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ENTREVISTA
JOSÉ MANUEL GONÇALVES, PRESIDENTE DO CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO DOS SMAS DE ALMADA «AS QUESTÕES DA ÁGUA E DO SANEAMENTO DEVEM SER ASSUMIDAS PELOS MUNICÍPIOS»
Os investimentos, as obras no terreno e a aposta nas novas tecnologias foram alguns dos temas abordados por José Manuel Gonçalves. Nesta entrevista o presidente do Conselho de Administração dos SMAS de Almada falou ainda da tarifa social da água e do livro História da Água e Saneamento em Almada.
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Almada (A) - O investimento dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS) de Almada tem sido, nos últimos anos, significativo. Quais os frutos deste investimento? José Manuel Gonçalves (JMG) – Os SMAS de Almada estão, desde 2013, a implementar um conjunto de investimentos que estão integrados no plano estratégico da água, da drenagem, de saneamento e gestão de infraestruturas, que ronda os 50 milhões de euros até 2021. Neste momento, parte desse investimento, 20 milhões de euros, estão a ser executados. Em 2016, os SMAS já inauguraram seis infraestruturas centrais do nosso sistema, como a estação do Raposo, a remodelação da estação do Torrão, a nova construção da Foz do Rego, as remodelações da ETAR de Valdeão e da ETAR da Quinta da Bomba e a nova estação das Quintinhas. Foi também inaugurado o novo posto de comando de Vale Milhaços, que gere a água em alta no concelho de Almada. Associado a tudo isto há também um grande investimento nos reservatórios dos SMAS. Estes investimentos estão a dar frutos e garantem que, nas próximas décadas, o nosso sistema estará operacional e fiável, como até aqui. Foi pensado há algum tempo e está a agora a ser concretizado. A - A remodelação da rede de água e saneamento de Almada Velha está no terreno. Qual o balanço? JMG – O balanço é muito positivo. Entrámos numa fase de clara aposta na renovação das redes em alta e em baixa, incluindo as grandes adutoras que ligam os nossos 34 furos aos 25 reservatórios centrais e que nos próximos anos terão de ser intervencionadas. Por exemplo está já em desenvolvimento a intervenção na adutora Faculdade de Ciências e Tecnologia-Murfacém. No caso da rede em baixa, construída nos anos 70 e 80, estava na altura de começar a ser intervencionada. Almada está toda estudada do ponto de vista do que queremos que seja a rede do futuro. O que estamos a fazer é construir uma nova rede com os critérios técnicos e o conhecimento que hoje existem relativamente a estas matérias. Para o tecido urbano consolidado estão já a ser implementadas soluções de rede em baixa que são atuais, ou seja, estamos a fazê-lo ainda em tempo de vida da infraestrutura porque senão entraríamos num processo de roturas sistemáticas. A obra no viaduto do Pragal está a correr muito bem. É uma intervenção que nos vai dar, através da construção de duas adutoras, a redundância no abastecimento às freguesias de Almada, Pragal, Cacilhas e Cova da Piedade. Está também em curso a intervenção em duas das seis células do reservatório do Pragal, uma infraestrutura com mais de 50 anos, e que vai ser todo reabilitado. A intervenção na rua Fernão Lopes está concluída e na rua Heliodoro Salgado decorre sem abertura de vala. Seguir-se-á a rua Luís de Queirós e a rua dos Espatários, onde a reabilitação do coletor também se fará sem abertura de vala.
A - Reduzir ao máximo o impacto das obras no dia a dia dos cidadãos, bem como manter o abastecimento de água, tem sido prioritário. Isto consegue-se através do uso de técnicas inovadoras? JMG – São técnicas onerosas, com um grau de exigência maior e que nem todas as empresas dominam. Mas o nosso desejo é que os trabalhos no tecido urbano tenham um impacto mínimo no dia a dia das populações. E, sempre que é tecnicamente possível realizar a empreitada com reentubamento ou com o uso de manga de reforço da infraestrutura, isso é feito. O primeiro grande êxito desta intervenção foi o coletor da Trafaria que, foi recuperado por mais 50 anos, sem ser necessário retirá-lo ou recorrer à abertura de valas. A outra prática dos serviços é criar soluções que mantenham, durante as intervenções, o abastecimento de água e a drenagem do saneamento.
A - No âmbito dos 65 anos dos SMAS de Almada, foi lançado a 5 de novembro, o livro História da Água e Saneamento em Almada, dos historiadores Alexandre Flores e António Policarpo. Que obra é esta? JMG – É uma obra sobre a história de Almada e dos almadenses tendo como pretexto a história da água e do saneamento. Este primeiro volume vai até 1950 que foi a data da criação dos Serviços Municipalizados, uma fase muito relevante porque é caracterizada pela carência e pela luta dos almadenses relativamente à água e ao saneamento. Este é um livro que todos temos de ler porque é sobre um capítulo importantíssimo da história de Almada.
A - Segundo o Orçamento do Estado 2017, a Tarifa Social da água vai avançar, com as câmaras a definirem os descontos. Como encara esta decisão? JMG – Um aspeto que importa realçar é o facto de se dar aos municípios a decisão relativamente à adesão. Nós entendemos que as questões da água e do saneamento, bem com um conjunto de políticas sociais, devem ser assumidas pelos municípios. Relativamente a Almada não representa nada de novo porque a nossa política social de acesso à água e ao saneamento está muito mais avançada relativamente aquilo que é possível identificar a partir desta decisão. É que em Almada nós não falamos em reduzir porque nós isentamos as famílias carenciadas do pagamento das taxas de água, saneamento e resíduos sólidos. E em 2016, alargámos mesmo o conceito de família carenciada. Para além disso, as famílias que tenham dívidas de água aos SMAS e que demonstrem dificuldades no seu pagamento, a prática municipal assenta na aceitação de planos de pagamento de acordo com a disponibilidade dos munícipes, não impondo um valor por mês, tal como não é nossa prática o corte generalizado de água por incumprimento do pagamento resultante de dificuldades financeiras. Mas acredito que outras entidades gestoras ou outras realidades no país justifiquem uma decisão desta ordem.
A - Nos últimos tempos os SMAS lançaram um novo site e apostam na fatura eletrónica. As novas tecnologias fazem parte da relação dos SMAS e os cidadãos? JMG – A relação que temos com os munícipes é um dos pilares da nossa intervenção porque entendemos que a gestão tem de ser feita com as populações. As questões da gestão da água e da água em geral dizem respeito a cada um de nós. A nossa gestão tem de ser aberta, transparente e de envolvimento das pessoas. Tudo o que fazemos tem como objetivo facilitar o acompanhamento por parte do cidadão da sua relação comercial com os SMAS, tal como queremos que exista um acompanhamento da atividade geral dos SMAS para que possa interagir e intervir para que seja possível fazermos melhor. No que diz respeito às novas tecnologias, apostámos na modernização do site dos SMAS, na criação de uma aplicação para a comunicação de leituras, de adesão à fatura eletrónica, onde temos como objetivo chegar ao final de 2016 com 15% de faturas eletrónicas, e, temos também do ponto de vista do pagamento, uma forte adesão, com mais de 44 mil clientes a pagar a fatura por transferência bancária. Ainda assim, mantemos 13 balcões de atendimento no concelho, localizados nas 11 juntas de freguesia, na Loja do Munícipe, em
Almada, e na sede dos SMAS de Almada, no Pragal, porque a relação presencial continua a ser muito importante para nós.