Quarentena Parte 6 by Claudio Ferlauto

Milton Glaser

Claudio Ferlauto (Org.)

Dias de mudanรงas: meias palavras quarentena Parte VI

Cachorro

Louco

MURDER1 MOST FOUL O ASSASSINATO MAIS REPUGNANTE Rem Koolhas, 2001

Bob Dylan Tradução livre e notas

Carlos Perrone março 2020

Cadernos do olhar 15 abril 2020 Contato clauf4455@gmail.com

oi um dia negro em Dallas, novembro de 63 um dia que vai viver na infâmia. Presidente Kennedy estava em alta um bom dia para estar vivo e um bom dia para morrer foi levado ao sacrifício como um cordeiro. Ele disse: “Espere um minuto, rapazes, vocês sabem quem sou eu?” “Claro que sim, nós sabemos quem você é!” E em seguida, explodiram sua cabeça enquanto ele ainda estava no carro.2 Abatido como um cão em plena luz do dia era uma questão de tempo e o momento estava certo. “Você tem dívidas não pagas, estamos vindo cobrar nós vamos matá-lo com ódio, sem nenhum respeito Nós vamos zombar de você, te pegando de surpresa e colocando isso em sua cara.

Já temos alguém aqui para tomar o seu lugar.” No dia em que estouraram os miolos do rei milhares estavam assistindo e ninguém viu uma coisa:aconteceu tão rápido, tão rápido, de surpresa. Bem ali, na frente dos olhos de todos o maior passe de mágica que jamais houve sob o sol. Perfeitamente executado, habilmente efetivado. Wolfman, oh! Wolfman, uive rub-a-dub-dub3, é o assassinato mais repugnante. Calma, neném4, vocês vão entender. Os Beatles estão chegando, eles irão pegar na sua mão.5 Desça pelo corrimão, vá buscar buscar o seu casaco.6

Pegue a balsa para atravessar o Mersey7 vá para a saída há três vagabundos chegando, todos esfarrapados pegue os cacos e abaixe as bandeiras. Estou indo para Woodstock, é a Era de Aquário. Depois eu vou para Altamont8 sentar perto do palco colocar a cabeça para fora da janela, deixando os bons tempos rolarem. Há uma festa acontecendo por trás da Grassy Knoll9 empilhar os tijolos, derramar o cimento não diga “Dallas não te ama “10, Mr. President. Meter o pé na tábua, pisar no acelerador tentar ir pela tripla passagem subterrânea.

Cantor blackface, palhaço whiteface melhor não mostrar seus rostos depois que o sol se põe no distrito da luz vermelha, lá a polícia está dando uma batida. Vivendo em um pesadelo em Elm Street11 quando você estiver down, indo passear no Deep Ellum12, coloque o dinheiro no sapato. Não pergunte o que seu país pode fazer por você13 dinheiro na urna, dinheiro para queimar. Em Dealey Plaza14, fazer uma curva à esquerda — estou indo para baixo da encruzilhada, dando sinal é o lugar onde a fé, esperança e caridade mentem. Matá-lo enquanto ele corre, menino, matá-lo enquanto você pode. Veja se você pode atirar no homem invisível Adeus, Charlie! Adeus, Tio Sam! Francamente, Miss Scarlett15, eu não dou a mínima. O que é a verdade, e onde ele foi? Pergunte Oswald e Ruby16, que deve saber cale a boca, disse uma coruja velha e sábia. Business is business, este é o mais repugnante assassinato. Tommy , can you hear me?17 Eu sou a Acid Queen.18 Estou em uma longa limousine Lincoln preta no banco de trás, ao lado de minha esposa indo direto para a vida após a morte. Estou inclinado para a esquerda, eu tenho a minha cabeça em seu colo. Espere! eu fui levado para algum tipo de armadilha. Estamos indo pela rua, a rua onde você mora19

