Montijo Hoje - Junho 2020

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Montijo Hoje I N F O R M A Ç Ã O

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2020 II SÉRIE

M U N I C I P A L

Na linha da frente


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JUNHO 2020

Proteção Civil

Câmara apoia bombeiros em 166 mil euros 4 Entre Nós Capa Serviço de Pneumologia Hospital N.ª Sra Rosário Maio 2020

João Rodrigues 9 Associativismo

Apoio excecional ao movimento associativo 10

Covid-19 Ficha Técnica Periodicidade

Testes nos lares de idosos e bombeiros 13

Bimestral Propriedade Câmara Municipal do Montijo Diretor Nuno Ribeiro Canta, Presidente da Câmara Municipal do Montijo Edição Gabinete de Comunicação

Investimento

Reabilitação EB Joaquim de Almeida 14

e Relações Públicas Colaboração João Rodrigues Impressão WGROUP Depósito Legal 376806/14

Especial

Na Linha da Frente 16-29

Tiragem 30 000 ISSN 2183-2870 Distribuição Gratuita

A realização, impressão e distribuição do Montijo Hoje cumpriu todas as orientações da DGS relativas à covid-19

Mobilidade

Ciclovia Montijo Pinhal Novo 30


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e d i t o r i a l

Juntos Somos Mais Fortes os primeiros meses do ano de 2020, os montijenses foram confrontados com uma pandemia N sem precedentes, que ninguém podia prever, ante-

cipar ou explicar. De imediato, fomos chamados a tomar medidas para travar a transmissão do coronavírus, com o confinamento das populações, com o encerramento da economia, com a paragem da vida social, circunstâncias enfrentadas pelos montijenses com elevada serenidade, coragem e solidariedade, quer perante a crise sanitária que se abateu sobre o mundo, quer perante a luta pela vida. Lembramos aqui todos os montijenses que lutaram pela vida contra os efeitos negativos da COVID-19. O que somos hoje como concelho e como cidade depende, em larga medida, do contributo que deram os montijenses para ultrapassar os momentos mais difíceis da nossa História e garantir a nossa identidade. O Montijo não esquece, nem pode esquecer, a solidariedade e o sacrifício dos montijenses nesta pandemia, e por isso lhes presta uma palavra de gratidão. A luta contra a pandemia não está terminada. Continua, agora na fase de desconfinamento, a ser uma luta permanente, exigente e difícil. Montijo mantém o seu cometimento nessa luta, acompanhando os esforços do Serviço Nacional de Saúde, apoiando as necessidades dos mais vulneráveis, garantindo refeições quentes a quem precisa, assegurando medidas que salvam vidas nos lares de idosos e nas instituições de apoio a crianças com necessidades especiais. Na fase de desconfinamento, a cidadania e responsabilidade perante os outros e perante nós próprios são fatores determinantes para o sucesso no combate ao novo coronavírus. E neste campo, os portugueses e, naturalmente, os montijenses têm dado uma resposta exemplar, elogiada em todo o mundo. Fomos e temos sido, enquanto comunidade, conscientes e responsáveis no cumprimento das medidas de confinamento decretadas, primeiro pelo Estado de Emergência, e agora, pela Situação de Calamidade e pela fase de desconfinamento, que continua a exigir o exemplo cívico dos cidadãos. Desde o primeiro momento, que a Câmara Municipal do Montijo esteve empenhada na adoção de medidas adequadas e proporcionais para responder à crise sanitária. São disso exemplo o teletrabalho nos serviços municipais não essenciais, a desinfeção de ruas, a distribuição de máscaras aos munícipes através dos serviços municipais, das juntas de freguesia ou do comércio local, o apoio financeiro ao Centro Hospitalar Barreiro Montijo para que fosse possível fazer testes aos

utentes das urgências, uma decisão essencial para controlar a infeção em ambiente hospitalar. Aliás, a autarquia, em conjunto com os parceiros da Rede Social, avançou com políticas de apoio aos montijenses dos grupos de maior risco ao novo coronavírus. Falamos, naturalmente, dos idosos, e, sobretudo, dos idosos institucionalizados. Por isso, decidimos apoiar financeiramente a realização de testes de despistagem nos lares da rede pública solidária, numa primeira fase, e depois em parceria com o Governo, a segurança social e a Área Metropolitana de Lisboa, alargámos os testes de diagnóstico aos lares de iniciativa privada. Realizamos, igualmente, testes aos corpos de bombeiros de Montijo e Canha. Nunca deixámos faltar nada a quem precisa, nos lares de idosos, nas forças de segurança, nos bombeiros e nos serviços essenciais municipais. Recentemente, decidimos novos apoios financeiros, à Cercima para instalar um túnel de descontaminação, proporcionando mais segurança sanitária a trabalhadores e a crianças com necessidades especiais, à Casa do Povo de Canha para aquisição de uma viatura de reforço ao apoio domiciliário aos idosos, aos Bombeiros Voluntários do Montijo e de Canha para aquisição de ambulâncias de socorro aos montijenses. Escolhemos também salvar vidas com novos apoios financeiros para a instalação de equipamentos de segurança nas visitas dos idosos nos lares, a que chamamos “caixa das emoções”, na União Mutualista Nossa Senhora da Conceição, na Santa Casa da Misericórdia do Montijo e na Santa Casa da Misericórdia de Canha. A crise sanitária arrastou uma crise socioeconómica sem precedentes, esta última exige respostas públicas, assim, em tempo, decidimos um conjunto de medidas municipais de apoio social às famílias e de apoio às micro, pequenas e médias empresas do concelho. Recusamos ficar reféns do vírus, queremos encontrar respostas para dinamizar a economia, combater o desemprego, a pobreza, a exclusão, o racismo. Decidimos isentar as rendas das habitações sociais, dinamizámos uma Linha Social de Apoio gratuita para emigrantes, fornecemos refeições quentes às crianças e famílias mais vulneráveis e colocámos em vigor a fatura social da água. Isentámos o comércio local e as pequenas e médias empresas das taxas municipais; criámos uma linha financeira de apoios excecionais ao movimento associativo cultural e desportivo; alargámos excecionalmente a área das esplanadas, para apoiar o comércio local e a retoma económica; estamos a apoiar os comerciantes de rua com campanhas de

promoção, com sessões de esclarecimento, com investimento na valorização do espaço público. Hoje, mais que nunca, é fundamental mantermos a união, estarmos próximos e manter parcerias estratégicas na resposta à pandemia. Temos de ser capazes de continuar juntos a construir novos horizontes de esperança para Montijo e, sobretudo, para o povo montijense. Nesta pandemia estamos a salvar vidas, é verdade, mas temos também de garantir o emprego pelo crescimento económico e pelo investimento e, assim, assegurar a coesão social. Temos de manter a lucidez e o discernimento sobre o que é preciso realmente fazer. Continuamos a trabalhar, ao lado dos montijenses, na luta contra uma pandemia que é, também, um combate contra o medo e a favor da esperança. Temos de continuar juntos na luta contra a pandemia e na defesa do Montijo e dos montijenses. A nossa maior riqueza são as pessoas, são os montijenses, são as mulheres e os homens que, com o seu trabalho, dão o nosso progresso e prosperidade futura. Deixamos, por fim, uma palavra de solidariedade e gratidão aos trabalhadores e chefias municipais, aos profissionais do Serviço Nacional de Saúde, aos trabalhadores essenciais e a todos aqueles que, desde o primeiro momento, estiveram na Linha da Frente, e, sobretudo, a todos os montijenses que resistem hoje à pandemia e permitem continuar a dar esperança ao Montijo. Juntos somos mais fortes!

Nuno Canta Presidente da Câmara

Fomos e temos sido, enquanto comunidade, conscientes e responsáveis no cumprimento das medidas de confinamento decretadas, primeiro pelo Estado de Emergência, e agora, pela Situação de Calamidade e pela fase de desconfinamento, que continua a exigir o exemplo cívico dos cidadãos.


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Proteção Civil

Câmara apoia bombeiros em 166 mil euros A

Câmara Municipal do Montijo apoiou em mais 166 mil euros às duas corporações de bombeiros voluntários do concelho. Aos Bombeiros Voluntários de Canha foi concedida uma verba de 106 mil euros para aquisição de um veículo de combate a incêndios,

que já se encontra em construção. A viatura destina-se a substituir outra que está ao serviço da corporação há quase 34 anos. Esta decisão procura dotar, atempadamente, a corporação de um veículo indispensável para a época de fogos florestais, representando um reforço nos meios

Santa Casa da Misericórdia de Canha

ao serviço da defesa e salvaguarda das populações. Por sua vez, os Bombeiros Voluntários do Montijo recebem 60 mil euros (5 mil euros por mês) para a criação de um Piquete de Prevenção Permanente. Este apoio tem efeitos retroativos a janeiro de 2020 e é realizado através de adenda ao protocolo de colaboração existente entre a instituição e o município. O Piquete de Prevenção Permanente será composto por cinco bombeiros que possam intervir e responder ao socorro às populações no período noturno, feriados e fins de semana. Estes dois apoios fortalecem os meios humanos, materiais e operacionais das corporações de bombeiros voluntários do concelho, numa época em que, também, estas instituições enfrentam dificuldades na obtenção de receita devido à covid-19, pois o transporte de doentes não urgentes encontra-se praticamente parado. Ao longo dos últimos anos, a câmara municipal tem assumido uma política ativa no apoio aos agentes de proteção civil do concelho, em particular aos bombeiros, através do reforço financeiro dos protocolos de cooperação, do financiamento das equipas de intervenção permanentes e de diversos apoios financeiros para aquisição de viaturas e ambulâncias.

Financiamento de 70 mil euros para obras no lar de idosos A

Santa Casa da Misericórdia de Canha vai realizar obras na Estrutura Residencial para Idosos, através de um apoio financeiro de 70 mil 997 euros concedido pela Câmara Municipal do Montijo. As obras de beneficiação resultam de exigências da Segurança Social e traduzem-se na remodelação do espaço interior do lar de idosos, tendo em vista obedecer a regras de segurança, assim como à redistribuição de espaços para os utentes. Com a intervenção, a Santa Casa de Canha aumenta a capacidade desta resposta, em virtude de alguns quartos passarem a ter

três camas e de serem criadas mais duas salas de convívio. A necessidade deste apoio torna-se ainda mais premente considerando as medidas extremas que a instituição tem vindo a tomar face à covid-19. Essas medidas, que passam pela domiciliação dos colaboradores na instituição para reduzir o risco de contágio, pelo alargamento de capacidade de camas para apoio ao Serviço Nacional de Saúde e à Segurança Social e, ainda, por diversas medidas de contenção, justificam-se pelo momento vivido, mas podem agravar a sustentabilidade da instituição.


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46.º Aniversário 25 de Abril

Pandemia centra atenções na sessão comemorativa

Cultura online no 25 de Abril A

pandemia de covid-19 transformou as plataformas digitais no palco das comemorações da Revolução dos Cravos, com a cultura a ser uma das protagonistas principais. No dia 24 de abril, no Facebook do CinemaTeatro Joaquim d’ Almeida (CTJA) emitimos a 2.ª parte do espetáculo As canções da minha vida, de Fernando Tordo com a Banda da Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro; no dia 25 de abril, no Facebook do Município apresentámos a estreia online do concerto Emoções de Abril - do longe se faz perto da Escola de Artes Sinfonias e Eventos; e no dia 26 de abril, novamente no Facebook do CTJA, recordámos o espetáculo Liberdade, Minha da autoria de Fábio Simões e produzido pela United Visionary Arts. Mesmo de outra forma, mesmo à distância relembrámos todos aqueles que lutaram pela democracia em Portugal e comemorámos a liberdade e os valores de Abril.

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oi ao som de Grândola, Vila Morena, cantada na varanda dos Paços do Município do Montijo pelo fadista montijense Tiago Correia, que abriu a Sessão Comemorativa do 46.º Aniversário do 25 de Abril. As medidas de distanciamento social face à covid-19 impediram a sua realização no Salão Nobre, pelo que a Câmara Municipal do Montijo optou pela transmissão online através do facebook municipal. A convite da câmara, a presidente da Assembleia Municipal e os representantes dos partidos políticos com assento neste órgão gravaram mensagens evocativas do 25 de Abril, onde as notas dominantes foram o combate à covid-19 e o imperativo, hoje mais que nunca, de defender a liberdade e a democracia. Da intervenção do presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta, destacou-se a mensagem de esperança e confiança no combate ao medo provocado pela pandemia: “não vivemos tempos fáceis, mas não devemos cair em pessimismos antidemocráticos ou em populismos antieuropeus. Sem

ficarmos reféns do vírus, temos de ser capazes de voltar a crescer, a investir, a viver com esperança e a dar futuro a todos nós. Para isso é obrigatório continuar a atrair investimento privado para o Montijo, seja através da agroindústria, da reabilitação urbana ou do novo aeroporto”. Nuno Canta relembrou as transformações e a evolução do país após o 25 de Abril, aludindo ao Serviço Nacional de Saúde, à Escola Pública, ao poder local democrático e ao papel das mulheres na sociedade. “Temos de continuar a afirmar os princípios que sustentam a nossa democracia: responsabilidade política; tolerância; solidariedade e coesão social, que em tempos de crise precisam de ser reforçadas; desenvolvimento e investimento para termos horizonte de esperança e futuro”, disse. A intervenção da presidente da Assembleia Municipal, também, teve como pano de fundo a democracia, a liberdade e a pandemia do novo coronavírus. Catarina Marcelino falou do Serviço Nacional de Saúde “que cuida de todos”, do

sistema de Segurança Social “que protege todos” e do poder autárquico democrático “que é hoje ainda mais importante”, relembrando o papel da câmara municipal e das juntas de freguesia do concelho “que estão ao lado da população nesta luta” contra a covid-19. “É a liberdade que nos permite combater esta pandemia porque somos livres de ter a informação necessária para esse combate, para que possamos ficar em distanciamento e nos protegermos a nós e aos outros. Hoje celebramos o legado dos homens e mulheres que combateram a ditadura e que nos dão a responsabilidade de, em tempos que não vão ser fáceis, defender intransigentemente a democracia”, concluiu. Para além de Nuno Canta e Catarina Marcelino, a sessão comemorativa contou com as intervenções de Carlos Ferreira (CDS-PP), Ricardo Caçoila (BE), Pedro Vieira (PSD), Carlos Jorge Almeida (CDU) e Emanuel Martins (PS). No final, novamente na varanda dos Paços do Concelho, Tiago Correia entoou o Hino Nacional.

Cancelamento das Festas Populares de S. Pedro

D

evido à pandemia de covid-19, a Câmara Municipal do Montijo decidiu cancelar as tradicionais Festas Populares de S. Pedro. A decisão foi formalizada, por unanimidade, na reunião de câmara de 29 de abril. Em consonância com a Comissão das Festas Populares de S. Pedro e a Paróquia do Divino Espírito Santo, a autarqia optou, assim, pelo cancelamento das festividades, tendo em conta as orientações das autoridades de saúde relativas à realização de eventos potenciadores da concentra-

ção de grandes aglomerados de pessoas. A edição de 2020 já tinha data marcada para 25 de junho a 1 de julho. Tinha, aliás, mais um dia de festa do que é habitual. As Festas Populares de S. Pedro são o principal evento cultural e turístico do Município do Montijo, reunindo centenas de milhares de pessoas nas ruas da cidade, sendo um momento de grande tradição cultural que transporta a identidade da cidade do Montijo e a sua ligação ao Rio Tejo e à comunidade piscatória.


