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Carlos Laranjeira zoom Criar para o pequeno público

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entrevista

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Teatro para a infância

Criar para o pequeno públiCo

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É um grande investimento criar para o pequeno público, encher as plateias de novos espetadores, dar ferramentas de interpretação que vão para além das salas de espetáculo. A um mês do Sementes, fomos falar com os criadores deste festival, organizado pelo Teatro Extremo, e conhecer a oferta reforçada para as crianças da Companhia de Teatro de Almada.

«Há uma secundarização do teatro para a infância»

Em Almada há uma companhia que há 22 anos se dedica ao teatro para a infância e juventude mas que se recusa a infantilizar os espetáculos. «O nosso último espetáculo, por exemplo [Mythos], pode ser visto por crianças a partir dos 6 anos, mas os adultos não se sentem marginalizados», garante o diretor artístico do Teatro Extremo, Fernando Jorge Lopes. «Quando construímos um objeto artístico não nivelamos por baixo, porque o entendimento do espetáculo é por camadas, permitindo que uma criança venha ver uma peça e a leia de uma determinada maneira e quando voltar possa já ter outro tipo de análise». Mas os mais novos são, assumidamente, o público preferencial desta companhia profissional de Almada, que desde o início apostou na criação de um evento dirigido para as crianças, o Sementes – Mostra Internacional de Artes para o Pequeno Público. «As peças são uma alavancagem do pensamento e das emoções, servem a vida, formam o cidadão», justifica o diretor, que não gosta da expressão «formar espectadores». As salas e as plateias não são fábricas, mas esta arte «é uma ferramenta para analisar uma obra, para criticá-la e serve para lá da sala de espetáculos».

Um festival com 21 anos «Apostamos sempre na qualidade dos artistas e da mensagem que tenta transmitir para a infância» explica Rui Cerveira, responsável pelo Sementes, que há 21 anos traz a Almada e a outros concelhos do País esta Mostra Internacional de Artes. Como cá dentro o teatro para a infância é secundarizado, até pela crítica, defendem que foi preciso atravessar fronteiras, ir aos festivais e conhecer quem trabalha para este público. E selecionar. «De acordo com os espaços, os municípios e o orçamento» escolhem-se os espetáculos que mais interessam. «Vemos coisas que não podemos trazer pelos custos associados. Há espetáculos que chegam aos 25 mil euros», lembra o ator, que dispõe neste grupo de um orçamento de 100 mil euros, aproximadamente. Ao fim destas duas décadas de existência e da notoriedade já conquistada pelo Sementes, já são as companhias que apresentam o seu projeto ao Teatro Extremo. «Este ano temos 26 companhias na edição de 2016, que se espalha por sete municípios. «Levamos a estes sítios outras vertentes artísticas, outras propostas estéticas, outros espetáculos». Teatro, marionetas, dança, música, cinema, livros para a infância e juventude fazem parte da programação desta edição, que conta com 50 espetáculos e 15 atividades complementares. «Para que as crianças possam não só ver, mas também experimentar fazer». Na maioria acontecem ao fim de semana, para ser mais acessível à maioria das famílias e no dia 1

Espetaculo Que esta cozinhado, por Il Cataldo, no Festival Sementes 2015

de junho, Dia Mundial da Criança, com uma forte aposta para as escolas. O arranque da programação acontece na Casa da Cerca – Centro de Arte Contemporânea, onde uma companhia do Pinhal Novo se compromete a fazer uma instalação artística inesperada, que vai vestir da cabeça aos pés e de vermelho e branco, os jardins exteriores deste lugar maravilhoso, debruçado sobre o rio e a encosta solarenga de Almada Velha. A inauguração está prevista para a sexta-feira, dia 20 de maio, às 21h30, com artes circenses à mistura. Toda a programação pode ser conhecida na apresentação do Sementes, dia 7 de maio, no Teatro-Estúdio António Assunção (Almada), às 15h30. Os responsáveis levantam apenas uma ponta do véu, revelando que entre os artistas estará o belga Joseph Collard, que encenou a duas criações do Teatro Extremo, Mythos e Palhaço Precisa-se, e o espetáculo comemorativo nos 25 anos do Cirque du Soleil – O Ovo. Uma boa novidade para as famílias é também a criação de espetáculos para jovens a partir dos 12 anos, «uma faixa etária difícil, que está no limbo entre ser criança e adulto». Para além das companhias nacionais, em maio chegam a Almada pela mão do Teatro Extremo propostas da Bélgica, de Espanha, do Brasil e, de Cabo-Verde. Mas numa época de crise, «para podermos apresentar um festival com boas propostas para as nossas crianças e jovens temos de trabalhar de borla, porque em vez de pagarmos em dinheiro, pagamos com o nosso trabalho. E isto é perverso», sentencia Rui Cerveira.

