Album 3:40 – Quarentena

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DECAMERON A narrativa oferecida por Boccaccio sobre o flagelo da peste negra que dizimara a Europa constitui um verdadeiro documento acerca desta praga que devastara o continente.


Cadernos do Olhar Âś Quarentena 2020

Decameron/Boccaccio


Q

uantunque volte, graziosissime donne, meco pensando, riguardo quanto voi naturalmente tutte pietose siate, tante conosco che la presente opera al vostro iudicio avrà grave e noioso principio, sí come è la doloPrima ricordazione della pestifera morgiornatta rosa talità trapassata, universalmente a ciascuno che quella vide o altramenti conobbe dannosa e lagrimevole molto, la quale essa porta nella sua fronte. Ma non voglio per ciò che questo di piú avanti leggere vi spaventi, quasi sempre tra’sospire e tra le lagrime leggendo dobbiate trapassare. Questo orrido cominciamento vi fia non altramenti che a’camminanti una montagna aspra ed erta, apresso alla quale un bellissimo piano e dilettevole sia riposto, il quale tanto piú viene loro piacevole quanto maggiore è stata del salire e dello smontare la gravezza.


A peste negra

«O livro é estruturado como uma história que contêm 100 contos narrados por um grupo de sete moças e três rapazes que se abrigam em uma vila isolada de Florença para fugir da peste negra, que afligia a cidade. Boccaccio provavelmente iniciou Decameron após a epidemia de 1348 e o concluiu em 1353». Wikipedia

Primeira jornada

Graciosas senhoras, quanto mais penso cá comigo e contemplo como são as senhoras naturalmente piedosas, mais concluo que esta obra lhes parecerá austera e pesada no princípio, assim como o é a dolorosa lembrança da última peste, com que ela se inicia, para todos os que a viram ou que de algum outro modo souberam de seus estragos. Mas não quero que isso as assuste e impeça de prosseguir, como se, lendo, houvessem de estar sempre entre suspiros e lágrimas. Este horripilante início não deve ser diferente do que é para o caminhante a montanha acidentada e íngreme, atrás da qual se encontre uma planície belíssima e amena, que lhe parecerá tanto mais agradável quanto maior tiver sido o padecimento da subida e da descida.

Cadernos do Olhar ¶ Quarentena 2020

«Decameron: ou Príncipe Galeotto. Decameron, vocábulo com origem no grego antigo: deca, "dez", hemeron, "dias", "jornadas") é uma coleção de cem novelas escritas por Giovanni Boccaccio entre 1348 e 1353».


«A narrativa oferecida por Boccaccio sobre o flagelo da peste negra que dizimara a Europa constitui um verdadeiro documento acerca desta praga que devastara o continente. Seu relato ilustra a doença (suas manifestações, evolução, sintomas, etc.), bem como a reação das pessoas diante da perspectiva de uma morte horrenda, a ineficácia da religião católica dominante até aquele momento e de uma medicina quase ou totalmente ineficaz... Um exemplo de sua descrição da peste dá-se logo no início da obra, pois ela (a peste) é a verdadeira razão de todo o livro: ...tínhamos já atingido o ano ... de 1348, quando, na mui importante cidade de Florença... sobreveio a mortífera pestilência... nenhuma prevenção valeu, baldadas todas as providências dos homens... Nem conselho de médico, nem virtude de mezinha alguma parecia trazer a cura ou proveito para o tratamento. A peste, em Florença, não teve o mesmo comportamento que no Oriente. Neste, quando o sangue saía pelo nariz, fosse de quem fosse, era sinal evidente de morte inevitável... apareciam no começo, tanto em homens como em mulheres, ou na virilha ou na axila, algumas inchações... a que chamava o povo de bubões... — passava a repontar e a surgir por toda a parte. Em seguida, o aspecto da doença começou a alterar-se; apareciam manchas escuras ou pálidas nos doentes. Nuns, eram grandes e espalhadas; noutros, pequenas e abundantes.” Estimando as vítimas em Florença e arredores em cem mil mortos, o autor reve-la também dois tipos principais de conduta: um, da luxúria desenfreada (as pessoas que passavam a beber e entregar-se aos prazeres); outro, onde pessoas se recolhiam, fechadas em grupos, orando e praticando o ascetismo — além de tantos que agiam entre estes dois tipos, adotando condutas intermediárias. Numerosas levas de gente saíam das cidades, vagando pelos campos, reunindo-se nas igrejas. Foi numa delas que encontrou-se o inusitado grupo que serve como narrador do Decameron». Wikipedia.