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INVESTIMENTO

Requalificação do Saltitão A

creche-infantário O Saltitão, no Bairro do Mouco, foi alvo de uma profunda requalificação do espaço, executada pela Câmara Municipal do Montijo com o objetivo de reforçar e qualificar a resposta social desta instituição particular de solidariedade social. O momento simbólico de inauguração das obras de requalificação decorreu no passado dia 28 de maio, com o presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta, a afirmar que “a obra resulta da política municipal de incentivo à Escola Pública e do compromisso assumido

Ação Social

com a instituição, às crianças e os pais”. O conjunto dos trabalhos realizados incluiu a melhoria das instalações sanitárias do résdo-chão e, fazendo o aproveitamento da cobertura, a ampliação das instalações através da construção de duas salas no primeiro piso e substituição da respetiva escada de acesso, reparação de pavimentos e colocação de isolamento térmico. O infantário O Saltitão, uma instituição particular de solidariedade social que funciona em edifício cedido pelo município, tem sido uma

importante resposta social e educacional, ao longos dos anos, junto das crianças e família do concelho. A obra foi executada ao abrigo de uma candidatura municipal ao POR Lisboa 2020, no âmbito do Pacto para o Desenvolvimento e Coesão Territorial da Área Metropolitana de Lisboa, com um custo total de 78.631,64 euros, correspondendo a um investimento elegível de 63.520,00 euros e financiamento FEDER (50 por cento) de 31.760,00 euros, através do POR Lisboa 2020.

Obras de beneficiação na Associação Caminho do Bem Fazer A

Câmara Municipal do Montijo executou obras de beneficiação, num valor global superior a 100 mil euros, no edifício municipal onde está sedeada a Associação Caminho do Bem Fazer. Entre outros trabalhos, foram realizadas a reparação e pintura das paredes exteriores e interiores; e as substituições da cobertura de fibrocimento para painéis com isolamento térmico, da impermeabilização e do revestimento do terraço, assim como de azulejos e louças degradadas nas instalações sanitárias. A Associação Caminho do Bem Fazer é uma instituição particular de solidariedade social localizada no Bairro do Esteval. Entre outras valências, tem em funcionamento uma estrutura residencial para idosos.


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Montijo à Mesa

RESTAURANTE MARRADAS

“O nosso sucesso são os clientes” S

ão dias de recomeço. De regresso aos sabores de todos os dias. De reencontros com os clientes. Dias de apreensão, mas também de confiança no futuro. A lotação do espaço está reduzida para metade (assim obrigam as medidas de contenção da pandemia), mas a simpatia no atendimento e a qualidade da comida tradicional portuguesa continuam bem presentes no Restaurante Marradas. Se esta entrevista tivesse acontecido no início deste ano, o cenário seria bem diferente. A cozinha estaria a trabalhar intensamente para servir os 120 almoços. Os empregados de sala não tinham tempos mortos. Os 100 lugares disponíveis estariam totalmente preenchidos. O ruído das conversas entre clientes, e destes com os empregados, enchia de vida o espaço. A pandemia veio alterar a realidade do Marradas. O número de lugares agora é de “52 com os lugares da esplanada. O que é muito bom. Sabemos de muitos colegas que não conseguem ter esta capacidade”, mas a procura está, ainda, bastante reduzida. “Está a ser um recomeço muito lento. No início de maio, começámos com o take-away, através da Ubereats. O feedback dos clientes foi bom, mas a procura não tem sido suficiente para fazer face aos custos. No dia 18 de maio, reabrimos o restaurante. A adesão tem sido fraca, mas ainda estamos na primeira semana (n.r.: entrevista realizada a 19 de maio)”, afirma Licínio. É nas explicações do teletrabalho, da diminuição do poder de compra das pessoas, do receio pela saúde e segurança e dos novos hábitos “de cozinhar, de levar a refeição para o trabalho”, que Licínio Gaspar fundamenta este recomeço lento, acreditando que

“Quem gosta do Marradas vai voltar, não sei é quanto tempo vai demorar esse regresso. Não vou baixar os braços. Este projeto não é para 10 anos. É o projeto da minha vida” “até setembro, quando as escolas reabrirem e a vida das pessoas retomar mais normalidade, vai ser complicado. Até atingirmos os níveis de confiança, que vivíamos antes da pandemia, vai levar pelo menos um a dois anos, mas acredito que vai melhorar”. Perante uma situação de constrangimentos e dificuldades para todos, o proprietário do Restaurante Marradas assumiu com a sua equipa, de dez pessoas, o compromisso “de tudo fazer para manter os postos de trabalho. Tivemos em lay-off em abril, agora metade continua nesse regime e a outra metade regressou ao trabalho. Vamo-nos adaptando conforme as necessidades. Tenho consciência que o negócio é meu, mas dele dependem dez famílias”. Aberto há dez anos, o Marradas é um projeto pessoal de Licínio e da esposa. O casal, natural de

Aveiro, decidiu fixar raízes no Montijo e tiveram um outro espaço de restauração na Praça dos Descobrimentos (perto das Portas da Cidade). Antes disso, uma larga experiência de gestão na área do sector alimentar de fast-food. “Comprar um apartamento no Montijo foi o melhor que fiz. Estávamos saturados de viver em hotéis, em quartos alugados e do trabalho fechado nos centros comerciais”, confessa. “Vinha muitas vezes ao centro do Montijo para ir ao banco, passava por aqui e pensei sempre que este beco era engraçado para abrir um restaurante. Acabei por conseguir concretizar a ideia. Fomos ouvindo os clientes e fazendo as adaptações necessárias”, conta, referindo que “foram cinco anos de sofrimen-

dade no atendimento e na confeção da comida são, efetivamente, os fatores de sucesso deste espaço. Dos grelhados ao polvo à lagareiro, passando pelas sobremesas caseiras e pelo empregado que já sabe o nosso nome, há qualidade e consistência no menu e no atendimento. Em fase de pandemia há, também, a segurança que o Marradas está a cumprir integralmente as orientações das autoridades de saúde: redução dos lugares na sala, espaçamento de dois metros entre mesas, higienização constante com os produtos mais eficazes que existem no mercado. “Desenvolvi aqui um trabalho de dez anos. Temos uma certa notoriedade no Montijo. Quem gosta do

to e cinco anos de colhimento”, com investimento constante na melhoria e ampliação do espaço. A pandemia de covid-19 veio colocar em pausa este crescimento, num momento desafiador para toda a equipa do Marradas: “é um desafio à nossa maneira de ver as coisas, de nos reinventarmos, de gerir o negócio. Não é fácil ter a equipa na sala e o ritmo de trabalho ser muito inferior ao habitual. As pessoas ficam inseguras, sem saber como será o futuro. É, também, fundamental sabermos gerir as emoções, não perder o foco para não descurarmos a qualidade e atenção com o cliente”. E é nos clientes que “gostam, voltam e trazem mais alguém, que está o sucesso do Marradas”, diz o proprietário. “Os pontos chave é sermos humildes, simpáticos e respeitadores com o cliente. Temos de ser muito bons no que fazemos, tanto na confeção como no atendimento. A isto, acho que juntamos uma boa imagem da casa e um bom ambiente. E ouvimos o cliente, não banalizamos a sua opinião”. Sabemos (até porque quem escreve este texto é cliente do Marradas) que o bom ambiente e quali-

Marradas vai voltar, não sei é quanto tempo vai demorar esse regresso”, afirma Licínio, assegurando que “não vou baixar os braços. Este projeto não é para 10 anos. É o projeto da minha vida”. É o projeto da vida de Licínio e da sua equipa e é, certamente, um espaço que faz parte da vida de muitos de nós. No lento regresso à normalidade, está, também, o voltar aos sítios do costume, aos almoços entre colegas de trabalho, aos jantares especiais, aos momentos à volta da mesa de um restaurante com os amigos. Para tudo isto, sempre com a mesma simpatia e qualidade, o Restaurante Marradas está de “portas abertas à vossa espera”.

RESTAURANTE

MARRADAS

Beco Tenente Valadim n: 5/7, 2870-012 Montijo 210 164 151 2.ª feira a sábado |12h-15h e 19h-23h www.facebook.com/restaurantemarradas/


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Expressões

ILUSTRAÇÃO

João Rodrigues


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Entre Nós ENTREVISTA | JOÃO RODRIGUES

“O desenho é a minha voz” O

seu universo artístico é marcado por figuras, muitas vezes, disformes e, quase sempre, com um ar melancólico. Aliás, a melancolia e o amor andam de mãos dadas nas suas ilustrações, desenhos, murais e aguarelas. João Rodrigues, 44 anos, criou um universo muito próprio e perfeitamente identificável como seu. O desenho é a sua voz. A voz daquilo que sente. A sua forma de passar mensagens e de mostrar a sua visão do mundo. Quando a sua voz chega por intermédio das mãos, João Rodrigues desenha. Desenha porque é a forma de exprimir aquilo que sente: “sempre gostei de desenhar. Por volta dos 23 anos, o desenho começou a interessar-me mais como forma de expressão, de tornar visível o que sentia. Ainda, hoje, os meus trabalhos são muito pessoais. Os bonequinhos que faço sou eu, na maior parte das vezes”. São, exatamente, estes bonequinhos, figuras muitas vezes de anatomia disforme, que são a imagem de marca do trabalho de João Rodrigues. Muitas vezes podem parecer desenhos e ilustrações infantis, mas refletem uma densidade de sentimentos do próprio autor. Timidez. Solidão. Esperança. E, sobretudo, amor e melancolia. “Quando és tímido, mesmo que os outros não achem, encontras outras formas de dizer o que sentes. A minha foi através do desenho. Diziamme sempre que desenhava muito bem. Sei que sou bom, mas tenho limitações e fiz delas as minhas forças. Os meus bonequinhos têm a cabeça grande, muitas vezes um braço maior que o outro, porque percebi que nunca ia conseguir desenhar figuras anatomicamente perfeitas”, conta. O amor. A procura esperançosa de amar alguém. A tristeza e a melancolia de um amor que acabou ou que era impossível. Esta é a base para boa parte dos trabalhos de João Rodrigues. Mas existem, também, os pormenores de uma visão muito própria do mundo. É, por isso, que em muitas das suas obras há flores. Há a Lua ou nuvens. Detalhes, coisas do dia-a-dia, que talvez passem despercebidas à maioria, mas que são fonte de inspiração: “estou sempre a olhar para as nuvens. Parece que o céu é uma tela e que quem está lá em cima, todos os dias, se sente motivado a pintar um desenho diferente. Pode parecer cliché, mas quase tudo à minha volta me inspira a desenhar”. O surrealismo de Magritte e Dali são algumas das suas influências. Tal como os grafitters brasileiros Os Gémeos. A principal de todas, até porque na adolescência ser músico era o principal sonho, foi e continua a ser o grupo The Smashing Pumpkins e o álbum Mellon Collie and the Infinite Sadness, um dos mais importantes discos da banda de Chicago. “Desde sempre que gostei de desenhar, mas o que

gostava mesmo muito era de música. Na altura dos Smashing Pumpkins ouvia as letras, aquilo dizia-me e muito e comecei a ter vontade de exprimir o que me faziam sentir as músicas. Como não tinha jeito para a música, foi através do desenho”, afirma. Audoditada, “já em criança era muito isolado, vivia no meu mundo, a fazer desenhos, a brincar com plasticina”, ao talento que nasceu consigo, João Rodrigues junta a curiosidade: “gosto muito de descobrir.

mais visível nas ruas do Montijo. Na cidade existem três obras da sua autoria, na Rua Almirante Cândido dos Reis e no Centro Cívico do Esteval. Também já participou em exposições promovidas na Galeria Municipal e na Biblioteca. Atualmente, tem em mãos a produção de um mural para uma escola de surf na Ericeira e a ilustração de um segundo livro da cadeia de supermercados Pingo Doce. “Tenho, também, alguns projetos pen-

Tudo o que sei fazer no desenho, murais, aguarelas, ilustração digital é por descoberta. Sou curioso e isso ajuda-me a manter sempre o jogo vivo. Sempre fui assim. Se vejo algo e meto na cabeça que vou fazer, pesquiso, aprendo, experimento e faço”. Há mais de uma década que o desenho e a arte são a sua profissão. “Quando comecei tive um trabalho enorme para a NOS. Fiz o NOS Kids, que eram mascotes da operadora e isso, na altura, deu-me motivação. Tenho tido sempre trabalho. A vida de freelancer não é fácil. Há sempre meses difíceis e depois outros com muito trabalho, mas tem estado a correr bem”. Nos últimos anos, o seu trabalho tornou-se, ainda,

sados que quero propor à câmara e ando a trabalhar num livro infantil escrito e ilustrado por mim. É uma aposta e um dos meus sonhos. Tenho mostrado a amigos e o feedback é muito positivo. Quero avançar com uma edição de autor e espero que as pessoas realmente leiam e gostem”. Nele, certamente, vai encontrar os tais bonequinhos de cabeça gigante, que são uma versão, dizemos nós, mais livre do próprio autor. Aliás, muitos deles usam capacete de astronauta. Talvez estejam lá em cima, no céu, a olhar de forma leve e etérea para o mundo. Quem sabe até senão são eles, os responsáveis por pintar as nuvens que servem de inspiração à arte de João Rodrigues.


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COVID-19

Linha de Apoio Psicológico N

o contexto da atual pandemia de covid19, a Câmara Municipal do Montijo tem em funcionamento uma Linha de Apoio Psicológico disponível para todos os munícipes que necessitem deste tipo de resposta. A Linha de Apoio Psicológico funciona de 2.ª a 6.ª feira, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, através do contacto 917 865 964. Consciente das alterações significativas na vida das pessoas, das famílias e no trabalho, esta iniciativa procura contribuir para promover a resiliência psicológica dos cidadãos, através de uma resposta promotora do diálogo e da verbalização dos problemas/dificuldades, incentivando as pessoas a expressar o que pensam e sentem, recorrendo a métodos de comunicação assertiva, fortalecedora e afetiva.

