COMM NATURA
A NÁUTICA DE RECREIO, A FIBRA DE VIDRO E O AMBIENTE
Figura 1: Cemitérios de embarcações abandonados a céu aberto. Figura 2: No entanto, muitos são descartados no mar, simplesmente fazendo um furo no casco e deixando-os afundar num qualquer lugar da costa.
6 | BORDO LIVRE 159 | SET-OUT 2020
O desenvolvimento sustentável é, tradicionalmente, definido como algo que atende às necessidades do presente sem comprometer as necessidades do futuro. À primeira vista a prática de náutica de recreio parece enquadrar-se neste conceito, mas… como qualquer atividade humana, trás consequências. A fibra de vidro alimentou o boom da navegação de lazer. A resistência e durabilidade da fibra de vidro transformaram a indústria náutica e possibilitaram a produção em massa de pequenas embarcações de lazer. No entanto, os barcos que foram construídos no boom da fibra de vidro das décadas de 1960 e 1970 estão, agora, em final de vida. Quando o custo da reparação ultrapassa o valor de revenda, o “azarado” proprietário descarta-se do “amado” barquito e da responsabilidade de o manter. A acumulação constante de embarcações em fim de vida nas comunidades costeiras tem vindo a gerar discussões em torno de uma variedade de questões ambientais e económicas interligadas. Atualmente, o destino mais comum para essas embarcações envelhecidas é o aterro ou pior: o abandono em quintais, estaleiros ou nas margens de rios e canais locais. Muito pouca pesquisa foi até hoje feita sobre o descarte no mar e a preocupação é que, eventualmente, esses barcos se degradem e se movam com as correntes e prejudiquem os ecossistemas locais, acabando por se decompor em microplásticos. Este tipo de descarte por abandono implica sérios riscos à saúde humana provocados por produtos químicos ou materiais usados no barco: borracha, plástico, madeira, metal, têxteis e, claro, óleo. Além disso, o amianto (era um material amplamente empregue como isolante nos sistemas de escape) e tintas com chumbo (comumente usadas como