Jornal Porto. Nº 3

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N.º 03

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I N V E R N O 2 0 1 7 • D I ST R I B U I ÇÃO G R AT U I TA

O jornal Porto. é um trabalho do Gabinete de Comunicação e Promoção da Câmara Municipal do Porto, distribuído gratuitamente em todos os endereços residenciais e comerciais da cidade. Além da atualidade e de artigos de fundo sobre temas de interesse para os cidadãos, é um veículo de liberdade de expressão, de todo o espectro social, cultural e político do Município. • Direção Rui Moreira • Coordenação Editorial Nuno Nogueira Santos • Edição de Fotografia Miguel Nogueira • Redação Jorge Rodrigues, Joaquim Guilherme Blanc e Milene Câmara • Direção de Arte Eduardo Aires • Paginação Oscar Maia • Impressão Público • Tiragem 180.000 exemplares • issn 2183-6418 Colaboraram nesta edição Pedro Moutinho, Gustavo Pimenta, Artur Ribeiro, Belmiro Magalhães e José Castro – opinião • Nuno Nogueira Santos – fotografia “Istambul” • Manuel Carvalho – entrevista a Luís Valente de Oliveira

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Um dos mais importantes programas culturais da Câmara do Porto cruza a cultura e a coesão social e foi procurar nos bairros sociais novos protagonistas para a música. E encontrou-os, para depois os levar até ao palco do Rivoli. Chama-se Oupa! e já transformou a vida de vários jovens em Ramalde e no Cerco. ∫≤

O velho Canil Municipal, construído há 80 anos, tem os dias contados. Em 2017 começará a ser construído o novo Centro de Recolha, moderno, com mais capacidade e respeito pelos animais. A obra ficará inserida em Azevedo de Campanhã, junto ao Horto Municipal e faz parte da estratégia animal do atual executivo. ∫≤

A freguesia de Campanhã viu criada a sua primeira Área de Reabilitação Urbana na zona da Estação, mas que também abrange parte da freguesia do Bonfim. O investimento previsto para esta área é de 75 milhões de euros numa década, o que inclui o terminal intermodal de Campanhã, atualmente em concurso. ∫≤

A IMPRENSA NO PORTO

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esta edição publicamos uma entrevista a Luís Valente de Oliveira, um espírito livre que a cidade escuta. A entrevista foi feita por Manuel Carvalho, um nome destacado do jornalismo. Não será normal, dirão, que uma publicação municipal assuma este papel de difusora de opiniões e ideias de forma crítica, sem censuras, dando voz livre aos protagonistas e às forças políticas. Notarão que a minha fotografia não se espalha pelas páginas deste jornal que, sendo editado pela Câmara do Porto, é da cidade. Perguntarão por que razão um presidente da Câmara se sujeita a tal exercício e escrutínio. Uma explicação é querermos que seja interessante. E o que interessa aos portuenses são notícias sobre o Porto. A outra explicação é menos benigna, mas merece reflexão. A imprensa do Porto tem vindo a definhar por inúmeras razões. A que subsiste é triste e ensimesmada, verga-se à tentação vertiginosa de ser nacional, mas renega a rua onde nasceu. Parece ter pudor de escrever alguma coisa positiva sobre o Porto nas suas manchetes, ou de referir aquilo, e é muito, que os portuenses fazem pela cidade e pelo país. E isso reflecte-se na perda de leitores mas, pior, cerceia o aparecimento de novos protagonistas, de que a cidade precisa. Numa altura em que os jornalistas se preparam para um congresso, quase 20 anos depois do anterior, seria útil avaliar as causas da decadência da imprensa do Porto e definir caminhos possíveis para que, no futuro, volte a assumir o protagonismo que a cidade merece. Rui Moreira

Câmara toma conta do Batalha É

uma velha ambição dos portuenses. Ver o Cinema Batalha recuperado e a funcionar. Vai ser concretizada, graças à assinatura de um contrato que abre portas à reabilitação do edifício e às sua dinamização. O espaço passará a ser gerido pela autarquia nos próximos 25 anos, a favor da programação cultural da cidade. A Câmara e os proprietários do edifício, considerado um dos mais importantes marcos arquitetónicos do Porto, acordaram o arrendamento pelo valor mensal de 10 mil euros, que permitirá o desenvolvimento de um projeto ligado ao cinema, assente nos valores da memória, conhecimento e inovação. O projeto, designado “Cinema Batalha” terá como principais eixos estratégicos o conhecimento sobre a História do Cine-

ma através de sessões regulares de cinema de arquivo, em formatos analógicos e digitais; a disseminação de discursos contemporâneos na área do Cinema sem canais de difusão no circuito comercial e nos festivais existentes; o apoio a agentes programadores e distribuidores na apresentação de novas cinematografias, e novos debates, na área do Cinema e da Imagem em Movimento; o apoio à investigação no domínio da História do Cinema e do pensamento crítico sobre a Imagem em Movimento e ações de cruzamento disciplinar entre a Imagem Movimento e outras artes, nomeadamente as visuais através de projetos expositivos. O famoso edifício, que atualmente se encontra sem utilização e a degradar-se interior e exteriormente, é considerado

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fundamental, não apenas do ponto de vista cultural, mas também do ponto de vista urbanístico, económico e social. A sua reabilitação e uso serão fundamentais na recuperação social e comercial de toda a Praça da Batalha e ruas adjacentes, como é o caso a Rua 31 de janeiro. Por outro lado, a Câmara do Porto, com o desenvolvimento deste novo projeto, complementa a actividade cultural da cidade, já garantida em áreas como as artes performativas e música e as artes visuais. O funcionamento do Cinema Batalha constitui também a consolidação da estratégia de regresso do cinema à Baixa do Porto, iniciada com o lançamento do cartão Tripass e com a dinamização dos cinemas Trindade, Passos Manuel e Auditório Isabel Alves Costa, no Rivoli.


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NOTÍCIAS DO PORTO

Câmara duplica oferta no desporto

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urante os próximos dez anos, a Câmara do Porto passa a incluir mais um campo de futebol de 11 na sua rede de equipamentos desportivos municipais, na sequência de um protocolo estabelecido com a Universidade do Porto. O campo sintético da Faculdade de Desporto (fadeup), localizado no Polo Universitário da Asprela, passa a estar sob gestão da empresa municipal PortoLazer no período pós-letivo, possibilitando a sua utilização por agentes desportivos da cidade durante o fim de semana e de segunda a sexta-feira no período noturno, a partir das 19,30 horas. “Sabemos o défice que o Porto ainda tem no que se refere à oferta de equipamentos desportivos, pelo que este é mais um importante passo que estamos a dar no sentido de garantir a máxima rentabilização dos recursos que já existem na cidade”, explicou Rui Moreira durante a visita que realizou ao recinto, há cerca de uma semana. A rentabilização deste equipamento permitirá que o sintético da fadeup passe a ser utilizado pelos vários escalões de formação do Sport Comércio e Salgueiros,

Guardas-noturnos na cidade Rui Moreira entregou à Ministra da Administração Interna uma proposta de alteração legislativa que visa a promoção dos guardas-noturnos. “Estamos a desenvolver contactos com o ministério que a Senhora Ministra tutela sobre uma

Cartão Tripass à venda

Alumia anima centro histórico

A Câmara do Porto anunciou uma estratégia de apoio à exibição de cinema nas salas da Baixa, que permitirá o renascimento do Cinema Trindade, do Passos Manuel e que também inclui o Teatro Rivoli. A estratégia passa igualmente pelo lançamento do cartão Tripass, que já se encontra à venda por 10 euros. Com esta iniciativa, o cinema Trindade voltará a funcionar a partir de fevereiro. Em todas as sessões de cinema ao longo de um ano, o cartão Tripass oferece um desconto de 25% sobre o valor do bilhete normal (exceto nas de preço único). O titular do cartão tem, ainda, acesso a convites para sessões especiais de cinema e a informação privilegiada regular sobre a programação nas diferentes salas.

Para celebrar os 20 anos da classificação do Centro Histórico do Porto como Património Mundial, assinalados no passado dia 5 de dezembro, a Câmara do Porto apresentou o livro “20 anos, 20 imagens” e lançou o programa Alumia. O projeto desafiou artistas e criadores a transformar a visita noturna ao património, através seis instalações físicas, patentes até 8 de janeiro, que usaram a luz como ferramenta de exploração plástica e simbólica. O próximo momento resulta de uma convocatória aberta à comunidade artística. O júri vai agora avaliar as 20 candidaturas recebidas, selecionando as sete melhores propostas que serão reveladas ao público a 24 e 25 de março, véspera e Dia Nacional dos Centros Históricos.

num total de mais de 300 jovens. A autarquia garante a colocação de torres de iluminação, num investimento que ronda os 50 mil euros. Em apenas dois anos, o Município conseguiu duplicar a oferta da sua rede municipal de campos, agora composta pelos campos de futebol de Campanhã, Viso, Polidesportivo dos Choupos, e pelos estádios do inatel e da fadeup, a que se soma a utilização de 15 horas semanais nos requalificados campos do Pasteleira. Em adiantado estado de degradação estava o campo de Ramalde, do inatel, mas que agora está em fase final de requalificação, depois da Câmara do Porto ter protocolado com aquela instituição a sua utilização e abertura à cidade. Rui Moreira revelou recentemente que é intenção da autarquia facultar as instalações aos escalões de formação do Boavista, entre outros clubes. A intervenção que está a ser ultimada inclui a colocação de relvado sintético, pista de atletismo, balneários, torres de iluminação, entre outras valências.

Centro de Saúde da Batalha em construção

A

s obras de construção do Centro de Saúde da Batalha já começaram e fazem parte da Carta de Equipamentos de Saúde Primários do Porto. O protocolo estabelecido entre a autarquia e a Administração Regional de Saúde do Norte visa a remodelação e adaptação das instalações às necessidades de profissionais de saúde e utentes. O investimento em curso, subsidiado por fundos europeus, com um valor superior a 1,7 milhões de euros, vai dotar a Unidade de Saúde Familiar (usf) Rainha D. Amélia, a Unidade de Cuidados na Comunidade (ucc) Baixa

possível alteração legislativa ao Regime jurídico dos guardas-noturnos que promova não só a dignificação laboral da função mas também abra portas a novos cenários de atuação em estrita articulação com as forças de segurança”, revelou o autarca. O presidente da autarquia lembrou que “a segurança pública não deve ser feita por privados” e que a sua proposta para os guardas-noturnos pode ajudar a melhorar a segurança de casas e do comércio e, logo, da cidade.

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do Porto, a Unidade de Saúde Pública (usp) do Porto Ocidental e o Centro de Vacinação Internacional do Porto, com instalações que permitam melhorar a qualidade, a humanização e a segurança de todos os seus utilizadores. As unidades mencionadas funcionaram, durante vários anos, em edifícios alugados que não reuniam as condições indispensáveis à prestação de cuidados de saúde. No âmbito da Carta de Equipamento de Saúde Primários do Porto, estão ainda previstos fortes investimentos no novo Centro de Saúde de Ramalde e nas unidades de Campanhã.


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NOTÍCIAS DO PORTO

STCP gerida pelas autarquias

O

s transportes coletivos rodoviários do Porto vão passar a ser geridos pelos seis municípios onde circulam. A Câmara do Porto presidirá à administração, mas a dívida da empresa e o investimento numa nova frota ficarão nas mãos do Estado. A partir de fevereiro será possível começar a aplicar medidas de gestão que, a médio prazo, darão à região do Porto um serviço público com maior qualidade. Rui Moreira diz que a transferência de competências para os municípios é ir ao encontro daquilo que os cidadãos esperam. Na cerimónia de assinatura do acordo entre o Estado, Área Metropolitana do Porto e seis câmaras, para a passagem da gestão da stcp para as autarquias, que decorreu no segundo dia do ano, o autarca do Porto defendeu, assim, a descentralização e a solução encontrada pelos parceiros para os transportes metropolitanos. “Os Municípios devem ter mais competências. As competências que os munícipes esperam de nós”, afirmou, acrescentando que “há muito que os cidadãos me perguntam porque a stcp não funciona como queriam. Como o fazem em relação à polícia. Ou seja, há uma sensação clara de que os municípios deveriam ter mais competências. Nesse sentido, este é um passo

importante”, concluiu Rui Moreira, que disse também “não temer pela nossa capacidade para gerir a stcp”. “Sei muito bem que seremos capazes de encontrar uma equipa coesa, pessoas competentes e, se as câmaras se empenharem, os resultados serão certamente bons. Desde logo porque vai depender dos municípios, que estarão envolvidos na criação das condições para que o negócio seja, apesar de tudo, sustentável”, realçou. O autarca chamou, ainda, a atenção: “a ideia de que o transporte público pode ser sustentado pela bilhética é um modelo que, infelizmente, não corresponde à realidade”, pelo que “no futuro os Estados vão ter que continuar a envolver-se pesadamente no transporte público”. Nos termos do acordo agora estabelecido, a empresa e a sua dívida mantêm-se na esfera do Estado, que assumirá também um forte investimento na frota, mas serão as seis autarquias envolvidas a gerirem o sistema, sob a presidência da Câmara do Porto. O Primeiro Ministro António Costa garantiu que o Estado não vai lavar as mãos das suas responsabilidades nos transportes urbanos, anunciando a criação de um fundo que ajudará a sustentar os sistemas em todo o país e não apenas no Porto e em Lisboa.

Pavilhão Rosa Mota vai ser reabilitado

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Pavilhão Rosa Mota vai ser reabilitado. A decisão de adjudicar a concessão ao Consórcio “Porto 100% Porto” foi tomada em novembro pelo executivo, ao homologar a decisão do júri do concurso. Este desfecho põe fim a um conjunto de trâmites legais, levantados durante o concurso público lançado pela autarquia em 2014. Com esta decisão, dá-se início ao processo que levará à reabilitação do pavilhão, que ganhará a valência de centro de congressos, devolvendo

à cidade um equipamento que apresenta hoje elevados níveis de degradação. Já em mandatos passados tinha sido tentada a concessão do pavilhão, sem sucesso. No âmbito do concurso, o consórcio vencedor, constituído pela pev Entertainment e pela Lúcios, terá agora que reabilitar o pavilhão a suas expensas e explorá-lo durante os próximos 20 anos, pagando à Câmara do Porto um valor superior a dois milhões de euros. Os jardins do Palácio não serão alterados.

Aeroporto bate recorde

Air France e KLM no Porto

Visita real inédita

NOS Primavera Sound 2017

Pela primeira vez, o Aeroporto Francisco Sá Carneiro atingiu os nove milhões de passageiros transportados no mesmo ano, depois de, em 2015, ter pela primeira vez passado a meta dos oito milhões. O passageiro número nove milhões chegou num avião da companhia alemã de bandeira, Lufthansa, que está a investir no Porto e iniciou em 2016 voos para Munique. Este recorde acontece no ano em que a tap diminuiu o número de passageiros transportados do Porto para a Europa, passando a ser a terceira companhia, atrás da Ryanair e da EasyJet, agora primeira e segunda, respetivamente. Quase todas as companhias aumentaram os seus voos e passageiros no Porto este ano. O aeroporto prevê novos investimentos nos próximos cinco anos para aumentar a capacidade de tráfego aéreo. O crescimento, este ano, corresponde a 15% de aumento de passageiros processados.