Linha de Apoio à Vítima A

Câmara Municipal do Montijo, consciente do aumento do risco de violência doméstica em período de isolamento das famílias nas suas casas, associa-se à CIG – Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género para promover a proteção das vítimas deste crime, divulgando linhas de apoio existentes 24 horas por dia, locais de atendimento e conselhos de segurança. Atualmente a estrutura municipal de atendimento Espaço Informação Mulheres, funciona telefonicamente de 2.ª a 6.ª feira, das 9h00 às 12h30 e das 14h00 às 17h30, através dos seguintes números: 917 891 554 e 917 060 714.

associativismo

Apoio excecional ao movimento associativo N

a implementação de medidas de estímulo económico e social em resposta à pandemia de covid-19, a Câmara Municipal do Montijo atribuiu 34 mil e 800 euros a 30 associações do concelho que têm prática cultural e desportiva regular. No total, foram rececionadas 34 candidaturas a este apoio excecional ao movimento associativo, que procura contribuir para, quando a atividade normal for retomada, as associações possam continuar a desenvolver os seus projetos e planos de atividade com os mesmos níveis de qualidade e de projeção, dentro e fora do concelho. Este apoio financeiro excecional foi concedido às seguintes entidades: Sociedade Filarmónica 1.º de Dezembro, Ginásio Clube do Montijo, Academia Desportiva Infantil e Juvenil Bairro Miranda, Clube Olímpico do Montijo, Banda Democrática 2 de Janeiro, Associação para a Formação e Desenvolvimento Desportivo, União Futebol Clube Jardiense, Grupo de Cicloturismo do Afonsoeiro, Associação Náutica Montijense,

Academia Musical União e Trabalho, Associação Batucando, Estrela Futebol Clube Afonsoeirense, “Os Unidos” e A.R.D “Bons Amigos”. Entre as associações que viram aprovadas as suas candidaturas estão, também, o Montijo Basket Associação, Clube de Natação do Montijo, Associação Karate Caminho Ancestral, Rancho Folclórico Juventude Atalaiense, Clube de Judo do Montijo, Clube de Ténis do Montijo, Areias Strong Montijo, Grupo Coral do Montijo, Amodin-Associação Desportiva Nacional, Ateneu Popular do Montijo, Águias Negras Futebol Clube, Associação Gymno-Desportiva do Montijo, APADE – Associação para as Artes, Desporto e Educação, Casa do Benfica do Montijo, Associação Kenshin Ryu Jujutsu e Clube Atlético do Montijo. Monetariamente, os apoios variam entre os 600 e os 1800 euros, correspondendo a 200 euros por mês (meses de abril, maio e junho) por cada modalidade praticada de forma regular no clube, até ao máximo de três modalidades.


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Cultura à distância de um clique C

omo os constrangimentos também podem ser encarados como oportunidades, a Câmara Municipal do Montijo procurou soluções para fazer chegar aos munícipes a sua oferta cultural que passou a estar disponível apenas à distância de um clique. Iniciámos, assim, uma nova forma de comunicar e de apresentar a programação cultural no Município do Montijo, porque continuamos presentes, diariamente a trabalhar para si. Praticamente desde o início destes novos tempos, que estamos a implementar um conjunto de iniciativas online, através dos canais de comunicação do município, em diversas áreas. Exercício físico em casa, com a rubrica Mexa-se pela sua saúde; histórias para os mais novos com a Hora do Conto e Ateliers Infantis Online; promoção do nosso património através da rubrica A Cultura entra em Sua Casa, da oferta do Cinema-Teatro Joaquim d’ Almeida com a rubrica CTJA Revisitado e promoção do livro e da leitura com Vemos, ouvimos, lemos são alguns dos exemplos que se encontram ao seu dispor. Porque queremos que esteja presente, porque acreditamos na mobilização dos montijenses, porque Juntos Somos Mais Fortes, apelamos à participação de todos, para que se juntem a nós e sejam parte ativa da programação municipal.

MERCADO MUNICIPAL

EXPOSIÇÃO

Com o batôn nos dentes A Galeria Municipal do Montijo tem patente a exposição Com o batôn nos dentes: desenho e pintura de Paula Sousa Cardoso e Isabel Sabino, até 31 de julho. Também na História de Arte, o preconceito de género secundarizou o talento e a importância das mulheres artistas, mantendo-as ausentes de museus e espaços de arte, por isso, para terminar o ciclo comemorativo dos seus 20 anos que, tem trazido a público, artistas que fazem parte da sua

Exposição S. Pedro Tradição e Memória A

té 2 de agosto, pode ver no Mercado Municipal a exposição São Pedro – Tradição e Memória. Excecionalmente, este ano, não vamos poder celebrar as Festas Populares de S. Pedro da mesma forma! Contudo, a tradição e as memórias continuam presentes na alma e no coração dos montijenses. Um conjunto de imagens fotográficas e peças de São Pedro que temos vindo a reunir, ao longo das 12 edições da mostra de artesanato Santos na Casa, dá o mote para esta exposição que queremos partilhar consigo. Mercado Municipal | Entrada Livre Horário: 3.ª feira a sábado | 7h00 às 14h00

história, a Galeria Municipal exibe, agora, a obra artística destas duas mulheres. Isabel Sabino tem um riquíssimo percurso artístico e académico. Paula Sousa Cardoso foi vencedora do Prémio Vespeira na VII Bienal de Artes Plásticas Cidade do Montijo. Entrada Livre | Galeria Municipal Horário: 2.ª feira a sábado | 9h00-12h30 e 14h00-17h30* *Só é permitida a presença de duas pessoas de cada vez, sendo obrigatório o uso de máscaras de proteção.


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Modernização

Montijo adere à Chave Móvel Digital A

Câmara Municipal do Montijo vai aderir à Chave Móvel Digital, através de um protocolo de colaboração com a Agência para a Modernização Administrativa que foi aprovado, por unanimidade, na reunião ordinária de 29 de abril. A Chave Móvel Digital é um meio alternativo e voluntário de autenticação dos cidadãos nos portais e sítios da internet da administração pública, funcionado como uma ferramenta tecnológica mais simples e acessível ao cidadão, que assim não precisa de leitor de cartão do cidadão, para utilizar os serviços online do Estado e das autarquias, nem de se deslocar presencialmente aos serviços. Através da associação de um número de telemóvel ou endereço de correio eletrónico ao número de identificação civil (no caso dos cidadãos estrangeiros é utilizado o número de passaporte ou do título de residência), os cidadãos passam a poder assinar documentos, de forma eletrónica e segura.

EXPOSIÇÃO

EXPOSIÇÃO

Cartadas de Cães & Gatos O

Museu Municipal Casa Mora reabriu ao público com a exposição Cartadas de Cães & Gatos, da ilustradora Susana Resende. Patente até 31 de agosto. Na sequência de um convite da editora Apenas Livros, Susana Resende criou um par de baralhos de cartas ilustradas Gatos Baralhados e Baralhos de Cães, para a coleção de Autor em 2018 e 2019. Estes baralhos apresentam, cada um, 54 ilustrações diferentes, a cores, criadas propositadamente para

cada carta, interpretando-as em divertidas e amorosas cartas numeradas e de figuras, com quatro naipes dedicados a uma raça diferente de cães e gatos. Foi uma forma da autora homenagear estes companheiros que tanto contribuem para a nossa felicidade. Entrada Livre | Museu Municipal Horário: 3.ª feira a sábado | 9h00-12h30 e 14h00-17h30*. *Só é permitida a presença de duas pessoas de cada vez, sendo obrigatório o uso de máscara facial de proteção.

Feira Nacional do Porco e Concentração Motard adiadas A

XXV Feira Nacional do Porco foi adiada para o próximo mês de setembro devido à pandemia do novo coronavírus. Mesmo nesta data, a sua realização continua dependente da evolução epidemiológica da covid-19. A Feira do Porco, o maior certame nacional da fileira suína que se realiza de dois em dois anos, estava prevista para os dias 14, 15 e 16 de maio, no Parque de Exposições Acácio Dores, no Montijo. Também a XXVII Concentração Motard do Motoclube do Montijo está, agora, prevista para o segundo semestre de 2020, concretamente para os dias 16, 17 e 18 de outubro. O evento devia ter decorrido de 3 a 5 de abril. Esta alteração ao calendário dos dois eventos, está formalizada com adendas aos protocolos de colaboração com o Motoclube do Montijo e com a Federação Portuguesa de Associações de Suinicultores, que foram aprovadas, por unanimidade, na reunião de câmara de 15 de abril.


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COVID-19

Desinfeção de ruas e espaços públicos N

o âmbito do seu Plano de Contingência relativo à covid-19, a Câmara Municipal do Montijo, através dos Serviços de Higiene Urbana, realiza, regularmente, trabalhos de desinfeção de ruas e outros espaços exteriores. Recorrendo a pulverizadores e a produtos próprios para o efeito, foram e estão a ser desinfetadas várias artérias da cidade, assim como espaços exteriores de estabelecimentos comerciais e de saúde.

Durante este processo, tem existido particular atenção à desinfeção de espaços exteriores junto a farmácias, supermercados e hipermercados, Mercado Municipal, postos dos CTT, bombas de gasolina, postos da GNR e da PSP, centros de saúde e lares. Esta ação está, também, a ser realizada no mobiliário urbano, como os abrigos para paragem de autocarro e os contentores/moloks para deposição de resíduos urbanos.

EXPOSIÇÃO

Câmara apoia Cercima e Casa do Povo de Canha N

o contexto da pandemia de covid-19, a Câmara Municipal do Montijo concedeu apoios financeiros à Cercima e à Casa do Povo de Canha, no valor total de 21 mil euros. O apoio à Cercima tem como objetivo a aquisição e instalação de um túnel de descontaminação nas instalações da associação, no valor de 8 mil euros. Este equipamento permite minimizar os riscos de contágio pelo novo coronavírus, uma vez que reduz em 60 a 70 por cento a carga viral na roupa e equipamentos de proteção individual.

Por sua vez, à Casa do Povo de Canha foi concedido um apoio de 13 mil euros para comparticipação na aquisição de uma viatura para o serviço de distribuição de refeições no âmbito da valência de apoio domiciliário. Tal como muitas outras instituições, com o encerramento dos centros de dia e o isolamento social dos idosos devido ao risco acrescido desta população face à covid-19, também a Casa do Povo de Canha viu redobrar o número de utentes na resposta de apoio domiciliário, contabilizando agora mais de 80 utentes.

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COVID-19

Testes em lares de idosos e bombeiros inda antes da decisão governamental de A realização de testes ao novo coronavírus nos lares de idosos, o Município do Montijo avançou

com financiamento direto de 50 mil euros para a efetivação de 1000 testes nos lares da rede pública/solidária do concelho. O financiamento foi atribuído à União Mutualista Nossa Senhora da Conceição que articulou a realização dos testes de despistagem ao SARS-CoV-2 na sua própria estrutura residencial sénior, assim como nos lares da Santa Casa da Misericórdia de Montijo, da Associação Caminho do Bem Fazer e da Santa Casa da Misericórdia de Canha. Os testes foram realizados aos trabalhadores, nas mudanças de turnos, para garantir que os mesmos não eram fonte de contágio dentro da instituição. Nestes quatro lares não houve indicação de trabalhadores infetados com o novo coronavírus. Para além do Montijo, apenas outro município no distrito de Setúbal tomou a medida de financiar diretamente testes nos lares de idosos, o que permitiu que os testes suportados pelo Governo fossem destinados aos lares privados. Esses testes de despistagem já foram, também, realizados, numa ação articulada entre Área Metropolitana de Lisboa, o Centro Distrital de Segurança Social de Setúbal, o ACES Arco Ribeirinho e a Câmara Municipal do Montijo (Proteção Civil e Gabinete de Ação Social). No total foram realizados 403 testes, nos dias 3 e 4 de maio, junto dos lares de idosos privados, mas também em valências de natureza residencial, como centros de acolhimento, e serviços de apoio domiciliário de instituições particulares de solidariedade social (IPSS). Os restantes 200 testes foram efetuados aos trabalhadores das creches das IPSS. De referir, igualmente, que o Município do Montijo financiou diretamente testes de despistagem ao novo coronavírus para os elementos das duas corporações de bombeiros do concelho (Montijo e Canha).


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INVESTIMENTO

Concluída a reabilitação da EB Joaquim de Almeida Escola Básica Joaquim de Almeida, no BairA ro do Mouco, está com nova cara e novos equipamentos, numa reabilitação que transformou completamente o espaço exterior e permitiu, ainda, ampliar o refeitório. A parte mais onerosa da obra diz respeito à ampliação do refeitório escolar e à requalificação de todo o espaço de recreio, com a colocação de pa-

vimento, de um polidesportivo e de novos brinquedos infantis. No edifício do plano centenário, foram renovadas as instalações com aplicação de novos materiais nomeadamente ao nível da cobertura e da caixilharia, que permitem um aumento significativo do seu isolamento térmico. Para além disso, foi instalado um sistema de geração de energia elétrica

e, também, um sistema solar de aquecimento de águas, que possibilita uma redução do consumo de energia elétrica e também de gás. A reabilitação da EB Joaquim de Almeida teve um custo total de 648 664,65 euros, correspondendo a um investimento elegível de 216.039,86 euros e financiamento FEDER (50 por cento) de 108.019,93 euros, através do POR Lisboa 2020.

EDUCAÇÃO

Canais no youtube para os mais novos A pandemia de covid-19 veio introduzir novas metodologias de trabalho em diversas áreas, incluindo na educação, onde o ensino à distância através, sobretudo, das novas tecnologias foi a solução encontrada para que muitas crianças e jovens continuem a ter oferta educativa. Atenta a esta realidade e assumindo as suas competências em matéria de educação, a Câmara Municipal do Montijo criou dois canais na plataforma youtube para disponibilizar conteúdos curriculares

e de oferta de atividades de enriquecimento curricular. No canal Laboratório de Aprendizagem em Casa são disponibilizados vídeos exemplificativos de algumas das muitas aulas que podem ser ministradas neste espaço, dando a conhecer-se as suas potencialidades e desafiando alunos e as suas famílias a realizarem, em casa, atividades sobre diversos conteúdos curriculares. Já no âmbito das atividades de enriquecimento cur-

ricular, numa parceria com a Banda Democrática 2 de Janeiro, foi criado o canal no youtube Estudo em Casa. À distância de um clique, continuamos, assim, a proporcionar Atividades de Enriquecimento Curricular (AEC’s) aos nossos alunos e alunas, através de conteúdos produzidos diretamente pelos professores das AEC’s ou das suas sugestões de vídeos educativos, que colocariam em prática nas aulas e que, agora, propõem aos alunos que façam em casa com a ajuda da família. .


