CAPA
2017
Setor farmacêutico segue em crescimento e espera índices mais favoráveis no próximo ano
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ABRADILAN EM REVISTA | EDIÇÃO 32
Por Tatiana Ferrador
O
ano de 2016 chega ao fim como um ano difícil, em que a grande maioria dos setores produtivos registrou retração, onde a indústria encolheu 9,1% apenas no 1º semestre e com um número recorde de desempregados, na ordem dos 12 milhões de pessoas. O setor farmacêutico, no entanto, mais uma vez remou contra a maré. Longe de não ter sido afetado pela instabilidade econômica pela qual o país atravessa, podemos dizer que mesmo o crescimento sendo aquém do esperado, cresceu algo em torno de 12,55%, como apontam os índices da Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias (Abrafarma), acumulando R$ 25,9 bilhões, contra R$ 23 bilhões nos primeiros oito meses de 2015. “Para 2017, entendemos que o cenário deverá apresentar um ritmo de expansão parecido com 2016, com desempenho superior em todos os setores do segmento farma, porém, abaixo do que experimentamos nos últimos anos”, afirma o vice-presidente do Grupo FQM, Alessandro
“
sidade, o segmento farma é reconhecido como um dos mais resilientes da economia brasileira, com crescimento em receita e unidades. Fatores como envelhecimento da população brasileira, maior acesso a informações e tratamentos de patologias crônicas contribuem de forma significativa com a manutenção do crescimento do setor para os próximos anos. “No entanto, é imprescindível enxergá-lo como um setor essencial e ter planos específicos e orientados a longo prazo”, esclarece Millian. Mesmo diante de um cenário mais complexo, a saúde e o bem-estar são prioridades que o brasileiro não abre mão. A busca por qualidade de vida, praticidade e resgate da autoestima fazem do mercado brasileiro um inesgotável potencial de consumo. No entanto, a retomada do crescimento econômico do país é fator crítico de sucesso para que o setor possa resgatar o patamar de crescimento dos anos anteriores. “Acreditamos que haverá espaço para empresas éticas e comprometidas com a qualidade e o desen-
EM 2016 FECHAREMOS O ANO DE FORMA POSITIVA, COM
O CRESCIMENTO DE VENDAS ACIMA DA INFLAÇÃO E ALTA DE CERCA DE 5%, O QUE DEVE SEGUIR CONSTANTE EM 2017. CONTUDO, EM RELAÇÃO AO AUMENTO DE FATURAMENTO, ESSE DEVE SER MENOR, SENDO QUE A ELEVAÇÃO DOS PREÇOS DEVERÁ SER MENOR.
”
EDISON TAMASCIA, PRESIDENTE DA FEBRAFAR
Millian. “Acreditamos que os medicamentos de marca devem se manter na dianteira do setor como a principal categoria em receita, seguidos dos produtos destinados ao tratamento de doenças crônicas e depois por dermocosméticos e MIPs (medicamentos isentos de prescrição), impulsionando o crescimento do setor”, diz. O executivo defende, ainda, que mesmo diante de um cenário econômico que ainda enfrentará grandes desafios, 2017 deverá ser um ano de recuperação para o setor farmacêutico. “Se as políticas públicas forem de fato efetivas, poderemos obter recuperação de postos de trabalho e novos investimentos para o setor e para o país”, explica. Pelo fato de se enquadrar em um setor de primeira neces-
volvimento de soluções farmacêuticas e dermatológicas inovadoras, eficazes, seguras, acessíveis e que atendam às expectativas do exigente paciente e consumidor brasileiro. Para isso, é importante ressaltar que, para manter-se na vanguarda da competitividade, é necessário apoio, pois precisamos fomentar investimentos para pesquisas e desenvolvimento de produtos”, endossa o executivo. Quem também acredita que 2017 será mais promissor para a indústria farmacêutica é o diretor comercial da Photon Group, Fernando Marinheiro, que atribui aos medicamentos genéricos e similares a propulsão para bons negócios no próximo ano. “Acredito que a situação econômica e política do Brasil ainda estará em fase de recuperação
