comunicação do Brasil, como a Editora Abril, Editora Globo, Folha de São Paulo e Portal Terra. Mais sobre seu trabalho aqui: www.genesiofotografia.com


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Foto: Claudia Bömmels

com a psicóloga Lila Rosana

O amor é uma linguagem universal, que ultrapassa todas as barreiras, inclusive as multiculturais. Junto com essa linguagem vem outra, a do sexo. Para essa última existem alguns ajustes que precisam ser feitos de acordo com os valores e culturas de cada casal. Já escutei casais de diferentes nacionalidades falarem da necessidade de ajuste ao ritmo do outro e ao modo de ver o sexo na relação. Em algumas culturas o sexo entre os casais é objeto único de procriação; sendo que em outras é a matéria prima para uma relação duradoura a dois. Já testemunhei muitos casais brasileiros se separando por causa da ausência de sintonia no sexo; assim como já escutei casais de diferentes nacionalidades falarem que o sexo não era bom entre eles, mas isso não era a coisa mais importante e sim a manutenção da família e do lar. Uma primeira coisa que é dada como certa: o sexo é encarado de maneiras diferentes em diferentes culturas. A segunda é que o sexo entre os casais diminui com o passar dos anos. Mas por quê?


O que acontece é que com o passar dos anos a sedução entre os parceiros diminui. Os casais relaxam e começam a viver uma rotina onde o sexo passa a não estar entre as prioridades. O parceiro está tão disponível e acessível que deixa de ser objeto de desejo. O dia a dia consome o romance. Além disso, a rotina diária, cheia de responsabilidades, torna-se um dos vilões que diminuem o desejo entre os casais que moram embaixo do mesmo teto. Seduzir leva tempo e exige que tenha a necessidade de conquista. Se o parceiro(a) está ali disponível, esse esforço seria em vão, no entanto, torna-se inexistente até por uma questão de economia de energia por parte dos dois. Se um quer transar e o outro não, a relação pode ser deixada para o dia seguinte ou para a próxima semana. Essa acomodação e facilidade de "reagendar o sexo" acomoda as pessoas. Com o tempo o casamento cria outras prioridades e o sexo perde espaço no meio de tantas atribulações e tarefas a cumprir. A verdade é que ninguém casa para ser infeliz e ninguém deseja perder o desejo pelo parceiro(a). Depois de anos de convivência, porém, se algo não for feito para reanimar a vida sexual de um casal que convive há anos, a rotina e falta de desejo é uma tendência quase inevitável. Por isso, é importante entender que isso pode acontecer até com os casais mais apaixonados do planeta.

E o casamento entre brasileiras e estrangeiros como funciona? Muitos casais multiculturais reclamam que o sexo com um parceiro de outra cultura é diferente. Conversando com brasileiras que moram no Canadá e que casaram com estrangeiros, ouvi os seguintes depoimentos: "Sinto falta do jeito brasileiro na hora do sexo. Com meu marido eu tenho dia e hora para fazer sexo. É quase um agendamento de negócios." – Ana* "Fazemos sexo todas as sextas-feiras. Isso é certo. Outro dia? Sem chances. Não existe aquele abraço que começa na cozinha e termina na cama." – Joana* "Meu marido no começo era bem fraquinho em relação ao sexo. Fui ensinando para ele o jeito brasileiro de ser e hoje em dia ele está bem diferente; até me dá palmadinha no bumbum." – Vitoria* "Não tem jeito, os homens latinos são definitivamente melhores em relação ao sexo. Mas os estrangeiros são mais fiéis e companheiros. Bem, não dá para ter o melhor dos dois mundos. Eu optei pela segunda qualidade citada." – Roberta* "Meu namorado estrangeiro me perguntou como eram os homens brasileiros; decidi não contar tantos detalhes para não ofendê-lo (risos)." – Cláudia*


Em uma relação a dois duradoura, precisa-se constantemente renovar a energia sexual do casal. Como podemos fazer isso?