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COVID-19

Boas práticas na restauração o passado dia 28 de maio, a Câmara MuN nicipal do Montijo, em parceria com a AHRESP - Associação de Hotelaria Restaura-

ção e Similares de Portugal, promoveu uma sessão de esclarecimento focada nas boas práticas no sector da restauração e bebidas, no contexto das medidas de prevenção da covid-19. A sessão decorreu no Cinema-Teatro Joaquim d’ Almeida e contou com cerca de 30 empresários ligados ao sector, assim como pessoas ligadas a associações e coletividades que, nas suas sedes, têm estabelecimentos comerciais (cafés e restaurantes) em funcionamento. No final, os participan-

tes mostraram agrado e satisfação pela iniciativa. O presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta, marcou presença e agradeceu aos empresários o contributo que deram no combate à pandemia, ao encerrarem os seus estabelecimentos ao público, deixando palavras de estímulo e incentivo na presente fase de desconfinamento e no futuro. A secretária geral da AHRESP, Ana Jacinto, fez a sua intervenção através de videochamada, tendo abordado e esclarecido sobre inúmeros pormenores relacionados com a forma como os restaurantes, cafés e similares devem aplicar as orientações das

SOLIDARIEDADE

Montijo a dar tudo Banda Democrática 2 de Janeiro, A Quadrada A ACD e a Somos Peixinho uniram-se e criaram o movimento solidário e voluntário “Montijo a dar tudo,” que está a angariar donativos para entrega de bens essenciais, uma vez por mês, às famílias vulneráveis do território da União das Freguesias de Montijo e Afonsoeiro. Um movimento onde cabem e devem estar todos os montijenses, tendo como objetivo primordial dar resposta a quem mais precisa. No passado mês de maio, foram angariados e doados mais de 1100 produtos alimentares à Santa Casa da Misericórdia do Montijo (Cantina Social), Associação Pontes de Afeto, Grupo Sócio Caritativo do Afonsoeiro, Centro Paroquial do Montijo, Centro de Reformados do Montijo e Associação Caminho do Bem Fazer, que foram, posteriormente, entregues às famílias economica-

mente vulneráveis, que integram a Rede Municipal de Apoio Alimentar. Já se juntaram ao “Montijo a dar tudo” mais de 20 entidades, entre instituições, clubes, associações e empresas do concelho, incluindo a Câmara Municipal do Montijo, que está disponível para os apoios necessários, esperando que a iniciativa possa ser reproduzida nas restantes freguesias do concelho. A campanha de angariação de donativos é exclusivamente em géneros (os produtos devem ter uma validade nunca inferior a 20 dias), não sendo aceites doações monetárias. O local para receber as doações são as instalações da Banda Democrática 2 de Janeiro ou a sede dos Escuteiros 1399 do Afonsoeiro. Para saber mais consulte a página www.facebook.com/montijoadartudo/ Contamos consigo, para colocar o Montijo a dar tudo!

autoridades de saúde na reabertura dos estabelecimentos, no contacto com o público, na organização e segurança dos seus espaços comerciais. Perante as dificuldades originadas pela pandemia e consciente da importância destas empresas e do comércio local no tecido empresarial do concelho, a Câmara Municipal do Montijo está a implementar um conjunto de medidas de apoio e estímulo económico, no qual se insere a criação de um espaço de apoio especializado para as micro, pequenas e médias empresas, que irá continuar a promover este tipo de sessões de informação e esclarecimento.


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Especial

Na Linha da Frente N

ão conseguimos fugir aos chavões do “herói” ou do “na linha da frente”. A verdade é que a originalidade começa a escassear quando se trata de escrever sobre os protagonistas destes tempos desconhecidos. Portanto, esqueça o pormenor da falta de criatividade no título deste Especial e concentre atenção no essencial: nas histórias daqueles que são os nossos heróis mais próximos, que todos os dias saem à rua por si. Mostramos os rostos de algumas pessoas, equipas e instituições que combatem à covid-19 no nosso território ou que, simplesmente, continuaram o seu trabalho nesta realidade nunca vivida. Mostramos momentos e percursos. Contamos as histórias dos profissionais do Centro Hospitalar Barreiro Montijo. Dos agentes de autoridade que sensibilizam para o cumprimento das regras. Dos comerciantes do Mercado Municipal que nunca desistiram. De uma instituição social que é exemplo nacional de boas práticas. Dos trabalhadores municipais que asseguram serviços essenciais. Contamos, também, histórias de outros tempos, onde a semelhança com a atualidade quase parece inverosímil. Pelo meio, há um vasto trabalho do município que importa realçar e dar a conhecer. São estes os nossos heróis. Podiam ser tantos outros. Servem de exemplo, mas sobretudo, queremos mostrar o nosso reconhecimento e agradecimento a todos os que estão na Linha da Frente no combate a este inimigo viral, que invadiu o mundo e as nossas vidas.


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Linha de Apoio Social

Município investe 1 milhão de euros no combate à covid-19

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Desde o início da pandemia de covid-19, a Linha de Apoio Social realizou mais de 430 atendimentos. A linha é gratuita, através do número 800 210 105, e foi criada para apoiar seniores e pessoas mais vulneráveis no decurso da pandemia. Funciona nos dias úteis, das 9h00 às 12h00 e das 14h00 às 17h30. As solicitações dos munícipes são diversas, destacando-se os pedidos para apoio alimentar, a indicação de dificuldades económicas e sociais e os pedidos de informação sobre o pagamento de rendas de habitação social. Se está sozinho e precisa de ajuda ligue para o 800 210 105. Nós estamos aqui para o ajudar!

Covid-19

Autarquia financia Caixa das Emoções A Câmara Municipal do Montijo financiou a aquisição e instalação de equipamentos “Caixa das Emoções” na União Mutualista N.ª Sra da Conceição, na Santa Casa da Misericórdia do Montijo e na Santa Casa da Misericórdia de Canha. A medida permite dotar as instituições de espaços seguros para a visita de familiares aos utentes dos lares de idosos, contribuindo para o combate à covid-19 e para salvar vidas.

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té ao final do mês de maio, a Câmara Mu- da área das esplanadas; a dinamização de ações de nicipal do Montijo já tinha investido, dire- promoção e divulgação do comércio local; a criação tamente, 700 mil euros em várias medidas de um espaço especializado para apoio às micro, de combate à covid-19, tanto no âmbito da crise pequenas e médias empresas; a isenção de rendas sanitária como em respostas aos constrangimentos de concessões municipais ou de contratos de arrensocioeconómicos da pandemia. damentos (lojas, cafés, bancas do Mercado MuniMais de 100 mil euros destinaram-se à realização cipal que estão fechadas, entre outros). de testes ao SARS-CoV-2 nos lares de idosos da No contexto de apoio social às pessoas e famílias rede solidária do concelho, no Centro Hospitalar economicamente vulneráveis, a autarquia procedeu Barreiro Montijo e nas corporaà isenção de rendas de habitação ções de bombeiros. Por intermésocial até 30 de junho; à criação A ação municipal dio de ação concertada com as de linhas de apoio social, psicolótraduz-se num pacote gico, de apoio aos migrantes e às autoridades concelhias de saúde e a Área Metropolitana de Lis- de medidas diversas de vítimas de violência; à confeção e boa, foi também possível testar os entrega de refeições quentes; mantrabalhadores dos lares da rede apoio social e estímulo teve o serviço de refeições escolaeconómico junto das res para os alunos beneficiários privada, dos jardins de infância e outras respostas das instituições pessoas, das famílias e da Ação Social Escolar (escalão particulares de solidariedade soA e B); implementou a Tarifa das empresas. cial. No final de maio, foram exeSocial de consumo doméstico de cutados testes serológicos a 540 água, inclusive abrangendo os tratrabalhadores municipais dos sectores essenciais. balhadores em lay-off; suspendeu os cortes de água Entre os vários investimentos, destaca-se a aqui- e isentou da tarifa fixa de água e de saneamento a sição de batas (68 mil euros), de fatos completos Tarifa Doméstico–Idoso (consumidores detentores de proteção (45 mil euros), de máscaras (136 mil do Cartão Municipal Sénior). euros), de produtos desinfetantes (99 mil euros) Neste amplo pacote de medidas, encontra-se, ou de luvas (14 mil euros), entre outros produtos e ainda, o apoio ao movimento associativo. Foi equipamentos de proteção individual. criada uma linha financeira excecional; apoiadas A ação municipal não se reflete apenas nestes nú- as associações de pais e encarregados de edumeros e na aquisição de equipamentos de proteção cação; e isentadas as instituições particulares de individual. Traduz-se, também, num pacote de me- solidariedade social e demais entidades do modidas diversas de apoio social e estímulo económico vimento associativo da tarifa fixa de água e de junto das pessoas, das famílias e das empresas. Por saneamento. exemplo, a autarquia estima em 100 mil euros a Para lá destas medidas mais concretas, a Câmara perda de receita com a isenção de rendas; em 120 Municipal do Montijo decidiu dar continuidade à mil euros no caso da isenção de taxas; e noutros execução do Plano Municipal de Investimentos, 100 mil euros a receita não cobrada com as altera- procurando contribuir para a dinamização da ecoções introduzidas no tarifário dos SMAS Mntijo. nomia local, tendo igualmente deliberado a manuNa área económica, salienta-se a isenção de taxas tenção da política de redução fiscal como forma de de ocupação do espaço público (como por exemplo apoio às empresas e famílias, incluindo a manutende esplanadas) até ao final do ano; o alargamento ção do IMI Familiar.


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CENTRO HOSPITALAR BARREIRO MONTIJO

As equipas da Linha da Frente D

uas notas prévias: esta reportagem foi realizada no dia 13 de maio. A evolução da pandemia por SARS-CoV-2 é, em muitas dimensões, desconhecida e imprevisível. Portanto, em matéria de números, os dados aqui divulgados podem não corresponder à atual situação epidemiológica. Feito este enquadramento sobre uma realidade dinâmica e mutável, o que vai ler nas próximas páginas pretende ser, sobretudo, um retrato do vasto trabalho desenvolvido pelo Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM) e pelos seus 1800 profissionais que, efetivamente, estão na Linha da Frente deste combate. Uma missão que não é só deles. É de todos nós. Correm muitas vezes contra o tempo, num contrarrelógio para chegar à vitória da vida contra a morte. São heróis nesta luta contra o vírus. Mas também são pessoas. Com emoções. Com medos

e anseios. Com esperança. E, sobretudo, com a segurança, a confiança e a convicção que tudo fazem, diariamente, para tratar, curar…, enfim para prestar à população cuidados de saúde hospitalares de excelência. Antecipação, organização e números Ana Teresa Xavier, Filomena Carneiro e Elvira Camacho são médicas e, simultaneamente, assumem cargos de direção na estrutura do Centro Hospitalar Barreiro Montijo. A primeira é diretora clínica da instituição e admite que “a pandemia instalou-se rapidamente. De um momento para o outro, todo o CHBM teve que se virar para o combate a esta situação, que não sabíamos, nem sabemos como vai ser”. Esta adaptação levou à reorganização do espaço físico e dos serviços, tanto no Hospital do Mon-

tijo como no Hospital Nossa Senhora do Rosário (Barreiro). Levou, igualmente, à adoção de novas metodologias de trabalho, particularmente nos serviços de Urgência, de Pneumologia e de Medicina Interna. Em finais de janeiro, “foi criado um grupo para a elaboração do Plano de Contingência. A partir daí iniciámos o trabalho no sentido da criação de circuitos, de áreas especificas de atendimento deste tipo de doentes, de reforço das práticas de higienização e proteção. Medidas que foram sendo alteradas e atualizadas conforme indicações da Direção Geral da Saúde (DGS)”, acrescenta Filomena Carneiro, diretora dos Serviços de Urgência. “A mudança maior prendeu-se com a criação das Áreas Dedicadas Covid-19 (ADC), que têm de ser muito restritas inclusive ao nível do pessoal e das medidas de proteção nos serviços de Ur-


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gência, de Pneumologia e de Medicina Interna. Foi um trabalho muito difícil, que exigiu grande esforço dos profissionais. Em linha com as indicações do ministério, grande parte da restante área assistencial foi minimizada”, explica Ana Teresa Xavier. Sob a responsabilidade da médica Elvira Camacho está o Serviço de Pneumologia, onde são internados os doentes mais críticos. O primeiro deu entrada no dia 13 de março. Exatamente dois meses depois, os números revelavam um total de 34 internamentos. Cinco pacientes, acima dos 85 anos, acabaram por falecer “não pela insuficiência respiratória provocada pela covid-19, mas pelas suas comorbilidades”, explica. Como é característico desta patologia, são internamentos e recuperações muito longas: “são doentes com insuficiência respiratória mais ou menos grave, com pneumonias intersticiais, que precisam de muitos cuidados e vigilância. A minha experiência é que, na fase aguda, os doentes até estão estáveis, mas rapidamente entram num grau de insuficiência respiratória grave e precisam de entubação, ventilação e até de transferência para os hospitais centrais. Até 30 de abril, transferimos cinco doentes”, conta. O Serviço de Pneumologia, onde funcionava também a Unidade Funcional de Oncologia que foi deslocalizada para outro espaço, “passou a Área Dedicada Covid-19. A estrutura do serviço não estava apropriada a esta patologia com alto grau de infecciosidade, mas rapidamente adaptámos os espaços físicos”. São nove camas de isolamento. Três em quartos individuais com pressão negativa e outras seis em enfermaria, também, com pressão negativa. “O serviço disponha de 18 camas e passámos a ter uma capacidade de 30 para atendimento de doentes covid-19 e fortemente suspeitos de patologia respiratória grave. Na ala da Urologia, foi criada outra unidade de internamento para doentes covid positivo, mas sem patologia respiratória”, explica a médica Elvira Camacho. Chegaram a estar ocupadas 27 das 30 camas, num “momento de pico, muito complicado de gerir”, confessa a diretora clínica, Ana Teresa Xavier. No dia em que foi realizada esta reportagem (13 de maio), estavam internados 18 doentes na ADC do Serviço de Pneumologia. É, aqui, que a enfermeira gestora Luísa Barbosa passa os seus dias, a cuidar dos seus doentes e a coordenar as equipas de enfermagem. “Não foi, nem está a ser fácil. Tivemos que reorganizar as equipas, os horários e planear tudo devidamente. Passado o primeiro impacto da fase de adaptação, caracterizada por medo, ansiedade e insegurança, já crescemos muito neste caminho que é feito em equipa e partilha. É importante que a comunidade saiba que pode confiar em nós. Equipa do Serviço de Urgência Geral Hospital N.ª Sra do Rosário

O CHBM tem todas as condições para cuidar em seguranças dos doentes da sua área de influência, sejam doentes covid ou não”, afirma sem hesitações. Urgência – A porta de entrada Estão abertos 24 horas por dia, 365 dias por ano. Não há feriados, fins de semana ou datas festivas de portas fechadas. O impacto da covid-19 nos Serviços de Urgência (e nos seus profissionais) do Centro Hospitalar Barreiro Montijo é notório à primeira vista: tanto no Serviço de Urgência Geral (SUG) do Barreiro, como no Serviço de Urgência Básica (SUB) do Montijo os circuitos

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“Lembro-me perfeitamente. Era familiar de um doente já infetado, internado noutro hospital. Omitiu informação quando entrou na nossa urgência e, por isso, esteve três horas no circuito geral de todos os doentes. Foi complicado e dramático para os profissionais envolvidos, mas intervimos logo que soubemos da situação”, conta. A evolução desconhecida da doença e a atualização constante de orientações e normas, leva os serviços e os profissionais a aguçar a capacidade de antecipação e planeamento. Também no SUG do Barreiro, houve reforço de pessoal nas equipas de enfermagem e pormenores de organização que contribuíram para melhorar o atendi-