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em 2017 e, nesse cenário, as categorias que garantem mais acesso à população, como é o caso dos genéricos e similares, que sempre crescem mais que o mercado”, diz. “Também temos a categoria de nutracêuticos que tem mostrado uma boa evolução no mercado farma”, afirma. Para a consultora especializada em varejo farmacêutico, Silvia Osso, é preciso trabalhar com foco no negócio, cuidar da gestão em todas as suas faces: financeira, estoque, relação com clientes, RH, administrativa, entre outras. “O estoque é o ‘coração da casa’ e, quando muito bem equalizado, todos ganham. Sem esquecer, ainda, que a imagem da empresa e das farmácias conta muito, e o atendimento deve ser cada vez melhor em todas as suas nuances”, pontua. O presidente da Federação Brasileira das Redes Associativistas e Independentes de Farmácias (Febrafar), Edison Tamáscia, é mais cauteloso acerca de 2017. “É muito arriscado qualquer tipo de avaliação sobre o mercado brasileiro no próximo ano, mas a maior expectativa que observo é para o crescimento dos produtos genéricos no mercado, pois há nesse segmento um grande espaço para crescer.” Os números da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenéricos) comprovam o raciocínio de Tamáscia, uma vez que os medicamentos genéricos tiveram um desempenho acima da média do mercado farmacêutico. Em relação ao 1º trimestre do ano passado, as vendas de medicamentos genéricos cresceram 18,7% em unidades comercializadas. Ao todo, foram 270 milhões, entre janeiro e março de 2016, contra 227,4 milhões no mesmo período de 2015. A projeção de crescimento do IMS Health é fechar 2016 com algo entre 13% e 15% de aumento em relação ao ano anterior. A expectativa é de que as novas moléculas gerem um ganho de
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12,55
foi o crescimento médio registrado pelo setor farmacêutico nos primeiros oito meses de 2016
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R$ 615 milhões por ano, e que até 2025, as novidades que irão surgir no mercado deverão ser capazes de gerar um faturamento extra de R$ 1,7 bilhão.
DESAFIOS Para Silvia, aumentar a profissionalização do setor é um dos maiores desafios para 2017, já que cerca de 50 mil farmácias médias e pequenas ainda estão totalmente fora da profissionalização e precisam dar um salto de qualidade e qualificação. “Criar e desenvolver a Atenção Farmacêutica (também chamados de Consultório Farmacêutico, Serviços Farmacêuticos ou Care Center) será um desafio a vencer. O fato é que haverá a necessidade de alta dose de profissionalização nesse setor para dar um salto de confiabilidade e crescimento às farmácias”, pondera. Ela cita, ainda, o desenvolvimento do Estudo de Categorias com o incremento de gerenciamento das categorias e as técnicas de negociação de espaços comerciais dentro das farmácias como questões que também merecem atenção especial no próximo ano, ainda que sejam desafios mais específicos para as grandes redes. “No entanto, o atendimento será o desafio para todas as farmácias, sejam as associativistas ou não, grandes redes ou independentes”, diz. Atenta à necessidade de qualificação contínua, o Aché criou em sua plataforma o “Cresça com Aché”, ferramenta de ensino à distância desenvolvida em parceria com a Universidade Estácio, uma das maiores universidades do país e o 3º maior grupo educacional do mundo, e que possui uma ampla variedade de cursos e treinamentos para desenvolvimento pessoal e profissional. De acordo com o gerente de Treinamento de Vendas do Aché, Marcos Mantelo, o mercado está cada vez mais dinâmico, globalizado e competitivo, o
R$25,9 bilhões
foi o faturamento absoluto do setor até agosto deste ano
out. 11 a set. 12
out. 12 a set. 13
out. 13 a set. 14
out. 14 a set. 15
out. 15 a set. 16
VALORES R$
48.392.375.903
56.015.417.851
63.820.408.875
73.260.402.907
82.921.161.102
CRESCIMENTO
-
13,61%
12,23%
12,89%
11,65%
UNIDADES
2.559.801.930
2.847.282.315
3.097.771.209
3.352.809.249
3.524.265.366
CRESCIMENTO
-
10,10%
8,09%
7,61%
4,87%