A partir de 26 de março, a companhia de bandeira francesa Air France dará início a uma nova rota a partir do Porto para o aeroporto de Paris-Charles de Gaulle, em Paris, com uma frequência de três voos semanais. A companhia de bandeira holandesa klm, que pertence ao mesmo grupo, inicia também voos a partir do Porto para Amsterdão. A rota para o principal aeroporto de Paris, a ser operada pela companhia francesa, terá voos às terças, quintas-feiras e aos sábados, será realizada com Airbus A320 com capacidade para 166 passageiros e oferecerá as classes Business, Premium Economy (económica superior) e Economy. Também a Eurowings iniciará este ano voos do Porto para Munique, a Royal Air Moroc para Marraqueche e a Air Lingus para Dublin. As principais companhias europeias a operar no Porto prevêm aumento de ligações no presente ano.

Pela primeira vez uma visita de Estado começou no Porto, com os Reis de Espanha a serem recebidos nos Paços do Concelho pelo Presidente da República e pelo presidente da Câmara. “O Porto foi invicto no passado, mas é vitorioso no futuro”. Foi desta forma que o monarca concluiu o seu primeiro discurso em Portugal, depois de ouvir Rui Moreira agradecer a distinção que a cidade mereceu: “Se é de uma relação familiar que falamos, devemos, sem medo, assumir quais os nossos valores e património comuns e trabalhar arduamente na sua defesa”. Filipe VI agradeceu e sublinhou que o “Porto viveu, nos últimos anos, uma “impressionante” transformação e modernização, mantendo o respeito pela história e pela tradição, sendo uma cidade aberta, cosmopolita e, ao mesmo tempo, acolhedora”, disse o Rei, a quem Rui Moreira ofereceu um almoço com empresários do Norte.

O nos Primavera Sound já revelou o cartaz da sua sexta edição através de um formato digital inédito e carismático para a sua comunidade de fãs. Na página oficial de Facebook do festival foi lançado um vídeo que, baseado numa personagem que encontra uma garrafa na praia com uma mensagem, foi dando pistas que se cruzaram com vários locais e edifícios emblemáticos da cidade do Porto registados no telemóvel. Estas pistas foram sendo desvendadas, em paralelo, noutra rede social, o Instagram. Através de Instagram Stories, foram sendo revelados os nomes de todos os artistas que vão passar pelo Parque da Cidade, no Porto, de 8 a 10 de Junho. Bon Iver, Aphex Twin, Justice, Run the Jewels, Nicolas Jaar e Skepta são alguns dos nomes em destaque. Este line-up é considerado o melhor de sempre do festival que, em 2016, recebeu cerca de 80 mil espectadores.

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O Porto está a reagir Ninguém exerceu cargos governativos tantas vezes e durante tanto tempo como Luís Valente de Oliveira, em pastas como a Educação, Planeamento, Transportes e Obras Públicas. O Jornal Porto. pediu ao jornalista Manuel Carvalho (Público) para entrevistar uma das mais prestigiadas personalidades da cidade, a quem chama senador.

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uís Valente de Oliveira olha o Porto de hoje, compara-o com a cidade buliçosa da sua adolescência e assinala-lhe vantagens e alguns problemas. O Porto abriu-se à inteligência e à inovação, mantém a sua “obsessão do trabalho” como “uma marca genética”, conserva a sua resiliência aos tempos difíceis e está a navegar por novas oportunidades, como a do turismo. Mas sob este discurso optimista há a denúncia do centralismo, o perigo da dependência de uma actividade e a ameaça da descaracterização. A cidade vista por um dos seus mais influentes senadores. Luís Valente de Oliveira (São João da Madeira, 1937) é um dos mais destacados representantes de uma geração de engenheiros-intelectuais que se empenharam na política para concretizar um projecto de modernização do Norte – e do país. Nesta

entrevista fala-nos do Porto na perspectiva de um tempo longo que desvenda o poder de resistência e de adaptação da cidade, o seu potencial e os riscos que a ameaçam. Para ele, ser cidadão só faz sentido numa interpretação integral do termo. “Não gostaria de viver numa cidade em que eu fosse só espectador. Eu não me vejo sem ter um envolvimento qualquer nos destinos, mesmo que seja só na parte cívica”, diz. Se olharmos em perspectiva, o Porto sempre se deu bem com os tempos de crise. Aconteceu nas guerras do Liberalismo, aconteceu nos terríveis anos 20 quando a cidade pôde até construir o seu imponente edifício municipal, aconteceu depois do 25 de Abril… Como é que o Porto está a reagir à crise actual? Mesmo durante a II Guerra Mundial e a seguir. Durante a II Guerra foi construído aquilo o que se chamava o arranha-céus na Praça D. João I. A grande dificuldade dos engenheiros era encontrar ferro.

Queriam construir aquilo, havia o ímpeto de construir… O Porto, nas crises, reage, descobre outra energia. Agora, o Porto está a reagir. Há duas vertentes em que manifestamente está a aproveitar a onda. Em primeiro lugar, uma razão mais profunda e endógena: as faculdades que se estão a modificar por dentro e estão a ser inovadoras. O inesc tec o inegi e na parte das biociências está a haver uma mudança profunda. As faculdades de hoje não têm nada a ver com o que eram no meu tempo. E isso é uma semente para o futuro. Sim, porque eles estão completamente diferentes e se vir o que tem feito por exemplo o inesc tec… tem introduzido inovação, imensa, no tecido económico. As faculdades hoje são muito diferentes do que eram há 40 ou 50 anos. A crise forçou-as a aguçar o engenho Eu não sei se há só um factor causal.

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Há seguramente um conjunto de factores causais. A crise é um deles. Tiveram de procurar soluções. Mas também aproveitaram circunstâncias que lhes foram dadas. Foram estudar para o estrangeiro, têm contactos novos, há novos doutores que aparecem mais descontraídos. Portanto, a mudança de uma elite académica, profissional e empresarial é muito importante. Depois, esta história inegável: o low cost operou maravilhas. Trouxe muita gente. Vive no Porto há décadas… Vivo desde os meus onze anos, com saídas. Um ano para a Holanda, um ano para Londres, meio ano para o Brasil, dois anos para a Guiné, na tropa, 12 anos para Lisboa para ser ministro. De resto foi sempre no Porto. Qual foi para si a melhor fase do Porto ao longo da sua vida? A minha adolescência.


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Estamos falar dos anos 50. Estamos a falar dos anos 50. O Porto nessa ocasião era uma cidade com um bulício inacreditável. De manhã, as pessoas iam aos bancos. Eram os bancos, eram as companhias de seguros. Era um movimento diferente. Havia muitos bancos e importantes, com sede no Porto muitos deles, como o bpa, o Pinto Magalhães e outros. De manhã era um bulício de negócios. A Rua do Almada era uma coisa inacreditável de bulício, onde havia os armazéns de ferro. E de tarde era o comércio. Toda a gente dos concelhos vizinhos e da cidade vinham à Baixa e estava-se até às sete. Mas depois havia uma coisa que as pessoas já não sabem o que é, que os ingleses chamam de window shop, que era as pessoas a ver as montras. Não havia televisão e ver as montras era um passeio habitual. A cidade estava sempre viva. Agora, voltou a estar viva em certos locais. Há dias até que é demais. Mas é outra coisa. Isto era actividade económica. Nessa ocasião, uns rapazotes, eu e os meus colegas, gostávamos de andar e conhecer o Porto e era sempre estimulante. O Porto não parava. O Porto da minha adolescência não parava. Será que esse Porto se perdeu quando a banca se começou a transferir para Lisboa lá para meados dos anos 60? Ah sim, sim. Não tenho dúvidas. Perdeu dinâmica porque as decisões eram tomadas cá. Os empresários, os industriais, toda essa gente nessa ocasião com grande actividade, no Vale do Ave, por exemplo, e mesmo do Porto – o Porto estava cheio de fábricas dentro do espaço urbano, o Graham ainda funcionava. Tudo isso animava a cidade. Como se explica que estando aqui o grosso da indústria e do investimento a banca se tenha passado para Lisboa. Para estar junto do poder político. Foi quando deixou de haver decisão autónoma na periferia e quando passou a haver necessidade de estar muito próximo da administração. No Porto não estavam perto dos ministérios ou do Banco de Portugal, e por isso foram para Lisboa. Foi a centralização. Mas essa mudança acontece exactamente quando a indústria do Norte beneficiava imenso com o acordo EFTA, que faz, por exemplo, disparar a indústria têxtil. Sim, mas nem isso evitou que muita gente tivesse ido para Lisboa. Houve ocasião em que as delegações, as filiais dos bancos do Porto eram mais importantes do que a sede. Mais importante do ponto de vista da decisão, dos contactos. Portanto, pode-se dizer que foi aí que o Porto perdeu capacidade de decisão na parte económica e financeira. As grandes decisões de empréstimos, de financiamento disto

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e daquilo passaram a ser mais tomadas junto do poder político. Depois de uma certa revivescência no pós-25 de Abril, vieram as privatizações e o Porto ficou ao lado. Criaram-se monopólios na energia, na banca e todos sedeados em Lisboa. De que forma as privatizações foram penalizadoras para o Porto? Antes das privatizações houve uma concentração. Note: uma das coisas que favorecia com certeza a animação económica do Porto era que no Porto havia duas grandes empresas de hidroelectricidade. A Hidroeléctrica do Cávado e a do Douro - havia também a do Zêzere, que estava em Lisboa. Depois, as duas do Porto fundiram-se e quando se fundiram a nova empresa perdeu gente e influência. Eram dois pólos de concentração de competências do sector hidroeléctrico. Uma fez todo o sistema Cávado/Rabagão e a outra todo o sistema do Douro. Eu tenho uma pena enorme de se ter perdido a acumulação de competências num sector tão importante. Depois, avançando no tempo, chegando à era do euro, houve outra situação que poderá ter penalizado o Porto enquanto cabeça de uma região com indústria. Houve uma certa protecção às empresas não sujeitas à concorrência internacional, voltadas para o mercado interno, como a área dos serviços, enquanto as exportadoras ficaram de fora. Eu acho que não foi uma protecção deliberada. Foi a necessidade de ter grandes conglomerados em Portugal. A concorrência nessa ocasião já não era interna, era com o exterior. Nós tínhamos que ter o mesmo tipo de peso das concorrentes estrangeiras… … era o que se chamavam os “Campeões Nacionais”… … exactamente, os “Campeões Nacionais”. Mas o Porto tinha de ficar à margem desse processo? Não. Cada país a sua história e é muito interessante ver por exemplo a da Holanda. Que é mais pequena espacialmente do que nós, mas em dimensão demográfica é praticamente Portugal. Mas tem desde o século XVI as suas regiões equilibradas. O Governo está em Haia, mas o poder económico está em Amsterdão, em Utrecht, em Roterdão, o maior porto do mundo, e isso equilibra. Nem Haia absorve funções económicas, nem Amsterdão absorve exageradamente funções administrativas. Nós não, e isso é uma velha pecha. Tão velha que nem sequer a podemos situar no século XIX? Eu acho que não. Foi para trás. Quando Lisboa era uma das maiores cidades da Europa e do mundo, com D. Manuel I. Ou com o marquês de Pombal.

Subscreve a tese de, por exemplo, Alexandre Herculano, que considera que o país começou a definhar com o fim do municipalismo e da autonomia local dos tempos medievais? Eu sou suspeito porque eu disse isso toda a vida. Disse que o país precisava de mais centros de racionalização e de dinamização. Estou profundamente convicto que com centros de dinamização espalhados, principalmente o Porto, o país seria melhor. Porquê o Porto? Coimbra não se afirmou ao longo dos séculos como grande pólo regional. Faro pode ser um pólo muito especializado, mas o Algarve precisa de uma diversificação grande. O Porto tem uma dimensão económica, tem diversificação, sabe articular essas coisas, tem lastro - desde que as pessoas não vão para Lisboa por não terem emprego no Porto…

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Perante estas adversidades, surpreende-o que as indústrias ditas tradicionais que estão à volta do Porto tenham registado a recuperação dos últimos anos? Eu digo o que se está a passar por experiência. Eu tenho uma admiração muito grande pelo Fortunato Frederico [dono da Kyaia, empresa que detém a marca Fly London]. Encontrei-o numa cerimónia qualquer e disse-lhe que gostava de ver as suas empresas. E ele disse-me para ir. Vi todas, em Paredes de Coura e em Guimarães. E de repente, dentro de uma fábrica, olho para o lado e vejo uma cara conhecida da Faculdade de Engenharia. Perguntei-lhe: o que está a fazer? Estava com dois estagiários, uma dela estrangeira, a fazer medições para fazerem um modelo matemático. O meu velho sonho de ministro da ciência, de fazer doutores para a indústria, estava a acontecer.


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“O turismo no Porto, além das divisas que traz e dos empregos que gera, contribui muito para a imagem. Quando viajo e digo que sou do Porto eles dizem: Linda cidade, já lá estive. As pessoas não conheciam a cidade. A imagem do país forma-se de muitas coisas e a que mais interessa é a imagem da sua inteligência.” As indústrias tradicionais já não são tradicionais, portanto? Não são nada tradicionais. A inovação está lá dentro. Há um senhor que me diz: eu estou a exportar para os Estados Unidos porque fiz um contrato com a Universidade do Minho para me fazerem um tecido; há um outro que me diz: eu não sou têxtil, eu presto serviços que por acaso têm um suporte na têxtil. O Norte está a modificarse porque está a saber introduzir inovação e porque está a ter uma relação muito mais descontraída com a universidade. Nesta fase, o Porto já não é o pólo único da região. Tem de partilhar funções e competências com Braga ou Aveiro. O Porto está a perder protagonismo? Não. O que está a ganhar protagonismo é a concentração de inteligência num eixo de Braga a Setúbal. Ou seja, o modelo que sempre defendeu: o funcionamento em rede das cidades. Sim. Do ponto de vista estratégico é importante que haja nesta parte do mundo um eixo com 400 km de comprido em que há uma concentração de inteligência, de saber e de inovação que mantém contactos com a Europa e o mundo. Temos de olhar de forma diferente para o equilíbrio entre o interior e o litoral. Temos de ter uma afirmação muito grande de uma concentração que neste caso é linear que vai a Aveiro, Guimarães, Porto, Coimbra para algumas especialidades, Lisboa muito e a Setúbal, que tem indústrias importantes como é o

caso da Autoeuropa. Que muita gente criticou na altura. Fui eu que recebi propostas para não dar dinheiro à Autoeuropa e pegar nesse dinheiro e salvar as pme que estavam falidas. Eu não fui nessa. Insisti com o Mira Amaral, com o Faria de Oliveira (ministros da Indústria e do Comércio, à época): eles vêm e não fazem só a Autoeuropa. Induziram um cluster à volta de muitas coisas importantes. Por vezes é preciso ter força e convicção para dizer: é isto que nós precisamos, não vamos ser populares. Teria feito muito jeito ao Norte ter havido um investimento desses… O Norte não deixou de beneficiar dessa aposta. Nessa ocasião instalou-se uma fábrica de volantes em Vila Nova de Cerveira que tinha um único cliente, que era a Renault ou assim uma coisa. O que precisamos sempre é de fazer as coisas bem feitas e não pensar que o nosso mercado é o imediato. O nosso mercado é o mundo. O Porto e o Norte têm muito essa tradição Note, não há receitas únicas. Como dizia um amigo meu, um político espanhol, temos de ir vendo e provado. Com a tradição do Norte de haver médias empresas, o que é preciso é que elas estejam em rede, que cada um faça o que estiver a fazer de forma muito bem feita. Não gosta de economias baseadas numa única actividade. O Porto não corre esse risco com o turismo impulsionado pelas low cost?