Dr.ª Filomena Carneiro, Enf.ª Filomena Sanches, Dr.ª Ana Teresa Xavier, Dr.ª Elvira Camacho e Enf.ª Luísa Barbosa

de entrada de doentes foram separados fisicamente, para que não haja cruzamento de utentes suspeitos de infeção por SARS-CoV-2 com aqueles que vão à urgência devido a outras patologias. Em ambas as urgências, foram assim criadas Áreas Dedicadas Covid-19, num “processo trabalhoso de definir por onde entram os doentes e a forma como são atendidos”, afirma João Fonseca, enfermeiro chefe do SUB do Montijo. Neste serviço do CHBM houve “reforço de profissionais nas equipas de enfermagem e de assistentes operacionais. Os turnos passaram a ser de 12 horas, num regime de espelho, para se evitar contágio entre as equipas”, acrescenta. Sempre a trabalhar a “200 ou 300 à hora” como confessa Filomena Sanches, enfermeira chefe do SUG do Barreiro, quando saiu a orientação da DGS para separação de circuitos já este serviço de urgência tinha implementado esta medida, até porque o primeiro caso de doente covid-19 colocou logo à prova a estrutura, as metodologias e os profissionais de saúde daquela unidade.

mento aos doentes e a atuação dos profissionais. São disso exemplo a tenda de pré-triagem, importante para prevenir o cruzamento de doentes, ou os equipamentos de proteção individual que, desde a primeira hora, nunca faltaram aos profissionais do CHBM. Ao longo de mais de dois meses de uma situação “para a qual ninguém está preparado”, são muitos os episódios que marcam estes profissionais de saúde. Filomena Sanches recorda “dois doentes que até ao dia anterior estavam perfeitamente bem. Pessoas com capacidade imunitária para dar resposta, que não se sentem muito doentes para vir ao hospital até poucas horas antes de falecer, o que é dramático. Este é um vírus muito complicado. Não tivemos muitas situações destas, mas na altura do pico, existiram casos muitos difíceis”. “Apesar de nos termos preparado para enfrentar esta pandemia, estamos perante uma situação que é um vírus cuja contaminação é diferente de tudo o resto que já tinha ocorrido”, salienta a diretora dos Serviços de Urgência, Filomena Carneiro,


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acrescentando que “continua a existir o problema dos doentes que dizem estar referenciados pelo SNS 24 e na realidade não estão”. Aliás a utilização adequada, racional e proporcional dos recursos hospitalares por parte da população é um fator chave para o bom desempenho dos serviços de saúde, exista ou não pandemia por covid-19. “Os hospitais são instituições altamente diferenciadas, que estão viradas para determinadas prestações de cuidados. Deve existir uma utilização muito seletiva do serviço”, refere a diretora clínica, Ana Teresa Xavier, com a diretora dos Serviços de Urgência a assinalar que “os doentes triados verde e azul (n.r.: graus de menor gravi-

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dade na Triagem de Manchester) são uma problemática recorrente do CHBM. É claro que somos médicos e enfermeiros e não podemos, por si só, deixar de atender os doentes, mas seria ótimo que a população utilizasse os recursos de forma adequada e que os centros de saúde abarcassem este tipo de doentes, que não precisam de intervenção hospitalar”. São estes e outros doentes, com ou sem covid, muitos com patologias crónicas graves que estão a voltar aos serviços de urgência. “Antes da pandemia, no SUG tínhamos uma média de atendimento de 300 pessoas por dia. Durante o Estado de Emergência reduziu para 90. No momento em que as medidas de confinamento foram alivia-

das passámos para 150 pessoas/dia. A afluência aumentou significativamente e os casos graves também”, relata a enfermeira Filomena Sanches. Heróis de carne e osso Como todos sabemos, o vírus iniciou o seu caminho no Extremo Oriente e, rapidamente, se espalhou pelo mundo, transformando por completo as nossas vidas. Quando a realidade suplanta a ficção, nesta luta do bem contra o mal, há um vasto grupo de pessoas que, pela profissão que desempenham, são efetivamente heróis. Os profissionais de saúde estão neste grupo restrito. Estão, certamente, exaustos, mas resilientes. Cansados, mas lutadores. São heróis de carne e osso. Com medos, inseguranças e ansiedades. Afinal, tal como todos nós, têm emoções e família à sua espera, apesar de muitos destes profissionais terem saído de casa, com medo de ser fonte de contágio para os familiares. “A minha família foi a maior prejudicada. Passo horas e horas aqui. Acabam por ter medo por eles, mas sobretudo por mim. Vi os meus pais, pela janela, a chorar. Os meus filhos a pedirem para não vir trabalhar. São emoções difíceis de gerir, mas foi a profissão que escolhemos”, conta a enfermeira Filomena Sanches. A perigosidade do vírus faz com que estes profissionais sejam forçados a trabalhar em condições de grande exaustão física e psicológica. Aquilo que os protege, os Equipamentos de Proteção Individual (EPI’s), rapidamente se transformam num fardo, como explica a médica Elvira Camacho: “estar duas, três, quatro horas com aqueles EPI’s é muito difícil. O trabalho é muito mais exaustivo. Ficamos muito mais cansados, até porque os fatos prejudicam a respiração. Nas enfermarias de isolamento, o uso duplo de luvas dificulta a sensibilidade que precisamos de ter para os exames e tratamentos. É tudo muito mais complexo. Até ouvir o doente é difícil devido ao isolamento do fato. Os enfermeiros e auxiliares têm uma carga enorme. São eles que estão 24 horas com os doentes”. Neste contexto, a perspetiva holística da prática clínica e assistencial de médicos e enfermeiros está reduzida de forma muito substancial. A comunicação é dificultada pelos EPI’s. O sorriso está escondido por trás de máscaras e viseiras. É complicado estabelecer o contacto e a ligação humana entre doente e profissional de saúde. Apesar de tudo, no meio de um vírus altamente infecioso, de uma situação onde os problemas são sempre em maior escala que as coisas boas, também tem havido oportunidade para sorrisos e gestos que emocionam pela positiva. É a enfermeira Luísa Barbosa que salienta o crescimento “enquanto pessoas e profissionais. Sempre fomos muito próximos, mas esta situação da covid-19

Serviço de Pneumologia Hospital N.ª Sra do Rosário


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veio reforçar o trabalho em equipa, a partilha e o respeito entre todos nós”. O CHBM tem contado com o apoio da comunidade (municípios, empresas, outros serviços de saúde, população), que muitas vezes é espelhado em gestos como a doação de alimentos ou equipamentos: “têm sido a energia que precisamos nos momentos certos”, diz a enfermeira Filomena. É um carinho que “revela uma prova de confiança da comunidade no Centro Hospitalar Barreiro Montijo e na capacidade dos seus profissionais. E isso é de um enorme valor”, remata a diretora clínica, Ana Teresa Xavier. O futuro desconhecido do vírus Muitos dos doentes que entram na urgência do Barreiro ou do Montijo não são positivos para covid-19, mas o corpo médico e de enfermagem do CHBM está apreensivo face à evolução da doença na região (n.r.: entrevistas realizadas a 13 de maio): “depois do terceiro Estado de Emergência as pessoas começaram a descomprimir. A questão de alguns focos de contágio em empresas, também, é preocupante. O que verificamos é que continuam a aparecer doentes por covid-19. O que vai acontecer não sabemos. O que acredito é que os ADC têm de se manter como estão, para conseguirmos enfrentar esta pandemia com a se-

Equipa do Serviço de Urgência Básica Hospital do Montijo

gurança necessária para doentes e profissionais”, refere a médica Filomena Carneiro. Também a diretora do Serviço de Pneumologia, Elvira Camacho, defende que “as pessoas estão a perder o medo. Pensam que acabou, mas não acabou. No nosso serviço, o que constatamos é que pessoas positivas, que fizeram confinamento no domicílio, acabaram por contagiar familiares dentro do próprio habitat. É fácil dizer que em casa é preciso ter tudo separado para o doente covid, mas na prática, até pelas condições de muitas pessoas, isso não funciona assim”. A enfermeira gestora do Serviço de Pneumologia, Luísa Barbosa, revela, ainda, outro pormenor importante: “numa primeira fase, no internamento a média de idades era muito alta. Depois tivemos um período de acalmia na entrada de doentes e há cerca de dez dias (n.r.: entrevistas realizadas a 13 de maio) houve um novo aumento e de pacientes com uma média de idades bem mais baixa, isto é, população ativa a rondar os 40/50 anos”. Também no SUB do Montijo, o enfermeiro chefe João Fonseca fala de uma alteração na tipologia dos doentes: “nos últimos tempos têm dado entrada doentes que já eram conhecidos como positivos, que estavam em confinamento no domicílio e que viram a sua situação clínica piorar”. Por todos estes motivos e porque falamos de um

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inimigo invisível, imprevisível e desconhecido, estes cinco profissionais do CHBM reforçam a mensagem principal que todos devemos interiorizar e aplicar diariamente nas nossas vidas: “o vírus está na comunidade e as premissas necessárias para minimizar o contágio são o confinamento, sair de casa só para o estritamente necessário, usar máscara, higienização das mãos e distanciamento social”, aponta o enfermeiro João Fonseca. No combate a esta doença, “que não sabemos bem como é, como se trata, quando vai haver vacina, a população tem de ajudar. Tem de perceber que o percurso da doença é determinado pelos comportamentos individuais de cada um de nós. Não se pode pensar que são as instituições de saúde que vão combater a pandemia”, diz a diretora clínica, Ana Teresa Xavier. Este é, efetivamente, um daqueles momentos na história recente da humanidade onde a realidade suplanta qualquer cenário e argumento imaginados pela indústria cinematográfica. Não é ficção. É real. O vírus está entre nós e não se sabe até quando. Apenas sabemos que a força da sua presença depende da nossa cidadania e da nossa responsabilidade perante nós e os outros. O papel destes profissionais de saúde é extenuante física e mentalmente. O seu papel é bem mais simples. É nas mãos de cada um de nós - que a propósito deve lavar frequentemente - que está a saúde de todos.


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Especial NA LINHA DA

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MERCADO MUNICIPAL

Sempre de portas abertas N

o piso inferior, saltam à vista as cores vibrantes de limões, laranjas, morangos, bananas, uvas, pêssegos, brócolos, couves e tantas outras frutas e hortícolas. Ali encontra, também, pão, queijo, azeitonas e todo o tipo de carne. No piso de cima, há uma enorme diversidade de espécies que vêm do mar até à nossa mesa. Em comum todos estes produtos alimentares têm a frescura e a qualidade. Se a dúvida é o local onde os encontra. Só podia ser um. O Mercado Municipal do Montijo! Sendo um espaço de abastecimento de bens alimentares essenciais, manteve o horário normal de funcionamento, mesmo nestes tempos de pandemia por covid-19. A recompensa para este esforço dos trabalhadores municipais, mas sobretudo dos operadores do mercado, foi um aumento nas vendas. “Tem funcionado muito bem. Nestes dois meses, tripliquei as vendas. Notou-se que apareceram clientes novos, que as pessoas têm optado por espaços mais tradicionais, onde os produtos têm outra qualidade. Agora, começa a notar-se um recuo, por isso incentivo as pessoas a continuarem a vir e a comprar no Mercado”, afirma Francisco Gomes, mais conhecido por Chico Bananeiro. Na banca à sua frente, está Maria Júlia Taneco. Há mais de 30 anos no Mercado, assume uma postura crítica face às obras de requalificação do espaço, mas revela igualmente que, no período da pandemia, “aumentou as vendas. Os clientes habituais passaram a levar mais quantidade e apareceram novos clientes”, diz, acrescentando que também está a verificar um recuo nesta dinâmica. Assim que se entra no primeiro piso do Mercado Municipal, os olhos fogem para a variedade e

qualidade de peixe da banca do Marcelo. Com o restaurante fechado (A Casa do Pescador), a filha Ana Marcelino, o pai, o irmão e os seus colaboradores arregaçaram as mangas e deram um novo impulso à venda de peixe no Mercado, com a entrega ao domicílio no Montijo, nos concelhos da Margem Sul e até na capital e outros locais do lado norte da ponte. “Aproveitando o encerramento do restaurante, decidi reinventar a banca do meu pai e promover o nosso produto, levando-o até casa das pessoas. Criei um grupo no whatsapp, que foi tendo cada vez mais pessoas, tudo muito à volta do passa palavra. A adesão foi brutal, excedeu completamente as nossas expetativas. Em média, estamos a fazer à volta de umas 30 entregas ao domicílio”. A atenção ao cliente, o atendimento personalizado e, sobretudo, a qualidade fazem toda a diferença neste novo negócio de entrega ao domicílio que é para continuar: “numa época difícil, as pessoas perceberam a importância da frescura daquilo que compram e comem. Infelizmente o peixe não chega à carteira de todos, mas quantas mais pessoas criarem o hábito

de comprar nos mercados, onde o peixe, a carne, os legumes são realmente frescos, mais facilmente conseguimos baixar preços, mantendo a mesma qualidade”, explica. As vendas na banca de peixe no Mercado Municipal do Montijo, também, aumentaram substancialmente. “Tivemos que reforçar o número de colaboradores” conta Ana Marcelino, acrescentando que isso, também, se deve às medidas que foram adotadas: “a câmara foi exímia na forma como organizou e foi adaptando as medidas de prevenção face ao vírus. Sempre a tentar melhorar, mudando a estratégia quando foi necessário. Os trabalhadores municipais do Mercado, também, têm sido muito prestáveis e colaborantes connosco e com a população. As pessoas sentem-se seguras ao vir comprar no Mercado. Agora até máscaras são entregues à entrada. Isso não se vê em mais lado nenhum no Montijo, nem nos supermercados”. Com ou sem pandemia, ontem, hoje ou amanhã, os comerciantes do Mercado Municipal esperam a sua visita para comprar os produtos mais frescos e de maior qualidade, tudo com o atendimento personalizado só possível no comércio de proximidade.