que demanda profissionais cada vez mais atualizados. “O ‘Cresça com o Aché’ foi criado pensando na capacitação dessas pessoas, que poderão buscar crescimento profissional e garantir um melhor desempenho nos negócios em que atuam. E isso impactará na vida do consumidor final, que contará com melhor atendimento e informações qualificadas”, avalia Mantelo. Inicialmente, com mais de 30 cursos para capacitação de profissionais dos pontos de vendas, o portal possui trilhas de aprendizagem desenhadas para cada perfil de profissional, sendo possível ampliar o conhecimento em áreas relacionadas ao mercado e varejo farmacêutico, desenvolvimento profissional e lazer. Em 2017, a profissionalização seguirá cada vez melhor e mais focada e o crescimento do mercado será sustentável e crescente. “As menores, sem profissionalização, serão cada vez mais ameaçadas e terão que se profissionalizar para não morrer, investindo na presença permanente de farmacêuticos, o que nem sempre ocorre hoje, apesar de ilegal”, lembra Silvia. Inovações são o oxigênio da indústria farmacêutica, mas para tal, são necessários altos investimentos. O desafio está em mitigar ao máximo os riscos e ser cada vez mais assertivo nas ações. “Em se tratando do varejo farma, o estímulo é melhorar o mix dentro da farmácia, assim como a gestão de categoria, que tem evoluído muito e apresentado um bom equilíbrio entre demanda e rentabilidade. Com a enorme carga tributária em medicamentos e as margens cada vez menores, essa é uma boa alternativa para rentabilizar o negócio”, pondera Marinheiro. Já para Millian, da FQM, os principais desafios que o setor enfrenta são os constantes aumentos dos custos de matéria-prima, a valorização do dólar, a redução das margens devido ao aumento da competitividade e regulação de preços, a elevada carga tributária que precisa ser repensada, a instabilidade atual da economia e o complexo ambiente regulatório. “Ainda assim, a expectativa é superar os dois dígitos em receita, sobretudo se a economia voltar a aquecer e apresentar recuperação tão esperada.”
Fonte: IMS Health
DEMANDA DE MEDICAMENTOS NO BRASIL - TOTAL NO CANAL VAREJO
PROMISSORES O setor farmacêutico como um todo tem perspectivas positivas para o próximo ano, contudo, há algumas categorias que podem crescer mais, como a dos medicamentos genéricos, vitaminas e suplementos alimentares, cabelos, dermocosméticos, nutracêuticos e maquiagem. “Penso que os medicamentos ainda serão sua maioria no crescimento (cerca de 60% das vendas) e que o HPC crescerá ainda mais e ocupará cerca de 40% das vendas das farmácias”, diz Silvia. De fato, quando falamos em HPC estamos diante de um segmento nitidamente mais promissor que os demais. Por outro lado, há muito tempo que nem só de medicamentos se compõe o tíquete médio de uma farmácia, e itens de higiene, perfumaria e cosméticos ganham mais visibilidade a cada ano. Diferentemente dos medicamentos, que em sua grande maioria têm preços controlados pelo governo, os produtos do setor de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos têm preços menos engessados, o que permite ao varejista trabalhar com valores mais atrativos no sentido de protegerem suas margens de lucro. O Brasil ocupa a 4ª posição no mercado de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos, atrás dos Estados Unidos, China e Japão, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (ABIHPEC). Quando falamos em empresas atuando no setor de HPC, chegamos a 2.522, sendo 20 de grande porte, com faturamento líquido, livre de impostos, acima dos R$ 100 milhões. O setor apresentou um crescimento médio deflacionado composto de cerca de 10% ao ano nos últimos 19 anos, tendo passado de um faturamento “Ex-Factory”, líquido de imposto sobre vendas, de R$ 4,9 bilhões em 1996 para R$ 43,2 bilhões em 2014. O presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), Eduardo Terra, vê o consumo relativamente protegido para o próximo ano. “O público consumidor depende basicamente de dois fatores para continuar comprando produtos de HPC: emprego e renda que, por mais intempéries que sofreram, não foram os mais atingidos nesse
