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CULTURA
INÊS DE MEDEIROS
A cultura faz-se de diálogos
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Além da presidência da Câmara Municipal de Almada, Inês de Medeiros responde também pelo pelouro da Cultura. Refere que exercer as duas funções é uma tarefa exigente, mas que a sua ligação à arte, ao longo de toda a vida, tornou a escolha fácil. Faz um elogio aos almadenses, que afirma serem o melhor público para a cultura em Portugal, e segue o propósito de tornar Almada uma referência nas artes performativas.
Quando assumiu o pelouro da cultura, identificou alguma margem de evolução para o setor?
Sim. Almada tem uma longa tradição de grandes atividades culturais e é conhecida, a nível nacional, por ter o melhor público de Portugal. É um público muito atento, muito fiel e muito interessado. Naturalmente, o grande pilar é o Festival Internacional de Teatro, que passou a ser o foco. Mas quando cheguei, examinando bem, percebemos que, para além do festival, era importante conseguir garantir uma maior regularidade e uma maior diversidade. Ou seja, explorar melhor as potencialidades enquanto grande cidade de todas as artes performativas. Almada vai sempre manter a sua marca de cidade do teatro e ainda bem. É muito bom sinal. Temos o maior festival de teatro do país e uma das grandes referências ao nível europeu. Agora é verdade que nós gostaríamos que Almada fosse referência para tudo o que é arte performativa. O teatro, a dança, a música, a arte do palco e do contacto direto com o público.
Que questões mais chamaram a atenção ao início?
Com o que nos deparamos? Com grandes problemas ao nível dos museus. Não tínhamos, e não temos ainda, nenhum museu com a capacidade para ser reconhecido enquanto tal, porque não tinham as coleções organizadas, o espólio bem catalogado ou uma regularidade de programação. E também grandes problemas ao nível da arqueologia. Nós temos um excelente serviço de arqueologia, mas que estava muito aquém. Aliás, já nem sequer tínhamos autorizações para fazer escavações. Houve muito trabalho, um trabalho quase invisível, no sentido de arrumar as casas, os museus, as coleções, retomar as permissões para escavar, desenvolver de novo o projeto do Almaraz, que é provavelmente um dos sítios arqueológicos mais importantes da área metropolitana. Era preciso retomar todo este trabalho que de facto não estava feito, que foi iniciado e depois tinha ficado suspenso.
Quais foram as ações mais imediatas para reorganizar o setor?
A maior dificuldade era a falta de regularidade nos apoios. Havia um sistema de apoios públicos, mas que não tinha datas de início ou de fim. Ou seja, as estruturas culturais não sabiam quando, como e por quanto tempo poderiam ter apoio. Era importante criar regras claras. Se me pergunta da minha experiência, há uma coisa que eu tenho certeza: uma política pública passa por apoiar a criatividade e criar estruturas de apoio fiáveis e regulares. A noção de regularidade é muito importante porque amplia a possibilidade de surgirem projetos diversos e sabemos que isso tem acontecido cada vez mais. Fala-se muito em criar público. Mas só se cria público com regularidade, com ações que se prolongam no tempo. Não é com epifenómenos, um evento aqui e outro ali. É com uma política regular sustentada que permita às instituições terem um mínimo de estabilidade.
E quanto aos equipamentos?
Havia muito para fazer e tem sido feito um trabalho extraordinário a esse nível. O Museu Naval estava ao abandono e era importante resolver a questão. A Casa da Cerca, que já tinha sido uma referência absoluta, estava a meio gás e era importante voltar a dar um novo dinamismo para que reencontrasse a sua missão. O Museu de Almada e a Casa da Cidade com vários polos é muito importante ao nível da organização, da regularidade e da programação. Portanto, houve muito trabalho para fazer com que estes grandes equipamentos culturais pudessem organizar as suas coleções, ter uma regularidade da programação e qualificar e diversificar essa proposta.
A estratégia para o setor passa pela descentralização?
Foi uma coisa que constatámos de imediato. A atividade cultural estava muito concentrada nas freguesias urbanas, Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas.
Inês de Medeiros, Presidente da Câmara Municipal de Almada.
Era fundamental descentralizar. Uma das nossas prioridades foi descentralizar a programação, para chegar a todas as freguesias e aumentar a abrangência do usufruto da cultura. Quando o município está em festa, todas as freguesias estão em festa. É obrigação levar atividades culturais a todo lado. Tudo isso para não falar de um princípio básico que é ter atividades diversificadas.
Quais são os planos para Almaraz?