Cidade meio vazia

Terraplanista vendedor de cloroquina

Serviรงo essencial Entregador de pizzas


Antonio Saggese, São Paulo Maio 2020 Não tenho procurado muita atividade na quarentena. Ela é um “freio de arrumação”. Um momento para estar quieto, atento e se preparar. É um momento de luto, para metabolizar as mudanças que vieram e as que virão. Imperativo de aceitar o imponderável, o desamparo e a impotência; aceitar o inaceitável. O luto não é depressão, ao contrário, viver a perda é se constituir para o próximo embate. Ao fim de cada batalha sepultam-se os mortos, reagrupam-se as tropas e lida-se com a dor em estado puro. Nojo pelas vítimas da peste, do fascismo e da fome, das florestas devastadas, dos rios envenenados e das praias poluídas. Assisto atônito nossa insuficiência frente aos descalabros, à esculhambação, à bandidagem que transformou um país em um território de desenfreada pilhagem. Desconhecemos, mais que nunca, o futuro que nos espera e como podemos atuar para moldá-lo.

Peço, o silêncio de um minuto...


Ô mulher, viu meus colhões por aí?

Já procurou embaixo da cama, Aras?


Selecionado por Juares Fonseca, Porto Alegre Floriano, Terêncio, o tempo, o Rio Grande e as mulheres Diálogo entre o escritor Floriano Cambará (espécie de alter-ego de Erico Verissimo) e o sociólogo-estancieiro Terêncio Prates, nos finalmentes de O Tempo e o Vento, de érico Verissimo.

Terêncio — Se nós os gaúchos jogamos fora os nossos mitos, que é que sobra? Floriano olha para o estancieiro e diz tranquilamente: — Sobra o Rio Grande, doutor. O Rio Grande sem máscara. O Rio Grande sem belas mentiras. O Rio Grande autêntico. Acho que à nossa imagem física de guerreiros devemos acrescentar a coragem moral de enfrentar a realidade.[...] A mim me impressiona muito menos uma carga de cavalaria dos Farrapos do que a coragem das mulheres desses guerreiros que ficaram em suas casas esperando os maridos, os filhos e os irmãos que tinham ido para a guerra. As mulheres que durante horas incontáveis de agonia ficaram ouvindo o uivar do vento no descampado e o lento arrastar-se do tempo. [...] Elas eram o chão firme que os heróis pisavam. A casa que os abrigava quando eles voltavam da guerra. O fogo que os aquecia. As mãos que lhes davam de comer e beber. Elas eram o elemento vertical e permanente da raça.



Rui Alão, São Paulo

A vírgula

Muitos dos meus alunos sofrem desta enfermidade: a da inexistência da vírgula. Nos artigos acadêmicos aparecem ideias estranhas, distorcidas... Frases comuns se tornam magicamente húngaras. Ideias simples se tornam fórmulas matemáticas esotéricas, teoria hipersintética dos grafos, capacitores ideológicos paflagônios... impossíveis de encontrar significado. Ausente a vírgula, a frase se torna um amontoado de palavras que, não fosse o espaço, seria um exemplo daquelas palavras alemãs que dobram a esquina e não terminam nunca. Deveria haver uma matéria especial na escola, todos os anos, chamada «A vírgula». E o cara que não entendesse, diria: — Merda bombei em Vírgula! — De novo? — Sim vou ter que fazer tudo de novo odeio aquele professor não aguento mais isso não vou ser jornalista por que tenho que saber isso? - Oi?




Cadernos do Olhar Âś 26 maio 20 Claudio Ferlauto contato Âś clauf4455@gmail.com


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