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CA CAPA APA setor”, argumenta. “Tivemos cerca de 55 milhões de consumidores que deixaram as classes D e E em 2002, e 3 milhões retornaram em 2015, mas que ainda assim não querem abrir mão do benefício conquistado”, lembra. “A pessoa que trocou o sabonete por xampu para a lavagem de cabelo certamente não quer voltar a usar o sabonete e é exatamente aí que está a oportunidade da farmácia lucrar com isso e aumentar o mix de produtos de HPC.” Outro destaque fica por conta dos nutracêuticos, que segundo o relatório publicado pela Markets and Markets, crescerá de US$ 23,8 bilhões (2013) para US$ 33,6 bilhões em 2018. “Os nutracêuticos já são um grande sucesso na Europa e serão cada vez mais introduzidos no Brasil, com suas cápsulas ou líquidos de beleza com colágeno, elastina, biotina e outros. A dificuldade da introdução ainda em maior escala se deve ao preço, já que nosso país em retração retarda um pouco a sua venda, mas clientes de maior poder aquisitivo seguirão adquirindo-os aqui ou fora do país”, ressalta Silvia, que menciona o possível crescimento também de descartáveis adultos, produtos sem lactose e sem glúten e dermocosméticos de última geração. De olho no potencial dos nutracêuticos, o Aché anunciou em julho passado a aquisição do Laboratório Químico Farmacêutico Tiaraju, empresa gaúcha voltada à produção de fitomedicamentos. Por meio da aquisição, a companhia irá incorporar 12 novos produtos e o acesso ao portfólio diferenciado de nutracêuticos e nutricosméticos. Segundo a companhia, a ideia é inserir novos nutracêuticos no mercado em 2017, ampliando sua participação em um segmento de R$ 1,3 bilhão anual. A estratégia possibilitará à empresa dobrar o faturamento com nutracêuticos e a entrada no segmento que movimenta R$ 360 milhões no país. Na opinião de Marinheiro, os nutracêuticos vão bem, po-
18,7
%
foi a alta dos genéricos em unidades comercializadas, de janeiro a março
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rém, os suplementos ainda tem um longo caminho. “A farmácia ainda não aprendeu a trabalhar bem essa categoria, mas acredito que deva ser encarada com muito carinho, já que esse mercado movimenta R$1 bilhão/ano, com margens bem mais interessantes que os medicamentos, e ainda pode contribuir muito para rentabilizar o mix”, pondera. Já Millian destaca que os nutracêuticos e suplementos reforçam a tese de que o consumidor brasileiro valoriza produtos que promovem bem-estar e qualidade de vida. Diante disso, a categoria de dermocosméticos é uma das principais em crescimento e volume de vendas, principalmente, alavancada por produtos que apresentam ativos novos e exclusivos. “Também acreditamos que a categoria de probióticos e simbióticos é inovadora e irá despontar com um robusto crescimento, uma vez que os profissionais de saúde e consumidores relatam resultados amplamente satisfatórios com essa categoria”, finaliza. Para Tamáscia, a principal lição para 2017 é referente à necessidade de modernização das farmácias e capacitação dos gestores. “Tanto priorizamos esses pontos que somos fornecedores de novas ferramentas e de cursos para capacitação de nossos parceiros. Sabemos que o caminho é dividir o conhecimento, pois isso fortalece o mercado como um todo”, lembra. Como diz o presidente da Febrafar, por muito tempo, um dos principais desafios das farmácias eram questões regulatórias, contudo, essa preocupação passa a ser mais para indústrias, nos próximos anos. Para ele, cabe às farmácias, ainda, o desafio quanto à questão tributária, que é muito complexa e que proporciona um custo muito alto, vide casos de substituição tributária. “Infelizmente, a solução para minimizar esse problema seria uma reforma tributária, o que não há perspectivas de ser realizada.”
R$270 milhões
foi o valor acumulado dos genéricos no 1º trimestre