Corre. As pessoas não têm essa ideia, mas o turismo é um sector muito vulnerável. Basta uma porcaria qualquer de uma moléstia e as pessoas desertam. Não há lealdade nenhuma nos destinos. O Porto está a dedicar energia a mais ao turismo? O turismo no Porto, além das divisas que traz e dos empregos que gera, contribui muito para a imagem. Quando viajo e digo que sou do Porto eles dizem: “Linda cidade, já lá estive”. As pessoas não conheciam a cidade. A imagem do país forma-se de muitas coisas e a que mais interessa para o desenvolvimento é a imagem da sua inteligência. Nós já temos 18% de estrangeiros na Casa da Música, nos concertos – e eu quero ter mais. Eu vou lá e vejo-os a falar algumas línguas que nem sei o que são. Mas, em relação ao essencial: é perigoso? Temos de diversificar, sempre. Uma região que assenta só numa empresa, só num sector, corre riscos. Pode acontecer que haja um concorrente que tome esse sector e provoque uma derrocada de um momento para o outro. Sendo o turismo uma indústria predadora, fala-se no receio de o Porto se descaracterizar, de se tornar numa cidade de bugigangas e tuk-tuk. Receia esse cenário? Há receio evidente. Esse retrato que fez aplica-se como uma luva a uma cidade que conheci há muitos anos e que era um encanto de lá estar, que é Rhodes. É uma ilha no sul da Grécia e quando a conheci,

há 40 anos para aí, era um local óptimo para se passear. A luz é fascinante e havia um barco de cruzeiros por semana; hoje há sete por dia. De maneira que passear em Rhodes para alguém que goste de Rhodes só pode acontecer depois das seis da tarde, quando os barcos de cruzeiro se vão embora. Os sete barcos de cruzeiro significam 15 mil pessoas ou mais, para aí 20 mil. São 20 mil pessoas projectadas a comprar bugigangas. Nota que em alguns momentos o turismo no Porto está a acusar uma sobrecarga? Sim, é verdade. Nós temos que ser talvez objectivos e perguntar: será este o turismo que nos interessa? Ou um turismo mais à Suíça? E qual é a sua resposta? Eu prefiro a qualidade. E isso é possível no Porto, uma cidade que depende tanto das low-cost? É. Podemos ter as duas. Podemos conciliar esse turismo com um turismo de qualidade, em que a gastronomia e o vinho têm um papel importante, em que uma certa cultura também é importante. Daí o facto de Miró ter ficado no Porto seja mais um activo importante? É uma aposta na gama alta do turismo. Apostar na gama baixa pode ser muito interessante, mas não é estável. Não é estável. A gama alta tem mais permanência e dá mais dinheiro.

“A coleção Miró ter ficado no Porto é uma aposta na gama alta do turismo. Apostar na gama baixa pode ser muito interessante, mas não é estável. Podemos conciliar esse turismo com um turismo de qualidade, em que a gastronomia e o vinho têm um papel importante, em que uma certa cultura também é importante.”

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LU Í S VA L E N T E D E O L I V E I R A • E N T R E V I STA

Estamos a comemorar os 20 anos do Porto Património Mundial. Voltando atrás, até 1996, o que acha que o Património Mundial trouxe de novo à cidade? Orgulho? Em primeiro lugar contribuiu muito para uma responsabilização dos agentes. Isto é património mundial, não se pode tocar, não se pode abandalhar, não se pode destruir e fazer um arranha-céus. E essa atitude de protecção, de cuidado na actuação, hoje não se discute. Hoje todos sentem que há coisas, fachadas, nas quais não se pode tocar. Já não há pressões de ninguém, dos especuladores, dos promotores, já ninguém faz pressão para adulterar o aspecto da cidade. A primeira grande vantagem foi tomar a consciência do valor que nós temos. Ou, dito de outra forma, que nos está confiado. É nosso mas temos de o passar para a geração seguinte. E depois houve muita gente a aprender que isso, afinal, dava dinheiro, que compensava. Afinal não era pôr uma cidade numa redoma, que o património bem utilizado pode ser um modo de vida de gente que cá investe, que usa isto para restaurantes ou para

hotéis que estão cheios, e portanto, houve a consciencialização do valor económico da protecção. De resto, o Porto tem ainda algumas feridas abertas dos atentados que foram feitos ao seu miolo medieval. Caso da avenida da Ponte. Uma ferida que ainda não está resolvida. Vale a pena deitar abaixo uma coisa que ninguém tem para fazer uma coisa que toda a gente tem? Se nós dermos cabo daquilo que nos dá carácter, que define o nosso carácter… É preciso explicar por que razão aquilo define o nosso carácter. Qual é a sua explicação? Há que procurar explicações em cada sítio. A Rua Mouzinho da Silveira, por que é que é assim? Por que é que ela foi assim? O que é que lá estava? Ou a Rua dos Flores? A Rua das Flores da minha adolescência era uma rua de ourives. Os ourives desertaram todos. As grandes casas de ourivesaria do Porto estavam todas na Rua das Flores. A senhora Franco, a

senhora Carmen Polo de Franco, quando vinha para a Galiza vinha sempre ao Porto para comprar jóias. Arranjava um dia para vir comprar as suas jóias. A loja fechava, ela ficava lá duas horas, gastava uma pipa de massa… Tivemos a Capital da Cultura onde as coisas não correram muito bem. O Porto desencontrou-se um pouco. Foi uma ressaca? O que acho que houve foi, em determinada ocasião, falta de coordenação. Refere-se às obras? À intervenção urbana. Fez-se tudo ao mesmo tempo, sem grande coordenação. Aquilo prolongou-se muito e a população ficou irritada. Eu tenho uma teoria para as obras: as obras só são apreciadas dois dias. No dia em que são anunciadas e no dia em que são inauguradas. Entre o dia do anúncio e o dia da inauguração há pó, há lama, há transtorno, toda a gente diz mal. E depois da inauguração, no dia seguinte, as pessoas pensam que as obras sempre lá estiveram.

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E, no caso da Capital da Cultura, entre o anúncio das obras e a inauguração correram anos. Em alguns casos correram anos. Ali teria havido, enfim, grande vantagem em ter-se assegurado uma unidade de coordenação. Depois houve também algum desajustamento da ambição. Quis-se fazer muita coisa ao mesmo tempo. A Capital da Cultura acontece depois de uma década em que tivemos o metro, tivemos o Património Mundial, uma certa abertura e cosmopolitismo. Em 2001 houve, de alguma forma, uma ressaca? Em primeiro lugar teve de se pagar contas. E quando se tem de pagar contas… … há sempre azia… …. Essa fase de arrefecimento, o ter de pagar as contas, é sempre uma trapalhada. Houve muitas cidades onde isso aconteceu. Talvez o caso mais conhecido e mais sério tenha sido Sevilha depois da Expo de 1992. Houve arrefecimento porque os orçamentos seguintes tiveram de pagar


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LU Í S VA L E N T E D E O L I V E I R A • E N T R E V I STA

“A obsessão do trabalho é uma marca genética do Porto. Foi e continua a ser. Não é que ao trabalho esteja sempre associado o aborrecimento e a falta de imaginação. E por isso os portuenses quando se divertem, também o fazem em grande. O que eu vejo é muita gente dizer que a noite no Porto é melhor que em Lisboa.” as contas. Isto é como aquele não muito rico que casa uma filha, faz uma grande festa e depois fica cinco anos a pagar a boda. Nós casámos a nossa filha e tivemos de pagar a boda. Pela sua experiência, como ministro, como académico, que imagem acha que o Porto projecto projecta no país? O Porto é visto como o lugar daqueles irredutíveis gauleses que estão sempre a protestar? Não, eu suponho que não. O Porto tem no resto do país a imagem de uns homens empreendedores muito ensimesmados no trabalho. Um pouco aborrecidos, portanto… Não necessariamente. Porque hoje o que eu vejo é muita gente dizer que a noite no Porto é melhor que em Lisboa. Se vir a miudagem, eu digo por experiência muito próxima, eles dizem que a noite no Porto é única. Antigamente dizia-se que relativamente à Galiza que em Vigo se trabalhava, em Pontevedra aborrece-se, em Santiago reza-se e na Corunha diverte-se. Dizia-se o mesmo em relação a Braga, Coimbra e Lisboa… É a mesma coisa. A imagem do Porto no país é de uma cidade mais ligada ao empreendedorismo, ao trabalho, ao comércio e à indústria do que propriamente o divertimento. Hoje eu imagino que em Braga já não se reze e se estude. A obsessão do trabalho é uma marca genética do Porto. Foi e continua a ser. Não é que ao

trabalho esteja sempre associado o aborrecimento e a falta de imaginação. E por isso os portuenses quando se divertem, também o fazem em grande. O Porto é também uma cidade de cultura. Não apenas pela Casa da Música ou de Serralves, mas também pela sua própria produção cultural. Embora aí, e não sei se subscreve esta tese, se calhar não estamos a viver o período mais glorioso da história do Porto. Não como nos anos 60 dos grandes pintores ou dos anos 80 da música pop. De qualquer das formas há duas coisas no Porto que ajudaram a mudar muito a imagem para o exterior. Já as disse: Serralves e a Casa da Música. Note, é natural que Lisboa tenha puxado muitas coisas. Apesar de haver alguns artistas plásticos no Porto, a inovação está mais em Lisboa neste momento. Nos anos 50 ou 60 não estava? Nós não podemos decretar isso. É por vagas. Por que é que o Porto foi grande na parte artística nos anos 60? Os Quatro Vintes [grupo de artistas plásticos formado por Jorge Pinheiro, Armando Alves, Ângelo de Sousa e José Rodrigues] tiveram muita influência nessa vaga. Mas o Porto, hoje, tem dois Prémios Pritzker. Não deve haver muitas cidades do mundo, suponho até que não há outra cidade do mundo, que tenha dois Pritzker. Na arquitectura, o Porto tem uma posição única no mundo. Se me pergunta: deveríamos nós todos tirar mais vantagens desses valores que temos?

Esses dois Prémios Pritzker são valores para o Porto e nós devemos valorizá-los como se valorizaram os Quatro Vintes.

Está a dizer que é mais fácil ir a Lisboa e resolver os problemas? É.

Do ponto de vista político, o Porto tem a tradição de uma certa rejeição à nobiliarquia, foi a cidade do Liberalismo e depois do 25 de Abril a cidade que assumiu um discurso mais assertivo contra a excessiva centralização do país. O Porto perdeu pergaminhos na sua identidade política? Acho que sim. Perdeu. Se me pergunta, houve um ou outro intérprete, perante os quais as pessoas tinham respeito. A afirmação do Porto nesse aspecto de dizer que “não passa tudo” continua a ser importante. Houve uma ocasião, na parte mais indisciplinada do PREC, em que as pessoas do estrangeiro achavam que quando precisavam de ter informações mais sólidas acerca da economia, por exemplo, eles não davam por mal empregue vir falar com a gente ao Porto. Não havia interlocutores em Lisboa. Depois, há sempre a centralização é uma tentação permanente.

Alguma vez lhe passou pela cabeça deixar o Porto e ir viver para outra cidade qualquer? Não. Note, eu gosto de viajar e viajo. Há muitas cidades do mundo onde eu gosto de estar, especialmente nos lugares onde não me sinto estranho. Estudei em Haia, na ocasião chamada a maior aldeia do mundo, e não me sinto estrangeiro em Haia. Não gostaria de viver numa cidade em que eu fosse só espectador. Eu não me vejo sem ter um envolvimento qualquer nos destinos, mesmo que seja só na parte cívica. Hoje só sou de fundações.

Que existe luta permanente, no bom sentido? Se não lhe quer chamar luta, porque luta dá um sentido diferente, chame-lhe uma contra-acção. Porquê? É evidente que o que as pessoas querem é poder. Se não são contrariadas nesse poder, vão concentrando. Isso é mais fácil, mas é menos variado, tem vícios, tem riscos. Há uns anos atrás as elites económicas participavam muito nessa contra-acção e deixaram de o fazer. Se calhar aprenderam novos caminhos.

É um senador. Atualmente só tenho fundações, cinco ou seis fundações. Só dou palpites (risos). Muitas vezes no Porto vêem-se atitudes contra Lisboa e eu não tenho atitudes contra Lisboa. Lisboa é uma cidade linda, agradabilíssima. Mas eu gosto muito do Porto. O Porto tem vantagens. É muito importante para mim que tenha ligações ao estrangeiro e que eu veja um anúncio de uma coisa qualquer e que me possa deslocar lá com facilidade. As companhias low cost dão-me essa possibilidade de viajar mais vezes. Há um museu que abre em Marselha e eu vou dois dias: 33 euros para ir e 44 para voltar (risos). Isso ainda consigo pagar. Já me passou pela cabeça ir viver para outra cidade. Mas decidi não sair do Porto. Não iria viver para uma aldeia. Sou um homem de cidade. Isso é evidente.

Manuel Carvalho nasceu no Douro, estudou e trabalha no Porto desde meados dos anos de 1980. Foi director adjunto na redacção do Porto do PÚBLICO entre 2000 e 2013 e é hoje redactor principal do jornal. Autor de vários livros sobre o Douro e o Vinho do Porto e do ensaio histórico “A Guerra que Portugal Quis Esquecer”, sobre a I Guerra Mundial em Moçambique. Prémio Gazeta de Imprensa de 2015.