Algumas dicas: 1. Preservar os momentos a dois: Ter momentos a sós lhe trará um pouco da energia do começo da relação, pois é importante ter um momento para se produzir, se preparar para um encontro, seja esse uma ida ao cinema ou a um restaurante. 2. Ter Fantasias: Permita-se fantasiar na relação a dois. Sejam essas fantasias reais ou apenas imaginárias. Não permita que a culpa acorrente você. Fantasiar não é traição e sim uma maneira de transformar rotinas. 3. Valorize a sua individualidade: Ser um casal não anula o fato de você ter uma vida pessoal e individual. Muitos casais, antes do casamento, tinham amigos e rotinas que independiam do parceiro para estar acontecendo. Esses mesmos casais tendem a mudar completamente após o casamento. Isolam-se numa vida a dois, sentindo-se com o tempo sufocados e sufocando o outro. 4. Fale sobre suas vontades: Cada parceiro deve conversar sobre o que dá ou não prazer e o sobre as experiências que gostaria de ter. 5. Cuide da aparência: Homens e mulheres tendem a descuidar de si mesmos após o casamento. Isso desestimula o casal, afinal mudar com o passar dos anos faz parte, mas tornar-se totalmente diferente do que você era é desestimulante. *Nomes fictícios para preservar a identidade das entrevistadas

Lila Rosana nasceu em Belém do Pará, onde formou-se em psicologia clínica e organizacional. Morou por 11 anos em Fortaleza, no Ceará. Tem especializações em educação infantil, ludoterapia e estresse pós-traumático. Atualmente vive em Vancouver, no Canadá. Ela escreve no blog pessoal Conversando com os pais ,que surgiu do trabalho de orientação de pais que fazia no Brasil, e para o jornal online Tribuna do Ceará. lila-conversandocomospais.blogspot.com | www.tribunadoceara.com.br/blogs/lila-rosana


Publieditorial

Histórias e opiniões de mães contemporâneas

tudosobreminhamae.com

não é um blog típico de mães. Ele não tem a pretensão de oferecer receitas definitivas para nada - nem dicas de como alimentar os filhos de maneira saudável, nem como detonar na carreira, ao mesmo tempo em que se amamenta os bebês. O blog quer apenas incentivar um debate honesto, autêntico e bem-humorado sobre tudo o que envolve a vida com crianças. Os artigos abordam variados temas, desde gravidez e as dificuldades de adaptação à escola, até as diferenças entre se criar um filho no Brasil e em outros países, como os Estados Unidos ou a Alemanha. Na seção Mães Anônimas, as leitoras podem escrever sobre qualquer assunto, até os mais delicados – como crises conjugais ou abortos espontâneos -, sabendo que seu anonimato estará inteiramente garantido. É um espaço para o desabafo. O blog conta com três colaboradoras regulares – e – e outras não tão regulares, mas igualmente inspiradoras, como Tânia Menai e Isabel Meireles… Mães como você, que estão buscando com o método “tentativa e erro”, mas também com muitos acertos, os melhores caminhos para seus filhos.


BLOGUEIRA BLOG

HISTÓRIA RESGATADORA DE FAMÍLIA DE MEMÓRIAS

MUSCULAÇÃO ESPORTISTA VIAGENS VIAJANTE E MUITO MAIS…

VOVÓ NEUZA vovoneuza.blogspot.de


Muito além de uma blogueira Vovó Neuza, aos 83 anos, impressiona por sua destreza no mundo virtual, mas o blog é apenas uma de suas inúmeras atividades.

Texto: Vanessa Bueno | Fotos: Arquivo pessoal

or mais que o mundo tenha mudado e todos os conceitos estejam reinventando-se, sempre que se pensa em uma avó a imagem que vem à cabeça está longe de ser uma senhora blogueira, participante ativa das redes sociais e totalmente familiarizada com o mundo digital, não é mesmo? Pois essa imagem é real e tem nome e sobrenome. Neuza Guerreiro de Carvalho, ou simplesmente vovó Neuza, como é conhecida virtualmente, tem 83 anos e soma mais de mil seguidores em seu blog.

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O fato já lhe rendeu inúmeras entrevistas em veículos como TV Globo e Bandeirantes. Mas olha, ela faz questão de deixar claro que não gosta de ser citada apenas como blogueira. "Eu faço muito mais coisas além de escrever para o blog." E faz mesmo. Em conversa, via Skype, vovó Neusa contou com entusiasmo suas inúmeras atividades e desabafou: "Queria encontrar tempo para sair de férias com meus netos, mas não consigo parar." Bióloga aposentada, ela se dedica a projetos de resgate de memória e profere palestras aqui e ali sobre São Paulo, cidade onde nasceu, mora até hoje e ama.

