Como é que vemos, ouvimos e analisamos a música portuguesa televisionada, através do Festival RTP da Canção, no período imediatamente anterior e posterior ao 25 de Abril de 1974 e que semelhanças e diferenças há da actualidade? Estas questões surgem com maior pertinência por ocasião dos 50 anos de “Desfolhada” (1969-2019), uma criação do poeta Ary dos Santos, do compositor Nuno Nazareth Fernandes, do maestro Joaquim Luís Gomes e da cançonetista Simone de Oliveira. Em Portugal marcaria o início do protesto político, mais ou menos metafórico, em contexto de Festival RTP da Canção, mas não vingou aos olhos e ouvidos da Europa. No ano seguinte fomos para fora cá dentro, em desagravo com o sistema de voto e a humilhação à canção portuguesa. O presidente do Conselho de Ministros, António de Oliveira Salazar, já caíra da cadeira, literalmente, e a “Desfolhada” representava uma esperança, tão grande que mais parecia que Portugal também queria chegar à Lua.