Almada Revista - Julho 2021

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ALMADA

INÊS DE MEDEIROS

A cultura faz-se de diálogos Além da presidência da Câmara Municipal de Almada, Inês de Medeiros responde também pelo pelouro da Cultura. Refere que exercer as duas funções é uma tarefa exigente, mas que a sua ligação à arte, ao longo de toda a vida, tornou a escolha fácil. Faz um elogio aos almadenses, que afirma serem o melhor público para a cultura em Portugal, e segue o propósito de tornar Almada uma referência nas artes performativas. Quando assumiu o pelouro da cultura, identificou

Quais foram as ações mais imediatas para

alguma margem de evolução para o setor?

reorganizar o setor?

Sim. Almada tem uma longa tradição de grandes

A maior dificuldade era a falta de regularidade nos

atividades culturais e é conhecida, a nível nacional,

apoios. Havia um sistema de apoios públicos, mas que

por ter o melhor público de Portugal. É um público muito

não tinha datas de início ou de fim. Ou seja, as estruturas

atento, muito fiel e muito interessado. Naturalmente,

culturais não sabiam quando, como e por quanto tempo

o grande pilar é o Festival Internacional de Teatro,

poderiam ter apoio. Era importante criar regras claras.

que passou a ser o foco. Mas quando cheguei,

Se me pergunta da minha experiência, há uma coisa que

examinando bem, percebemos que, para além do

eu tenho certeza: uma política pública passa por apoiar

festival, era importante conseguir garantir uma maior

a criatividade e criar estruturas de apoio fiáveis e

regularidade e uma maior diversidade. Ou seja, explorar

regulares. A noção de regularidade é muito importante

melhor as potencialidades enquanto grande cidade

porque amplia a possibilidade de surgirem projetos

de todas as artes performativas. Almada vai sempre

diversos e sabemos que isso tem acontecido cada vez

manter a sua marca de cidade do teatro e ainda bem.

mais. Fala-se muito em criar público. Mas só se cria

É muito bom sinal. Temos o maior festival de teatro

público com regularidade, com ações que se prolongam

do país e uma das grandes referências ao nível europeu.

no tempo. Não é com epifenómenos, um evento aqui

Agora é verdade que nós gostaríamos que Almada fosse

e outro ali. É com uma política regular sustentada que

referência para tudo o que é arte performativa. O teatro,

permita às instituições terem um mínimo

a dança, a música, a arte do palco e do contacto direto

de estabilidade.

com o público. E quanto aos equipamentos? Que questões mais chamaram a atenção ao início?

Havia muito para fazer e tem sido feito um trabalho

Com o que nos deparamos? Com grandes problemas

extraordinário a esse nível. O Museu Naval estava

ao nível dos museus. Não tínhamos, e não temos

ao abandono e era importante resolver a questão.

ainda, nenhum museu com a capacidade para ser

A Casa da Cerca, que já tinha sido uma referência

reconhecido enquanto tal, porque não tinham as

absoluta, estava a meio gás e era importante voltar

coleções organizadas, o espólio bem catalogado ou

a dar um novo dinamismo para que reencontrasse a sua

uma regularidade de programação. E também grandes

missão. O Museu de Almada e a Casa da Cidade com

problemas ao nível da arqueologia. Nós temos

vários polos é muito importante ao nível da organização,

um excelente serviço de arqueologia, mas que estava

da regularidade e da programação. Portanto, houve

muito aquém. Aliás, já nem sequer tínhamos autorizações

muito trabalho para fazer com que estes grandes

para fazer escavações. Houve muito trabalho, um

equipamentos culturais pudessem organizar as suas

trabalho quase invisível, no sentido de arrumar as casas,

coleções, ter uma regularidade da programação

os museus, as coleções, retomar as permissões para

e qualificar e diversificar essa proposta.

escavar, desenvolver de novo o projeto do Almaraz, que é provavelmente um dos sítios arqueológicos mais

A estratégia para o setor passa pela descentralização?

importantes da área metropolitana. Era preciso retomar

Foi uma coisa que constatámos de imediato. A atividade

todo este trabalho que de facto não estava feito,

cultural estava muito concentrada nas freguesias

que foi iniciado e depois tinha ficado suspenso.

urbanas, Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas. 10


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