Resgate de memória Seu contato com o mundo digital teve início em 1994, quando o filho a sugeriu que passasse seus textos, que ela escrevia em cadernos, para o computador. vovó Neuza tratou de aprender e, desde 2008, mantém o Blog da vovó Neuza . Ela escreve sobre a história de sua família com todos os ascendentes e descendentes, material que hoje já soma cerca de 40 pastas e foi publicado, em partes, no Museu da Pessoa, em São Paulo. A partir daí, elaborou um projeto de resgate de memória tanto para pessoas físicas, como para empresas e instituições, e já desenvolveu a proposta para a Prefeitura de São Paulo. Apaixonada pelo assunto, criou, há alguns anos, em parceira com sua filha, o Baú da Memória. No local, guarda objetos de valor emocional para ela e sua família. De tempos em tempos esses objetos rendem pequenas crônicas, publicadas em seu blog. Na página virtual ela também conta sobre suas inúmeras atividades, como a participação no concurso cultural Talentos da Maturidade, do Banco Santander, e a homenagem que ajudou a organizar para a professora Ecléa Bosi, idealizadora da Universidade Aberta à Terceira Idade, pelos 20 anos do projeto. Claro que vovó Neuza já estudou por lá. E mais, ela já foi garota propaganda da Instituição, fato que narra com orgulho e graça.


Estudante compulsiva Os cursos ocupam grande parte do tempo de vovó Neuza, atualmente ela estuda História da Arte, no Museu de Artes de São Paulo. "Sempre fui uma estudante compulsiva desde criança, gosto de inventar moda", brinca. Ela também acompanha as apresentações do Quarteto de Cordas da cidade de São Paulo e se encarrega de divulgá-las em sua rede virtual. Esse networking digital já lhe rendeu boas amizades. vovó Neuza encontra-se frequentemente com um grupo de amigas, as semi-novas, como se autodenominam, e a regra do grupo, instituída por ela, é não falar em doença e remédio. Aliás, quando o assunto é saúde, a de vovó Neuza vai muito bem, obrigada. Ela pratica musculação há 13 anos e quando falta "bate um sentimento de culpa." Além disso, não toma nenhum remédio e tem a memória afiada. "Eu me lembro de praticamente tudo. Estou sempre muito ligada", diz. As lembranças são tantas e tão vivas, que ela decidiu escrever. Os textos vão para o bauzinho da memória, fichário que já acumula cerca de 300 fichas, cada uma correspondente a um flash de memória, segundo ela. Ela explica ainda que atualmente está empenhada em agilizar os trâmites para doar seu corpo, quando morrer, para a área de pesquisa da Universidade de São Paulo. "Como bióloga sei da importância desse gesto para os estudos e pesquisas universitárias. Também já doei o cérebro de minha mãe, que morreu lúcida aos 97 anos", explica. Os filhos apoiam a decisão.

Projeto de vida vovó Neuza nunca teve receio de não ter o que fazer quando se aposentasse. No começo cuidou dos pais e dos sogros. Também tomou conta do marido, quando o mesmo estava doente, até o seu falecimento. Ela foi casada durante 46 anos com Ayrton, seu primeiro namorado. O casal teve dois filhos, que lhe deram quatro netos. Sobre o marido ela fala com ternura e diz que foi uma união muito feliz. "Costumávamos ir a concertos de música juntos, tínhamos os mesmos gostos." Depois de se recuperar da perda, ela encheu sua vida de afazeres. Em 2012, realizou uma viagem internacional com três objetivos: Encontrar um casal de amigos espanhóis, que conheceu via internet, reencontrar um ex-aluno, depois de 37 anos, com quem retomou o contato graças às redes sociais, e visitar a filha que, na época, morava na Itália. A viagem, claro, foi registrada em seu blog. Seus textos, ricos em detalhes, demonstram a emoção de cada momento vivido. Perguntada se pretende publicar um livro, ela acaba confessando que começou a escrever uma obra, que tem o nome provisório de Seis Gerações à Procura de uma História, sobre sua família. Quem sabe logo logo esteja nas livrarias, não é? Com tanta vitalidade, o recado que deixa para a turma da terceira idade não poderia ser outro:

"Tenha sempre um projeto de vida. A minha está cheia deles."


