ESTÓRIAS DO MÊS - CONJECTURAS ARQUITECTÓNICAS

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ESTÓRIAS DO MÊS

É sempre em número considerável as pessoas que contumaz têm a vontade e o prazer de quererem sempre saber mais sobre o seu torrão natal. É a parte afectiva consubstanciada nas memórias dos seus antepassados, com estórias e lendas passadas de geração em geração, com o inevitável “filtro” que, invariavelmente, deturpa o conhecimento original. Para os mais devotos, as igrejas são o centro da espiritualidade, de professar a fé, de local de recolhimento, de oração, de manifestações de Paz e de solicitação – quantas vezes – de ajuda Divina. Porque estamos em Período Pascal, faz sentido falar no Património Construído de âmbito religioso em que se incluem as igrejas. Sabemos, que estas pontuam o mapa da vila - grande parte delas edificadas nos sécs. XVII e XVIII - o que diz bem do fervor religioso da população e também, dos muitos sacrifícios feitos para o levantamento, recheio arquitectónico e material das mesmas. A vontade para melhor conhecer e compreender faz com que, cada pessoa, eleve o seu grau de exigência sobre o que lhe é transmitido, procurando a verdade dos factos, se

possível sintetizados, numa mesma obra. É esta a dificuldade… Hesitei quando me propus conceber este singelo artigo. Porquê? Tem como justificação o tema ficar fora daquilo que é a minha aptidão profissional, do escasso conhecimento na área da arquitectura e história de arte e dificuldades em realizar, com ferramentas digitais, propostas fidedignas e esclarecedoras dos levantamentos gráficos sobre a antiga Igreja do Espírito Santo – Castelo de Vide, que é disso que se trata. Mas as dúvidas deram lugar à vontade de esboçar – da forma mais realista possível -, em base da documentação a que tive acesso desse imóvel religioso já desaparecido há mais de cem anos. Neste caso em concreto, pensei na possibilidade de agregar um conjunto variado e disperso de elementos fotográficos e levantamentos em desenho que pudessem ser reveladores dessa “nova” igreja reconstruída em finais do séc. XVI1 ou já no séc. XVII. Foi demolida em 1893, porque ameaçava ruína e já tinha “substituto” à altura: a nova Igreja de Santa Maria da Devesa que nesse ano já estava concluída permitindo, assim, algumas celebrações

Composição com imagens da Igreja do Espírito Santo e a Santíssima Trindade (muito provávelmente proveniente da referida igreja. Arquivo da Fábrica da Igreja Paroquial de Santa Maria da Devesa. Inventário: ES03 de 2010). Estória do Mês - CONJECTURAS ARQUITECTÓNICAS - abril de 2022 1

Design: António Manso / fotos: Secção de Arqueologia de Castelo de Vide e colaboração de Patrícia Martins e Francisco Galão.

CONJECTURAS ARQUITECTÓNICAS


Pormenor de um alçado da igreja (fotografia anterior a 1886). Colecção Municipal.

Pormenor de um alçado posterior da igreja (fotografia anterior a 1886). Colecção Municipal.

religiosas que vinham tendo lugar nesta Igreja do Espírito Santo. Há várias referências bibliográficas sobre esta edificação e seria pouco assertivo estar a reescrever o que já disseram outros autores. Só mesmo a indicação de dois pequenos trechos que dizem da importância dessa estrutura religiosa. Assim:

mais precisa deste imóvel. Na hipótese de um dia se conhecerem novos documentos e/ou se poder averiguar, materialmente e in situ, as fundações ou outros elementos arquitectónicos desta estrutura aí, sim, se fará luz para interpretar, estudar e “reconstruir” à escala. Para terminar, indico que este é sobretudo um exercício, não de adivinhação, mas que pode, eventualmente, servir como pequeno contributo para um melhor conhecimento da nossa história local recente; se situados na Carreira de Cima, não podemos já apreciar as duas grandes igrejas –Santa Maria da Devesa e Espírito Santo – cada qual, digamos, localizadas nos extremos dessa artéria, contrariamente aos nossos antepassados que viveram entre 1873 (abertura solene da primeira) e 1893 (demolição da segunda) e que nesses vinte anos viveram essa realidade que é demonstrada por fotografias da época.

“Tem mais esta vila uma igreja no distrito desta minha freguesia chamada a Colegiada do Espírito Santo, (…) tem altar de Nossa Senhora da Conceição, que é da irmandade dos militares desta praça, (…)”.2 “Na parte exterior da capela da Nª. Sª. da Conceição, a qual existia na aludida igreja, lia-se a data de 1719. Comemorava ela a construção da capela feita a expensas do regimento da praça (…)” 3 Podemos considerar que a igreja teria uma volumetria considerável, sendo das maiores da vila e, como refere César Videira, que ainda a conheceu, “assemelhandose em tamanho e gosto arquitectónico às de S. João e S. Tiago.”. Em anexo, indico alguma bibliografia que pode interessar aos leitores. O que considero importante neste artigo é, sobretudo, um conjunto de imagens (fotografias e plantas da antiga vila) que pude recolher e nos permitem ter uma ideia

Igreja vista da Carreira de Cima (fotografia anterior a 1893). Colecção particular.