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I STA M B U L • O P O RTO E O M U N D O

segurança, a cidade está a regressar à normalidade, apesar da constante e presente propaganda política de apologia ao regime e bandeiras da Turquia. Muitas, muitas bandeiras da Turquia. Istambul é enorme e dificilmente conseguiríamos, nesta página, dar-lhe a provar os seus sabores. Ou sequer, reproduzir as cores. Fica, por isso, apenas, o desafio para que não perca o mais belo pôr-do-sol do planeta. O que se espelha nas águas do Bósforo, por entre pontes épicas e navios determinados que se cruzam na frente da silhueta de uma cidade entrecortada pelos inúmeros minaretes que georreferenciam centenas de mesquitas. E, se aceitar o desafio, aceite também o conselho que uma guia turística me deu: comece por fazer um cruzeiro no Bósforo, mal chegue a Istambul. Só a partir dali perceberá a cidade. A enorme cidade que liga o oriente ao ocidente. VOOS DIRETOS DA TURKISH AIRLINES

As cores de Istambul O Porto está cada vez mais no Mundo, graças ao seu aeroporto e a companhias aéreas que descobriram a cidade. Mas essas ligações também abrem ao Porto a possibilidade de se descobrirem novos destinos. Nesta edição do jornal Porto., inauguramos a nova rubrica O Porto e o Mundo com uma visita a Istambul.

N

ão há pôr-do-sol como o de Istambul. Não há cores como as que navegam nas águas do estreito do Bósforo, que ligam o Mediterrâneo ao Mar Negro, atravessando o Egeu e o inigualável Mar de Marmara. Meia europeia, meia asiática, a “não capital” da Turquia não é, contudo, uma meia cidade nem o limite de nada. Pelo contrário, é o início de tudo. O Porto está ligado a Istambul desde abril de 2015, graças aos voos diretos que a Turkish Airlines, considerada a melhor companhia da Europa, assegura a partir do aeroporto Ataturk, que brevemente será substituído por um dos maiores “hubs” do Mundo e que o governo de Erdogan pretende concluir sem grande demora, a Europa e a Ásia estão ali ligadas.

Os atentados terroristas e a tentativa de golpe de Estado interno afastaram alguns turistas nos últimos meses, mas Istambul continua lá, com os seus odores, sabores e cores. E com a enorme e admirável diversidade da sua população, onde coabitam credos, etnias e raças, numa exótica e colorida harmonia. Mesmo a presença de forças de segurança, com grande visibilidade, que hoje em dia ocupa as ruas de Istambul, não desfaz uma sensação de segurança que, estranhamente se sente na via pública ou nos bazares e mercados tradicionais. Istambul é uma cidade acolhedora, cosmopolita e os turcos são um povo simpático e muito tolerante. Percebem que o turismo é uma das suas principais fontes de alimentação e tratam o turista com um

enorme respeito e simpatia. Nos milhares, que parecem milhões, de lojas e bancas tradicionais, que se estendem desde o Bósforo até Sultanahmet, não há vendas agressivas, não há assédio excessivo e não nos tentam enganar… bem, se formos a pé, porque de táxi talvez isso possa acontecer. Entre a cidade que conhecemos em maio – tinha começado há cerca de um mês a ligação direta da Turkish ao Porto – e a que reencontrámos em finais de Setembro há, de facto, diferenças. Já o referimos, menos turistas. Muito menos, sobretudo nas longas filas à entrada dos notáveis museus, como o Hagia Sofia, ou para ver a Mesquita de Sultanahmet, a que os turistas chamam Grande Mesquita Azul. Mas isso pode até ser visto como uma vantagem momentânea, já que, depois da crise de

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A Turkish Airlines liga o Porto a Istambul, com voos diretos, desde abril de 2015. Para o Aeroporto Francisco Sá Carneiro trata-se de uma ligação importante, já que a companhia de andeira turca é considerada uma das melhores do Mundo, tendo sido eleita, no ano passado, como a melhor da Europa. E é, também, uma das maiores, possuindo uma admirável frota de médio e longo curso, onde se destacam os imponentes Boeing 777. Em maio de 2015 viajamos de Londres para Istambul num destes gigantes, que oferecem, a bordo, mesmo em classe turística, telefone individual, wi-fi a bordo e um notável serviço multimédia. A ligação ao Porto, contudo, já foi feita, também em turística, num Boeing 737, aparelho habitualmente usado na ligação à Invicta. Mesmo nestes aviões, embora sem telefone e wi-fi, há serviço multimédia e um conforto acima do normal em ligações realizadas por outras companhias na Europa. Os Boeing 737 da Turkish possuem um serviço de Business também acima da qualidade média em ligações na Europa, separando, através de uma parede, as diferentes classes e usando cadeiras melhores e muito mais espaçosas. Em Setembro, a Turkish anunciou em conferência de imprensa o corte de algumas ligações a cidades no sul da Europa, mas o chairman da empresa não se coibiu de nomear o Porto para uma “pool” de jornalistas internacionais, como uma das ligações a manter. Inicialmente, a companhia operava três voos por semana, que aumentou, durante o verão para voos diários, baixando agora para cinco semanais. Os voos diários da Turkish entre o Porto e Istambul deverão regressar no próximo verão.


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NOTÍCIAS DO PORTO

Teatro Municipal do Porto entra noutra dimensão A

nova temporada do Teatro Municipal do Porto foi oficialmente apresentada a 11 de janeiro no Rivoli. Dança, teatro, música, literatura, artes visuais e cinema compõem a programação do primeiro trimestre, que arranca em força com o 85º aniversário do Rivoli, a 21 de janeiro. Depois de em 2016 ter apresentado 150 espetáculos, 26 dos quais internacionais e 95 de criadores e

companhias da cidade, que envolveram 1.210 artistas e levaram aos teatros do Rivoli e do Campo Alegre mais 100 mil espetadores, a nova temporada promete ser ainda mais forte e intensa, “passando mesmo para outro nível”, como resumiu Tiago Guedes, diretor do Teatro Municipal desde 2014. Com um maior equilíbrio na distribuição programática entre os palcos do Rivoli

Mirós em Serralves agora e sempre

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exposição “Joan Miró: Materialidade e Metamorfose” está patente na Casa de Serralves, até 28 de janeiro, mas a coleção do famoso pintor catalão não sairá do Porto, após esta exposição. Pelo contrário, graças ao acordo conseguido pela Câmara do Porto com o Governo, as obras não sairão mais da cidade. Entregues ao município, as mais de oito dezenas de pinturas ficarão em Serralves, depois de Rui Moreira ter acordado com Serralves um protocolo que permitirá, também, que a Fundação venha a ter também um papel na montagem e manutenção das reservas do projeto do Matadouro, em Campanhã.

Inaugurada a 1 de Outubro de 2016, a exposição abrange um período de 60 anos na carreira de Joan Miró, de 1924 a 1981, com foco na transformação das linguagens pictóricas que o artista catalão começou a desenvolver em meados da década de 1920. Muitas das obras expostas nunca tinham sido mostradas ao público, incluindo seis das suas pinturas sobre masonite produzidas em 1936 e seis tapeçarias de 1973. O arquiteto português Álvaro Siza Vieira foi o responsável pelo desenho arquitetónico da exposição e ficará responsável pela adaptação da Casa de Serralves para, futuramente, receber de forma permanente a coleção.

e do Campo Alegre, a nova temporada terá “uma forte dimensão internacional, embora mantendo, em paralelo, um profundo vínculo de ligação aos artistas e companhias do Porto”, afirmou Rui Moreira, revelando que os 85 espetáculos programados até julho, dos quais 45 com companhias e estruturas da cidade, terão um custo superior a 600 mil euros. Nos primeiros três meses do ano, o Teatro Municipal do Porto reafirmará a sua dinâmica, através da apresentação de 41 espetáculos, 19 deles em coprodução e 15 em estreia nacional. Março será um mês particularmente intenso e talvez mesmo o mais desafiante de sempre no Teatro Municipal. Nos dias 3 e 4 de março, o pólo do Campo Alegre é tomado pelo Foco “Deslocações”, acompanhando os singulares percursos da coreógrafa e música ruandesa Dorothée Munyaneza e do coreógrafo sírio Mithkal Alzghair, com os espetáculos “Samedi Détente” e “Displacement”, respectivamente, bem como workshops, dois filmes e um encontro à volta das suas obras. Neste Foco, o Teatro Municipal do Porto pretende refletir sobre a crise migratória, o refúgio e as reconfigurações territoriais e políticas do nosso tempo. Ao Rivoli estará também de regresso a Companhia Nacional de Bailado para um reportório mais contemporâneo do que o habitual, coreografado por Akram Khan – “iTMOi”. Ainda em Março, o Teatro sai fora de portas e ocupa o Salão Árabe do Palácio da Bolsa, numa parceria com a Associação Comercial do Porto, para a primeira coprodução internacional. Será a estreia mundial de “Couture Essentielle”, uma delicada performance onde a história oficial e íntima da moda se entrecruzam, da autoria de Olivier Saillard, diretor do Museu da Moda de Paris. Em paralelo, inúmeras atividades, workshops e conversas pós-espetáculo adensam a programação, contribuindo para uma aproximação e reconhecimento das artes contemporâneas por parte dos seus diversificados públicos. No Teatro Municipal do porto, o imperativo de futuro faz-se através da arte, do pensamento e da partilha.

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De resto, mantêm-se mensalmente os projetos Quintas de Leitura, ao qual acresce o Café Literário, e o Porto Best Of, que apresenta em concerto uma banda emergente lado a lado com uma banda icónica do Porto, reativando um álbum paradigmático da sua história. Muitas também serão as propostas para ver em família: “A Manta”, de Romeu Costa, conta uma história aos quadradinhos (de tecido); “A Montanha”, de António Jorge Gonçalves, uma viagem surpreendente de uma menina de cinco anos em busca da cabeça perdida, e em “Cara”, de Aldara Bizarro, uma bailarina de skate deambula por um mapa mundi especial. RIVOLI COMEMORA 85 ANOS

O 85º aniversário do Rivoli, a 21 de janeiro, marca o arranque oficial da nova temporada do Teatro Municipal do Porto, com 15 horas de programação gratuita e non-stop, a partir das 11 horas da manhã. O programa comemorativo inclui sete espetáculos (quatro deles para o público mais novo e para serem vistos em família, durante a manhã), quatro concertos, duas instalações, uma exposição e uma festa ao final da noite. OBRAS DE CONSERVAÇÃO

Apesar de nunca ter parado a sua atividade, o Teatro Rivoli esteve em obras. A fachada foi reparada e pintada e nos interiores houve também remodelações importantes. O Teatro Municipal do Porto é constituído por dois pólos, Rivoli e Campo Alegre, que a autarquia mantém em excelentes condições de funcionamento, não apenas para garantir conforto aos espectadores como também proporcionar instalações que permitam aos artistas e aos colaboradores dos dois equipamentos todas as condições para trabalhar. Inaugurado em 1913 como Teatro Nacional, foi remodelado pela primeira vez em 1923. recebendo então a designação de Rivoli. Em 2014 voltou a ser Teatro Municipal, depois de anos concessionado.


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O U PA ! • C U LT U R A E M E X PA N S Ã O

A música que vem dos bairros Imaginem uma cidade que ama os seus palcos. Imaginem uma cidade que quer toda ela ser um palco; um palco sem barreiras, sem estereótipos ou preconceitos, sem lugares cativos e sem medo do risco. Esta é a cidade do Cultura em Expansão.

C

ultura em Expansão é um dos programas culturais mais importantes a decorrer na cidade. Em 2013, Rui Moreira e Paulo Cunha e Silva idealizaram uma iniciativa que pudesse encapsular na plenitude a estratégia de cruzamento entre as áreas da Cultura e da Coesão Social. Ou seja, um programa que pudesse dar sentido a um projeto cultural que se queria disseminado pelo território e pudesse quebrar barreiras de todos os géneros, das geográficas às sociais. O programa arrancou em 2014 com este propósito, numa edição piloto entre a Ilha da Bela Vista e a Associação de Moradores do Bairro da Pasteleira, cruzando disciplinas artísticas e também projetos de envolvimento comunitário com performances de artistas nacionais abertas à cidade. Foi nesta base que o Cultura em Expansão nasceu e se foi construindo para se tornar num dos principais pilares programáticos da cultura municipal, no qual se empenham vários pelouros e parceiros mecenáticos da cidade, como a empresa Mota-Engil.

Do cinema à música, das artes visuais à performance teatral, o programa é hoje uma iniciativa cada vez mais abrangente do ponto de vista geográfico e cultural, mas também um espaço de contacto entre importantes artistas nacionais, das mais diversas áreas, que encontram nos auditórios das freguesias, das associações de moradores e dos centros paroquiais oportunidades de experimentação artística a partir de desafios que a Câmara lhes comissaria anualmente. Artistas como Pedro Burmester, Salomé Lamas, Gisela João, António Rosado, Mário Laginha, Vasco Araújo, Cicolando, B Fachada, Ao Cabo Teatro, Mónica Calle e Capicua fazem parte do arquivo de criação do Cultura em Expansão. E hoje, a iniciativa está em todas as freguesias, conseguindo o seu lastro criativo chegar aos locais mais invisíveis da cidade, como os centros ocupacionais, os centros educativos juvenis, as ilhas e as associações recreativas e de moradores. Se por um lado o Cultura em Expansão ajuda estes locais a relacionarem-se com a criação contemporânea, não menos importante é o facto de ajudar a cidade a descobri-los, fazendo com que a Cultura

aconteça em todos os sentidos e que se torne possível através da travessia de todos os caminhos. A edição de 2017 será lançada em finais de Fevereiro, com novos interlocutores, latitudes culturais e ideias programáticas. OUPA! COMEÇOU NO CERCO E MIGROU PARA RAMALDE

O projeto oupa! nasceu em 2014 quando a Câmara do Porto quis incluir na segunda edição do Cultura em Expansão uma iniciativa que explorasse oficinas de composição musical, de escrita e de realização de vídeo, lideradas por uma equipa multidisciplinar que compôs para esse efeito. A missão proposta a este grupo de trabalho liderado pela rapper e socióloga Capicua, pelo realizador e músico André Tentugal, o videasta Vasco Mendes e a produtora e psicóloga Gisela Borges, era mais do que ambiciosa: escolher um bairro social, encontrar residentes desse território com vontade de participar, e trabalhar todas as áreas artísticas referidas com vista a uma apresentação final de grupo no grande palco do Rivoli.