CONTINUA,

eles mutilaram seu corpo e eles tiraram o seu cérebro. O que mais eles poderiam fazer? Cheios de dor, mas sua alma não estava lá, onde deveria estar. Durante os últimos cinquenta anos eles têm procurado por isso. Liberdade, oh liberdade, caia sobre mim. Eu odeio dizer-lhe, senhor, mas só homens mortos são livres envie-me um pouco de amor e não me diga nenhuma mentira jogue a arma na sarjeta e siga em frente. Acorde, pequena Susie20, vamos sair para um passeio atravessar o rio Trinity21, mantendo viva a esperança ligue o rádio, não toque no dial22 Parkland Hospital23, a apenas seis milhas. Você me deixa tonto,Miss Lizzy24, você me encheu de chumbo essa sua bala mágica veio pra minha cabeça sou apenas um bode expiatório como Patsy Cline25 nunca atire em alguém pela frente ou por trás tenho sangue em meus olhos e em meus ouvidos eu nunca vou fazer isso para a nova fronteira. Ví o Zapruder’s film26 ontem à noite trinta e três vezes, talvez mais, é vil e enganoso, é cruel e significa a coisa mais feia que você já pode ter visto mataram-no uma vez e o mataram de novo mataram-no como em um sacrifício humano. No dia em que o mataram, alguém me disse: “Son, a idade do Anticristo apenas começou”27 Air Force One28 chegando […]

➥ EM OUTRO DIÁRIO

NOTAS 1 Referente à manifestação do fantasma do rei assassinado em Hamlet, Prince of Denmark. W. Shakespeare, 1601 2 "He blew his mind out in a car." A day in the Life, The Beatles, Sgt. Peppers. 3 Rub-a-dub-dub de Hush Little Baby, tradicional cantiga para crianças. 4 De “Hush Little Baby” 5 I Want To Hold Your Hand, The Beatles 1963. Primeira gravação a chegar ao 1º lugar na Billboard americana (parada de sucessos). Início da beatlemania. 6 "Found my way downstairs and drank a cup And looking up I noticed I was late Found my coat and grabbed my hat". A day in the Life, The Beatles, Sgt. Peppers. 7 “Ferry Cross the Mersey 1964 gravação de Gerry and the Pace makers. Mersey, rio de Liverpool. 8 Altamont Free Concert, onde durante a apresentação dos Rolling Stones um Hell Angel, da segu rança do show, matou Meredith Hunter,que fazia parte do público. 9 Pequena colina em Dealey Plaza, Dallas 10 Frase que a primeira dama do Texas, Nellie Connally disse ao Presidente Kennedy “Mr. President you can’t say Dallas doesn’t love you.” pouco antes do assassinato. 11 A Nightmare on Elm Street , filme com a personagem Freddy Krueger 1984 12 Bairro artístico de Dallas, hoje decadente.

13 "And so, my fellow Americans: ask not what your country can do for you—ask what you can do for your country." Discurso da posse de John F. Kennedy. Janeiro 1961 14 Local do assassinato. 15 Personagem Scarlet O'Hara. E o Vento Levou.Filme de 1939, passado durante a Guerra Civil. Direção: Victor Fleming, George Cukor e Sam Wood. 16 Lee Harvey Oswald, presumido autor dos disparos de Dallas.Jack Ruby, dono de night club, que matou matou Oswald, dois dias após ele ser detido. 17 Ópera Tommy, the Who 18 Ópera Tommy, the Who. 19 "On the street where you live ", música de Frederick Loewe e Alan Jay Lerner para o musical My Fair Lady, 1956 20 Wake up, Little Susie.The Everly Brothers , gravação 1957. Simon&Garfunkel, gravação 1981. 21 O maior rio do Texas. 22 Onde se vê e se sintoniza, nos rádios, as estações. 23 Para onde Kennedy foi levado. 24 "Dizzy". Dizzy Miss Lizzy, de Larry Williams 1958. Sucesso de The Beatles em 1964. Help. 25 Cantora country 1932-1963 26 Abraham Zapruder estava na multidão, filmando o desfile, no momento do atentado. 27 O Anticristo, da tradição histórica cristã, é citado indiretamente no Apocalipse de S. João. Extremamente poderoso no mundo, parece ser o Salvador, mas é na verdade uma manifestação satânica. 28 Avião presidencial.

OUT

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O controle prossegue

Régis Bonvicino Esses guias de ‘sobrevivência cultural’ na quarentena, com artistas a fazer shows e performances em transmissões nas redes sociais, museus a criar exposições virtuais e editoras e a liberar livros e plataformas a liberar filmes gratuitos online, para aliviar o isolamento, esses

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guias culturais servem para perpetuar o mesmo de sempre. Eles são um meio de controle, mais um meio de controle da arte e da cidadania. Não foi só o coronavírus. Esse mundo artístico estava podre também. E nada é “gratuito”.

E.H.Gombrich: «Dizia-se de Uccello (Paolo) que a descoberta da perspectiva o impressionara a tal ponto que passava dias e noites desenhando objetos em escorço e criando para si mesmo novos problemas. Seus colegas pintores costumavam dizer que ele se absorvera tanto nesses estudos que, quando a esposa o advertia que era hora de ir para a cama, Uccello erguia os olhos e exclamava: Quão

doce é a perspectiva.”