Especial Dezembro Mundo Afora

As festas de final de ano são comemoradas das mais variadas formas mundo afora e cada país tem suas peculiaridades. Muitos brasileiros mesclam o melhor dos costumes da nova pátria com a cultura brasileira. Seis famílias mundo afora compartilharam conosco como é o dezembro em Israel, Finlândia, Eslovênia, Estados Unidos, Cingapura, Alemanha e Holanda. Além disso, Erica Palmeira e Gê Eggmann nos deram dicas práticas e deliciosas de como tornar o seu Natal ainda mais lindo e gostoso!


Se a criançada toda aqui na Alemanha limpa as botas para receber os chocolates de São Nicolau não somos nós que vamos fazer diferente!


Texto: Karen Hägele | Fotos: Arquivo pessoal

Se tem uma coisa que eu adoro é o Natal. A lista do que eu gosto de fazer nessa época do ano é longa e nela há uma mistura de tradições e culturas sem fim. Enfeito o meu pinheiro natural (comum aqui na Alemanha), no início de dezembro, época que iniciamos os preparativos natalinos no Brasil. Penduro meu calendário de Advento, tradição na Europa toda. Os presentes incluem ítens que vou comprando mundo afora durante o ano. As minhas estrelas e luminárias foram compradas na Suécia e não raro a trilha sonora do Natal aqui em casa inclui desde Jingle Bells até Rudolph, The Red-Nosed Reindeer. O fato de nós comemorarmos o dia de São Nicolau aqui em casa mostra bem como uma mamãe internacional aproveita o que há de melhor nos dois mundos: o do seu país de origem e de onde vive.

E como as crianças participam? O dia de São Nicolau é basicamente um dia para as crianças, quando elas costumam fazer atividades diferentes nas escolas. Em casa, os preparativos para este dia já começam no dia 5 de dezembro que é o dia das crianças limparem as botas, que serão colocadas no parapeito da janela ou na porta de casa. Se as crianças se comportarem bem, o Nicolau enche os sapatinhos com doces e com presentes. Se não…

Karen Hägele é paranaense, de Maringá, e mora com a família há mais de 14 anos na Alemanha. No Brasil ela era professora, na Alemanha ela trabalha como country manager na firma MyHeritage. Ela também escreve sobre suas experiências na Alemanha no blog: multiplicado-por-dois.blogspot.com


Fim de ano em Cingapura Texto: Silvana Hleap | Fotos: Arquivo pessoal


omo tudo o mais em Cingapura, as festas de fim de ano são um artigo importado. A população local, composta em sua maioria de etnias chinesas, malaias e indus, segue costumes e tradições natalinas que aprenderam através da televisão, cinema ou nos anos em que moraram no ocidente.

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O clima de Natal aqui se faz presente principalmente no comércio. Na Orchard Road, uma das principais ruas para se fazer compras em Cingapura, temos um shopping ao lado de outro e cada um briga pela melhor decoração. É muita ostentação! Um deles simula diariamente uma tempestade de neve artificial à noite. As crianças adoram. Como acontece nos países de maioria católica, aqui em Cingapura as músicas natalinas tocam nas rádios e lugares públicos. Os restaurantes servem pratos natalinos e os supermercados se estocam com comidas típicas de todas as tradições. O interessante é que estando a 137 quilometros da linha do Equador, Cingapura é tão quente em dezembro quanto em julho. Mas as roupas nas vitrines são de inverno, as decorações fazem referência ao frio e as comidas são um tanto quanto pesadas. O Natal e Ano-Novo ficam espremidos entre a festa Indu das luzes Deepavali, no começo de novembro, e o Ano-Novo chinês, em fevereiro. Ficamos então praticamente quatro meses em festa ou em preparação para a próxima festa. A população cingaporeana se envolve e participa de tudo.