Almaraz é uma questão que me é muito cara, porque temos ali uma preciosidade e é fundamental avançar. Já temos um primeiro projeto e conseguimos recuperar a licença de escavação. Mas estamos a montar o projeto, para termos parcerias mais sólidas no tempo. A primeira coisa foi fazer estudos de georrefenciação, para perceber o que realmente estava lá em baixo, e todos os indícios são bons. Um espaço tão grande, bonito e com tanta potencialidade não pode ficar apenas com uma pequena equipa, que é extraordinária, mas temos que lhe dar outra dinâmica, para a valorização e, sobretudo, para dar o lugar a conhecer. O que se pretende? Que possa ser um espaço de investigação, em primeiro lugar, e que passe a ser um equipamento cultural, pedagógico e turístico.
O digital está a transformar as sociedades. Como afeta o setor da cultura?
Sobre esta matéria temos um dos nossos maiores projetos, o Instituto de Arte e Tecnologia. Uma das nossas grandes prioridades é não deixar o nosso património vazio, em ruína e sem projeto. O Presídio da Trafaria é provavelmente um dos edifícios mais extraordinários que nós temos, com uma potencialidade enorme, pela sua história, pela localização e até pela arquitetura.
Olhando para aquele edifício pareceu fundamental que ele tivesse uma instituição de ensino que pudesse ter uma oferta absolutamente única. Se nós olharmos para o que é a oferta em Portugal, e mesmo na Europa, vamos ver que há poucos com essa junção entre arte e tecnologia. Hoje em dia toda a arte recorre à tecnologia e as ofertas formativas neste cruzamento são poucas. A Universidade Nova de Lisboa percebeu imediatamente a dimensão desta ideia e aceitou avançar com este projeto, que eu acho vai ser marcante para Portugal.
Foi importante resgatar o Festival dos Capuchos?
O retomar do Festival dos Capuchos era essencial, porque sempre foi uma marca de Almada e que importava fazer renascer. Apesar de ter desaparecido durante 20 anos, as pessoas mantêm muito viva a memória daquilo que foi o festival. Não quer dizer que não tivesse havido nada nos Capuchos. Claro que houve. Houve pequenos concertos, ciclos de música, concursos, mas não com a dimensão e a importância do antigo festival.
Como está o projeto da Casa da Dança?
O projeto da Casa da Dança é fundamental e também nos enche de orgulho. Houve contestação e incompreensão, mas é um projeto que atende a uma vontade antiga de todo o meio da dança, que é começar a criar uma estrutura que represente a dança na sua diversidade e que possa vir a ser uma verdadeira casa sólida, um espaço de pesquisa, de criação, de intercâmbio. Há muitos anos que os coreógrafos portugueses falavam disso e nós acolhemos. É um projeto que permitiu recolocar Almada como um espaço importante na dança contemporânea, com capacidade de evoluir, criar um espaço de apoio a novas companhias, novos criadores, workshops. A cultura faz-se de diálogos. É evidente que continuamos a ter a nossa Quinzena da Dança. As pessoas têm a tendência a dizer que se há uma coisa não tem que haver outra. Não. É o contrário. A cultura deve se multiplicar, porque a multiplicação é que traz a inovação e a criatividade.
Tem uma vida ligada à arte. A cultura é um pelouro à sua medida?
A minha vida sempre esteve ligada à cultura, no Parlamento e na Fundação Inatel, para além de ter sido diretora do Teatro da Trindade. Isso é um facto. Eu estava completamente mergulhada justamente naquilo que é a programação, o desenvolvimento de políticas culturais de grande escala. Para mim, o pelouro da cultura era absolutamente evidente. Agora confesso que havia muito trabalho de bastidores a fazer e que eu não estava à espera que fosse tão urgente. A questão da «arrumação» das estruturas, de dar linhas programáticas, propósitos, projetos em concreto. Eu tinha a ideia de que em Almada isto estava tudo a fluir e de facto não estava. O pelouro da cultura é muito dinâmico e exige uma presença permanente, o que torna difícil acumular esta função com a principal, que é ser presidente da Câmara. Mas não podia imaginar não assumir o pelouro da cultura. Houve quem me aconselhasse a não ficar com ele, porque era muito exigente, mas não fazia sentido não o ter. E penso que isso também permitiu lançar estes grandes projetos estruturantes e conseguir identificar onde era fundamental agir de imediato.