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O nome – que hoje é quase uma marca – saiu da cabeça de Capicua e o bairro do Cerco foi o primeiro território escolhido pelo grupo para a primeira edição do projeto. Foi a partir das vivências no bairro, da sua história, da sua paisagem e dos interesses musicais dos participantes que o primeiro oupa! foi construído em quatro intensos meses de oficinas, numa travessia artística determinada e ansiosa por resultados finais. Em julho de 2015 Drunk Nigga, Joca, Ruubi e Kest, Raune Fenix (Hugo Sousa, Ricardinho (Ricardo Lopes), Lendária Treze (Isabel Ramos) e Black Mama (Raquel Pompilio) impressionaram a plateia constituída por pessoas de toda a cidade que naquele domingo quente foram até ao Rivoli com a curiosidade aguçada pelos artigos e reportagens que preencheram os media nacionais sobre o projeto. Desde então, vimos os participantes da primeira edição montarem o seu próprio estúdio de gravação no bairro do Cerco, participarem em festivais de música e editarem álbuns; e assistimos ao concerto de apresentação final da segunda edição do projeto, que adotou Ramalde como local de ação. Quem teve a oportunidade de descobrir os Oupa! Cerco em 2015, já não ficou espantado com a qualidade da performance dos Oupa! Ramalde em dezembro de 2016. Ruben Rocha, Miguel Mota, Chess, Tintim, ls, Lucas Garcez e Doc brilharam em palco e empolgaram uma plateia cheia pela sua música e pelas letras provocadoras. Quanto aos planos futuros, são como diz a canção: o Oupa segue em frente, como nós seguimos/ Mostramos o que sentimos/ Pouco a pouco construímos.




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Morreu o canil O canil do Porto, edifício com oito décadas e sem condições, vai morrer. Os animais passarão a ser tratados com outra dignidade num centro de recolha que a Câmara do Porto vai começar a construir ainda este ano na zona de Azevedo de Campanhã. Uma estrutura moderna que aumentará em mais de 130% a capacidade e que antecipa as exigências futuras da direcção-geral de alimentação e veterinária, oferecendo mais conforto e condições sanitárias. O espaço será dotado de um bloco cirúrgico que permitirá a esterilização de canídeos e felídeos, sala de enfermagem independente para tratamento e acompanhamento clínico dos animais alojados, zonas de exercício e de sociabilização, área de tosquia e higienização. No adeus ao velho canil, o Porto dá as boas-vindas ao novo centro que se integra numa estratégia animal moderna e sustentável para o município.

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CENTRO DE RECOLHA ANIMAL • AMBIENTE

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Viva o animal

m 2017, começa a ser construído em Campanhã o Centro de Recolha Oficial, a nova designação para o canil do Porto, uma obra estimada em 1,5 milhões de euros e há muito ansiada pelos portuenses. As novas instalações serão construídas numa parcela de terreno que atualmente integra o Viveiro Municipal, em Azevedo de Campanhã. Será uma estrutura moderna que vai garantir o aumento das atuais 94 boxes para 220, bem como responder a solicitações futuras da Direção Geral de Alimentação e Veterinária (dgav) ao nível do apoio ao alojamento de animais em quarentena provenientes de outros países e permitir acolher outras espécies, sempre que necessário. O Centro de Recolha Oficial terá uma separação física e funcional entre serviços oficiais e adoção, melhorando as condições sanitárias. O espaço será dotado de um bloco cirúrgico que permitirá a esterilização de canídeos e felídeos, sala de enfermagem independente para tratamento e acompanhamento clínico dos animais alojados, zonas de exercício e de sociabilização, área de tosquia e higienização. “A escolha do espaço numa cidade densa como o Porto é sempre difícil, pelo que foram vários os terrenos analisados face à estratégia delineada e a preferência recaiu sobre o Viveiro Municipal, atendendo à sua dimensão”, explicou o vereador da Inovação e Ambiente da Câmara do Porto. “O viveiro é um terreno com uma área muito grande e que tem dimensão suficiente para albergar o centro de recolha oficial com as valências desejadas, não tendo impacto naquilo que é a atividade do viveiro, até porque terá um acesso dedicado”, esclareceu Filipe Araújo. O próprio equipamento constitui uma maisvalia para a zona oriental da cidade, uma vez que irá trazer “mais emprego e desenvolvimento a Campanhã”. O processo está a ser gerido pela empresa municipal de Gestão de Obras Públicas (gop), estando já em curso o período para a elaboração do projeto de execução. A Câmara do Porto estima que a obra no terreno possa arrancar na segunda metade

de 2017, após a submissão a todos os prazos legais a que está obrigada em termos de concurso público. O responsável pelo Ambiente explicou ao Porto. que o Município estava “consciente da desadequação das instalações onde funciona, há mais de 80 anos, o atual canil”, situado na rua de S. Dinis (perto do Carvalhido), tendo já inscrito no orçamento de 2015 uma verba destinada aos projetos para a construção do novo equipamento”.

E ST R AT É G I A PA R A O B E M - E STA R

Contudo, a estratégia municipal vai muito mais além do que as condições físicas dos animais. Em 2015 foi lançado o “Plano Municipal de Controlo e Bem-Estar das Populações Animais de Cães e Gatos” que tem procurado resolver as carências estruturais do serviço do atual canil e responder às obrigações legais em vigor, bem como

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à generalidade das reivindicações das associações zoófilas, a Ordem dos Médicos Veterinários e a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária, com quem a autarquia tem estado em permanente diálogo. Um dos principais objetivos desse plano é promover e aumentar a adoção responsável, sendo que, em janeiro deste ano, a Câmara lançou uma campanha com esse fim, através da oferta da esterilização (que ascende por vezes a mais de 100 euros) de todos e cães e gatos adotados, contribuindo, desta forma, para a prevenção do abandono de animais de companhia. Desde janeiro e até setembro de 2016 foram cerca de 150 cheques de esterilização (atualizar números). O sítio institucional da Câmara do Porto possui uma área dedicada à adoção de animais, onde podem ser visualizados todos os cães e gatos disponíveis para adoção no canil municipal, bem como várias informações sobre os mesmos (www.cm-porto.pt/ saude-publica-veterinaria/pretende-adotar-um-animal). Após o lançamento deste plano (2015), a taxa de adoção subiu cerca de 10% comparativamente com 2014, sendo que até setembro de 2016, mantém-se consistente com o aumento registado no ano anterior. Outro dos aspetos contemplados consiste em ajudar na socialização dos cães em vias de adoção, estratégia já implementada no atual canil, onde vários funcionários receberam formação específica para este vetor. Encontra-se também organizado um serviço excecional de plantão para poder corresponder a solicitações ocorridas fora do horário do piquete e brigada de captura (sobretudo entre as 23 e as 6 horas e ao fim de semana), em situações de exceção que envolvam animais feridos ou em sofrimento. Filipe Araújo explicou que, no atual canil, já estão a ser promovidos vários aspetos desta estratégia, ou seja, já foram lançadas “as sementes”. Mas “expandi-las e criar mais programas só será possível com uma nova infraestrutura”. Os médicos veterinários municipais realizam anualmente mais de 3.800 exames clínicos, aplicam mais de 1.000 vacinas e promovem quase 300 vistorias por denúncia de maus tratos a animais. A média anual de animais adotados ronda os 464 (274 cães e 190 gatos).


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AMBIENTE

Um-dó-li-tá… A

s crianças do Porto já podem brincar em 16 novos parques infantis, distribuídos por todas as freguesias da cidade, embora com peso acrescido na zona oriental da cidade. O investimento, que rondou os 900 mil euros, permite agora ao Porto cumprir e até ultrapassar o rácio padrão entre um a dois parques infantis por cada mil crianças. O processo está praticamente concluído e quase todos os espaços estão já concluídos e em funcionamento. Jardim do Conhecimento (na Alameda Eça de Queirós); Soares dos Reis (na rua Ferreira Cardoso – Largo Soares dos Reis); Jardim da Cor-

doaria (no Campo Mártires da Pátria); Parque de S. Roque (na Travessa das Antas); Foco (na rua Afonso Lopes Vieira); Asas de Ramalde (na rua de Bordeaux); Quinta do Covelo (na rua do Bolama); Cervantes (na rua de Cervantes); Areosa (na rua Dr. Eduardo Santos Silva); Jardim de Belém (na rua de Carnide e rua de Alcântara); Jardim de Arca d’Água (na praça Nove de Abril e rua de Monsanto); Calém (jardim do Calém – rua das Sobreiras); e parque da Rua Escultor Henrique Moreira são os novos espaços que dotam a cidade de uma rede equilibrada de parques infantis. Em fase de conclusão está o da Pasteleira.

Os locais destas ilhas de divertimento e lazer foram definidos em articulação com as Juntas e Uniões de Freguesia, tendo havido o cuidado de instalar os parques junto de áreas de residência e em locais mais acessíveis a crianças e jovens, criando outras opções para todos os utilizadores, independentemente da sua idade e das suas capacidades motoras, visuais, auditivas e mentais. Para além dos parques infantis criados de raiz, e que representam a sua maioria, foram instalados quatro equipamentos inclusivos no Parque Infantil do Covelo, permitindo que as crianças com dificul-

INVERNO 2017 • PORTO

dades motoras possam também divertirse. O projeto foi também adaptado aos equipamentos previamente existentes. Os trabalhos incluíram a instalação de equipamentos, mobiliário urbano, colocação de pavimentos de segurança, execução ou beneficiação de acessos, renovação de espaços verdes e ampliação. Concluído este investimento, o Porto passa a disponibilizar à sua população infantil e juvenil um total de 31 parques infantis, a funcionar de acordo com as mais exigentes normas de segurança internacionais, no que diz respeito à conceção, organização funcional e fiscalização.


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AMBIENTE

Milhares de Árvores criam “biospots”

Um Viveiro para a região Desde 2014 que o viveiro municipal cede área de plantação exterior para apoio a sementeira, engorda e produção de árvores nativas que irão alimentar as florestas urbanas nativas, não só no Porto, como na região. Até agora, já foram produzidas 40.000 plantas e outras tantas estão em fase de germinação. Para 2017, a meta é produzir 30.000 plantas de mais de 20 espécies distintas, entre as quais a cornalheira, o pilriteiro, a zêlha ou a macieira silvestre.

São pequenos bosques que se espalharão pela cidade nos próximos cinco anos, capazes de lhe dar outro ar. Nas inserções da vci com a malha urbana, aparecerão os primeiros 14 novos espaços verdes. O pelouro do ambiente chama-lhes “biospots”.

D

ez mil novas árvores e arbustos nos próximos cinco anos vão criar 20 novos hectares de floresta urbana nativa no Porto. Os novos núcleos, designados por “Biospots”, serão maioritariamente criados junto de eixos de circulação principal, em nós, taludes e áreas verdes laterais. Os 14 primeiros espaços a intervencionar pela autarquia, que totalizam uma área útil de 17 hectares, estão situados ao longo da Via de Cintura Interna (vci) e incluem, nomeadamente, os nós de Francos, Regado e Freixo, bem como cerca de quatro hectares da antiga Quinta do Salgueiro, junto ao Estádio do Dragão. Este espaço, onde são ilegalmente depositados resíduos, assumirá um papel especial na Rede de

Biospots do Porto, já que que funcionará como área-piloto na investigação e avaliação da floresta urbana, em colaboração com vários departamentos da Universidade do Porto. A primeira intervenção a passar para o terreno é a do Nó do Regado, onde cerca de 800 novas plantas, produzidas no Viveiro Municipal do Porto, vão ser instaladas já nos próximos dois meses. Para além de promover a biodiversidade, a adaptação da cidade às alterações climáticas e a amenização paisagística, a criação desta Rede de Biospots permitirá sequestrar cerca de 50 toneladas de carbono/ano, melhorando substancialmente a qualidade do ar, num serviço ecológico que pode ser avaliado em 500 mil euros ao ano.

A iniciativa resulta de uma parceria entre o Município do Porto, a Infraestruturas de Portugal s.a. e a Área Metropolitana do Porto, estando enquadrada num programa mais amplo que é o “futuro – projeto das 100.000 árvores na amp’. Também enquadrado neste programa está o projeto “Florestas Urbanas Nativas no Porto” (fun Porto), cujo principal objetivo é expandir a estrutura verde da cidade, com recurso a espécies nativas ou regionais, mas também estudar os serviços ecológicos, em contexto urbano, associados à floresta. O ‘fun Porto’ é uma iniciativa do Município do Porto, em parceria com o Grupo de Estudos Ambientais da Universidade Católica Portuguesa, que está alinhado com a Estratégia para o Ambiente.

Porto reciclou mais no ano passado

E gastou menos água

Está dado mais um importante e decisivo passo para a devolução da massa de água despoluída ao rio Tinto, que atravessa o Parque Oriental, na freguesia de Campanhã. Na sequência do projeto conjunto que a Câmara do Porto iniciou em 2015 com a Câmara de Gondomar, vão avançar já no primeiro semestre deste ano as obras para a construção do exutor que ligará a etar do Rio Tinto, em Gondomar, à estrutura congénere do Freixo, no Porto, numa intervenção financiada pelo programa poseur. Após a conclusão dos trabalhos, o Parque Oriental será desenvolvido e ampliado, constituindo-se como um importante equipamento para a qualidade de vida na zona oriental da cidade, podendo a sua área chegar aos 20 hectares. Da parte do Município do Porto, a obra estará a cargo da empresa municipal Águas do Porto.

Em 2016, foram recolhidas seletivamente no Porto 23.910 toneladas de resíduos urbanos, o que representa um aumento de 3,8% face a 2015. No âmbito do cumprimento das metas de preparação para reutilização e reciclagem, a autarquia apresenta, atualmente, uma taxa de 25,8%, o que supera, em 24,3%, a fasquia definida para 2016. Também em relação às Retomas de Recolha Seletiva, o município superou largamente a meta definida para 2016 (52,7 kg/hab./ano), apresentando uma taxa de 56,6 kg por habitante. Os resultados alcançados decorrem, sobretudo, da implementação e alargamento de projetos de recolha seletiva porta-a-porta no sector não residencial, nomeadamente, os serviços de recolha seletiva multimaterial no centro da cidade (designado Baixa-Limpa), na Ribeira e na zona da Movida.

Em 2016, o consumo de água da divisão de ambiente municipal reduziu aproximadamente 250 milhões de litros, o que representa uma poupança de quase 37% face a 2015. Entre os vários os fatores que contribuíram para esta melhoria, destaca-se o investimento na recuperação das fontes e o projeto de rega inteligente.

Quantas árvores? O Porto tem inventariadas 35 mil árvores, avaliadas e distribuídas por arruamentos, escolas, cemitérios, praças e jardins. Assim que estiver concluído o processo iniciado em 2016, a autarquia conta ter inventariadas cerca de 60 mil árvores.

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Até 5 de fevereiro está em curso a segunda edição da campanha “Se tem um jardim, temos uma árvore para si”. O objetivo é apoiar e estimular os portuenses a plantar árvores e arbustos nos seus jardins e logradouros. Estão disponíveis um total de 2.100 plantas de 10 espécies em vaso, entre as quais o medronheiro, o cipreste, o azevinho e a murta. Juntam-se à oferta 1.000 sacos de sementes de plantas adequadas para vasos e floreiras em terraços e varandas. As candidaturas devem ser feitas em www.100milarvores.pt. Na primeira edição foram entregues e plantadas de cerca de 1.700 árvore/arbustos de 11 espécies diferentes, exclusivamente no concelho do Porto.