E como as crianças participam? Para as crianças não é diferente, as escolas, que se orgulham de sua diversidade cultural, comemoram todas as festas. As crianças se vestem tipicamente, participam de danças folclóricas, fazem arte e pinturas típicas e ainda provam as comidas. Na minha casa ainda tem uma quarta comemoração do calendário judáico, a Hanuká. Essa festa acontece em dezembro e dura oito dias, com muitas tradições que envolvem as crianças. Mas o melhor de tudo, na minha opinião, é expor as crianças durante todo esse tempo ao clima de benevolência, de amizade e de alegria que caracteriza todas as grandes festas religiosas. Cingapura é um lugar perfeito para isso. Silvana Hleap mora com a família em Cingapura há três anos. Ela e o marido sempre trabalharam no mercado financeiro, o que os fez mudar de país em país. Antes de migrarem para o país asiático, por exemplo, eles viveram em Nova Iorque. A experiência, conta Silvana, enriquece sua pequena família com a bagagem cultural dos lugares por onde passam.


Luciana Almeida Tub, nascida em São Paulo, vive há sete anos em Israel. No Brasil ela era professora de inglês, em Israel ela é especialista em sistemas clínicos. Casada com o uruguaio Ariel e mãe de Uri, espera seu segundo filho. No blog Mãe em Israel, escreve sobre a vida de uma mãe em Israel. maeemisrael.blogspot.co.il


Hanuká - A festa das luzes em Israel Texto: Luciana Almeida Tub | Fotos: Arquivo pessoal

Uma das minhas festas judáicas favoritas é a de Hanuká – Festival das Luzes – que acontece no mês judáico de Kislev, entre o final de novembro e dezembro. O Festival das Luzes chama-se em hebraico Hag Urim. Uri é o nome do meu filho, que significa minha luz, iluminado, brilhante. Então adotamos Hanuká como o feriado dele e queremos sempre comemorá-lo com muita alegria. Durante as oito noites do feriado acendemos a Hanukiá, um candelabro especial, onde coloca-se nove velas. Começamos com uma vela central, o shamash e vamos acrescentando uma vela a cada noite.

E como as crianças participam? Quando acendemos as velas, fazemos suas bênçãos e cantamos canções típicas de Hanuká. Elas são passadas de geração a geração, aprendidas nas creches e escolas e cantadas com muito entusiasmo pelos pequenos. Essa é uma festa também dedicada a eles, que cantam, comem doces (muitos) e recebem presentes. Durante pelo menos três semanas a creche do meu filho tem como programa explicar o feriado. Faz parte da tradição também brincar com o sevivon, uma espécie de pião. Eles decoram a creche com sevivonim coloridos e produzem a sua própria Hanukiá, que levam para casa com muito orgulho e fazem questão de acender as velas junto à família.


Fotos Sinterklaas: Wikipedia


Texto: Ana Paula Risson | Fotos: Arquivo pessoal

Ele é velhinho, barbudo, usa roupa vermelha e adora distribuir presentes para as crianças. Esse bom homem chama-se Sinterklaas - São Nicolau - e não é o Papai Noel, pois usa um chapéu de bispo, tem uma bengala dourada e entrega os presentes a cavalo. Em 5 de dezembro, comemora-se o dia dele aqui na Holanda. Sinterklaas é uma tradição holandesa e uma daquelas que, a princípio, não fazia muito sentido para mim. Mas isso foi antes dos meus filhos nascerem, porque, se você tem filhos entre dois e sete anos, não há dia mais importante do que esse. Acho que só o aniversário ganha do bom velhinho. São Nicolau é padroeiro de Amsterdam e diz a lenda que ele vem da Turquia (ano 343 a.C.), era bispo e muito amável com os pequenos. Todos os anos, ele vem visitar as crianças holandesas, só que, ao invés de trenó, ele vem de barco a vapor. Ele mora na Espanha (onde é quentinho!) e normalmente chega no país na metade de novembro. A Holanda o recebe em festa, literalmente. Com ele vem o seu ajudante, Zwarte Piet, afinal precisa de reforço para entregar todos os presentes a tempo! Mas só criança boazinha ganha presente. Dizem que quem se comporta mal é levado para a Espanha no saco do Zwarte Piet.

E como as crianças participam? As crianças esperam ansiosamente pela sua chegada, fazem desenhos, escrevem cartas, decoram a casa e se fantasiam como o Zwarte Piet. Muitas delas colocam seus sapatinhos na chaminé, lareira ou porta de casa, para receberem um presentinho. Eles deixam também uma cenoura dentro do sapato para o Amerigo, cavalo do Sinterklaas. No pakjesavond, noite dos presentes, as famílias comemoram não só com presentes, mas também com brincadeiras como amigo secreto, surpresas e poemas. Aqui em casa não fazemos diferente!