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Serviço Municipal de higiene urbana

Na rua por si! rotina de trabalho é igual todo o ano. E é dura e A difícil. Nem o novo coronavírus mudou horários, tarefas ou o profissionalismo com que as desempe-

nham. São os trabalhadores municipais mais expostos ao risco, incluindo ao contágio por SARS-CoV-2. É certo que não fazem mais que o seu trabalho, mas isso não nos impede de reconhecer e agradecer a dedicação e o profissionalismo dos trabalhadores do Serviço de Higiene Urbana. Também eles são heróis e fazem parte da nossa Linha da Frente. António Balegas é o encarregado. António Rocha, José Fernandes e Eduardo Fretes são a equipa da viatura n.º 100 que começou a ronda de recolha de madrugada, às 5h00. Exemplificam aqui os 80 trabalhadores da recolha de resíduos urbanos, de lixo grosso, varredura apeada e mecânica que “estiveram sempre ao serviço, em pleno. Mantivemos os mesmo horários na recolha, das 5h00 às 11h00, das 8h00 às 14h00 e das 17h00 às 23h00. Até agora, não tivemos trabalhadores infetados”, esclarece António Balegas. Se em circunstanciais normais, o trabalho já “é difícil, nesta situação de pandemia tivemos naturalmente perigos acrescidos. Sair de casa e vir fazer este trabalho não é fácil. Estamos expostos a agentes de contaminação e depois voltamos a casa. Não sabemos se vamos contaminados e, também, temos família, filhos, pais”, acrescenta. “É difícil lidar com esta situação, mas procuramos ter todos os cuidados possíveis, incluindo no trabalho. Obviamente que temos receios”, afirma Eduardo Fretes, acrescentando que “mesmo numa situação de normalidade este é um trabalho duro”. Um trabalho que para José Fernandes começa às 3h50, quando se levanta para entrar ao serviço às 5h00, e que é “efetivamente duro. Trabalhamos com todas as condições climáticas, chuva, frio, vento. O pior é mesmo o frio”. Dos três, o que está mais resguardado das adversidades climáticas é o motorista, António Rocha. Afir-

ma, no entanto, sem rodeios, que “os colegas estão expostos constantemente a riscos e as pessoas não têm cuidado. Metem tudo dentro dos contentores. Parece-me que este trabalho tem pouco reconhecimento da população, apesar de ser indispensável, até porque senão for feito é preocupante para a saúde pública”. A expressão pejorativa de “pessoal do lixo” é linearmente refutada por estes profissionais. Também Eduardo Fretes apela a um maior cuidado e civismo dos cidadãos, até pelos perigos da pandemia de covid-19: “as pessoas continuam a meter lixo no chão com os contentores e os moloks vazios ou meio cheios. Não sei o que pensam. Parecem esquecer que há operacionais, como nós, que corremos riscos ao pegar nos sacos, no lixo”. Nesta nova normalidade verificaram um aumento na produção de resíduos sólidos domésticos e no

lixo grosso. Acreditam que as medidas de prevenção face ao contágio pelo novo coronavírus vieram para ficar e, por isso, vão continuar a proceder “com regularidade à lavagem e desincrustação das viaturas de recolha e, ainda, à desinfeção com produto próprio para o efeito. Também os equipamentos de proteção individual têm sido assegurados aos trabalhadores, que no final de cada ronda têm os devidos cuidados a retirar e a deitar fora as batas, máscaras e luvas”, esclarece António Balegas. Esta é a rotina diária dos trabalhadores da Higiene Urbana, um serviço que assegura condições de boa saúde pública. Mesmo em tempo de pandemia, quando quase todos ficámos confinados em casa, eles e elas continuaram a sair à rua por si. Até porque, como finaliza António Rocha, “o nosso interesse é servir as pessoas”.

COVID-19

Protocolo com CHBM para realização de testes A

Câmara Municipal do Montijo e o Centro Hospitalar Barreiro Montijo (CHBM) acordaram um protocolo de colaboração para efetivar a realização de testes ao novo coronavírus neste centro hospitalar. O protocolo consiste na atribuição de 45 mil 663 euros ao CHBM para aquisição de reagentes para a realização de 1000 testes moleculares in vitro a todos os doentes suspeitos de infeção por SARS-

CoV-2 que entrem no CHBM, através dos serviços de Urgência Geral e Urgência Pediátrica (no Barreiro) e Urgência Básica (no Montijo), assim como aos doentes internados. Esta decisão faz parte do pacote de medidas municipais nas áreas da proteção civil e da saúde, indo ao encontro das orientações da Direção Geral da Saúde sobre a necessidade de realizar testes de despistagem à covid-19.

É, igualmente, uma medida exemplificativa da preocupação da Câmara Municipal do Montijo com a promoção da saúde pública dos montijenses e da vontade de colaborar com as autoridades de saúde na adoção de medidas que permitam mitigar os efeitos nefastos que a pandemia de covid-19 tem na saúde da população e demais consequências sociais e económicas no concelho do Montijo.


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Especial NA LINHA DA

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União Mutualista Nossa Senhora da Conceição

Resiliência e inovação de uma instituição centenária O dia 26 de agosto de 2016 simboliza um momento de viragem. Os rumores que se ouviam pela cidade eram preocupantes. A situação era grave. Estava em causa a sobrevivência da União Mutualista Nossa Senhora da Conceição, um dos pilares do associativismo social do Montijo. Menos de quatro anos depois, os rumores são outros e bem diferentes. A instituição recuperou o prestígio de outros tempos. É mesmo, no contexto nacional, um exemplo de boas práticas neste período de pandemia covid-19. É, por isso, um dos rostos da nossa Linha da Frente. Neste combate contra o novo coronavírus recorrem às mesmas armas que utilizaram para escalar a montanha das gigantescas dificuldades financeiras: resiliência, criatividade, dinamismo e muita organização. Comecemos pela covid-19 e pela estratégia de atuação assente na antecipação, planeamento, prevenção e soluções inovadoras. Em meados de fevereiro, sem casos confirmados em Portugal, já o assunto preocupava a administração da União Mutualista: “muito antes das diretrizes da DGS já estávamos a adotar medidas”, conta Patrícia Soares, enfermeira e vice-presidente do Conselho de Administração. Entre as primeiras medidas, esteve a elaboração de um manual de orientação que foi distribuído a todos os trabalhadores e disponibilizado aos sócios da instituição, clientes da farmácia e familiares de utentes das áreas da infância e idoso. Seguiu-se a organização dos planos de contingência de cada equipamento, que “são atualizados e revistos” conforme a fase da pandemia. Também bastante cedo nesta cronologia epidémica, os indispensáveis equipamentos de proteção individual começaram a fazer parte da realidade de

trabalhadores e utentes. Nos serviços da área da infância (creches e espaços de atividades de tempos livres – ATL) as regras de higienização e controlo de infeção foram, imediatamente, apertadas. Estes equipamentos foram encerrados a 16 de março e foi-lhes dada autorização para reabrirem no dia 18 de maio, seguindo todas as recomendações das autoridades de saúde. “Os pais deixaram de entrar nas salas, os meninos de levar brinquedos de casa. Os brinquedos da sala e as próprias salas passaram a ser higienizados com muito maior frequência e somos rigorosos na higienização das mãos, inclusive dos meninos, ensinando-lhes como fazer e a importância de o fazer”, afirma Patrícia Soares. A gestão mais complexa das medidas de prevenção face ao novo coronavírus aconteceu, naturalmente, junto dos utentes mais vulneráveis à doença: os idosos. Neste campo, a União Mutualista tem as valências de Centro de Dia, Serviço de Apoio Domiciliário e Estrutura Residencial para Idosos. O Centro de Dia foi encerrado a 13 de março, mas o apoio aos utentes continuou a ser prestado nas suas casas e, por isso, mesmo a equipa do Serviço de Apoio Domiciliário foi reforçada para conseguir dar resposta aos novos utentes. No Lar, ou Estrutura Residencial para Idosos, o planeamento e as inovações foram mais que muitas, numa demonstração da organização e da capacidade de dinamismo do Conselho de Administração e dos trabalhadores da instituição. “A nossa maior preocupação foi que o vírus não entrasse dentro do lar”, afirma Patrícia. “Fizemos alterações à estrutura e funcionamento, transformando uma sala no rés-do-chão com acesso ao exterior num vestiário para as trabalhadoras terem um local específico para trocar de roupa. Definimos

muito bem os circuitos para minimizar os riscos de contágio”. É no edifício onde funciona o Lar, que a instituição agrega um conjunto de serviços que dão apoio às várias valências, como são o caso da lavandaria e da cozinha. Em média, diariamente, são confecionadas 600 refeições e passam pelo edifício do lar mais de 100 trabalhadores. A impossibilidade de deslocalizar estes serviços transversais à instituição e, simultaneamente, a necessidade de fazer do lar um “local o mais hermético possível aos riscos exteriores”, levou a adoção de uma alternativa inovadora (que, entretanto, foi replicada por todo o país): a instalação de um túnel de descontaminação. “A empresa Fullquest começou a trabalhar nessa área, falou connosco e trabalhámos em conjunto até à solução final. Não sei medir o que ajudou, mas sei que já testámos 105 colaboradores e, até hoje, não houve casos positivos. Este resultado deve-se certamente ao conjunto de todas as medidas, mas o túnel foi também uma mais-valia. Estamos a combater um inimigo invisível e a qualquer momento pode bater-nos à porta, mas temos feito tudo para que não aconteça e os nossos colaboradores têm sido incansáveis. Deixo-lhes uma palavra de carinho e reconhecimento”, afirma Pedro Santos, presidente da instituição. Também noutras valências da União Mutualista houve alterações ao funcionamento e reforço do apoio aos utentes. Na farmácia foi criada uma zona de atendimento em acrílico logo à porta e criado o serviço de entregas ao domicílio. No Centro Comunitário Mais Cidadão que atua, em várias áreas, junto da população do Bairro do Esteval, aumentou o número de pedidos de apoio alimentar. Este serviço, que abrangia 65 agregados fa-


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miliares, foi já aumentado em 50 por cento, por acordo com o Centro Distrital da Segurança Social, mas, apesar disso, os novos pedidos de apoio continuam a engrossar a lista de espera. Uma consequência da crise financeira que o país começa a sentir. Todo este trabalho (e muito mais, que a rigidez do número de caracteres impede de refletir neste texto) tem sido feito com muito esforço, capacidade de antecipação, proatividade e envolvimento de toda a instituição. “A união faz a força e todos somos importantes. Os trabalhadores perceberam, desde cedo, que a administração estava empenhada em protegê-los e proteger os utentes. Também nós estamos na linha da frente, diariamente”, salienta Patrícia Soares, com o presidente da instituição a afirmar que “todos os dias tentamos fazer o melhor. Tudo o que é possível, fazemos. E o que não existe, inventamos!”. O resultado desta forma de trabalhar, gerir e dirigir só pode ser o reconhecimento e confiança por parte de trabalhadores, utentes, familiares e da própria comunidade.

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tijo e dos montijenses. Quase século e meio de momentos bons e de outros extremamente complicados. O dia 26 de agosto de 2016 foi um ponto de viragem na história recente da União Mutualista. E neste caso, o velho chavão que os números não mentem, não podia ser mais adequado. A quatro dias do final do mês de agosto de 2016, a instituição tinha um presidente demissionário e um deficit de tesouraria superior a 300 mil euros para fazer face aos compromissos daquele mês. O passivo era da ordem dos dez milhões de euros! O que muitos de nós faríamos? Provavelmente, abandonávamos o barco. Mas Jaime Crato, Pedro Santos, Patrícia Soares e Rui Joaquim optaram por ficar e começar a dar a volta à situação, que começou pela renegociação das dívidas e pela reorganização das áreas de negócio, dos serviços e dos procedimentos. Foi, igualmente, necessária a negociação de acordos de rescisão com 67 trabalhadores, que custaram “800 mil euros. Foi tudo negociado e acordado com as pessoas e deixamos palavras de apreço a esses

já depois de amortizações, juros e compensações por saídas. O nosso EBITDA é na ordem dos 700 mil euros, o que permite pagar o PER, que em 2021 vai superar os 500 mil euros”, explica o presidente. O atual Conselho de Administração foi eleito em dezembro de 2019, sendo composto por Pedro Santos, Patrícia Soares e Diamantino Bonito e continua o trabalho da direção anterior, procurando como objetivo último a modernização e revitalização da instituição: “a imagem da instituição estava destruída. Nestes três anos e meio, foram muitas noites sem dormir, muitas horas de trabalho, a tentar encontrar soluções para dar volta. Começámos a mudar a imagem da instituição e notamos que as pessoas e as entidades já nos procuram. Estamos a fazer essa conquista, aos poucos”, afirma. Neste caminho de modernização, em 22 de dezembro de 2019 foi alcançado uma meta crucial: a União Mutualista Nossa Senhora da Conceição é a única mutualista do país com certificação de qualidade pela norma ISO 9001 em todos os serviços, o que abrange um universo de 13 valências, que

ex-colaboradores que têm estado, gradualmente, a receber as indeminizações”, afirma Pedro Santos. Pelo meio, a exploração da clínica foi cedida ao Grupo CUF, num negócio de 800 mil euros: “não tínhamos dimensão, não é a nossa área de negócio, nem tínhamos como fazer os investimentos necessários na renovação dos equipamentos de diagnóstico. Perdíamos 200 mil euros por ano com a clínica. Mantivemos o edifício da clínica, as nossas convenções com o Estado passaram para a CUF e, quando estiverem nas novas instalações, vão manter os descontos para os nossos associados, sendo que os trabalhadores da clínica transitam para os quadros da CUF”. Com uma dívida reestruturada superior a 9,281 milhões, em 2018 a instituição entrou num Processo Especial de Revitalização (PER), que implica pagamentos anuais na ordem das centenas de milhares de euros até 2042. Valores que estão a ser cumpridos na íntegra, desde o primeiro dia, e que são, por si só, sinal de uma reviravolta completa no plano financeiro: de resultados anuais negativos na ordem de 1 milhão de euros, em 2019 “o resultado foi positivo de 108 mil euros,

apoiam cerca de 1000 utentes diariamente, contando a instituição com mais de 200 trabalhadores. “Não fomos mais espertos que os outros, simplesmente fomos mais determinados e assertivos no caminho que escolhemos para a instituição”, diz Pedro Santos, salientando “que todo o processo tem contado com o apoio das entidades oficiais, em particular da Câmara Municipal do Montijo, que já apoiou a instituição na requalificação do recreio da Casa da Criança e tem sido incansável no esforço que estamos a fazer neste período de pandemia covid-19, com a disponibilização de equipamentos de proteção individual às instituições e o apoio imediato à realização de testes nos lares de idosos da rede pública”, bem como o apoio para aquisição da Box das Emoções. A próxima etapa do futuro da União Mutualista Nossa Senhora da Conceição é o rebranding da identidade visual da instituição. Mais um passo no caminho do reconhecimento, notoriedade e projeção de uma instituição centenária, que quer continuar a ser um referencial de excelência no sector social do Montijo e, até mesmo, do país.