O Rio Tinto vai respirar

Uma árvore para cada jardim

Frota municipal mais elétrica A frota automóvel da Câmara do Porto está a cada vez mais ecológica e económica. Depois de ter investido nos primeiros veiculos elétricos na recolha de resíduos e também em vários ligeiros nos últimos anos, vai lançar em 2017 um concurso internacional para renovar a sua frota, em regime de renting, por um novo período de quatro anos. Os novos carros, que se destinam também às empresas municipais, terão uma forte componente ambiental, prevendo-se que mais de 75% dos veículos venham a ser elétricos, o que constituirá, igualmente, uma enorme vantagem em matéria de custos para a autarquia. Atualmente, a frota municipal conta com 16 veículos elétricos e um hibrido plug-in.


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NOTÍCIAS DO PORTO

Menos acidentes e mais mobilidade Os acidentes no Porto são cada vez menos graves e a velocidade comercial do transporte público está a aumentar nas zonas já intervencionadas pela Câmara do Porto. Além de obras de melhoria das condições de circulação rodoviária e pedonal das principais vias estruturantes da cidade, a autarquia tem vindo a fazer intervenções em zonas que correspondem a “pontos negros” em matéria de segurança rodoviária. Um dos exemplos de sucesso é a do Jardim do Carregal, junto ao Hospital de Santo António, onde a implementação de um corredor bus em partilha com os veículos de acesso ao hospital permitiu a diminuição em 30% do tempo de percurso do transporte público. Outra intervenção que resultou em vantagem foi a operada na zona da Foz, onde a sinistralidade baixou. Notáveis são os resultados registados na rua Costa Cabral, onde se verifica um acentuado aumento da velocidade do transporte público e uma redução drástica da sinistralidade (40 em 2012 para 14 em 2016). Fulcral na estratégia de promoção do transporte público é o estacionamento à superfície. A situação encontrada há três anos era a da existência de um sistema não era cumprido, já que a Câmara não tinha meios humanos para assegurar a fiscalização, manutenção e desenvolvimento do sistema e não podia contratá-los, por lei. O sucesso do processo de concessão, permitiu expandir a rede dentro das áreas já definidas (que não foram alteradas no presente mandato), instalando equipamentos modernos e promovendo a utilização do serviço. Ao fim de meio ano, o cumprimento aumentou e existem hoje lugares vagos para estacionamento onde antes não existiam. Aos moradores é assegurado estacionamento permanente por apenas 25 euros anuais, mediante a obtenção de um cartão de residente. PORTO GANHA PRÉMIO P E LO E STAC I O N A M E N TO

A associação espanhola de estacionamento premiou o Porto pelo trabalho desenvolvido no âmbito da gestão do estacionamento e da promoção da mobilidade, no âmbito do 6º Congresso Ibérico de Estacionamento e Mobilidade Urbana, que decorreu em Tarragona, em novembro.

Lançado concurso para o Bolhão

O

concurso público internacional para o “Restauro e Modernização do Mercado do Bolhão” foi lançado em dezembro. A obra terá a duração de 720 dias e custará 25 milhões de euros, devendo arrancar em meados de 2017. A Câmara do Porto optou por um concurso limitado por prévia qualificação. Nesta fase pretende-se selecionar os candidatos que cumpram com os requisitos técnicos e financeiros mínimos estabelecidos no concurso. A empreitada terá uma duração total prevista de 720 dias e consistirá na reabilitação integral do edifício e a sua ampliação, através da criação de uma cave técnica e segue-se à intervenção que já está em curso desde agosto no subsolo para desvio de um curso de água. Esta obra é fundamental para que a empreitada

principal possa arrancar em segurança. Exteriormente, a intervenção compreende a reabilitação e consolidação estrutural das fachadas e das coberturas do edifício. Pelo lado interior do edifício, a intervenção compreende a construção de um piso enterrado, respetivos acessos pedonais, a construção de um piso intermédio, a construção de todas as infraestruturas necessárias ao funcionamento do edifício (redes hidráulicas, elétricas e de telecomunicação, sistema de climatização e ventilação, sistema de produção de frio, sistema de segurança contra incêndio, etc.), a construção de um passadiço com dois tabuleiros e diversas obras de reabilitação e reforço estrutural. A necessidade de uma reabilitação profunda do mercado começou a ser equacionada em meados de 1984, quando os serviços

INVERNO 2017 • PORTO

municipais detetaram patologias construtivas graves nos pavimentos do mercado. Nos 30 anos seguintes, foram feitas muitas promessas e projetos e chegou a ser equacionada a transformação do edifício. Algumas das propostas mereceram forte contestação popular. Rui Moreira, que ganhou as eleições em 2013, prometeu não desvirtuar o mercado e mantê-lo como mercado de frescos, com os seus vendedores tradicionais. Feitos os primeiros estudos e projectos, em abril de 2015, a Câmara do Porto apresentou, no próprio mercado, o projeto da autoria do arquiteto Nuno Valentim, que mantém a traça do edifício, o moderniza e mantém integralmente a sua função como mercado de frescos público. É anunciada a ligação à estação de Metro do Porto como fundamental e a criação de uma cave técnica. Mais tarde, foi revelado que a entrada para a cave será feita pela Rua do Ateneu Comercial do Porto, o que tirará, das imediações do mercado, a pressão das cargas e descargas. Em janeiro de 2016 deu-se outro passo importante, com o anúncio, por parte da Câmara do Porto, de que o projeto se encontrava já aprovado pela Direção-Geral da Cultura, condição para se poder avançar, e em agosto, a Águas do Porto, empresa municipal, iniciou os trabalhos no subsolo que estão a desviar um curso de água e a realização, em segurança, de toda a obra. Poucos dias antes, em reunião de executivo pública, foi também apresentada a solução encontrada para instalar o mercado temporário, que ficará localizado no centro comercial La Vie, a poucos metros do atual mercado, e que, durante as obras, permitirá manter em atividade os comerciantes que quiserem regressar ao Bolhão reabilitado em 2019. Por diversas vezes, a Câmara do Porto apresentou publicamente o projeto e o processo, quer em sessões públicas de Executivo quer em Assembleia Municipal, mas foi no passado dia 19 de novembro que foi anunciado o avanço do concurso público lançado, tendo então sido explicadas quais as condições em que isso aconteceria e como iria, do ponto de vista da comunicação, resolver a autarquia a questão da promoção do mercado temporário. Em dezembro foi lançada a primeira campanha publicitária em 100 anos de Mercado do Bolhão, promovendo os vendedores de produtos frescos, como primeiro passo da consolidação de uma relação entre os consumidores e os comerciantes, que a Câmara do Porto quer prolongar até ao regresso ao mercado reabilitado, em 2019. A campanha foi totalmente concebida no próprio mercado, com alguns dos seus tradicionais vendedores e ocupou as páginas da imprensa nacional e esteve aplicada em 250 mupis por toda a cidade. Foi considerada um sucesso.


R E A B I L I TAÇÃO • U R B A N I S M O

75 milhões para Campanhã A aposta já começou a concretizar-se. Pela primeira vez foi criada uma área de reabilitação na zona oriental que inclui o terminal intermodal e muito mais, em Campanhã e no Bonfim. Mas há outra em preparação, na Corujeira, o que inclui o Matadouro.

A

Câmara do Porto apresentou em dezembro a Operação de Reabilitação Urbana da aru de Campanhã-Estação, delimitada em junho de 2015 e que inclui também uma parte da freguesia do Bonfim. O programa de ação relativo a esta operação sistemática prevê uma profunda operação de reconversão e de reabilitação urbana, associado a um investimento global de cerca de 75 milhões de euros, num prazo de dez anos. Este não será o único investimento sistemático que será realizado em Campanhã, uma vez que a autarquia está a preparar um programa para a zona da Corujeira, o que inclui a intervenção a realizar no antigo Matadouro Industrial. A coesão territorial e social da cidade constitui uma prioridade do atual Executivo Municipal, com vista ao desenvolvimento harmonioso da totalidade do seu território, preocupação que tem vindo a resultar num conjunto de projetos e ações integradas. Nesse sentido, a Câmara Municipal definiu a zona oriental da cidade como prioritária na sua ação de planeamento e investimento. Nos últimos três anos o esforço de planeamento urbano tem vindo a centrarse, para além do processo de revisão do pdm em curso, no incremento das ações tendentes à dinamização da reabilitação urbana, definida precisamente como um dos pilares da política deste executivo. O conceito de Reabilitação Urbana deve ser amplo o suficiente para não se limitar às operações no centro histórico ou áreas centrais da cidade, mas ser alargado às áreas consolidadas em que se verifique a necessidade de requalificação e revitalização, ou onde subsistam carências ao nível das infraestruturas, da qualificação do ambiente urbano, ou de índole social. Com a delimitação da aru de Campanhã-Estação, e com as futuras aru da Corujeira-Cerco do Porto, de Lordelo do

Ouro, e da Foz Velha, o município do Porto contará com 11 aru, ficando mais de 26% da sua superfície integrada em Áreas de Reabilitação Urbana. A aru de Campanhã-Estação é, por isso, estratégica e exemplar. Sendo a primeira delimitada fora do centro tradicional da cidade, o seu território concentra uma série de problemas e ameaças, mas também de potencialidades e oportunidades. A operação que agora se apresenta pretende precisamente aproveitar o potencial único deste território, relacionado com a proximidade e complementaridade relativamente ao

centro da cidade, a existência de importantes infraestruturas de mobilidade, uma frente de rio de elevado potencial, valores ambientais e patrimoniais de importância significativa e uma disponibilidade de terreno já rara no território do município. Para além dos benefícios e incentivos à Reabilitação Urbana, já em vigor desde a delimitação da aru, esta Operação de Reabilitação propõe um programa de ação que vincula o município a um esforço de investimento muito expressivo nos próximos 10 anos. Os seus principais objetivos dizem respeito ao incremento da compe-

INVERNO 2017 • PORTO

19 titividade económica da zona oriental da cidade, à qualificação do seu tecido social, à melhoria das condições habitacionais e de bem-estar, e à renovação da imagem da zona oriental da cidade. A Operação pretende gerar um território qualificado, de excelência, para viver, trabalhar e usufruir da natureza, numa zona que hoje desempenha um papel central na organização da área metropolitana e na articulação entre o centro e a periferia, que se afirme como um novo e qualificado polo de desenvolvimento da cidade do Porto e da Região. A concretização da estratégia territorial preconizada para a aru de Campanhã-Estação prevê a promoção de cinco eixos estratégicos; a atividade económica: a mobilidade sustentável; a qualificação do ambiente urbano; a sustentabilidade ambiental, e a inclusão social e cidadania ativa, assentando na implementação de uma carteira de projetos estruturantes, que se assumem como iniciativas fundamentais para a geração de novas dinâmicas de regeneração urbana na zona oriental da Cidade. Desse conjunto de dez projetos, destacam-se a construção e consolidação de duas áreas empresariais; o Interface Intermodal e a resolução dos graves problemas habitacionais e de salubridade pública, designadamente na zona da Lomba, para onde se prevê o primeiro projeto integrado de reabilitação do edificado, e nas zonas da Formiga, Agra e China.


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NOTÍCIAS DO PORTO

Orçamento cresce mas IMI desce

Água mais barata no Porto

O orçamento da Câmara do Porto para 2017 é um dos maiores de sempre, fixando-se em mais de 244 milhões de euros. O investimento cresce e concentra-se em áreas como a qualidade de vida e ambiente, a coesão social e o urbanismo e requalificação urbana. As “contas à moda do Porto” permitiram inverter definitivamente a tendência de diminuição dos orçamentos municipais, apesar de uma descida do imi em 10% em 2017, a segunda neste mandato. A proposta de orçamento do Município do Porto, para o ano de 2017, foi votada pelo executivo municipal com apenas um voto contra, do vereador da cdu. Dos três vereadores eleitos pelo psd, dois votaram a favor e um absteve-se. Em termos globais, o orçamento prevê um crescimento de 17,9%, face a 2016, no montante de 37 milhões de euros. Nos principais objetivos estratégicos da autarquia encontram-se o Ambiente e Qualidade de Vida com cerca de 28 milhões de euros, a Coesão Social com 24 milhões de euros (dos quais 17,8 milhões se referem a habitação social), o Urbanismo e Reabilitação Urbana com cerca de 19 milhões, a Economia e Emprego com 13 milhões e Cultura com cerca de 6 milhões. O valor projetado da dívida de médio e longo prazo para o final de 2017 é inferior em 48,7 milhões de euros (50,2%) à que se verificava no final de 2013. No que se refere ao imi, propõe-se uma redução da taxa para os prédios urbanos de 0,36% para 0,324% a segunda do mandato, depois de ter descido outros 10% em 2014, no primeiro orçamento aprovado pelo atual executivo.

As tarifas de abastecimento de água e saneamento estão mais baratas este ano no Porto. A medida foi aprovada pelo executivo liderado por Rui Moreira e é possível graças aos ganhos de gestão da empresa municipal Águas do Porto e ao sucesso da reversão do processo de fusão da anterior empresa multimunicipal de captação, tratamento e abastecimento de água, a Águas do Douro e Paiva, s.a. Esta reversão, em que se envolveu politicamente o presidente da Câmara do Porto, impediu um novo aumento do custo de compra de água em 2017. Assim, apesar do preço da água comprada pelo município ter aumentado e das comparticipações solidárias para com os municípios do interior do país, a Câmara do Porto conseguiu reduzir as tarifas. A política de redução de perdas de água implementada na Águas do Porto permitirá atingir este ano um valor abaixo dos 20%, entrando pela primeira vez no intervalo definido como “excelente” pela Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos. Por outro lado, a adjudicação do concurso público para a exploração e manutenção das estações de tratamento de águas residuais do Freixo e Sobreiras irá permitir também uma poupança significativa na gestão destes equipamentos durante os próximos anos. Todos estes fatores conjugados estão agora a reverter a favor dos clientes da Águas do Porto, contrariando assim a tendência habitual, com o preço da água e saneamento a descer dois pontos percentuais em 2017 na cidade.

Movida regulada

O documento apresentado refere ainda o alargamento até à meia-noite da obrigatoriedade de ter ante-câmaras e dispositivos limitadores de potência sonora, não penalizando assim os estabelecimentos que encerram cedo. Além destas alterações, também a zona considerada como sendo “movida” será alargada, o que permitirá à Câmara do Porto a imposição de regras em ruas atualmente fora do regime especial aplicado naquela área. Relativamente à limpeza urbana, será implementado um sistema obrigatório de recolha seletiva de resíduos porta a porta. Ainda de acordo com a mesma proposta, vão ser agravadas as sanções acessórias. Em caso de incumprimento reiterado das regras relativas às esplanadas, o município passa a poder não renovar ou extinguir a respetiva autorização.