Nos anos 1990, esta pequena história podia ser aplicada aos aficcionados do Photoshop, quando as companheiras reclamavam: “Esse cara só pensa em Photoshop”. A francesa Clarisse Herrenschmidt, em Les trois écritures,

TRAS

observa: “De um lado, aqueles que se deixam seduzir pelo simulacro e aperfeiçoam sua produção textual com muito pouco cuidado; ou seja, o estilo literário,

a precisão de termos, o apreço à sintaxe, e a adequação do pensamento à língua, tendem a se esfacelar diante de uma bela aparência obtida com rapidez [Web]; os outros são seduzidos fortemente pela simulação [Photoshop], o que significa uma

infinidade de retoques. Estes

PALA

corrigem sem cessar, tendem à perfeição e sofrem para colocar um ponto final do trabalho”.

Não v e r Richard Sennet

Devemos nos perguntar sobre o que se apresenta como real. Isso é o que fazem os escritores e os artistas. Eu não suspeito. Suspeitar significa que existe algo oculto e eu não acho que o Facebook tenha algo oculto. Simplesmente não queremos ver. Não queremos enfrentar que o gratuito significa sempre uma forma de dominação.

ALGO R I T M O S

Slavoj Žižek

De ir às livrarias. Os últimos lugares onde você ainda tem possibilidades de escolha cultural. Não suporto os algoritmos da Amazon, da Netflix: eles oferecem o que pensam que você gosta, sem dar a oportunidade de descobrir coisas novas e, portanto, surpreender-te. Na livraria, você vai para procurar algo e muitas vezes volta com outra coisa. As livrarias são insubstituíveis e é muito grave que a crise as esteja colocando em risco.

O desenho nos ajuda a pensar melhor Anne Quito

[…] Em sua essência, o desenho é uma ferramenta para a solução de problemas. Os cientistas são quase sempre ávidos rabiscadores, como a matemática Maryam Mirzakhani, vencedora da Medalha Fields, por exemplo. “O processo de desenhar nos ajuda, de alguma forma, a permanecer conectado”, explicou ela em uma entrevista de 2014. “Sou uma pensadora lenta e tenho que gastar muito tempo antes que eu possa clarear minhas idéias e progredir.”

Mesmo que você não esteja lidando com geometria hiperbólica, o desenho é útil para nossas tarefas diárias, fornecendo instruções, tomando notas em reuniões, descrevendo uma apresentação ou fazendo listas de compras. Estimula a observação atenta, o pensamento analítico, a paciência e até a humildade. Uma alternativa ao aprendizado baseado no Google A tecnologia digital nos mima, dando atalhos para o “conhecimento instantâneo”, mas o desenho quebra nosso instinto coletivo de pesquisar tudo no Google, argumenta o historiador do design D.B. Dowd. Ele adverte contra confiar demais em caminhos fáceis para aprender. ¶ Quando solicitamos algo da pesquisa de imagens do Google —digamos “avião”— obtemos definições contemporâneas do mesmo, que nesse caso produz milhares de fotos de aviões comerciais. Esse é um resultado restrito de uma investigação geral e uma versão de como essa agregação nos impede de ver um mundo mais amplo. O desenho funciona exatamente da maneira oposta: a observação atenta de quase todos os aspectos particulares envolve os sentidos e aumentam a experiência, fazendo o mundo parecer maior, e não menor. ¶ Também há uma dimensão física nisso. Nosso cérebro ficou maior quando nossos polegares se moveram para uma posição oposta aos outros dedos. Nossas mãos, fixas nas extremidades de nossos braços, nos trouxeram notícias do mundo, e evoluímos rapidamente para obter a vantagem. Nossas capacidades manuais foram essenciais para nossa compreensão do mundo. Não é estranho, e um paradoxo perverso, que o digital tenha corroído o manual? ¶ Dowd, que criticou a dependência excessiva da indústria de design gráfico em ferramentas de ilustração digital, como o Illustrator ou o Photoshop, argumenta que o desenho não é necessariamente antitecnológico: “Eu não tenho queixas da tecnologia em si —afinal, lápis e papel juntos são uma tecnologia. Mas o desenho oferece simplicidade e franqueza em comparação a outros procedimentos de coleta de informações.” […] https://qz.com/…/a-design-historian-explains-why-the-cleve…/ https://news.artnet.com/…/maryam-mirzakhani-fields-winner-d… https://qz.com/…/a-design-historian-explains-why-the-cleve…/