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1 TRINDADE, Diamantino (1989) - CASTELO DE VIDE – ARQUITECTURA RELIGIOSA. Subsídio para o estudo das riquezas artísticas de Portugal. Vol. I. 2ª. edição. Câmara Municipal de Castelo de Vide. 2 BAPTISTA, João Aires (1758) –MEMÓRIAS PAROQUIAIS – CASTELO DE VIDE (SANTA MARIA DA DEVESA). Memória nº. 222, volume 10, folhas 1461 a 1489) III Freguesia de Santa Maria da Devesa. DGARQ/TT. Lisboa. 3 VIDEIRA, César (2008) – MEMÓRIA HISTORICA DA MUITO NOTAVEL VILLA DE CASTELLO DE VIDE. Edições Colibri e CIDEHUS. p. 97.

Igreja vista do castelo (fotografia de 1890). Colecção Municipal.


OUTRAS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: CARVALHO, Rosário Salema de (2006) - IGREJA MATRIZ DE CASTELO DE VIDE DE SANTA MARIA DA DEVESA. Câmara Municipal de Castelo de Vide . 1ª ed..

Castelo de Vide, 7 de Abril de 2022. João F. A. Magusto (Secção de Arqueologia - Câmara Municipal de Castelo de Vide)

REPENICADO, António Vicente Raposo (1965) – RELAÇÃO DE SUCESSOS HISTÓRICOS, NOTÍCIAS E ACONTECIMENTOS POLÍTICOS, ADMINISTRATIVOS, SOCIAIS E OUTROS DA NOTÁVEL VILA DE CASTELO DE VIDE. pp. 111.113.

Devesa (fotografia anterior a 1873). Colecção Correia de Carvalho - Castelo de Vide. Fonte: https://fontedavila.org/album,86,cat,37.aspx

Devesa e alçado posterior da igreja (fotografia anterior a 1873). Colecção Correia de Carvalho - Castelo de Vide. Fonte: https://fontedavila.org/album,86,cat,37.aspx

“PLANTA DA PRAÇA DE CASTO DE VIDE”. Miguel Luíz Jacob. 1755. Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar (GEAEM). Código: 3642_I-3-36-49.

“PLANTA DE CASTELO DE VIDE “(Projecto de fortificação). Nicolau de Langres. Data: (anterior a 1652). Desenhos e Plantas de Todas as Praças do Reyno de Portugal pello Tenente General Nicolao de Langres Francez que serviu na Guerra da Acclamação, pág.15/124. Arquivo: Biblioteca Nacional. Lisboa.

Pormenor, com a localização da Igreja.

Pormenor, com a localização da Igreja.

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“PLANTA DA PRAÇA DE CASTELLO DE VIDE”. Pedro Folque. 1818. Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar (GEAEM). Código: 3641_II-3-36-49.

Pormenor, com a localização da Igreja.

“PLANTA DE CASTELO DE VIDA”. Fortificação. Nicolau de Langres. Data: (anterior a 1652). Desenhos e Plantas de Todas as Praças do Reyno de Portugal pello Tenente General Nicolao de Langres Francez que serviu na Guerra da Acclamação, pág.65/124. Arquivo: Biblioteca Nacional. Lisboa.

Pormenor, com a localização da Igreja.

“PLANTA DA PRAÇA DE CASTELO DE VIDE CITUADA NA PROVÍNCIA DO ALENTEJO”. Anónimo sem data. No verso com legenda a lápis: “Duque de Lafões”. Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar (GEAEM). Cota 3643-II.

Pormenor, com a localização da Igreja.

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“Castello da Vide” - Cópia de aguarela de autor desconhecido - s/data (anterior a 1749). Colecção Municipal (oferta de Joaquim Canário).

Pormenor, com a localização da Igreja.

Pormenor, com a localização da Igreja.

“PRAÇA DE CASTELLO DE VIDE”. Praças do Alentejo. Anónimo sem data. Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar (GEAEM). Cota: 3640 (pormenor).

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“Fantasma” da Igreja no actual Parque João José da Luz, fronteiro à Rua João Frade

Planta.

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Alçado posterior.

Alçado lateral esquerdo.

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Reconstituição hipotética da planta e alçados da Igreja na última fase antes da demolição. Propostas de João F. A. Magusto (SACMCV) em abril de 2022.

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Alçado principal


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