Ana Paula Risson é uma jornalista paulistana que há 10 anos apaixonou-se por um holandês e pela Holanda. Ela mora com a família em Amsterdam, onde trabalha na área de marketing em um banco holandês. Também escreve sobre a vida holandesa no seu blog De Unha feita em Amsterdam. www.deunhafeita.blogspot.com


Miklavž, Dedek Mraz ou Papai Noel? Na Eslovênia, você pode escolher! Texto: Paloma Varón | Fotos: Arquivo pessoal

As comemorações no mês de dezembro na Eslovênia têm suas especificidades. Veja bem, além dos tradicionais Miklavž e o Dedek Mraz, existe também o Papai Noel, como o que conhecemos no Brasil.

Miklavž é um velhinho com barba branca, que se veste como um papa, com um chapéu pontudo, e traz presentes para as crianças, no dia 6 de dezembro. Elas escrevem uma cartinha para ele e deixam uma meia na varanda, chaminé ou janela da casa. Geralmente ele traz frutas e doces. Todo dia 5 de dezembro, há uma procissão com o santo "em pessoa" no Centro de Ljubljana, capital da Eslovênia. Ele vai passando e entregando doces para as crianças.

Ilustrações: Wikipedia

Dedek Mraz - Vovô Frio, em tradução literal, é o mais popular do Natal esloveno. Ele vem no dia 31 de dezembro e se veste de branco trazendo presentes, geralmente brinquedos, para as crianças no Ano-Novo. Dedek Mraz é o mais esperado pelas crianças! Uma amiga me contou que na empresa onde o marido trabalha, os funcionários recebem um adicional no salário de dezembro para comprarem o presente de Dedek Mraz para seus filhos.

O Papai Noel, que aqui chama-se božiček, é uma reedição do Miklavž e é quem presenteia as crianças no dia 24 de dezembro. Nesse dia as famílias católicas comemoram o nascimento de Cristo com uma missa à meianoite no centro da cidade.


E como as crianças participam? As crianças comem, durante toda a semana de Miklavž, um pão tradicional em forma de diabo. E recebem biscoitos em forma de Miklavž e/ou do diabo, dependendo do comportamento. Os diabos participam da procissão de Miklavž e são assustadores. Carregam correntes para nelas prenderem as crianças peraltas e arrastam estas correntes pelas ruas, fazendo um barulho de filme de terror. Bicho papão e homem do saco são fichinha perto desses aqui! Eu também achei bem interessante os biscoitos que têm duas faces: de um lado o bem, representado pelo Miklavž, e do outro, o mal, representado pelo diabo. Afinal cada um de nós traz em si o bem e o mal, o bom e o mau comportamento. Minhas filhas ficaram realmente impressionadas e assustadas com os desenhos do diabo pegando as criancinhas com correntes.

O melhor de ser expatriada é poder aprender e comemorar novas tradições, incorporar outros hábitos, e ainda manter os meus.

Paloma Varón é jornalista e nasceu em Salvador na Bahia. Em 2012 mudou-se com família para Ljubljana, capital da Eslovênia, onde cursa um mestrado em Ciências Políticas.



Natal na Finlândia Papai Noel existe e é meu vizinho! Cresci ouvindo que o Papai Noel mora no Polo Norte. Há seis anos, quando vim morar na Finlândia, descobri que ele praticamente é meu vizinho! O Joulupukki, Papai Noel em finlandês, mora com sua esposa e as suas renas em Korvatunturi na Lapônia, no norte da Finlândia. A vantagem de ter o Papai Noel como vizinho é poder receber a visita dele na véspera da noite de Natal. Ao contrário de nós brasileiros, que acreditamos que o Papai Noel só chega quando todos estão dormindo, aqui ver o Papai Noel é requisito obrigatório para um Natal típico e feliz. E como as crianças participam? Neste dia os pais preparam biscoitos de Natal e a ceia juntamente com as crianças. Quando tudo está pronto é o momento da sauna em família. Isso mesmo! Porque celebração especial sem sauna não é celebração. A ceia natalina é servida por volta das 18 horas e logo em seguida todos sentam-se na sala, próximos à árvore de Natal e o grande momento chega: o Papai Noel visita a casa para trazer os presentes. É um momento lindo e verdadeiro! Muitas crianças percebem que é o pai, o tio, o primo ou o avô que está vestindo a roupa do Papai Noel, mas nem por isso este momento perde a magia. Elas sabem que o verdadeiro Papai Noel, que está lá na Lapônia, pediu uma ajudinha ao papai da família para conseguir entregar todos os presentes.

