ESTÓRIAS DO MÊS ARTES(ANATO)
Compreensivelmente, reconhece-se que até há duas décadas o trabalho de composição gráfica/artística, assim como os desenhos/levantamentos de imóveis e projectos de arquitectura assentavam em tarefas ditas manuais em base da utilização de componentes com suporte físico, como sejam: papel, lápis, borrachas, tintas, porta-minas, canetas de tinta da china, escantilhões, letras e números de decalque… Também este Serviço Municipal utilizava os referidos utensílios para a concretização dos mais variados documentos desde o desenho de estruturas e objectos arqueológicos, levantamentos de imóveis de interesse histórico/arqueológico, desenhos de âmbito cartográfico mas também a elaboração de cartazes informativos, painéis relativos a exposições, periódicos, roteiros, proposta de medalhística, cartões de boasfestas, programas de eventos municipais (até rótulos para garrafas de vinho!!), esboços/caricaturas de personagens, etc.. Exceptuando os desenhos técnicos de arqueologia e cartografia tudo o mais era criatividade pura e simples sem que tal nos fosse exigido. Acrescentaria: muita vontade mas modestos resultados. Importa acrescentar que nenhum dos elementos ligados ao ex: Grupo de Arqueologia de Castelo de Vide possuía formação especifica ou rudimentar em Belas-Artes, artes gráficas ou desenho artístico mas tal nunca foi impedimento para se representar e apresentar diversos documentos, já antes indicados. Não nos sentindo diminuídos atendendo, também, aos condicionalismos técnicos e económicos dessas últimas décadas do passado século e daí, sem quaisquer tipo de complexos, apresentarmos em anexo algumas dessas obras.
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A utilização de escantilhões, letras e números de decalque era muito comum, assim como a necessária!!?
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aptidão artística para dominar lápis, canetas de tinta da china e outras “aguarelas”. Digamos que, por um ou outro motivo, nem sempre se conseguia ir de encontro ao desejado mas a vontade, o esforço e a satisfação no empreendimento estavam lá. Ensaios rudimentares, pouco planeados e com fraca qualidade artística iam compondo um rol de informações que, basicamente, chegavam à população do concelho. Em raras excepções se encomendava trabalho completo a tipografias… Veja-se o caso do folheto A Sacada. É paradigmático e fabuloso. Também aqui são muitas raras as fotografias apresentadas recorrendo o conselho editorial à
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apresentação de desenhos e enquadramentos geométricos personalizados.
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E assim, nesse século XX pude este Serviço organizarse em termos de planeamento, definir objectivos e apresentar – publicamente ou não – alguns desenhos que iam subsidiando as iniciativas levadas a cabo pelo ex: G.A.C.V. e da Câmara Municipal.
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As tecnologias digitais vieram revolucionar e alterar quase tudo o que antes se fazia. No presente já não é necessária aquela “habilidade” manual – treinada ou natural – que permitia que os traços, letras e números figurassem em folha limpa e exemplarmente impecáveis ou realização de cópias perfeitas, para papel, do que se desenhava. Já se dispensa, em larga medida, o estirador, a tinta, a bata e toda aquela panóplia de objectos antes indicados.
“A tecnologia também passou por um período de intensa evolução com um profundo impacto na sociedade e, consequentemente, na produção gráfica. A revolução digital veio massificar o uso de computadores, numa primeira instância, e permitir o crescimento exponencial da internet verificado a partir de 1993. A introdução de software digital de composição gráfica veio desmaterializar os suportes
de conceção e, consequentemente, possibilitar novos layouts, nunca antes possíveis devido a limitações técnicas. Com a desmaterialização da tipografia e a passagem de caracteres de chumbo para pequenos programas digitais, as composições passaram a permitir a justaposição e a sobreposição de fontes (…) O discurso gráfico passou a ser caracterizado pelo seu ecletismo e pluralismo.” (Coelho, 2013, p. 56).
Castelo de Vide, 02 de Maio de 2023. João F. A. Magusto (Secção de Arqueologia da Câmara Municipal de Castelo de Vide).
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Desenho que serviu de capa para o “Roteiro pelo Património Histórico-Ambiental do concelho de Castelo de Vide” Secção de Arqueologia da Câmara Municipal de Castelo de Vide. 2003.
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António Pita
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