LARGO DE CACILHAS
Um lugar para desfrutar
Ao longo dos anos, o Largo de Alfredo Dinis tem sido uma zona de intenso movimento, mas sobretudo de passagem. Os que usam o largo para chegar aos barcos cacilheiros são em maior número. Há os que iniciam ali as suas caminhadas pelo Cais do Ginjal. E há também aqueles que têm os restaurantes da Cândido dos Reis como destino. Mas em breve isso vai mudar. Em vez de ponto de passagem, o largo vai ser um destino que convida a visitar e a ficar.
Quem passa pelo Largo de Cacilhas já notou as obras em curso. Os trabalhos de reabilitação ainda estão em fase inicial, mas o projeto deve estar pronto no início do próximo ano. A obra tem um orçamento de 2,5 milhões de euros, recursos da autarquia com o apoio do Programa Portugal 2020. A obra de reabilitação da zona das Salgas Romanas incide principalmente em três áreas integradas: turismo, arqueologia e paisagismo.
ARQUEOLOGIA
O conjunto arqueológico tem um grande valor histórico por ser a primeira fábrica romana de salga de peixe identificada no estuário do Tejo. O projeto prevê a musealização das Cetárias Romanas (tanques), que há cerca de três décadas foram classificadas como imóvel de interesse público. É uma área extensa e apenas parte das escavações vai ficar visível, com a proteção de um pavimento de vidro.
TURISMO
O projeto vai potenciar a fruição das paisagens panorâmicas, que vão desde a baía do Seixal até quase a foz do Tejo, com uma magnífica vista frontal para Lisboa. Uma escadaria a ser construída na margem do rio vai proporcionar um ambiente agradável, contemplativo e que permite ver Lisboa com um olhar mais apurado.
PAISAGISMO
A área vai ser reorganizada em termos viários e pedonais. A pensar no bem-estar das pessoas, está previsto o plantio de árvores, a instalação de mobiliário urbano e a criação de um passeio panorâmico. A requalificação das estruturas de saneamento e das redes de gás, telecomunicações e eletricidade vai modernizar os sistemas atuais.
AGORA
DEPOIS
Fábrica Romana de Salga de Peixe de Cacilhas
• Período de laboração estimado entre o Século I a.C. até meados do século I d.C.. • Tem seis cetárias, tanques usados à época dos romanos para a salga de conservas e molhos à base de peixe. • Os vestígios foram identificados em 1981. • Foi classificada como Imóvel de Interesse Público em 1992. • Nome da obra: Cacilhas-Tejo – Visualização das Salgas Romanas e Qualificação do Circuito
Turístico do Tejo.
SESSÕES PÚBLICAS DE ESCLARECIMENTO
Projetos apresentados e discutidos:
• Requalificação das Praças Gil Vicente e MFA • Praça MFA – Abertura da rotunda • Praça Gil Vicente – Requalificação da rotunda • Criação - Corredor BUS, via ciclável, passadeiras semaforizadas e mais estacionamento • Rua de Olivença como espaço pedonal • Rua de Olivença – Aberta ao trânsito • Requalificação da Rua Fernão Lopes e Largo Gabriel Pedro No dia 9 de junho, na Sede dos Bombeiros Voluntários de Almada e 30 de junho, na Sede dos Bombeiros Voluntários de Cacilhas, decorreram as sessões públicas de esclarecimento e discussão sobre a obra de requalificação do Eixo Central de Almada e zonas envolventes.
A primeira sessão, que foi apresentada pela Presidente da Câmara Municipal de Almada, Inês de Medeiros, pelo Vereador com o pelouro da Rede Viária, Logística e Frota, Miguel Salvado e pelo Diretor Municipal de Obras, Mobilidade e Urbanismo, Gabriel Oliveira, destacou-se pela grande adesão e participação por parte dos munícipes, estando assente em três temáticas: os trabalhos de requalificação que estão em execução na rotunda da Praça Gil Vicente e na rotunda da Praça Movimento das Forças Armadas (MFA); o diagnóstico dos desafios identificados e as propostas de resolução, em coordenação com a Metro Transportes do Sul (MTS); as questões inerentes às zonas adjacentes ao Eixo Central e respetivo esquema de mobilidade circundante.
No evento de esclarecimento e discussão de dia 9 de junho, a Presidente da Câmara Municipal de Almada evidenciou a importância da requalificação do Eixo Central de Almada e das zonas envolventes, a fim de contribuir para uma mobilidade melhorada, sustentável e segura para os munícipes, bem como realçou ser necessário pensar a mobilidade no Eixo Central, tendo em conta a complementaridade entre transportes públicos e atendendo à atual realidade a nível de transportes – introdução dos Passes Navegante e o projeto, já aprovado, de conceção dos novos circuitos de autocarros em Almada.