Está em discussão pública o documento que prevê a alteração ao regulamento da “movida” do Porto, que visa equilibrar e regular os interesses de moradores e estabelecimentos noturnos. Entre as alterações contempladas no documento, inclui-se a proibição, a partir das 21 horas, de estabelecimentos de restauração venderem alimentos ou bebidas para consumo na via pública, bem como a venda dos mesmos produtos na rua. A Câmara pretende, também, alargar o período de proibição de circulação e estacionamento nas zonas da movida, das 6 horas para as 8 horas da manhã. Quanto ao horário de encerramento das esplanadas, a Câmara propõe alargá-lo, em uma hora.

O que está a ser feito para trazer moradores para o centro

É

o inverter de uma lógica com muitas décadas. A Câmara do Porto está a reabilitar prédios no centro histórico e a fazer regressar famílias que no passado foram deslocadas para bairros na periferia. As rendas serão sociais e à medida das possibilidades financeiras de cada família. O anúncio foi feito durante uma visita a três prédios localizados nas ruas de Trás e dos Caldeireiros, que serão reabilitados e preparados para alojar famílias em regime de habitação social. Rui Moreira e o vereador da Habitação, Manuel Pizarro, revelaram que as primeiras casas do plano de realojamento no centro da cidade se localizam nas zonas da Ribeira, Sé e Miragaia. O programa de requalificação visa promover o regresso ao “coração” da cidade de famílias que vivem atualmente em bairros periféricos e foi aprovado em reunião de câmara no dia 19 de julho, representando um investimento superior a quatro milhões de euros. Metade do valor resulta de fundos que existiam na extinta Fundação para o Desenvolvimento da Zona Histórica e que, por acordo entre o anterior governo e a Câmara do Porto, reverteram para a autarquia. O restante investimento é municipal. Numa primeira fase, a autarquia espera instalar 130 famílias em 57 casas e 17 edifícios municipais ao longo dos próximos dois anos, naquela que é uma importante operação de repovoamento do centro histórico do Porto. Manuel Pizarro também revelou que

150 agregados familiares que vivem atualmente em bairros da periferia do Porto manifestaram vontade de regressar ao centro histórico, de acordo com dados recolhidos através de um inquérito feito a 300 famílias. “Queremos contrariar o que aconteceu nas últimas décadas e fazer com que o enorme impacto do turismo na regeneração urbana desta zona seja também acompanhado pela possibilidade de pessoas de todas as classes sociais morarem no centro histórico”, disse Manuel Pizarro. O autarca vincou que “este é o primeiro anúncio que a câmara vai fazer nesta matéria” porque está “ativamente à procura de novas oportunidades para que este programa seja alargado”. “A câmara tem o direito de opção sobre imóveis no centro histórico. Em alguns casos, em imóveis cujo preço e a possibilidade de reconversão sejam interessantes, vamos exercer essa opção”, acrescentou Manuel Pizarro. Rui Moreira acrescentou que “a Câmara vai começar a exercer esse direito e o primeiro será muito brevemente”. O Presidente da Câmara diz que os municípios “são os grandes investidores em património habitacional para disponibilizar aos seus habitantes”, mesmo em cidades como Nova Iorque e Paris, “ao contrário do que se possa pensar”. As pessoas que vão viver no centro histórico ao abrigo desta medida terão o Regime de Arrendamento Apoiado, pagando em função dos rendimentos do agregado familiar.

Transporte Estabelecimentos turístico com regras protegidos Os transportes turísticos vão ser controlados, através de um regulamento que visa diminuir a sua pressão sobre a via pública no Porto. A proposta foi aprovada por unanimidade e prevê a delimitação de ruas onde podem ser feitos os circuitos e um regime de atribuição de licenças de utilização do espaço público. Estas mudanças preveem reduções de taxas para os operadores que garantam níveis de emissão de poluentes inferiores àqueles que são definidos como limites de exigência mínimos. O documento foi posto a discussão pública e regressará brevemente ao executivo para aprovação definitiva.

INVERNO 2017 • PORTO

Porto de Tradição é um projeto que visa proteger os estabelecimentos históricos do Porto. Numa primeira fase, foi constituído um grupo de trabalho, com a coordenação da autarquia e representantes das Faculdades de Arquitetura, Letras e Belas Artes da Universidade do Porto, Associação dos Comerciantes do Porto e pela anp – Associação Nacional de Proprietários, com o objetivo conceber e propor critérios para a classificação de estabelecimentos comerciais e entidades sem fins lucrativos. Esta classificação permitirá evitar que os estabelecimentos históricos da cidade sejam expulsos do centro da cidade.


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Sangue Novo A

plateia do Coliseu Porto esconde uma magia. As suas poltronas, reverentes e dispostas para o palco onde tudo acontece, revelam um mistério. Onde tudo acontece? Não, no Coliseu nem tudo acontece no palco inacessível e, como que num sonho que só o circo sabe criar, a plateia transforma-se, derrete-se e abre-se. O palco desce então do seu pedestal. Expõe-se. Ajeita-se no meio da multidão. Convive. E as cadeiras espalham-se. Ajeitam-se com ele. Rodeiam-no. Abraçam-no.

Pode o sangue novo ser o encarnado nariz de um velho palhaço? Um velho palhaço encarnado na pele de avozinha? Pode o velho circo ser novo e ser do Porto? O sangue é novo sempre que quiseres que seja novo Como o circo e como o Coliseu que é Porto Como o Porto que é novo e é nosso Por não ter idade Porque é circo

INVERNO 2017 • PORTO

Não há outro palco assim em Portugal. Não há outra plateia assim no Mundo, transformada em backstage do espetáculo a que assiste. Dos riscos que o circo não esconde. Às vezes, o velho sangue invicto é o sangue novo do Porto. Como o circo novo que pisa o palco – perdão – a plateia do Coliseu. Que é o velho circo do nariz vermelho, do equilibrista e da menina-arrepio no trapézio. Mas que é o novo circo do oriente do ocidente de todos os pontos cardeais. Um circo sem idade. Um circo sem feras.


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Opinião O Porto. é um jornal plural e aberto à opinião de todas as sensibilidades da cidade, pelo que se pediu a todas as forças políticas com assento na Assembleia Municipal do Porto que nomeassem um cronista por edição. Este espaço é, pois, da inteira responsabilidade de quem assina cada uma das colunas, estando identificadas as forças políticas que representam.

É PELA LIBERDADE, ESTÚPIDOS…

É a Liberdade que move o Homem. Em diferentes dimensões, de satisfação imediata ou duradoura, de impressão tangível ou espiritual. Mas sempre a Liberdade. No início, o desígnio era Liberdade para Viver. A Humanidade despertou para necessidade de se proteger de climas hostis; foi impelida a combater os animais num misto de defesa dos predadores, e caça para alimentação; lutou com o seu igual na disputa de lugar para se fixar. A Liberdade era conquistada pelo mais forte. O fator libertador era a Força. Posteriormente, as comunidades estabeleceram-se. Criaram identidade. Associaram-se. Comungaram de valores. Houve movimentos de procura, ocupação e conquista de território, de afirmação de tradições. Impuseram-se costumes e visões de sociedade. A luta que se travou foi pela Identidade Humana e Cultural. Os povos queriam ser Livres, ter Identidade. O fator libertador foi a Cultura. Mais tarde, quando a segurança estava garantida, o território já não era discutido e as tradições já não eram impostas, a diversidade humana começa a brotar em todo o seu esplendor. Há quem tenha perspetivas diferentes, visões alternativas ao status quo. Mas, como sempre, quem ousa pensar diferente, quem ousa questionar, quem ousa desafiar, é considerado um incómodo, apontado como desestabilizador, percecionado como louco. Para os estabelecidos, é melhor silenciar estas vozes inquietantes e manter tudo como está. Começa a luta pela Liberdade de Pensamento e de Expressão. Foi preciso impor, promover e garantir o respeito pelo pensamento e opinião individual. Nesta luta, o fator libertador foi a Educação. Atualmente vivemos a era dos Recursos e da Economia! O crescimento e desenvolvimento económicos são uma exigência das sociedades, o que levou a uma abertura do mundo. As nações estabeleceram laços entre si, desenvolveram relações comerciais, políticas e sociais. Prescindiram de parte

da sua soberania e liberdade em nome de uma maior coesão social. Quem mais tem, está disposto a apoiar quem mais precisa. Este relacionamento entre famílias, empresas e nações é, contudo, um relacionamento de dependência económica. Não há uma ajuda altruísta, há expectativa de contrapartida. Há uma condição. Há um condicionamento. Há perda de liberdade de quem pede, há um exercício de domínio por parte de quem ajuda. Esta é luta que travamos, a luta pela Liberdade Económica. Discutimos o orçamento do Estado e os dos municípios. É importante dizer-se o que acontece de cada vez que se pede dinheiro emprestado, e de cada vez que se pagam dívidas. O Governo de Portugal tem mais despesas do que receitas, cria Défice para o Estado Português. Temos que contrair empréstimos para pagar as despesas para as quais não temos dinheiro. Temos vivido assim há 40 anos. Há 40 anos que a dívida pública aumenta. Portugal tem-se tornado um país menos Livre. Faremos cada vez menos o que os Portugueses querem, e faremos cada vez mais o que quem nos empresta dinheiro quer. Por responsabilidade dos governos, Portugal é hoje menos Livre. O contraste da gestão do Governo de Portugal com a gestão da Câmara Municipal do Porto é enorme. A nossa câmara, ano após ano, tem mais receita do que despesas. Ano após ano a Cidade do Porto reduz as suas dívidas. Quer isto dizer que ano após ano a Cidade do Porto está mais Livre. O fator libertador tem sido a Capacidade de Gestão. O Porto está cada vez mais Livre, Portugal cada vez mais refém dos credores. Temo que a perda de Liberdade Económica nos faça perder todas as outras Liberdades já conquistadas. É tempo de olhar para o Porto, replicar a nossa capacidade de gestão, trabalho e exigência. E, já agora, paixão pela Liberdade. Pedro Moutinho Rui Moreira: Porto, O Nosso Partido

APOIO A RUI MOREIRA

O ps-Porto, após aturada e participada reflexão interna, perante a avaliação política do atual mandato municipal, o trabalho realizado, as expectativas da cidade e o calendário das eleições autárquicas, deliberou por unanimidade, na reunião da sua Comissão Política Concelhia realizada em 30 de setembro, a formalização do diálogo necessário por parte do Presidente do ps Porto com o Presidente da Câmara Municipal, tendo em vista a continuidade do atual acordo político nas eleições autárquicas de 2017. De pronto reclamadas elites intelectuais (órfãs de sonhos, cuja natureza a impiedade do tempo e a lucidez humana se encarregaram de demonstrar irrealizáveis, e/ou de disfarçadas ambições pessoais) e, até, gente sensata e, de hábito, prudente, têm vindo a despejar, nas redes sociais e em tertúlias de ocasião, vibrantes despautérios clamando que o ps se está a demitir das suas responsabilidades e a alienar o seu riquíssimo património enquanto protagonista autárquico no Porto. Houve mesmo quem, incapaz de interpretar a decisão tomada e em atitude que bem os qualifica, escolhesse atacar o mensageiro sem cuidar de aprofundar a avaliação da bondade da mensagem, optasse por vir assanhar-se contra os dirigentes que, por força da sua responsabilidade institucional, dela foram porta-vozes, imputando-lhe objetivos individuais e desideratos espúrios. Sejamos claros. No Partido Socialista não se sufraga a ideia de que os interesses que prossegue com base nos seus valores e princípios são distintos do interesse geral, público, coletivo: da Cidade ou do País. Os socialistas só pugnam pelos interesses que anunciam porque estão plenamente convictos de que eles são o melhor para Portugal. O ps tomou a deliberação que acaba de anunciar exatamente porque considera ser através dela que melhor pode prosseguir os interesses do Porto., dos portuenses, dos portugueses.

INVERNO 2017 • PORTO

Não excluindo nenhum cenário alternativo para as próximas eleições autárquicas, demonstra e a assume como ponto de partida aquele que entende ser o melhor para todos. Ainda que estritas – e estreitas – conveniências individuais se possam sentir defraudadas, especialmente daqueles que estão distraídos da evolução político-filosófica das sociedades modernas. Acresce que o ps é participante ativo das políticas do atual executivo e tem influência decisiva sobre muitas delas. Não há, aliás, nenhuma dissonância essencial entre o programa eleitoral que apresentámos aos portuenses e o que está a ser empreendido pelo Município. Desde logo em domínios centrais como a habitação, a ação social, o urbanismo. Exemplos claros são iniciativas como a reabitação do centro histórico, com a recuperação de casas para permitir o regresso de moradores que foram deslocados para os bairros periféricos, ou a revisão do pdm, com envolvimento profundo dos cidadãos e das instituições. No essencial – no que é estratégico – o ps subscreve as políticas municipais e nelas se revê. É por isso que não declina o dever de buscar comprometer-se com um futuro que as consolide. Gustavo Pimenta Partido Socialista

DO ORÇAMENTO PARA 2017

“A Pessoa é a medida e o fim de toda a atividade humana. E a política tem de estar ao serviço da sua inteira realização” — Francisco Sá Carneiro Disse-o na tomada de posse, que o psd iria seguir uma linha de oposição construtiva e que nunca seriamos oposição ao Porto. Orgulhámo-nos, de estar a cumprir na Assembleia Municipal, este compromisso. Durante os últimos três anos apresenta-


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OPINIÃO

mos, propostas de redução da taxa geral do imi, tendo por base princípios de justiça fiscal e social para com os portuenses e sem prejudicar o que consideramos a receita normal deste imposto para a Câmara Municipal do Porto, tendo como referência o ano de início de mandato. Ou seja seria a dinâmica de geração deste imposto, que foi sempre arrecadado de forma crescente ao longo destes três anos (2013 – 41.9M€, 2014 – 43.7M€, 2015 43.8M€), a suportar esta redução. Infelizmente, apesar da justeza desta redução, das propostas estarem suportadas técnica e financeiramente e da boa situação financeira da Edilidade, nunca as mesmas foram aprovadas pela maioria municipal. O Sr. Presidente da Câmara Municipal apresentou recentemente uma redução de 10% da taxa base do imi (2016), a cobrar em 2017. O valor não é muito diferente do que resultaria da aplicação nestes três anos da redução por nós proposta. Congratulamo-nos e saudamos esta proposta, e em coerência votamos a favor da mesma. Fez-se justiça. Disse-o na intervenção que fiz na discussão do orçamento para 2017, que este seria um bom orçamento para início de mandato. Temos nos últimos três anos feito crítica à baixíssima taxa de execução orçamental do Plano Plurianual de Investimento, 50,6% em acumulado nos anos de 2014 e 2015 e já por si com orçamentos de valor reduzido. (Execuções orçamentais de 14,3M€ (2014), 19.4M€ (2015) face a orçamentos de 32,1M€ (2014) e 34,5M€ (2015). A verba inscrita no orçamento revisto para 2016 foi de 59,9M€. O Orçamento para 2017, repõe muitos do que consta da revisão orçamental de 2016, o que indicia mais uma vez uma taxa de execução baixa a nível dos investimentos. Os investimentos estruturantes da cidade do Porto, como o Bolhão, o Palácio de Congressos, o Centro empresarial, a dinamização da zona Oriental da cidade, vias de comunicação, não se fizeram e isto apesar da excelente situação financeira da Câmara Municipal. Também em termos de habitação social, tem havido um constante adiamento das obras, reflectidas nas baixas taxas de execução orçamental. Em 2017 repõe-se um valor particamente igual a 2016 e reforçase essencialmente o ano de 2018. Um bom orçamento de início de mandato, porque o orçamento de 2017 inscreve no ppi as verbas para a execução dos investimentos que consideramos estruturantes, mas que não serão concluídos neste mandato, ou seja programados para o período 2017 a 2019. Ou seja, este é um orçamento de início de recuperação do que não se fez. Consideramos positivo que finalmente se invista no que é estruturante para o

