ESTÓRIAS DO MÊS
Uma vez mais, Castelo de Vide vê-se representado pelo seu extraordinário património arqueológico ao ter o privilégio de ser capa de um trabalho de referência na área da Arqueologia Peninsular. Teve lugar no passado dia 22 do corrente mês https://www.youtube.com/watch?v=OrScTu0RUho o lançamento do livro: “GEORG E VERA LEISNER E O ESTUDO DO MEGALITISMO NO OCIDENTE DA PENÍNSULA IBÉRICA. CONTRIBUTOS PARA A HISTÓRIA DA INVESTIGAÇÃO ARQUEOLÓGICA LUSO-ALEMÃ ATRAVÉS DO ARQUIVO LEISNER (1909-1972)”. Obra editada por Ana Catarina Sousa, Filipa Bragança, Fernanda Torquato e Michael Kunst, contando com contributos de 16 autores
e resulta dos resultados de projeto financiado pela Fundação Calouste Gulbenkian. Editada pelo Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (UNIARQ), esta obra foi co-editada pelo Instituto Arqueológico Alemão, delegação de Madrid (IAAM) e pela Direção Geral do Património Cultural (DGPC), tendo contado ainda com o apoio da Direção Regional de Cultura do Alentejo Nesta apresentação estiveram e intervieram várias e importantes personalidades do panorama científico e arqueológico de Portugal e do estrangeiro, cada qual dando inteligente e oportuno contributo para o sucesso deste evento cultural de primordial importância.
Arquivo Leisner
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Design: António Manso / fotos: Secção de Arqueologia de Castelo de Vide e colaboração de Patrícia Martins.
GEORG E VERA LEISNER
Para capa do dito trabalho foi escolhida uma fotografia do casal Leisner junto a uma das antas dos Coureleiros (Freguesia de Santiago Maior, concelho de Castelo de Vide), concretamente aquela que tem a classificação oficial de Monumento Nacional, e que foi realizada no inverno de 1933, aquando da sua primeira visita a estas terras alentejanas. Se tal escolha já nos deixa prenhes de orgulho, mais ficamos pelo facto de antevermos o conteúdo de tal obra porquanto sabemos das investigações levadas a cabo por esses arqueólogos no nosso concelho na primeira metade do século XX, cujos resultados podem ser apreciados na sua distinta e rigorosa obra “Die Megalithgraber der Iberischen Halbinsel: der Westen. Berlin: Walter de Gruyter & Co., 1959”. Este trabalho regista, para o concelho, o inventário de 18 antas, assim como a sua localização e espólio associado. Nunca antes tinha havido um tão completo e rigoroso trabalho de investigação nesta temática, o que abriu portas para trabalhos subsequentes. Muito escreveram, e se escreve, sobre o casal Leisner. Sem procurar ser fastidioso, porquanto estes apontamentos pretendem ser simples e despretensiosos há, no entanto, espaço para enumerar algumas notas que fazem justiça a alguns dos melhores arqueológos que percorreram as nossas terras. Basta pensar nas inúmeras dificuldades que se punham na altura, com o início do Regime Ditatorial em Portugal, as convulsões
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políticas da II República na vizinha Espanha e, posteriormente, a Segunda Guerra Mundial. Viajar no interior do país era só por si uma aventura e chegar junto de grande parte dos monumentos arqueológicos exigia muita vontade e tempo, e
poucos apoios. A língua, a moeda, os contactos e as limitações de ordem técnica (ainda que, pensamos, contornadas pelo facto de Georg ter sido Major do Exército) e científica, baseadas na escassa documentação, fossem eles mapas ou publicações temáticas, assim como os utensílios e ferramentas auxiliares para os devidos registos e pesquisas, seriam uma constante, daí que o seu legado é extremamente precioso e está a ser reconhecido e valorizado. Castelo de Vide sempre soube, como hoje, bem receber e acolher estes “estudiosos” (na altura assim referidos), sendo que na primeira visita do casal foram acompanhados pelo Presidente da Comissão de Iniciativa e Turismo, senhor Alfredo Victor Le Cocq (vide “Jornal O Castelovidense, Ano I, 2ª. série, nº. 18 - 2 de Abril de 1933, pág. 2”), e a população rural também se disponibilizava a colaborar. “(…) E depois há que levar em conta o rigor das suas observações e descrições, imbatíveis para os meios da época. Ana Catarina Sousa atribui este rigor ao facto de ambos serem absolutamente metódicos, associando a disciplina militar de Georg,
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um perfeccionista, à habilidade de Vera, uma desenhadora exímia, para o registo das estruturas – antas, tholos (monumentos de falsa cúpula), hipogeus (grutas escavadas na rocha) - e dos materiais que resultavam das escavações, que estão, na sua maioria, depositados no Museu Nacional de Arqueologia (MNA)”. Lucinda Canelas in https:// www.publico.pt/2015/08/20/culturaipsilon/noticia/ nas-antas-do-alentejo-ja-se-falou-alemao-1705440. Ensejo para comentar que conhecemos pelo menos quatro casais de arqueólogos que em diferentes períodos estiveram e estão a desenvolver trabalhos na área do atual concelho de Castelo de Vide o que não deixa de ser curioso pelo inusitado. Georg e Vera Leisner, Maria da Conceição M. Rodrigues e Diamantino Sanches Trindade, Jorge de Oliveira e Carmen Ballesteros e, no presente, Sara Prata e
Fabián Cuesta-Goméz, com os trabalhos para a Nova Carta Arqueológica do Concelho de Castelo de Vide. Castelo de Vide tem, assim, a propensão de cativar casais de investigadores na área da história e arqueologia, com excelentes resultados fruto de um trabalho aturado, enorme brio, vontade e dedicação e, sobretudo, muito profissionais. No entanto, sublinhar a ajuda, os apoios institucionais, técnicos, logísticos e financeiros do Município, que tem, muito sabiamente, dado colaboração a quem o solicite no sentido de projetar e valorizar o nome de Castelo de Vide. Castelo de Vide, 23 de Abril de 2021. J. Magusto (CMCV)
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