Quando o teatro vai até ao público O público vai ao teatro e através dos serviços educativos é a companhia que vai às escolas. O ano passado, 9 mil crianças de meia centena de estabelecimentos de ensino tiveram oportunidade de ver o espetáculo de natal do Teatro Extremo, patrocinado pelas juntas de freguesia, que nesta época festiva faz abrir

Retratos, pelo Teatro Extremo | © Vitor Cid

muitos Sorrisos de Natal. «Os laços com as autarquias estão cada vez mais fortes e os resultados melhoram de ano para ano». Com cortes de 40% do poder central, «só com a disponibilidade do poder local tem sido possível manter estes projetos, afirma Fernando Jorge Lopes. «Valorizamos a disponibilidade financeira, logística e sobretudo humana do poder local». Através dos serviços educativos desta companhia realizam-se ainda durante todo o ano oficinas artísticas nas 11 freguesias do concelho, envolvendo cerca de 1500 pessoas, sejam crianças sejam os seus familiares, que também são chamados para ser atores, encenadores, figurinistas, o que for necessário. Neste mês de abril, estas sessões criativas arrancam na Sobreda e Charneca de Caparica, onde há já 85 inscritos. «É uma ação invisível – porque ninguém dá enfoque a este trabalho – mas é o que mais consegue penetrar nas pessoas. Nas oficinas, as famílias descobrem a exploração teatral, criando textos, fazendo pintura, criando figurinos. «Fazem de tudo um pouco e, no final, podem ou não apresentar uma peça. Porque o que nos interessa é o processo, não é o resultado final», revela Victor Pinto Ângelo, diretor financeiro da companhia. Ambos assumem que o Teatro Extremo é «uma companhia com grande ligação à comunidade local, e também um agente reivindicativo.

Companhia de Teatro de Almada aposta no público infantil As famílias e as escolas contam também este ano com uma oferta reforçada no Teatro Municipal Joaquim Benite. «Muitos pais vinham ter connosco a perguntar se não havia mais espetáculos», enquadra o diretor artístico da Companhia de Teatro de Almada (CTA), Rodrigo Francisco. Por isso em vez de ter uma carreira de um mês com um espetáculo, decidiu-se avançar com a reposição de todas as produções que tinham em carteira e

Depois de Darwin, pelo Teatro Extremo | © Vitor Cid

Salamaleque, pelo Teatro Extremo | © Vitor Cid

As viagens de Gulliver, da Limite Zero Associação Cultural | © Susana Neves

Barba Azul, pelo Teatro de Marionetas do Porto | © Susana Neves

O Barbeiro de Sevilha, pela Companhia de Teatro de Almada

Verdi que te quero Verdi, pela Companhia de Teatro de Almada

intercala-las com as produções acolhidas nesta temporada e com as novíssimas Oficinas para a Infância, que recuperam um conceito antigo que se foi perdendo no tempo. Casa cheia tem sido o resultado das reposições, o que curiosamente revela que as crianças querem ver uma e outra vez o mesmo espetáculo e as famílias falam entre si, trazem amigos, passam a palavra. As produções próprias da CTA trazem de volta à sala experimental o Fantasma das Melancias, a Dona Raposa e Outros Animais, Verdi que te quero Verdi, Os Gatos, Pastéis de Nata para Bach e O Barbeiro de Sevilha. À programação juntam-se os oito espetáculos acolhidos, num total de 14 espetáculos para ver ao longo do ano no Teatro Municipal Joaquim Benite. «A equipa foi-me aconselhando alguns espetáculos, que procurei que fossem muito diferentes entre si, para perceber o que pode ser mais interessante, desde o espetáculo de marionetas, aos mais interativos». A formação de público também motivou esta aposta da CTA no público mais jovem. «Vou a muitas escolas secundárias e mais de 70% dos alunos lembra-se de ter vindo ao teatro», comenta Rodrigo Francisco, que gostaria que «os jovens de 14/15 anos combinassem ir ao teatro como combinam ir ao cinema». A faixa etária mais difícil é a dos 30/40 anos, porque têm filhos pequeninos e não os querem deixar no ATL à noite. Por isso, na CTA está a tentar-se o «movimento contrário: fazer chegar os pais ao teatro através dos filhos», aproveitando espetáculos completamente gratuitos, se aderirem ao cartão de Amigos do Teatro. «Gostava que todos se pudessem confrontar com a possibilidade de ser espectador». As 22 Oficinas para a Infância programadas para este ano fazem também parte desta estratégia.