De telefonemas e videochamadas… à Box das Emoções Certamente a adaptação e vivência do isolamento e confinamento sociais não foram fáceis para nenhum de nós. Agora imagine como não tem sido para aqueles que, sendo os mais vulneráveis à covid-19, precisam de ser devidamente protegidos, mas estão numa idade em que o conforto emocional é de extrema importância para o seu bem-estar. Com o encerramento de visitas no Lar de Idosos (que, aliás, a União Mutualista implementou antes da imposição por parte das autoridades de saúde), os utentes desta valência, com um média de 85 anos, viram interrompidas as visitas e a ligação aos seus familiares. Sabendo de antemão que a saúde mental e emocional são tão importantes como a saúde física, não tardaram as soluções para a manutenção da proximidade e do contacto de utentes com familiares. A primeira delas, naturalmente, a mais expetável: telefonemas, diariamente. A segunda já foi um passo em frente: videochamadas. A terceira solução tornou-se notícia no país e no mundo! “Nestas idades, eles têm muitos receios. Não verem, fisicamente, os filhos e os netos é um problema. Em 3, 4 dias tínhamos a Box das Emoções instalada, novamente com a ajuda da Fullquest. O espaço cumpre todas as recomendações da DGS e é higienizado sempre que termina uma visita e antes de começar a seguinte. Inaugurámos a Box no Dia da Mãe e foi, verdadeiramente, emocionante, tanto para nós como para os utentes”, conta Pedro Santos. “Os utentes e os familiares estão encantados e nós ficamos emocionados com isso. São estes momentos que marcam. Pensamos muito como arranjar soluções e depois é extremamente gratificante ver que o resultado final é do agrado de todos. A Box veio melhorar muito o ambiente dentro do lar”, conclui. 147 anos ao serviço do Montijo Vamos, agora, à outra parte desta reportagem. Deixemos a Covid-19 de lado e centremos atenção na história mais recente de uma instituição fundada em 1873. Sim, são quase 150 anos ao serviço do Mon-


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Força humana, próxima e de confiança

Câmara distribui mais de 200 mil máscaras

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GNR Montijo

inimigo não é um criminoso (talvez até seja, mas não no sentido normal da palavra). Não dá para deter numa operação STOP ou em flagrante delito. Apesar da invisibilidade do inimigo, as ações de fiscalização foram intensificadas, mas sobretudo a sensibilização e proximidade à comunidade ganharam nova dinâmica no dia-a-dia dos militares da Guarda Nacional Republicana (GNR). Estão na Linha da Frente, todos os dias, nas ruas, assumindo a missão de serem “uma força de segurança humana, próxima e de confiança”, ca-

racterísticas ainda mais importantes em época de pandemia pelo novo coronavírus. Ricardo Samouqueiro comanda mais de 150 militares. Capitão da GNR, é Comandante do Destacamento Territorial do Montijo, que abrange os concelhos de Alcochete, Barreiro, Montijo e Moita. No posto da GNR do Montijo, estão ao serviço 23 militares, que, também, tiveram que se adaptar a esta nova normalidade. “Tal como outra entidade de primeira linha neste combate, tivemos de ajustar as nossas medidas de autoproteção e os turnos para potenciar o trabalho dos militares e servir o melhor possível a população.

Intensificámos as nossas ações de patrulhamento, fiscalização e sensibilização, sendo que, tanto no Estado de Emergência como agora na Situação de Calamidade, temos a responsabilidade de fiscalizar os confinamentos obrigatórios”, explica o capitão Ricardo Samouqueiro. Em estreita articulação com as autoridades de saúde, a GNR assume a missão de controlar os cidadãos que obrigatoriamente têm de permanecer em casa, isolados, por serem portadores de SARS-CoV-2. “Fazemos um acompanhamento próximo. Temos verificado cumprimento e sentimento de responsabilidade por parte das pessoas. Este inimigo invisível é uma luta de todos. Os cidadãos têm um papel fundamental e devem ser conscientes e responsáveis”, afirma. De um modo geral, na área de atuação da GNR, o capitão Ricardo Samouqueiro admite que os montijenses têm “cumprido as determinações impostas pelo Governo. Tem havido aceitação e responsabilidade. É óbvio que há sempre alguns incumprimentos e, até, situações que culminaram em crime por desobediência, mas foram prontamente sanadas pela nossa intervenção”. O papel fiscalizador das forças de segurança continua em pleno, mas a pandemia de covid-19 acabou por colocar em enfâse a função social e de proximidade da GNR, em particular junto da população sénior: “muitas vezes, o militar do GNR é a única pessoa que o idoso vê naquele dia ou semana. Por isso, intensificámos as ações de sensibilização e apoio à comunidade sénior, através do nosso programa 65 Longe + Perto”. Este reforço da missão social da GNR tem sido compreendido pela população. Aliás, tem contribuído para uma forma diferente de olhar para os agentes de autoridade: “a nossa estratégia de sensibilização e de alerta para o cumprimento das medidas fez com que as pessoas compreendessem que temos de cumprir a nossa missão, mas que também somos humanos e que estamos aqui, todos os dias, a esforçarmo-nos para que tudo corra bem, garantindo a segurança e a tranquilidade pública. A pandemia veio reforçar a imagem da GNR enquanto força humana, próxima e de confiança”. Agora que todos estamos, aos poucos, a regressar à normalidade, o Comandante do Destacamento Territorial do Montijo da GNR deixa um apelo e uma importante mensagem à população: “nós fazemos o nosso papel para garantir o cumprimento das determinações e regras impostas pelo Governo. Apelamos às pessoas que cumpram, sejam responsáveis e conscientes. Todos somos importantes para combater esta doença”. Até porque é bom lembrar, acrescentamos nós, que ninguém se salva sozinho!

o âmbito das medidas de prevenção face à covid-19, a Câmara Municipal do Montijo já adquiriu mais de 200 mil máscaras de proteção. Para além dos trabalhadores municipais, estes equipamentos têm sido distribuídos às forças de segurança e de socorro do concelho, às instituições particulares de solidariedade social, às juntas de freguesia, ao comércio local, aos operadores dos mercados municipais e às escolas. Neste processo dinâmico de equilíbrio entre a abertura da economia, a manutenção do distanciamento social e a adoção de medidas de proteção, a autarquia disponibiliza, também, máscaras à população através dos equipamentos e espaços municipais. Sempre que um munícipe se desloque a estes serviços sem usar máscara, pode e deve solicitar uma máscara. Na consciência que as máscaras são um recurso importante que deve ser distribuído com equilíbrio e racionalidade, a autarquia tem assegurado máscaras e outros equipamentos de proteção individual às entidades que estão na primeira linha do combate à pandemia e às instituições que prestam apoio à população, em particular na área dos idosos.


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Mais de 11 mil refeições

Cozinhar por um bem maior izer que uma linha está devidamente alinhada D é, inevitavelmente, um reforço de linguagem. Contudo, neste caso, é mais uma tentativa de pas-

sar para palavras aquilo que só os olhos têm a capacidade de ver (outro pleonasmo!). Mas vamos ao que interessa! Esta linha da frente está cem por cento coordenada nos gestos, totalmente alinhada nos procedimentos, mas, sobretudo, imensamente motivada para ajudar quem precisa. O que começa na cozinha dos refeitórios municipais acaba na casa de muitas pessoas, que, nesta fase da covid-19, ficaram sem rede de apoio para algo essencial à sobrevivência humana: alimentação. Entre 30 de março e 31 de maio, já foram confecionadas e entregues, gratuitamente ao domicílio, mais de 9100 refeições quentes e 2574 pequenos almoços e lanches. É aqui que entram as nossas heroínas. Fernanda Rodrigues, Georgina Mosca, Sandra Pacheco, Alda Silva, Linda Oliveira e Cidália Cabrita são trabalhadoras municipais dos refeitórios escolares, agora afetas à confeção de refeições quentes solicitadas através da Linha Municipal de Apoio Social. São elas que preparam, cozinham e embalam tudo com muito profissionalismo e dedicação. Estão nesta função de 2.ª a 6.ª feira. Começam cedo. Logo às 8h00. Afinal são litros e litros de sopa, dezenas de peças de fruta para selar com película, tabuleiros gigantes de comida que resultam no pequeno-almoço, no almoço, no lanche e no suplemento (jantar) daqueles que mais necessitm todos os dias, incluindo fins de semana. Todo este processo é supervisionado pela nutricionista Marta Ferreira, técnica municipal responsável pela estruturação, desenvolvimento, implementação e coordenação deste serviço. Georgina Mosca coordena a logística diária. Confessa que a fase inicial foi mais complicada, porque “diariamente entravam novos pedidos. Depois estabilizou e agora verifica-se um novo aumento. Nunca tínhamos feito isto, mas é um trabalho que

fazemos por gosto. Não sabemos o dia de amanhã, podemos ser nós a precisar de ajuda”. “Entramos às 8h00 e fazemos horário contínuo até às 14h00. À sexta-feira ficamos um pouco mais porque confecionamos as refeições para o fim de semana”, diz, acrescentando que “preparamos tudo como sempre fizemos. Temos os mesmos cuidados na higienização, apenas reforçamos a intensidade desses cuidados”. Ao leme dos tachos, das panelas, do lume e dos fogões está a cozinheira Fernanda Rodrigues. Falanos de uma experiência “gratificante, que está a superar todas as expetativas. Via-me enquadrada num projeto destes. Vamos a levitar para casa. Faço o que gosto por uma causa nobre: saber que estou a contribuir para que alguém fique um pouco melhor. Esperemos que não, mas estamos cá para fazer o dobro das refeições se for preciso”. Gratificante é, efetivamente, a melhor palavra para descrever o sentimento que esta experiência está a deixar junto destas cinco trabalhadores municipais: “é super gratificante saber que estamos a ajudar as famílias. Estamos aqui de corpo e alma”, afirmam Sandra Pacheco, Alda Silva e Linda Oliveira, com esta última a admitir que “isto devia ser o ano inteiro. Há muita gente a precisar de ajuda e vejo-me a participar num projeto deste género, por exemplo, junto da população sem abrigo”. Basta passar uma hora na cozinha da Escola Básica do Areias (ou na Escola Básica Luís de Camões onde agora estão a ser confecionadas as refeições) para perceber que a coordenação entre todas é um fator-chave do sucesso desta iniciativa. Uma coordenação onde já nem são precisas palavras ou diretrizes. Cidália Cabrita, por exemplo, está agarrada à lavagem dos tachos. “Quem está livre, começa a limpar. Pedi para fazer parte do projeto. Estamos a fazer o que gostamos, ajudando aqueles que mais precisam neste momento”, afirma. Antes da preparação, confeção e embalamento das refeições, entra em ação a nutricionista Marta

Ferreira, que elabora as ementas e articula o abastecimento semanal com a empresa fornecedora das matérias primas. Diariamente recebe os pedidos da Linha de Apoio Social, analisa-os e, caso exista necessidade, elabora dietas personalizadas. E essa necessidade tem existido. Há munícipes que recebem refeições adaptadas quer à sua situação clínica (diabetes, alergias alimentares, doentes oncológicos, etc), quer às suas opções alimentares por motivos religiosos e culturais, nomeadamente vegetarianos e hindus. As refeições fornecidas obedecem a critérios nutricionais exigentes, com variedade no tipo de sopas, nos pratos de peixe ou carne, incluem sempre salada e fruta da época. Tudo preparado, confecionado e embalado individualmente em material descartável, cumprindo escrupulosamente as orientações de segurança e higienização para evitar riscos de contaminação. Depois de organizadas e distribuídas por agregado familiar, são colocadas em malas isotérmicas de forma a garantir a máxima segurança alimentar até ao domicílio dos munícipes. É nesta fase que entram os trabalhadores municipais do serviço de Ação Social. Joaquim Tomaz é um dos que assumiu a tarefa de entregar refeições. Também ele fala de uma experiência “gratificante, que está a correr bem. A recetividade está a ser muito boa. As pessoas que recebem as refeições precisam mesmo e estão satisfeitas com o serviço e, infelizmente, temos recebido novos pedidos. É bom podermos ajudar quem precisa”. É através da dedicação, do trabalho e do empenho destes profissionais que a Linha Municipal de Apoio Social está a cumprir a sua missão junto da população. Estes e outros trabalhadores municipais estão na Linha da Frente, demonstrando que a união, o espírito de equipa e a solidariedade permitem, diariamente, transformar uma situação negativa, numa oportunidade de ajudar quem mais precisa.


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Especial NA LINHA DA

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F R E N T E

Estórias com História

A pandemia de pneumónica no concelho de Aldegalega

H

á quem diga que a história é cíclica. Que momentos vividos hoje, que nos parecem únicos, já o mundo viveu igual em outras épocas. Vem isto a propósito da pandemia pelo novo coronavírus e de outras epidemias que assolaram a humanidade. Falamos, em particular, de uma dessas pandemias que nos transporta para a atualidade, tais são as semelhanças com a covid-19. Em meados de 1918, ao drama da I Guerra Mundial junta-se uma pandemia de gripe. Fica conhecida por pneumónica ou gripe espanhola e em poucos meses matou, em todo o mundo, mais de quarenta milhões de pessoas, isto é, mais do dobro do que a própria guerra tinha feito em quatro anos, e um terço do que a peste em seis séculos!* O nome de espanhola parece dever-se ao facto de ter sido a imprensa espanhola a primeira a dar notícia da doença, mas a origem geográfica da doença é desconhecida. Parece contudo que a epidemia se desenvolveu na Ásia independentemente da Europa, onde os primeiros casos são referidos entre as tropas francesas em abril de 1918, possivelmente contagiados por chineses contratados como auxiliares. Outra

sa local dão conta do percurso e consequências da segunda vaga de pneumónica. O jornal O Domingo, de 20 de outubro de 1918, conta que se vai desenvolvendo assustadoramente n’esta vila a epidemia de gripe pneumónica, tendo essa doença originado já alguns óbitos, informação que o mesmo semanário confirma na edição de 27 de outubro. Neste mesmo número do jornal O Domingo, sob o título Estragos da gripe pneumónica em Canha. Óbitos depois da epidemia – situação alarmante é referenciada a evolução da pandemia na vila de Canha, localidade do concelho que foi mais fustigada pela pneumónica. A notícia é um enumerar de nomes de canhenses falecidos e das crianças que deixam órfãs. A edição de 31 de outubro do jornal A Razão faz eco desta notícia, dizendo que na freguesia de Canha, deste concelho, tinham ali falecido até ao dia 11 deste mês, victimadas pela influenza pneumónica, 41 pessoas que deixaram 52 órfãos e por informações que recebemos hontem sabemos que já ali faleceram, depois daquela data, mais 30 pessoas que deixaram 25 órfãos e que prefaz a totalidade apavorante de 71 óbitos e 77 orfãos. Tal como na atual pandemia de covid-19, as medidas de proteção e os comportamentos individuais eram apontadas como decisivos no combate à doença. Disso mesmo dá conta o jornal A Razão, de 31 de outubro, e as semelhanças com as orientações, que começámos a ouvir de há dois meses a esta parte, são notórias. A gripe transmite-se pelo contagio directo e pelos objectos e é favorecida pelas mudanças bruscas de temperatura (…) por isso é necessário Em tempos difícies de guerra, à doença juntou-se a escassez de alimentos. cumprir as seguintes presAldegalega, início do século XX (Foto: Aldeia Galega-Montijo Memória Fotográfica) crições: 1.ª – Deve evitar-se os ajuntamentos de pessoas; versão é de que a epidemia teria começado em março 2.º - Não visitar pessoas doentes de gripe pneumónica; nos aquartelamentos do exército dos Estados Unidos, 3.º - Suprimir o aperto de mão; 4.º - É indispensável no Kansas e levada depois para França pelo Corpo manter se a mais rigorosa limpeza pessoal e o mais Expedicionário Americano.* possível aceio das habitações (…). Quando se tenha Em Portugal, a doença entra em maio de 1918 atra- estado em contacto ou no ambiente (quarto) onde pervés da fronteira espanhola e desenvolve-se em três maneça um doente, faça se a cuidadosa lavagem das etapas: a primeira, mais benigna, até agosto 1918; a mãos (…). segunda, começa em setembro e termina em dezem- Ainda na edição de 31 de outubro do jornal A Rabro 1918/janeiro 1919 e foi de grande gravidade; a zão, tal como na edição de 3 de novembro de 1918 terceira vaga decorre de fevereiro a maio de 1919 e, do jornal O Domingo, é dado conhecimento de uma também, foi relativamente benigna. subscrição pública a favor dos desgraçados d’esta vila Em Aldegalega (hoje Montijo) os relatos da impren- atacados da epidemia reinante, levada a efeito por

