ESTÓRIAS DO MÊS LA OVEJA SORDA
Design: António Manso / fotos: Secção de Arqueologia de Castelo de Vide e colaboração: Patrícia Martins
Porquê este título? Trata-se do nome atribuído ao folheto editado pelo taller de prensa do designado Campo Cultural de Valdastillas, que decorreu entre os dias 1 e 15 de Agosto de 1989. Era um, entre vários projectos, que nos idos anos 80 do passado século foi levado ao efectivo em várias localidades da vizinha província de Extremadura – Espanha. Há precisamente 30 anos, Castelo de Vide fez-se representar em Valdastillas por seis pessoas, sendo que três pertenciam ao ex-Grupo de Arqueologia de Castelo de Vide. O convite surgiu em resultado das boas relações institucionais e de amizade entre o Município de Castelo de Vide e Maricruz Ollero, ao abrigo dos programas culturais transfronteiriços, cujo intercâmbio de jovens teve início em 1985 quando vários jovens do nosso Município estiveram em Valência de Alcântara. Era sobre esta senhora de enorme simpatia, trato fácil, afável e muito profissional, que recaíam as responsabilidades burocráticas e financeiras da organização e acompanhamento dos jovens participantes nos ditos Campos Culturales de Extremadura, no âmbito das iniciativas levadas a cabo pela Junta da Extremadura para as actividades culturais e de tempos livres. Expressando com exactidão a realidade dos factos, recordo que as peripécias e os contratempos foram alguns, assim como alguns foram os motivos para preocupações como o ocorrido logo no primeiro dia. O Sr. Francisco Tomé, condutor do Land Rover do Município, não tomou o rumo mais directo de Plasência para essa localidade e foi o serpentear e deambular pelos maciços montanhosos do Valle del Jerte. Acresce que um dos elementos da comitiva adoeceu, facto que nos colocou em sobressalto e, também, chegados à localidade, fomos informados que tinha deflagrado um incêndio na Serra de Castelo de Vide. Tudo foi superado em pouco tempo, depois da feliz e integral recuperação do nosso camarada e ao sabermos notícias da nossa vila. Para memória futura fica, também, o episódio protagonizado pelo ti Hilarião Carriça, homem bom e humilde que, na ocasião, com colegas nossos e outros participantes do Campo de Estória do Mês - LA OVEJA SORDA - Agosto de 2019 1
Trabalho de Arqueologia que estava a decorrer no castelo de Castelo de Vide, foram convidados a visitar-nos em Valdastillas e saborear uma fabulosa paella. Numa situação anómala, viramse a pernoitar na localidade ou no autocarro, na maneira possível, sem o mínimo de conforto, dado que a referida viatura avariou quando se preparavam para regressar e já com as pesetas gastas no telefone público para contactar a Câmara Municipal de Castelo de Vide ou alguém desta vila. A intenção era dar conhecimento do sucedido ao Rancho Folclórico de Nossa Senhora da Alegria, que no dia seguinte tinha saída programada para um Festival. O Hernâni Sarnadas contou que fez a coleta pelos passageiros e “tratou” de gastar as pesetas sem resultado útil. Então o ti Larieno (na nossa afamada pronúncia), já de idade avançada e pouco habituado a estes contratempos, reconhecendo a improvável resolução do caso, já com os nós dados nas quatro pontas do lenço colocado na cabeça e preparado para pernoitar no autocarro, na sua simplicidade, diz para o Sr. Sebastião Diogo, motorista do autocarro: ”- Óh sobrinho, estes espanhóles sam uns ladrons. Já gastámos as pesetas todas e não telefonámos nem saímos daqui”. “- Pois é, anda aqui um indivídiu perdido neste fim do mundo, neste vale da pastilha…” retorquiu, exasperado, o motorista. De manhã cedo verificámos que havia malta a dormir no telhado do edifício onde estávamos instalados e noutros locais menos próprios ao descanso nocturno. Num ambiente rural e em zona serrana, todos os participantes dispuseram-se a “encetar compromissos” para as actividades que estavam programadas: colaborar na realização da obra de uma piscina fluvial, limpeza das bermas da estrada principal de acesso à localidade, actividades para crianças, oficinas de artesanato, interacção com a população, formação e registos fotográficos, edição diária de folheto informativo e outros.
Nestes trabalhos, em que era possibilitada a escolha, percebeu-se a forma descomplexada de estar, a dinâmica e empenho dos monitores o que, de uma forma geral, se traduzia por aquela máxima de “trabalho é trabalho, conhaque é conhaque”. Nós, portugueses, procurámos corresponder e, penso, saímo-nos bem. Além do horário laboral houve tempo, também, para usufruir do convívio e confraternização próprios dessas organizações. As pesetas trocadas por escudos foram basicamente gastas nos gins digeridos ao serão, dado não existirem locais para outros investimentos. Também fizemos parte da equipa de futebol de salão de Valdastillas que participou num torneio na vizinha localidade de Piornal (ver notícia na Estória do Mês - Abril de 2018). No folheto número 7, página 2, de 11 de Agosto de 1989 há uma entrevista ao Pedro Mendonça abordando várias questões relacionadas com o Campo Cultural. Registamos a última questão que lhe foi apresentada e em língua castelhana tal como foi impressa para não incorrermos em erros de tradução: (…) “Algún mensaje más que quisieras decir aqui? Pienso que la presencia del campo de trabajo en Valdaltillas influirá en el pueblo. Es una pena que no se realicen más campos en lugares como éste. Con seguridade hemos ganado una riqueza cultural más amplia y también estoy convencido de que algo permanecerá en la memoria de los que se quedan y en la de los que se van.” Registe-se este singelo testemunho particular de vivências de outrora que poderão ser rematadas pelas memórias dos restantes companheiros. A saber: Ana Raimundo, António Pita, João Caldeira, Maria José Coimbra e Pedro Mendonça.
Castelo de Vide, 06 de Agosto de 2019. J. Magusto CMCV 2 Estória do Mês - LA OVEJA SORDA - Agosto de 2019
A fotógrafa Ana Raimundo
Casa Típica de Valdastillas - 1989 (arquivo particular)
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