Porto, mas não podemos também deixar de afirmar que neste tempo resultou um Porto adiado. Luis Artur Ribeiro Pereira Líder do Grupo Parlamentar Porto Forte

A FA Z E R A D I F E R E N ÇA

Nos órgãos autárquicos do Porto confrontam-se projetos políticos diversos, com premissas e objetivos diferenciados. E esta é uma evidência que desagrada claramente a Rui Moreira, visivelmente insatisfeito por não conseguir impedir a afirmação de alternativas à maioria de bloco central que o suporta institucionalmente. A cdu tem pautado a sua intervenção nos órgãos municipais pela coerência de sempre, pela proximidade aos “pequenos” e “grandes” problemas que afetam as pessoas, garantindo o funcionamento de um Gabinete aberto a todos os portuenses, no qual eleitos municipais atendem diretamente os munícipes, dando combate a várias medidas gravosas decididas pela maioria Rui Moreira/cds/ps, entretanto alargada a vereadores do psd. Mas também assumindo uma postura propositiva ativa com soluções para os problemas locais. É por isso que Rui Moreira tem feito da cdu o seu principal adversário, recorrendo inclusivamente ao uso abusivo dos meios de comunicação do município para esse efeito. O atual Presidente da Câmara não envida esforços na projeção da sua imagem e, pese embora assuma uma postura e um estilo distinto do autoritarismo do seu antecessor, ainda não aceitou que é natural e positivo que existam críticas e até divergências em torno das opções da sua disciplinada maioria. Por exemplo, a cdu discorda da privatização do estacionamento pago na via pública. Esta decisão transformou uma potencial ferramenta para uma melhor mobilidade na cidade num negócio de caça aos euros de quem por cá vive ou trabalha. Acresce a isto uma enorme panóplia de dúvidas acerca da legalidade da fiscalização que tem vindo a ser feita. Perante isto, naturalmente que a cdu expressou as suas reservas. Sabem qual foi a resposta de Rui Moreira? Qualquer coisa do tipo - eles estão contra a cidade e a promover as infrações. Se não fosse tão grave, daria para rir. Mais um exemplo, a privatização da recolha do lixo e limpeza da via pública. Atualmente estas funções da autarquia têm lugar num quadro em que 50% é garantido por serviços da Câmara e outros 50% através de concessões a privados. A maioria Rui Moreira/cds/ps, à qual se juntaram vereadores do psd, decidiu entregar tudo a privados com a capa da designação de “prestação de serviços”. É lógico que a cdu não podia concordar com esta opção, tanto

mais que se estima que a autarquia tenha gasto cerca de mais 26 milhões de euros do que o previsto em 8 anos com a concessão a privados da área correspondente a metade do Porto (isto é mais ou menos o que se prevê investir na requalificação do Mercado do Bolhão!). Fazê-lo significa também destruir competências que os serviços municipais adquiriram ao longo de décadas, atirando a autarquia para uma maior dependência de terceiros. Perante isto, naturalmente que a cdu expressou as suas reservas. Sabem qual foi a resposta de Rui Moreira? Qualquer coisa do tipo – eles querem empresas públicas centralistas e sem escrutínio e opõem-se ao municipalismo. Se não fosse tão grave, daria para rir. E lembram-se do polémico negócio imobiliário tentado por Rui Rio para o bairro do Aleixo que Rui Moreira e o seu Vereador da Habitação, o socialista Manuel Pizarro, apesar da falência do fundo imobiliário e do seu incumprimento em questões estruturais, escolheram salvar? Ou a entrega privados do Pavilhão Rosa Mota? Estes são outros exemplos de opções negativas que contaram com uma viva oposição da cdu, o que deixou Rui Moreira claramente desconsolado por não conseguir impedir o eco público de alertas críticos. Não constitui um exagero afirmar que a cdu dá um contributo para o debate político bem maior até do que outras forças políticas com maior representação institucional. Infelizmente, sem os eleitos da cdu as reuniões de Câmara talvez fossem uma “pressinha”, porventura apenas prolongada pela troca mútua de elogios entre eleitos das listas Rui Moreira/cds e ps e psd. Por muito que custe a Rui Moreira e ao bloco central que o suporta, a cdu vai continuar a manter a sua coerência e ativismo, fazendo a diferença. Como se demonstra, o unanimismo no Porto não passa de um mito... Belmiro Magalhães Coligação Democrática Unitária

P O L Í T I C A S C U LT U R A I S P A R A U M A C I DA D E H A B I TA DA

A cidade está no centro da nossa identidade enquanto comunidade e as actividades culturais fazem parte dela e constituem factores de desenvolvimento dessa comunidade. A tradição, o conhecimento e a criação artística contemporânea são valores que implicam que as políticas culturais tenham em conta a necessidade de repovoar a cidade com gente e com arte. A cultura e o conhecimento são um valor imenso que a governação municipal não pode relegar para segundo plano. A preservação do seu património histórico e a promoção do seu património imaterial deve ser um objectivo central. Uma cidade cosmopolita, sim, mas com memória.

INVERNO 2017 • PORTO

A restituição do Teatro Rivoli à cidade teve uma resposta do público que é inegável. As salas cheias e frequentemente com lotações esgotadas demonstram mais uma vez – como se tal fosse necessário – que a luta que a cidade travou pela defesa do principal equipamento municipal fez todo o sentido. Agora, alargado num projecto que inclui o Teatro do Campo Alegre, é possível a prática de uma programação à altura das legítimas expectativas do público e, espera-se, também dos criadores do Porto, combinando a produção artística local com o acolhimento de espectáculos de referência na área das artes cénicas e eventos que marquem a cidade. Nesta nova programação do Teatro Municipal, é possível destacar a dança contemporânea que durante largos anos só pontualmente foi programada na cidade e um programa Paralelo concebido como um serviço educativo que não é uma mera programação paralela (melhor ou pior) apenas destinada à infância e sem qualquer ligação à programação central do espaço, seja ela performativa, musical ou plástica, mas desenvolvendo um conceito de aproximação às artes performativas alicerçado nas propostas concebidas pela direcção artística e nos artistas presentes na programação. Já no Teatro do Campo Alegre são menos claros os objectivos: ausência de regularidade na programação e um conjunto de estruturas residentes que, para além da cedência do espaço, não têm tido condições de apresentar com regularidade e visibilidade as suas criações artísticas. À política cultural da cidade, que é diferente da programação cultural, falta ainda, contudo, uma ligação mais clara e objectiva com estas e outras estruturas de criação artística, algumas das quais resistiram estoicamente aos anos cinzentos do anterior executivo e não permitiram que a cidade se transformasse num deserto no que diz respeito à criação artística. Depois dos anos negros do anterior executivo, a nova programação cultural – no Teatro Municipal e outros locais, nomeadamente em espaços públicos – contribuem para a percepção de uma cidade festiva e animada. Mas o actual executivo não pode ficar alheio ao que o vampirismo turístico está a fazer à cidade. É aqui que política cultural e política urbana deviam articular-se em coerência, valorizando simultaneamente o povoamento (a cidade não pode ser um parque temático para turistas) e a preservação da identidade da cidade, antes que, por ausência de estratégia, ela se transforme definitivamente num belo cenário desabitado. Mário Moutinho Bloco de Esquerda


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NOTÍCIAS DO PORTO

Mais polícia nas ruas

A voz do operário Amândio

O Porto tem um novo contrato de segurança local que promove a prevenção em dois polos em bairros sociais, um na zona oriental e outro na zona ocidental da cidade. O anúncio foi feito durante a apresentação do plano, em cerimónia que decorreu na Câmara do Porto, com a presença da Ministra da Administração Interna. Rui Moreira revelou que se começará por ali, não por serem zonas fáceis, mas por serem difíceis, admitindo estender o modelo a outras áreas da cidade. “Teria sido seguramente mais cómodo escolher outro espaço onde a intervenção municipal – por exemplo ao nível da requalificação do edificado e dos espaços de fruição comum – estivesse completada”, afirmou, acrescentando que “a assunção de duas unidades territoriais impele-nos a responsabilidades acrescidas e reflete a preocupação diária por quem vive em contextos sociais e urbanísticos menos qualificados e que merece o mesmo tratamento e dignidade que os demais concidadãos”. O presidente da Câmara do Porto agradeceu ainda à Ministra da Administração Interna o destacamento recente de mais 42 efetivos da psp para integrarem os quadros da Polícia Municipal do Porto, a que se seguirão, ainda este ano, de mais 100 novos efetivos. Já Constança Urbano de Sousa, lembrou que “as autarquias têm um papel fundamental na gestão do espaço público” e prestou “reconhecimento a esta Câmara Municipal do Porto, na pessoa do seu presidente” pela colaboração que foi possível estabelecer entre todas as entidades envolvidas no processo.

S

ão 31 anos de dedicação e amor aos jardins e ao ambiente da cidade do Porto. Amândio Martins começou, de tesoura em punho, o trabalho que hoje é ajudado pelas máquinas. “Faz-se mais agora, porque as condições são diferentes, são melhores”, diz o homem que dedicou quase toda a sua vida à causa pública de embelezar os espaços verdes das nossas ruas. Atualmente opera na baixa, nas proximidades da Câmara Municipal e está satisfeito. “Dá-me mais gozo trabalhar numa cidade cheia de vida, como é agora, e onde há mais gente a apreciar o nosso trabalho”, revela, a propósito da maior pressão que hoje, o centro da cidade, cheio de gente e vibrante, provoca sobre os jardins.

Casado, sem filhos e sem hobbies, procura apurar a técnica, ser cada vez mais competente e não perde grande tempo com conversas sobre futebol. “Não ligo à bola, nem dou atenção ao assunto. Não me motiva”, confessa. Amândio é um operário com voz e sem medo do trabalho, recusando as baixas por doença, mesmo quando o médico lhe aponta um ou outro problema. Porque, quem lhe tirar o trabalho, tira-lhe quase tudo. Fotografado a 1 de maio de 2015 para o Portal de Notícias do Porto, como um dos rostos da homenagem que a autarquia decidiu fazer aos seus funcionários, é um homem tranquilo, com o sorriso sereno de quem transporta consigo a consciência do dever cumprido.

Casa da Música Montra da Inovação de portas abertas no Porto De 19 a 22 de janeiro, a Casa da Música vai estar de portas abertas, convidando o público a participar num conjunto de iniciativas de entrada livre, como ensaios, workshops ou visitas a palcos e bastidores onde se respira e partilha música desde há mais de uma década. A iniciativa, denominada “Casa Aberta”, pretende assinalar a abertura oficial do Ano Britânico na Casa da Música. Um dos destaques da programação é um showcase que traz ao Café da Casa da Música as criações de quatro jovens compositores britânicos e uma conferência que analisa o impacto do Brexit na vida musical britânica.

Desde dezembro que o Porto tem um espaço dedicado à inovação. Está situado mesmo ao lado dos Paços do Concelho, no edifício dos Correios, dividindo-se por três salas que acolhem uma exposição permanente, uma exposição temporária e um auditório. O objetivo é aproximar a inovação do cidadão. Durante o primeiro mês de atividade, o Porto Innovation Hub foi palco de variadíssimas atividades, entre sessões de inovação; discussões abertas ao público, abrangendo temas como a cultura, a educação e formação, a coesão social e o bem-estar; laboratórios de prototipagem

rápida e de dispositivos para aplicação médica; oficinas infantis, onde a experiência pedagógica esteve aliada às linguagens de programação e às ferramentas tecnológicas do séc. xxi; a instalação (un) balanced; e, claro, a exposição “O Parque da Cidade”, patente até 4 de fevereiro, seguindo-se a exposição “Explorar as profundezas do Oceano”. Ao longo dos próximos meses, as atividades do espaço decorrerão com igual assiduidade. O público também pode participar e partilhar ideias nas discussões abertas, integradas no programa, coordenado por José Carlos Marques dos Santos, ex-reitor da Universidade do Porto. No final será produzido o Manifesto “A inovação na transformação da cidade”, que reunirá as principais ideias debatidas. A redação deste manifesto está a cargo de José Salcedo.

INVERNO 2017 • PORTO

Polo Zero abriu na Baixa Os alunos da Academia do Porto já têm um espaço no centro da cidade. O Presidente da República e o presidente da Câmara do Porto inauguraram em outubro o “Pólo Zero” da Federação Académica do Porto (fap), localizado na Praça de Lisboa, junto à Torre dos Clérigos. Trata-se de um espaço de estudo, cultura e apoio ao empreendedorismo destinado aos estudantes universitários. O espaço tem 520 metros quadrados e foi cedido pela Câmara do Porto, que também apoiou financeiramente o projeto. O Pólo Zero é ainda apoiado pela Universidade do Porto, Instituto Politécnico do Porto e Universidade Católica.

Empregabilidade na Universidade A Universidade do Porto está entre as 200 instituições de ensino superior a nível mundial – e as 75 da Europa – que melhor promovem a empregabilidade dos seus estudantes, de acordo com a edição 2017 do qs Graduate Employability Rankings, divulgado recentemente pela consultora britânica Quacquarelli Symonds (qs). Para a realização deste ranking, publicado pela primeira vez em 2015, foram tidos em conta indicadores como a reputação das universidades entre as empresas, as parcerias com empregadores, a taxa de empregabilidade e a remuneração dos diplomados ou a presença de empresas no campus. No caso da U.Porto, é destacado o desempenho ao nível do desenvolvimento de parcerias com os empregadores.

60 parceiros no Projeto Educativo O Município do Porto convocou os diferentes atores sociais da cidade para um encontro que marca mais uma etapa do Projeto Educativo Municipal que agrega, atualmente, cerca de 60 parceiros. A rede pretende estabelecer medidas que garantam uma educação de qualidade na cidade. O plano prevê medidas em três áreas de intervenção: qualidade dos sistemas de educação e de formação do Porto, cidadania e desenvolvimento pessoal e social e funcionamento da rede interinstitucional pem Porto.


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