Uma oficina de perguntas Quem já levou crianças ao teatro sabe que quando a peça acaba, nascem muitas perguntas

Pasteis de nata para Bach, pela Companhia de Teatro de Almada

na cabeça dos mais pequeninos. Rapidamente avançam para os bastidores, fazem perguntas aos atores, descobrem os adereços e, invariavelmente invadem o palco numa descoberta prometedora. E é neste mundo de perguntas que se move Joana Manaças, responsável pelas Oficinas no Teatro Municipal Joaquim Benite. Planeou 22 sessões para crianças dos 5 aos 7 e dos 8 aos 11 anos, sempre aos sábados, às 15h. Até ao fim do ano, vão descobrir quem se esconde atrás da cortina? O que acontece no palco antes do espetáculo começar? Que caminhos podemos fazer dentro deste grande edifício? Como se constroem os cenários? De onde vem tanta luz? Se há teatros do outro lado do mundo? O que vai na cabeça dos artistas? Ao longo de três horas, dá-se lugar à «descoberta, ao pensamento», porque a estratégia da criação de novos públicos «não passa por trazer caras da TV para o elenco». É preciso «lançar informação, suscitar a reflexão» e ajudá-los porque «são eles que têm de chegar às suas respostas». Tudo para «criar autonomia e vontade para ir ao teatro» onde «nos encontramos com o pensamento. O teatro alimenta a alma». Em abril vão ser guiados por Manuel Graça Dias, consagrado arquiteto e um dos autores do edifício do Teatro Municipal Joaquim Benite. «Vai ser interessante para ele descobrir o que os miúdos dizem deste espaço», prevê o diretor artístico, que aposta nestas oficinas como uma forma de «dessacralizar o teatro. Não é caro, não é para pessoas muito cultas, é para toda a gente». Mesmo que de palmo e meio.

TEATro ExTrEmo Tel.:21 272 36 60 www.teatroextremo.com

CompAnhiA dE TEATro dE AlmAdA Tel.: 21 273 93 60 www.ctalmada.pt

DIA HORA | ALTURA DIA HORA | ALTURA DIA HORA | ALTURA

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02:48 09h24 15h25 22h03 04h17 10h54 16h50 23h24 05h30 12h06 17h56 00h28 06h29 13h02 18h50 01h22 07h18 13h51 19h38 02h11 08h04 14h37 20h24 02h58 08h48 15h22 21h08 03h43 09h31 16h05 21h52 04h28 10h14 16h49 22h36 05h13 10h57 17h34 23h22 1.5 m 2.8 m 1.6 m 3.0 m 1.4 m 3.0 m 1.5 m 3.2 m 1.2 m 3.2 m 1.2 m 3.5 m .9 m 3.5 m .9 m 3.8 m .6 m 3.8 m .6 m 4.0 m .4 m 4.0 m .4 m 4.2 m .3 m 4.2 m .3 m 4.3 m .2 m 4.2 m .2 m 4.3 m .3 m 4.2 m .3 m 4.1 m .4 m 4.0 m .5 m

11 Seg 12 TeR 13 QUa 14 QUI

15 SeX 16 SÁB 17 dOm 18 Seg 19 TeR 20 QUa

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21 QUI 22 SeX

23 SÁB 24 dOm 25 Seg 26 TeR 27 QUa 28 QUI 29 SeX 30 SÁB

02h45 08h34 15h03 20h49 03h17 09h05 15h34 21h20 03h49 09h35 16h04 21h52 04h20 10h06 16h35 22h23 04h52 10h36 17h08 22h56 05h26 11h09 17h42 23h32 06h03 11h45 18h22 00h15 06h47 12h30 19h10 01h08 07h43 13h30 20h11 02h18 08h57 14h50 21h29 3.7 m .8 m 3.7 m .8 m 3.7 m .8 m 3.7 m .8m 3.7 m .8 m 3.7 m .8m 3.6 m .8 m 3.7 m .9 m 3.5 m .9 m 3.6 m .9 m 3.4 m 1.0 m 3.5 m 1.1 m 3.3 m 1.2 m 3.4 m 1.2 m 3.2 m 1.3 m 3. m 1.3 m 3.0 m 1.5 m 3.1 m 1.4 m 3.0 m 1.5 m 3.1 m

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