Sandra Kautto nasceu em Manaus e era psicóloga no Brasil. Morando na Finlândia, entre idas e vindas há três anos, ela atualmente trabalha como cuidadora de criança em uma creche pública. Enquanto isso, aguarda o processo de validação do seu diploma. Ela escreve no seu blog Made in Brazil sobre a vida de expatriada. sandrakautto.blogspot.de


O Natal nos Estados Unidos Texto: Lívia Lima | Fotos: Arquivo pessoal

Principal berço da sociedade de consumo, os Estados Unidos (EUA) valorizam o Natal da maneira mais ampla possível. Curiosamente, não trata-se do feriado mais marcante para os americanos, que dão mais importância para o Thanksgiving, Dia da Ação de Graças. Na terceira quinta-feira de novembro, costuma-se reunir as famílias em torno de um ritual de agradecimento, sem vocação religiosa. Apesar disso, o país conta com um conjunto de tradições natalinas interessantes que marcam a época de maneira única e intensa. O Natal por aqui começa por volta de setembro, quando já é muito comum encontrar nas lojas de departamento os enfeites e produtos típicos.


A passagem definitiva ocorre justamente após o Thanksgiving, quando as famílias reúnem-se para organizar a casa. Essa etapa é considerada muito importante, pois é quando a magia do Natal renasce a cada ano para as crianças.

E como as crianças participam? Elas ajudam os pais a enfeitarem a árvore, normalmente comprada em fazendas de pinheiros naturais dias antes. Além disso, ajudam a cozinhar os gingerbread cookies, biscoitos doces à base de massa de gengibre, igualmente usados para enfeitar a árvore. Geralmente é nessa ocasião em que os pequenos penduram suas meias, os stockings, na lareira. Normalmente as meias são preenchidas com balas, chocolates e pequenos materiais de papelaria. Também começam a fazer o Calendário do Advento, que inaugura a contagem regressiva para o dia 25. Como parte dos preparativos, as crianças ajudam a montar e decorar a gingerbread house, um kit que incluiu uma casa à base desses biscoitos, ornamentada com balas, jujubas e glacê. Nos EUA, há crianças de 10 anos que ainda acreditam, de fato, na existência do bom velhinho. Na madrugada do dia 24 para o dia 25 de dezembro, o Santa Claus sobe no telhado, desce pelas lareiras das casas e coloca os presentes ao pé da árvore. Tanto que, no dia 24, os pequenos costumam deixar um copo de leite e um pratinho de biscoitos em cima da lareira como gesto de gratidão ao glutão de roupa vermelha. No dia 25, pela manhã, as crianças, ainda de pijama, se dirigem a árvore. Os presentes estão lá, o copo de leite vazio e no pratinho de biscoitos só restam os farelos! Lívia Lima é carioca, tem 38 anos, e é formada em administração de empresas. Mãe em tempo integral de Carol, mora em Nova York, Estados Unidos, há cinco anos. Ela escreve sobre a sua experiência como mãe expatriada, no blog Coisas de Carolina. www.coisasdecarolinda.blogspot.com



GUIRLANDA

Erica Palmeira é carioca e mora em Melbourne na Austrália. Arquiteta e autora do blog homesweetener.com, ela é a nossa especialista para projetos “faça você mesmo”. Hoje ela nos mostra como fazer uma Guirlanda Angelical!


Como fazer uma Guirlanda Angelical Esse ano decidi fazer uma Guirlanda Angelical. Peguei meu anjinho mais sapeca, roubei-lhe a auréola e as plumas das asas, enfeitei com bolinhas azuis da cor do céu e prendi à porta. Quer uma também? Siga as instruções a seguir que não tem erro!