uma comissão de indivíduos d’esta vila. A verba recolhida destina-se aos doentes pobres de Aldegalega que estavam em tratamento no Asilo de S. José. Entre os subscritores iniciais encontram-se cidadãos proeminentes da vila como Izidoro Maria de Oliveira e Francisco Freire Caria Junior. Até 23 de novembro 1918, tinha sido conseguida a quantia de 2691$00 (jornal A Razão). Em Canha, a pneumónica continua o seu curso. O jornal O Domingo, de 3 de novembro de 1918, fala em 700 enfermos e do hospital da Misericórdia cheio de doentes: a mizericorida d’esta vila, cujo hospital está atacado de enfermos da atual epidemia, tendo camas em todas as dependencias (…). A mesma notícia conta que a Junta da Paroquia teve que mandar alargar o cemitério e contratar mais um coveiro para conseguir dar resposta ao volume de funerais e enterros. Tal como acontece presentemente, também na altura a crise sanitária é acompanhada de uma profunda crise socioeconómica. Em tempos já difíceis devido aos efeitos da guerra, a população vê o preço dos alimentos essenciais inflacionar e os produtos a escassear. O relato de Artur J. Oliveira, no jornal A Razão de 7 de novembro de 1918, é exemplificativo do que se passava na vila de Canha. E´horrivel o que se está a passar nesta vila! (…) A epidemia atual, trouxe a dor, o luto e o desalento a toda a parte. Em Canha, muito pouca gente trabalha e muito poucos são os agricultores, que fazem trabalhos agricolas. (…) O leitor não pode calcular o terror que por aqui vai! Meia dúzia de pessoas apenas conseguiram escapar sem que a pneumónica lhes batesse á porta; o resto da população caiu. O cemitério tem de alargar-se e o luto é total em toda a vila. Junte-se a esta situação alarmante, o estado a que chegou o preço dos artigos mais uteis neste momento. O pão que o celeiro municipal nos levou d’aqui a $22, fornecem-nos agora a $50 centavos com o pezo inferior a um quilo; o assucar vendeu-se aqui no domingo passado a $80 e 2$00 cada quilo; petroleo e arroz não há (…) e o leite em vez de se vender aos doentes que o suplicam, vende-se para criar porcos. Enfim, uma verdadeira calamidade! Tal como agora, também as atividades lúdicas, culturais, recreativas e outras são suspensas. Em Canha, por exemplo, é suspenso o funcionamento da Sociedade Muzical, tendo sido encaixutados os fardamentos que estavam para ser inaugurados em 5 de outubro findo, conta a edição de 10 de novembro, do semanário A Razão. Apesar das dificuldades, a pandemia começa a dar tréguas na vila de Canha. O jornal A Razão, de 7 de novembro, fala em 85 óbitos e 91 órfãos e numa marcha da epidemia que se encontra estacionaria, havendo poucos casos novos.


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Nossa Senhora da Atalaia

Devoção em tempos de epidemia O declínio da pandemia no país e no concelho de Aldegalega é confirmado na edição de 15 de novembro do mesmo semanário: segundo as ultimas noticias dos jornais, vai se acentuando felizmente em todo o paiz o decrescimento da terrivel epidemia a que dão o nome de influenza pneumónica. Tambem aqui ela tem declinado, não se vendo já as farmacias cheias de gente esperando o aviamento das receitas e não se vendo tamponco os medicos aflitos por não terem tempo de acudir a todos os doentes que careciam dos seus socorros. Ainda bem que assim é. Na vila de Canha, a gripe espanhola leva a vida a 95 pessoas, deixando 97 crianças órfãs. Os rumores da gravidade da situação, naturalmente, que correm por todo o concelho. No jornal O Domingo, de 17 de novembro, há um relato curioso sobre o medo de contágio que existia entre a população: em Aldegalega esteve ha dias uma senhora d’esta vila. Precisou ali falar com uma criatura e procurou a em sua casa. Como era de Canha a principio recusaram abrir lhe a porta por que tinham medo que lhe levasse a pneumónica. A referida senhora insistiu e a porta abriu-se e tudo se afastou como por encanto; á exceção da criatura com quem a referida senhora precizava falar. Terminado o colóquio a citada senhora saiu e pouco depois uma radical desinfeção se fazia no referido predio… Uma das tragédias originadas pela pandemia de gripe espanhola é a orfandade de centenas de crianças em todo o país. O concelho de Aldegalega não é exceção e para auxiliar estes órfãos é inaugurado, em 1 de janeiro de 1919, o Orfanato de Aldegalega, por iniciativa do Dr. César Fernandes Ventura. A sessão solene de inauguração decorre no salão do Musical Alfredo Keil e contou com a presença dos membros da comissão instaladora do Orfanato: Dr César Fernandes Ventura, Francisco Freire Caria Júnior, Joaquim dos Santos Oliveira, Miguel de Sousa Rama, António Rodrigues Caleiro e José de Mira Reis. Durante o evento relata o semanário A Razão, de 2 de janeiro de 1919, é entregue ao Dr. César Ventura, uma pasta encerrando uma mensagem em que o povo agradecia ao ilustre clinico o desinteressado auxilio e as generosidades que uzou durante o estado epidemico. O mesmo jornal, na edição de 23 de novembro de 1918, publica uma nota oficiosa de Joaquim Navarro de Paiva, sub-delegado de saúde. A nota, datada de 20 de novembro desse ano, afirma estar extincta quasi por completo a epidemia de gripe pneumónica, mas os problemas epidémicos iriam continuar: à gripe espanhola seguiu-se uma intensa epidemia de varíola no país e em Aldegalega. * Álvaro Sequeira (https://www.spmi.pt/revista/vol08/ch7_ v8n1jan2001.pdf)

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o longo dos séculos, o santuário de Nossa Senhora da Atalaia tem sido local de romaria e culto, sendo-lhe atribuídos alguns milagres, nomeadamente por ocasião de muitas situações de epidemia que assolaram o país e, em particular, a capital Lisboa. Uma dessas ocasiões esteve na origem do surgimento do Círio da Alfândega de Lisboa, que em 1507 iniciou romaria anual a Aldeia Galega do Ribatejo e a Nossa Senhora da Atalaia devido a epidemia de peste que dizimava Lisboa. Sobre este acontecimento, deixa-nos uma descrição o Padre Luís Cardoso no Diccionario Geographico: Na era de 1507 anos, em tempo del rei D. Manuel, Rei de Portugal, foi nesta cidade de Lisboa e seu termo, e partes de Portugal, a peste tanta que nesta cidade andava, em que cada dia morria muita gente; e não tão somente morriam da peste senão ainda da fome que na cidade havia muita; por tamanho trabalho haver nesta cidade o senhor almoxarife e juíz e oficiais da Alfândega desta cidade de Lisboa se juntaram e determinaram irem em romaria todos e com a mais gente da cidade, assim homens como mulheres e crianças, a irem a Nossa Senhora da Atalaia que está situada no termo de Aldeia Galega do

Ribatejo, e com muita devoção comprarem cada um, um seu círio de arratel e tomarem barcas, e foi em véspera da Santíssima Trindade, e se passaram a Aldeia Galega do Ribatejo, e todos com muita devoção foram em procissão até Nossa Senhora da Atalaia, e compadres que levaram, e os mais deles descalços, e chegaram a Nossa Senhora; e com muita devoção lhe disseram completas, e com muitas lágrimas lhe disseram no domingo sua missa e lhe pediram misericórdia, e Nossa Senhora como é misericordiosa rogou a Nosso Senhor os quisesse ouvir; que a peste na cidade andava se apagasse; e lhes socorresse com algum mantimento para seu sortimento: prove a Nosso Senhor que aquele dia que era o domingo que aqueles senhores que então eram da Alfândega com a mais gente que com eles foram da cidade; depois que suas bésporas disseram em Nossa Senhora da Atalaia se tornaram com muita devoção a Aldeia Galega: e vindo à segunda feira para a cidade de Lisboa, ao sábado nem ao domingo nem à segunda feira morreram de peste até dez pessoas, morrendo dantes cada dia quarenta e cinquenta pessoas: e dali por diante se foi apagando a peste e em poucos dias não morreu ninguém, de que na mesma semana entraram naus e navios de trigo, que abasteceram a cidade e seu termo em grande abastança. […]

Romeiros na Atalaia. Início do século XX (Arquivo Fotográfico da Câmara Municipal de Lisboa).


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MOBILIDADE

Ciclovia Montijo Pinhal Novo E

stá na reta final a construção da ciclovia Montijo-Pinhal Novo, na antiga linha de caminho-de-ferro. A obra sofreu uma prorrogação graciosa do prazo de finalização, mas estão a terminar os trabalhos de construção do lancil, colocação de tout-venant, travessias pedonais, serventias e readaptação de caixas de visita. Denominado de Montijo Ciclável, é uma intervenção de alcance intermunicipal que consiste na construção de uma via destinada à utilização de

ciclistas e também de peões, procurando promover a mobilidade quotidiana sustentável, com repercussão na proteção do ambiente e, consequentemente, na qualidade de vida das populações Um investimento no âmbito do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano (PEDU), decorrente de uma candidatura ao POR Lisboa 2020, que tem o valor global de 726 289,89 euros com financiamento FEDER (50 por cento) de 363 144,95 euros.

CANHA

Remodelação de rede de água e calcetamentos O

Município do Montijo está a realizar um investimento superior a 120 mil euros na Freguesia de Canha, através da remodelação de parte da rede de abastecimento de água e calcetamento de várias artérias. Está em curso uma empreitada de remodelação da rede de abastecimento de água nas ruas da Nazaré, do Celeiro, António Boleto Ferreira e Humberto Delgado. A empreitada tem o valor de 37 mil euros e inclui, também, a execução ou substituição de ramais de ligação. A intervenção, que está a ser executada pelos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento do Montijo, procura melhorar a qualidade do abastecimento de água na freguesia, através da substituição da tubagem de fibrocimento, ainda, existente no local. Simultaneamente, nas mesmas ruas, a Câmara Municipal do Montijo está a proceder à substituição e regularização de calçadas, numa obra de valor superior a 83 mil euros.

Espaço Oposição BE

Incertezas O atual momento pandémico provoca-nos incertezas e angústias, indefinições e empobrecimento e pouca esperança no futuro. Se por um lado somos reconhecidos a nível internacional pela resposta que o país deu, Governo e população, estamos também numa fase incerta ao nível social e económica. Esta situação calamitosa provocada pela covid-19, revela que os estados por mais ricos ou pobres que sejam sofrem sérias consequências se não tiverem SNS-Serviços Nacionais de Saúde apetrechados com pessoal e com material. Esta é a altura em que os estados podem dar um outro rumo a economia, por força das consequências, e em

que devemos por tudo em causa, em especial o sistema económico vigente. A natureza especulativa e agiota do sistema capitalista empobrece os cidadãos e os estados, com a permissão dos governos. O capital financeiro e os Bancos continuam a reger os destinos de milhões de cidadãos. As Parcerias Público-Privadas na Saúde são um exemplo. A natureza capitalista da economia continua a favorecer os ricos e poderosos. Muitos empresários, liberais e pseudo opinion makers dizem que o Estado deve apenas regular e deixar o mercado funcionar, mas ao primeiro sinal de problemas é ao mesmo Estado que vão pedir ajuda. Pura hipocrisia e incoerência.

A maior parte das empresas e empresários não conseguem sobreviver sem o estado. Com a aplicação do lay off, os apoios às empresas têm de ter como condição a manutenção de salários e postos de trabalho, tal como já fizeram outros países, Espanha, Grécia e Itália. E se existisse um teto salarial para as administrações das empresas que querem beneficiar do lay off? E os dividendos e os perdões fiscais e os off-shore e os milhões para os bancos? Portugal seria mais justo e mais rico. Ricardo Caçoila Bloco Esquerda Montijo


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OBRAS

Pavimentações em Sto. Isidro e Sarilhos Grandes A

Câmara Municipal do Montijo prossegue o seu plano de manutenção da rede viária do concelho, através da pavimentação de ruas e estradas nas várias freguesias do concelho. Desde o final da semana passada, que decorrem trabalhos de pavimentação na freguesia de Sarilhos Grandes. Já foram asfaltadas as ruas do Tejo e António Manuel Soares, assim como a Travessa dos Paulinos. Em Santo Isidro de Pegões, estão a ser reparadas as avenidas de Santo Isidro e 25 de Abril, removendo raízes e repondo o pavimento em betão betuminoso. As intervenções estão a ser realizadas ao abrigo da empreitada de trabalhos diversos 2020, que tem um valor global superior a 140 mil euros e vai prosseguir ao longo de todo o ano.

ESPAÇOS VERDES

Jardim das Nascentes em construção ontinua em execução o Jardim das Nascentes, no Alto das Vinhas Grandes. Estão em C curso os trabalhos de pavimentos em betão poro-

so, eletricidade, sementeiras, plantações e colocação de mobiliário urbano (bancos, candeeiros), execução de muros de betão para instalações especiais e redes de rega. A obra insere-se no quadro da regeneração urbana e representa um investimento superior a 1 milhão e 291 mil euros, com financiamento FEDER (50 por cento) de 645 861,64 euros, ao abrigo de candidatura municipal ao POR Lisboa 2020.

OBRAS

A requalificação paisagística abrange toda a propriedade, integralmente inserida em área da Reserva Ecológica Nacional e com uma área natural de 3,7 hectares, procurando preservar as suas características biofísicas e hidrológicas. Pretende-se que o Jardim das Nascentes funcione como uma área natural propícia à fruição como espaço de natureza e de lazer, adequada para práticas culturais e de caráter recreativo. Para este efeito, a câmara vai adjudicar a recuperação da casa senhorial ali existente através do projeto da Casa da Música Jorge Peixinho.

Casa da Música O

primeiro passo para o início da obra da Casa da Música Jorge Peixinho foi dado com a adjudicação da empreitada, na reunião da Câmara Municipal do Montijo, realizada a 27 de maio. A obra terá um valor global superior a 980 mil euros. A empreitada, classificada “como histórica” pelo presidente da Câmara Municipal do Montijo, Nuno Canta, consiste na reabilitação e requalificação de um edifício que é património municipal, localizado na zona do Pocinho das Nascentes, no mesmo local onde está em curso a obra do Jardim das Nascentes. Para além da preservação volumétrica da casa de habitação original, a obra inclui a edificação de um auditório polivalente para as áreas da música e das artes de palco, orientando o projeto para funcionar como equipamento cultural.



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