Material que você vai precisar: - Um bastidor com cerca de 20 cm de diâmetro; - Uma boá de plumas (daquelas super baratinhas de loja de 1.99); - Enfeites de Natal a gosto; - Cordinhas ou araminhos (serve até o de pão de forma) para amarrar os enfeites ao bastidor; - Fita de tecido com cerca de 3 cm; - Uma tachinha. Você tem dúvidas ou fez uma guirlanda legal e quer compartilhar comigo? Entre em contato através do homesweetener.com/talk-to-me/ Beijos da Erica



Cozinhando com pimpolhos

Fotos:

Thomas Eggmann

Oi! Eu sou a Gê Eggmann e aqui você vai encontrar as minhas receitas preferidas para cozinhar com a ajuda das crianças.

Bom apetite e um Feliz Natal para você e sua família!


Receita de Mailänderli Biscoito de Natal típico suiço

INGREDIENTES: ● ● ● ● ● ● ●

500 gramas de farinha de trigo; 2 colheres de chá de fermento; 150 gramas de açúcar; 1 pacotinho de açúcar de baunilha; 1 pitada de sal; 3 ovos; 250 gramas de manteiga ou margarina.

MODO DE FAZER Bata uma clara em neve e separadamente uma gema. Reserve. Peneire a farinha de trigo e o fermento juntos. Acrescente o açúcar, o açúcar de baunilha, sal, dois ovos e a clara. Misture. Acrescente a farinha de trigo gradativamente e misture. Acrescente a manteiga em pedaços e pressione tudo junto formando uma massa lisa e homogênea. Guarde a massa em um recipiente de vidro e a deixe descançar na geladeira até o outro dia. Retire a massa da geladeira, abra com o rolo e divirta-se com os pimpolhos dando forma à fantasia deles. Depois basta colocar a massa já recortada em uma assadeira forrada com papel manteiga. Pincele com a gema do ovo batida e leve ao forno (180°) até que fique levemente dourada. Retire da assadeira e espere esfriar. Importante: nunca guarde seus biscoitos em vasilhas plásticas, pois eles ficam moles e com gosto ruim. A melhor opção é uma lata própria para guardar biscoitos.



Foto do leitor

Para fotografar no Walt Disney World Epcot Center Ernesto Coimbra utilizou a técnica HDR - High Dynamic Range ou Alto Alcance Dinâmico. O alcance dinâmico é, basicamente, a quantidade de luz de diferentes intensidades que consegue ser gravada na câmera. Mais informações sobre essa técnica você vai encontrar aqui: www.dicasdefotografia.com.br/o-que-e-hdr-porque-usar-essa-tecnica



A revista online Brasileiros mundo afora, de Claudia Bömmels, é uma publicação gratutita e digital, em formato PDF e está sob a Licença Creative Commons Atribuição-Não Comercial-Sem Derivados 3.0 que estabelece o regulamento a seguir: Você tem a liberdade de compartilhar, copiar, distribuir e transmitir a obra, sob as seguintes condições: Atribuição — Você deve creditar a obra da forma especificada pelo autor ou licenciante, mas não de maneira que sugira que estes concedem qualquer aval a você ou ao seu uso da obra; Uso não comercial — Você não pode usar esta obra para fins comerciais; Vedada a criação de obras derivadas — Você não pode alterar, transformar ou criar em cima desta obra; Ficando claro que: Renúncia — Qualquer das condições acima pode ser renunciada se você obtiver permissão do titular dos direitos autorais. Domínio Público — Onde a obra ou qualquer um de seus elementos estiver em domínio público sob o direito aplicável, esta condição não é, de maneira alguma, afetada pela licença. Outros Direitos — Os seguintes direitos não são, de maneira alguma, afetados pela licença: ● Limitações e exceções aos direitos autorais ou quaisquer usos livres aplicáveis; ● Os direitos morais do autor; ● Direitos que outras pessoas podem ter sobre a obra ou sobre a utilização da obra, tais como direitos de imagem ou privacidade. Aviso — Para qualquer reutilização ou distribuição, você deve deixar claro a terceiros os termos da licença a que se encontra submetida esta obra. A melhor maneira de fazer isso é com um link para esta página: www.brasileiros-mundo-afora.com.


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